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A ICONOGRAFIA COMO FONTE HISTORIOGRÁFICA NA

EXPERIÊNCIA DE CLASSE E TEMPO.

Danilo Ciaco Nunes


Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP

Áreas Temáticas GTT – Lazer e Sociedade

Campinas na virada do século XIX para o século XX é uma cidade que se moderniza, o
destaque do desenvolvimento tecnológico e as significativas transformações das relações de
trabalho, consequentemente o tempo de trabalho e o tempo livre apresentam novos mecanismos
e abordagens nas orientações de representação desta sociedade, as dinâmicas do cotidiano, neste
caso narrativas visuais. O objetivo deste trabalho é debater as possibilidades da interpretação de
fontes iconográficas como experiências de classe no tempo livre e no tempo de trabalho a partir
do estudo das fotografias de caçada de Austero Penteado em Campinas/SP no início do século
XX (1900 a 1920). Em sua coleção destacamos um conjunto de 30 fotografias em que retrata suas
perspectivas sobre a participação de amigos, familiares e dos trabalhadores em momentos de
caçãda. O autor mantém anotações das técnicas e dos assuntos registrados, o que compõem o
quadro de fontes de pesquisa. A investigação se procedeu por referência a análise metodológica
de Smith J.W, 1985 procurando, em princípio, respostas para as indagações: quem são as pessoas?
Qual o ambiente? Quando foi feito o registro? Qual a ação registrada? Como foi o registro?
Podemos considerar os resultados, o olhar para a seleção de imagens aponta: a) o equipamento
descrito nos documentos correlatos do acervo não permite retratos em velocidade, posar para a
foto era uma condição, denotando certa intenção nas posições; b) registro de indivíduos em
primeiro plano e um segundo grupo de panorâmicas dos ambientes onde as caçadas se davam,
apresentando a expectativa de narrativa partindo da personalidade dos caçadores as dinâmicas de
caça; c) os registros são datados pela documentação correlata entre 1901 a 1920, e implica em
uma série de condições próprias do período, a cidade possui desenvolvimento não retratado pelo
autor; d) os personagens retratados são parentes e amigos do fotografo, que se apresentam
normalmente em primeiro plano, vestidos com botas, belas roupas, chapéus, acompanhados de
cães e cavalos, municiados com espingardas, ao passo que outro grupo de imagens apresentam o
trabalhadores hora posando em plano fechado, hora em plano aberto, descalços, com roupas rotas,
e para além da caça propriamente dita, nas tarefas de captura, limpeza e processamento dessa
caça. Conclui-se, ainda que momentaneamente, estamos presentes a uma estrutura de linguagem
que, apesar de nova para época, imprimiu discurso conservador, estabelecendo experiências
distintas aos participantes das caçadas, mediadas principalmente pela condição perante a lógica
de produção da condição de vida, das relações de trabalho, de seu tempo livre.

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