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ANALISES E SINTESES NA ABORDAGEM GEOGRAFICA DA PESQI PARA O PLANEJAMENTO AMBIENTAL 1. OBJETOS DA PESQUISA AMBIENTAL A pesquisa ambiental na stualidade assume diferen- tes dimensées em funco dos objetivos para os quais se pres- tam, Peroebe-se com bastante clareza que todos os segmen- tos ou ramos da cigncia ¢ da tecnologia preocupam-se com ‘questo ambiental ainda que seja mais por marketing do {que por contetida, De qualquer modo, nile se pode negar «que todas as atividades humanas obrigatoriamente tem a ver com o ambiente natural, partindo do pressuposto que o ho- ‘mem também é natureza, por incrivel que possa parceer -¢ que também somos mortals e precisamos de ar, 4gua, terra, ‘vegelais © de outros animais para vivermos. ‘Vé-se na atualidade a quimica, a fisica, a engenha- ria, a medicina, a geologia, a agronomia, a economia, a so ciologia, ahist6ria, a geografia, entre outras, preacupando- se com as questdes ambientais em diferentes campos de in- teresse porque todos esses ramos de atuagiio necessitam dos recursos naturais edo homem para existirem e se desenvol- verem Quimica ambiental, engenbaria ambiental, geotogia ambiental, geomorfologia ambiental, climatologis ambien- tal, quem sabe surgiré logo mais a Informatica Ambiental, a Automobilistica Ambiental, entre infinitos outros rétulos que servem antes de mais nada para firmar posiglo diante da “moda atual” do ambientalismo, que é parente préximo do ‘ecologismo e de outros modismos que jé vieram e que tam- bbém jé foram. O fato € que a ciéncia ea tecnologia sempre trabalharam com o ambiental em suas pesquisas bésicas & aplicadas. As leis da fisica e da quimica regem a funcionali- dade dos diferentes estados fisicas que a natureza apresen- ta, e esta, por ndo softer pela a¢zo do homem mudangas em sua esséncia, tem grande capacidade de auto-regeneracao, Assim sendo, um corpo dagua como o rio Tiet® em $0 Paulo, que é altamente poluido pelos residuos industriais ¢ domésticas da regio metropolitana, em menos de 200 Km de percurso dé sinais evidentes de melhoria da qualidade de suas dguas. As florestas que estio no entorno da Grande ‘SA Paulo, que jé foram no passado recente, dizimadas para cextrair-se madeira industrial, carvo e lenha, atualmente Jorandyr Luciano Sanches Ross* reconstitranseespontancaments em maia seconde. E evidente que para acontecer as regeneragtesespontaneas das qua, das coberinas vegettis, dos solos, da fauna © outros, é preciso duas condigbes bisieas - tempo e tua, ou sej, necessitase dar oportunidade de auto-recuperagto cessanco as intervenes prodtirias, Com isto ques d- er que as leis da natureza so maiores ou mais poderosas do que as pretengdes humanas. Diante destes fatos pergunta-se, entio, para que tan- tos alardes e pesquisas/estudos com enfogue nos problemas ambientais? Basta deixar a terra em repouso ¢ tudo volta ‘como antes. E claro que isto também é ut6pico. As socieda- ddes humanas tornam-se cada dia mais sofisticadas tecnalo- sicamente e a populagfo em niimero cada vez maior. Isto obriga as sociedades humanas cada vez mais a aprop rem-se dos recursos naturais interferindo nos ambientes na turais e na geragio de resfduos sélidos, lquidos e gasosos, ‘que no conjunto atuam negativamente na qualidade ambi- ental. As necessidades criadas pelo progressivo processo de tecniticagiio ¢ consumo das sociedades hnmanas, obriga cada vex. mais 0 desenvolvimento de pesquisas técnico- centficas para tratar, proteger ¢ explorar mais racionalmente (5 recursos da natureza. Assim sendo, esta fase da “moda do ambientalismo” nada maisé do que uma tomada de cons- ciéncia de que ¢ necessério preservar, conservar, recuperar explorar a natureza com modernismo tecnolégico e com adogio de politicas estratégicas que ndo vejam somente © hoje, mas que projetem e protejam o futuro, Assim sendo dduas premissas devem ficar absolutamente claras: 1" que a natureza tem capacidade de auto-recuperagio pois ‘© homem por mais que a altere, nfo conscgue interferir nna sua esséncia; 2°- que é possivel ulilizar-se dos recursos da natureza sem (©) Professor Doutor do Departamento de Geografia da FFLCH-USP- Laboratério de Geomorfologi, 6 dizimé-los, a medida que se planifique seu uso e aplique tecnologias que respeitem seus limites. 2. PRESSUPOSTOS DA PESQUISA AMBIENTAL NAGBOGRAEIA (0s estudos ambientais na geografia nio so novi- dade, Os gedgrafos sempre fizeram estudos da natureza e dda sociedade, evidentemente com enfoques ¢ metodologi- as diferentes das atuais. Os estudos do homem ¢ do meio, os estudos das geografias agréria, da indkisteia, dos climas, do relevo, dos solos, da energia, das populagdes, do turis~ ‘mo, da biogeografia, nada mais sio do que os temas hoje tratados nos estudos integrados da natureza e da socieda- de, pomposamente denominados Estudos ou Andlises Am- bientais, este modo, as Ansilises Ambientais com enfoque ‘geografico preseindem dos mesmos princfpios da geogra- fia, os quais sejam o de atender as relagGes das sociedades ‘umanas de um determinado territ6rio (espagofisico) com 0 ‘meio natural ou seja, com a natureza deste territ6rio. A matu- ‘reza neste caso € Vista como recurso ou seja como suporte para a sobfevivéneia humana, Assim sendo, 40 pressu- postos da pesquisa ambiental na geografia, ter como objeto de anilise as sociedade humanas com seus modos de pro- dugao, consumo, padres sdcio-culturais ¢ 0 modo como se apropriam dos recursos naturais ¢ como tratam a natureza, Dentro desta perspectiva os estudos ambientais de aborda- gem geogrfica tem sempre como referencial uma determina da sociedade (comunidade) que vive em um determinado territério (municipio, estado, pals, regido, lugarejo, baci rogréfica ele.) onde desenvolvem suas atividades com maior ‘oa menor grau de complexidade em fungio da intensidade dos vinculos internos e extemnos que mantém no plano cul tural, social e econémico, Deste modo, o entendimento ho- Iistico no plano sécio-econdmico ¢ ambiental de uma socie- dade que vive em um determinado lugar, necessite um pro- fundo conhecimento de sua hist6ri de seus padres cultu- ais, dindmiea sdcio-econémica atual, de seus vineulos com ‘0 “mundo externa”, dos seus recursos naturais/ambientais dispontveis edo modo como trata estes recursos (o ambien- {c), Assim sendo, quando se fala em Diagnésticos Ambion- tais 6 necessério pensar-se no todo (0 natural e 0 social) ¢ de que modo esse todo se manifesta na realidade. Entendi- ‘menos parciais dessa sealidade sem obter-se uma visto glo- bal, ou de conjunto ou holistic fatalmente induzem as deci- s6es no futuro, erradas ou pelo menos inadequadas/insat fat6rias. A pesquisa ambiental na abordagem geograticn é fundamental para atingir adequados diagnésticos a partir dos quais torna-se posstvel elaborar prognésticos. pes- ‘quisa ambiental na geografia tem como objeto entender as relagdes das sociedades humanas com a natureza dentro de uma perspectiva absolutamente dinamica nos aspectos cul- turais, sociais, econémnicos e naturais. Por essa razio , a pesquisa ambiental de sbordagem geografica s6 pode atin gir a visio holistica da realidade da sociedade objeto de andlise, dentro da perspectiva do seu passado (hist6ria), do ‘seu presente (situagéo atual) c de sua tendéncia para o futu- ro. Oentendimento do passado permite uma adequada “ra diografia” do presente e que por sua vez possibilita antever (0 futuro pelo quadro tendencial. Assim sendo, € possivel ter-se, na inguagem cinematografica, os "cendrios do pas sado”, 08 “cenérios do presente” e os “cendrios do futuro’ dentro de uma perspectiva inercial ou espontinea ow ainda ‘0s “cenérios futuras projetados", desde que aja inten¢o de interferire redirecionar as tendéncias percebidas. Os ce- nérios futuros espontaneos se definem pelo quado tenden- cial inercial ou seja ndo intervencionista, jé 08 “cendios futuros projetados” esto sempre vinculados a uma politica intervencionista das forgas interagentes que se definem por politics atreladas.a um “provesso de planejamento estate C0" que contemple o desenvolvimento econdmico e social dentro de uma perspectiva conservacionista dos recursos naturais ¢ de preservagiio dos bens naturais e culturais. Nes- sa diregio é importante ressaltar que as andlises ambientais, nna abordagem geogrifica, si0 excelentes suporte técnico- cientifico para elaboraco dos Zoneamentos Ambientais © ‘Sécio-eeondmicos, que por sua vez dao suporte as politicas de planejamento estrat6gico em qualquer nivel de gerencia- ‘mento ou governo em qualquer terttério poltico-dministra- tivo como nagio, estado, municipio, fazendas, nticleos de colonizagao, bacias hidrogrifcas, éreas metropolitanas, p6- Jos industriais entre outros. Ressalta-se que, a abordagem geogritica na pesqui- ‘sa ambiental, é necessériamente representada através de ‘mapas, cartogramas, srifiens, tabelas que produzidas a par- tir da uilizagao interpretagio de dados numéricos (estatis- tico), que fornecem informagdes sécio-econémicas bem como dados obtides por sensores e levantamentos de campo de ‘onde se extraem informagGes da natureza e também da so- ciedade. Essas informagdes podem ser trabalhadas tanto pelos processos informatizados (Geoprocessamento e Sis- temas de Informagées Geograficas-SIG) ou pelos processos convencionais da cartografia temdtica e da estatisica de dados geogrsficos. 3, PESQUISAS AMBIENTAIS ANALITICAS: ESTUDOS ESPACIALIZADOS DA NATUREZA EDA SOCIEDADE 4 dois procedimentos metodolsgicos operacionais, biisicos para gerar produtos com dados geo-referenciados quer sejam eles representados através da cartogratia infor- tmatizada ou da cartografia convencional. Um dos procedi ‘mentos metodolégico-operacionais conbccidos na literatu- ra especializada como “Land Systems”, em como caracte- ristica, gerar produtos teméticos analftico-sintéicos, quer seja gerado por geo-processamento através de interpreta- io automética ou executado a partir de interpretagio vie sual. O outro procedimento metodolbgico-operacional é ‘multi-temitico caracterizando-se por gerar produtos anali- ticos em uma primeira fase ¢ de sintese posteriormente As pesquisas geradas a partir dos Land-Systems toma como referencial padOes de fisionomias do terreno, ou pa- drdes de paisagens ou Unidades de Paisagens, que indivi- Gualizadas e cartografadas so 0 referencial bisieo para o inicio das pesquisas. Assim, 0 pesquisador “corre atras” das informagGes referentes & natureza © & sociedade, que est Zo representadas em cada uma das “manchas” ou “uni- dades” previamente identificadas. Neste processo, a van- tagem estd em gerar-se um tinico produto cartografico sec- cionado cm varias “unidades de paisagem” que “escon- dem” atrds de si as earacteristicas do relevo, solo, geolo- gia, vegetagao, uso da terra c sécio-economia, que so aapresentados em uma abordagem de andlise integrada com informagGes sintetizadas. Nao hi obrigatoriedade de ver- ticalizagio no tratamento das informagoes, bem como nio hh necessidade do tratamento setorizado por temas disci- plinares. Este procedimento é bastante vantajoso quando aplicado para regides ou territorios que ja dispoem de ra- zodvel volume de informagBes de pesquisas anteriormente efetuadas. Assim, os dados secundarios adequadamente ‘manipulados, poderio rapidamente e favoravelmente en- riquecer a pesquisa-sintese pretendida, As pesquisas ambientais multiteméticas so mais vetticalizadas ¢ gera-se uma multiplicidade de produtos car- togréficos teméticos disciplinares de caracteristicas analiti- cas © outros de sfntese. Este procedimento tende a ser de 67 ceustos ¢ tempo maiores, pois envolve um grande volume de trabalho, de produtos e de profissionais de multiformagio, Este procedimento é obrigatoriamente multe interdiscipli- nar, exigindo troca de informagbes teméiticas entre os pro- fissionais de diferentes formagées a0 longo de toda a pes- quisa. E recomendavel inclusive reuniSes teméticas multi- Aisciplinares periodicamente para servir como instrumento Gindmico de viabilizagao de trocas e conseqlente nivela- ‘mento de informagaes, (Os produtos temiticos analiticos, que devem ser ge- raudos na primeira fase, so aqueles que tratam setorizada- mente temas da natureza e da sociedade. Assim no ambito a natureza, as pesquisas devem sbranger os campos dis plinares da goologia, geomorfologia, pedologia, climatolo- gis, recursos hidricos,florae fauna. 1, no campo da socie- dade, as pesquisas devem envolver os temas da historia da ocupagio, dademografia, condigdes/qualidade de vida, uso daterra, economia, esislaco,estruturacio do espago regi- onal e urbano entre outros. Cada um desses temas tem seu objeto préprio de anélise, sua concepeZo tedrica, metodoldgica, técnico- ‘operacional e principalmente tém utilidade multipla, ¢ por- tanto podem ter como objetives de pesquisa diferentes es- pectros. [esse sentido pode-se tomar alguns exemplos, A geomorfologia, a podologia, a geologa,climatologia eas aguas so scorizadas de algo mais abrangente ques cost ma chamar de Geociéncias ou Ciéncias da Terra. Eevidente due nfo se pode entender de fonma dinfmica nenhuma des- sas disciplines ou ramos da “cgncia maior” sem que se en- tenda a funcionlidade do todo, F bem verdade, qu h por herangs, uma profissonalizacao em geologa, pedolosia seomorfologia,climatologi, et, onde tém-se excelenes profissionis especalizados, mas que frequentemente so Pouce conhecedores on até desconhecedores das pofissdes 7 discplnas framo das “disciplinas irmis™,Torn-se cada dia mais necesszia a especializagdo, mas também torn se absoluamente necessio que se domineo conhecimento 4o todo, Assim, torna-seimperativo queoprofissional em seologiacntenda geomorfologa, pedologia,climaclogia e vice-versa, Ness senido, os eapecialisias om geomorto- logia, quer sejam de formagtio bisica em geologia ou em c0grafia, tom tdo msiorfacilidade de tabalhar com 9 todo, pel simples ato de que para se entender a dindmica do eleva ¢ obrignoriamentenecessiroentener-sede eo- 68 logia, solos e clima. O relevo esté na interface atmosfera / Iitosfera.e seu entendimento exige 0 conhecimento do funci- ‘onamento dessas componentes da natureza, Entretanto, ‘como cada um desses ramos da Geociéncias tém como obje- (o interesses especfficos, até hé pouco tempo, niéo havia muita preocupacio com 0 entedimento do todo. Hoje, por exemplo, a geologia nfo pode continuar preocupando-se cexclusivamente com génesc e com os tipos de rochas & ‘minerais ¢ como melhor exploré-los, Os conhecimentos geo- légicos subsidiam 0 entendimento da génese ¢ tipos dos ‘solos do relevo bem como suas dinamicas, que por sua vez necessitam do entendimento dos climas, O mesmo ocorre ‘com os podélogos, quer sejam eles de formagao basica em agronomia ou em geografia, que precisam entender de geo- logia, de geomorfologia ede climac assim por diante. A geomorfologia interessa entender pelos seus as- pectostécnico-cientficos, quanto sua genes, dindmica (pr0- cess0s), concepges tedrico-metodolégica, mas também, é necessério perceber a sus utllidade no campo aplicado da sgeotecnia, do planejamento territorial, da implantagao de cobras de engenhariac dos subsfdios que seu conheciimento especifico pode oferecer aos demais ramos ou disciplinas da geocitncias, bem como da s6cio-economia. A geomorfo- logia, pelo seu papel integrador nas ciéncias datera, ¢ uma disciplina que muito atende aos interesses da geografiae do planejamento territorial / ambiental. Caminba-se para um fi ‘uro pr6ximo em que se passaréa ter uma formagio profs ‘onal mais cclética no campo das Geociéncia, onde todos cesses ramos se comporiio em um tinico curso superior com suas mtltipas especializagées, pois essa ¢ a tendéncia que ‘© mercado de trabalho téenico e 0 da pesquisa académica, cadadiamais exige. Deste modo, a pesquisa ambiental com abordagem ‘geografica, no pode e nio deve ser um trabalho apenas de ‘ge6grafo, mas sim de uma equipe multi-disciplinar, onde cada profissional dove saber exalamente como, para que e para ‘quem estdo realizando seus trabalhos, onde ¢ o que norteia suas pesquisas e a que objetivos e finalidades devem atin- aire atender. Assim sendo, as disciplinas a0 integrarem um proj to de pesquisa dentro desta abordagem, nao utilizam todo 0 seu potencial, mas devem gerar os conhecimentos que inte- ressam especificamente ao projeto. Por exemplo, pouco in- tetessa se uma determinada formagao rochosa é do grupo x ‘0uz, de idade tal ou qual. O que importa € sta constituigéo strutural, mineral6gica, grau de litficacto, seu comporta- ‘mento quanto as caracteristicas climaticase assim por dian- te. Outros exemplos podem ser tomados com oclima,relevo, solos, éguas ou ainda com os estudos de s6cio-economia. Pode-se portanto tomar como referencial bésico, que 0 obje- to de preocupacio dos estudos das disciplinas da geocién- cias, quando voltados para as pesquisas ambientais de abor- dagem geogritica, & de interesse as sociedades humanas s0b dois aspectos: o da avaliagéo das potencialidades dos recursos naturais; e da fragilidade dos sistemas naturais. Deste modo, os estudos da geologia, geomorfologia, pedo- logia, limatologia, éguas, flora e fauna devem sempre ser pesquisados sob esses dois aspectos - potencialidade ¢ fragilidade. 0 balango produzido por esse tipo de avaliagao possiblita projetar-se 03 usos futuros dos recursos natu- ris contidos em cada um dos Sistemas Naturais (ou Unida- ddes_Ambientais Naturais) identificadas na pesquisa gco- ‘xéfica. 4, DISCIPLINAS DO SISTEMA DE INFORMACAO, ‘GEOGRAFICA ESUAS APLICAGOESNO. PLANEJAMENTO AMBIENTAT. As disciplinas que devem compor um Sistema de In- formagio Geogrifica, pertencem aos trés campos do conhe- cimento cientifico, quais sejam os da Geociéncias, da BiociGncias ¢ das Ci8ncias Humanas (econdmica e social. ‘Muitos dos ramos desses campos cientificos sio trabalha- dos pelos gedgrafos pela tradigao da geografia de espaci alizar através de cartas © mapas os fatos estudados quer sojam eles da natureza ou da sociedade. Entretanto, apesar das caracteristicas geogréficas das pesquisas ambientais para o planejamento, os estudos (diagndstico) e as proposi ‘g6es (progndsticos) sto trabalhos obrigatoriamente de equi pes multi-disciplinares para geragio de produtes interdisci plinares, ou seja, com forte contribuigao miitua (integrac3o) enlre os produtos teméticos gerados. ‘No campo das Geocigncias, as disciplinas que con- tribuem com conhecimentos especificos sic a geologia, geomorfologia, pedologia,climatologiae recursos hidricos, sobre as quais sero aqui feito répidos comentirios. A geologia deve preocupar-se com o levantamento e tratamento das informagSes sobre a constituigdo, textura, estrutura e potencial mineral das formagBes litoestratigrati cas mapeadas, bem como fornecer subsidios para anslise das fragilidades, do comportamento geotécnico ¢ hidrogeo- logico das unidades identificadas. (© produto dos levantamentos geol6gicos subsidiam ‘a andlise do relevo ¢ ajudam a compreender os tipos de so- Tos que ocorrem em cada unidade ou formagao geol6gica, ou ainda em cada unidade de relevo. ‘A pedologia deve preocupar-se com a caracteriza- gio morfolégica, fisica, quimica e mineralégica dos solos ‘20 mesmo tempo que execulaomapeamentoe classificagao dos tipos de solos, Os estudos dos solos devem atender dois, objetivos - ode avaliar a aptidio ou a capacidade agropecu- ria do uso das terras e subsidiar com informagoes das ccaracterisiteas texturais estruturais e qufmicas para a andli- se da dindimica do relevo, da fragilidade e da funcionalida- de dos sistemas ambientais onde cada tipo dominante de solos ocorre. A geomorfologia deve prevcupar-se com o estudo ds diferentes tamanhos das formas do relevo e sua dindii- ca, As formas do relevo obedecem uma ordem taxondmica explicitada por Ross (1992). Os levantamentos, mapeamentos ¢ anélises das formas, génese e dinamiica do relevo oferecem importante subs{dio a avaliagio do poten cial de uso da terrae da fragilidade dos ambientes naturais «em funeSo dos usos atuas e futuro. As anéliges geomorfol6gicas necessitam das infor- mages de geologia, dos solos, dos climas, das éguas, da ccobertura vegetal e dos tipos de uso da terta, Por outro lado, 19s estudos do geomorfologia, a partir do entendimento dos padies de dissecacao c tipologia de vertentes identificadas pola interpretagio de fotografias aéreas c imagens de radar ce satélite, oferecem fundamental subsidio para a identifica {$40 € anilise da tipologia de rochas e de solos. Assim sen- do, estas trés disciplinas - geologia, geomorfologia ¢ pedo- logia -sio intrinsicamente dependentes -fazem parte de uma ‘mesma componente da natureza: a litostera. ‘Acclimatologia deve ter como objetivos avaliar a fre~ iiéneia de dominfincia dos Sistemas Atmostéticos, a dina ‘mica das chuvas e da temperatura, dos ventos, da umidade do ar, da disponibilidade d°gua no solo, a0 longo de um determinado tempo (no minimo um ano padro) e no espa- 90. Necessita de mapeamentos ¢ de andlises mais cuidado- sas sobre o regime, a intensidade © airregularidade das chu ‘vas bem como os limites extremos e médios das temperatu- ras, Deve contemplas ainda estudos de balango hfdrico que Co) ccontemple ao longo do ano os déficits e os superavits de jonibilidade de gua nos solos para cada unidade clima- tica identificada, Os estudos de climatologia subsidiam o cconhecimento sobre as solos, a dindmica do relevo, através da avaliagto dos processos erosives, inundagdes, desliza- ‘mentos de terras, processos de eroso quimica, bem como favoreve 0 entendimento da distribuicao da cobertura vege tal ou ainda do comportamento do regime hdrico dos rios. As anzlises climatol6gicas slo fundamentsis para a aval glo da potencialidade e da fragilidade dos Sistemas Am- bientais / Unidades Ambientais, pois constituem-se no ele- ‘mento mais dinamico, juntamente com os recursos hidricos entre as componentes da natureza. 0s recursos dscns, sobretudo as éguas das super- Fcies emersas do planeta, quaissejam os ros, lagos, bem como as éguas subterréneas é um recurso natural que per- ‘mei {odas as atividades e necessidades humnanas, O ade- quado dimensionamento do potencial de quantidade e da ‘qualidade das §guas, sio objetivos perseguidos face 40 uso das guas como abastecimento piblico (gua alimentar), industrial, como fonte geradora de energia elétrica, como meio de transporte, na agricultura, no turismo, na atividade pesqueira ¢ tambéin como receptéculo dos resfduos gera- dos pelas atividades humanas. A gua € um recurso natural de atengio méxima a ser dada no planejamento ambiental Sem dar-se a devia dimensao da importincia da égua para as sociedades humanas, qualquer planejamento estaré con- denado ao fracasso, amédio ou longo prazo, face ao esgota- mento das potencialidades, perdas de qualidade por uso abusivo dos corpos d’égua como diluidores de resfduos ot para irrigago da agricultura, ou alimento para os rebanhos da pecustia, ou geragao de energia. Planejar e gerenciar & utilizagio das 4guas ¢ importante tarefa a ser desempenba- da pelas inttuigbes piblicas responséveis pelo desenvolvi- mento econdmico, social e de conservagio / preservagio ambiental. Esse trabalho deve obrigatoriamente ser feito para cada uma das baciashidrogréficas que compdem o teritsrio politco-administativo objeto do planejamento. Com isto, entretanto, nfo se quer dizer que o planejamento ambiental ‘enha quo Ser feito individualmente para cada uma das bacias hidrogrfcas cxistentes, mas que considere também como {ator de suma importincia os contomose eas de cada bacia

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