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Instrumentos de Medição e Avaliação em Amputações Transtibiais:

Ambiente clínico vs Ambiente real


Pereira, Catarina¹
¹Estudante do Mestrado em Engenharia Biomédica, Instituto Superior de Engenharia de Lisboa e Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa

Estima-se que nos Estados Unidos da América, 2 milhões de pessoas vivem com amputações de um membro, sendo que 45% destas amputações são devidas a eventos traumáticos.1 A amputação
unilateral transtibial provoca alterações significativas na locomoção dos indivíduos, sendo o principal objetivo nestes casos a reabilitação da marcha de modo a minimizar as limitações na realização de
atividades.2–4 O membro amputado é substituído por uma prótese que é adaptada e otimizada ao longo do tempo, de modo a que os seus constituintes sejam os mais adequados para o individuo e para
as atividades que por ele são realizadas.2 De modo a ser possível avaliar e quantificar os critérios necessários que permitem a melhoria contínua e que garantem a adaptabilidade, podem ser utilizados
vários instrumentos de medição e avaliação.3 É importante avaliar critérios em ambiente clínico e completar com parâmetros avaliados na vida quotidiana de modo a providenciar a prótese mais
adequada à atividade física de cada amputado.5 Morgan et al. desenvolveram um estudo em que são aplicados vários instrumentos de medição e avaliação para perceber qual seria o pé protésico (ESF –
energy storing feet vs XF – crossover foot) mais apropriado para cada pessoa tendo em conta a sua atividade diária e as suas necessidades.5

Avaliação em ambiente clínico 3,5,6

Six Minute Walk Test (6MWT) Borg-CR100 Rating of Perceived Exertion (RPE) 4.9m GAITRite System

• Os participantes são instruídos a andar o mais rápido • Avalia a perceção de esforço. • Avalia o desempenho da marcha.
que consigam durante 6 minutos. • Variável em estudo: Classificação Borg CR-100 que • Consiste numa passadeira sensível à pressão.
• Variável em estudo: Distância percorrida (m) durante varia entre 0-120 pontos. • Variáveis em estudo: Velocidade média da caminhada
6 minutos. • Valores superiores indicam maior esforço. (m/s); largura do passo (cm); comprimento/tempo da
passada do lado não amputado (cm e s), entre outros.
30 metros

Avaliação em ambiente real 3,5,6


Patient-Reported Outcomes Trinity Amputation and
StepWatch 3 step activity Prosthetic Limb Users Survey Activities Specific Balance
Measurement Information Prosthesis Experience Scale
monitor (SAM) of Mobility (PLUS-M) Confidence Scale (ABC)
System-Fatigue (PROMIS-F) (TAPES)

• Contador de passos eletrónico • Formulário de 12 itens que • Questionário de 12 itens que • Questionário de 16 itens que • Avalia as restrições de
que é acoplado à prótese. mede a mobilidade dos avalia os sintomas e os efeitos permite medir a confiança no atividades (TAPES-AR), a
satisfação associada à função da
• Variável em estudo: número de membros protésicos da fadiga na execução de equilíbrio, através da realização
prótese (TAPES-FUN) e a
passos diários (passos/dia). • Variável em estudo: PLUS-M T- atividades diárias. de várias atividades. estética da prótese (TAPES-AES).
score que varia entre 17,5-76,6. • Variável em estudo: PROMIS-F • Variável em estudo: escala ABC • Variáveis em estudo: escala que
• Valores elevados indicam T-score que varia entre 29,4- que varia entre 0-4. varia entre 0-2.
melhor mobilidade. 84,0. • Valores elevados indicam maior • Valores superiores indicam mais
restrições e maior nível de
• Valores elevados indicam mais confiança no equilíbrio.
satisfação.
fadiga.

Aplicação na escolha do pé protésico5


Tabela 1: Caracterização dos participantes no estudo
Características (n=27) Valor médio
XF XF XF XF
Idade (anos) 42,3
1 mês de utilização Recolha de dados 1 mês de utilização Recolha de dados
Tempo desde a amputação (anos) 11,7 Seleção de
15,2 Participantes ESF
Uso da prótese (horas/dia) ESF ESF ESF
Medicare Functional Nível K2 1 1 mês de utilização Recolha de dados 1 mês de utilização Recolha de dados
Nível K3 16
Classification Level Nível K4 10
Tabela 2: Resultados dos parâmetros avaliados em ambiente clínico Tabela 3: Resultados dos parâmetros avaliados em ambiente real

ESF XF ESF XF
(energy storing feet) (crossover feet) Diferença entre (energy storing feet) (crossover feet) Diferença entre
vs Média Desvio Média Desvio
vs
XF-ESF XF-ESF
Média Desvio Média Desvio
padrão padrão
Resistência (6MWT, m) padrão padrão
537,1 100,8 543,3 92,6 6,2 Atividade de passos diários 4307 1750 4109 1517 -198
RPE (Borg CR-100) 47,3 28,0 36,4 31,4 -10,9 (passos/dia)
Velocidade da marcha (m/s) 1,60 0,31 1,62 0,29 0,02 Mobilidade (PLUS-M, T-score) 59,3 7,5 64,2 7,7 4,9
Largura da passada 13,7 3,5 13,7 3,8 0,0
Fadiga (PROMIS-F, T-score) 49,1 7,4 45,4 7,5 -3,8
Comprimento da passada do lado 79,4 9,4 78,8 9,2 0,7
amputado (cm) Confiança no equilíbrio (ABC) 3,2 0,7 3,5 0,4 0,3
Comprimento da passada do lado 76,5 9,8 79,5 10,2 3,0
não amputado (cm) Restrição de atividades (TAPES- 0,6 0,4 0,4 0,3 -0,2
AR)
Tempo da passada do lado 0,49 0,05 0,49 0,05 0,0 Satisfação funcional (TAPES- 1,3 0,5 1,8 0,4 0,5
amputado (s)
FUN)
Tempo da passada do lado não 0,50 0,05 0,50 0,05 0,0 Satisfação estética (TAPES-AES) 1,5 0,5 1,5 0,5 0,0
amputado (s)

Através da avaliação dos parâmetros em estudo, foi possível verificar a complementaridade existente entre as medidas de desempenho em contexto clínico e as medidas adquiridas através da perceção dos
indivíduos. Os resultados gerais indicam um desempenho similar ou ligeiramente melhor com a utilização do XF, sendo importante notar que as diferenças significativas foram baseadas em medidas da
perceção dos indivíduos. Estes revelaram melhor mobilidade e satisfação funcional, menor fadiga e menos restrições de atividades. O comprimento da passada do membro são foi significativamente maior
para o XF. Estas mudanças permitem normalizar a simetria do comprimento do passo entre o lado prostético e o lado são o que reduz condições físicas secundárias, como é o caso da osteoartrite.
No geral, a XF é um avanço promissor na tecnologia do pé protésico em adultos ativos com amputação transtibial unilateral, embora seja necessária a realização de mais estudos para comprovar a eficácia
para outros grupos com amputações dos membros inferiores. 5
1. Wasser JG, Herman DC, Horodyski M, Zaremski JL, Tripp B, Page P, et al. Exercise intervention for unilateral amputees with low back pain: study protocol for a 4. Darter BJ, Bastian AJ, Wolf EJ, Husson EM, Labrecque A, Hendershot BD. Locomotor adaptability in persons with unilateral transtibial amputation. PLoS One.
randomised , controlled trial. BioMed Cent. Trials; 2017;1–11. 2017;1–18.
2. Childers WL, Takahashi KZ. Increasing prosthetic foot energy return affects whole-body mechanics during walking on level ground and slopes. Sci Rep [Internet]. 5. Morgan SJ, Mcdonald CL, Halsne EG, Cheever SM, Salem R, Kramer PA, et al. Laboratory- and community-based health outcomes in people with transtibial
Springer US; 2018;1–12. amputation using crossover and energy- storing prosthetic feet : A randomized crossover trial. PLoS One. 2018;1–18.
3. Arch ES, Sions JM, Horne J, Bodt BA. Step count accuracy of StepWatch and FitBit OneTM among individuals with a unilateral transtibial amputation. Prosthetics 6. Reid L, Thomson P, Besemann M, Dudek N. Going places: Does the two-minute walk test predict the six-minute walk test in lower extremity
Orthotis Int. 2018;1-9. amputees ? Rehabil Med. 2015;256–61.

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