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As «Torres» do Litoral
, Gaúcho
RUY RUBEN RUSCHEL
Bacharel e licenciado em Geografia e História

Introdução lações com o aren ito de «facies» desértico do


tr iássico.
No cordão litorâneo que se prolonga des- Al ém do m ais, como sejam os únicos t abu-
de a barra do rio Mampituba atá a foz do leiros a renitico-basálti cos em contato atual com
arroio Xui, cons tituindo a b aixada a'i-enosa cos- o mar, as Torres podem servir de material de
teira do Rio Grande do Sul , apenas uma paisa- observa ção direta do comportamento da a bra-
gem excepcional rompe sua monotonia topográ- são marinha . Elucid ativo para a recente teoria
fica. Trata-se de um grupo de morros basálti- do Pe. Balduino R ambo sôbre uma transgressão
cos, plantados â beira -m ar , desde pouco me;lOs ma rin ha na Depressão Cen trai e Campanha se-
de dois quilômetros ao sul do rio Mampituba ria comparar as Torres com os tabuleiros e
em di reção meridional. chapadas do Centro e Oes te do E stado, cuja con-
Sua denominação tradicional é de «T orres» figuração o Autor de «Fisionom,a do Rio Grande
porque suas encostas voltadas para o mar su - do Sul» vem de a tribuir à erosão m a rinha.
gerem bastiões defensivos de a ntigos castelos. Considero, porém, de grande valor .cientifico
A ilharga de um dêsses morros nasceu a cida- a inquirição das Torres para estabelecer-se uma
de de Torres, sede do Município mais setentr io- melhor hipótese sôbre a formação do litoral qua-
n a l da costa gaúcha. ternário, sobretudo através da aná lise das r anhu-
A excepciona lidade dêsse conjunto, a que se ra s e te rraços de abrasão.
associam uma formosa lagoa e lindos panora-
m as, outrora enriquecidos por uma exuberante
cintura da floresta ' tropical costeira, - sem-
Aspecto Geral '
pre atraiu a a t ençâo da sensibilidade dos via-
A tradição local refere-se sempre a «Três
j antes: Nicola u Dreys, em 1817, descrevéu ésses
Torres», usadas rri·esrno como simbolização do
«paralelepipedos lapidios sobran ceiros ao ocea-
Mun icípio em suas estampilhas : do Norte, do
no» ; Sa int Hilaire a dmirou a paisagem poucos
Meio e do Sul.
.a nos depois, dedicando-lhe um bonito capitulo de
E ntretanto, uma visão mais minuden te nos
suas «Voyages ». faz distinguir outros conjuntos rochosos que per-
A admiração estética causada a várias ge- tencem ao mesmo g rupo geológico.
rações de turistas pelos contrastes ali ofereci- A Torre do Norte ayarca, além da Torre
dos pela natureza de alg um modo tem ocultado prõpriamcnte dita, mai s a adjacente Plataforma
as «Torres» a uma p esquis ~ mais fria dos geo- ro chosa sôbre que está a parte a ntiga do bal-
morfófogos . único ponto de contato da Serra Ge- neário, e a Lage ela Praia da Ca l, afloramento
ral com o Oceano Atlântico, esta peculiaridade melafi rico ao sopé da Torre. A Torre chama-se
das «Torres» suger e o papel que exerceram na também Torre do F'a rol.
fixaçâo do litoral pleistocénico gaú cho. Foram A Torre do Meio é também conhecida por
um dos pontos de amarração da linha aren~sa Torre das Furnas. E a Torre do Sul, por Torre
que r epresenta o avanço do continente sôbre o de Fora. A e las se associa uma agulh a lapidia
mar durante a última Era Geológica. ele nome Guarita, situada entre a mbas.
Há vá rios interêsses gera is no estudo das M ais ao Sul, no meio de uma planície are-
«Torres». Preservadas que foram da erosão flu- nosa, cercada de dunr ::; móveis, há uma calota
vial, desnudadas pelo embate das ondas, permi - rochosa : Os «Morros je Pedras do Cortume • .
tem interpretações sôbr e o f alhamento sofrido O g rupo das Torres fecha-se pelo Sul pela
pelo Planalto Melidional do Brasil. O exame Itapeva, outra lombada basáltica, e p elo L este
,de suas rochas admite conclusões gerais sôbre por uma linha de recifes a 2 Kms. da praia, a
as efusões de trapes do eo-jurássico e suas re- Ilha dos Lobos.
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Plon íc i . do Cortl,lm.
Plon;c i, do Ron dO

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o C E A N o 4 r 4 N r c o

MAPA DAS "TORRES"


As linhas dentadas r epresentam as falésias, sempre voltadas
para o mar. O pontilhado são as areias da planície pleistocêniea;
sua maior concentr~ s ignifica o agrupamento de dunas.
Tódas estas formaçóes compõem·se de ro· sóbre O qua l se assentou o núcleo antigo ela ci -
chas s imila res, com J1geiras variantes. P erten- d ade balnear ele Torres, hoje a cielade a lta . Dis-
cem ao sistema da Serra Gera!, de ba saltos anti- t a 1.700 m. ela barra do rio, ela qual é separa do
gos (melá firos) " oriundos das efu sões de t rapes por uma praia linear e chã o
da época triássica ou eo-jurásslCa.
As Torres e calotas rochosas próxima s so-
A P lataforma ela cidaode assemelha-se a uma
bressaem, 'a ltaneiras ou baixas, à pla nura pleis-
cúpula arredondada, de 400m. de diâmetro, com
tocêni ca que caracteriza todo o restante litoral
5 a 20 me t ros de altitude.
do Rio Grande do Sul. São testemunhos desgar-
rados do grande f alhamento em degrau que a-
Sua extremidaele oriental é batida direta-
bliu uma costa oriental ao 'a nterior continente
m ente pelo m ar . Ali a rocha está desnudada pe-
ela Goriduana.
las ondas, formanelo uma línha de penedos bas-
Plataforma da Cidade tante trabalhada pela abrasão, com faces lisas e
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o primeiro testemunilo melafírico encontra- arredondadas : são os ch amados Pesqueiros da
do ao Sul ela ba rra do rio Mampituba é o morro Cidade.

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PERFIL ESQUEJ\IATICO DA "TORRES"
Vêm-se os principais patamares, atribuidos á abrasão.
As bases pontilhadas conveneionam os pedestais arenítieos,
sôbre os quais se ergue a estrutura collllUld' dos meláfiros.

Há ai maior facilidade de verífícação da ro- o m eláfiro está todo diaclasado, predominan-


cha que forma e estrutura de tóda a Plataforma. do francamente as racha s de sentídos WSW-ENE
Trata-se de um meláfiro compacto, ele t extura e SSW-NNE . Não exist em; porém, falhas com
uniforme e vítrea, acízentado ele cór. Não apre- desníveis ou com afastamento das bordas. Os
senta fo rmações de drusas. Porém é atravessa- a parentes desniveís de alguns centimetros ou de-
do de veios de 1- 2 em. de largura, de arenito cím etros em diversos lugares correm por conta
metamórfico, recosido, quartzifícado, ver melho. da erosão diferencial, de a lguma clivagem hori-

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zontal com remoção de lascas ou de escorrega~ e a Plataforma, representado por um falharnEm- ' .
mento produzido pela abrasão no sopé da, rocha. to, cuja resultante SSW-NNE coincide com aS
Através de algumas das falhas escorrem-se para dil1eções predominantes da Serra Geral.
o mar as águas pluviais da Plataforma, motivo
A Torre do Farol tem Urna forma al<;mgada,
de se ,.presentarem alargadas e de bordas ali-
no sentido da própria falbJa., com cêrca de 600
sadas. m. de comprimento por 250m. de largura.
A linha de meláfiros desnudados contorna to-
Em SUa superfície superior apresenta-se com
do perlmetro litorâneo da Plataforma. 11l alta de
dois planos de níveis diferentes.
UnS 5rn..'e cai em contraste sôbre a praia de ba-
A porção mais baixa, uma chapada de 25-30
nhos 'e a superficie do mar extremidade leste;
m. de altitude, é a' extremidade NNE, em contJato
vai baixando para mergulhar sob a areia a me-
com a Plataforma; sôbre ela foi construido O
dida que se afasta para sudoeste. Nesta última
Grupo Escolar Marcilio Dias. A praça da Ma-
altura ressurge uma praia de areia que Se alonga
triz da cidade (praça Mal. Floriano) situa-se na
até o sopé da falha da Torre do Farol, a cha-
encosta que se inclina para a Plataforma e a
mada Praia das Pedras, dos banhistas. Quando
lagoa do Violão; a 75m. à frente da velha matriz
o mar se agita em· ressaca tempestuosa, retira
de São Domingos o C. N. G. E. p,antou o mar-
a .areia, descobrindo 'um leito de me~áfiro, bem
co de referência RN-12X, para designar a altitu-
11so e arredondado, cheio de «panelas», pelo atri- de de 18,0146m.
to multi-secular .das areias e águas. O degrau mais alto tem 35-45m. de altitude.
O perímetro mel'afirico externo nada mais é Ai se encontra o farol do Ministério da Marinha,
que o afloramento da rocha que constitui o sub- no ponto culminante: marco RN 12W, a 46,5382
solo da Plataforma. Na calota central a rocha . ffi. de altitude. Constitui a po~o SSW da Torre
matriz gerou o solo superjacente cuja espessura e liga-se à meseta mais baixa por uma rampa de
chega ta ser superior a 5m. Superficialmente ês- 30°, ~m que se incrusta a Caixa Dágua da cidade.
te solo é negro, de -formação humosa; abaixo O aspecto lateral rua Torre do Farol difere
avermelhaMse, oriundo da decompo.sição «in situ» conforme se observa pelo lado do mar ou pela
da primitiva capa superior do meláfiro. face iriterior.
O perímetro voltado para o .interior é repre- A penédia pelo lado ptaritimo, co~ os ro-
sentado por um declive suave que morre na pla- chedos expostos por influência da antiga 9Jbra...
meie chamada Ronda, para onde se estendeu a são, revela a estrutuna da Torre.
cidade. A encosta formou-se da mesma terra Na base do pilar rochoso constata-se uma
neg~a e vermelha proveniente do basalto; s6 camada de arenito róseo, até cerca de 6m. de al-
em algilllS pontos se d~ve à justaposição de arei- tura. Mantém-se um estl'lato sensivelmente hori-
as eólicas, consolidadas pelas raizes das gramas zontal, aparecendo em tOda lapa desnudada da
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e hoje pelos leitos de calçamento das ruas que falésia.
descem para a Ronda e para os bairros residen- O arenito classifica-se no de horizonte Bo-
ciais do Nordeste. tucatu, e não Rio do Rastro como já o catalogou
errôneamente um Autor. Apresenta-se perfeita-
Torre ·do Farol mente consolidado por influência do pêso e do
calor das lavas que sôbre êle s,e derramaram.
N"- ilharga sul da Plataforma justapõe-se a Têm côr rósea. Não possui f6sseis, sendo de
Torre do Farol. A continuidade topográfica en- formação eólica como o prova a estratificação
tre ambas faz-se em suas bordas em contato on- cruzada observável em alguns pontos. Resultou
de a intensa meteorização da ' rocha da Torre do· sepultamento do grande deserto triássico pe-
produziu uma rampa, de terra vermelha e negra, los derrames de trapes.
que desce para a Plataforma e morre na ponta • ' Uma denominação 'mfl-is apropriada desta ro-
da lagoa do Violão. .cha sedimentar tal como é em Torres e em ou-
A aparente unidade' dêsses dois morr,o s ~de­ tros lugares do Sul do Brasil, seria a de «meta-
'c orre da rampa, hoje vencida pelas ruas calça- arenito», eis que se apresenta muito metarnorfi-
das Marechal Deodoro e Alferes Ferreira pôrto. zado, recosido às vezes. No sopé da Torre do
Porém a encosta se toma cada vez m'a is abrupta Farol é possivel surpreender, pela análise do
quanto mais se aproxima do mar. Já na linha meta..arenito, -a tortura por que .p assaram as
da pnaia a Torre do Farol cai em fal~sia con- areias triássicas com a efusão de lavas. Onde a
trastant-e sôbr:e a Plataforma da cidade. areia já estava em começo de consolidação, tal-
O aspecto· geral da falésia, as posições dos vez em consequência de um clima mais úmido
dois taludes e a natureza de , sua estrutura de- superveniente ao desértico, a lava apenas com- ,
monstram a existência de uma falha- com des- pletou a consolidação ao se esparramar sôbre a
nivel de mais de 20m. entre ambos. Há, portanto, . superficie das planícies -arenosas e dunas. Ai o
um contraste tectônico entre a Torre do Farol meta-arenito conservou 1nclusive as marcas da

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. Estudos Reglona.ls

estratificação cruzada. Às vezes vieiros de melá- Observada de longe a falésia da Torre do


firo intrusaram-se nas areias, solidificando-se em Farol verifica-se a quase perfeita h~rizontalidade
diques vitreos escuros. dos pincaros. Acima desta linha, a Torre do Fa-
Porém, onde a massa flU\dida encontrou rol assume uma ·forma abaulada, de cúpula, gra-
areia solta ou, quiçá, arenito já consolidado mas ças à quase completa meteorização da capa su-
aos pedaços, formou-se uma curiosa rocha mes- perior de meláfiro. Talvez esta capa pertencesse
tiça: pedaços de meta-arenito cimentados por a um derrame posterior ao que formou o meláfiro
meláfiro de aspecto variável. Tal Rocha forma da falésia: de mistura ao solo vermelho e negro
uma grande ·p arte da lapa da Torre do Farol. da cúp.u la aparecem rochedos de meláfiro com
Ora existe' predominância do meta-arenito, to- drusas de, quartzo.
mando a rocha o aspecto manchado: manchas (

marrons (meláfiros) alternados de manchas ró- Poder-se-ia atribuir a existência de dois ni-
seo-amareladas (meta-arenito). Quando predo- veis no alto da Torre ào trabálho erosivo dife-
mina o meláfiro, a rocha adquire um aspecto rencial das águas das chuvas. A parte NNE da
ainda tôda manchada, porém com predominân- cúpula teria sofrido uma maior remoção quiçá
cia arroxeada. Representa uma aglutinação de em consequência de uma leve inclinação primi-
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Estrutura Geológica da «Tôrre Ido Norte» ou do «Farol»

lS'cias elásticas por um cimento eruptivo. tiva da chapada para o lado da. Plataforma e
Da base meta-arenitica da Torre do Farol da Lagoa do Violão ou a uma maior resistência
salientam-se dois ou três diques desta rocha do núcleo da cúpula SSW.
mista, avançando na direção do mar. Graças a 'S eriam os dois niveis patamares estruturais,
sua dureza melhor resistiram ao embate milenar segundo esta tese.
das vagas. •
Entretanto, parece-me mais provável atri-
buir . os dois patamares ao trabalho erosivo · do
Acima do pedestal de meta-arenito, a pénédia mar, sendo terraços de abrasão, revelando às os-
até cêrca de 20m. de' altitude é formada de me- cilações eustáticas no litoral gaúcho no decurso
Iáfiro. Os penhascos sofreram diaclasamento ver- da Era Quaternária, .
tical, nas mesmas direções apontadas antes ., Entre a encosta rochosa da Torre do Farol
(SSW-NNE e WSW-ENE), tomando, com o des- e o mar existe uma praia de uns 50 a 100m. de
nivel decorrente do falhamento, um aspecto co-
largura. Está coalhada de blocos de meláfiro
lunar, prismático. São prismas rochosos que se caídos da falésia, Os maiores que havia, "boul-
colocam verticalmente sôbre o alicerce meta-are- ders» de 2 ou 3m. de altura, foram, britados há
nitico, sugerindo a impressão de que a qualquer
alguns anos para fornecer pedras ao calçamento
.momento vão desmoronar.
da cidade, A praia é interrompida por diques de
A rocha é ' idêntica à da' Plataforma: melá- meta-arenito e basalto, como foi referido antes.
firo com ausência de drusas e presença de lon- . ·E ncostados ao sopé da falésia existem len-
gos veios .de quartzo vermelho .o riundo de arei- çóis de terra preta, de origem coluvial (caldos de '
as refundidas. cima) encerrando regolito, Uma camada. de qua-

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se meio metro de espessura, existente a "POUC!! al- ta, ,os ventos do quadrante sul trouxeram ~ômo­
titude, contendo carapaças .de vá.rios gêneros ros de areias finas qu~ emolduraram o sopé da
de moluscos, seixos rolados oU de arestas arre- encosta e soterraram os banhados; as areias che-
dondadas e ossos de peixes e de baleia, foi por garam a ameaçar o vilarejo (núcleo da cidade de
mim examinada em 1947. Pouco depois, em Torres) então nascendo na estrada existia entre
consequência . do britamento dos maiores «boul- o sopé da 'Torre e a lagoa (hoje rua Julio de
ders ~ espalhados ao longo da prai~, as ondas das Castilhos) .
ressacas violentas de alguns meses de inverno a-
tingiram o sedimento de carapaças e .revolve-
Laje da Praia da Cal
ram-no quase inteiramente, .desfigurando sua es-
trutura e configuração. Uma sequência de rochas 'que afloram a Les-
te da Torre do Farol devem ser tidas como per-
,'Pelo lado continental a Torre do Farol apre- tencentes a outro horizonte tectônico. São pene-
senta um aspecto inteiramente Qutro. Ao invés , dos que sobressaem da areia da praia desde po~­
de alcantis a prumo, a' Torre cai em encostas cos centimetros a, no má.ximo, dois métros. Pa-
obliquas. recem interrompidos por trechos de praia livre,
A meteorização está. em proc~samento a- porém sua continuidade se faz abaixo da areia.
diantado nesta face do morro. Nos rutos barran- , A chapa rochosa se estende desdé o sopé da ..
cos ai criados pela retirada de barro e s~bro Torre do Farol, sempre acompanhando a linha do
para aterros, observa-se, em tôda a alture, a ex-
mar, a té desaparecer sob a areia, uns 300m. ao
foliação do melMiro. Primeiramente quebrado pe-
, Sul, na Praia da Cal. A um ,de seus afloramentos
e
las diá.clases verticais clivagens hori"",ntais, as mais extensos, u sado como pesqueiro, chamam os
parcela~ da rocha vão-se descascando po~ cama-
pescadores Laje da Praia da' Cal, nome que pas-
das concêntricas, como cebolas, restando .um nú- sou ' a tôda a formaç!l.o.
cleo esférico que também, por fim, se desmancha.
Tudo se transforma em saibro e argila vermelha. A caraCterística distintiva de sua rocha
é encerrar um grande número de drusas e geo-
A base de meta-arenito não é vizivel neste
'des de quartzo hialino. A n atureza arnigdalói-
lado da Torre por estar soterrada pelo solo ori- de revela-se, também, pela superficie esponjosa,
undo de cima e também pelas areias que, em
faveolar, decorrente da destruição do quartzo
dunas, se localizarem entre a Torre e a Lagoa
quando exposto. Os geodes alcançam regular ta-
do Violão. Contudo, essa base existe, como foi manho, até 20 cm., sendo comuns os de 5cm.
constatada em duas perfurações de poços ar-
tesianos pela Secretaria de Obras Públicas à Esta peculiaridade ,a fasta o mel Miro da Prai-
Oeste da Torre do F,arol. a da Cal de todos os demais' basalt~s torre~ses:
A Laje também apresenta diaclaSamento nas
_ Esta vertente da: Torre, nos primeiros , tem- mesmas direções 'p redominantes referida s atrá.s.
pos históricos do povoamento colonial, cobria-se
de mata subtropical até os banhados que circun- A rocha encerra numerosos e longos veios
davam ~ lagoa do Violão. Desaparecida a flores- de arenito cosido, às vezes em forma de nódulos.

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FALl'lSIAS DA TORRE DO MEIO, OU DO CENTRO OU DAS FURNAS'
O pontilhado oonvenclona o arenito metamórfico, o qual aparece como base desde
. a enseada do SALTINHO até a PONTA, e ainda «INTER-TRAP», desde o DIAl\1AN-
\ . \, TE até a PONTA. O resto da falésia é de melá.firo.
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Em alguns pontos, o meláfiro amigdalóide se Pelo exame da rocha exposta n a s falésias


vê invadido de vieiros de bas alto compacto, de compreende-se a estrutura da Torre.
côr marron-negra, sem inclusões. Na base, até uns 3-5m. acima do nivel do
Enqua nto não forem r ealizadas perfurações mar, existe a mesma camada de meta-arenito
esclareCedoras do verdadeiro horizonte des ta eru- que descrevi na lapa da Torre do Farol. O mais
ptiva em relação às demais e à camada m eta- das vezes está em associação com eruptivas.
arenitica, a p arenta ser a Laje da Pra'a da Cal Talvez por maior r esistên cia ou por não estar
o degrau continental mais afundado dos quantos fissurado, êste pedestal avança um pouco no mar
se formaram com o fendilhamento e afund amento r elativa mente à falésia . De modo que desde a
escalonado da S erra Geral. 11; de se presu m ir que Ponta até o Saltinho o despenhadeiro vê-se cin-
a m esm a Laje prossiga (abaixo do pacote areno- gindo em sua base por uma saliência rochosa que
so) mar adentro, formando a plataforma conti- serve d e a pôio aos pescadores e turistas à desci-
n ental até a Ilha dos Lobos. da até próximo do mar. Restos d e meláfiro pren-
Contudo, não seria impossivel, em face do dem-se sôbre êste ressalto metamórfico, onde são
que- se observa qua ndo a praia da Torre do F a rol en contra diças diversas modalidades de misturas
se d esembaraça das areias , imaginar a L a je da do meta-a renito torturado pelos trapes .
Praia da Cal como o resto de um dique mela- Do Sa ltinho p a ra o Norte não mais surge o
firi co intrusivo no "{enito de Botuc!'-tu. Com 'a licerce metamórfico: o m elá firo desce até o mar.
efeito, uma chapa de basalto pouco amigdalóide Contudo, fora da enseada do Saltinho reaparece
aparece sob as pedras que enchem a m enciona - a cinta de ressal t o na base das escarpas, agora
d a praia, sobressaindo esta chapa, perto da Pla - formada da mes ma eruptiva e não mais do me-
taforma ( Praia das P e dras) com 'ab undância d e t a -al'enito.
pequeninas drusas, tôda pintalgada. Atribuo êste ressalto! conforme a discussão
Como atitude provisória, prefiro definir a final, ao tra balho erosivo do mar em nivel euS-
L aje da Pra ia da Cal como o ;'graben» das Torres. t ático superior ao atual.
Uma excepcional cam a da de arenito «inter-
t11app» ocorre nos primeiros 260m. do alcantilado,
Torre do Meio a 'Contar da Ponta. Fica a 10m. de altitude, es-
pessa de 2m., possuindo ig ua is caracteris ticas de
A m a is imponente das Torres pelo seu alcan- metamorfismo que me ,i nduziram a denominá-lo
tilado chama -se Torre do Meio, do Centro ou d as «meta-a renito». Acim", e aba.ixo estão os prismas
Furnas. Coloca-se a 600m. da Torre d o Farol, típicos de meláfiro. T ermina acima do Diamante,
para Sudoeste, interm ediando entre êsses dois onde parece sustentar os tetos das duas furnas
pilru'es tec.tônicos o «graben» da Praia da Cal. ai existentes.
Forma um tabuleiro alongado,- dos - que se P elo outro lado da encosta, antes d e a escar-
classifica m «jacarés». Seu eixo longitudinal, em pa se transformar em rampa, ainda s'e surpreen-
de a base metamórfica da Torre; em alguns pon-
disposição SSW-NNE, mede 800m. Tôda encos ta
existente à direita dês te eixo (lado leste) com- tos, pouco acima do nível da praia aii existente
põe-se de fal ésias perpendiculares batidas no so- (pi'aia da Gua rita) , surge como arenito puro e
pé pela ressaca. Já pelo lado opôsto, a T or re t em em outros misturado a porções basálticas.
d eclives mais suaves, morrendo na planície qua - O restante do material constitutivo da Torre,
t erná ria. acima do meta-arenito, é o meláfiro, em estrutura
O dorso superior forma uma ch a pada com colunar. Na sua maior parte tem as característi-
ondulações leves, de 135.000 metros qu adra~os. cas já desC,ritas para a Torre do Norte. Em um
Teria, pois, uma la rgura m édia de perto de 170m ; pequeno trecho, no Portão, a um nível de' 8m,
a largu ra maior regula em 250m. apr esenta -se uma capa amigdalóide, com muitas
Dois outeiros destacam-se no cume, em alti- drusas de cristais.
iude aproximada de 50m; o l'eStO apresenta -se O basal,t o desta Torre apresenta fendilhamen-
sen sivelmente plano, de 40m de altitude p ara m e- to em mais direções : além das rachas SSW-NNE
nos. Um pequeno lago formado pelas chuvas em e WSW-ENE, são comuns as orientações W -E
uma depressão que bra a monotonia verde da área (paredão principal do Slaltinho, por exemplo),
gramada. SE-NW e S-N,
A altitude da falésia medeia entre 25 e 38m. Do nível .superior da fal ésia para cima o me-
Alonga-se em linha convexa, recebendo alguns de láfiro está meteorizado em solo vermelho (pro-
seus trechos denominações dos pescadores: a P on- fundo) ou negro (superficial), Os rochedos es-
t a (promontório m eridional), a Furna do Dia - palhados nos cimos mais altos indicam pontos
mante, a Furninha, a Furna Gra nde, o B alcão, o em que o meláfiro m elhor resistiu à edafização e
P esqueiro Feio, o Saltinho (onde existe uma en- ao processo de torreamento escalonado a que me
seada com paredes de 38m a pique) e o Portão. r ef erirei no fim,

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P elas v ertentes do Oeste as c hu vas escorrem natural. No corredor existente entre 88 paredes
para li. plnnlcie, onde se juntam em banhados. abruptas e levemente Inclinadas pnra N orte e
As ladeiras variam entre 30 11 50 graus de in- Oeste da pedra do 1ndlo e da Torre, o t u rista
elinaçào. Formam_nas ns l enas da decomposi- Ile sente como pris ion eiro de muralhas gigantes.
çáo dos mclAliros. Uma duna de al-e.ia, có lica a- ,~.

c umulou-se em um ponto desta encosta.

Torre do Sul
A terceira das Torres poss ui ,singular ImpO-
nência p ela al t ura e r eUdAo de sua s escarpas
combinadas à p eq uena á rea de seu cume. Tem
11.912 me tros quadrados, com falésias abl"Upla.s
para o lado do m ar (S ul ) e declive acentuado
para o lado do continente (Norte) .
Vista desde o Leste ou desde o Oeste apa·
renta-se derreada. para tr~, como uma tOITe de
Pisa nat\lral, a.speto quo r esulta do 'declive para
o Norte c dn. leve obliquidade da falésia frontal
ao mar. Efetivamente, siora o dia.clasa mento
ver tical, existem também rach as ligeiramente TORRE SUL
inclinadas para Oeste c No rte, visivcis na face
nua da. Torre; estas rac has de pouca obliquiqade Um outro prisma l ap ldJ o afastado 5m p ara o
produziram a falésia pelo lado do mar, cujo lado do mar, Q.p. base d a pedra do Indio, também
pé avança um pouco em relação ll.() alcantil. testemunha o out rem. maio r perlmetro da Torre,
Ao sopé d a falésia. m eridional existe uma es- reduzido pelo m ilenar solapamen t o ma.r:itimo de
treita prai a , d e 1 li 5m. de la rgura, qu e mal sell,S alice rces . Sob a areia que aU ainda n!i.o e-
UU}/t.'{]e as ondas de I.J.cljH.r os -Vês da T o."1"e: tra- x is t iR no Holorp.no, devem e~ t.a.r sepull3.dos os
ta-se de uma p raia coalhad a de blocos basálticos blocos originados d~es desabamen tos em gran-

produzidos pelo milenar solapamento da falés ia. de escala.


Contudo, liá de se chamar a. atenção da. causa ar- Em seu.s ladOS oriental (voltado para li. Gua-
tifici.:al d e muitos dos blocos: em princlpios do rit.a e a T or:re do Meio) e ocidental (vol tada para
século ali foram acum ulada s n um crosas pcdras a p raia Itapeva), as laMslas vdo baixando de
quand o do IniCio da construção do pôrto d e TOI·' al titude a medida que se nínslam do mar; nesta
res, post-Cr1ormente abandonada quando o molhe ultima face a est rut ura roch osa e s tá parcialmen-
ali começava a tomar f orma. t e oculta pelo solo f ormado no cume e transpor-
Aflora nesta praia uma laje de arenito duro, tado pelas águas p luviais.
tipo Botucatu; com o mú..'(imo ue 50 em. acima do J á para o lado nort e a falésia d eu luga r a
nlvel da praia, vai b.'1.lxand.o para o Norte dCllap.."l.- uma r am pa; as rochas desap a re ceram sõ b a·terra
rec endo sob a areja antes de ch egar ao sopé ali acumulada.
da Torre; muito provàvelmcnte o a.renito venha a O cume t em suas maiores altitudes pe rto da
constitulr a base da Torre, pOI·ém a baixo do ní- borda maritlma, onde é plano, a!lorando ali no
vel da p raia, eis que não ap3.1'tte em nenhuma alto r och:;!.S meJaflricas com inclusões cristalinas
de suas faces. de quartzo e veios de areia !undlda. Porém a
T ôda falésia constitui-se de m CI6.flro, puro, su perf!cie superior baiXa em ladeira abaulada pa-
sem inclusões qUIlI·tzicl:!.ll, I"Ul"amcnttl pentlt rado ra o Kort e, até O nlvel :roro onde RJi areias eó-
de veios de arenito róseo qmu1.ziflcado. Oferel:c licas vem cobrir seus pés. P or l!ste lado Norte
a mesma estrutura prlsmáticll. exist ente nas de- a asccnçào à Torre n1«l of erece dificuldades.
mais Torres, sendo mais variad as as clIreções das A inda a t é vinte anos atrás a Torre era ca-
diácIases W SW -ENE, WNW-ESE, SSW-NNE, bel'la por ma tagal e por u mo. picada se atingia.
N-S e W·E. O paredão liso mais impression an t e o cume; o solo proveniente do me!áJiro é verme-
por sua la rgu ra (uns 20m) e altura (uns SOm) lho. en.>a.l brndo, mas tem uma capa hu mosa es-
é uma face de falha \V!\"\V·ESE. c\lra. Hoje apenll!! vegetação rasteira ali existe.
Uma agulha rochosa de seus 30m, separada
do corpo da Torre por desabamento de prismas
rochOsos In termediários permanece de pé, como E n tre a Torre do Sul e a do Me lo destaea -ft
um b as tid or, a uma distância de 5m. da ,p a.rêde da planicte a ren osa um morro de forma pirami-
da Torre: cha m a -se a cab eça do 1ndlo por estar d al. assemclhado ti. um castelo ruinoso: (J. Guari t a .
coroado de um. bloco atarracado, em cq uilibrlo ~ t estemunho r esidual. ali deixado pelo em ·

32
Estudas Regionais

bate das ondas, de uma coluna laptdla que no nivel da pla nlcie era mais elevado de uns 2m.,
Cenozóico deveria .ser mais larga G -alta, quiçá com mangues, sendo rebaixado pela drenagem
ligada às outras Torres vizinhas. dos arroios.
A estrutura de rochas mcla!1nJ.cas prismAticas A um qullOmetro do mar uma molc1ura de
cresce de um pedestal. arcnítico e.sparramado. dunas diademadas por copas de árvores repre-
Trata-Se de um arenito róseo puro, Isto é, sem senta a antiga linha. de contato e conflito entre
mistura" de Cluptivas. Mais do que em qualquer as areias eólicas e a. mata. atlântica. A areja
outro sitio dna Torres é n~ste embasamento da penetra nos capOes dc mato, ressecando ató a
Gualita que se percebe a formação eólica do are- total carbonlzaçll.o multas e velhas á.rvores. Em
nito t rlásSlco. A falsa sedimentaCão entrecruza- compensaçM, a mala re tém seu avanço, lançando-
da é visl.vel no fundo polido das grutas e na se com suas raizes pela encosta acima das du-
s1.Iperfic.ie gasta da laje que avança pa ra o mar. nas vanguardeiras.
Seu nlvel de contato com a eruptiva supe- A pMmltlva c exuberante mata a Ullntlca q~e
rior nAo é bem horizontal: levemente mais alto começava a.t rás dessa pe;!tana limUrofe esta. e~
no lado Norte; varia de 3 a .4.m. de a ltitude. Na rápido <re~ a.pa.recimento, substitulda por campos
face sul a laje avança para o mar, rebaixada pela ralos, pobres plantações de milho e m!llldioca e
erosão marlnha (quando ainda. submersa no ni- alguns casebres de palhas e tábuas.
vel eustá.t1co de outrora) e depois p~la erosã.o· de
Entre a moldura. verde e a linha martUma, a
superficie, pluvial, quando exposta pela atual
quase 1 Km da To rre de Fora, envolvido de al-
rogressAo. Diversas canelura.s e pancla.s foram
tos cómoros de a reia, estende-se uma cum1ada de
abertas pelo atrito submarino, certameIl;te de
rochas basâltlcas cujos sopés mergulham na a-
âguas rasa.s em movimentos de vai-vem. 1
reia. Síl.o conhecidos por M.o rros de Pedras do
No Leste e no Oeste o alicerce llrcn1tico fi- Cortume.
ca mais a prumo, com parede cOncava para o la- Embora parcialmen te recobertas pelas ardaS,
do da Torre do Cent ro: bonitas grutas foram ali adlvinha-se a continuidade dos morros, o que au-
escavadas pelas ondas quando o mar tinha maiB toriza o uso do nome no singular.
altura.. Já. no Norte o pedestal desaparece sob a
capa de terra coluvial, mas existem indiclos de DestitCll.m-se três cúpulas mais próximas da
que também ali havia concavidades de abrasão. prah, a uns 350 m. de distância do mar ,de uns
50m. de diâmetro cada: em face ao mar ditas
A estrutura de meláfiro, com tOdas as ca.--
cúpulas caem , perpendicularmente e para os ou·
racteristicas encontradas nas outras falésias, se tros lados formam rampas onde mergulham na
ergue adma do pcdestal descrito. Também aqui
areia. Sua altura pode ser calculada em {imo
tem disposição lamelar, produz;ida pelo diawasa-
menlo, encontrad iças as direçOCs \VNW·ESE, Um pouc~ I,llais para o int erior, uns tOOm.
SSW·NNE e WE. Algumas das ractms se afas- além, aparece uma có.puJa mais alta, de cêrca de
ta m do ·prumo, um pouco inclinadas para. Oeste, 10m. de alti tude,\ com eixo alongado S-N de
como acontece na Torre do Sul. 260m, por uma largura de SOm. Ceroam-na ele-
vadas dunas, existindo comumente um cOmore sO-
Pareceria uma pirâmide construido. com fa-
bre sua parte méd:ia. Pequenas f alésias apare-
tias vel'tlt:ll.ls ou pouco obllquas justapost!Ui: al-
cem em suas taces, mergulhando o sopé na arem.
guns prismas cairo.m do ediflcio, deixando uma
ponta perigosamente desgarrada do conjunto, na. Entre as três cúpulas menores do Utoral e o
falési a marit1ma.. espigão maior do Interior, sob a ca.pa das areias
O acesso a s eu pico (um chato de 2 metros ali exlstcntes, percebe-se a ligação do núcleo r O-
q uadradas), de 2{im. de alt ura, se foz pelo lado choso. As vezes o vento descobre grupos de pe-
norte onde se formou uma lngreme rampa de d ras e mesmo crostas de uma néorocha, espécie
terra., out rora enfeitada de arvorêdo· de folheto argiloso cOr de tijolo, decorrente da
, decomposição do bassalto, que se prolongam em
bforro de Pedras do Cortume colina de ligação desde os morros do litoral até
o do inteMor.
P ara o Sudoeste da Torre de Fora Se alon- Sob as encostaa ocidentais das dunas que en-
ga uma proJa retillnea, de 6 Kms. até a Itapeva. \'olvem Os morros de pedras surgem pequenas
Atrás da praia, a plan1cle litorânea do Cortume penédlas, mareando o limite da formaç1l.o por
apresenta-se parcialmente coberta de dunas a· aquêle lado.
renosas, de mais de 30m. de altura a lgumas, Concluindo-se que a formação rochosa cons-
movimentadas pelos ventos, de formfl3 a longadas. titua uma só massa , pode-se-Ihe atribuir a f orma
As partes baixas são regadas por arrolas de um outeiro em s emi-circulo, com a a bertura
da,s chuvas. H à vi.s!.vels testen:&unhos de que o voltada para o Norte.

33
Estudos Regionais

Compõe-se tOda ela de basaltos em processo Os morros dO, F axlna l, as Torres e a Ilha dos
de escamação. As numerosas diáclases verticais. Lobos são os três ultlmos degraus do afunda.
nas mesmas direções já descritas para as de- mento da parte oriellLal do Planal to Basáltico,
mllls Torres, vem-se somadas de abundan te cl iva- Entre Os doIs primeiros, colocados que estão em
gem horizontal. Como rcultado, a massa se re- bastIdores, ext-ende--$e a planície costeira arenosa,
ta lhou em nurnerosisslmas pedras, espalhadas com Os nomes locais de Cortu me, Ronda e Po.
pela s upeliicie e ro ladas para as baixadas. O no- trelro.
me MOITO de Pod res de<:orre dêste aspecto.

A rocha é o mesmo trape descrito, com Eustatismo - Planos de A brasão


pouqulssimas in clusões quartzicas e varias vêlos
de arenito cosido. Não se descobre o alicerce As agulhas lapldias verti cals parecem restos
arenitico; se existe, está mergulhado na a reia de uma cortiça exlel'ior já de há muito tempo
E m ruguns pontos a rocha. s e decom põe qui- rolda pelo ma r, Tais expressões de Nicolau Dreys
m icamente. Transpor tado o pl-oduto a lto.'ado. pe_ em 1817 retletem a pri meira Impressão ue quem
las áglla.s das c huvas, vai depositar-se nos leit os obsel'va as 'forres. Os paredões que as circun-
dOS dois ou trt:!:s riachos pluvi:a.1s que con-cm pa- dam, vlslveis nas faces mal'itlmas, mal disfa.rça·
ra Oeste; forma então pcllculas ou eonereções dos nas demais encostas, suge rem a continuidade
de uma néo-ro eha, de pouca dureza, frláve l, de pl'imonUa l entre as trés Torres, rompida pelo
CÔ I' citrina-ave nnelhada. Há conereções de mais trabalho multimilenar das ondas; a senslvel ho·
de um metro de espessura, desta néo--n>eha, no rizontalldade das cumiadas a.umenta a impressão,
local em que Os arrotos encontram a baixada,
Em seu absolutismo uma tal ilUsão não cor:
'.
Outros. Testemunhos de Trap es responde às conclusõcs tectônic as, pois realmen-
te 1l1gumas das massas rochoJ:las estão mais afun-
Cérca de 6 Kms, para Sudoeste da Torre dadas do que out ras. Entretanto, que as Torres
de Fora surge a Pedra da Itapeva, 1l1tima Inter- eram muito mais largas e t alvez altas quando o
rupção da praia chll. em tôda cos ta bmsileira, diastrotlsmo da Serra Ge ral cessou deixando-as
T rata-se de um morro alongado, de t rapes, que sob Q d ireta ação do «novo~ oceano oriental, -
se d is põe de ponta para o mar. Nesta ponta o não pode exIsti r d uvida ,
morro vai baixBlIdo, expondo suas rochas ao des-
nudamento malitimo, F ormando o «deg ra.u torreIl.'le) do afunda-
mento escalonado da Sel'ra. Geral, no Ccno~(jico,
Para o interIor, depois de um «chato) (daí ficou êl-c Ilhado pelo aparoclmento do Oceano A-
I tapeva = podl'R. cha t a) , de 10 (I. 20m. de a lti-
llânlico, As ondas do mar alcançavam o sopé da
tude, o mo r ro toma maIs altitude, a ti ngi ndo mais
Sel'ra prOpria mente, Na lati tude de Torres de ve-
de 100m. Associa-'Se, pela proximidade, aos mol'- ria então existir um penet rante golfão, c ujo f un-
ros baslUticos do Armazém, das Lal'anjeirns e do eram as Serras do Costão, da Praia Grande e
outros, os quais: inte rrompem a ponta setentl'io- do Mal ha-COCo, o lado sul, os morros que hojÇ,.
nal da Lagoa da Itapeva. bordejam as Lagoas do FOmo e do Jacaré, e o
Os recifes basá lticos qUe distam 3 I(ms , mar lado norte, fi linha de eumladas que se destaca.
adentro, diante das Torres, cha mados I lha dos da. Serra G;eral na alturo do Morro dos Candlot as
Lobos, com 500m x 200m, lUIS 5m, a cima da su- e vem f indar nas proximidades de Sombr;\o, Es-
perflcie marlUma, podem ser considerados o pi- te golfào ctorre nsc) está hoje ocupado pelo vale
~Iar mais di!ttan te do falha me nto da Ser ra Ge ral.
médio e in!erior do rio Ma mpltuba.
: Se o ma r baixasse uns 20m certamente a Ilha dos "'.-:;" . :-
~s tomaria o aspecto de uma. Torre similar DeSde o Cenoz6ieo, situadas em calto-mar»
às demais, as 'Xorres passarem a ser corroldas pela ab\'a~ão,
Nâo 6 dlflcll imaginar o resultado do embate das
Paralela à praia, a 2 a 3 Kms, continent e a ondas nas paredes basálticas; desgasta vam-nas
dentro, dispõe-Se uma linha de colinas, desue os ao nivel do mar at é pro.duz ir a queda da coluna
morros da ma rgem da. lagoa da Ilapeva a té o rochosa limitada pelas numerosas djâclases, As-
rio Mampituba. Em srande parte chama m-na co sim, a abundante réde de fendas verticais na
Faxinal) , Compõe-se de saibro resultante da de- massa basáltica das Torres favoreceu a perma-
composição das rochas primitivas, Na margem nência tia verticalidade das paredes, Aquela E ra
do rio Mampituba, onde se interrompe, o morro prlmordl al e nos primelrOll tempos; da Era seguin_
da Salina apresenta, .ainda, seu núcleo basáltico, te (Quaternária), as Torres ostentavam paredes
utilizado para pedreiras. vertica is em todos os seUs ladOS,

34
Estudo~ Regi{)uais

Despencados o, prismas rochosos, deposi t a -


Vam-Ilê no fundo do mar, no próprio local em que
caiam, continuando sob infl uência do d Cllgast.e
hidrico. Ali pennaneceram os res tos como base
do p;1cot e de sediment os q ue p.o r fim veio a. cons-
. -- -- --------- -- ----- ------- --"-
~

tituir o lltoral.

Uma anáJlse cuida dosa do aspecto a tual das


paredes das T orres permite a Cl'escentar interes-
santes subsidias às va ri ações dos nh;eis eustáli-
COs já discrim inados pelos geomorfólogos do li- ... --
~ -- ------- ---

- --
._ ~

- ---\-,.,
t oral brasileiro. Em tOdas elas exlst em sinais
evidentes da ação ab rasiva cm nlvel maritlmo di-
'.'~ -- -------

,...... -
ferent e do atua:. , ~- - : ;,.:~~c;-::...
Na Torre do Farol, pelo lado m a rltlmo, ob-
. ~ -- -- ---- .,
serva-se o aspecto cavernoso da lap~ de arenit", .
poueo abaixo de seu contato com o basalto. Em
vários pontos oe prismas oo.\!áltit:os supeÍ;jorcs el,,-_
ENCOSTA SUJEITA 11. ABRASA0 ESCALO-
tão em r essalto, forman do os t etos das cavernas I\-ADA (PerfU hipotético) .
al'eníticas, São C:lv ernns pouco profun das, {) má-
ximo um metro, m as existente em quase t Oda Revelam l\stes t erraços de eonstruçâo 11. per-
largura. desta face da Torre, embora algumas manência do litoral atual sob prolongado mergu-
estejam mascaradas pelo entulho coluvi"9.1. TM lho, quando se depositaram sObre o regaUto de
riam sido rasgadas por u m nivel maritimo uns base, ao encontro das paredes da To r re, tmen-
6m acima do atual. sidão de r estos d e c mariscou ali jogados pelas
A lém do m a is, um nlvel de mar s uperior ao ondas. P ro piciou o depósit o a presença de la jes
atual se prova a i pela ex[stênica de depósi t os ao pé da Torre e resguardou-o, d epois da regres-
conchiferos. T rata-se de um cwavc buliU. a cér- são marinha,. a superposh;'âo d e nova capa de
ca de 1 a 3m. acima da altl t uó'e zero. Até an t es rcgoli to, caldo do t orreào. Em a lgu m ponto mais
de 1950 os depósitos <fsta.va.m protegidos da res- próximo à Torre seria possivel re-examina r a
saca pela existência de grandes cbou lders~ espa- ca mada conc hl!era e m sua dispos ição o rig in a I,
lhados na pr:jlla. Com o britamento dessas rochas desde 'Iue se p rocedessem escavações, Talvez se
m alol'es pela Prefeit u ra (para ca.lçar a cida de ) encontrasse, a ssi m, uma c-'(pllcoçâo para a segun-
desapareceu o óbice que evilava serem os de- da e tênue ca madílo de con chas acima do t erraço
pósit os conehUeros revolvidos pelas ondR.!! nos mais Importante,
dias de maré ag1.ta.f . desde entao 0& d.,p(is ito~ Na To-nre do :\Ielq 'são abundantes os sin aia
foram alcançados vâ?i'á.s vezes por ano e des t l1ll- de a brasão em nivels superiores a os atuais.
dos na Sua sequ~ncia, es psrrlllTUi.ndo-se as con -
(,has lavadas na linha de a t aque, o ressalto que 11. cingo por quase tOda 11.
face marítima, de 3 11. 6m. acima do nlvel e..tual,
Entret an t o, em 1946 pude t omar nolas sóbre represen ta a base do ataquo das ondas : da i para •
a compOsição original d~ste t en13 (,:o, Consistia cima fora m sendo reti rados os prisml s de basal-
em uma camada de 4Dem. ,de espessura, de t erra to. Pode ser considerado um cwave cut »,
aren0l!8 preta e regollto (de seixos tanto roladOS
ccmo angu losos), rec h ead~ de CllScas de molus- o P ort ão, espécie de pÓl'UCO de ba.salto na.
cos, As caropaças sel'lam de umas poucas entrada d e uma en3Cllda, é um li ndo represen-
espécies de moluscos, g as t eropodoH c blvalvo.3, tante da ação abraSÍ\'a de um mar mais elevado
algumas ai nda existentes hoje. Estavam mist u- uns 6 11. 3m. que agora.. O arco do cport4o» se
radas . em confus ão, inteiras ou quebl'ada.s, tam- sustEn tou SÓbl'C as colpnas de basalto vltreo por
bém se encontrando na mesma camada ossos de SCI' de melãf!ro amlS'dalólde. Nas proximidades
pei;<.;es e de baleillS. Esta camada se Msenwxa do Portão, à beira da estrada que sôbre o ressal-
sóbre um!l. ca pa de te rra preta e regolito, ou di- to conduz à pontezln ha, existem du as cavernas,
retame:lte sObre roch edos redondos. Já Dl. cama- tam bém escavadas pela abrasão em Igua l nlvel
da superior à das conch a s, t ambém de terra preta eustáti('o. Em seus t etos o meláflro é a mlgda-
I"ide, como no arco do cportA.o,..
e regolito, aparecia a -i n terposição de ou t ra ca-
mada conchifera, de melo centlmelro d e espes - A enseada do PortA0, atulbada de cbaul-
SUI'8. só, qual pellcula ho rizon h l. formada apenas dc!'8» e pedregulho ' redondo, tem em suas pare-
de pedacinhos de cascas. des muitos sinais da antiga a.brasão: no plano

35
ElJtud Os Regionais

co~pondente ao <arco do port.A.o> e às caver- t erra bem preta, turfa de primitivos banhados
nas da cstradinha antes mencionadas (6 a 8m.). ( mangues) , formação quem sabe relacionada ao
rep resentado por uma mUda linha de desgaste e mangrovito> de Blgarella ou às «pIçarra." de
(wave cut) existe ain da uma profWlda furna es- Ab'Saber.
cavada n a parede basáltica e outras menores.
A s cOpulas que se sobrepõe ao n{vel do aJ -
Mnls adiante, ainda na Torre do A'X eio, na cantliado das Torres do Farol, do Melo e de F ora
enseada do Saltinho, embora inexista o ressalto sugerem também um relacionamento ti. nlvels
carllcterlstlco, as paredes perpendiculares estão custáticos ainda mais elevados, de 1!'1-20m. e de
visivelmente desgastadas em umá tll1xa hori- 25-3:ím. O mesmo le poderia dizer da Plata f or-
zontal, (la 6 a 10m. de alt u ra. A m eio destas ma da Cidade do Aforro de P edras do Cortume
al t u ras e s tá o t eto da fUrna conhecida por Tocão. e dos escalões mais baixos da Itapeva cuja
As ondas entram e saem peJo eassoal ho> da furna pouca altitude se diriam de terraços de ~brasa.o. ,
h oje, quando há milênios escavavam seu teto.
Conside ro como signOs dos n lvels de eusta~ \
o ressalto rochoso que passa a cir cundar tismo mais b lllxos, ampliando a análise à drea
novamente a Torre do Meio à saida do Saltinho, munícipal, as célebres Furnas do Sombrio e do
do Pesqueiro Feio para o SUl, ap resent4 sinais de Põrto ColOnla. EI:ICavaram·se nas duas extremi-
desgaat-e marinho em sua superficle superior. dades arenitlcas das pinças que envolviam o «gol_
A Furn!nha c a Furna do Diamante também fíio torl"ense > em épocas remotas. Tanto as Fur-
foram escavadas por águas mllls altas: suas pro- nas do Sombrio como as do POrto Colõnla, aque-
fW1didlldes superiores a 15m refle tem a demora las perto da cidade do Sombrio (Estado de Santa.
da perman encia do mvel eustático cnlre ol e 8m. Catarina ) e estas ent re o POrto ColOnla e o POrto
a cima do atual. A t é meia parede foramabe rlas Guerreiro (local ldadeds da margem interna da.
no m eta.-arenlto, e acima, inclusive os tetos, n o Lagoa da I tapeva, no Município de T orres) , es-
bassal lo. ~ p ossive) que nA.o tenha havido o de- t ão com suas bocas voltadas sObre a rodovia fe-
sabame nto dêsses t etos por estarem soldados a deral Osórlo-Ar a ranguá., uns poucos metros aci-
uma camada sup erior de einter-trapp>, m a e dianto respectivamente das L agoas do Som.
. ~ " ' :...
. Outrossim a Guarita demonstru oscilações
brio e da Itapeva.

Ainda outros Indicias regionais poderiam ser


marlnha..s no litoral t orrensc. À ali'lra. de olm, na
anotados, confirmando prolongadas transgressões
parte mais alta do arenito as águas abriram os
marinhas no litoral torrense. Toda\1a o presen te
divenos côncavos já descritos; onde o arenito fi-
estudo conserva a intenção restrita de uma pes-
cou submerso, a abl"B.'lão cortou a base do basalto
qu isa apell8.2 local.
p rovoca n do a queda dos pris mas e n.H.sando a
p latafOrl'lla II.renlUca restante. As eeaneluras>. Finalmente, a análise ..las To rres permite
os epanel6es> e out ros sinais de d esgast e superfi- crer que o m ar continua ~gredin do. X o sopé
cial mostr am que as ondas fa.z.i a m seu vai-vem da Torre do Farol, na enseada do P ortão, na base
9ôbre a plataforma da Guarita. da Guarita., pelo menos, existem t alhos de abra·
N a. Torro de Fora não encontrei sinais que são situados em alturas (2m.) raramente hoje
pudesse atribuir tranquilamente Íl. a.brasão exa- a,tlngidas pela.s mais violentas ressacas. A tro~
minada. TaJvez que a homogen eidade do basalto dição do po \'O local menciona o recuo do mar,
dessa T orre, pràticamente sem alleerce o.reniUco, conhecida através de observações de detalhes dos
não haja. permitido 'a persiStên cia de ewave-culs:.. pesqueiros.
A abn.são post erior, no nivel atual (na hipótese
de ai nda não h ave r a p raia) poderia te r d emolido PrOCel/l/O de Torreamellto
os sin ais das abra.sões anterioreS.
A sucessão dos n ivels de eust.a.t!smo no lito-
P or ou t ro lado. na p lanlcie are nosa que se r al 'p roduziu as Torres. São o produto do desgas-
alonga a trás da Torre de F ora, anotei um t erraço t e sucessivo e escalonado dos pilares destacados
de con strução marinha: um esambaqui> dista nt e da Serra Geral pelo grande falhamento do Cen o-
um a centena. de metros ao Norte do pé da Torre. zóico.
Alcança uns três metros de a ltitude.
Tomando c omo hipótese t er o nivel do mar
A inda. n a mesma planlcle do Cortun .." s10. s empre baixado, o eprocesso c!e torreamento> p0-
encontradl ços tes temunhos de um horizonte 2m.. deria ser teorlzado ns.s eeguintes fases:
mais al t o que o chão atual. São mon tfculos de dF'"
a reia e m que aparece, a 1m !'100m acima da p la- 1.' - Quando o n1 vel oceânico permanecia
nície regada a tual, uma camad a. de 4Ocm. de a 50-65m acima do atual, suas águas ntacaram

36
Estudos Rcg1onai'l

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A: - }.m nh'CJ CU!Jt{~Ueo do 60 lU, acima d o ntwll.


B: - Idem , do 25 - 35 m.
C: - idem, do JIi - 20 111.
D: _ idem., do ·1 - 8 m.

COll-'VENÇOJo:.s : 1: o n!vcl Jn:uitimo em ~\o. Z: melA-


f1r~ () SOlos r es ultantes. S : arc nl t o m c tumórflco (meta-are-
nito) . 4 : Gl bould~ r.oI)) resultantes da (1lledn dos p/J.ares rocJlO-
!>OS m inados pelas ondas. A IÚl'ó k -se esque matlt.ada 6 d e
tn!s pilA:res em lúveis tectônicos dlfcrcntes.

os pont os mais elevados, desbastando fin al mente constr.lI;ão (sambaquis do l\fampi t uba , da Torre
os c umes das Torres do Foarol, do Melo e <k F o ra. do Sul e da. Ita peva, camada conclúlera. da Torre
do F a rol) eal'actel17.:Ll1l es ta f ase.
2.' - Baixando o n!vel para 25-3ám., as on-
das do OceMo foram atacando as fa.1~slas, es- 5.' - Por fim o Oceano desceu ao horl7.onte
trei ta ndo a parte superior. Criwa.m assim o al· atual. Emergiu, enlii.o, a restinga a !'CnOSa que
cantllado das três Torres, Sua ação s e comple- forma a praia e a plruli.::ie litorànea, As Torrcs
tou apenas na Gu:uita, on'le houve dcsbas tamen- deixara m de ser Ilhas, O ma r alcançou-l hes OS
to total do pico; nas t res Torres permanece l'.lm sopes ape nas por um lado. cO:ltir.uando ai naU·
núcleos ma.!s resistentes, poster ior m('nte arredon- vidade eros iva. Esta fase e curta., pois os resul ta-
dados em cúpulas pelo intcmperls mo, As mese- dos da a brasão são mini mos. Mas o r ebaixamen -
tas ma is ba.lXllS d:t3 Torres do Farol e do ~[eio to prossegue lentam l'ntc. ~[ajs senslvels e r:l.pidos
foram lavadas pelas o ndas. são agOl'a os trabalhos do inte mpe rismo, d a.'J
3,' - Em nivel de }ti-20m. forma r am-s e a chuvas, tende:lte3 a arredonda r as formas supc·
P latafolT.'la 4a Cidade, o Mo r ro de Pedras do riores e ab;\Ill ul' as To r res para o la do conti nen ta l.
Cortutne e a ponta oriental da Itapeva.
4..- - F inalmente , os baixos nh'els de custa- Os nl\'l' is de eustat ismo a c ima r eferidos f o·
lis mo, desde " a 8m., agrediram tôdas '3S r:u~­ r:UH tomados de Ruellan, no i n te r~ss e da unltor·
slas por largo t empo, em época recen te do Pleis- m idade. Cons('!'Vei a pcnas original o nlvel ma.!s
loceno, Os planos de abrasão ainda frescos, antes baixo. :8 sabido qUe 0.'1 Autores divergem c m seus
disc rimi nados, dcstacando-se as Furnas, grutas daCos qua."\do cara ct erizam os n1veis eust!LlIcos
e concavidades das T O ITCS do F arol, do Meio e do litoral brasileiro, Nilo são uniformes :\[anr.k.
da. Gua. rita, c bem a.ssim os diversos terr:\ços de Ruellan. Valverde, Ab'Sa ber.

37
Estudos Regionais

Realmente não é tarefa fácil precisar os seus alcantilados quase horizontais, seus desgas-
niveis em que o Oceano permaneceu nas várias tes nos sopés, poderiam levar-nos a crer haverem
épocas. Os planos de ab rasão encontrados nas sofrido um «processo de torreamento~ similar ao
falésias nem sempre oferecem correspondência que descrevi antes.
aos niveis do mal', podendo ocorrer modificações Em geral a tribuem-se as suas formas, na De-
tectônicas locai", mesmo em escala diminuta. A pressão Central e na Campanha, à erosão fluvial
natureza das rochas atacadas, a forma de ataque em suas bases. Entretanto, a explicação não con-
(se por ondas de alto mar, se por ondas litorâ- vence sempre, ora pela ausência de um rio, ora
neas, se por vagas que se arrastam sô'bre uma pelo desaparecimento dos prismas despencados da
plataforma antes de atingir a penédia, se de uma falésia e pela grandiosa imponência do produto da
ou de outra direção, se no f undo de uma enseada, el'Osão comparada à fragilidade dos meios.
etc), a periodicidade e amplitude das marés, ,as
caracteristicas climáticas vigorantes na época AS Torres ao litoral têm a mesma forma, e
contudo ninguém lhes pode artibuir origem flu-
são também fatores que podem 'alterar de vários vial. •
metros os planos de abrasão. A própria altura
normal das ondas, contribuindo para um des- A análise das Torres da Depressão Central
gaste «em faixa», produz equivooos de assina- e da Campanha à luz do . processo de tOlTeamen-
to» assistindo no litoral poderá subsidiar a nova
lação.
Por outro lado, às vezes ocorrem erros de teoria do Pe. Rambo, até agora pouco aceita pelo
desconhecimento de formações terciárias ou qua-
apreciação dos observadores em relação aos sinais
t ernárias pelos geólogos que descreveram a De-
que observam: podem «verbi gratia» atribuir a
pressão Central e a Campanha .
. formação de uma furna às ondas à altu,ra do
l!l que as conclusões da história geológica do
teto, da meia-parede ou de sua parte baixa, ou
Rio Grande ainda conservam muito apêgo aos
imaginar o desgaste de um t erraço pela crista
critérios estratigráficos.
das vagas quando o foi a alguns metros de pro-
fundidade.
Não raru as divergências surgem pela pre- . Conclusões
cariedade dos meios de medição ou pela genera-
Através do exame das Torres, a várias ór-
lização dos trabalhos efetuados em outros !itom is.
dens de conclusões se pode chegar.
De órdem geológica:
As TOlTes ela Depressão Centr al 1) Os derrames de lavM de trapes ocorreram
sóbre planicies de areias onde existiam cômoros
Segundo uma recente formulação do Pe.
çólicos, motivo de apresentar-se o pedestal de
Baldll ino Rambo, tôda Depressão Central gaúcha
teria sofrido uma transgressão marinha recente. arenito em alturas ligeiramente diferentes e se-
rem cruzadas as estratificações.
Se admitidos como certos os níveis eustáticos su-
pel'iores a 30m. mencionados por diversos auto- 2) Ao encontrarem -a areia mais solta, as
res, a inundação da Depreção Central seria uma lavas do triássico se misturaram confusamente
consequência lógica. com a mesma, cosinhando-a, penetrando-a em di-
\
Poucos sinais foram registrados dessa per- ques e línguas (vieiros) , empurrando-a para ní-
manência post-secundária do Oceano «orientab vel mais alto, comprimindo-a entre parcelas ba-
sôbre as planícics. Os sedimentos acaso deposi- sálticas ou revolvendo-se nela.
tados estariam removidos até as suas bases (Rio De órdem tectônic'a:
do Rasto) pela abundante rega fluvial após a 1) A massa basáltica rompeu-se em rêde de
regressão marinha. Contudo, a poderosa camada diáclases verticais ou quase verticais, predomi-
de seixos de calcedônias existentes em discor- nando as direções WSW-ENE, SSW-NNE, S-N
dância sôbre o sedimento arenítico Rio Rasto em e WE, de que resultaram as par edes das Torres.
General Câmara, e camadas semelhantes encon-
tradiças ao Norte do paral elo do Jacuí, poderiam 2) As Torres são t estemunhos do falhamento
representar os cones de dejeção dos rios torren- da Serra Geral, constituindo, por sua pouca al-
tosos da Serra Geral em seus estuários sóbre o tura e maior distância do Planalto, os degraus
pouco profundo mar da calha central. mais baixos do escalonamento.
Outro indício da grande transgressão que 3) Os morros de Torres não se acham nas
menciona o Autor da «Fisionomia do Rio Grande mesmas alturas tectônicas, havendo uns mergu-
do Sul» sugere-nos a grande semelhança dos nu- lhado mais que outros.
merosos testemunhos arenltico-basálticos espa- 4) As baixadas existentes entre as Torres
Ihados ' na Depressão Central com as Torres. Suas (Praias da Cal, da Guarita e da Itapeva). bem
formas arredondadas, suas penédias a prumo, como tôda planicie litorânea entre as Torres e '

38
Estudos Reg ionais

os morros que prenunciam a Serra Geral, slio trirlS ele areia pelas ondas na faiXa limltrofc en-
vales ée afundimento (grabenl, enchidos de tre o Oce:lno c a Tel'ra firme defendida pelo Pe.
a reias qu ate mârias, Baldulno Rambo em s ua <FisionomIa do Rio
De Ordem geomorfolOgiea : Gramle. : esta tese aflgl.lra-se- me anU- (ls~ca por-
1) DeSde o Cenozóico os pilares torrenscs qu e as vagas (\1' OSC}laçào ntio faze m transporte,
vem sef\do lrabalhados pela erosão, c-descascacloS't e a ressnca "O movimenta as areias da pl'ópria
segundo as dláclases, conservando faces pcl'Pen- dal)(.a Iimitt"Ofe entre o occltno e a tel'l'a rirme~,
d icula res. em vnl·"em. sem t razê-Ias do mar : ademais, a
2) A ação 'erosiva do mar se fe z em todos os tese fica em contl"adição com a das GEsddas brus-
lados, eis que os pila r es primordlalm'ente eram cas do nlvel do mar.
Ilhas, SI A planicie existente entre a TOlTe 1e Fora
3) HOUve va r iações eustáticas do nivel do e o -'forro da s Pedras do Córtume era mais ele-
mal', duran te a E ra QuateITIárla, possivelmente vatla pelo menos 2m. do que atualmente, e palu-
de 50-Mm., 25-35m, Ui·20m. e 4 -Bm. acima do
nlvel atual, r es ponsáveis pela abrasQ.o escruonll-
Josa; S\la drenagem posterior reba ixou-a no nl"el
de h:J.se do oceano atual, conservando,se ape n as
\
da a q ue denomino <p rocesso de totTeament o., testemunhos do horizonte anterior.
4 ) E st as wt ri ações de n iveis foram bruscas. 9) Na presente época plelslocCmica, apenas
5) A última rebaixa, ao nivel ma rltlnio atl1n.1. a Torre (lo Mcio vem sendo atingida pela abrasão
descobriu a pIanieie arenosa que constl ui o llto- em uma de Sllns fo.ces: 0 8 lados rrgora continen-
ral gaúcho, permanecendo as Torres com a penfUl tais das Torres eneontra.m -se sob intenso trabalho
uma de SUas faces volla das s6b re o ma r, de exfoliução e meleorizaçAo,
6 ) O litoral arenoso do Rio Grande do Sul 10) Nenhuma eonclusão sObre a geomorfolo-
t eve st.a origem «n o fl1ndo~ do Oceano. pela j gia do litoral meridional brns\lch'.o pode prescin-
formação de uma restinga sôb re a então platn- dir de 11m estudo das Torre~ e scus arreelores.
(orma contin ental, onde se deposita r am as at-eias 11 ) A extensão do conceIto do ~ prncesso de
resulta ntes da deco mposlçãQ de Ime nsas m assas t orrenmento,. (abrasão escalonada) às fOlmas dos
Il. renlticai'l do sopé da. Serra Geral e de seus pi- tes t em linhos arenltico-basálticos d::. Dcpres~:lo
ll\fcs isolados, ou procedentes do Planalto B)'!\ - Ccnt1"!\.1 c da ·. Çnmpnnha do Rio Grande tio Sul
snelro, trazidas pelas correntes marinhas. poderá lançar nova~ luzes sóbrc a teorla. dt\. in-
7) Não se justifica a tese dI\. rormaçiio mili- va.QàQ (lo Centro e Oeste do l>:stado pelas águas
métrica do litora l pela de posição de tênu es es- do Or.ean o Atlântico depois 1:10 Cenozóico.

R-E$OLUÇAO lI.f .3. d e 2$ de maio Ile Jl)4j1.

In"titue um Certirlcado às cnthlt1d ~~ culturais e 1'1"0-


fl".!\sôrl's (llte l'o lallOrarc'ltI na «Semana tla. Gco/-:"ra(i ll}).

o Dm·E1'ORIO REGIONAL no CO~SEI~HO ~AOIOXAL DF. GEOC.Htll'J ,\


NO RIO GR.'L"'D~ l)() SUL. lISo."l.ndo dI' HIJaS alriblliçi.es :
Considerando a e:'i:ll,'Uldlu.lll de h,l nt llO d a villa m ooru-ll;;l, fi. prcmê llf'la d oi" afa_
zeres de cada 11111;
Con"itlerando ser WU lto d CIllOlIstral,'.ão d e de\'otaHlcnto à t" all<;a geo.!rl"{ifll':J. , a
colalJ.u ra ção d e Ill"SSOIl6 e I' lltitlade", lli'-'J WlIlll'mor.(.l,,uM; da Sem:l.n;;, Ih Geo::rafia:
Consitl crnndu se r a 'inda wlla q\mUdade d e bl!llcmerencla à C:IIIsa I' ullunt l dR
lerra riograJldO:)ltse;

RESOLV1': :

Art. único - lllslH.u ir Iml CcrllfiQ:lkJo ã s "'lljJf1r~(les culturais c nos Srnho~


Profcssô rcs que eo laloomre m n3 .Sf'Ill:l.IIa. da. H~~r:\na», 1."1)1110 pre mio au t1e\'ota.-
mento à eaus:~ geo):"rMif'1lo do "io Gra nde do Sul.

Sala da8 S essões, em l'ôrto A\f'g-rt'>, 23 de \TInl o d e 190 1.


ConferidO e rubricado Visto e rubricado
U a ri a Fagundes ele SOUZ:l. Doccn. Pac hi.'e(l (H;man V",I;tsque;t; Filho
Seçretária Assistente Secretário
Publique_se
AlIwrt o lI oHm:l.Itn
P l'es :dentc

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