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“Você pode transformar qualquer coisa negativa em positiva, quando olho para o céu durante a
noite e penso, que posso estar vivendo a noite mais escura da minha vida, se eu focar meu olhar
em um ponto no meio daquela escuridão sem fim, eu sei que verei o brilho de uma estrela.
Se houver uma estrela mesmo que pequena no céu mais escuro, então posso ter esperança de
ver a luz romper a noite mais escura da minha vida.” – R. Felipe.
Apostila de estudos sobre ecocardiograma elaborada a partir de reflexões da 13° ed. Do Tratado
de Fisiologia Médica de Guyton &Hall, curso de ECG, notas de aulas, Liga Acadêmica de Cirurgia
Cardíaca, Interpretação Rápida de ECG de Dublin, etc.
Bons estudos!
“No curso de semiologia, o estudante de medicina aprende como fazer uma entrevista e realizar
o exame de quem o procure.
O rapaz com um certo sem-jeito pediu licença para examinar o velho internado na enfermaria
da clínica médica: “Minha parte preferida é ouvir o coração, seu Joaquim, acho tão bonito”. O
homem, paciente que era, e o médico que observava a conversa deram sorrisos incontidos e
trocaram olhares de aprovação.
Torceram que ele não aprendesse que só se ouve o coração com os ouvidos, armado de
estetoscópio. Agouraram que o aprendiz continuasse achando que ouvir o coração é a parte mais
bonita e que os anos futuros não lhe desensinassem.
É, essa arte da medicina ainda produz suas belezas.” – (Ouvir o coração, o pior médico do mundo.
S. Gerson.)
ÍNDICE
O Eletrocardiograma Normal
Eletrocardiograma (ECG) é basicamente o registro dos potenciais elétricos gerados pela corrente
que é formada durante o impulso cardíaco. Estes potenciais são registrados por meio de
eletródios colocados sob a pele em lados opostos ao coração.
Repolarização: Onda T
B – A despolarização já se estabeleceu por toda a fibra e o registro retornou a linha de base zero,
isso significa que ambos os eletródios estão agora em áreas negativas.
C – A repolarização está ocorrendo, metade da fibra já se encontra repolarizada e o eletródio
esquerdo encontra-se em área positiva enquanto o direito está em área negativa. Como essa
polaridade é oposta ao demonstrado em A, observamos que o registro fica negativo.
Observemos a seguir o registro simultâneo do ECG neste mesmo ventrículo. As ondas QRS
aparecem no inicio do potencial de ação monofásico, enquanto a onda T aparece no final.
Nenhum potencial de ação é registrado no ECG quando o músculo ventricular se encontra
completamente polarizado ou despolarizado. Somente quando o músculo está parte
polarizado ou despolarizado é que ocorre ddp que permite a formação de uma corrente que
flui de uma parte dos ventrículos para outra e para superfície corpórea, permitindo assim o
registro no ECG.
Palavrinha da Cris: “Na natureza, observamos primeiro o fenômeno elétrico antes do mecânico,
isto é, você vê primeiro o raio e depois escuta o trovão”.
No músculo cardíaco também ocorre desta forma, antes que possa ocorrer a contração
muscular, é necessário que a despolarização se propague pelo músculo.
No ECG normal acima, podemos ver que a Onda P ocorre no início da contração dos átrios, e o
Complexo QRS, no início da contração dos ventrículos. Os ventrículos permanecem contraídos
até que a repolarização tenha ocorrido.
Agora observemos que os átrios se repolarizam cerca de 0,15 a 0,20 segundo, após o término
da onda P, o que coincide com o momento em que o complexo QRS está sendo registrado no
ECG. A consequência direta disto é que a onda de repolarização atrial (onda T atrial) é em geral
encoberta pelo complexo QRS que é muito maior, razão esta pela qual raramente se observa
uma onda T atrial em um ECG.
Observemos agora na figura as linhas horizontais do ECG padrão, estas são as linhas de
calibração horizontais, e representam tensão. Estão dispostas de modo que cada 10 linhas
representam 1 milivolt, sendo que as linhas acima da base representam valores positivos e as
abaixo da linha de base, valores negativos.
Já as linhas verticais são linhas de calibração de tempo. Normalmente um ECG tem velocidade
de impressão de 25 milímetros por segundo, logo:
As voltagens das ondas registradas no ECG normal dependem de como os eletródios estão
dispostos na superfície do corpo. Quando um eletródio é disposto diretamente sobre os
ventrículos e um segundo eletródio é disposto em um ponto distante do coração, a voltagem do
complexo QRS pode alcançar de 3 a 4 milivolt.
Podemos determinar a frequência dos batimentos cardíacos com facilidade através de um ECG,
frequência cardíaca = inverso do intervalo de tempo entre dois batimentos cardíacos
sucessivos. De acordo com as linhas de calibração do tempo, se o intervalo entre dois
batimentos for de 1 segundo a frequência cardíaca será de 60 batimentos/minuto. No adulto, o
intervalo de tempo normal entre dois complexos QRS é de 0,83 segundo, o que se traduz em um
frequência de cardíaca de 60/0,83 vezes por minuto, ou 72batimentos/minuto.
Observemos agora uma massa sincicial de músculo cardíaco que recebe uma estimulação em
sua região central, como já sabemos, antes da estimulação a parte externa das células estava
positiva e o interior negativo, com a despolarização as cargas negativas escapam para o exterior
da membrana, tornando esta parte eletronegativa. Por este motivo, se conectarmos o terminal
negativo de um medidor a uma área de despolarização e o terminal positivo estiver em uma
área polarizada, observaremos um valor positivo. Também conforme já vimos, as diferenças
de potencial mostradas na figura só existem durante milésimos de segundo.
O Fluxo das Correntes Elétricas no Tórax ao Redor do Coração
Atentemo-nos ao músculo cardíaco ventricular abaixo, veja que tanto os pulmões, que estão
repletos de ar, quanto os demais tecidos repletos de líquido que circundam o coração
conduzem eletricidade com extrema facilidade, por tanto, o coração está suspenso em meio
condutor. Quando uma parte se despolariza e, como vimos, torna-se eletronegativa em
relação ao restante do meio, provoca uma corrente que flui da área despolarizada para a área
polarizada por meio de grandes curvas.
O impulso cardíaco chega primeiro ao septo ventricular, e propaga-se para superfícies internas
do restante dos ventrículos, como observamos pelas áreas vermelhas e sinais negativos.
Podemos ver que em ventrículos normais, a corrente flui das áreas negativas para as positivas
durante toda a despolarização, EXCETO, no final do processo, quando a despolarização
ventricular estiver quase completa a direção média do fluxo da corrente se inverte.
Derivações Eletrocardiográficas
As três Derivações Bipolares dos Membros
Vemos agora as conexões elétricas entre os membros do paciente e o ECG, para obtenção dos
registros eletrocardiográficos das conhecidas derivações bipolares padrão (standard) dos
membros. O termo bipolar quer dizer que dois eletródios padrão estão dispostos em lados
diferentes do coração.
DERIVAÇÃO – Não é apenas um fio conectado ao corpo, mas dois fios e seus eletródios para
formar um circuito fechado entre o corpo e o eletrocardiógrafo.
Disposição convencional dos eletródios para obtenção padrão das derivações
eletrocardiográficas padrão. O TRIÂNGULO DE EINTHOVEN está disposto sobre o tórax.
Veremos na figura abaixo o registro de ECG nas três derivações padrão, observemos que as
ondas P e T são positivas assim como a principal parte do complexo QRS.
Como as derivações são semelhantes entre si, não importa muito qual derivação está sendo
registrada quando queremos diagnosticar arritmias cardíacas, o diagnóstico em si está mais
relacionado as relações temporais entre as diferentes ondas do ciclo cardíaco. Contudo, quando
queremos diagnosticar alguma lesão no músculo atrial, ventricular ou no sistema das fibras de
Purkinje, devemos conhecer qual derivação está sendo registrada, pois as anormalidades da
contração do músculo cardíaco ou condução do impulso cardíaco podem alterar muito algumas
derivações, porém podem não alterar outras.
Nas derivações V1 e V2, os registros do complexo QRS do coração normal são na maioria dos
casos negativos, porque, como vimos, o eletródio torácico nestas derivações está mais próximo
da base cardíaca do que do ápice e a base do coração permanece eletronegativa durante a maior
parte do evento de despolarização ventricular. De modo oposto, nas derivações V4, V5 E V6, os
complexos QRS são em sua maior parte positivos, porque o eletródio torácico dessas derivações
esta mais próximo do ápice do coração que permanece positivo na maior parte da
despolarização.
As Derivações Unipolares Aumentadas dos Membros
Neste sistema de registro, dois dos membros são conectados ao terminal negativo do
eletrocardiógrafo, por meio de resistências elétricas, e o terceiro membro é conectado ao
terminal positivo.
Nomenclaturas:
A figura abaixo mostra registros normais das derivações unipolares dos membros. Eles são
semelhantes aos registros das derivações padrão dos membros, com exceção do registro aVR
que é invertido.
A – Sempre que o vetor imaginário, de origem no centro do sistema hexagonal, for projetado
na metade negativa de determinada derivação, o eletrodo explorador dessa derivação o estará
observando pela origem e inscreverá uma figura negativa.
B – O eletródio foi posicionado de forma errada e gerou o registro da onda QRS positivo.
C – Alterações cardíacas.
Princípios da Análise Vetorial de ECG
Uso de vetores para representar potenciais elétricos
Sabemos que em certos momentos do ciclo cardíaco, correntes elétricas seguem em uma
direção particular.
Vetor: É uma seta que aponta na direção do potencial elétrico, gerado pelo fluxo de corrente,
com a ponta voltada para direção positiva.
Eixo para Cada Derivação Bipolar Padrão e Cada Derivação Unipolar dos
Membros
Sabemos que cada derivação é de fato um par de eletródios conectados ao corpo em lados
opostos do coração, e a direção do eletródio negativo para o eletródio positivo é chamada de
“eixo” da derivação.
Já na derivação II, os eletródios são colocados no braço direito e na perna. O braço direito se
liga ao tronco em seu limite superior direito, e a perna esquerda, no limite inferior esquerdo.
Portanto, a direção dessa derivação fica em torno de +60º.
Por análise semelhante podemos encontrar a direção dos eixos de todas as derivações,
observemos na tabela e imagem abaixo, referida como sistema de referência hexagonal:
Derivação Eixo em Graus
I 0°
II 60°
III 120°
aVR 210°
aVF 90°
aVL 30°
A figura acima nos mostra que quando o vetor cardíaco está em direção praticamente
perpendicular ao eixo da derivação, a voltagem registrada no ECG será muito baixa. Isto quer
dizer que o oposto também é válido, isto é, quando o vetor cardíaco tem quase o mesmo eixo
da derivação, praticamente toda a voltagem será registrada.
Quando o impulso cardíaco chega aos ventrículos pelo feixe atrioventricular, a primeira porção
a se despolarizar é a superfície endocárdica esquerda do septo. A partir dai a despolarização
segue rapidamente até atingir ambas as superfícies endocárdicas do ventrículo, se espalha para
ambas as superfícies endocárdicas ventriculares e finalmente se espalha pelo músculo
ventricular até a superfície externa do coração.
LEMBRE-SE: O VETOR POSITIVO EM UMA DERIVAÇÃO TEM REGISTRO ACIMA DA LINHA ZERO
NO ECG, ENQUANTO, VETOR NEGATIVO TEM REGISTRO ABAIXO.
No início da despolarização o vetor é pequeno, pois apenas uma pequena porção ventricular, o
septo, encontra-se despolarizada. Logo, toas as voltagens em ECG são baixas e registradas para
a direita do músculo ventricular em cada uma das derivações. É interessante observar que na
derivação II, a voltagem é maior do que nas derivações I e III, isto ocorre porque o vetor cardíaco
se estende na mesma direção do eixo da derivação II.
Cerca de 0,02 segundo após o início da despolarização, o vetor cardíaco é grande, visto que
muito da massa muscular ventricular já se despolarizou. Portanto, as voltagens em todas as
derivações eletrocardiográficas aumentaram.
Após 0,035 segundo depois do início da despolarização, o vetor cardíaco vai ficando menor, e as
voltagens eletrocardiográficas registradas estão menores, porque o lado externo do ápice do
coração está agora eletronegativo, neutralizando grande parte da positividade nas outras
superfícies epicárdicas do coração. Inclusive, o eixo do vetor está começando a girar para o lado
esquerdo do tórax, uma vez que o ventrículo esquerdo se despolariza um pouco mais
lentamente que o direito. Por isso, a proporção entre as voltagens da derivação I e da derivação
III está aumentando.
Cerca de 0,05 segundo depois do início da despolarização, o vetor cardíaco aponta na
direção da base do ventrículo esquerdo e é curto, porque apenas uma porção muito
pequena do músculo ventricular ainda está polarizada. Por causa da direção do vetor
nesse momento, as voltagens registradas nas derivações II e III são ambas negativas —
isto é, abaixo da linha zero —, enquanto a voltagem na derivação I ainda é positiva.
0,06 segundo depois do início da despolarização, toda a massa muscular ventricular está
despolarizada e, então, nenhuma corrente flui em torno do coração, e nenhum potencial
elétrico é gerado. O vetor passa a ser zero, e as voltagens em todas as derivações são
zeradas.
A sequência de figuras que vimos, não mostra, mas as vezes podemos observar uma
pequena depressão negativa no inicio do complexo QRS, esta depressão é justamente a
onda Q. Quando ela ocorre, deve-se a despolarização inicial do lado esquerdo do septo,
antes do lado direito, o que provoca um fraco vetor da esquerda para a direita por fração
de segundo antes que o usual vetor da base para o ápice ocorra.
A maior deflexão positiva, é a onda R.
A deflexão negativa, é a onda S.
ECG Durante a Repolarização – Onda T
Como essa direção é usualmente na direção positiva dos eixos das três derivações
bipolares padronizadas dos membros-padrão I, II e III, os ECG registrados nos átrios
durante a despolarização são também, em geral, positivos em todas essas derivações.
Esse registro da despolarização atrial é conhecido como onda P atrial.
Como os átrios não tem sistema de Purkinje para a condução rápida do sinal de
despolarização, a propagação da despolarização nos átrios ocorre de forma muito mais
lenta do que nos ventrículos. Por este motivo, a musculatura ao redor do nodo sinusal
fica despolarizada por longo tempo, antes que a musculatura nas partes distais dos
átrios o seja. Por consequência, a área nos átrios que também se repolariza primeiro é
a região do nodo sinusal, a área que originalmente tinha se despolarizado primeiro.
Dessa forma, quando a repolarização começa, a região em volta do nodo sinusal fica
positiva em relação ao restante dos átrios. Portanto, o vetor de repolarização atrial é o
oposto em relação ao vetor de despolarização.
Por fim, observamos a onda T atrial, que usualmente ocorre 0,15 segundo após a onda
P atrial. Note que a onda T ocorre no lado oposto da linha zero de referência da onda
P; isto é, usualmente ela é negativa em vez de positiva nas três derivações bipolares
padronizadas dos membros.
No ECG normal, a onda T atrial ocorre quase ao mesmo tempo que o complexo QRS
dos ventrículos. Desse modo, ela é quase sempre totalmente obscurecida pelo grande
complexo QRS ventricular, apesar de que, em alguns estados muito anormais, ela
realmente apareça no registro do ECG.
Vetorcardiograma
A medida que o impulso se espalha pelo miocárdio, o vetor do fluxo da corrente se altera
rapidamente, seja por oscilações na voltagem, ou por mudança de direção por variações
na direção média do potencial elétrico originário do coração. Veremos a seguir no
Vetorcardiograma, essas variações em diferentes momentos do ciclo cardíaco.
Vetor 2: A medida que mais músculo ventricular é despolarizado, o vetor vai crescendo
e ficando mais forte, no geral, desviando-se um pouco para um lado. (0,02 segundo após
vetor 1)
Na prática clínica, estimamos o eixo elétrico do coração por meio das derivações
eletrocardiográficas bipolares padronizadas dos membros. Veremos agora o método
para realizar esta estimativa:
Agora, cada potencial resultante deve ser marcado para as derivações I e III deverá ser
marcado nos eixos das respectivas derivações com a base do potencial no ponto de
intersecção dos eixos.
Se o potencial de uma derivação é positivo, ele obviamente deve ser marcado com
direção positiva, se for negativo, deverá ter direção negativa.
Agora determinaremos o vetor do potencial elétrico ventricular médio total do QRS,
traçamos linhas perpendiculares (tracejadas), pelas pontas das derivações.
Por análise vetorial temos que o ponto de intersecção destas duas linhas
perpendiculares, representa a ponta do vetor QRS médio ventricular.
Também por análise vetorial, temos que o ponto de intersecção dos eixos das
derivações I e III, representa a extremidade negativa deste vetor QRS médio
ventricular.
Confirmamos com este método que a orientação do eixo elétrico médio dos ventrículos
normais é, conforme dito anteriormente, de 59° positivos.
Apesar de o eixo elétrico médio dos ventrículos ser, em geral, por volta de 59º, esse eixo
pode se desviar mesmo em um coração normal de cerca de 20º até aproximadamente
100º. As causas das variações normais são, em sua maior parte, diferenças anatômicas
do sistema de distribuição de Purkinje ou da própria musculatura dos diferentes
corações. Entretanto, várias condições cardíacas anormais podem causar desvio do eixo,
além dos limites normais, como se segue.
Mudança da Posição do Coração no Tórax
Se o coração está angulado para um lado, o eixo elétrico também é desviado para este
lado. Veremos em quais situações isto ocorre:
Esquerda: O desvio do eixo elétrico para a esquerda ocorre ao final de uma expiração
profunda, quando o paciente está deitado, pois o conteúdo abdominal exerce pressão
para cima sobre o diafragma. Em pessoas obesas o diafragma exerce pressão para cima
contra o coração durante todo tempo em razão do aumento da adiposidade visceral.
Direita: O desvio do eixo elétrico para a direita ocorre ao final de uma inspiração
profunda, quando o paciente se levanta, e usualmente em pessoas altas, cujos corações
pendem.
Hipertrofia de um ventrículo
Quando um ventrículo está hipertrofiado acentuadamente, o eixo do coração é desviado
na direção do ventrículo hipertrofiado, isso ocorre porque como há grande volume de
massa muscular no ventrículo hipertrofiado, ocorre maior geração de potencial elétrico.
Além disso, o tempo de despolarização é maior no ventrículo hipertrofiado, o que faz
com que um ventrículo permaneça com uma grande área eletropositiva enquanto o
ventrículo normal é despolarizado muito antes do que o ventrículo hipertrofiado, o que
provoca um grande vetor em direção ao ventrículo hipertrofiado.
O ECG abaixo mostra um grande desvio do eixo para a direita, para o eixo de 170°, ou
seja, 111° graus para direita do eixo ventricular médio do QRS que é de 59°. O desvio foi
causado por uma hipertrofia do ventrículo direito, provocada por uma estenose valvar
pulmonar congênita. Este desvio também ocorre na tetralogia de Fallot e defeito do
septo interventricular.
Bloqueio de Ramo e Desvio de Eixo
Mesmo que fisiologicamente o ventrículo esquerdo seja um pouco mais hipertrofiado
do que o direito, o que ocorre é que ambos são despolarizados quase que
simultaneamente, isto ocorre porque os ramos (esquerdo e direito) do sistema de
Purkinje transmitem o impulso cardíaco de forma quase simultânea para os dois
ventrículos. Contudo, se um dos grandes ramos for bloqueado, o impulso se espalhará
muito mais rápido no ventrículo normal do que no outro, o que provoca um desvio no
eixo.
Trauma mecânico: Pode fazer com que as membranas fiquem tão permeáveis que não
permitem mais a repolarização.
Isquemia por oclusões coronarianas locais: O processo mais comum, quando ocorre
isquemia em áreas do músculo cardíaco, nutrientes presentes no sangue coronariano
não ficam disponíveis ao músculo cardíaco de modo a manter a polarização normal das
membranas celulares.
O vetor dessa “corrente de lesão”, como mostrado no primeiro coração, está na direção
de cerca de 125°, com a base do vetor, a extremidade negativa, voltada para o músculo
lesado. Como mostrado na parte inferior da figura, mesmo antes do início do complexo
QRS, esse vetor produz registro inicial na derivação I abaixo da linha de potencial zero,
porque o vetor projetado da corrente de lesão na derivação I aponta na direção da
extremidade negativa do eixo da derivação I. Na derivação II, o registro fica acima da
linha, porque o vetor projetado aponta, de forma predominante, para a extremidade
positiva da derivação. Na derivação III, o vetor projetado aponta na mesma direção que
a extremidade positiva da derivação III, de modo que o registro é positivo. Além disso,
como o vetor fica quase exatamente na direção do eixo da derivação III, a voltagem da
corrente de lesão na derivação III é muito maior que na derivação I ou II.
A figura que acabamos de ver mostra um ECG de um coração lesado, podemos observar
em ambos os registros o potencial de lesão, o ponto J não está na mesma linha que o
segmento T-P.
Um dos aspectos diagnósticos mais importantes dos ECG registrados após trombose
coronariana aguda é a corrente de lesão.
O principal aspecto diagnóstico desse ECG está na derivação torácica. Se for traçada uma
linha de referência de potencial zero pelo ponto J nessa derivação, fica aparente que,
durante o intervalo T-P, o potencial da corrente de lesão é positivo. Isso significa que a
extremidade positiva do vetor está na direção da parede torácica anterior, e a
extremidade negativa (extremidade lesada do vetor) aponta para fora da parede
torácica. Em outras palavras, a corrente de lesão está vindo da parte de trás do coração,
oposta à parede torácica anterior, que é a razão para que esse tipo de ECG seja a base
para diagnosticar infarto da parede posterior.
Analisando os potenciais de lesão das derivações II e III vemos que o potencial de lesão
é negativo em ambas as derivações. Por analise vetorial temos que o vetor resultante
do potencial de lesão é de cerca de -95°, com extremidade negativa apontando para
baixo e a extremidade positiva apontando para cima. Devido ao fato de o infarto, como
vemos na derivação torácica, localizar-se na parede posterior do coração, infere-se que
este infarto está perto do ápice da parede posterior do ventrículo esquerdo.
Infarto em Outras Partes do Coração
Com o uso dos mesmos procedimentos demonstrados nas discussões anteriores dos
infartos das paredes anterior e posterior, é possível determinar o local de qualquer área
infartada causadora de corrente de lesão, independentemente de qual parte do coração
está envolvida. Fazendo tais análises vetoriais, deve ser lembrado que a extremidade
positiva do vetor do potencial de lesão aponta na direção do músculo cardíaco normal,
e a extremidade negativa aponta na direção da porção lesada do coração que está
gerando a corrente de lesão.
Veremos agora um ECG que exibe a derivação torácica V3 de paciente com infarto agudo
de parede posterior, demonstrando as variações no ECG a partir do ataque, 1 semana
depois, 3 semanas depois e, finalmente, 1 ano depois.
Dia do ataque: Podemos ver que imediatamente após o ataque, o potencial de lesão é
forte, o seguimento T-P é deslocado positivamente em relação ao segmento S-T.
1 Ano Depois: ECG não se altera muito em relação a 3 semanas após o ataque.
O padrão usual de recuperação de IAM de grau moderado, mostra que um novo fluxo
sanguíneo coronariano colateral se desenvolve o suficiente para restabelecer nutrição
apropriada para maior parte da área infartada.
Em pacientes com IAM, a área infartada nunca volta a desenvolver um aporte sanguíneo
coronariano satisfatório. Normalmente, parte do músculo morre, caso o músculo não
morra, continuará a exibir um potencial de lesão enquanto a isquemia persistir,
sobretudo durante exercício, quando o coração está sobrecarregado.
Infarto Miocárdico Antigo Recuperado
A seguir temos derivações I e III depois de um ano do ataque agudo de Infarto Anterior
e as derivações I e III depois de um ano do ataque agudo de Infarto Posterior. Os
registros mostram o que poderiam ser chamadas de configurações “ideais “ do
complexo QRS nestes tipos de infarto recuperado, isto é, no infarto anterior temos que
a na derivação I, desenvolve-se a onda Q no inicio do complexo QRS, por causa da perda
de massa muscular na parede anterior do ventrículo esquerdo, ao passo que, infarto
posterior, a onda Q desenvolve-se na derivação III pela perda de músculo na parte apical
posterior do ventrículo.
“Angina pectoris” significa dor vinda do coração, é sentida nas regiões peitorais do
tórax superior. É comum que esta dor se irradie para o lado esquerdo do pescoço e para
baixo, no braço esquerdo. É tipicamente causada por isquemia moderada no coração,
normalmente não é sentida em repouso, mas durante algum exercício, quando o
coração fica sobrecarregado, a dor aparece.
Em alguns casos, podemos ver um potencial de lesão no ECG durante uma crise grave
de Angina pectoris, pois a insuficiência coronariana passa a ser intensa o bastante para
impedir a repolarização de algumas áreas durante a diástole.
ANORMALIDADES DA ONDA T
Já sabemos que a onda T é normalmente positiva em todas as derivações bipolares
padrão dos membros e que isso ocorre por repolarização do ápice e das superfícies
externas dos ventrículos antes das superfícies intraventriculares. Logo, a onda T fica
anormal quando não ocorre esta sequência normal de repolarização.
Efeito da Condução Lenta da Onda de Despolarização nas Características
da Onda T
Bradicardia em Atletas
O coração de um atleta usualmente é maior e mais forte do que o de uma pessoa
normal, permitindo que este bombeie um grande débito sistólico por batimento,
mesmo em períodos de repouso. O problema é que quando o atleta está em repouso,
esta grande quantidade de sangue bombeado pode desencadear um reflexo simpático
e um mecanismo de feedback que pode resultar em Bradicardia.
Arritmia Sinusal
Veremos abaixo o registro de um cardiotacômetro, a primeira metade a respiração esta
normal, já na segunda metade, durante respiração profunda. Podemos notar que
durante a respiração calma, a frequência cardíaca oscila por não mais do que 5%.
Depois, durante a respiração profunda, esta oscilação alcança os 30% de variação a cada
ciclo respiratório.
Arritmia sinusal pode decorrer de qualquer das muitas condições circulatórias que
alteram as forças dos sinais dos nervos simpáticos e parassimpáticos para o nodo
sinusal do coração. Como observamos no exemplo.
O cardiotacômetro é um instrumento que registra, pela altura dos potenciais em ponta
(spikes) sucessivos, a duração do intervalo entre os complexos QRS sucessivos no ECG.
É bem raro, mas em alguns casos, o impulso do nodo sinusal é bloqueado antes de entrar
no músculo atrial. Isto se traduz com uma interrupção abrupta da onda P com a
resultante parada dos átrios. Como sabemos, outras estruturas vão assumir o novo
ritmo por geração espontânea de impulso, neste caso, os ventrículos, geralmente por
meio do nodo atrioventricular (AV). A frequência do complexo QRS-T fica bem mais
lenta, mas não há, geralmente, outras alterações.
Bloqueio Atrioventricular
Normalmente o impulso cardíaco passa dos átrios para os ventrículos pelo feixe AV,
mais conhecido como feixe de His. Contudo, existem alguns casos onde esta condução
é dificultada ou mesmo bloqueada:
Isquemia do nodo AV ou das fibras do feixe AV: Retarda ou bloqueia a condução dos
átrios para os ventrículos. A insuficiência coronariana pode causar isquemia do nodo AV
e do feixe AV, e da mesma forma, como já vimos, isquemia do miocárdio.
Compressão do feixe AV: Por tecido cicatricial ou por porções calcificadas do coração,
pode retardar ou bloquear a condução dos átrios para os ventrículos.
Inflamação do nodo AV ou do feixe AV: A inflamação resulta de diferentes tipos de
miocardite, causados por ex. por difteria, febre reumática, ou infecção bacteriana.
Estimulação extrema do coração por nervo vago: Bloqueia a condução de impulsos pelo
nodo AV. Esta excitação vagal ocasionalmente resulta em forte estimulação dos
barorreceptores em pessoas com síndrome do seio carotídeo, já discutida
anteriormente. (bradicardia)
Saber o tempo do intervalor P-R nos é útil pois existem doenças como a cardiopatia
reumática aguda que só podem ser diagnosticadas mediante esta observação. Ainda
sobre o tempo do intervalo P-R, este quase nunca dura mais do que 0,35 a 0.45 segundo,
pois acima disso a condução do impulso ficaria tão lenta que cessaria completamente.
Derivação II
Quando a condução do feixe AV fica muito lenta e aumenta o intervalo P-R para valores
entre 0,25 a 0,45 segundo, alguns potenciais de ação são fortes o suficiente para passar
para os ventrículos, mas outros não o são, quando isto ocorre teremos um onda P atrial,
mas não teremos complexo QRS-T o que caracteriza um bloqueio cardíaco de segundo
grau.
Existem dois tipos de bloqueio AV de segundo grau:
Bloqueio AV de segundo grau tipo II: Existe um número fixo de ondas P não conduzidas
por cada complexo QRS. Por exemplo, um bloqueio 2:1 implica que existem duas ondas
P por cada complexo QRS. Em outras ocasiões podem desenvolver ritmos de 3:2 ou 3:1.
O bloqueio do tipo II costuma ser provocado por uma anomalia do feixe do sistema de
His-Purkinje e pode requerer a implantação de marca-passo para evitar a progressão a
um bloqueio completo e uma parada cardíaca.
Derivação V3
Lembra que o bloqueio pode durar poucos segundos ou MUITO TEMPO né? Pois bem,
se o bloqueio for muito longo pode causar MORTE, por isso a maioria dos pacientes
com bloqueio completo recebe um marca-passo.
CONTRAÇÕES PREMATURAS
Uma contração prematura, é uma contração que ocorre antes do momento esperado.
Patologia chamada de Extrassistolia, Batimento Prematuro ou Batimento Ectópico.
Vemos abaixo uma contração prematura que se originou no nodo AV ou no feixe AV. A
onda P está faltando no registro eletrocardiográfico da contração prematura. Em vez
disso, a onda P aparece sobreposta ao complexo QRS-T, porque o impulso cardíaco
seguiu percurso retrógrado para os átrios ao mesmo tempo em que se dirigiu para os
ventrículos; essa onda P altera pouco o complexo QRS-T, mas a própria onda P não pode
ser distinguida como tal. Em geral, as contrações prematuras do nodo AV têm o mesmo
significado e causas que as contrações prematuras atriais.
Derivação III
TAQUICARDIA PAROXÍSTICA
U