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opeigopre29 = So2uodumv0> 058800140 asa opu wad adm nos 9p 2 avousraco s.scoiL pod Ox, ewe sesssaupuEoyy LSYO3OSEVIVIAY Uap e0ss2J015 OS © OOOO OOOO OOOOHOHOHSCEHHHHHHHOE Lumen} Joao ‘Conseso Boron ‘Alexandre Fae Cimara ‘Amiton Buono de Carvaiho (orar Robert Btoncout (ona Faces Ctistiano Chavos de Favs Carlos Bavaria Adan dapines hia Donizt Poual tiacan Chole Fly Nadeimeato Fito Franioc da Asse. Toes Gustave Sénéchal de Gothodo 4. Loon! Lopes de Olas Uteia Antinio Choon Jusae Monee! Messes Pessina Darooe vena Villa Sota olson Resonate Paulo de Bessa Antunes Paulo Range leado sine Gomes Faas Salada Carvalho Vitor Goma Brummond ‘Tata Mamotaa Sota Jonge (Centro =n d Asai, 10 Loft ep seoit.ana Cate ‘na cn) 25912109 roe z202 3040 ac en Amin Da Deva Tce Rl do Jana ‘tl @ny em asin 3150500 ‘nee (1) S806 020 / 50-772 SOLS quad, 402 boeoB ja 35 {Cee venas sta han Sa Doin DE ‘na nnzas ses ' b furis| Brora wwwwlumenjuris.com.br Eorrones Jodo de Almeida Tule da Siva Almeida, CConezue Consura ‘Atwaro Maite a Costa Antonie Cvs Martine Somes ‘gusto Zimmermann ‘ute Wander Baton Bhda Sogn Flivie Lagos de Castro via Aver Marine (ies Catan unter Dalla Bernat de Pino Jojo Thestonio Mendes da Almeida J ‘out Fornanda de Carre Farias 1 Fran Mesos Marella iotola (rae Gana Ten Kauss Raft Baneto Sepia Demero Haman as Ge tesa 800i ‘muan aarti Tan et reabe 909 Cue 4770235, mon anne isrande dat ih apa « Goa Fo Sy aia pnt santo ‘nivten aavenennazaee0 FLAvia Laaes pe CASTRO ‘Mostro om Histéria Social HistTOrIA DO DIREITO GERAL E BRASIL 58 edicao Eprrora Lumen Junis Rio de Janeiro 2007 © 2007 by Flavia Lages de Casto Produgio Buitor Livraria o Eaitora Lumen. is Ltda. ALIVRARIA E EDITORA LUMEN nao se responsabiliga pelas opiniGes emitidas nesta obra. riais. A violagdo de direitos autorais, de 19/07/2003), sujeitando-se & busca e apreensio © indenizagdes diversas (Lei ne 9.610/98). ‘Todos os direitos desta edigio reservados & Livraria ¢ Editera Lumen Juris Ltda, Impresso no Brasil Printed in Brazil igo Ponal, art. 184 © §§, @ Lei n® 10.095, Para minha mae. © © © © OY OO OOOO OOOOH OHHKEEHHHHSBIVE Sumario INTRODUCAO: HISTORIA E HISTORIA DO DIREITO 1. Historia ns Dir@ito wren Historia do Direito Objetivos do Estudo de Histéria do Direito. Esto Livro CAPITULO I: 0 DIREITO DOS POVOS SEM ESCRITA 1, Caracteristicas Gerais dos Direitos dos Povos Agratos. 2, Fontes dos Direitos dos Povos Agrates. 3, Tansmissio das Regras. CAPITULO II: AS PRIMETRAS LEIS ESCRITAS E © CODIGO DE HAMMURABL 1. O Crosconte Fértil © as Primeiras Leis Esoritas 2. Algumas Consideragdes Sobre as Leis Anteriores a Hammu- abi. i ssn 3. A BabilOnia de Hammurabi... 4, Sociedade e Economia da Babilénia Hammurabiana 4.1, Questées Acerca dos Escravos 5, Alguns Pontos do Cédigo de Hammurabi. CAPITULO I: DIREITO HEBRAICO 1. Introdugio i 2. A Sociedade e a Vida Economica... 3. ALei Mosaica. sttninnnnn 4, A Formagio do Direito Hebraico — da Legislagtio Mosaica 0s Dias de Hoje. 5. Algumas Leis do Deuteronémio.. CAPITULO IV: 0 CODIGO DE MANU 1. Introdugio... 2. Contuxt Historice u 2 13 16 16 ”7 27 28 29 31 32 43 43 3. Sociedade... 4. Religiao 5. Alguns Pontos do Cédigo de Mane CAPITULO V: GRECIA cal 1. Introdugio 2. spartans 2.1. Sociedade 2.2. Eeonomia 2.3, Politica. 7 2.4. Cultura @ Ideologia sn 3, Atenas 3.1, Drécon 3.2, Sélon 3.2.1. Economia . 3.2.2. Sociedade. 3.2.3. Politica, \PITULO VI: ROMA E O DIREITO ROMANO: 1, Introdugéo 2, Histéria do Roma: Divisao Politica... 2.1. A Realeza e suas Instituigbes Politicas 2.2, A Repiilica e suas Instituigdes Politicas 2.3, O Império @ suas Instituig6es Politicas... 2.4, As Mudangas em Roma Apés as Conquistas. 2, © Diteito Romano 3.1, Definigées ¢ Caracteristicas 3.2, Periodizacao do Direito Romano, 8.2.1, Periodo Arcaico 3.2.2, Period ClAssi00 3.2.3, Periodo Pés-Classico . 3.3, Fontes do Direito Romano 3.3.1. Costume: 7 3.3.2, Leis @ Plobiscites. 3.3.8, Bdito dos Magistrados 3.3.4, Jurisconsultos 3.3.5, Senatus-Consultos. 3.3.6. Constituig6es Imperiais 3.4, Diviséo do Direito Romano. 3.4.1, Divisdo Baseada na Origem. 4a 46 a 65 66 or 69 n n 2 73 14 1” % % 7 78 19 73 82 ag 83 83 Ba 84 a5 a5 86 86 87 88 89 90 a 92 92 3.4.2, Divisio Baseada na Aplicabilidade 93 3.4.3. Divisdo Baseada no Sujeito, 93 3.8. Capacidade Juridica de Gozo. 93 3.1, Status Libertatis. . 9.5.2. Status Civitatis...ssunnnnnnmn winsence 16 3.8.3. Status Familiae.. . casino: (OB 3.84, Causas Restritivas da Capacidade Juridica do Goro.. : 97 3.6. Direito de Familia. 97 36.1. O Patrio Poder 98 3.6.2. O Casamento.... 99 3.6.3. O Divércio. 103 3.6.4. 0 Date - 104 3.6.5. A Adogio 104 3.7. Tutela e Curatela, 105 3.7.1. Tutela, 105, 3.72. Curatela, 106 3.8. Sheassso, 107 3.8.1. Heranga.. 108 3.82. Testamento.... 108 3.9. Posse e Propriedade. 109 3.10. Delitos 110 3.10.1, Causalictade 12 310.2, Imputabilidade. 12 3.10.3. Extingéo da Punil 113 3.10.4, Co-Delingéneia . 13 3.10.5, Retroatividade da Lei Penal. 14 3.10.6. Aiguns Delitos.. 14 3.11, 0 Estudo do Diteito e os Advogados em Roma. 15 capiTULo vi: A EUROPA MEDIEVAL. 1. Introdugao. 9 2. Sistema Foudal 120 2.1, Caractoristicas.. 120, 2.2, Contrato Feudo-Vassalico. 2 322 2.2.1. Os Bfeitos do Contrato Feudo-Vassalica .. 123 2.2.2. O Fim do Contrato Foudo-Vassilico.... 124 2.2.3. Os Direitos de Uso e Propriedade no Contrato Foudlo-Vassalico 2. As Relagdes Foudo-Vassiilicas © a Justiga 128 126 © OOOH OO MOH OOOOH HOEHESHHEHHHHIOE 3. Os Direitos da Idade Madi nonnnn ss 127 3.1. Diteito Germanico...... 127 3.1.1, O Reino Vandalo 129 3.1.2. O Reino Ostrogodo. 130 3.1.3. O Reino Visigodo.... 130 3.1.4, O Reino dos Burgindics. 131 3.1.8, O Reino dos Francos : 131 8.2, 0 Direito Canénico.. 132 3.3. 0 Direito Romano. fonnnnnnnnnnnenn 138 4, A Inquisicao 137 4.1. O Tibunal do Santo Offcio o os Tubunais Secvlares..... 138 CAPITULO VII: 0 ISLA. 1. Introdugao, 145 2. O Ambiente do Surgimento do Isla. 146 3. A Pundagdo do Islamismo 147 4, © Ditelto dos Mugulmanos, 150 5. O Alcorio.. 152 5.1, Alguns Pontos do Aleorio. 154 CAPITULO IX: O DIREITO INGLES |. Introdugao. 181 2, Direito Inglés ~ A Histéria e a Formagao do Statute Law... 182 3. A Divisao do Direito Ingles 196 CAPiTULO X: DA MONARQUIA ABSOLUTA AO ILUMINISMO_ 1. © Absolutismo Mondrquico 199 1.1. A Franga de Luis XIV... 200 2, O lluminismo o as Criticas ao Estado Absolutista. 205 3. Cesare Becearia, 210 3.1, As Idéias de Cesare Beccatia... 212 4, Outros Pensadores ~ Criminalistas do lluminismo... 222 CAPITULO Xt: AS REVOLUGOES - ESTADOS UNIDOS E FRANGA NO SECULO XVI 1. A Independéncia dos EUA. 225 La Inudugie.. 225 1.2. O Inieio do Processo de Independéncia e a Declaragio de Direitos do Bom Povo da Virginia .. 230 1.3. A Declaragao de Independéneia ..... . 235 1.4, A Constituicao Norte-Americana.. nissan 297 1.8, A Equity ¢ a Common Law nos Estados Unidos. 2a3 A Revolugio Francesa. 245, 2.1. Introdugao. 245, 2.2. Conjuntura Politico Beonémica Pré-Rovolucionavia..... 245 2.3, A Assembléia Constituinto 0 a Doslaragéo dos Dicetes do Homem e do Cid 2a7 2.4. A Declaragio dos Diteitos da Muther o da Cidada. 251 2.8, As Constituigdes Revolucionarias.... i 259 2.6. Era Napolednica e 0 Cédigo Civil... 260 CAPITULO XII: AS LEIS PORTUGUESAS 1. Os Primettos Habitantes e a Romanizacao . 267 2, Os Mugulmanos na Peninsula... . were: 260 3. O Nascimento de Portugal... 270 4. A Era das Ordenagéos 272 4.1. As Ordenacées Afonsina: 272 4.2. As Ordenacées Manuelin: 7 2n7 4.3. As Ordenagées Filipinas : 281 8. O Periodo Pombalind...nsmnsnnmnnnnnnnn soe 291 6. As Constituicdes Portuguesas... 233 CAPITULO XII: BRASIL COLONIA 1, Sem Fé, som Lei, sem Roi 297 Os "vatados Antes do Brasil o Limites de Terras 300 © Antigo Sistema Colonial e os Primeitos Documentos Jurt dicos na Coldnia.. © Municipio, 0 Governo Geral va * Montage do um Apara to Juridico na Coléni 304 © Diteito sob o Dominio Holandés no Nordeste Brasitei... 311 302 6. A Legislagao Especifica da Regiao das Minas. 314 CAPITULO XIV: BRASIL REINO 1. Introdugae.. 319 2 A Corte Portuguesa no Brasil @a Subordinagio A Inalatowe 21 2.1. A Chegada da Corte o a Abertura dos Portos. 2.2. A Liberagao de Manufatras eco. 3. A Reorganizagao do Estado Portuguas no Brasil ¢ a lin troga do Mereade Brasileiro 321 327 2.4, A Justiga no Periodo Joanino 2.5. A Blevagao do Brasil & Condigao de Reino Unido. CAPITULO XV: BRASIL IMPERIO 1. A Independéncia do Brasil e a Constituinte de 1823... 2. A Constituigdo Outorgada de 1824.. 2.1. Aiguns Pontos da Constituigao do 1824... © Gédigo Criminal de 1830 4. 0 Cédigo de Proceso Criminal de 1832 ¢ 0 Ato Adicional do 1834. . 4.1. O Cadigo de Processo Criminal. 4.2. O Ato Adicional 43, Outras Leis do Period Imperial. Nascimento da Tradigo Juridica Brasileira. 6. A Escravidao e a Lei: Condigdes e Abolicao .. 6.1. As Leis Abolicionistas G.1.1. A Lei Eusébio de Queiroz 6.1.2. A Lei do Ventre Livre. 6.1.3. A Lei dos Sexagenatios. 6.1.4. A Loi Aurea... CAPITULO CVE: REPURLICA VELHA 1. A Proclamagao da Ropiblica e a Constituicao de 1891 1.1. Alguns Pontos da Constituigao de 1891 1.11, A Repiblica Federativa dos Estados Unidos do Brasil. 1.1.2, 0 Poder Executivo.. 1.1.8, O Poder Judiciatio. 114. O Poder Legislative. 1.15, 0 Sistema Eleitoral... 1116. As Novidades da Constituigao de 1891 . 2, © Cédigo Penal do 1890. : 2.1, Alguns Pontos do Gédigo Penal de 1890. 3, O Cédigo Civil de 1916... . CAP{TULO XVI: ERA VARGAS - 1930 A 1946 1. A Revolugao de 1930 e o Governo Provisério..... 11. A Organizagio das Cortes de Apelagio do Distito Fo- io da Ordem dos Advogados Brasileiros eral ¢ a Cri 1.2. 0 Cédigo Eleitoral de 1932 333 341 345 354 355 37 381 332 384 385 385 387 394 397 398 402 405, 407 ais as 416 416 420 422 424 427 428 434 . 439 442 443 2. A Constituigao de 1994 . 2.1, Caracteristicas Gerais do Estado Brasileiro... 2.2. A Competéncia para a Elaboragao de lesisingao i 2.3. Municfpios . i 2.4, Poder Executivo Federal... 2.8. Poder Legislativo Federal. 2.6, Poder Judiciario, 2.7. Consellios Técnicos 2.8, O Voto ¢ o Sistema Eleitoral 2.9. Garantias Individuais 2.10. Trabalho, 2.11. A “Justica" do Trabalho. 2.12. Nacionalismo 2.18, Educagao..., 2.14, Assisténcia do Estado ¢ Casamento. 2.15. A Mudanga da Capital 3. A Constituigao de 1937 e a Ditadura Estadonovista 3.1, Antecodentes .. 3.2. A Constituigao de 197 3.2.1. A Justificativa da Constituigao 3.2.2, Uma Constituicao de Ditadura: Todo Poder a0 Bxocutive Podoralinnnrn 3.2.3. 0 Consetho da Economia Nacional... 3.2.4. 0 Poder Judiciatio.. 3.2.5, Voto ueninly 3.2.6. Os "Direitos © Garantias Individuais" 9.2.7. Educacdo e Familia.. A Policia, a Justiga @ Outras Instituigoes da Eva Var. G8 oe i aii 4. © Movimento Operirio: Da Década de 20 2 CLT. CAPITULO XVII: BRASIL - DE 1946 A DITADURA MIITAR 1. O Fim do Estado Novo e a Constituigéo de 1946 1.1. A Constituigao de 1946 .. : 1.1.1. O Poder Executivo.. 1.1.2. O Poder Legisiativo... 1.1.3. 0 Podior Judiciao. 444 446 407 449 450 482 455 457 458 459 467 408 469 469 476 arr . an 492 483 . 404 434 408 490 - 481 492 496 505 508 806 508 510 © OO OY OOOOH OHOOEH OHHH HHHOSCHHESHOE 1.1.4, Ministério Pablico.... 1.15, Estados e Municipios..... LLG. Os Diroitos . 2. A Ditadura Militar. 2.1, Antecodentes ... : 2.2.0 Ato Institucional (0 n" 1) 2.3. O Ato Institucional na 2 . 2.4. 0 Ato Institueional ne 3 25, 0 Ato institucional n2 4 @ a Constituigao de 1967 2.6. O Ato Institucional ne 5.. 2:7, Outras Leis do Regime Wilitar e a Emenda Constitucio- nal ne 1 de 1969. CAPITULO XX - A REDEMOCRATIZAGAO E A CONSTITUICAO DE 1988 1. 0 Fim do Rogie Milita 2. AConstituinte de 1987. 3. Caracteristicas Gerais da Constituigao de 1908. Referéneias Bibliogriificas 516 817 519 523 523 528 504 543 544 550 587 561 562 cd 865 Prefacio Foi com grande prazer que recebemos 0 convite da Professora Flavia Lages para prefaciar seu livro Hist6ria do Direito ~ Geral e Brasil. Sabemos que sua escola nao foi, como poderia parecer a priori, por sermos historiadoras nem por nosso conhecimento do Direito Romano. ‘Temos certeza de que a amizade nasceu entre nis no Mestrado em His: teria da USS quando fomos professoras, e sua Orientadora foi responsai- vel pela gontiloza de Flavia. Naquola ocasifo a autora iniciava sua ca- minhada na dificil “arte de escrever", quando defendeu com brilhantis- ‘mo sua Dissertagao de Mestrado e redigiu seu srimeiro trabalho como historiadora, Nossa alegria foi enorme ao vé-la continuar sew caminho, escrevendo este livro, onde procura defender verdades incontestes, nem sempre compreendidas pela comunidade académica. Referimo- nos a importincia que muitas vezes néo 6 concedida ao conhecimento histérico por especialistas do algumas aroas das Ciéncias Sociais, Flavia, ao conseguir desenvolver de forma sintética assunto tao abrangente ¢ complexo, mostrou sua inclinagio para Pesquisa Giontifica, revelando que a defesa de sua Dissertagao nfo foi somente uma exigancia para concluséo do Curso de Mestrado em Histéria Social A Historia do Dizeito & condigdo sine qua non para que os futuros advogades possam melhor conhecer as estrutucas, as conjunturas & 0 contexto que levaram os legisladores a elaborarem as normas do Direito. ‘Aleitura de sua obra é importante nao sé para os estudantes que desejam conhecer a histéria do Direito, mas também para os profissio- nhais @ 0 piiblico em geral Aeescrita do livro de Flavia nao se reduz. a uma narrativa historico- linear, “fragmentada em migalhas". £ um trabalho que incentiva 0 leitor & pesquisa e & reflexio critica Sou estilo é objetivo, dospojado, ologante ¢ de agradiivel leitura, embora sua narrativa pouco convencional reflita sua personalidade, ‘sua formagio ¢ um profundo conhecimento da Metodologia Cientifica, No decorrer da leitura de seu Texto, sente-se sua constante preocupagdo em realizar ensaios reflexivos acerca do Dircito dos diferentes povos, inclusive especificamente a trajetéria brasileira no campo de sua anilise, Seu livro constitui um amplo painel sobre 0 Direito de diferentes Civilizagdes, comproondidas sob 0 ponto de vista politico, econémico e cultural. Em decorréncia deste fato, podemos considera-lo ao mesmo tempo analitico, sintético e polémico. ‘Nao 6 por apresentar uma visio de conjunto sobre a historia do Dizeite que deve ser considerado genérico ou apenas como um simples Manual, Embora este tipo de abordagem possa conduzr a gene- ralizagéos, isto ndo acontece com Flavia porque sou Toxto nao porde do vista a reflexao. Sou mérito repousa justamente na contundéncia com que a autora procura a reflexio ¢ nao no fato de revisar ocorréncias, passadas. (O livro da autora trata de forma sintétiea de aspectos importantes da evolugao juridica, mas néo o faz de forma linear ¢ cronolégica porque analisa, critica e interprota os fatos. Nolo a historia do Diroito & vista em um viés pouco explorado em obras similares porque contém informagao, refloxao e fundamentagao. Como especialista em Histéria Romana, dentro tantos pontos que consideramos fundamentais, ¢ absolutamente indispensaveis, analisa- dos por Flavia Lages ¢ que podem sor considerados polémicos, comen- taremes especificamonte aquoles quo se roferem ao Direito Romano. ‘A autora, ao afirmar a grande importancia do Direito Romano na atualidade para os advogados e juristas, é profundamente pertinente. ‘Nao 6 possivel que se ignore o legado do Direito Romano para 0 pensamento juridico ocidental nem sua importancia para o Dircito Civil em seu ordenamento juridico. ‘A Lei das Doze Tabuas também no foi esquecida pela autora. Como deixar de lembrar a Lol que assinalou a passagem do direito oral para direito escrito, a primeira compilagdo do Direito Romano que serviria de base ao Direito Piblico de Roma até a época do Imperador Juliano? © simples fato de admitir a igualdade de todos os cidadaos somanos perante a Loi ea soberania do pove faz da Lei da Doze Tabuas um documento de grande relovancia para conhecimento da historia do Direito. © Corpus luris Givilis, codificagao do Direito, felta na epoca de Jus- tiniano, teve influéncia significativa nos Cédigos Modernos e permitiu o conhecimento das obras dos grandes jurisconsultos romanos, E difici! avaliarmos 0 valor de nosso débito intelectual para com Roma no que se refere ao logado do Direito Romano, pois os romanos fundaram, desenvelveram e sistematizaram a jurisprudéncia no mundo. ‘Todas estas promissas lembradas por Flavia corroboram para defesa de sua propositura a necessidade do estudo do Diteito Romano. Gostariamos de continuar analisando toda a Sintese elaborada pola autora, mas eertamente nao terminariamos a redapio deste Néo podeius, pure, tinalizar esta Introdugao sem deixar de enfatizar um dos pontos mais relovantos do trabalho de Flavia Lages. A autora conseguiu redigir uma obra geral sobre a Historia do Dircito baseacla em uma pesquisa profunda ¢ acurada de Fontes Primarias, 0 que torna a leitura do seu Texto indispensavel para todos os estudiosos do Diteito, Convidamos 0 leitor a percorrer a Historia do Direito ~ Geral e Brasil de Flavia Lages e a oliar com admiracéo 0 excelonte trabalho emproendido pela jovem ¢ talentosa historiadora. Marilda Corréa Ciribelli Doutora em Histéria pola USP Pos-doutora om Histéria Social pela UERS ROORKEE ASDE AA DA RRDAKA READER REO “eee con requ nowy "THOS wuaD ottoo erumsH Y ‘110M “ANVHD Pride ZaVINTVA © L ‘odiwo ou nopnia (eprdmse ower wo fou end) epmne visa 0 “wrewoy 0 9 B5a wand ‘sopiano soe oytrense souatt ivos so0rwd ,.seioreq sp ebe0 Ep EHOISHEL, ‘vyore: [et remMDax0 apod ouEUINY 195 © GIUOWOS o eLOISHEL 1880 F 9 CPEALO|SUEN Y “UIBULOJSUEN os OBE ‘UREIMO;SUEN oquense sousut soared ogy ~ pole Sep VuMSIY, Taajssod 9 — ssourosyteue Seut sopeuoysty op ouTeqes op oysuoUp v 9 oda o"wpraND thas t.lopeuorsit 296 ered zeprogas amuaragns 9 opt seu ‘opepruewiny ep euOMoU © 9 CEgRSTE Y,, ‘omutDo1Dez Ossou TerOTHT apod asey} wjod wut) dopessed ot opny gopessed 0 opal, ote se obriga a transeferir os bens posteriormente, substituiu a otis dictio). 3.6.8. A Adogao A adogao em Roma era corriqueira e bastante aceita pela socie- dade; alias, esta era considerada uma forma de imitar a natureza no tocante & procriagdo. “Adoptio est legitimus actus, naturam imitans, qui liberos nobis quaerimus." — A adogio 6 um ato legal, que imita a natu- reza, com 0 qual podemos adotar filhos como seus.150 4 CARCOPINO, J. Roma no apogeu! do Impérlo, Sho Paul: Ci. das Letias/Citeto do ‘ier, 1990, p. 121 149 Emaigumas sociedados atts dote sina & pressupasto pata 6 easamento. 380 Insta 1s 1 10% ‘Histéta da Dieto Geral Bratt Para a adogao em Roma havia duas formas: a adrogatio e a adoptio. A adrogatio era a adogéio de um pater familias por outro (le vando, obviamente, todos 05 seus dependentes e seu patriménio), @ adoptio era a adogao de um individuo sui juris. Para a adocao nao havia limite de idade, mas exigia-se que 0 adotante fosse mais velho que o adotado. “Adoptio naturam imitatur et pro monstro est, ut maior sit filius quam pater" ~ A adogao imita a natureza: seria monstruoso que 0 filho fosse mais velho que o pai.'51 As mulheres era proibido adotar a néo ser quando perdiam seus r6prios fillos e obtinham permissao especial para isso: *Feminae adoptare non possunt, quia nec natu: rales liberes in sua potestate habent: sed ex indul géntia principis in solatium iberorum amissorum, ossunt." — As mulheres nfo podem adotar, poi tampouco tém sob seu poder os filhos naturais: todavia, por indulgéncia do principe e para con- soto dos fithos perdidos, o podem,%52 3.7, Twtela e Curatela Tanto a tutela quanto a curatela tém por finalidade dar meios para que uma pessoa sem condigses de fa26-lo sozinha possa ter os seus bens cuidados. Desta forma, podomos afirmar que ambas tém relagio com 0 problema de capacidade para a pritica de atos juridicos.159 A tutela existia pela incapacidade por idade ot sexo ¢ visava proteger os interesses da familia. A curatola visava cuidar de interes. ‘ses patrimoniais em casos excepcionais de incapacidade como loucura, prodigalidade ete. 3.7.1. Tatela Podiam ficar sob tutela os impiberes ¢ as mulheres su juris. 0 tutor podia ser um parente agnaticio proximo (tutela legitima), ou ser nomeado por testamento (tutela testamentiiria) ou ainda ser nomeacio pelo pretor (tutor dativus). Uma mulher no poderia ser tutora a nao ser em casos excepeionais 361 Mma 3,13, 4 382 Inatita 111! 30 1ST MARIE. Op. eit p. 108, -iiviaLages de Castro “Forinae tutores dari nen possunt, quia it munus ‘masculorum est, nisi a principe filiorum tutelam Specialiter postulant" - As mullieres io podem 5 tomar tutoras porque essa é uma prerogativa dos vardes, a ndo ser que solicitem especialmen- te a0 principe a tutela dos fillhos.154 Exceto o tutor nomeado por testamento, os outros eram obrigados @ aceitar 0 cargo a ndo ser que provassem idade avangada, ter varios filhos, exercer cargos publicos. Seu dever ¢ explicitado de forma sim- ples e direta: “Tutoris praecipuum officium est, ne indefesum pupillum relinquat” - 0 primeiro dever do tutor é nao deixar pupilo indefeso, 155 A incumbéncia do tutor era administrar 9 patriménio do pupilo e esta administragéo deveria ser feita de maneira correta, sompre visan- do ao interesse da pessoa sob tutela. Em caso de prejuizo ocasionado por acées do tutor, qualquer pessoa poderia denuncii-lo © se con- denado ele seria penalizade com a infémia. “Lege rata non habotur auctoritas dolo malo facta” ~ A autoridade do tutor, se exercida com dolo, nao se considera ratificada por loi.156 ‘A tutela de impiberes © de mulheres era diferente, enquanto a mulher poderia administrar seus proprios bens, ficando 0 tutor como ‘um assistente: no caso de impaberes toda a administragao ficava nor conta do tutor que deveria prestar contas de seus atos. “Officio tutoris, incumbit etiam rationes actus sui confecere ot pupillo reddere” — i tam- bém dever do tutor prestar contas de sua administragdo dos bens do pupilo.187 3.7.2, Curatela A curatola tem por principal objetivo a protegae do patrinénio do individuo cuja capacidade esta deteriorada e nao é impibere ou mulher, © curadior tinha por fungao ou representar 0 curatelado absolu- tamente incapaz ou assistir relativamente 0 curatelado dando-lhe, quando convinha, consentimento para a pratica de atos juridicos. ‘As espécies de curatela distinguiam-se baseadas no tipo de incapacidade do individuo. Havia a cura furiosi, que era a curatela do YA Neticio, Dig. 26.1, 18. 165 Mateolo, Dig. 26, 7,30 166 ‘Tordneio Clemente, Dig. 23.3, 61 167 Uipiano, Dg. 27,3. 1,3. 108 ‘Hscria do Dato Gara Beasit, individuo mentalmente prejudicads. So houvesse um patente agnado, préximo, este seria 0 curador; caso contratio, o pretor nomeava um. Ha. via também a cura prodigi, que era a curatela dada ao individue quo, comprovadamente, esbanjava seus bens; desta forma, 0 prédigo ficaria com sua capacidade de agdo limitada seu patriménio estaria defen- dido. Em casos excepcionais, havia ainda a cura minorum, que era a Curatela solicitada por menores de 25 anos para abrandar as dividas daqueles que receavam contratar com eles por catisa da pouca idade. 3.8, Sucessio Intimamente ligada a todas as questées que envolvem a familia, ‘sua perpetuagao e seu patriménio, esta a sucessio. A principio, em Roma, somente 0 sucessor do pater familias tinha direito, poréim, com ‘as mudancas es:ruturais pelas quais passaram nao somente a familia Tomana mas a sociedade como um todo, esta questéo tomnou-se mais complexa, Os romanos utilizavam a expresso succedere in ius para designar a transmissdo de todos os direitos e obrigacdes do defunto a uma outra pessoa, seu sucessor; usavam a palavra hereditas para indicar 0 pro- cesso desta passagem e seu objeto (goralmente o patriménio) e heredis para indicar hordoiro. “Hereditae nihil aliud eet quam successio in unk vrsum ius, quod defunctus habuerie” ~ a heranga nao é senao a su cossio na universalidade do dieito que o falecido possuia. 158 Os sucessores naturais eram os filhos, estes exam considerados, mesmo durante a vida de seu pai, como quase donos. Desta forma, Gurante 0 periodo clissico, nao se considerava que os filhos herdassem os bens, mas a plena administragsio dos mesmos, Eram filhos os nascidos em justas bodas ¢ apés a morte do pai, a tinulo sucessério “Post decem menses mortis natus non admittetur ad logitiman heredi:atem” ~ 0 nascido dez meses apés a morte nio é admitido a legitima heranga,159 Eram herdeiros como os filhios biolégi- cos os adotados: "Qui adoptatuy, isdem fit agnatus quibus pater ipsius fuit; et legitmam eorum hereditatem habebit, vel ipsi eius" - quem & adotado se tora herdeiro dos mesmos de quem foi seu pai e teri a heranga legitima deles (ou eles a dele).260 15 daliono, Dig. So, 159 Uipiano, Dig. 33, 160. piano, Dig. 38,16 Bee OOOO EO OOOO HOOP HOOOOHEEHOHHHKHHHEOVE Yavia Lagos do Castro 3.8.1. Heranga © usutruto, a posse, o uso, algumas relagdes obricracionais (como mandato por exemplo) nao eram consideraclos transmnissiveis, bem jagoes delituais, j4 que “in poenam heres non succedit” ~ 0 herdeiro nao herda a pena.!6! Os demais direitos e obrigagdes cons- jo transmissive Através de um balango entre 0 que o defunto devia ¢ o que tinha Geterminava-se a heranga, que, obviamente, poderia ser somente divi- a (chamada damnasa heredicas) “No caso de pluralidade de herleiros, cada um sucedia ao de cujus no patriménio toda, sendo os direitos e obrigagdes do cada herdoiro limitados apenas polo concurso dos demais, cabendo a todos aliquotas ideais, sem divisio real: concursuy partes fiunt."162 3.8.2, Testamento Para os romanos o testamento ora a expresso de uma vontade unilateral. Um documento no qual o testador indica seu sucessor ou seus sucessores. Até a morte do testador este era revogivel, “poste- riore testamonto, quod iure perfectum est, supérius rimpitur” — com 0 testamento posterior, que se faz legalmente, se anula o anterior.163 Para fazer um testamento era necesséria a testamenti factio activa, isto 6; a capacidade juridica para testar. Nao tinham capacidade de fazer testamento os alfen juris (por nao terem patriménio préprio), os Jatini juniani (que morriam como escravos e seu patriménio era auto- maticamente do patrono), os intestabiles (que tiveram esta punic&o por negarem-se a depor como testemunhas), os incapazes (como os loucos, os impiiberes, os prédigos). As mulheres, no inicio da Histéria Romana, também nao podiam testay, mas essa limitagao desapareceu no Diteito classico. Ser herdeiro também era uma questo de capacidade juridica, A principal condicéo era ser cidadéo romano livre e nao ser intestabiles. TEL Marcel, Dig 39, 1,22, 162 MANIC Op ce. p. 175 163. stu, 2 17.2 108 stéeta do Droko Gaal Bras Havia dois tipos de testamento: 0 testamentum publicum, que era feito publicamente ou perante © comicio - reunido para este fim duas eres por ano ~ @ era chamado tostomentum galatie comitiis ow perante © exército; e o testamentum privatum, no qual o testador passava sou. atriménio a uma pessoa de sua confianga para que esta o transferisse & pessoa designada pelo testador; esta férmula transformou-se © a pessoa de confianga passou a ser tostemunha apenas {junto com outras seis, jA que sete testemunhas era o mimero exigido para a valicade de um testamento) “Mais tarde, costumava-se redigir documento es- crito do testamento, assinado [por] sete testem mhas, quo co chamava tabulae testamenti sopti signis signatae, a que se juntava, ainda, a forma. lidade oral (..), porque a validade do testamento decorria exclusivamente desta parte oral, sendo as tabulze apenas clementes de prova do contetido verbalmente enunciado no testamento (nee ‘Testamentos podiam ser considerados nulos, inefleazes ow ainda podiam ser revogados. O testamento nulo era aquele que era feito por Jum testador sem capacidade para tal ou aquele feito sem alguma formalidade exigida ou ainda quando o testador destespeitava os direitos de seus descendentes, Otestamento tornava-se ineficaz. quando o testacior, apés a feitura do testamento, perdia sua capacidade de testar, quando os herdeiros nao aceitavam a heranga ou quando o testamento fosse revogado, Para ser revogado o testamento deveria estar danificado, perdido, destruido voluntariamente (pelo testador) ou quando 0 testador fizesse posteriormente outro. 3.9, Posse e Propriedacie Posse @ propriedade podem ser diferenciadas pelo fato de se tet poder juriaico ou poder apenas de fato sobre a coisa. Quando ha so- mente posse a coisa esta sab 0 poder da pessoa, mas esta nao tem 161 MARKY, T. Op. cit. p. 182. 109 Flivi tages de Gastro oder juridico total sobre la, No caso da propriedade o individuo tem oder juridico (inclusive de compra, venda, aluguel etc.) Para os romanos poderia se gerar propriedade de varias formas, inclusive através da posse, A tomada de posse de uma coisa que nio estivesse sob 0 dominio de ninguém (animais selvagens, coisas abandonadas, bens de inimigos de Rema) geraria a propriedade; isto era chamado occupatio. Poderia se adquirir também a propriedade por transferéncia da mesma, por usucapiao, por compra, por heranga otc. 3.10, Delitos No inicio da Histéria de Roma, ndo havia limites para a ropreséilia quando um individuo cometia um crime. Fra de livre vontade do ofe: dido a vinganga, embora atenuando este fato howvesse outro: nao tinham, os romanos, a nitida distingdo entre punigao e ressarcimento. Para os romanos 0 crime era definido em uma s6 palavra: noxae, “‘Noxae' appeliatione omne delictum continetur” — Na palavra “noxa esta compreendido todo tipo de delito (Noxa= prejuizo, dano, delito, crime) 168 E, para eles, néo poderia um individuo pagar pelo crime de outro. “Peceata suos toneant auctores” ~ Os crimes s6 atingem aqueles que 0 ‘cometeram,169 Bem como consideravam que o fato de uma pessoa calar nao significava necessariamente uma confissao de culpa: “Qui tacet, ‘non utique fetetur: sed tamen verum est, eum non negare” ~ Quem cala nem sempre confessa, Gontudo, certo é que néo nega.167 Previam também a legitima defesa: “Quod quisque ad tutelam corporis sui fecerit, id iure fecisse existimatur” —_O que cada wm fez para proteger 0 préprio corpo julga-se que haja feito com tado dircito.}68 Portanto, fica bastante clara a nocao acentuada de justiga dos romanos, Para ratificar este objetivo pode ser citada uma frase de Ulpiano, que dizia: “Satius est impunitum relinqui facinus nocentis quam innocentem damnari” ~ Mais vale deixar impune 0 culpado que condenar o inocente.169 Com 0 fortalecimento do Estado foram estabelecidas condigoes para o exercicio da vinganga. Esta somente poderia ser efetuada se 0 ie 165 367 Paulo, Dig 80,1 168. Florentino, Dig 169. Uiplana, Dig 2, no Mitta do Direito Gera Beasit criminoso fosse pego em flagrante ¢, mesmo assim, os limites da Tepresilia foram limitados (ou cram baseadas no Principio da Pena de ‘Talido ow a uma compensagao pecuntaria). Quanto ao processo e sua evolugtio na Histéria romana, descreve Mirabote: Em Roma, a separagdo entre delicta publica (eri- mes contra a seguranga da cidade, parricidium ete.) @ delicta privata (infeagdes menos graves) determinava também a distingso dos érgaos competentes para julgamento. Quanto aos ilti- mos, os Estado era o rbitro para solucionar litigio entre as partes, decidindo de acordo com 5 provas por elas apresentadas. Com 0 passar dos anos, porém, 0 processo penal privado foi abandonado quase totalmente, No proceso onal pitblico, ao contrario, ocorreu a evolugdo, Da auséncia de qualquer limitagéo ao poder de julgar existente no comego da monarantia, em que enhuma garantia era dada ao acusado (cognitio) Passou-se com a Lex Valeria de Provocatione a0 rovocatio ad populum, em que 9 condenado odia recorrer da condenagéo para © povo reu- nido, Jé na Repiiblica surgiu a justiga centurial, em que as centirias, integradas por patricios © plebeus, administraram a justiga penal em um. rocedimento oral a publica o, excencionalmente, © julgamento pelo senado que a podia delegar 0s questores. Jé no ultimo séulo da Repiblica ‘surgit nova forma de procedimento: a accusatio, ficando a administragao da justiga a cargo de wn tribunal popular, composto inicialmente por senadores ¢, depois, por cidaddos. No Império, a accusatio foi pouco a pouce cedendo lugar a outta forma de procedimento: a cognitio extra ordinem, Processo penal extraordinario a cargo, no inicio, do senado, depois ao imperador e, finalmente, outergado ao pracfectus urbis, Os poderes do ‘magistrado, diz Mazini, foram invadindo a esfera de atribuigdes ja reservadas ao acusador privado @ tal oxtremo que. em determinada época, se Feuniam no mesmo érgao do estado (magistrado) eu ‘oFlap © neawoD onb o opytind e10 onb watzO} euIseL Ep H9 Joioutod wred opbeioquioa v uretaard souwwio: so viougnbuneg-o9 ‘pore ‘omop o nexuoa ‘ot © vied) asson ud © opuy sode epeworor 195 vioped ovde ©) @pepiuojos vumBie op oviseoo 10d osino ula jeued ogdu e ome {PuBroduior sinBupxa wo ensisuoa onb onoge v assoqa0a1 es “ovprod 2 gssonnido os “(opEtNdriso oduiar op stodop of-gzuj v 10x10n Ueno ‘ze5oape op opepmatssod v vuad owtao ossaqaoat onb epebonpe wn Cidutaxa 20d) wus v ossuduno opedina 0 98 eAURXa v0 vtiog ‘enb op otiour sod 2 (ovSuosaid wlan opt opjoru -onsaid ows 0 a8 oze! ape mung Bp opsunxa ‘e-or'e ‘oupINpe ep wpesnon 108 eopod et ossoariso Opt a289 9 oYOU! assoanso soUANLT opie o ond op fottaaot asseseo os onb soUyfeMN Latin “O[dUIOXe JOM “WES ‘O1e} OP woupioubr v sexe ‘opepaicrndun eavzab ovu tot ep wouyioudt y ‘sopey “uet1ose we39 ‘of-2285 ap opepmenssod v wEyUN no ‘omop win wen ‘Stoo opuvnb ‘sony 80 ‘ojduexe 0M! “soobeam}stes oUica eiouaSiontt 9p sows ep sozudeo ‘souewox so uieaeupaioe opunbias "e30 opt S218 OGNOF ap No soRtTo[orA soxUtt9 Ue SiUOWLOS sISorIN; 50 O SOLID 9p ose ou apepiiqeindutt epyagine exe sou epu sueuzop sop oseo oN ‘apepatoos = ered oBued op apepiiqissod ap od xonbjenb seaxoxo wes ‘oe iod ‘e Tapp axvowijero1 “Temuour epepioedies ens ap {e201 osn op oBSeand ta Sitowoqeiste9 sajonbe weu9s suowiap so ‘zopIon| ap sorearaguy woo seu ‘sopex6e soioop 90 urpttes sosjoinnid sO “suewop so 0 stsolany So :supofinwo ra sopramans urese sopeyoedvout aatowfentow sp ‘wouena wun e epeorIde Bro votINU exlOW! ap vod v “eNeueUL sonbpenb og -,erea no 9 Sopned 188 9 sopersnsse owt sozaqndust $0, sot, Bpxo audios wre owatuigiessar O ‘sei9Aas soN seuod se supmnqine trossoy sow opt eioqtta ‘onbiod ‘stoaymdur-ttios options ewioo ‘esto op opuopundap ‘soperaprsiios weie saroquelitt so ‘eure o ‘oauaureR “FINK Hesiod we WeLEdnd0ad as anb weo‘puT sojo sour “eratdueD eu 0 0299 ova op eos a e"d-z00e sen omnes O0S na CE YBa oREODONG 3 EAEVUINE OL innop oyStuHop UN Py OBE CURWOY OHETIC ON “orteLTUZODSIp Hoo sove svonwid vied onplalput op ogpade v 9 epeprrqeinduty opepmarindesy zone .9peitoa sod onb apepitesnes sod syeu oppyonuroy wn norouL09 ‘exu eum ‘anb ajanbep vuod v epeBryu 203 onep enb os-zpaq sewut op oxduoiu woo “opmiuco ‘zoy oO oBU ‘OOS ap cHLoUINNISUT woo opeadios ques vioquio ‘uyjuIOUE ne omBK BURN CD NuIO} wxU BM, 10 98 Seu eIwUt op oPSuOIUT LoD zoy o a1OWeAEseTHOSUE ‘noed|OB jou © on vu epedso v nowo) os :ois} opeULtTOIOp Jes Oop soseD 80 opunbes 9 ‘eprojuoy owes opetapucs ras onap ‘“reTeUT op ovSuDIUE too ‘niz9y sur “wouroy tun noeM opt onb ajenbe “opiajosae 08 apod ‘weieut op opduMUT tod zaz 0 op as ‘woWOY wn noIwuE en oonbe nb urnadros04 (wn twa nIpIoep otwEPY oUIA!p O, :eoIPUt anb ‘er6oBiq ou tista 108 oped ogduotuy eu opraseg onjep op oxdunpesD msg 01 ¥ onfodsar ap o1uorostoo Pipes eoyrubys anb ‘sie WOD oufop tun sexewlod og waped “ioid 408 epuye wopod anb ureavorput souttttor 90 ‘euoouowt ‘oso[op 1s JOpOd owfap WN ap wATy ‘ecto 9 ojop tteaelouaropp anb xmnjouo9 es-apod ‘seumny x07 v a DUNN, ob vuNyUr mse opuEMioy, ,"LIpICRUOSSE eB aqUEIOd oxouTED wn OSES ~uodutoo we opioai9jo pros ouz0ur op sopeube soe ‘equoWontepnidury twowoy{ tun noweu wondje ag, :onb eaeorpuy BUNNY oxINsHOSSENE CO, eprorutoy 9 ‘opStort einord wos wowoy um Nou WNBIE 95, euinyy XoT BU EISeIe as-opod suLIO;UOD OSuEIUT e oBSErepIstOS Wa weaeadT souPtO! sq "Edyno no ojop :seuLOJ sen ep os-vIse;IEML ® ioinw nas ov oMTOP 0 eBq anb oanolqns oxau o 9 opeprtesneD spepiesnes Tore bt» OANEStNDUT eUtaASTS opeUEY op [eIPIOUNAA seq e ottion owowtposord Ter xewtode es-epoa PaNUOAeId opsid vo suoWOE|E} wossosndop onb sequnuorsor op ose angi op mos © ‘ovua ‘znponut as-zog “zip ov @ oomand OuAISKI, oF UIsedwOD afoy onb seoSury sv enseg op eater epee a MO MMMAMAARAMAMAAAMAAAAAAAAAAAAMANOMSD

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