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Acontribuicao asiatica A civilizagio ocidental despontou de origens obscu ras ao longo das margens do Tigre e do Eufrates, na Mesopotimia, e ao longo do curso do rio Nilo, no Ege to. As origens da eivilizagio extraordinaria que se de- senvolveu no vasto e antigo territério da China esto envoltas em mistério similar. A lenda sugere que por volta do ano 2000 aC uma cultura estava surgindo em verdadeiro isolamento dos bolsées da eivilizacio do. Ocidente. Entre as muitas inovagdes desenvolvidas pelos antigos chineses, algumas mudaram o curso dos acontecimentos humanos. A buissola possibilitou a exploragio ea navegacio. A pélvora, usada pelos chi- neses para fogos de artficios, alimentou um aspecto bélico do temperamento humanoe alterou a natureza dda guerra. A caligrafia chinesa, antigo sistema de es crita, éusada hoje por mais pessoas do que qualquer: outro sistema de linguagem visual. O papel, suporte ‘magnifico e econémico para transmitir informagses, ea impressio, a reprodugio de palavras e imagens, possibilitaram a ampla comunicagio de pensamen= to eacdo. Os europeus adotaram essas invengdes ©as utilizaram para conquistar grande parte do mundo: ‘ iissola (que também pode ter sido desenvolvida de forma independente na Europa) dirgiu os primettos exploradores pelos mares e pelo globo terrestre; ar- sas de fogo possibilitaram aos europeus subjugar as populagies da Africa, Asia e Américas; ea impressto em papel tornou-se 0 método para disseminar a lin- ‘p22, a cultura,areligio eas eis por todo o mundo, ACALIGRAFIA CHINESA “Fal como os hierdglifos egipeios e a escrita maia na América Central, o sistema de escrita chi Sesuagem puramente visual. Nio ¢ alfaby -Simbolo ¢ composto por uma série de linhas em ‘Serentes configuracdes dentro de um quadrado ima- ‘Sea. Diz a lenda que o chinés foi eserito pela pri “eira ver por volta de 1800 aC por Tsang Chieh, que inspirou a0 contemplar as mareas das garras dos ros e pegadas de animais. Tsang Chieh passou savolver pictografias elementares do que via na za. Essas imagens sdo altamente estilizadas e itufdas de um ndmero minimo de linhas, mas facilmente decifradas. Os chineses sacrificaram jismo encontrado nos hierglifos por desenhos bstratos, ‘Gonsideracdes estéticas parecem ter interessado neses desde os primérdios de sua escrita. Pri- foram desenvolvidos os substantivos mais ea lingua escrita lentamente amadureceu e enriquecer-se & medida que se inventavam 's para expressar sentimentos, aces, cores, 108 e tipos. Os caracteres chineses so logo- 9 sinais gréficos que representam uma palavra (0 sinal S, por exemplo, é um logograma que enta a palavra cifrdo}. Desenvolveram-se ideo- empréstimos fonéticos - tomando empres- sinal de uma palavra com som parecido -, mas Sins escrito nunca foi dividido em sinais silabi- ‘como 0 cuneiforme, ou sinais alfabéticos para -elementares. Consequentemente, nio ha rela- centre as linguas chinesas falada e escrita sto sistemas independentes para transmitir to: um som da boea para o ouvido e um si- ‘ge mio para o olho. Aprender o voeabuldrio total de 44 mil caracteres era sinal de sabedoria eerudicio. Os japoneses adaptaram os logogramas chineses para sua lingua escrita, apesar das grandes diferen- ‘a8 entre as duas linguas faladas. Da mesma forma, diferentes dialetos chineses falados sao escritos com Ly mm © Dit OP tk AA ‘A mais antiga escrita chinesa conhecida ¢ cha- mada chiaku-wen, ou grafia “osso € casco" (3.1. 3.2), uusada de 1800 a 1200 aC. Bla era intimamente vinew- Inda a arte da adivinhacdo, um esforgo para predizer acontecimentos por meio da comunicacao com os deuses ou ancestrais falecidos muito tempo atrés. Essa antiga escrita- tal como a hieroglifica ea cun 3.1 Alina superior das pictografia 0chiaku-wen, cugraiacssoe asco, atrbuldaao endo Tsang Chieh. inka inferior masta zsmesmaspalvras do io ‘hun unficaca desu, ‘ovestilo pequeno-sinete. Do querda para dirt, Ju, 6a, chuva, madera ‘ecachorna 3.2 0ssode orduloinerto com ciokuwen, ou gra oso ‘ecasca,« 13008. Os 128 cxacteros inserts asta scapula cizem respoto ds redies de um avin sobre calamidades paras prévimoscez das 31 usados para formaros 64 caracteesde uma desiatria decitlinhes, queen ‘mesma forma um retingulona 52 forme era pictogrifica. Pictografias chinesas sdo en- contradas entalhadas em cascos de tartaruga ¢ ossos planos de espaduas de grandes animais, chamados ossos de orsiculo, que transmitem comunicagies en- tre os vivos e os mortos. Quando se desejava consultar ‘um ancestral exaltadlo ou um deus, o adivinho real era solicitado a inserever a mensagem em um osso polide de animal. 0 adivinho enfiava uma barra de metal in- candescente num furo no asso inscrito e 0 ealor pro- HSE SE ey vor oY iD YY SF (WER SSh a PAE F Ge, AW Orr Ga tC ea SKE A GOo CHL ID Sed Mig =H BvD. st ES =a yD (ha SE ADH OE BF. = Care IAW: =) ABEE) EDS: sithas inscritas com dedicatérias (3.3) continham ca- racteres bem formados em sistemitico alinhamento, A maioria das inscrigdes era feita no interior dos va~ sos e os caracteres eram mais estudados e regulares {que nas inserigdes 0860 e easeo. Artistas em diversos locais desenvolveram dife: rentes estilos de eserita até que a ealigrafia chinesa foi unificada no reinado do poderoso imperador Shih Huang Ti (c. 259-210 aC). Durante seu reinado, eru: ditos confucionistas foram enterrados vivos e seus li vr0s foram queimados. Milhares de vidas foram sacti- ficadas na construcao da Grande Muralha da China para proteger o imperador e seu império. Mas ele também unificou o povo chinés em uma tiniea nacdo ‘eemitiu decretos reais padronizando pesos, medidas, a largura do eixo das earrogas, leis eescrita. O primet rorministro Li Ssu (c, 280-208 aC) foi encarregado da concepedo do novo estilo de escrita. Essa terceira ‘etapa na evoluedo do desenho da caligrafia chinesa 6 chamada de hsiao chuan, ou estilo “pequeno-sinete” [b.1) As linhas sio tragadas em pinceladas mais es: pessas e mais uniformes. Mais eurvas ¢ circulos so usados nesse estilo gracioso, fluente, que é muito mais abstrato que os dois anteriores, Cada caractere equilibrado com clegiincia e preenche plenamente seu quadrado imaginatio, A etapa final na evolucdo da caligrafia chinesa é chen-shu (também kai-shu, ou estilo “regular” (3.4), em uso permanente hii quase 2 mil anos. No estilo segular, cada linha, ponto e nuanga do pincel podem ser controlados pela sensibilidade ¢ habilidade do, caligrafo. Hé uma gama infinita de possibilidades de eserho para cada palavra. & estrutura, composicio, forma, grossura do pincel ¢ a relagao das pineeladas nite si e com os espagos em branco que as cireun- dam sio fatores de desenho determinados pelo at for. A caligrafia de estilo regular possui uma beleza bstrata compardvel as realizagdes mais elevadas da umanidade em termos de arte e design. De fato, ela considerada a mais nobre forma de arte na China, mais importante até do que a pintura. A pintura ea saligratia orientais mantém lacos estreitos entre si, Ambas so executadas com tinta sobre papel ou seda ssando golpes gestuais do pineel. A evolucdo da eserita chinesa pode ser acompa- hada desde suas origens pietograficas por meio de real deum poema chinés um ‘excelente exemplo de chen sh, ovcallgala de estio requ Deis Sete de ssnatura sa pate inferior xquerda sto chops, anaisadosadante ‘um dos primeiros caracteres - por exemplo, 0 carac- tere pré-histérico para o recipiente de trés pernas chamado fi, que é hoje a palavra para tripé 3.51. 0 li foi um produto de design inovador, pois as manchas desbotadas em alguns exemplares remanescentes denotam que ele ficava no fogo para aqueeer rapida- ‘mente seu contetido. Na grafia do osso de oriculo, era ‘uma pictografia faeilmente reconhecida. Na grafia de 3.5 U(vasihade ceamicade {ets pera), periodo Baixo Neoticn.Aevolucto do oviginou-sedesse ecipiente Pctografiade oso de otc, graade bronze, 100030, ¢ PRR DSN GE seit. RAEN @ Sve BOA A BASE YS ease pee, bronze do ano 1000 aC, esse caractere hava evoluido para uma forma mais simples. O earactere de estilo regular faz eco com 0 fundo tripartido e o tampo chato das primeiras formas. ‘Apintura de bambu do Album de oto folhas (3.6), de Li Fangying (1695-1754), mostra como os tragos vividamente descritivos com um pincel de bambu tunem caligrafae pintura, poema eilustragdo, numa comunicagdo unifieada. A natureza é a inspiragdo para ambas e cada traco e ponto recebem a energia de algo vivo, As criangas iniciam sua instrugio dese- nando folhas caules de bambu com o pincel para aprender os tracos basicos. 3.61 Fangying, do Alum de ‘otofonas,nimero eis, 744 proto da gina inte, ‘como bambu curvandosse aa oespace livieem conaste coma coluraca excita, €supreendent, 3.7 Shitao Yani Pisagem de montana eo, detlhe dale linastia Qing. As qualidades visuals da calgaia~ de daticada erendinadsa cexrondass eabrupta sho contastadas neste oo Estados espirituais e sentimentos profundos po: dem ser expressos em caligrafia. ‘Tragos espessos € Tainguidos condizem com a tristeza, e poemas compos tos em celebracao da primavera possuem luminosa exuberdncia, Certa ver se perguntou a um mestre ca: ligrafo por que ele cravava seus dedos manchados de tinta tdo fundo nos flos de seu pincel. Fle respondew {que somente assim conseguia sentir o Tao (espirito ccésmico que opera em todo o universo e seres anima: dose inanimados) fuir de seu brago, passar pelo pin- cel e chegar ao papel. Acreditava-se que a caligrafia tinha 0850s (autori- dade e tamanho), came (a proporeao dos caracteres), sangue (a textura da tinta fluida) e muiseulo (espitito eforgavital).A exuberante Paisagem de montanhae rio 2-7), do mestre ealigrafo Shitao Yuanji(1630-¢.1707), mostra quanto a caligrafia pode ser dinamica e criativa, com tragos amplos investindo pela pagina abaixo em contraste com tragos leves ¢ delicados de caracteres menores. Ela demonstra a habilidade da caligrafia chinesa de evocar objetos naturais, eriando movimento e energia num todo organico. AINVENCAO DO PAPEL Registros dindsticos atribuem a invengiio do papel a0 eunuco e alto funciondrio do governo Ts'ai Lun, que ‘comunicou sua invene20 ao imperador Hono ano 405 da era crista. Nao se sabe 0 certo se Ts' Lun real- mente inventou o papel, aperfeicoou uma invengao anterior ou patrocinou sua invencao. Entretanto, ele {foi deificado como 0 deus dos fabricantes de papel. Em épocas anteriores, os chineses esereviam em sipas de bambu ou tiras de madeira usando uma ca- neta de bambu com uma tinta densa e permanente, cujas origens sto obscuras. Negro de fumo ou fuli- gem eram depositados numa tampa em forma de domo sobre uma vasilha de 6leo com virias mechas incandescentes. A fuligem era recalhida, meticulosa- ‘mente misturada com uma solugio de goma usando lum almofariz e pildo depois moldada em bastoes ‘ou cubos. Para eserever, esse bastilo ou cubo era de- volvido ao estado liquido, esfregando-o com égua em ‘ema peda de entintar. As tras de madeira eram ut zadas para mensagens curtas; pecas de bambu de 23 ‘centimetros unidas com tiras de couro ou cordao de seda eram usadas para comunicagdes mais longas. Embora esses suportes fossem abundantese ficeis de preparar, eram pesados. Apés a invengo do teeido de seda trancada, este também foi usado como uma su- perticie de escrita, mas era muito caro. 0 processo de Ts’ai Lun para fazer papel conti snuou quase inalterado até que a fatura de papel foi mecanizada na Inglaterra do século xrx. Fibras natu- sais, entre elasa cascade amoreira, redes de eénhamo © trapos, eram embebidas em uma cuba d’gua e s0- ccadas até virarem polpa, Um operador de forma mer- gulhava um molde com formato de quadro e fundo de tela na soluedo de polpa, tirando dela apenas 0 su ficiente para a folha de papel. Com habilidade e dis- ‘cernimento répido, o operador de forma levantava 0 ‘molde da tina oseilando-o e sacudindo-o para eruzar entremear as fibras enquanto a gua escorria pelo. fundo. Em seguida o papel era estendido ou apertado sobre um tecido de la, 20 qual aderia enquanto secava. (© molde ficava liberado para reutilizacao imediata, As folhas estendidas eram empilhadas, prensadas, depois penduradas para secar. O primeiro grande aperfeicoamento do processo foi o uso de engomacao com amido ou gelatina para enrijecer e reforcar o pa pel eaumentar sua capacidade de absorvertinta. Nas primeiras décadas do papel, alguns chine- ses o consideraram substituto barato da seda ou do >bambu, mas, medida que o tempo passava, seu peso leve, fabricacio econdmica e versatilidade suplanta- ram todas as reservas. A qualidacle ésperae fibrosa do papel primitivo nao era problema, porqueo pincel de pelos, inventado muitos séculos antes, era o instru ‘mento principal de escrita, Rolos para escrita eram 9s colando juntas as folhas de papel, as vezes de- licadamente manehadas de azul ardésia, amarelo limao ou amarelo-claro e célido. Essas folhas eram enroladas em eixos de sindalo ou marfim, que eram ‘ocasionalmente adornados nas pontas com jade ou mbar, além de eserever nesse novo material, os chi- neses 0 usavam como papel de embrulho, papel de parede, papel higiénico e guardanapos. ‘A DESCOBERTA DA IMPRESSAO ‘A impressao, um dos principais feitos na histéria hu- ‘mana, foi inventada pelos chineses. A primeira forma foi a impressao em relevo; os espagos em volta de uma, imagem sobre uma superficie plana sio extraidos, aplica-se tina sobre a superficie remanescenteem alto- relevo e uma folha de papel é colocada sobre a superfi- ciee friecionada para transferira imagem tingida para © papel. Duas hipsteses foram propostas para a inven: 80 da impressao. Uma é que o uso de sinetes entalha- dos para produzir marcas de identificagdo evolu para a impressio. Jd no século ut aC, usavamse sinetes ot 55 3.8 Ochopchinés.O tar sonal carimbo chines de identfcarso Sinsertonabasedeuna Pequenaescuituradecoratia ‘seule em peda maca 3.9 Yuan Chao Mang Su cabre fe ovtha, seule avd. Era usados choos paralimprimiro rnomedes danos ou espectadores de uma pintura, 56 aoe carimbos para produzir impressdes em argila mole. -Muitas vezes, tiras de bambu ou madeira contendo es crita eram envolvidas em seda, que era depois selada ‘com argila carimbada com uma impresso. Durante a dinastia Han (século 11 do), sinetes chamados chops 8) eram feitos mediante o entalhe de caracteres caligrificos numa superficie plana de jade, prata, ouro ou marfim. O usuario entintava essa superficie plana comprimindo-a em uma tinta verme- Iha em pasta, feita de cinabre; depois, pressionavara sobre um suporte para formar uma impressio, como se faz hoje com carimbos de borracha. A impressio cera uma forma vermelha com caracteres brancos. Por ee volta do ano 500 dC passaram a ser usados chops dos quais o artesio havia recortado a dea negativa que circundava os earacteres, de modo que estes pudes- sem ser impressos em vermelho cireundados pelo papel branco (3.4). A técnica fundamental para axilo- _grafla achava-se agora disponivel. A pintura do século xv de Yuan Chao Meng-fu que retrata uma cabra e ‘uma ovelha (3.8) tem ambos os tipos de chops impres- sos em sua superficie: caracteres brancos invertidos de uma base sdlida e caracteres s6lidos circundados por uma base branca. A segunda teoria sobre as origens da impressa0 gira em torno da antiga pritiea ehinesa de fazer de~ calques tinta de inscrigSes entalhadas em pedra 5.10). A partir de 165 dC, 0s clissicos de Confiicio ram entalhados em pedra para garantir um regis- tro preciso e permanente. As desvantagens desses “livros” em pedra eram seu peso e o espaco que ocu: pavam. Um livro historico necessitava de 5,2 hectares para armazenar as tabuletas, dispostas como fileiras de lépides. Logo foram tiradas e6pias dessas inscri- es por decalques’tinta. Uma folha simida de papel fino era estendida sobre a pedra. O papel era aper tado para dentro das depressdes da inscri¢ao com uum pineel duro, Em seguida, uma almofada de pano com tinta era ligeiramente esfregada sobre a super: ficie para gerar uma imagem tingida a partit da ins cricdo entalhada. Embora nesse método a tinta fosse aplicada antes na saliéncia do papel do que na ima- .gem em relevo, 0 processo ¢ aparentado & impressio emrelevo. Jno segundo século da era crista, também se fa- ziam decalques a partir de esculturas de pedra em re- levo entalhadas como santusrios de oferendas e tum- bas (5.11), Em certo sentido, esses relevos eram mais prximos da pintura que da escultura, pois as figuras que povoavam os complexos desenhos eram tratadas como silhuetas chapadas com detalhe linear e muito pouca profundidade espacial. Em retrospecto, esses entalhes votivos ¢ tumulares nao se assemelham tanto com escultura ou pintura como com placas de Impressao xilogrifica. Nao se sabe ao certo se a impressto em relevo evo- luiu dos chops, dos decalques das inscrigdes em pe- dra ou de uma sintese de ambos. Exatamente quem inventou a impressio em relevo e quando e onde ela comecou continuam a ser um mistério. A trajetéria é mareada por reliquias nio datadas: tecidos impres- sos, imagens esténceis e milhares de impresses carimbadas da figura de Buda. Por volta de 770 dC, quando foi produzida a mais antiga impresstio em relevo datavel, a técnica estava bem desenvolvida, Usando pincel e tinta, o material a ser impresso era preparado numa folha de papel fino. A caligrafia era escrita, as imagens desenhadas. 0 abridor de blocos aplicava essa pagina fina ao bloco de madeira liso, com o lado da imagem para baixo, apés umedecer a superficie com uma pasta ou goma. Quando a pasta ‘ou goma estava rigorosamente seca, 0 papel era cui dadosamente esfregado. Uma frégil marca tingida da imagem, que agora estava invertida, permanecia na superficie do bloco. ‘Trabalhando com inerivelvelocidade e precisio, 0 3.10 Esteladevoconal busta, 58240. Estatabuletavotva em ped caeirin usta antiga praticachinesa de tazer Inscigdespermanentes¢ precisas mediante enae abridor de blocos entalhava a superficie em volta dab cu. imagem tingida, deixando-a em alto-relevo. O impres- sorentintava a superficie em alto-relevo, aplicava uma folhia de papel sobre ela, depois esfregava o verso do papel com uma borracha ou pincel rigido para trans ferira tinta para a pagina, que em seguida era levan- tada do bloco. 0 método era to eficiente que um in pressor qualificado conseguia tirar mais de duzentas impressdes por hora. 57 2.11 scutua tumularchinesa femlevoe decalque,dnasis ido none (550-5770) Imagensiusratvasdavidado falecido so captadas em pede tinta sobre papel Durante o século vin, a cultura chinesa e a reli gio budista foram exportadas para o Japao, onde foi produzida a mais antiga impressao datavel existente. Consciente da terrivel epidemia de variola ocorrida, trés décadas antes, a imperatriz japonesa Shotoku decretou que + milhao de eépias dos dharani (man. tras) budistas fossem impressos e colocados dentro de 1 milhio de pagodes em miniatura de cerca de 14,5 centimetros de altura [3 12). Aimperatriz estava tentando seguir os ensinamentos de Buda, que havia aconselhado seus diseipulos a escrever 77 e6pias de um dharani e deposité-las num pagode ou colocar ‘cada um em seu préprio pequeno pagode de argila. Isso prolongaria a vida da pessoa e por fim a levaria ao paraiso, Os esforgos da imperatriz Shotoku fracas saram, pois ela morreu por volta da época em que os ‘mantras estavam sendo distribuidos, enrolados em seus pequenos pagodes dle madeira de trés andares. ‘Mas a enorme quantidade produzida, associada a0 seu valor sagrado, possibilitou que inuimeras c6pias sobrevivessem até hoje. (© mais antigo manuscrito impresso encontrado é o Sutra do Diamante |3.13]-le consiste em sete folhas de papel coladas para formar um rolo de 4,9 metros de comprimentoe 30,5 centimetros de altura. Seis flhas de texto transmitem as tevelagdes de Buda a seu dis- cipulo mais velho, Subbutiza sétima é uma complexa ilustragao linear entalhada em madeira mostrando 0 Buda e seus diseipulos. Buda decretava que “aquele ‘que repetir este texto ser4 edificado”. Aparentemente ‘um certo Wang Chieh respondeu ao encargo de Buds, pois as linhas finais do texto declaram que ele fez 0 Sutra do Diamante para uma distribuigdo ampla € gratuita em honra de seus pais na data equivalente 111 de maio de 868 da era crista. A exceléncia da im- presstio indica que o oficio havia aleancado um alto nivel no momento em que foi produzida. Durante o inicio do séeulo x 0 governo chinés comecou a emitir certfieadas de depésito em papel ‘para mereadores que depositassem no estado moeda corrente de metal. Quando ocorreu uma critica escas- sez de moeda em ferro na provineia pouco antes do HR ERTR tee ano 1000, 0 papel-moeda foi desenhado, impresso usado em lugar das moedas de metal. O governo assumiu 0 controle da produgio de moeda corrente «miles de notas por ano foram impressas. A infla- edo e a desvalorizacto logo se seguiram, bem como csforgos para restabelecer a confianca: imprimiu-se dinheiro em papel perfumado com alto teor de seda,, outro tanto foi impresso em papel colorido, ea falsi- ficacdo era punida com pena de morte. Dessa forma, China tornou-se a primeira sociedade na qual pes- soas comuns tinham contato disrio com imagens 3.13 0Suttado Diamante, a 286810. Wang Chien buscou =rimoremento esprit encomendando repreducio ingressa co Sutra do Diamante: aampaclsserina ‘30 doconhecinentaera HBP Re Mee a hee fag ae aes ek TEM SM = RG Oe HRA €, : Se Se Rm GRRE Oa ha ng coat FRURG | Hetie - ore th th ee BAL OS Be ES on es impressas, Além de papel-moeda, xilogravuras exi- indo imagens e textos religiosos tiveram ampla dis- tribuigao (9.14 No século x, constataramse erros nos clissicos confucionistas. 0 primeiro-ministro chinés Fang Tao ficou profundamente preocupado cachou que tinham de ser feitos novos textos do mestre. Sem os recursos necessdrios para o extenso entalhe de inserigdes em_ pedra, Fang Tao recorreu, para essa tarefa monumen- tal, a0 método em ripido desenvolvimento da xilogra- fia. Com os grandes eruditos do século como editores 3.12 Amuletos budistas chamados chara 77040 Enrladaseinseridas ern pequenos pagodes, estas primera amostras de impressio em relevotinham 0 textoimoreso em caigrafa chiness eum ado 8m Sinserte do out. 59 3.14 impress logriica chinese, 9504C. Um texto de oardo#eoocad sob jusrac de Manse. a persanifieacsobucita da suprema sabedora, cal 60 Ee PRR D awa ae. 6 € um famoso ealigrafo supervisionando a redagio das c6pias matrizes, a produgio dos 130 volumes dos nove classicos confucianos e mais os comentérios consumin vinte anos, de 933 2953. Embora o objetivo original ndo fosse disseminar conhecimento para as rmassas, mas autenticar os textos, Fang Tao clegeu um oficio relativamente desconhecido ¢ o introduziu na corrente principal da civilizagio chinesa. © rolo foi substituido por formatos paginados no século 1x ou x. Primeiro, foram feitos livros pre- sgueados que se abriam como um acordedo. Pareciam rolos dobrados como um félder em vez de enrolados, No século x ou xi, desenvolveram-se os livros costu: rados. Duas paginas de texto eram impressas a par tir de um bloco. Depois a folha era dobrada a0 meio ‘com 0 set lado nao impresso voltado para dentro eas ‘duas paginas impressas viradas para fora. Sequéncias dessas folhas dobradas e impressas eram reunidas e ‘costuradas como um livro no formato de cédice. AS paginas do herbario medicinal Pen ts'ao 2.15] foram ‘montadas dessa maneira, Tustragdes e ealigrafia eram usadas para os cabecathos. Um desenho usado para separar o texto em secdes era mostrado no cen- tro da pagina do lado direito. ‘Outra forma antiga de design grifico e tipografia cchineses foi o baralho (3.16). Esses “dados em forma de folha” foram impressos inicialmente em pesado papel-cartio mais ou menos na época em que os livros paginados estavam substituindo 0s rolos manuscrtos. ‘um marco na xilografia - reproduzindo com per- feicdo uma maravilhosa caligrafia ~ foi estabelecido ‘na China por volta do ano 1000 e jamais foi superado, Em seu colofiio, o nome do caligrafo figurou ao lado dos nomes do autor e do grafico. Aos graficos do Es tado se juntaram os grificos particulares a medida que histérias e herbarios, ciéncia e ciéncia politica, poesia €prosa eram entalhaclos em blocos de madeira cc impressos. A revolugio silenciosa que a impressio operow na vida intelectual chinesa provocou um re- naseimento do aprendizado e da cultura tal como 0 que certamente provocou no Ocidente a invengio do tipo mével por Johann Gutenberg mais de quatrocen. tos anos depois. AINVENGAO DO TIPO MOVEL ‘Numa impresstio porxilografia, como a da figura 3.14, ‘a madeira em volta de cada caractere caligrifico ¢labo- riosamente recortada. Por volta de 1045, 0 alquimista cchinés Bi Sheng (102-1063) ampliou esse sistema desenvolvendo 0 conceit de tipo mével, processo inovador que nunca se generalizou na Asia. Se cada cearaetere fosse uma forma individual em alto-relevo, raciocinow ele, qualquer quantidade de caracteres poderia ser colocada em sequéncia numa superficie, centintada e impressa, Ele produziu seus tipos a partir de uma mistura de argila ¢ cola. Esses caracteres eali- sgrdficos tridimensionais eram cozides sobre uma fo- sgueira de palha até queenrijecessem. Para compor um texto, Bi Sheng os colocou lado a lado sobre uma placa de ferro revestida por substineia cerosa para manter 1s earacteres no lugar. A placa era suavemente aque “ogre, margens generosas orem a pegina, ea Sete = moh aoe ee SSeS SS Sreestcet oe ok re ee R ania 3.16 Baath chinés, nao ida para amolecer a cera e uma prancha plana era apertada sobre os tipos para encaixé-los firmemente no lugar e igualar sua altura em relacio a superficie da forma. Apés a cera esfrar, a pagina de tipos caligraf cos era impressa exatamente como uma xilogravura Depois de concluida a impressio, a férma era aque- cida novamente para amolecer a cera e 0s caracteres poderem ser guardados em caixas de madeira, Como a escrita chinesa no ¢ alfabética, os tipos cram organizados segundo as rimas. O grande ni: mero de caracteres nas linguas asiéticas dificultava a tarefa de arquivar e recuperar os caracteres, Mais, tarde, 08 chineses chegaram a fundir letras em esta: nho e a abri-las em madeira (3.17), mas, no Oriente, os tipos méveis nao chegaram a substituir o bloco de madeira cortado A mao. 6 2.17 Tiposmoveischineses, 739020. Este grupo detipas enahacs em madera vaio, femtamanho, de cercade 3.18 lmagem slogrifcade uma cia de pos otatva, 11300, Etaitusvarae cuosaments eslzada mosta cain rotatvapojtada pre darmaiseficincia Acomposicso. 62 aa ‘Um esforgo notével para fazer impressbes a partir de tipos méveis de bronze teve inicio na Coreia sob o patrocinio do governo em 1403, Caracteres cortados de faias eram pressionados dentro de uma gamela ccheia de areia fina, produzindo uma impressao em baixo-relevo. Uma tampa com furos era colocada so- bre a impresséo ¢ vertia-se bronze derretido dentro dela. Apés esfriado bronze, formava-se um carac- tere tipogrifico, Esses caracteres de metal, natural- ‘mente, eram menos frigeis do que os tipos de argila de Bi sheng, E curioso que o tipo mével fosse inventado cialmente em culturas cujos sistemas de linguagem escrita nao eram constituidos por centenas, mas por milhares de caracteres. Com um total de mais de 44 mil caracteres, nilo admira que o tipo mével jamais centrasse em uso generalizado no Extremo Oriente. Um esforgo interessante para simplificar a classifica 20 ea definicdo de tipos foia invencdo de uma mesa com um tampo giratério de 2,13 metros de didmetro 5 18). Otipégrafo podia sentar-se a essamesae giri-la para aleangat a seco com o caractere desejado., Foi imensa a contribuigdo chinesa a evolucdo da ‘comunicacao visual, Durante o milenar periodo me- ieval da Europa, a invengao do papel e da impressio pela China se disseminou lentamente para 0 Oct dente, chegando a Europa quando comecava o Renas- cimento. Esse periodo de transicdo na histéria euro- peia comecou na Itilia do século x1v foi marcado por ‘uma redescoberta do conhecimento clissico, um flo- rescimento das artes e os primérdios da ciéncia mo- derna. Tudo isso contou com a ajuda da impressao.

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