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FILOSOFANDO: REVISTA DE FILOSOFIA DA UESB

NÚMERO ESPECIAL – FILOSOFIA DA MENTE E FILOSOFIA DA LINGUAGEM

ANO 2  NÚMERO 2  JULHO-DEZEMBRO DE 2014  ISSN: 2317-3785

MASLIN, K.T – INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA MENTE. 2. ED.. PORTO

ALEGRE: ARTMED, 2007.

JOÃO HENRIQUE SOUZA SANTOS


Graduando em Filosofia. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. – UESB
E-mail: jaohenriquesantos@gmail.com

De forma geral, somos ao decorrer da leitura de “Introdução à Filosofia da


Mente”, apresentados a uma série de problemas relacionados com a área;
Especificamente no capítulo sobre o “Dualismo”, Maslin (2007) nos mostra um
dos problemas da filosofia da mente por excelência: existe uma substância
independente do corpo físico que continue a existir após a destruição do corpo?
Quais as consequências dessa afirmação? Quem foram os principais defensores e
os principais críticos dessa teoria? Essas e outras questões podem ser exploradas
de forma penetrante a partir de uma leitura cuidadosa. “Introdução à Filosofia da
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Mente”, escrito por K.T Maslin, e publicado no Brasil pela editora Artmed, é uma
excelente iniciação aos estudos em filosofia da mente: trata-se de um livro didático
e instrutivo que versa sobre alguns dos principais problemas abrangidos pela área
de forma organizada e produtiva, dividido em capítulos cuja distribuição parece
objetivar a compreensão clara por parte do leitor, além de exercícios no decorrer
de cada capítulo, incentivando assim a reflexão sobre os temas para além da leitura
mecânica.
O capítulo dois, proposto para tornar clara a noção de dualismo, ao versar
sobre o dualismo substancial, recorre à definição de que a afirmação básica
dualista é: “o ser humano é um composto de duas entidades distintas: uma alma
ou mente, que é não física, e um corpo físico” (MASLIN, 2007, p.39). E que,
portanto, a pessoa identifica-se com a alma e não com o corpo; somos também
apresentados a dois filósofos considerados importantíssimos na discussão
dualista: Platão e Descartes.
Segundo Maslin (2007), apesar de não poder ser considerado o criador da
teoria, Platão (428-348 a.C) foi um dos seus maiores expoentes; pode-se notar, no

SANTOS, João Henrique Souza


 Introdução à Filosofia da Mente  p. 115 de 117
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ANO 2  NÚMERO 2  JULHO-DEZEMBRO DE 2014  ISSN: 2317-3785

Fedro, por exemplo, a noção de que a Alma é uma substância lógica independente
do corpo físico, ideia essa que parece figurar no centro do dualismo. No decorrer
do capítulo dois, o autor seleciona um argumento em especial, contido no escrito
Alcibíades, para explorar a discussão platônica. Em resumo, o argumento propõe
que assim como um homem usa uma ferramenta, o corpo seria uma ferramenta
utilizada pela Alma e, nesse momento, alguns problemas na argumentação são
visíveis e o autor destaca, por exemplo, o termo usar, que se diferencia nos dois
casos precisamente quanto ao sentido.
É introduzida, ainda no capítulo dois, uma discussão sobre outro grande
expoente do dualismo, o filósofo francês René Descartes (1596-1650) que, segundo
o autor, formulou uma concepção original sobre o dualismo. A indivisibilidade da
alma, usada como prova de sua imortalidade, e sua distinção do corpo como res
extensa em oposição àquela como res cogitans, coisa pensante, e a consequente
atribuição do pensamento como sua característica essencial, são duas
contribuições pertinentes e interessantes de Descartes a discussão sobre o
dualismo. O filósofo francês também propõe a abordagem do corpo, a res extensa,
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como uma máquina que, apesar de conter extensão, ao contrário da alma, não
poderia ter consciência. A partir desse ponto, pode-se distinguir os animais dos
seres humanos e os colocar na mesma posição que máquinas, autômatos, que
mesmo formados de forma complexa, são incapazes de mentalidade por não
possuírem res cogitans. São enumerados dois testes que, segundo Descartes,
testificavam ou não a presença da alma: a utilização da linguagem e o
comportamento não linguístico dos animais. Outro ponto discutido é a questão da
relação mente-corpo que, para Descartes, acontece através da glândula pineal.
Ao final do capítulo, o autor propõe uma discussão sobre os principais
problemas e críticas direcionadas ao dualismo substancial através da história.
Aponta para alguns principais argumentos que incidem principalmente sobre o
dualismo cartesiano, mas que também ecoam em conclusões dualistas de forma
mais universal. São apresentados argumentos versando, por exemplo, sobre a
concepção de mente como posse absoluta por parte de Descartes em contraste com
a concepção biológica de mente como um “Espectro que abarca desde criaturas
como formigas e lesmas (...) à completa panóplia de estados mentais que nós

SANTOS, João Henrique Souza


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próprios possuímos.” (MASLIN, 2006, P.46) e também acerca do problema da


função do cérebro enquanto órgão físico a despeito da alma, imaterial. O autor
também expõe a crítica que ele considera a mais penetrante sobre o cartesianismo:
a indagação de Immanuel Kant (1724-1804) sobre “O problema de contar almas”
argumentando sobre o aspecto quantitativo das almas: “Como se pode contar
almas? (...) quando se pode dizer que uma alma termina, por assim dizer, e outra
alma começa ?” (MASLIN, 2007, P.67).

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SANTOS, João Henrique Souza


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