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Faculdade de Medicina da

Universidade do Porto
Serviço de Fisiologia

Aula Teórico-Prática

REGULAÇÃO NEUROENDÓCRINA DA
MOTILIDADE E SECREÇÕES
GASTROINTESTINAIS

Texto de Apoio

Paulo Castro Chaves


Prof. Doutor Adelino Leite Moreira

Porto, Ano Lectivo 2001 / 02


2

Índice

Índice ................................................................................................................................ 1
Regulação da Função Gastrointestinal.............................................................................. 3
Hormonas Gastrointestinais .............................................................................................. 7
Distribuição e libertação das hormonas GI................................................................... 9
Acções e interacções das hormonas GI....................................................................... 11
Hormonas candidatas .................................................................................................. 14
Peptídeos Neurócrinos .................................................................................................... 15
Peptídeos Parácrinos ....................................................................................................... 16
Aplicação clínica............................................................................................................. 17
Regulação da secreção gástrica....................................................................................... 18
Estimulação da secreção gástrica................................................................................ 19
Estimulação nervosa ............................................................................................... 19
Estimulação pela Gastrina....................................................................................... 19
Estimulação pela Histamina.................................................................................... 20
Efeito multiplicativo dos mediadores que estimulam a secreção ácida.................. 20
Regulação da secreção de pepsinogénio ................................................................. 20
Inibição da secreção ácida .......................................................................................... 21
Fases da secreção gástrica........................................................................................... 21
Conclusão........................................................................................................................ 22
3

Regulação da Função Gastrointestinal

Para o tracto gastrointestinal (GI) exercer as suas diversas funções de


motilidade, secreção e absorção necessita de mecanismos de regulação. Embora os
sistemas de regulação neuro-humoral permitam integrar essas actividades do sistema
GI, a maioria das células musculares e secretoras têm uma actividade intrínseca que lhes
confere algum grau de autonomia. Assim, a função resulta da interacção entre os
sistemas reguladores e as propriedades locais intrínsecas.
Apesar de ser mais conveniente discutir o papel do sistema nervoso autónomo e
dos sistemas endócrinos/parácrinos separadamente, nunca é de mais lembrar que na
realidade estes funcionam em conjunto.
Os peptídeos do sistema GI podem ser endócrinos, parácrinos ou neurócrinos.
Os peptídeos endócrinos, ou hormonas, são libertados para a circulação geral e
atingem todos os órgãos (excepto aqueles em que existe uma barreira, como o cérebro).
Ligam-se a receptores específicos localizados nos tecidos alvo. Existem cinco hormonas
GI com função perfeitamente estabelecida: secretina, gastrina, colecistocinina, peptídeo
gástrico inibitório (GIP) e motilina. Existe ainda um vasto grupo de peptídeos,
denominados por hormonas candidatas, em que não se conhece a sua função fisiológica
ou o seu mecanismo de libertação.
Os peptídeos parácrinos são libertados pelas células endócrinas e atingem por
difusão, através do espaço extracelular, os tecidos alvo vizinhos. Apesar do mecanismo
de difusão não permitir a sua acção em tecidos mais distantes, podem actuar sobre
largas áreas do tracto GI, porque as células que os produzem e libertam têm uma vasta
distribuição. Um agente parácrino pode também actuar sobre as células endócrinas,
regulando a libertação dos peptídeos endócrinos. É o que acontece com a histamina, um
importante agente regulador que actua de forma parácrina.
Alguns peptídeos GI estão localizados em neurónios e actuam como neurócrinos
ou neurotransmissores. Um neurotransmissor é libertado perto da célula alvo e apenas
tem que difundir através da fenda sináptica. Os peptídeos neurócrinos podem estimular
ou inibir a libertação de peptídeos endócrinos ou parácrinos.
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A parede do tracto GI contém grande número de neurónios formando redes


altamente complexas. É enervada pelo sistema nervoso autónomo, que pode ser dividido
em sistema nervoso extrínseco e sistema nervoso intrínseco ou entérico.
A enervação extrínseca tem origem em neurónios fora do tracto GI, sendo
formada por ramos parassimpáticos e simpáticos.
As fibras parassimpáticas, até ao nível do cólon transverso, têm origem no
núcleo dorsal do vago. A partir daí têm origem em neurónios cujos corpos celulares
estão localizados na região sagrada da espinal medula. São fibras pré-ganglionares
longas que terminam em neurónios colinérgicos dos plexos submucoso e mientérico do
sistema nervoso entérico. Além disso, estes ramos contêm fibras aferentes cujos
receptores estão localizados em vários tecidos do intestino. As fibras aferentes terminam
no cérebro e na espinal medula. A estimulação parassimpática aumenta a actividade
motora e secretora.
As fibras simpáticas pré-ganglionares têm origem na espinal medula e
terminam nos gânglios pré-vertebrais e para-vertebrais (celíacos, mesentéricos e
hipogástricos). Aí têm origem as fibras simpáticas pós-ganglionares. A maioria destas
fibras termina nos plexos submucoso e mientérico do sistema nervoso entérico.
Algumas fibras simpáticas terminam directamente nas células musculares e secretoras.
Também aqui, existem fibras aferentes que se projectam nos gânglios pré-vertebrais
e/ou na espinal medula. A activação simpática tem um efeito inibidor na transmissão
sináptica do sistema nervoso entérico. A estimulação simpática inibe a actividade
motora da muscular externa, mas estimula a contracção de muscularis mucosae e de
alguns esfíncteres. Algumas fibras simpáticas enervam os vasos sanguíneos,
provocando vasoconstrição. Outras enervam ainda estruturas glandulares da parede GI.
As fibras aferentes (intrínsecas e extrínsecas) fazem parte de arcos reflexos
locais, regionais e centrais. A nível da mucosa e muscular externa existem
quimioreceptores e mecanoreceptores. Os corpos celulares de alguns destes receptores
estão localizados nos plexos entéricos, mediando sobretudo reflexos locais. Outros
corpos celulares têm uma localização mais central, a nível dos gânglios das raízes
dorsais espinais ou do gânglio nodoso do vago, mediando reflexos regionais ou centrais.
Esta actividade reflexa permite um controlo fino das actividades motoras e secretoras.
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Figura 1: Vias reflexas no sistema gastrointestinal

A enervação intrínseca é formada pelo sistema nervoso entérico. Os corpos


celulares dos neurónios entéricos estão localizados em plexos ganglionares localizados
na parede intestinal. Destes neurónios partem numerosas ramificações que formam um
vasto conjunto de plexos não ganglionares. Os gânglios estão localizados a dois níveis
da parede intestinal:
1. na muscular externa, entre a camada circular e longitudinal (plexo
mientérico);
2. na submucosa (plexo submucoso).
Os plexos não ganglionares estão localizados a vários níveis, nomeadamente na
lamina própria (plexo mucoso), no interface entre a submucosa e a muscular externa ou
na serosa.
Os plexos são formados por vários tipos de células:
- neurónios motores que enervam o músculo liso;
- neurónios secretores que regulam a secreção exócrina e endócrina da
mucosa;
- neurónios sensitivos que respondem ao estiramento, tonicidade, glicose ou
aminoácidos;
- interneurónios.
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Os plexos mientérico e submucoso recebem fibras simpáticas e parassimpáticas.


Os interneurónios destes plexos estabelecem a ligação entre as fibras aferentes
sensitivas e os neurónios eferentes para o músculo liso e células secretoras. Podem,
assim, controlar muitas actividades, mesmo quando a enervação extrínseca está ausente.
Os sistemas simpático e parassimpático modulam actividades que são controladas pelo
sistema nervoso entérico.
De uma forma geral, pode-se dizer que o plexo mientérico está mais relacionado
com o controlo da actividade peristáltica, e o plexo submucoso com a actividade
secretora endócrina e exócrina.

Existe uma grande variedade de substâncias que funcionam como


neurotransmissores a nível do sistema nervoso autónomo. Algumas destas foram
relacionadas com vias específicas, enquanto outras têm um papel fisiológico menos
definido.
A maioria das fibras eferentes pré-ganglionares extrínsecas contém acetilcolina.
Este neurotransmissor exerce a sua acção em neurónios localizados nos gânglios pré-
vertebrais ou no sistema nervoso entérico.
A noradrenalina encontra-se em muitos dos terminais das fibras eferentes pós-
ganglionares do sistema nervoso simpático. Também exerce acções directamente sobre
neurónios do sistema nervoso entérico.
Foram já identificados diversos neurotransmissores nos interneurónios do
sistema nervoso entérico (quadro 1), como acetilcolina, serotonina, peptídeo intestinal
vasoactivo (VIP), NO e somatostatina. A acetilcolina e as taquicininas (como a
substância P) foram identificadas em neurónios que exercem uma acção excitatória
sobre as células musculares; o VIP e o NO em neurónios inibitórios para o músculo.

Os vasos sanguíneos intestinais também podem ter uma enervação dupla:


extrínseca noradrenérgica e intrínseca, por fibras do sistema nervoso entérico. Os
mediadores entéricos são, entre outros, o VIP e a serotonina, sendo responsáveis pela
hiperemia que acompanha a digestão dos alimentos.
Os neurónios entéricos libertam uma grande variedade de mediadores com acção
sináptica, parácrina ou endócrina.
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Polipeptídeo Principal efeito


Neurónios motores
VIP Relaxamento da frente da onda peristáltica e relaxamento dos
esfíncteres
Substância P Contracção do músculo liso
CCK Inibição do esvaziamento gástrico
Somatostatina Inibição da motilidade intestinal
Neurotensina Relaxamento do músculo liso circular
Encefalinas Relaxamento do músculo liso e contracção
pilórica
Galanina Contracção do músculo liso intestinal
Neurónios
secretores
GRP Libertação de gastrina
CGRP Libertação de somatostatina
Somatostatina Inibição da secreção gástrica e intestinal
VIP Estimulação da secreção intestinal
Substância P Inibição da secreção ácida e estimulação da secreção de pepsina

Quadro 1: Polipeptídeos segregados pelos neurónios do sistema nervoso entérico.

Hormonas Gastrointestinais

O tracto GI é o maior órgão endócrino do organismo. A própria Endocrinologia


surgiu com a descoberta de uma hormona gastrointestinal, a secretina. Apesar da
actividade da secretina ter sido identificada em 1902, a sua estrutura molecular apenas
foi identificada nos anos sessenta. Isto porque as múltiplas formas dos peptídeos
presentes no tracto GI e na circulação impediu a definição do número e natureza destas
moléculas.
De acordo com o conceito tradicional, uma hormona GI é uma substância
produzida por um tipo de célula endócrina dispersa por uma região relativamente bem
definida do tracto GI proximal. Daqui é libertada para o sangue por um estímulo
específico (actividade nervosa, distensão, estimulação química), atingindo o órgão alvo,
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onde regula a motilidade ou a secreção ou até a proliferação das suas células. A


secretina, gastrina e CCK são as hormonas GI clássicas.
A nova biologia das hormonas GI continua a afirmar que estas hormonas são
peptídeos libertados para o sangue por um estímulo apropriado. Contudo, surgiram
novas características reveladas pelas modernas técnicas de biologia molecular:
1. existem múltiplas hormonas agrupadas em diversas famílias;
2. cada gene tem diversos fenótipos;
3. diversos órgãos, para além do tracto GI, exprimem os genes destas
hormonas, nomeadamente células neuroendócrinas (da adeno-hipófise,
glândula tiróide ou supra-renal), células do sistema nervoso central (córtex
cerebral, cerebelo, hipotálamo) ou dos tractos respiratório e urogenital, entre
outros;
4. as células processam as pró-hormonas de forma específica, reflectindo a
possibilidade de utilizar um gene para a síntese de diversos peptídeos
bioactivos.

Como já foi referido, existem cinco hormonas GI que têm uma função
perfeitamente estabelecida: secretina, colecistocinina (CCK), gastrina, peptídeo gástrico
inibitório (GIP) e motilina. Os outros peptídeos são hormonas candidatas.
As hormonas GI podem dividir-se, sob o ponto de vista funcional e estrutural,
em duas famílias principais.
A primeira é formada pela gastrina e pela CCK.
Os cinco aminoácidos terminais da extremidade carboxil das moléculas de
gastrina e CCK são idênticos. Toda a actividade biológica da gastrina pode ser
reproduzida apenas com os quatro aminoácidos terminais da extremidade carboxil. Este
tetrapeptídeo é, portanto, o fragmento mínimo necessário para a actividade da gastrina.
O fragmento activo mínimo da molécula de CCK é formado pelo heptapeptídeo na
extremidade carboxil.
A CCK pode activar os receptores da gastrina relacionados com a secreção
ácida, também chamados receptores CCK-B; a gastrina pode activar os receptores da
CCK responsáveis pela contracção da vesícula biliar, também denominados receptores
CCK-A. Cada hormona, contudo, é muito mais potente quando actua nos seus próprios
receptores. A acção sobre um tipo particular de receptores depende em grande medida
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da estrutura da molécula. Se mais semelhante à da gastrina actua nos receptores CCK-B;


se mais relacionada com a da CCK actua nos receptores CCK-A.
A maioria das hormonas peptídicas tem uma marcada heterogeneidade. Por
macro-heterogeneidade entende-se a ocorrência de cadeias peptídicas de vários
comprimentos nos diversos tecidos que resultam do diferente processamento pós
translacional. Por exemplo, a gastrina que foi isolada pela primeira vez tinha 17
aminoácidos (G17). Mais tarde demonstrou-se que o principal componente responsável
pela imuno-reactividade sérica da gastrina era formado por 34 aminoácidos (G34).
Ambas resultam do processamento de uma molécula de pro G17 e pro G34,
respectivamente. Durante o período interdigestivo (basal), a maioria da gastrina sérica é
G34, libertada a partir da mucosa duodenal. Após uma refeição é libertada uma grande
quantidade de G17, que constitui um estímulo importante para a estimulação da
secreção ácida gástrica. A micro-heterogeneidade refere-se a diferenças na estrutura de
um aminoácido, provocadas por sulfatação de resíduos de tirosina da molécula de
gastrina, por exemplo.
Tal como a gastrina, a CCK tem também grande heterogeneidade. A CCK
segregada no duodeno e jejuno é sobretudo do tipo CCK-8 e CCK-12. Os nervos
entéricos e pancreáticos contêm CCK-4, enquanto os neurónios cerebrais contêm CCK-
58 e CCK-8.
A segunda família é formada pela secretina, VIP, GIP e glicagina.

Distribuição e libertação das hormonas GI

As Hormonas Gastrointestinais estão localizadas em células endócrinas


espalhadas pela mucosa GI desde o estômago até ao cólon. Estas células não estão
agrupadas, mas dispersas ao longo da mucosa. Pela natureza da sua distribuição, é
praticamente impossível remover cirurgicamente a fonte de uma hormona em particular
e examinar os seus efeitos de forma isolada, o que dificulta o seu estudo.
As células endócrinas intestinais são membros do chamado sistema APUD
(amine precursor uptake decarboxilation). São derivadas de células neuroendócrinas
com origem no ectoblasto embrionário.
Ultraestruturalmente, as células endócrinas GI têm grânulos concentrados na,
base junto dos capilares. Os grânulos fundem-se com a membrana celular e libertam as
hormonas em resposta a determinados estímulos nervosos, físicos ou químicos
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relacionados com as refeições ou com a presença de alimentos no lúmen GI. Estas


células possuem microvilosidades na membrana apical que podem conter receptores aos
quais de ligam substâncias do conteúdo luminal.
A gastrina é produzida pelas células G das glândulas da região do antro gástrico.
Também é produzida pelas células das ilhotas pancreáticas durante a vida fetal. Não se
sabe se o pâncreas do indivíduo adulto sintetiza gastrina, embora ocorram no pâncreas
tumores secretores de gastrina, os gastrinomas.
Relativamente à CCK, para além de ser segregada por células endócrinas do
intestino proximal, as células I, pode também ser encontrada em neurónios do íleo
terminal e cólon. É sintetizada ainda por neurónios do sistema nervoso central,
especialmente do córtex cerebral, onde parece estar envolvida nos mecanismos
reguladores da ansiedade e do apetite.
A secretina é sintetizada pelas células S localizadas nas glândulas da porção
proximal do intestino delgado.
O gastric inhibitory peptide (GIP) é produzido pelas células K da mucosa
duodenal e jejunal.

A tabela 2 mostra os estímulos que são fisiologicamente mais importantes para a


libertação das hormonas GI.
Gastrina CCK Secretina GIP Motilina
Proteínas S S O S O
Lípidos O S S- S S-
Glícidos O O O S O
Ácido I S- S O S-
Distensão S O O O O
Estímulo nervoso S O O O S
Quadro 2: S: estímulo fisiológico para a libertação; S-: de importância secundária; O: sem efeito; I: inibe a libertação
fisiologicamente

A libertação de gastrina é regulada pelo conteúdo gástrico, pela actividade vagal


e por factores da circulação sanguínea.
Assim, a secreção de gastrina aumenta com a presença de peptídeos ou
aminoácidos (especialmente, fenilalanina e triptofano), que actuam directamente nas
células G. A atropina não inibe a resposta da gastrina a uma refeição, porque o
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neurotransmissor das fibras pós-ganglionares parassimpáticas é o gastrin-releasing


peptide (GRP) e não a acetilcolina. A secreção de gastrina pode ainda ser estimulada
pela distensão gástrica e pelo cálcio sérico. A distensão pura do antro gástrico, por
exemplo pela insuflação de um balão, activa receptores antrais que estimulam a
libertação de gastrina. Durante uma refeição, este estímulo pode ser desencadeado pela
presença de alimentos no lúmen.
As proteínas, na forma de peptídeos ou aminoácidos isolados, libertam a gastrina
e a CCK. Os ácidos gordos com mais de 8 carbonos ou os seus monoglicerídeos são o
estímulo mais potente para a libertação de CCK. Os glícidos não influenciam a
libertação de gastrina, secretina ou CCK, mas estimulam a libertação de GIP. O GIP
também é libertado pelos lípidos e proteínas.
A secretina é libertada quando o pH duodenal é inferior a 4,5. Também é
libertada pela presença de ácidos gordos no lúmen intestinal. A libertação de secretina
provocada pela acidez é um exemplo dos mecanismos de feedback: estimula a síntese de
suco pancreático alcalino que neutraliza o ácido gástrico. Esta neutralização inibe a
própria síntese de secretina.
A motilina é libertada ciclicamente (aproximadamente de 90 em 90 minutos)
durante o jejum. A sua libertação é inibida pela atropina e pela ingestão de uma
refeição.
Para além de estimular a libertação de secretina, o ácido exerce um importante
efeito de feedback negativo sobre a libertação de gastrina. De facto, a acidificação da
mucosa antral abaixo de pH 3,5 inibe a libertação de gastrina. Por outro lado, doentes
com gastrite atrófica ou anemia perniciosa, patologias caracterizadas pela hiposecreção
de ácido, podem ter níveis séricos extremamente altos de gastrina.
Existem algumas circunstâncias em que as próprias hormonas podem influenciar
a libertação de peptídeos GI. Em circunstâncias fisiológicas normais, esses mecanismos
têm pouca importância, excepto a libertação de insulina induzida pelo GIP.

Acções e interacções das hormonas GI

As hormonas GI têm uma grande variedade de acções, muitas das quais de


reduzida importância fisiológica.
Os efeitos fisiológicos mais importantes das hormonas GI estão representados no
quadro 3.
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Acção Gastrina CCK Secretina GIP Motilina


Secreção de ácido S I I
Secreção pancreática de HCO-3 S S

Secreção pancreática de S
enzimas
Secreção biliar de HCO-3 S
Contracção da vesícula biliar S
Esvaziamento gástrico I
Libertação de Insulina S
Crescimento da mucosa S
Crescimento pancreático S S
Motilidade gástrica S
Motilidade intestinal S
Quadro 3: S: estimulação; I: inibição

A acção principal da gastrina é estimular a secreção de ácido pela mucosa


gástrica. A gastrina liberta histamina das células ECL, a qual aumenta a secreção
gástrica ao ligar-se ao receptor H2 das células parietais. Apesar das células parietais
exprimirem o receptor da gastrina, estudos na mucosa intacta in vivo mostraram que a
influência da gastrina na secreção ácida se deve sobretudo à libertação de histamina.
Existe um grande debate sobre o papel da gastrina na regulação do tónus do
esfíncter esofágico inferior, mas tudo indica que a níveis fisiológicos seja nulo. Pode
também estimular a motilidade gástrica e estimular a secreção de insulina, embora este
último efeito surja apenas com refeições proteicas.
Uma das funções mais importantes da gastrina é a sua actividade trófica. De
facto, a gastrina estimula a síntese de RNA, proteínas e DNA, tal como a proliferação
das células da mucosa do intestino delgado, cólon e das glândulas oxínticas do
estômago. Se se proceder a uma antrectomia, estes tecidos atrofiam. A administração
exógena de gastrina impede essa atrofia. Os doentes com tumores que segregam
continuamente gastrina, apresentam uma hiperplasia e hipertrofia da região secretora de
ácido do estômago. A gastrina também estimula o crescimento das células
enterochromafin-like (células ECL) do estômago, existindo a possibilidade do
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aparecimento de tumores carcinóides com origem nestas células quando há uma


hipersecreção de gastrina. Os efeitos tróficos da gastrina limitam-se aos tecidos GI e são
antagonizados pela secretina.
O principal efeito da secretina é a estimulação da secreção pancreática de fluído
e bicarbonato; um dos principais efeitos da CCK é a estimulação da secreção
pancreática de enzimas. Para além disso, a CCK tem um importante efeito de
potenciação da acção da secretina. Ambas as hormonas estimulam a proliferação celular
no pâncreas exócrino.
Para além dos efeitos exercidos no pâncreas, a secretina estimula a secreção
biliar de fluido e bicarbonato. Esta acção é também partilhada pela CCK, embora o
efeito da secretina seja mais potente.
Nos cães, a secretina é um potente inibidor da secreção de ácido estimulada pela
gastrina. No humano, esta função tem menor significado fisiológico, embora se torne
evidente nalgumas circunstâncias patológicas. A secretina é uma espécie de antiácido
natural, já que praticamente todas as suas acções reduzem a acidez duodenal.
Para além dos seus efeitos sobre a secreção biliar e pancreática, a CCK regula a
contracção da vesícula biliar e o esvaziamento gástrico. É a hormona GI com uma acção
mais potente sobre a contracção da vesícula biliar. Tem também um efeito inibidor do
esvaziamento gástrico. Juntamente com a secretina, aumenta a contracção do esfíncter
pilórico, impedindo o refluxo gastro-duodenal.
A secreção de GIP é estimulada pela presença de glicose e lipídeos no duodeno.
Em altas doses, inibe a motilidade e secreção gástrica, daí o seu nome. Mas,
estudos recentes mostraram que essa actividade inibitória não é significativa nas
concentrações fisiológicas. Ao mesmo tempo, descobriu-se que o GIP estimula a
secreção de insulina.
A glicose administrada por via oral tem um efeito libertador de insulina maior do
que a administração intravenosa. Esta observação levantou a hipótese da existência de
um factor intestinal libertador de insulina segregado pela mucosa GI. A glicagina e seus
derivados, a gastrina, secretina, CCK e GIP têm essa acção. Contudo, o GIP e o
glucagon-like polypeptide 1 (GLP-1) parecem ser os únicos factores que estimulam a
secreção de insulina em concentrações fisiológicas.
A motilina é responsável pelo complexo mioeléctrico migratório que tem início
no estômago no indivíduo em jejum, de 90 em 90 minutos, e que se propaga até ao
14

intestino delgado. A sua libertação cíclica para o sangue é inibida pela ingestão de uma
refeição. Esta é a única função conhecida da motilina.

Hormonas candidatas

Como já foi referido, existem peptídeos isolados no tracto GI que podem mais
tarde vir a ser classificados como hormonas GI. Existe uma grande variedade de
hormonas candidatas, mas apenas três têm, actualmente, interesse fisiológico:
enteroglicagina, polipeptídeo pancreático e peptídeo YY (quadro 4).

Peptídeo Libertado por Acções


Polipeptídeo pancreático Proteínas ↓ secreção pancreática de bicarbonato e
Lipídeos enzimas
Glicose
Peptídeo YY Lipídeos ↓ secreção gástrica
↓ esvaziamento gástrico
Enteroglicagina Hexose ↓ secreção gástrica
Lipídeos ↓ esvaziamento gástrico
↑ libertação de insulina
Quadro 4: Hormonas candidatas

O polipeptídeo pancreático (PP) foi descrito pela primeira vez como uma
impureza no processo de isolamento da insulina. Do ponto de vista fisiológico, a sua
acção mais importante é a inibição da secreção pancreática de bicarbonato e enzimas. O
que tem impedido a sua classificação definitiva como hormona GI é a dificuldade em
isolar este peptídeo do tecido pancreático, não permitindo, por isso, o esclarecimento
definitivo das suas acções.
O peptídeo YY (PYY) é libertado pelas refeições, especialmente pelos lipídeos.
Existe no sangue em concentrações suficientes para inibir a secreção e o esvaziamento
gástrico. Os seus efeitos não parecem ser directos, já que não inibe a secreção
estimulada pela acetilcolina ou pela histamina. Inibe, contudo, a secreção estimulada
por via nervosa.
15

O gene da proglicagina, a precursora da glicagina, está expresso não só nas


ilhotas pancreáticas, mas também nas células endócrinas da mucosa GI (células L). No
pâncreas, o principal produto do processamento da proglicagina é a glicagina. Os
peptídeos derivados da proglicagina no intestino são: glicentina, oxintomodulina,
polipeptídeo relacionado com a glicentina (GRPP), peptídeo glicagina like tipo I (GLP-
1) e II (GLP-2). Todos são segregados para o sangue em resposta à ingestão de glicídos
e lípidos. Apenas a oxintomodulina e o GLP-1 têm actividade biológica provada. A
GLP-1 é o peptídeo insulinotrópico mais potente que é conhecido. Também inibe a
secreção de glicagina, o que também contribui para baixar a concentração de glicose no
sangue. Este efeito está preservado em doentes com diabetes tipo 2 não insulino-
dependentes. Devido a este efeito, o GLP-1 está a ser estudado no sentido da sua
utilização como arma terapêutica nestes doentes. O GLP-1 também inibe a secreção e a
motilidade GI.

Peptídeos Neurócrinos

Inicialmente, julgou-se que todos os peptídeos tinham origem em células


endócrinas e, portanto, que seriam hormonas ou hormonas candidatas, consoante os
seus mecanismos estivessem perfeitamente esclarecidos ou não. Com o aparecimento de
técnicas imuno-citoquímicas sofisticadas para a localização dos peptídeos, chegou-se à
conclusão que muitos destes estavam antes localizados nos nervos intestinais.
Existem três peptídeos neurócrinos com funções fisiológicas estabelecidas:
peptídeo intestinal vasoactivo (VIP), peptídeo libertador de gastrina ou bombesina
(GRP) e as encefalinas (quadro 5).
Peptídeo Localização Acções
VIP Mucosa e músculo intestinal Relaxamento do músculo liso
intestinal
GRP ou bombesina Mucosa gástrica ↑ libertação de gastrina
Encefalinas Mucosa e músculo intestinal ↑ tónus muscular liso
Quadro 5: Peptídeos neurócrinos

O VIP provoca o relaxamento das células musculares lisas GI. Para além disso, o
VIP é responsável pelo relaxamento das células musculares lisas vasculares sendo,
portanto, um agente vasodilatador. Está também presente em neurónios colinérgicos do
16

sistema nervoso autónomo, potenciando a acção da acetilcolina nas glândulas salivares.


Contudo, o VIP e a acetilcolina não coexistem em outros neurónios do tracto GI.
Para além destes efeitos, o VIP tem acções comuns com moléculas de estrutura
semelhante, como a secretina ou o GIP. Logo, estimula a secreção pancreática, inibe a
secreção gástrica e estimula a secreção intestinal.
A bombesina foi isolada pela primeira vez a partir da pele de anfíbios. O seu
correspondente no organismo humano é peptídeo libertador de gastrina (GRP). O GRP
está presente nos neurónios da mucosa gástrica e é libertado pela estimulação vagal,
conduzindo à libertação de gastrina. Os produtos luminais da degradação das proteínas
também estimulam a libertação de gastrina através de um mecanismo mediado pelo
GRP.
Existem duas encefalinas (leu-encefalina e met-encefalina), que diferem em
apenas um aminoácido. Activam receptores opiáceos. Estão presentes em neurónios nas
camadas mucosa e muscular do tracto GI. Os receptores opiáceos nas células
musculares lisas da camada circular têm um efeito de contracção: as encefalinas são
responsáveis pela contracção do esfíncter esofágico inferior, pilórico e ileocecal. Os
opiáceos lentificam o trânsito intestinal. Estes peptídeos também inibem a secreção
intestinal. A combinação destes efeitos é responsável pela eficácia dos opiáceos no
tratamento das diarreias.

Peptídeos Parácrinos

Tal como as hormonas, os peptídeos parácrinos são libertados pelas células


endócrinas e são semelhantes aos neurócrinos, porque actuam em receptores localizados
perto do local de libertação.
A somatostatina foi isolada pela primeira vez no hipotálamo, sendo um factor
inibitório da libertação da hormona de crescimento. Desde a sua descoberta
demonstrou-se estar presente na mucosa gástrica, duodenal e pancreática em altas
concentrações, inibindo a libertação de todas as hormonas GI. Assim, a somatostatina
inibe de forma parácrina a libertação de gastrina e, portanto, a secreção gástrica. Tem
também um efeito inibitório directo sobre as células parietais.
A histamina é o outro agente parácrina mais importante. É produzida pelas
células ECL por descarboxilação da histidina. É libertada pela gastrina, estimulando em
seguida a secreção de ácido pelas células parietais ao ligar-se a receptores histamínicos
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tipo 2. Potencia a acção da gastrina e da acetilcolina na secreção ácida. É por esta razão
que os agentes antagonistas dos receptores H2, como a cimetidina ou a ranitidina, são
inibidores eficazes da secreção de ácido pelas células parietais gástricas.

Aplicação clínica

Existem tumores pancreáticos produtores de gastrina, libertando-a de forma


contínua para a circulação, sem qualquer relação com as refeições. Esta doença é
conhecida por gastrinoma ou síndrome de Zollinger-Ellison. A hipergastrinemia
provoca hipersecreção de ácido através de dois mecanismos. Por um lado, pela acção
trófica da gastrina que conduz a um aumento da massa de células parietais e, portanto, a
uma maior capacidade de secreção. Por outro lado, os níveis séricos aumentados de
gastrina estimulam de forma contínua a secreção de ácido pela mucosa hiperplásica.
As complicações deste síndrome (ulceração péptica fulminante, diarreia,
esteatorreia e hipocalémia) são causadas pela presença de grandes quantidades de ácido
no intestino.
A presença contínua de ácido no duodeno esgota a capacidade de neutralização
do pâncreas e provoca erosões e ulcerações da mucosa. Em grandes quantidades, a
gastrina inibe a absorção de fluídos e electrólitos, o que origina a presença de maiores
quantidades de líquidos no lúmen intestinal. O aumento da trânsito intestinal também
contribui para a diarreia. A esteatorreia é produzida pela inactivação da lípase
pancreática e pela precipitação dos sais biliares, devido ao baixo pH.
A gastrina é determinada por radioimunoensaio. Se o valor normal de gastrina
no sangue for de 50 pg/ml, a gastrina sérica em doentes em jejum com gastrinoma
excede 200 pg/ml. Contudo, existe alguma sobreposição entre os valores de gastrina em
doentes com gastrina e úlcera duodenal péptica, o que pode originar falsos positivos. É
necessário, por isso, recorrer a testes mais específicos, como a estimulação com
refeições proteicas, infusões intravenosas de cálcio e de secretina.
Doentes com gastrinoma não libertam gastrina em resposta à refeição. Isto pode
ser provocado pelo baixo pH do conteúdo gástrico devido à estimulação pelos níveis já
elevados de gastrina.
Os doentes com gastrinoma têm uma resposta exagerada a infusões de cálcio,
devido à libertação de gastrina pelo tecido tumoral. Estes teste é realizado através de
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uma infusão de gluconato de cálcio durante três horas. Simultaneamente, mede-se a


secreção de ácido e colhem-se amostras de sangue em intervalos de uma hora, para
determinação da concentração de gastrina. O pico de secreção da gastrina obtém-se 3
horas depois do início da infusão. Na maioria dos doentes com gastrinoma, as
concentrações séricas irão pelo menos duplicar (cerca de 500pg/ml). Doentes com
úlcera péptica comum podem ter um aumento moderado nos níveis séricos de gastrina
após a infusão de cálcio, mas raramente excederão 200 a 300 pg/ml.
O teste mais específico é a injecção de secretina. A secretina inibe a libertação
antral de gastrina, mas na maioria dos doentes com gastrinoma estimula a libertação de
gastrina pelas células tumorais.

Existe ainda outro síndrome caracterizado pela hipersecreção de peptídeos


gastrointestinais: a cólera pancreática ou síndrome da diarreia aquosa. É uma doença
frequentemente letal, que resulta da hipersecreção de VIP por um tumor das células das
ilhotas pancreáticas. Este peptídeo estimula a secreção intestinal de fluídos e
electrólitos, produzindo uma diarreia profusa, responsável pela doença.

Regulação da secreção gástrica

A regulação da secreção gástrica é um modelo paradigmático da forma como


todos estes sistemas hormonais e nervosos interagem entre si.
Os principais factores que estimulam a secreção gástrica são a acetilcolina, a
gastrina e a histamina. A acetilcolina estimula todos os tipos de células secretoras das
glândula gástricas, incluindo a secreção de pepsinogénio pelas células principais, de
HCl pelas células parietais e muco pelas células mucosas. A gastrina e a histamina têm
uma acção predominante sobre as células parietais, sendo o seu efeito sobre as outras
células muito reduzido.
Um conceito importante a reter é o de potenciação. Dois estimulantes têm uma
acção de potenciação quando o efeito da sua administração simultânea excede a soma
das respostas individuais. Existem várias respostas no tracto GI que dependem deste
efeito. No estômago, por exemplo, a histamina potencia os efeitos da gastrina e da
acetilcolina nas células parietais.
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Estimulação da secreção gástrica

O estômago humano em repouso segrega 10 a 15% do ácido que é segregado na


estimulação máxima. A secreção basal de ácido tem um ritmo diurno, sendo mais
intensa à noite e menos ao acordar. A causa desta variação diurna é desconhecida, já
que os níveis plasmáticos de gastrina são praticamente constantes na fase interdigestiva.
O estômago vazio tem, portanto, algum fluído no seu interior, sendo o seu pH inferior a
2. Logo, na ausência de alimentos, a mucosa gástrica está acidificada.

Estimulação nervosa
A estimulação nervosa da secreção gástrica pode ter início a partir de estímulos
provenientes do cérebro ou do estômago. Os sinais com origem no estômago activam
dois tipos de reflexos:
- reflexos vagovagais longos, que são transmitidos desde a mucosa gástrica até
ao tronco cerebral e daí até ao estômago pelo nervo vago;
- reflexos curtos, com origem local e que se localizam inteiramente no sistema
nervoso entérico.
Os estímulos que podem desencadear estes reflexos incluem a distensão gástrica,
estímulos tácteis na mucosa gástrica e a presença de estímulos químicos
(nomeadamente aminoácidos, peptídeos e ácido)
O neurotransmissor libertado por todas as terminações nervosas é a acetilcolina,
com uma excepção. As terminações que enervam as células G libertam GRP (gastrin-
releasing peptide).
A acetilcolina estimula a secreção ácida através da ligação a receptores
muscarínicos M3 na membrana basal da célula parietal. Esta ligação abre canais de
Ca++, permitindo a entrada de Ca++ para dentro da célula, o que estimula a secreção de
HCl. Tal como a gastrina, a acetilcolina também estimula a libertação de histamina a
partir das células enterochromaffin-like (ECL).

Estimulação pela Gastrina


Os estímulos nervosos (vagais ou locais), para além de uma estimulação directa
das células parietais, conduzem também à libertação de gastrina a partir das células G
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antrais e da região pilórica. A gastrina é libertada para a corrente sanguínea e acaba por
atingir as glândulas da mucosa gástrica (acção endócrina).
A gastrina não tem uma acção excitatória directa nas células parietais muito
potente. As suas acções devem-se sobretudo a um efeito indirecto sobre a libertação de
histamina.
Liga-se a receptores CCK-B que aumentam a concentração intracelular de Ca++.

Estimulação pela Histamina


A histamina é o principal mediador fisiológico da secreção de HCL. É libertada
por células enterochromaffin-like (ECL) localizadas na mucosa gástrica. Tem uma
acção parácrina. As células ECL libertam histamina sobretudo após estimulação pela
gastrina e pela acetilcolina.
A histamina liga-se a receptores H2 na membrana celular da célula parietal que
aumentam a concentração intracelular de AMPc, estimulando a secreção ácida.

Efeito multiplicativo dos mediadores que estimulam a secreção ácida


Nenhum dos três mediadores atrás descritos é eficaz quando actua isoladamente.
De facto, para que exista uma secreção substancial de ácido é necessária a presença
simultânea dos três. Existe uma secreção basal, não estimulada, de pequenas
quantidades histamina. Quando existe uma estimulação nervosa (vagal ou local), que
liberta Acetilcolina e GRP, todos os mediadores passam a estar presentes, o que origina
uma secreção abundante de ácido pelas células parietais (acção de potenciação).

Regulação da secreção de pepsinogénio


A regulação da secreção de pepsinogénio é menos complexa. Ocorre em
resposta a dois estímulos:
1. estimulação das células pépticas pela Acetilcolina libertada pelos terminais
nervosos vagais ou entéricos;
2. estimulação em resposta ao ácido luminal.
O ácido não estimula directamente as células pépticas, mas através de reflexos
entéricos.
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Inibição da secreção ácida


Existem vários mecanismos que inibem a secreção ácida.
Os estímulos subjacentes são a presença de ácido, produtos da digestão lipídica
ou a hipertonicidade no duodeno e parte proximal do jejuno.
A presença de ácido no duodeno estimula a libertação para a circulação de
secretina. A secretina inibe a produção de ácido através de dois mecanismos:
- inibe a libertação de gastrina pelas células G;
- inibe a resposta das células parietais à gastrina.
Outras hormonas, como o GIP, CCK, VIP e somatostatina, também inibem a
secreção ácida gástrica.
Estas hormonas também reduzem a motilidade gástrica.

Figura 3: Regulação
da secreção ácida

Fases da secreção gástrica


Existem três fases na estimulação da secreção de ácido (quadro 6) em resposta a
uma refeição: cefálica, gástrica e intestinal.

Fase Estímulo Via Estímulo para a célula


parietal
Cefálica Visão, olfacto, Nervo vago: Acetilcolina
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mastigação, deglutição 1. células parietais Gastrina


2. células G
Gástrica Distensão gástrica Reflexos vagais e Acetilcolina
locais: Gastrina
1. células parietais
2. células G
Intestinal Produtos de digestão no 1. células G Gastrina
duodeno intestinais Enterogastrona?
2. células
endócrinas
intestinais

Quadro 6
Na fase intestinal, enquanto o pH permanece acima de 3, há um predomínio das
influencias excitatórias. Quando a capacidade de neutralização do quimo gástrico
diminui e o pH baixa para menos de 2, as influências inibitórias predominam.

Conclusão

Embora seja mais conveniente estudar o sistema nervoso autónomo e os sistemas


endócrinos/parácrinos separadamente, é importante compreender que eles não
funcionam de forma isolada. De facto, os sistema reguladores interagem entre si na
regulação da secreção, motilidade e absorção. É o que acontece na função gástrica ou
pancreática, por exemplo.
As células-alvo têm uma actividade basal, modulada peptídeos neurócrinos ou
endócrinos. Estes são libertados por nervos ou células glandulares endócrinas em
resposta a estímulos específicos endógenos ou exógenos. Por exemplo, a visualização
de alimentos pode alterar diversos aspectos da função GI, tal como acontece com a
presença de alimentos no lúmen gástrico ou intestinal. Independentemente da sua
origem, estes estímulos são integrados em sistemas nervosos ou endócrinos, modulando
a resposta da célula alvo. Assim, há exemplos de libertação de hormonas pela actividade
nervosa ou de modulação da actividade nervosa por hormonas, bem como de células
efectoras que são influenciadas simultaneamente pela actividade nervosa e hormonal.
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