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A Sociedade dos Indivíduos – Norbert Elias

Examinando as respostas que hoje se oferecem a essas questões e a outras


similares, defrontamo-nos, em termos gerais, com dois campos opostos. Parte
das pessoas aborda as formações sócio-históricas como se tivessem sido
concebidas, planejadas e criadas (...) por diversos indivíduos ou organismos. (...)
o modelo conceitual a que estão presos continua a ser o da criação racional e
deliberada de uma obra - como um prédio ou uma máquina - por pessoas
individuais. P 13-14

Para seus integrantes, o indivíduo não desempenha papel algum. Seus modelos
conceituais são primordialmente extraídos das ciências naturais; em particular,
da biologia. Mas nesse caso, como tantas vezes acontece, os modos científicos
de pensamento misturam-se, fácil e imperceptivelmente, com os modos
religiosos e metafísicos, formando uma perfeita unidade. A sociedade é
concebida, por exemplo, como uma entidade orgânica supra-individual que
avança inelutavelmente para a morte, atravessando etapas de juventude,
maturidade e velhice. P 14

O que nos falta - vamos admiti-lo com franqueza - são modelos conceituais e
uma visão global mediante os quais possamos tornar compreensível, no
pensamento, aquilo que vivenciamos diariamente na realidade, mediante os
quais possamos compreender de que modo um grande número de indivíduos
compõe entre si algo maior e diferente de uma coleção de indivíduos isolados:
como é que eles formam uma "sociedade" e como sucede a essa sociedade
poder modificar-se dè maneiras específicas, ter uma história que segue um curso
não pretendido, ou planejado por qualquer dos indivíduos que a compõem. P 16
(Nos falta conseguir transpor a realidade para a teoria por meio de modelos
conceituais que realmente satisfaçam as particularidades inerentes ao estudo de
um tema tão fluído, dinâmico e subjetivo.)
As pedras talhadas e encaixadas para compor uma casa não passam de um
meio; a casa é o fim. Seremos também nós, como seres humanos individuais,
não mais que um meio que vive e ama, luta e morre, em prol do todo social? P
17 (Seremos marionetes encenando forçosamente guiados pelos invisíveis fios
de nosso proprietário e criador, o ventríloquo, ao qual a maioria de nós denomina
como deus, destino, sina, karma?)

Uma das grandes controvérsias de nossa época desenrola-se entre os que


afirmam que a sociedade, em suas diferentes manifestações - a divisão do
trabalho, a organização do Estado ou seja lá o que for -, é apenas um "meio",
consistindo o "fim" no bem-estar dos indivíduos, e os que asseveram que o bem-
estar dos indivíduos é menos "importante" que a manutenção da unidade social
de que o indivíduo faz parte, constituindo esta o "fim" propriamente dito da vida
individual. P 17 (o que é mais importante? Sociedade ou indivíduo?)

só pode haver uma vida comunitária mais livre de perturbações e tensões se


todos os indivíduos dentro dela gozarem de satisfação suficiente; e só pode
haver uma existência individual mais satisfatória se a estrutura social pertinente
for mais livre de tensão, perturbação e conflito. P 17

tudo o que não serve para justificar a sociedade ou o indivíduo como o "mais
importante ', ó "objetivo mais alto", parece irrelevante, algo em que não vale a
pena pensar. Mas e se uma compreensão melhor da relação entre indivíduo e
sociedade só pudesse ser atingida pelo rompimento dessa alternativa ou isto/ou
aquilo, desarticulando a antítese cristalizada? P 18

Pois as pessoas estabelecem para si diferentes objetivos de um caso para outro,


e não há outros objetivos senão os que elas se estabelecem. "A sociedade é o
objetivo final e o indivíduo é apenas um meio', "o indivíduo é o objetivo final e a
união dos indivíduos numa sociedade é apenas um meio para seu bem-estar" -
eis os gritos de guerra que os grupos em confronto bradam um ao outro, no
contexto de sua situação atual, com as pressões e interesses que lhe são
transitórios. P 18-19

Como é possível -esta passa a ser a pergunta-que a existência simultânea de


muitas pessoas, sua vida em comum, seus atos recíprocos, a totalidade de suas
relações mútuas dêem origem a algo que nenhum dos indivíduos, considerado
isoladamente, tencionou ou promoveu, algo de que ele faz parte, querendo ou
não, uma estrutura de indivíduos interdependentes, uma sociedade? P 19

Não há dúvida de que cada ser humano é criado por outros que existiam antes
dele; sem dúvida, ele cresce e vive como parte de uma associação de pessoas,
de um todo social - seja este qual for. Mas isso não significa nem que o indivíduo
seja menos importante do que a sociedade, nem que ele seja um "meio" e a
sociedade, o "fim". P 19 ( em sobre o tempo elias tb fala isso)

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