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Para constituir-se, um sistema social necessita de apenas dois membros que interajam compartilhando modelos de

cultura normativa. Em tal interação, os indivíduos participam como agentes e como objetos de orientação um para o
outro. O complexo de condutas dos participantes dessa díade compõe-se de seus respectivos papéis, cujos
conteúdos específicos são estabelecidos por meio de normas. O papel define, portanto a qualidade de membro de
um sistema social, por exemplo o de cliente, de veterinário, de deputado etc. O nivel de

diferenciação interna dos sistemas sociais expressa-se na maior ou menor diversidade de sistemas de papéis
organizados e articulados. Em níveis mais altos de complexidade, sistemas sociais podem incluir uma pluralidade de
agentes individuais e coletivos que contribuem, cada qual de acordo com os papéis que lhes são atribuídos, para o
funcionamento adequado de tais sistemas. Um hospital pode ser um bom exemplo de um sistema social complexo,
constituído por uma grande diversidade de papéis articulados que se complementam na direção do alcance de fins
coletivos, as quais dependem do cumprimento adequado dos deveres de seus membros e fazem parte das
expectativas de todos os demais participantes. A manutenção do sistema social requer a coordenação de papéis a
fim de garantir a satisfação de expectativas de seus membros, evitar conflitos e possibilitar sua colaboração no
alcance de metas.

Ao direcionar sua análise para o sistema social, Parsons considera os outros três sistemas de ação — a
personalidade, o sistema cultural e o organismo comportamental — como seus ambientes. No nível empírico, um
sistema social constitui-se como uma coletividade. Do ponto de vista estrutural, os sistemas sociais podem ser
analisados de acordo com quatro categorias (valores, normas, coletividades e papéis); do ponto de vista funcional ou
dinâmico, eles possuem quatro imperativos funcionais (adaptação às condições do ambiente, realização dos fins,
integração interna e manutenção de modelos ou padrões latentes que controlam o sistema ou o manejo de tensões).

Coletividades e subcoletividades
A sociedade como um sistema social específico
Os quatro imperativos funcionais dos sistemas da ação (AGIL)
Adaptação às condições do ambiente (A)
A realização dos fins (G)
A integração interna (I)
O subsistema integrador da sociedade: a comunidade societária
As relações entre a comunidade societária e os outros subsistemas da sociedade
A manutenção de modelos ou padrões que controlam o sistema (L)
As categorias estruturais dos sistemas sociais
Os valores societais (função L)
A consistência c a incompatibilidade de valores
As normas (função I)
As coletividades (função G)
Os papéis (função A)
O processo de institucionalização de papéis e sanções
Funções atributivas e o controle do conflito
A estratificação social
Coletividades e subcoletividades
A coletividade é um agente empírico e, portanto, enquadra-se no foco de interesses da teoria da ação. Ela é um
conjunto organizado e concreto de agentes individuais e/ou coletivos — seus membros — e deve atingir metas a fim
de garantir a própria continuidade, podendo orientar-se para objetos externos, entre os quais outras
coletividades. Para que se possa falar de uma coletividade, dois critérios específicos devem ser atendidos:

Em primeiro lugar, deve haver status definido de participação, de forma que geralmente seja possível estabelecer
uma distinção útil entre participantes e não-participantes, um critério atendido por casos que variam desde famílias
nucleares até comunidades políticas. Em segundo lugar, deve haver certa diferenciação entre os participantes com
relação aos seus status e funções dentro da coletividade, de tal forma que algumas categorias de participantes
devam fazer certas coisas não esperadas de outras.1

Espera-se que o jogador de uma equipe aja de forma distinta do técnico ou do fisioterapeuta, mas,
enquanto participantes de uma dada coletividade, os três se distinguem dos não-membros. Assim, coletividades são
“sistemas de

interação singulares, com limites definidos pela duração dos papéis que os constituem”, como uma comissão
de formatura, um órgão do governo ou uma comunidade religiosa. Um sindicalista partilha objetivos com seu
sindicato enquanto ali exercer um determinado papel.

Em certas situações, os limites da coletividade (sua ativação enquanto agente) — e portanto também o exercício dos
papéis dos seus membros — podem permanecer latentes ou temporariamente inertes. O que a atualiza enquanto
comunidade é o surgimento de situações que entram no seu campo de interesse, que ativam ou reativam os papéis
de seus membros e, assim, a solidariedade entre eles e sua ação combinada. Por exemplo, um grupo de amigos
que se reencontra ou uma unidade de ex-combatentes que pretende solicitar um benefício para seus membros só se
manifestam como tais ao se restabelecer a coletividade, seja por meio de uma reunião, seja durante uma
manifestação etc. Em outras palavras, não é a solidariedade contínua que define uma coletividade, mas a interação,
a qual consegue fazer dos agentes objetos comuns uns para os outros, numa situação que faz aflorar os interesses
partilhados e é demarcada por padrões de valor que estabelecem direitos, obrigações e sistemas de expectativas de
papel.

Há que se considerar a existência de algum grau de complementaridade das expectativas e do sistema de valores
compartilhados pelos membros das coletividades. Trata-se de verificar se eles agem ou não de maneira coesa — o
que depende do grau de integração daquele sistema.

Se a solidariedade entre eles caracteriza-se pela completa institucionalização das orientações de valor e das
normas correspondentes, sua ação será articulada e não-conflitiva, e eles serão capazes de avaliar e de sancionar
mutua mente e de modo coerente suas ações. Em caso contrário, os membros de uma coletividade podem não
saber como agir para atingir os alvas, os quais nem sempre se encontram inteiramente nítidos no próprio sistema
enquanto tal. Na condição de agente, a coletividade compreende, pois, o conjunto das ações coordenadas ou
concertadas de seus componentes, que interagem cm busca de fins comuns. Quanto mais integrada é uma
coletividade supostamente maior a clareza de seus próprios fins, o que não significa certeza ou sequer facilidade
para atingi-los. Pelo seu caráter solidário, tais ações dirigidas à busca de gratificações coletivas distinguem as
coletividades de dois outros tipos de agregados sociais, os que reúnem pessoas que compartilham algum atributo
(sexo, educação, idade) ou o daquelas pessoas que participam de uma relação de interdependência ecológica,
como os vizinhos. Esses tipos de agregados podem vir a formar uma coletividade, ao partilharem metas comuns e
agirem para alcançá-las, como a defesa de um bosque ou a luta para alcançar direitos civis.

Uma coletividade pode segmentar-se em subcoletivi-dadesque desempenham funções no interior daquela; por
exemplo, as famílias em uma sociedade. Quanto maior o número de segmentos, maiores os problemas de
integração e coordenação do sistema como um todo. As subcoletividades podem ser, relativamente aos que são
considerados seus membros, independentes entre si, justapostas, inclusivas.2 Um time de basquete pode jogar
contra os membros de uma igreja, configurando uma relação entre duas subcoletividades independentes. Alguns
membros dessa comunidade religiosa podem formar um grupo de estudos, o qual seria uma subcoletividade
justaposta à igreja que é, portanto, uma coletividade inclusiva que comporta também outras subcoletividades, como
um coral, os jovens, os sacerdotes, os casais etc. que, por sua vez, devem ser articuladas e integradas às
coletividades mais abrangentes (a igreja e, enfim, a própria sociedade).
A sociedade como um sistema social específico
Um sistema social complexo consiste numa “rede de sistemas interdependentes e que se recortam” sendo cada um
deles um sistema social com suas próprias exigências, como é o caso de uma universidade, com seus
departamentos, seções, órgãos colegiados, bibliotecas, cantinas, grupos de pesquisa, entidades estudantis etc. A
sociedade é um sistema social complexo e relativamente autônomo. Ela é definida como “o tipo de sistema social
caracterizado pelo nível mais elevado de auto-suficiência com relação a seu ambiente, onde se incluem outros
sistemas sociais",3 ou ainda como “um sistema social que possui todos os pré-requisitos funcionais para uma
existência de longa duração com seus próprios recursos”.1 Seus pré-requisitos são: (1) a organização de relações
em tomo a focos territoriais ou de parentesco; (2) um sistema de determinação de funções e de atribuição de
recompensas; e (3) estruturas integrativas que controlem tais atribuições e regulem conflitos e processos
competitivos. Embora contenha em si as condições essenciais para a sua manutenção como sistema auto-suficiente,
a sociedade depende de um intercâmbio permanente com seus sistemas ambientais e deve tratar de controlá-los em
beneficio de seu próprio funcionamento. Uma sociedade não pode ser um subsistema de uma coletividade de ordem
superior. Nesse caso, seria um sistema social parcial situado num âmbito mais global. A sociedade é uma
coletividade porquanto possui valores institucionalizados, uma cultura comum que deve ser mantida. Sendo também
formada por unidades diferenciadas, essas devem ser governadas por um sistema de normas coerente que, numa
sociedade moderna, pode chegar a ser “legal, integrado e administrado por tribunais”.5

A sociedade relaciona-se com seus membros por meio da aprendizagem e da manutenção da motivação
"para participar de padrões de ação socialmente valorizados e controlados”, já que o sistema de personalidade
encontra-se abaixo do sistema social no que se refere à hierarquia de controle de informações. Em troca dessa
participação, a sociedade os recompensa. A socialização é o conjunto de "processos através do qual as pessoas
tornam-se membros da comunidade societária e mantêm essa posição”.6 Atraído pelos achados freudianos, Parsons
trata de agregar as descobertas psicanalílicas à sua teoria geral da ação. No texto a seguir, pode-se ver como
relaciona o que chama de organismo com porta mental ao processo de socialização,

por meio da internalização de condutas socialmente desejáveis na relação mãe e filho:

Desde Freud, tornou-se bem compreendido que o complexo erótico desempenha um papel muito grande no controle
do processo de aprendizagem. Seu mecanismo orgânico essencial é a capacidade para ser motivado por prazer
erótico. Ao aprender uma série de ordens iniciais, o bebê humano descobre que os contatos com a mãe são
agradáveis e que, no contexto de sua relação com ela. esses contatos recompensam sua aprendizagem. Nos
contextos psicomotivacionais, o complexo erótico parece ser a ligação mais essencial entre o nível orgânico e o de
sistema de ação.7
Os quatro imperativos funcionais dos sistemas da ação
(AGIL)
Parsons interpreta o quadro dos sistemas da ação como essencialmente dinâmico, seja nas relações entre
suas próprias partes, seja no ambiente constituído por outros sistemas, no sentido de que eles mantêm
influências mútuas c estabelecem permutas, interpenetrando-se e provocando esforços de alcance de objetivos,
manutenção de seus limites, adaptação e integração. Esse aspecto dinâmico liga-se à estrutura do sistema de ação
por meio dos quatro imperativos funcionais, adaptação às condições do ambiente (A), realização dos fins (G),
integração interna (I) e manutenção de modelos ou padrões latentes que controlam o sistema ou manejo de tensões
CL). Este é o chamado esquema AGIL. A sigla deve-se aos termos Adaptation, Goal attainment, Integration e
Latency. De fato, esse dinamismo orienta-se para o atendimento das necessidades dos sistemas e, ao final, garante
sua existência. Parsons utiliza-se desse esquema para estabelecer as distinções funcionais entre os quatro
subsistemas da ação.8

Hierarquia
Imperativos funcionais dos sistemas de ação Subsistemas da ação (ambientes)
cibernética

biológica

(A) adaptação (organismo rica em energia

biológico)

(G) realização psíquica

dos fins (personalidade)

social
(I) integração
(sociedade)

(L) manutenção cultural rica em

dos modelos (cultura) informação


Adaptação às condições do ambiente (A)
Essa função cuida da oferta e utilização de recursos escassos indispensáveis para atender às necessidades
dos membros e colocar ao seu alcance os alvos definidos pelo sistema social. Logo, trata de decisões relativas a
custos, alternativas, sacrifícios, eficiência, acesso e planejamento do uso dos meios que a situação oferece, em
função de atingir seja uma pluralidade de fins ou alguns dentre eles. Definidas as metas, a função de adaptação trata
da organização e distribuição dos meios disponíveis, com a finalidade de alcançar os objetivos do modo mais
eficiente ou renunciar a alguns diante da importância de outros. Frente ao conhecimento de que a construção de
uma usina hidrelétrica implica em um determinado impacto, poderiam ser colocadas as seguintes questões: quais
são os custos sociais, financeiros, técnicos, ambientais, políticos etc.? Existem outras alternativas? Há modos de
reduzir as consequências negativas? De acordo com as respostas, a sociedade decide, por meio dos órgãos
competentes, que medidas tomar. Ao organizar o uso e o tipo de recursos, a adaptação deve compatibilizá-los com a
busca da maior eficácia em função da prioridade dos valores estabelecidos: fornecer energia barata, proteger a
fauna, a flora, os recursos culturais ou arqueológicos, gastar menos recursos públicos, preservar uma comunidade
etc. Parsons chama a atenção para o fato de que a adaptação não tem necessariamente o sentido de aceitação
passiva das condições, mas pode significar seu domínio por meio de uma avaliação precisa. Dado que a vida
orgânica faz exigências específicas, o sistema social provê tais necessidades através do uso da tecnologia — a qual,
por sua vez, depende do sistema cultural para suas técnicas.

No plano do sistema geral da ação, é o organismo comportamental aquele que, em relação direta com as condições
e o ambiente físico, constitui o sistema adapta-tivo.9 Na sociedade, o sistema básico de referencia é a economia, a
qual ordena socialmente os processos tecnológicos, ajusta-os ao sistema social e controla-os no interesse de
unidades sociais através do sistema de mercado. Km sistemas sociais menos complexos, a família responde por
essa função.
A realização dos fins (G)
A função de realização dos fins vincula-se ao atendimento de necessidades do sistema por meio de trocas com a
situação (input/output). Ela representa um movimento na direção de um ou de diversos alvos que são, por sua vez.
hierarquizados segundo uma escala de urgência e. em tese, flexíveis às variações que a situação apresenta. Na
maior parte dos casos, a situação é complexa, e os fins são diversos. A função de realização dos fins encontra-se de
certo modo em contradição com a anterior. Enquanto cabe à adaptação (A) racionalizar ou mesmo propor a primazia
ou abandono dos fins, em função da escassez dos recursos e do que é considerado prioritário para a coletividade. a
função de realização de fins (G) define metas a atingir. No nível interno da sociedade, essa função é exercida pela
organização política. O governo define objetivos e a urgência que cada um representa. De maneira mais geral “a
função de realização dos fins é o centro da organização política das sociedades, ao passo que a da adaptação o é
da organização econômica".

A orientação para os fins relaciona-se às personalidades dos participantes, os quais devem ser motivados
para garantir o funcionamento do sistema social, já que contribuirão para isso com uma certa quantidade de
esforço. Dado que as sistemas de ação se interpenetram, a personalidade adquire, por meio da socialização, valores
advindos do sistema cultural e isso não só engaja o indivíduo cm modelos normativos, adequados ao funcionamento
do sistema social, como o incentiva a agir de acordo com os propósitos definidos e valorizados socialmente.
A integração interna (I)
A função de integração cuida da articulação das partes ou subsistemas do sistema mais amplo, coordenando-as. Ela
é essencial na definição dos limites sistêmicos e na sua manutenção; em caso de mudanças no ambiente ou
de diferenciação interna, cabe a ela procurar manter o equilíbrio e evitar riscas de desestruturação ou dissolução. A
integração pode se dar em distintos níveis, devendo ocorrer nos três sistemas da ação (cultural, social e de
personalidade). A propriedade de integração que emerge dos sistemas sociais refere-se aos valores comuns.

Num sistema social institucionalmente integrado (ou em uma parte dele), a expectativa de determinadas condutas,
tanto do ego como dos alters com os quais interage, é um elemento integrador. Isto ocorre na medida em que os
mesmos sentimentos são partilhados por ego e alter, o que dá estabilidade e previsibilidade à interação ou, em
outras palavras, à vida social. Mesmo num sistema social integrado com menor perfeição, o conceito de integração é
útil para descrever as expectativas de cada um dos agentes, ainda que divergentes. A integração varia de grau,
sendo identificável até em sociedades em estado de anomia, onde ainda podem existir “zonas de solidariedade”. A
desintegração pode levar a que um sistema se transforme ou seja absorvido por outro, ou que se subdivida,
sem nunca chegar ao estado de natureza hobbesiano — a guerra de todos contra todos.

O princípio que rege o sistema social é o da integração da ação em geral. Como a sociedade é um sistema
social que atingiu o nível mais elevado de auto-suficiência em relação aos seus ambientes — a realidade última, os
sistemas culturais, os de personalidade, os organismos comportamentais e o ambiente físico-orgânico — cada um
dos quais encontra-se localizado numa escala hierárquica de controle relativamente à quantidade de informação ou
de energia Na posição máxima da escala, do ponto de vista cibernético ou de controle de informação, está o sistema
cultural que estrutura práticas relativas à realidade última, Parsons acredita que esse é o que mais interessa no
exame das fontes de mudança na sociedade. O ambiente físico

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< ryiíttilr II

encontra-se no pólo oposto. Ele tem um papel condicional: a ação humana depende dele e precisa adaptar-se a
ele para garantir a vida.

Os fenômenos integrativos que os indivíduos tomam como referência são sistemas de valores comuns,
manifestos na legitimidade das normas institucionais, nos fins últimos comuns da ação, no ritual etc. Nesse sentido,
o sistema social integrado seria o grupo solidário cujos membros possuem obrigações positivas: deveres que podem
incluir sacrifícios em beneficio da coletividade e cujo cumprimento requer a contribuição de todos. A promoção
positiva de metas ou interesses coletivos é um dos focos de estruturação integrativa dos sistemas sociais.

Quando ocorre um processo de diferenciação, isto é, de nascimento de novas funções devido a


subdivisões internas, é necessário coordenar as unidades recém-formadas, ou seja, resolver os problemas de
integração. A função de integração refere-se aos ajustes que subsiste mas, segmentos ou unidades relativamente
independentes devem efetuar, juntamente com o sistema no qual se inserem.12 Ela permite incorporar as partes que
acabam de surgir, fazendo com que uma nova estrutura se estabeleça. Ao tratar do processo de mudança no interior
de uma sociedade, Parsons coloca que a diferenciação leva à separação de funções antes unificadas. Nesse caso,
o conteúdo das normas que as regiam anteriormente precisa ser modificado. As novas estruturas expressam a
capacidade adaptativa do sistema, de modo a que ele atenda às demandas que lhe são apresentadas.

Os sistemas de normas legais e organismos encarregados de aplicá-las são os instrumentos capazes de cumprir
a função integradora. Eles formam um subsistema integrativo propriamente dito, que cuida da atribuição e da
execução de papéis, das sanções e recompensas relativas a condutas desviantes ou conformes.13 Em termos
gerais, para um sistema social, o esforço realizado para minimizar os comportamentos potencialmente perturbadores
e suas motivações é a resposta para o que Parsons denomina de problema motivacional da ordem. Quando certas
tendências ameaçadoras da estabilidade chegam a organizar-se em subsistemas , elas podem atingir pontos
estratégicos do sistema social, colocando-o em risco.

Num sistema social, além da participação, da lealdade e da legitimidade cultural, é necessário que a
ordem normativa tenha à sua disposição sanções negativas que possam ser aplicadas em determinadas
circunstancias. “O direito, quando desenvolvido até o nível exigido, facilita a independência dos componentes
normativos da estrutura societária com relação às exigências de interesses políticos e econômicos, bem como com
relação aos fatores pessoais, orgânicos e do ambiente físico que atuam através de tais exigências.”14 Os tribunais e
a polícia, que são organismos especializados, cumprem a função integradora numa sociedade complexa. Com
relação à estrutura do sistema de sanções ou de instituições reguladoras, Parsons diz haver, na maioria dos
sistemas sociais, dois pólos: o informal e o formal.

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Capitulo JV

No primeiro caso as sanções se mantém em mãos privadas. São uma questão de reação espontânea do alter diante
do que o ego faz Não existe diferenciação de papéis em tomo ao eixo de instrumentalização dos padrões dos
valores comuns enquanto interesse coletivo. (...) O segundo tipo polar é o das sanções formalizadas. Isto implica
uma diferenciação dc papéis no que se refere à responsabilidade diante da coletividade para a manutenção da
integridade de um sistema normativo. (...) A diferença com o caso espontâneo informal consiste em que, nesse, as
sanções são uma questão de moralidade privada, enquanto no caso formal são uma questão de obrigações
especificas dos papéis.
O subsistema integrador da sociedade: a comunidade
societária
Tomada como sistema, a sociedade possui um núcleo através do qual a vida de sua população organiza-se
coletivamente. Esse núcleo é a comunidade societária, “uma rede complexa de coletividades interpenetrantes e de
lealdades coletivas, um sistema caracterizado por diferenciação funcional e segmentação”, que inclui múltiplas
unidades de parentesco, empresas, órgãos do governo, escolas, hospitais, sindicatos etc. que formam uma rede
complexa.16 Ela é uma ordem normativa padronizada que dá unidade e coesão à sociedade. Portanto, constitui-se
de valores institucionalizados no sistema social, e de normas e regras culturalmente referidos, que submetem os
membros a obrigações, cuja realização é garantida através de sanções executadas pelos órgãos do governo. Os
valores são prioritários na função de manter os padrões (função L) do sistema cultural e atuam como elos com o
sistema social, onde se institucionalizam. Já as normas são integrativas (função 1), regrando os diversos processos
e relações sociais em um nível mais particularizado (nas sociedades mais avançadas situam-se no sistema legal). O
núcleo da sociedade articula-se também aos outros dois componentes estruturais (coletividades e papéis). A
realização de objetivos em nome da sociedade (função G) dá-se a partir da ação dos que são definidos como
membros das coletividades que a compõem. A coletividade é uma categoria de estrutura intra-social. Seus membros
executam papéis, cuja função é adaptativa (função A). Embora possam ser abstraídos, os quatro componentes
estruturais (valores, normas, coletividades e papéis) não existem independentemente, e “qualquer unidade estrutural
concreta de um sistema social" é sempre uma combinação entre eles.

Cabe à comunidade societária exigir dos membros uma prontidão para atender a chamados da coletividade. "A
função primária desse sistema integrador é definir as

obrigações de lealdade à coletividade societária, tanto para os participantes como um todo, como para as
diferentes categorias de status e papéis diferenciadas no interior da sociedade."17 O problema normativo é o de
definir as ocasiões em que esta lealdade se constitui numa obrigação. Na medida cm que distintas coletividades
integram uma sociedade e que seus participantes possuem obrigações e direitos específicos relativos à pluralidade
de papéis que nelas ocupam, é necessário que haja uma adequação entre eles e as bases de legitimação da ordem
social como um todo. A lealdade que uma seita demanda de seus membros deve subordinar-se à que é exigida pela
sociedade mais ampla à qual a seita está integrada e com cujos valores não pode concorrer sob pena de sofrer
sanções e de provocar conflitos.

A comunidade societária utiliza-se de uma escala de estratificação e de prestígio como parte de sua função
de ordenação normativa e, assim, integra os quatro componentes estruturais da sociedade. Por exemplo, um
cientista ocupa uma função importante na escala de prestígio de uma sociedade moderna e racionalizada e, no
cumprimento de seu papel, obedece às normas pertinentes à sua atividade, presentes na coletividade científica de
que faz parte. Essas normas, por sua vez, são legitimadas pelos valores últimos característicos da sociedade como
um todo c não podem estarem contradição com eles. Assim, por exemplo, não lhe é permitido clonar seres humanos
ou usá-los como cobaias em certos experimentas, por mais que lhe pareçam procedimentos relevantes para o
avanço da ciência.
As relações entre a comunidade societária e os outros
subsistemas da sociedade
Parsons lembra que a participação, a lealdade, a persuasão, os apelos morais e o comprometimento precisam
estar vinculados à obrigatoriedade e, em caso de desobediência, a sanções negativas exercidas de maneira
organizada por meio da função de coerção. Nas sociedades diferenciadas, agências especializadas estarão
encarregadas da aplicação das sanções, tais como as associações profissionais dos médicos e dos comerciantes,
ou a polícia. O governo tem como uma de suas funções manter a integridade da comunidade societária contra
ameaças generalizadas à sua ordem normativa legitimada; a outra função é a interpretação autorizada que se dá,
nas sociedades avançadas, por meio dos sistemas judiciários. "O direito é o código geral que regula a ação das
unidades de uma sociedade”, na forma de leis válidas para todos. Embora exista nele um conteúdo moral, este não
inclui toda a moralidade — como a religiosa, por exemplo. O sistema cultural possui valores morais,
estéticos, cognitivas e religiosos. A moral, a religião, a arte, o conhecimento empírico e a ciência podem ser sistemas
culturais independentes. Tal diferenciação cultural é uma das características das sociedades modernas.

A comunidade societária relaciona-se, por um lado, com a manutenção de padrões por meio dos compromissos
de valor de seus membros, com o governo que exerce a coerção, interpreta as obrigações e determina as
penalidades; por outro lado, precisa controlar recursos de maneira regulamentada. Isto se dá por meio da economia
e do uso da tecnologia e também faz parte de um compromisso normativo. O dinheiro e os mercados são
mecanismos de intercâmbio da ordem econômica, assim como o poder o é no caso do governo, e o prestígio no da
comunidade societária. Por fim, a comunidade societária relaciona-se a aspectos coletivos, definindo os critérios de
participação nas suas subunidades e os da identidade cidadã, que asseguram direitos legais e servem de base para
a solidariedade. Em sociedades mais simples, esses critérios apoiavam-se na religião, etnia e territorialidade —
coincidentes com a nacionalidade. Mas, “as bases de legitimação cultural transcendem as contingências diretas de
influência, interesses e solidariedade, pois estão baseadas, no nível societário, em compromissos de valor”,
relembra Parsons, reafirmando a importância do núcleo da ordem normativa.19
A manutenção de modelos ou padrões que controlam o
sistema (L)
No sistema geral da ação, tal função é cumprida pelo sistema cultural, que promove a legitimação da
ordem normativa; na sociedade, pelas agências socializadoras como escolas, famílias, igrejas, grupos profissionais.
A base consensual de uma comunidade societária é a obediência aos valores e normas de uma sociedade que são
internalizados a partir da socialização.

Os modelos de cultura institucionalizada referem-se a padrões estáveis e definem a própria ossatura do


sistema como um todo, encontrando-se no patamar mais elevado em termos de controle cibernético. Poder-se-ia
dizer que essa seria a função mais “nobre” dentre as examinadas pela teoria da ação. Segundo Parsons, essa
função se caracteriza, em primeiro lugar, como a “manutenção de padrão básico de valores institucionalizados e, em
segundo, como a manutenção e conformação dos compromissos motivacionais adequados de indivíduos na
sociedade”.20 Isso se dá porque o indivíduo, enquanto membro de um sistema social, precisa ter suas motivações
adequadas a modelos normativos que são do interesse da sociedade, interiorizados em sua personalidade. Para que
isso ocorra, certos valores devem estar institucionalizados no sistema social e se apresentarem aos seus membros
como relativamente estáveis e articulados na forma de crenças, ideologias, valores etc., constituídos numa espécie
de reserva da qual eles lançam mão para orientarem a própria conduta em distintas situações. Tal estabilidade dos
valores não implica em que sejam “imunes à mudança” e, embora as transformações nesse nível sejam
extremamente mais lentas do que em outros subsistemas, ao mesmo tempo são as mais significativas. Assim, tanto
a função de manutenção de padrão como a de mudança criativa de padrão são exercidas pelo sistema cultural.21

Entre diversas focos de desequilíbrio aos quais as sistemas podem estar expostos, está a presença de valores
incongruentes com suas principais exigências ou em desacordo com o conjunto de seus valores supremos. Tais
valores incongruentes podem ser tolerados e até chegar à institucionalização adaptativa ou, ao contrário, converter-
se em fontes importantes de mudança estrutural, mesmo quando integrados aos valores centrais. Nessa medida,
eles também originam rupturas consideráveis e, por isso, é essencial procurar mecanismos tendentes a proteger a
ordem sistêmica, mesmo que o processo de mudança venha a ocorrer ordenadamente. For exemplo, a legalização
da prática do aborto pode coexistir com fortes crenças religiosas. Por outro lado, a restrição ao emprego de
imigrantes, contrária a direitos constitucional mente estabelecidos, ocasiona, em certas conjunturas, condutas
violentas generalizadas, passíveis de provocar um certo grau de desagregação social.

Sempre que um sistema ou subsistema sofre um processo de diferenciação ou se torna mais complexo, padrões de
valor com maior generalidade precisam ser estabelecidos para que as novas funções e objetivos instalados sejam
legítimos. Quando a existência de diferenciação funcional e segmentação, ou então o pluralismo de papéis, venha a
provocar conflitos entre fidelidades a distintas subcoletividades e seus sistemas de valores (a uma seita religiosa ou
a um grupo político, por exemplo), deverá prevalecer aquela que se refere ao núcleo integrador da sociedade — a
comunidade societária.22 Assim, a integração nas sociedades complexas demandará a regulamentação de
lealdades dos membros à comunidade societária e às diferentes coletividades que a integram, nas quais o agente
participa. Conquanto o conteúdo principal de uma ordem normativa não lenha de ser uniforme ou unânime,

ele é mais ou menos universal para os membros de uma coletividade. Os compromissos de valor são a base da
legitimação cultural, por isso, “a violação de um compromisso é definida como ilegítima; o seu atendimento é uma
questão de honra ou consciência moral que não pode ser eliminada sem desonra ou sentimento de culpa, ou ambas
as coisas”. A sociedade é uma ordem, logo, contém valores, normas e regras que deverão ser legítimos. Dado que o
sistema social em si encontra-se numa posição subordinada em relação ao sistema cultural, também o próprio
núcleo da sociedade, a comunidade societária e sua própria ordem normativa são legitimadas pelo sistema cultural
por meio dos padrões culturais de valor.

No caso das sociedades, como sistemas sociais concretos, a adaptação (A) é seu ajustamento ao ambiente físico
com diferenciação de papéis e divisão do trabalho. Ela é levada a cabo por instituições econômicas, fábricas,
empresas etc. A realização de fins (G) é o processo de organização cooperativa dos recursos necessários para
atingir objetivos coletivos. O governo é o sistema em que ocorre a definição e hierarquização dos objetivos a serem
alcançados. A integração do sistema (I) se dá por meio do controle social (via lei) e dos mecanismos pelos quais a
ordem é mantida, como a polícia e os tribunais. A manutenção de padrões e controle de tensão latente no interior do
sistema (L) é o processo de internalização de valores, motivação dos indivíduos, socialização — via famílias, igrejas,
amigos, instituições de ensino e pesquisa etc. A cultura garante a manutenção de padrões culturais
institucionalizados ou legítimos, que fundamentam a identidade e a solidariedade de uma comunidade. Crenças,
rituais e outros componentes culturais corporificam esse simbolismo identitário.24
As categorias estruturais dos sistemas sociais
Vistas os modelos dinâmicas de análise, que são funcionais, Parsons identifica quatro categorias ou elementos
estruturais dos sistemas sociais, e portanto também das sociedades, que seriam: (1) valores, (2) normas, (3)
coletividades c (4) papéis. Os dois primeiros elementos, que pertencem à ordem normativa, vinculam-se à realidade
última; os dois seguintes referem-se às condições do ambiente. Sendo o nível de generalidade decrescente, cada
um desses elementos legitima ou modela o que lhe segue. Aplicando a tais categorias o esquema AGIL, os valores
atuam no sentido da manutenção de padrões (L), as normas são integrativas (I), a coletividade busca atingir certos
fins (G), e os papéis têm função adaptativa (A). Em suma,

os valores têm primazia no funcionamento de manutenção de padrão dos sistemas sociais, pois são concepções de
tipos desejáveis de sistemas sociais que regulam a apresentação de compromissos pelas unidades sociais (L). As
normas, que atuam basicamente para integrar os sistemas sociais, são especificas para determinadas funções
sociais e tipos de situações sociais (I).

Incluem não apenas componentes de valor especificados para níveis adequados na estrutura de um sistema social,
mas também modos específicos de orientação para a ação sob as condições funcionais e situacionais de
determinados papéis e coletividades. As coletividades constituem o tipo de componente estrutural que tem
primazia para a realização de objetivo. [G] (...) Pensamos no papel — o

tipo de componente estrutural que tem primazia na função adaptativa — como capaz de definir uma classe de
indivíduos que. através de expectativas recíprocas , participam de determinada coletividade (A). Para isso, os papéis
abrangem zonas primárias de interpenetração entre o sistema social e a personalidade do indivíduo, (...) Para serem
institucionalizados de maneira estável, as coletividades e os papéis precisam ser "governados" por normas e valores
específicos, enquanto que as normas e os valores somente são institucionalizados na medida em que são
"executados" por determinados papéis e coletividades
Os valores societais (função L)
Os valores societais ou sistema de valores da sociedade “constituem o componente que atinge o mais alto nível de
generalidade, pois se trata de concepções da sociedade desejável, possuídas em comum por seus membros”,
sendo seu elemento estrutural mais estável e servindo de orientação para a conduta de seus participantes.26 Ainda
assim, seu grau de institucionalização é variável, dependendo do consenso existente em relação a cada um desses
valores. Eles são “distintos de outros tipos de valores — tais como os valores pessoais — no sentido de que a
categoria do objeto avaliado é o sistema social e não as personalidades, organismos, sistemas físicos ou sistemas
culturais”. Isto aponta para o fato de que cada indivíduo internalizados diferentemente em sua personalidade e pode
também não agir de acordo com eles. Por outro lado, a participação em subsistemas confere a capacidade de emitir
juízos de valor específicas enquanto “aplicações dos princípios gerais do sistema de valores societal comum num
nível mais concreto”. Parsons afirma que os valores adotados pelos grupos regionais e de classe, ou no exercício de
papéis sexuais são especificações dos valores gerais da sociedade. Nesse último caso, por exemplo, apesar de os
valores serem presumivelmente compartilhados por todos os membros em um nível específico, seu comportamento
é regulado por normas diferenciadas referidas aos gêneros e derivadas dos valores societais.

Sendo os meios recursos generalizados, sempre podem ser colocados a serviço de fins alternativos. Um fim também
pode ser um meio para alcançar um outro fim. Por exemplo, ser um bom especialista em uma área pode ser uma
meta intermediária, no sentido de que pode ser usada para realizar outro objetivo: viajar, ser reconhecido etc. Mas
os valores últimos que a sociedade define como desejáveis têm, como característica principal, nunca servirem de
meios para quaisquer fins.

Os valores definem os modelos do sistema social que devem ser atingidos ou realizados por intermédio da ação dos
seus membros. Dado que estes serão guiados por esse sistema de valores, por exemplo ao julgarem "o que significa
para eles uma boa sociedade”, tal sistema torna-se o ponto de referência básico para o cientista social
analisar empiricamente um sistema social ou uma sociedade concreta.

É por meio do sistema cultural que a ordem normativa da sociedade toma-se legítima, instituem-se direitos e
proibições. O fundamento do sistema cultural “é sempre, em certo sentido, religioso” na medida em que se articula
com a realidade última “c desta depende quanto ao sentido”. O nível de complexidade das estruturas que articulam
esses dois sistemas varia com a diferenciação das sociedades. A estrutura das sociedades primitivas pouco difere
de sua forma de organização religiosa.

As orientações de valor estão generalizadas na forma de regras aplicáveis a todos os agentes, em distintas
situações, e tal generalização é um pré-requisito da ordem social. Por exemplo, o respeito às diferenças individuais
como valor pode levar concretamente ao aumento da tolerância às escolhas relativas a crenças religiosas, práticas,
formas de relacionamento afetivo, uso de vestimentas e adornos etc. Orientações de valor específicas podem
converter-se também em padrões culturais mais amplos e, desse modo, em valores comuns aos membros da
sociedade, passando assim a participar nos processos de interação social. Certas valores característicos da cultura
hippie foram generalizadas em algumas sociedades ocidentais, como maior liberdade sexual, a não-violência e a
busca de uma vida mais natural e comunitária, e isto se refletiu na reformulação de algumas instituições.

Juízos de valor e expectativas de comportamento que se referem a partes diferenciadas ou subsistemas da


sociedade — sendo, portanto, compartilhados apenas pelos membros que deles participam, como por exemplo
os professores, os advogados, os sacerdotes — especificam e aplicam, num nível concreto e de mais baixa
generalidade cultural, os princípios gerais do sistema de valores societal comum, legitimando-os. São as normas.
Indivíduos que interagem compartilhando valores mantêm-se, em certo sentido, unidas em sua defesa. Esse tipo de
consenso valorativo fundamenta um sistema social. Ao orientar sua ação e decidir como interpretar empiricamente
os fatos que são significativos para ele, um agente toma em consideração: o sistema de valores geral de sua
sociedade, aquele mais específico da coletividade relativamente à qual sua conduta se refere e, finalmente, seu
próprio sistema de valores. Mesmo assim, algumas interpretações que ele realiza sobre o que é certo ou errado,
bom ou ruim etc., numa situação concreta poderão ser conflitantes.

Apesar das inevitáveis incompatibilidades, existe uma vigorosa tendência no sentido de manutenção dos valores, já
que a necessidade funcional de uma ordem subjaz a todo sistema de ação, impondo a premência de integrar os
componentes culturais. Daí que a ordem “aparece, em sua forma mais simples e elementar, na
complementaridade das expectativas de papel. Sem estabilidade e, como consequência, sem previsibilidade, que é
a essência da ordem, ego e alter não poderiam responder a expectativas mútuas de uma maneira gratificante para
os dois." A mesma estabilidade-previsibilidade é requerida das necessidades-disposições responsáveis pela
motivação individual. Portanto, conquanto existam tensões que ocorrem quando as ações são orientadas por
sistemas de valor variáveis ou não-permanentes, a necessidade da ordem continua subjacente. Embora reconheça
que “o controle imediato através de autoridade direta é incompatível com a liberdade individual”, Parsons acredita
que, “numa ordem institucionalizada em que se espera que os indivíduos assumam grande responsabilidade e lutem
por alto desempenho, e que sejam recompensados através de sanções organizadas socialmente” não é possível
deixar que se enfraqueçam todos os aspectos do controle institucionalizado.
A consistência c a incompatibilidade de valores
Em toda sociedade existe um ethos, um grupo de temas dominantes no sistema de valores, que se combina
funcionalmente com outros padrões de valor existentes. O ethos pode estar mais ou menos institucionalizado nos
diversos setores do sistema social. Segundo mecanismos de ajuste, tolera-se ou exclui-se a possibilidade de
existirem valores alternativos e críticas à autoridade. Contudo, problemas de integração valorativa podem ser
suscitados por novas práticas, o que ocorre freqüentemente, por exemplo, devido ao desenvolvimento científico e
tecnológico. O destino dos embriões humanos congelados que não serão utilizados para fins reprodutivos, as
terapias genéticas, o uso da internet com a finalidade de divulgar pornografia configuram exemplos de situações
sobre as quais nem todas as sociedades elaboraram normas ou possuem padrões de julgamento generalizados. Em
alguns casos, valores incompatíveis com aqueles institucionalizados são confinados a certos setores, papéis e
contextos, como foi o caso das práticas do chamado “amor livre” entre grupos contestadores na década de 1970.
Quando existe contradição entre, por exemplo, a valorização da atitude de autonomia e a independência por parte
de um jovem e, ao mesmo tempo, sua sujeição à autoridade paterna, relações conflituosas tendem a se estabelecer.
No caso de os limites entre conformidade e desvio serem pouco claros, interpretações divergentes são legítimas,
coexistindo padrões de valor diversos. Nessas circunstâncias, um excessivo rigor na aplicação do ethos dominante
seria perturbador e contraproducente. Os sistemas sociais utilizam-se de mecanismos de defesa que limitam as
possibilidades de desintegração e permitem a coexistência e colaboração das suas diversas partes, desde que seja
dada prioridade às orientações de valor dominantes. Em suma,

a instabilidade dentro do sistema de valores leva a tensões no sistema de ação. seja social ou pessoal. Tal
instabilidade tem sua origem amiúde em circunstâncias históricas, através do contato com padrões de
valor incompatíveis, de modo que dois grupos deles, ou mais, tenham sido internalizados ou institucionalizados em
algum setor do sistema. Sem embargo, esta fonte de tensão é apenas uma a mais entre as fontes originais,
inerentes à natureza dos sistemas de ação. As fontes originais de tensão têm sua raiz no fato de que
nenhum sistema internamente estável e completamente integrado da orientação de valor pode ser adequado às
necessidades funcionais de qualquer sistema concreto de ação. Posto que a tensão é inevitável, tem que haver
integrações de valor adaptativas nos setores em que a integração de valor dominante é menos adequada, de
maneira que estas insuficiências sejam compensadas. Se não fosse

porque esta integração defeituosa radica na natureza da ação de um sistema, as instabilidades der iradas do devenir
histórico não seriam importantes ou persistentes.

Considerando as causas sociais, psicológicas ou culturais da má integração, Parsons procura mostrar que
advogados e terapeutas interferem em áreas distintas no que se refere ao controle social. A prática dos advogados
se dá num sistema no qual as duas partes em litígio relacionam-se com o sistema normativo que pretende regulá-
las. Normas ou valores insuficientemente definidos podem levar a um comportamento anômico — que é distinto
daquele que compete ao terapeuta tratar, referidos aos desvios de condutas individuais, condicionados por
processos falhos de motivação e internalização.

As personalidades, portanto, também enfrentam problemas semelhantes em sua relação com a cultura, já que os
agentes selecionam e internalizam somente alguns dentre os elementos culturais, os quais não são sempre
congruentes. A composição das necessidades-disposições que constituem as personalidades consiste “numa fusão
de energia orgânica dentro de uma estrutura formada de compromissos com as alternativas da orientação de valor”.
Certas culturas podem valorizar a criatividade pessoal, embora as necessidades-disposições individuais sejam mais
ou menos propensas ao conformismo. Mas o membro de coletividades sempre enfrenta o desafio de decidir em que
medida e de que maneira aceita ou recusa esses valores (presentes no sistema institucionalizado). A menos que o
sistema social se encontre perto da desorganização total, as consequências derivadas de um desvio radical são
sempre sérias.” Essas considerações remetem as variáveis padrão enquanto elementos de um processo de decisão
que cabe fundamentalmente ao agente, mesmo que esteja sob a autoridade moral dos valores de sua sociedade ou
de subsistemas a que pertence. Parsons cita como exemplo de equilíbrio instável o conflito entre o
sistema ocupacional norte-americano — universalista, específico e orientado para o desempenho — e seu sistema
de parentesco — particularista, difuso e que contém elementos adscritivos.
As normas (função I)
Num nível mais baixo de generalidade da estrutura normativa, ou de maior especificidade ou
concretitude, encontram-se as normas. Isto quer dizer que elas podem ser legitimadas pelos valores, mas não o
contrário. As normas referem-se diretamente (l)a situações, definindo assim padrões generalizados de expectativa,
ou (2) a mandatos específicos para os tipos diferenciados de unidades dentro de um sistema, como por exemplo as
profissões, os papéis etc. As normas são ditas institucionalizadas quando os sentimentos morais e as motivações
estruturam-se de acordo com elas e assim reforçam-se mutuamente . A conformidade com essas normas é
recompensada e os desvios são desaprovados ou castigados em diversos

graus. As normas contribuem para a realização dos valores últimos das coletividades. As funções integração e
latência são internas ao sistema social enquanto as duas outras o relacionam ao ambiente, sendo portanto externas.
As coletividades (função G)
Dotadas de um menor grau de generalidade, enquanto parte da hierarquia de controle normativo do comportamento,
encontram-se as coletividades, sujeitas aos valores gerais e às normas do sistema social. As coletividades possuem
seus próprios valores institucionalizados e suas culturas normativas, que devem ser compreendidos
como especificações, cm nível apropriado, tios valores mais gerais da sociedade. Seus objetivos e o uso dos
recursos para atingi-los devem submeter-se às prioridades e disponibilidades da sociedade, na medida em que são
subunidades do sistema social mais amplo. Uma sociedade de amigos dos animais é uma coletividade. Embora
possua metas específicas que devem ser atingidas por seus membros, ela não pode, em princípio, apropriar-se de
recursos consideradas prioritários pela sociedade, como, por exemplo, alimentos num período de crise, de modo a
prejudicar objetivos coletivos, ou difundir valores contrários aos que constituem a comunidade societária. A
sociedade reage quando um grupo de defensores dos direitos dos animais destrói um laboratório onde se utilizam
cobaias com a finalidade de pesquisa de medicamentos para aplicação em seres humanos.
Os papéis (função A)
Por fim, no âmbito mais estreito quanto à generalidade do controle normativo, encontram-se os papéis os quais
se constituem de “expectativas normativas para o desempenho de um indivíduo participante cm sua qualidade de
membro de uma coletividade”. Um papel “é um setor do sistema de orientação total de um agente individual, que se
organiza sobre as expectativas em relação com um contexto de interação particular, que está integrado com uma
série particular de critérios de valor que dirigem a interação com um alter ou mais, nos papéis complementares
adequados". Km outras palavras, cada agente, no desempenho de algum dentre seus múltiplos papéis, encontra-se
num determinado contexto interativo, no qual sua conduta está parcialmente delineada; existem obrigações ou
deveres que aqueles que com ele interagem esperam que cumpra. For exemplo, num supermercado ele é um
consumidor e conduz-se segundo expectativas socialmente definidas em relação a quem exerce esse papel, cm seu
relacionamento com os outros consumidores, funcionários e com as condições do local, e segundo valores e normas
aceitos por aqueles com quem interage. Espera-se que ele examine e escolha os produtos de que necessita, mas
não os coma ou use ali mesmo, destrua as instalações e maltrate os funcionários. Parsons coloca como exemplo
que um pai sempre é especifico enquanto tal para seus filhos, mas tem seu papel paterno definido segundo os
termos da estrutura de sua sociedade. Em suma, os comportamentos de indivíduos

159

Capitulo IV

revestidos de papéis são regulados e controlados por valores, normas e objetivos coletivos. Os papéis latentes são
aqueles que, em determinadas ocasiões, não estão sendo executados, na medida em que o agente a
quem correspondem tais papéis não está ativo nos grupos (ou não está inserido no contexto pertinente à
execução deles), mas que nem por isso deixam de ser parte de seu sistema de personalidade. Um sujeito pode ter
diversos papéis sem exercê-los todos ao mesmo tempo: pai, dentista, amante, filho, cliente, marido, ecologista,
eleitor, vizinho, entre outras inúmeras possibilidades. Nas sociedades modernas, as pessoas são membros de várias
coletividades às quais devem lealdade, ou seja, existe um pluralismo de papéis resultante da diferenciação social, o
que torna necessária a regulamentação desses níveis e lealdades, de modo a assegurar a integração do sistema
mais amplo. Parsons acredita que os motivos egoístas, acentuados pela perspectiva individualista, seriam
canalizados por meio “de diferentes participações e lealdades a coletividades”, de modo a que se estabeleça um
equilíbrio entre lealdades concorrentes, ocupando a comunidade societária o topo dessa hierarquia de
compromissos.

Sendo um sistema social composto de processos de interação entre agentes, é a estrutura dessas relações
que forma essencialmente o próprio sistema. Cada agente individualmente envolve-se em muitos desses
relacionamentos em distintos subsistemas sociais. A participação de um agente numa relação dessa natureza tem
dois aspectos: (1) sua posição ou localização em relação a outros agentes — esse lugar é seu status na estrutura,
dele deriva o significado que tem para os outros enquanto objeto social; e (2) seu papel, ou o quê ele faz, sua ação
orientada para os outros, e que é um aspecto dinâmico ou processual. É o papel que o membro cumpre naquela
coletividade que se toma "a unidade conceituai do grupo, da estrutura do sistema social". Um lixeiro e um
psicanalista têm lugares e obrigações relativamente precisos na sociedade, cumprindo funções necessárias. O
respeito e prestígio de que são objeto nas relações sociais são também bastante claras. Status e papéis não são
atributos do agente, mas unidades do sistema social ou seu foco de organização. Segundo o autor.

a distinção entre status e papel encontra-se em sua raiz intimamente relacionada com a distinção entre as duas
perspectivas reciprocas inerentes à interação De um lado, cada agente é um objeto de orientação para outros
agentes (e para si mesmo). Na medida em que este significado do objeto deriva de sua posição no sistema de
relação social, é um significado de status. De outro lado. cada agente orienta-se para outros agentes. Ao fazê-lo,
está agindo, não servindo de objeto— isto é o que queremos dizer quando falamos que está realizando um papel.

161

Cufriluto IV

Na medida em que o sistema não é o resultado de uma soma de personalidades, o indivíduo não é a unidade que o
constitui, sendo ele próprio participante de diversos sistemas. Papéis e coletividades são conceitos cuja referência é
imediatamente empírica. Os papéis são exercidos por indivíduos particulares. Uma coletividade tem membros que
executam papéis específicos, os quais possibilitam a adaptação ao ambiente por meio dos organismos, ligando-
se diretamente às personalidades. As coletividades encarregam-se de definir e controlar o preenchimento e
cumprimento dos papéis. Os papéis abrangem as zonas de interpenetração entre o sistema social e a personalidade
do indivíduo e também articulam diretamente o sistema de personalidade e a estrutura do sistema social. Isto se dá
por meio da passagem dos valores institucionalizados para o sistema da personalidade através da socialização.
Uma interação envolve no mínimo duas personalidades atuantes (sistemas dotados de valores e fins), que acabam
por formar um sistema social que pode chegar à estabilidade. Para isso, as significações das atos devem ser
interpretadas pelos agentes que interagem com referência a uma cultura normativa compartilhada e que se integra
às suas expectativas. Assim, as respostas dos agentes aos atos de outros são sanções (positivas ou negativas) que
servem de guia, freio ou estímulo para as condutas futuras. As expectativas cie papel consistem em direitos de alter
a esperar certos comportamentos por parte do ocupante de um papel, os quais são por definição obrigatórios. Os
papéis geram direitos e obrigações que se definem por meio de expectativas consensuais que formam parte
essencial da estrutura de qualquer sistema social.

Numa interação entre ego e alter, cada um executa alternativamente o papel de objeto, um para o outro. A "relação
entre expectativas de papel e sanções é, pois, claramente recíproca. O que são sanções para o ego
são expectativas de papel para o alter e vice-versa.” As sanções tendem a reforçar as necessidades-disposições que
estão em conformidade com tais expectativas. As sanções negativas servem de castigo, desaprovação, penalidade
contra os desvios; buscam impedir o alcance daqueles objetivos visados pelo agente, que são divergentes
relativamente às expectativas, ou acrescentam algum tipo de empecilho ou privação durante ou depois da realização
da ação. No caso das sanções positivas, elas facilitam a obtenção das metas ou fornecem gratificações adicionais
ao cumprimento da ação. Na medida em que o sistema é diferenciado, isto é que suas unidades são os distintos
papéis exercidos por seus membros, cada um deles terá objetivos específicos a atingir e, portanto, compromissos
particulares sujeitos a uma disciplina coletiva. Todos os papéis contêm tarefas consideradas desagradáveis que
devem ser cumpridas. Os

papéis devem estar integrados ou coordenados para evitar

conflitos e para contribuir à realização dc fins do sistema social por meio da colaboração. Nesse sentido, a
conformidade absorve as tensões implicadas no exercício das obrigações, que constituem as orientações
motivacionais essenciais ao funcionamento do sistema. Durante a interação, cada agente procura adaptar-se às
mudanças decorrentes das ações do outro e aproveitar da melhor forma os recursos que lhe são oferecidos. Regras
mais ou menos fixas permitem prever consequências e estabilizar a interação. Parsons usa como exemplo a
interação dos parceiros num jogo de xadrez. Para considerar uma situação que é o inverso dessa, a Alice de Lewis
Carrol joga com a Rainha de Copas um jogo sem regras, cujos movimentos, contagem de pontos e determinação do
vitorioso são imprevisíveis, e em que os contendores não pretendem ver significados comuns nos atos dos demais.
Quem observa a imprevisibilidade de um jogo sem normas, anômico, é justamente Alice, cuja expectativa de
racionalidade inspirar-se-ia pretensamente em interações passadas no mundo “real".

Sempre que os indivíduos se encontram numa situação interativa, eles definem aí sua participação com base
nesse setor organizado de orientações: seus papéis e os dos demais. Eles possuem expectativas complementares
e compartilhadas. Seu conjunto corresponde a orientações normal ivamente reguladas com respeito a uma
pluralidade organizada de alters. Um sistema organizado de interações constitui-se sobre tais expectativas.
Tomando como ilustração os papéis de funcionários de uma casa para idosos e de comissários de bordo,
relativamente a internos ou passageiros, vê-se que existem expectativas institucionalizadas relativamente claras e
específicas sobre a ação de cada um desses ocupantes de papéis, sejam dos que atuam como médicos,
enfermeiros, pacientes, recepcionistas, pilotos, cozinheiros etc. Em suma, a reciprocidade de orientações define-se
com base em valores, e o papel seria um complexo de condutas, regulado de maneira normativa por um sistema
social.
O processo de institucionalização de papéis e sanções
Sempre que os papéis e as expectativas de papel vigorem em conformidade com os padrões culturais dominantes e
com os valores moralmente sancionados — isto é, aceitos pelos membros de uma coletividade e por eles
compartilhados — serão ditos institucionalizados. A institucionalização corresponde à "integração das expectativas
dos agentes num sistema apropriado de papéis interativos que possuem um padrão normativo e compartilhado de
valores. A integração é tal que cada um está disposto a recompensar a conformidade dos outros e, inversamente, a
condenar ou desaprovar o desvio.” A institucionalização pode ser medida em termos de graus.

Ela articula ou integra “as ações de uma pluralidade de agentes frente a um tipo específico de situação, na
qual vários agentes aceitam um conjunto de regras harmoniosas com respeito a metas e procedimentos”, de forma
que c ada um “faz efetivamente e acredita que deve fazer o que os outros agentes que participam com ele da
mesma situação esperam que faça”. Esse consenso é essencial para que se resolva

o problema da ordem e, assim, o da natureza da integração de sistemas estáveis de interação social, portanto,
centra-se na

integração da motivação dos agentes com os padrões culturais normativos que constituem o sistema de ação em
nosso contexto, interpessoalmente. Tais critérios são padrões de orientação de valor, e como tais são uma pane
especialmente crucial da tradição cultural do sistema

social.

Uma estrutura de papéis existe quando os que dela participam conduzem-se segundo determinados modelos. Pode-
se dizer que o conjunto de papéis de cada indivíduo é único, porque ele participa de uma combinação especifica de
subsistemas de interação que conformam a sociedade. Na medida em que distintos papéis correspondem
a diferentes focos de orientação e compromissos por parte de seus ocupantes, em cada papel o indivíduo dispõe
de um subsistema de orientações. Desses papéis, boa parte não chega a ser minuciosamente regulamentada e
assim as condutas daqueles que os preenchem podem expressar variações, já que os pequenos desvios não são
sancionados. Um sacerdote, por exemplo, tem parte de seu papel regulamentado, o que não o impede de agir de
modo distinto de outros sacerdotes em certas circunstâncias nas quais nem todos os procedimentos são claramente
prescritos.

Parsons considera que a anomia é a antítese da institucionalização: é "a ausência de complementaridade


estruturada do processo de interação ou, o que é o mesmo, o rompimento completo da ordem normativa” sendo,

portanto, um conceito-limite. Existem graus de anomia, assim como de institucionalização, embora ambas
sejam situações-limite, funcionam como tipos ideais. A anomia pode dever-se a rupturas no sistema de comunicação
social ou em alguns elementos da cultura, como as orientações valorativas. Ela seria resultado “do enfraquecimento
do controle, no sentido do enfraquecimento da solidariedade”, afirma Parsons, reforçando os achados de Durkheim.

O conflito é a maior ameaça à existência do sistema. O processo de socialização encarrega-se de gerar valores
de colaboração e de tornar controláveis as demandas e aspirações pessoais, de maneira que não exorbitem as
capacidades do sistema, provocando situações conflituosas e mesmo a sua desintegração. Quando os embates
existentes dentro do sistema ultrapassam certos limites, impedem a complementaridade entre os papéis e a
obtenção das metas privadas e coletivas. Por isso, uma função essencial presente no sistema social refere-se à
distribuição das meios necessários, quando escassos, à satisfação das metas, dc modo a impedir a guerra de cada
um contra todos.
Funções atributivas e o controle do conflito
Numa situação em que as recursos são restritos, portanto em menor quantidade que a exigida para a satisfação
ilimitada de necessidades, uma competição desorganizada levaria a frustrações e conflitos. O que se coloca aqui
é que existe um problema relacionado à manutenção da ordem e, ao mesmo tempo, dc alcance de objetivos
da coletividade. Sendo as necessidades motivadoras das ações, o sistema deve assegurar que a satisfação delas
não interfira com suas próprias normas de funcionamento e, ao mesmo tempo, que os membros ajam no sentido de
atingir as metas tidas como necessárias pela coletividade como um todo. Um dos problemas que se apresenta é:
como funções diferentes e complementares podem ser atribuídas aos membros de modo que se cumpram todas as
tarefas de que um sistema necessita para funcionar adequadamente? Isso é obtido através de um sistema de
sanções que penalizam aqueles que não executam ou se desviam das funções para as quais seus papéis foram
determinados. O que se busca é a formação de um consenso moral geral, que circunscreva quais são esses direitos
e obrigações, orientando os membros de um sistema em direção a certos valores. Uma conduta potencialmente
perturbadora é o resultado, por exemplo, do não-compromisso dos indivíduos relativa mente às suas obrigações e às
expectativas que outros membros do grupo têm em relação a ele. isso levanta o problema de como motivar
adequadamente os agentes através dos mecanismos de socialização e de controle social, que são complementares.
A qualidade da articulação entre o sistema de personalidade e a estrutura do sistema social pode se expressar na
conformidade individual ou na alienação do indivíduo relativamente às expectativas sociais.

A distribuição de recompensas ou direitos modifica ou reforça a motivação dos membros de um grupo. A


recompensa é um fim buscado como objeto catético, gratificante, enquanto o meio tem significado instrumental. A
renda, o poder e o prestigio são as recompensas socialmente mais valorizadas. O poder "é um dos objetos mais
ávida e vigorosamente disputados” no interior do sistema social. Sua legitimidade é essencial, de forma a impedir a
desintegração do sistema. Sendo escasso, como qualquer recompensa, possuir o poder implica numa redução sobre
o poder de outros. Assim,

numa sociedade, a atribuição de poder ê a do acesso aos melas de alcançar meias, quaisquer que sejam, ou o
controle delas. A obtenção de metas pode depender da colaboração entre os membros e esta advir da imposição ou
do controle por parte de outros. Da mesma maneira, a atribuição de prestigio é a atribuição de uma das
gratificações mais generalizadas e, ao mesmo tempo, é uma qualificação muito generalizada para ter acesso
aos meios e a outras recompensas.

Dois são, então, os problemas funcionais: (1) quais papéis precisam ser institucionalizados a fim de garantir
a estabilidade do sistema social e o atendimento das suas funções vitais, e (2) quem deverá ocupá-los. Desde
que os sistemas contam com certos recursos e têm que cumprir determinadas tarefas, o que se tr.ua de definir é: o
que fazer e como, quem deve obter o quê e fazer o quê. Se um objetivo indispensável a uma coletividade é a
obtenção e conservação da água, se estabelece quantos e quais seriam os membros encarregados da coleta,
distribuição, vigilância ou as tarefas que forem necessárias para atingir tal meta. Por outro lado, o prestígio e as
recompensas de cada uma dessas pessoas variam de acordo com critérios que podem ser: relevância da função
exercida, talentos e habilidades específicos etc. A distribuição de funções e recompensas deve ser resolvida por
meio da institucionalização e atribuição de papéis, o que resulta num sistema social estratificado. Considerando que
as metas, tarefas e recursos, assim como quem executa o papel e o seu conteúdo mudam com o tempo, Parsons
reconhece que “a primeira função atributiva de um sistema social consiste em criar e distribuir capacidades e
recursos humanos entre tarefas" e, também, atribuir papéis a seus membros. Isto ocorre sem cessar, principalmente
se levarmos em conta o desenvolvimento tecnológico, a divisão do trabalho, a necessidade de substituição de
membros e de preenchimento de novas funções. Um dos meios que o sistema possui para levar a primeira função
atributiva a cabo é regular, de modo legítimo, o acesso aos papéis, seja devido às qualificações, aos elementos
adscritos dos que aspiram a eles, ou a uma combinação de ambos. Por exemplo, o desempenho de um papel pode
exigir que o ocupante seja homem, membro de um grupo ou estamento específico, possua um diploma, ou certas
características físicas, intelectuais etc.

Os papéis são “atribuídos" aos agentes, e os modos de levar isso a cabo são (1) por meio da decisão explícita
de outras pessoas (designação ou indicação), e (2) via um processo seletivo e competitivo. Devido ao que chama de
“problema hobbesiano da ordem", Parsons conclui que “a atribuição competitiva não pode operar sem a
institucionalização de uma série de normas que definam os limites da ação legitimada particularmente — neste caso
— em relação com a legitimidade dos meios para obter o fim". A distribuição da água numa comunidade simples
podia ser feita por um homem designado para cuidar das fontes. Numa sociedade complexa ela pode depender de
um grupo de engenheiros, administradores, sanitaristas, biólogos, economistas, dentre outros funcionários de uma
empresa privada ou estatal.
A estratificação social
De acordo com Parsons, mesmo quando o indivíduo age em busca de seus próprios interesses, sua conduta guia-se
pela definição institucionalizada da situação em que se insere e frente à qual é forçado a conformar-se.
Portanto, existem limites à sua ação e a seus interesses particulares, embora nem sempre eficazes. O indivíduo é
mobilizado pelo sistema social para atingir metas com sucesso ou para não selecioná-las. Isto ocorre por meio de
sanções (positivas ou negativas) que — através do sistema cultural e, em última instância, dos membros do sistema
social — são exercidas sobre sua conduta. Assim, a definição do que é “ter êxito” e de como chegar a ele depende
da aprovação social, e o alcance das metas individuais sujeita-se à participação dos demais membros da
coletividade, seja na forma de incentivo ou não à ação ou do reconhecimento ou não da legitimidade do fim
pretendido. Por exemplo, profissões como a de ator podem suscitar fortes resistências por parte de certos grupos
sociais. Argumentos de ordem moral ou financeira atuam no sentido de dissuadir candidatos potenciais. Obstáculos
maiores ou menores (sanções) são colocados para que um agente atinja objetivos que se desviam dos socialmente
institucionalizados.

Segundo Parsons, quando existe uma reciprocidade entre as pautas morais e os interesses dos agentes, a
situação é institucionalmente integrada. Isto significa que o agente está comprometido com os padrões de valor de
sua coletividade. Por outro lado, o reconhecimento por parte dos demais membros da referida coletividade depende
de que o agente alue de acordo com aquelas expectativas, o que “é um simples corolário da integração dos
sentimentos morais". O indivíduo adquire motivação para atingir metas, obter satisfações e respostas afetivas, assim
como o respeito por parte dos outros, o que colabora positivamente para sua auto-estima.

As coletividades não atribuem a todos os seus membros o mesmo grau de estima. A resposta da coletividade,
na forma dc sanções positivas, dá a medida em que a ação dos membros contribui para fins relevantes. Um político
e um sacerdote podem ser altamente considerados já que respondem por dimensões importantes para a coesão
social. Contudo, nem todos os membros das coletividades possuem as capacidades tidas como necessárias para
alcançar os fins coletivos, considerados mais valiosos e que, portanto, rendem aos agentes recompensas mais altas,
sejam elas bens materiais ou prestígio, na forma daquelas — “posses ou entidades transferíveis que são desejadas
pelos agentes como objetos de gratificação imediata".

Embora existam muitas bases de diferenciação entre os membros, a que trata da superioridade e inferioridade
— ordenação — é, de acordo com Parsons, fundamental aos sistemas sociais estáveis que possuem e necessitam
de um conjunto de normas que governem tais relações e que constituem seu sistema de estratificação. A
estratificação é definida como “uma ordenação diferencial dos indivíduos humanos que compõem um sistema social
dado e a ordem de superioridade ou inferioridade recíproca que guarda sobre certos aspectos socialmente
importantes". A estratificação é um foco de estruturação da conduta dos membros das coletividades já que, ao
colocar sanções baseadas num sistema comum de valores como, por exemplo, aprovação social ou hostilidade, ela
incentiva ou desestimula determinados comportamentos. O padrão normativo com base no qual são feitas as
avaliações possui autoridade moral e está integrado em termos de sentimentos morais comuns aos membros do
sistema social, fornecendo padrões para a elaboração de uma escala de estratificação e contribuindo para evitar a
desintegração. Sentimentos morais básicos são compartilhados e aprovam-se os mesmos padrões dc conduta. Ao
se avaliarem mutuamente como unidades do sistema social, os indivíduos levam em conta as posições relativas uns
dos outros — utilizando-se de um conjunto integrado de padrões e não de critérios particulares, o qual permite uma
avaliação consensual e, daí, a aplicação de sanções. Se a sociedade está institucional mente integrada, os padrões
que a governam são comuns e válidas para fundar julgamentos de superioridade e inferioridade na escala de
estratificação, e o indivíduo procura alcançar ou manter uma posição sobre cujo valor não existem dúvidas.

Os padrões morais mais importantes não são algo que aceitemos racionalmente. Foram inculcados desde a mais
tenra infância e encontram-se profundamente introjetados, como que fazem parte da estrutura básica da própria
personalidade. Sua violação não apenas implica o risco de sanções externas, mas o de conflitos internos que
amiúde alcançam magnitude destrutiva

Padrões e critérios de posicionamento variam nos distintos sistemas sociais de acordo com os valores
neles dominantes. O prestígio de um adivinho, por exemplo, varia em distintas sociedades.

A reação normal diante de um erro notável de posicionamento é, ao menos em parte, de indignação moral: ou bem
uma pessoa pensa que é posicionada injustamente ao colocar-se no mesmo nível daqueles que são em realidade
seus inferiores, ou seus verdadeiros superiores podem sentir-se insultados por serem tratados como seus iguais
nos aspectos pertinentes.
Como parte da motivação a que está sujeito, o agente deve achar moral mente desejáveis os fins de sua
coletividade, as pessoas e suas atitudes para com ele, as relações sociais, assim como seus próprios atos. Além de
apreciar moralmente aqueles fins, ele em geral deseja-os como fontes de satisfação ou objetos de afeto, embora
haja desvios em relação a esse tipo de integração plena por parte dos membros da coletividade. A frustração de
expectativas sociais pode levar à desaprovação, hostilidade e a outras sanções negativas contra o agente por parte
daqueles que se sentiram ofendidos e logrados, e que tratam de jogar por terra a reputação do indivíduo, odiá-lo e
prejudicá-lo. Por exemplo, um chefe que promove um protegido poderá sofrer, por parte dos que se
sentem injustiçados, o efeito de comentários maledicentes sobre sua moralidade.

Embora reconheça que diferentes sistemas sociais possuem distintos valores, Parsons propõe uma classificação de
aspectos socialmente significativos de avaliação, aplicáveis à estratificação: (1) a participação como membro numa
unidade de parentesco; (2) qualidades pessoais adscritas, como sexo, idade, beleza, inteligência, força;

(3) êxitos ou realizações; (4) passes (de coisas transferíveis);

(5) autoridade ou direito institucional de influir nas ações de outros, em geral ligados a cargos ou status (como

padre, médico, policial); e (6) poder, a influência não institucionalmente sancionada sobre as ações alheias.
Cada sistema de valores atribui a essas seis (ou a outras categorias) um peso determinado, e o status — a posição
institucional mente definida de qualquer indivíduo na estrutura social — é o resultado dessas avaliações. Parsons
adota a distinção entre status adquirido (resultante do esforço pessoal às vezes combinado a talentos inatos) e
status adscrito (devido ao nascimento ou qualidades herdadas) e conclui que nos sistemas sociais existem variadas
combinações entre ambos.

Considerando que os grupos de parentesco são em certa medida solidários, embora levem em conta diferenças de
idade e sexo, e que seus componentes compartilham um elemento de status, Parsons aplica a eles o conceito de
classe. Esta seria, então “o grupo de pessoas que são membros de unidades de parentesco efetivas que,
como unidades, são valorizadas de modo aproximadamente equivalente. O status de classe de um indivíduo é essa
localização no sistema de estratificação.” Embora nem sempre o status de classe explique-se pelas vínculos de
parentesco, este é um de seus aspectos básicos. Dois são, assim, os modos principais de organizar as unidades
familiares dentro de grupos mais amplos: o grupo étnico, definido pela origem comum, e a classe social, que inclui
um status de prestigio. Ambos os critérios podem coincidir onde a mobilidade social é pequena ou nula.

A articulação entre o papel ocupacional e o familiar é o que permite definir classes sociais em sentido
sociológico, afirma o autor. Assim, uma classe seria

uma pluralidade de unidades de parentesco que — naqueles aspectos em que o status, dentro de um contexto
hierárquico, é compartilhado por seus membros— têm um status aproximadamente igual Portanto, o status de classe
de um indivíduo é o que ele compartilha com os outros membros de uma unidade de parentesco efetiva. Em
consequência, teremos um sistema de classes somente na medida em que as diferenciações inerentes à nossa
estrutura ocupacional, com suas relações diferenciais com o sistema de trocas e de propriedade, remuneração
etc., tenham se ramificado para constituir um sistema de estratos que implicam diferenciações de modos de vida
familiar, baseados em parte na renda, nível e estilo de vida e, por suposto, não diferente acesso às
oportunidades que a geração mais jovem possui.

Quando a classe de nascimento é critério suficiente de posicionamento na escala de estratificação, tem-se


uma estrutura de castas, a qual se baseia exclusivamente em elementos adscritos. Fm antítese a ela, existe o tipo
de igualdade formai de oportunidades. Aplicando seu esquema

à sociedade norte-americana, Parsons aponta como padrão de estratificação ali dominante a posição
ocupacional fundada em critérios universalistas de desempenho — incompatível com critérios onde o parentesco é
determinante. Apesar disso, dá-se naquela sociedade grande importância aos vínculos de parentesco, e os valores
sociais protegem a solidariedade familiar. Ele conclui que, para assegurar tal solidariedade, evitando que marido e
mulher venham a competir entre si, uma clara separação de papéis por sexo em geral afasta as mulheres do
status ocupacional ou de profissões masculinas. Por outro lado, enfatizam se nelas as qualidades de encanto e
adorno pessoal.

Na sociedade norte-americana, a especialização ocupacional leva a colocar no mais alto nível do sistema de
estratificação o trabalho especializado, as funções que requerem instrução superior e os membros que
exercem autoridade sobre outros. Desse modo, não é a riqueza o critério fundamental de estratificação, embora a
renda seja usada como uma medida de status. Numa sociedade industrializada moderna — onde o trabalho é o
principal elemento estrutural, e a propriedade e o sistema de trocas o complementam —, o sistema ocupacional seria
o menos variável e, por isso, o mais importante para a abordagem da estratificação. O principal traço desse sistema
de papéis ocupacionais altamente desenvolvido é seu caráter individualista: “O status do indivíduo deve ser
determinado sobre uma base que lhe é essencial mente peculiar, em especial suas próprias qualidades pessoais,
sua competência técnica e suas próprias decisões acerca de sua carreira

ocupacional. O sistema de parentesco, no entanto, continua sendo um segundo contexto fundamental


da estratificação. No caso da sociedade norte-americana, ele se constitui da família conjugal.

Parsons acredita que sua concepção de classes avança em relação às anteriores por incorporar o critério
de parentesco articulado ao de estrutura ocupacional. Além disso, pensa que, mais do que promover o risco de
conflito, a estratificação tem funções integrativas. Ao ordenar as relações, ela sustenta a estabilidade. A integração
institucional do sistema permite controlar conflitos latentes por meio de mecanismos adequados de controle.

A tendência ao desenvolvimento de conflitos entre as classes deve-se a diversos fatores, entre os quais:
(l)a concorrência implícita no individualismo inerente ao sistema ocupacional; (2) a necessidade de disciplina e
autoridade em grande escala; (3) a exploração das situações vantajosas por parte dos que estão melhor situados na
escala de posições em relação aos mais frágeis; (4) as diferentes culturas elaboradas pelos que ocupam distintas
posições na escala de estratificação e as dificuldades de comunicação daí decorrentes; (5) a diferenciação entre os
tipos de famílias dos grupos ocupacionais situados em níveis mais altos ou mais baixos da escala; e (6) os limites
reais à existência da absoluta igualdade de oportunidades. Para que a sociedade consiga responder a esses fatores
de desequilíbrio, Parsons faz algumas sugestões. Normas de concorrência justas, a institucionalização da autoridade
e a proteção contra abusos poderiam ser as respostas para os dois primeiros. No caso

do terceiro e do quarto fatores, propõe que se avance relativamente à teoria proposta por Marx. Por fim, sugere a
necessidade de integrar ocupação e parentesco e o uso de padrões universalistas e funcional mente
específicos como formas de superar a tendência ao conflito.

Aludindo à camisa-de-força representada pela teoria marxista, Parsons afirma que o conflito entre classes
é endêmico na sociedade industrial moderna, mas não é seu traço dominante nem de seu tipo de desenvolvimento.
A imaturidade da sociologia não permite ainda generalizar a respeito de um tema tão complexo. Segundo o autor,
“o ideal marxista de uma sociedade sem classes é com toda probabilidade utópico, sobretudo enquanto se
mantenha um sistema familiar, mas também por outras razões". O sistema de estratificação cumpriria, portanto,
funções positivas de estabilização nos sistemas sociais.

Parsons considera que a posição de um indivíduo no sistema de estratificação de uma coletividade "é medida pelo
nível de seu prestígio ou capacidade de exercer influência". Sendo um dos meios de troca generalizados— os outros
são o dinheiro e o poder — a influência pode ser trocada por um dos demais e atua por meio da persuasão.

O elemento crucial para a estrutura do sistema social e sua estabilidade é a reciprocidade de orientação das
relações interativas a qual, por sua vez, depende da integração de interesses dos agentes com os padrões do
processo de interação; em caso contrário, representariam ameaça de conflito. Para garantir a conformidade, existe
um sistema de recompensas positivas e negativas, um processo de atribuição de papéis a pessoas determinadas e
de bens transferíveis.

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