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Geraldo de Paula Martins1, Carlos Alberto Cimini Jr.2 e Leonardo Barbosa Godefroid3
1
Serviços de Integridade Estrutural – Centro de Desenvolvimento da tecnologia Nuclear – CDTN/CNEN
Rua Professor Mário Werneck, s/n
30123-970 Belo Horizonte, MG
gpmn@cdtn.br
2
Departamento de Engenharia Mecânica (Demec / UFMG)
Belo Horizonte, MG
30123-970 Belo Horizonte, MG
cimini@demec.ufmg.br
RESUMO
O processo de soldagem pode introduzir descontinuidades na junta soldada, tais como falta de fusão, falta de
penetração, porosidade, entre outros. Tais descontinuidades podem comprometer a estrutura ou componente,
com relação à resistência à propagação de trincas. Esse comprometimento pode ser estudado por meio de
ensaios de propagação de trinca de fadiga. Através desses ensaios, pode-se avaliar a eficiência da estrutura
quando submetida a um carregamento cíclico. O presente trabalho teve por objetivo estudar o comportamento
de juntas soldadas contendo descontinuidades tipo falta de penetração na raiz, com relação às propriedades de
resistência à propagação de trincas e comparar essas propriedades com as de juntas soldadas sem
descontinuidades. Esse estudo foi realizado a partir dos resultados de ensaios de propagação de trincas por
fadiga, em corpos-de-prova contendo falta de penetração entre passes. Com os resultados obtidos, obteve-se os
coeficientes da equação de Paris que relaciona a taxa de propagação de trincas com o fator cíclico de
intensidade de tensões, tanto para juntas soldadas sem descontinuidades, quanto para juntas soldadas com falta
de penetração na raiz, ou entre passes.
1. INTRODUÇÃO
Quase todas as estruturas e componentes são fabricados por soldagem e, de modo geral, as
soldas podem apresenta defeitos os quais poderão comprometer o produto final. Para eliminar
esses defeitos ou minimizá-los a um nível permissível pelos códigos existentes, é necessário
conhecê-los, bem como as causas de seu aparecimento e também o seu grau de
comprometimento com relação à segurança e qualidade dos componentes e estruturas
soldadas, principalmente com relação ao seu comportamento à fadiga. Muitas estruturas
soldadas são constantemente submetidas à fadiga quando colocadas em serviço; por exemplo:
edifícios construídos em estruturas metálicas são sempre submetidos a cargas de vento;
componentes em vibração, etc.
Os aços USI-SAC, fabricados pela USIMINAS são aços resistentes à corrosão atmosférica.
São os aços conhecidos como “aclimados” ou “patináveis” os quais têm a propriedade de
desenvolver em sua superfície uma camada de óxido compacta e aderente ao substrato
metálico, quando expostos ao meio atmosférico industrial. A elevada resistência à corrosão
atmosférica resulta em maior durabilidade da estrutura. A utilização de consumíveis de
soldagem adequados permite assegurar também uma resistência à corrosão atmosférica nas
juntas soldadas, por meio de obtenção de um metal de solda mais nobre que o metal base.
As inclusões sólidas são corpos sólidos estranhos, aprisionados no metal fundido. Podem ser:
inclusões de escórias dispersas, alinhadas ou isoladas: inclusões de fluxo (dispersas,
alinhadas ou isoladas), inclusões de óxido e inclusões metálicas (tungstênio, cobre ou outros
metais).
Atualmente os códigos não permitem inclusões metálicas pois essas podem provocar
localmente fragilização (no caso do tungstênio) ou fissuração (no caso do cobre). As
inclusões de escória são aceitáveis de acordo com limites dimensionais estabelecidos nos
códigos.
A maioria das estruturas em engenharia são fabricadas de acordo com códigos e normas bem
estabelecidos. Esses códigos e normas são preparados por Organizações de âmbito
internacional tais como American Welding Society (AWS), American Society of Mechanical
Engineers (ASME), American Association of State Highway and Transportation Officials
(AASHTO), a American Institute of Steel Construction (AISC), e muitas outras. Essas
organizações especificam materiais, processos e procedimentos de fabricação, inspeção, etc.
Tais códigos admitem a existência de defeitos e estabelecem níveis de aceitação. Muitos
defeitos são inevitáveis e a sua remoção pode resultar em condições piores do que as
existentes com tais defeitos. Os tipos, tamanhos e formas de defeitos admissíveis dependem
do tipo de aplicação e do nível de qualidade do componente fabricado. Assim, a existência de
um determinado defeito e sua aceitação (ou não aceitação) depende das condições de
trabalho. Por exemplo, uma trinca de um determinado tamanho pode ser aceita em uma
aplicação que não estará sujeita a carregamentos cíclicos, mas a peça ou componente poderá
ser rejeitado se estiver sujeito a carregamentos cíclicos que implicarão na propagação da
trinca a um tamanho não permissível em um tempo relativamente curto.
= C x (∆K )
da n
(1)
dN
3. METODOLOGIA
As soldagens foram realizadas utilizando-se o processo manual a arco metálico com eletrodo
revestido, com preparação em juntas tipo V e 1/2 V, nas chapas de 12 mm e de 19 mm,
recortadas em dimensões de 500 mm X 150 mm. Os procedimentos de soldagem, segundo a
EPS n° MC 7622 fornecida pela Usiminas Mecânica, foram:
Tipo de Chanfro: V, ângulo de 45°, 22,5 em cada uma das partes da junta; encosto: 2 mm;
fresta: 3 mm; Número de passes: 06.
Parâmetros de soldagem: tensão: 20 V para todos os passes; corrente: 110 A para o primeiro
passe; 220 A, para os cinco passes restantes; eletrodo: AWS E 7018G de 3,25 mm de
diâmetro no primeiro passe e de 5 mm de diâmetro nos cinco passes restantes; velocidade
média de soldagem: 300 mm/min.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Fig. 4.1 são apresentados os gráficos do conjunto de corpos-de-prova C04, C06, C10 e
C14 que não apresentaram falta de penetração. Foram determinados o coeficiente C e o
expoente n para esse conjunto de corpos-de-prova por meio de análise de regressão obtendo-
se para C o valor: 1,159 x 10-10 e para o expoente n o valor 4,150. Na Fig. 4.2 são
apresentados os gráficos do conjunto de corpos-de-prova C05, C11, C12 e C13, os quais, na
radiografia apresentaram descontinuidades tipo falta de penetração entre passes, alinhadas, de
tamanhos pequenos, da ordem de 10% em relação ao comprimento do cordão de solda.
Como pode ser observado nas Fig. 4.1 e 4.2, os gráficos dos 4 corpos-de-prova se ajustaram
bem considerando-se que as juntas soldadas apresentam comportamentos variados devido a
uma série de fatores tais como variações estruturais e tensões residuais.
Com os valores obtidos dos coeficientes e expoentes da Eq. de Paris, foram realizadas
integrações numéricas para os dois conjuntos de corpos-de-prova e calculado o número de
vida remanescente a partir do comprimento de trinca inicial do ensaio (15 mm) até o
comprimento final (40 mm). O número de ciclos obtidos em cada caso foi: (a) para o
conjunto da Fig. 4.1: N=114.463 ciclos; (b) para o conjunto da Fig. 4.2: N=163.216. verifica-
se um decréscimo de aproximadamente 30% no conjunto que apresentou falta de penetração
entre passes. Deve ser considerado que a Eq. de Paris é muito conservativa e o tamanho de
trinca de 15 mm é um tamanho de trinca macróscópico, bem acima de tamanhos detectáveis
pelos ensaios não destrutivos.
Para tamanhos menores de trinca (no caso as faltas de penetração) de dimensões menores, a
taxa de propagação de trinca apresentará uma parte considerável na região I de propagação
resultando portanto em uma vida remanescente bem maior.
Esp.:12mm;
Ampl.: 9,5 kN;
R=0,1
C04;
C06;
1E-3
C10; 1E-3
da/dN (mm/ciclo)
C14
1E-4 1E-4
20 30 40 50 60 70
1/2
∆K (MPa*m )
20 30 40 50 60 70 80
0,01 0,01
Espes.:12mm;
ZF;
Ampl.:9,5kN;
R=0,1
C05
C11
C12
da/dN (mm/ciclo)
1E-4 1E-4
20 30 40 50 60 70 80
1/2
∆K ef (M Pa*m )
REFERÊNCIAS