Autores do livro arquiteturas da engenharia ou engenharias da
arquitetura contam seu método de trabalho e discutem a separação entre arquitetos e engenheiros . Valentina Figuerola
O engenheiro Yopanan Rebello e os arquitetos João Marcos Lopes e Marta Bogéa já
passaram horas debatendo a íntima relação entre arquitetura e engenharia. Além dos encontros semanais, o assunto rendeu uma série de artigos para a revista AU, publicados na seção arquiteturas e estruturas. Da idéia de reunir esses artigos numa publicação, surgiu o livro arquiteturas da engenharia ou engenharias da arquitetura,lançado em setembro pelas editoras Mandarim e PINI. Nesta entrevista concedida à AU, esses três professores universitários contam como sua experiência didática influenciou o livro que, numa linguagem acessível, explica o funcionamento estrutural de edifícios como o Masp, em São Paulo; a Sagrada família, em Barcelona, Espanha e o aeroporto de Kansai, em Osaka, Japão.”Nos damos o direito de pensar com liberdade e sem medo”, afirma Marta. A conversa acalorada e bem-humorada, a ágil troca de idéias e o lançamento de observações provocativas (no bom sentido) entre os três revelam os bastidores da obra.
aU COMO SURGIU A IDEIA DE FAZER UM LIVRO?
YOPANAN REBELLO - surgiu a partir dos artigos que escrevíamos para AU. Na época, o editor da revista era o jornalista Marcos de Souza que, aliás, nos ajudou a organizar esse trabalho. Pensamos: por que não reunir esse material disperso em revistas numa única publicação? Depois de tomada a decisão, o desafio passou a ser outro: transformar a linguagem “estanque” dos artigos numa mais “fluida”, própria para um livro. JOÃO MARCOS LOPES - Vale dizer que já observamos o dialogo íntimo entre arquitetura e engenharia há algum tempo. Desde 1983, quando nos conhecemos na Faculdade de Belas artes, eu, Yopanan e outros colegas começamos a buscar novas maneiras de abordar as estruturas. Buscávamos uma abordagem mais próxima dos arquitetos e não tão reclusa no mundo da engenharia. Em 1993, conhecemos a Marta na Faculdade São Judas e, desde então estamos todos nesse processo. MARTA BORGÉA – Sim. Foi a partir dos nossos encontros semanais que surgiu a idéia de fazer o livro. Discutíamos arquitetura e engenharia alimentadas pelo conteúdo e inquietações geradas em sala de aula.
aU POR QUE ESSE TÍTULO?
JOÃO MARCOS – Sou o responsável por ele. Lembro-me que passamos por vários nomes provisórios, incluindo esse. Também cogitamos Os Três livros das Estruturas, mas a opção foi logo descartada por ser considerada pretensiosa demais. Nos perguntamos com o quê, efetivamente, estávamos querendo lidar. Ora, o livro começa com uma abordagem geral para depois entrar em três grandes famílias. Tratamos de pontes, grandes coberturas e torres. E tudo surgiu a partir dos artigos feitos para aU, para a seção Arquitetura e Estruturas. Essa idéia de que existem “arquiteturas” nos levou a pensar nas “engenharias da arquitetura” e “arquiteturas da engenharia...” É dessa ambigüidade que trata o livro.
aU NO LIVRO, VOCES ABORDAM O FUNCIONAMENTO ESTRUTURAL
DOS EDIFÍCIOS DE UMA FORMA SIMPLES, QUASE INTUITIVA. AS ANÁLISES QUE DERAM ORIGEM AO TEXTO TAMBÉM FORAM DESSA FORMA? MARTA – Nos damos o direito de pensar com liberdade e sem medo, arriscando. A oportunidade de compreensão sobre como as coisas funcionavam foi mais importante de que a necessidade de acerto. Uma vez, uma pessoa me disse que não sabia como eu conseguia escrever com outras pessoas, já escrever é um ato pessoal e intimista. Eu respondi que só sabia fazer a coisa naqueles termos. Ao escrever o livro, formalizamos pensamentos que foram intensamente jogados entre os três, seus desdobramentos e entrelaçamento de forma que, muitas vezes, não sabíamos mais de quem a idéia tinha partido. O livro carrega um pouco da nossa natureza, ou seja, a maneira como investigamos conceitos e formas materiais. Nos instiga a estudar e enfrentar conceitos novos. JOÃO MARCOS – As dificuldades em encontrar informações detalhadas sobre determinados projetos não nos impediu de continuar a análise. É o caso da pirâmide do Louvre, do arquiteto I. M. Pei, sobre a qual tivemos de intuir algumas coisas. Ficamos em estado de excitação quando percebemos que a inversão no carregamento acontecia por conta das forças de sucção nos panos de vidro da pirâmide. Nenhum de nós havia estado lá. Quando fui visitar a obra, me emocionei ao perceber que nossas análises estavam corretas. Matamos a charada. MARTA – Não estamos atrás da certeza absoluta. Nosso jogo é poder configurar uma possibilidade factível, coerente