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CAMPO MAGNETICO Jia na Grécia antiga se conheciam as propriedades de um minério de ferro encon- trado na regidio da Magnésia, a magnetita (Fes 4): um pedago de magnetita € um ima permanente, que atrai pequenos fragmentos de ferro. Em 1100 A.C,, os chineses ja haviam descoberto que uma agulha de magnetita capaz de se orientar livremente num plano horizontal alinha-se aproximadamente na di- regio norte-sul, ¢ usavam este aparelho, a biissola, na navegagio, Em 1600, William Gilbert publicou um importante tratado sobre © magnetismo, onde observa, pela primeira vez, que a prépria Terra atua como um grande {mi. Um ima permanente (em particular, a agulha magnética de uma bissola) tem um. pélo norte (N) € um polo sul (S), € € facil verificar, com dois imas, que seus pélos de mesmo nome (N ¢ N ou $ € S) se repelem, € que seus pélos de nomes contrarios (N € S) se atraem, Poderfamos entdo pensar em descrever 0 magnetismo produzido por fmas perma- nentes de forma andloga A eletrostética, introduzindo cargas magnéticas N e S$ por ana- logia com cargas elétricas + e -. Entretanto, a experiéncia mostra que nio € possivel separar um do outro os pélos Ne S de um ima. Se o partirmos em dois, cada um deles continuaré tendo pélos N e S. Em anos recentes, fez-se um grande esforgo experimental para verificar se exis- tem particulas com "carga magnética”, que seriam pélos N ou S isolados (monopolos ‘magnéticos). Nenhum jamais foi detectado. E portanto um fato experimental bisico no estudo do magnetismo que ndo exis- ‘em cargas magnéticas (pélos magnéticos isolados).. Podemos pensar numa barra ou agulha imantada como andloga a um dipolo - magnético em lugar de elétrico. A barra magnética seria andloga a um dielétrico polarizado, 128 Campo megnétice € os polos norte e sul que aparecem em suas faces seriam andlogos as cargas de polari- zagio ligadas sobre as extremidades de uma barra dielétrica polarizada (note que, também neste caso, se partissemos uma barra em duas, cargas superficiais de polarizaco apare- ceriam nas novas faces). Sabemos que a posi¢do de equilfbrio de um dipolo num campo elétrico uniforme corresponde ao dipolo alinhado com 0 campo. Por analogia, podemos mapear a diregio 0 sentido de um campo magnético num dado ponto como a direg%io de equilibrio e 0 sentido $ > N de uma pequena bissola colocada neste ponto. Quando salpicamos limalha de ferro sobre um {ma, cada pequeno fragmento de ferro se magnetiza por indugio e funciona como uma miniscula agulha imantada (bis- sola), indicando a diregio do campo, de modo que materializamos assim as linhas de forga magnéticas. 1 Definigao de B Pata def puntiforme q colocada num campo elétrico. J4 0 campo magnético exerce forgas sobre cargas em movimento. Verifica-se experimentalmente que a forga é proporcional A carga 8 magnitude da velocidade da particula. Entretanto, a diregio da forga € perpendicular as diregdes da velocidade v e do campo magnético. A forga F é dada por FokqvxB (7.1.1) onde k € uma constante positiva, que depende da escolha do sistema de unidades, e v é a velocidade da particula de carga q em relagio a um referencial inercial. E, cousideramus a furga F = gE que atua sobre uur carga de piova B v Logo! F le sen 6, onde 60 Angulo entre Be v; F 6 perpendicular av ea B, ¢ anula-se se q v6 paralelo a B. No SI, toma-se k = 1. Logo, F F=qvxB (7.12) Figura 7.1 Forga magnétca sobre uma carga © que define a magnitude de B. Em particular, se v é perpendicular a Be se Iwl=12,q=1C €1FI=1N, obtemos a unidade de | B1 nesse sistema, que se chama IT (Tesla): Delinigdo de B 129 Te (7.13) m/s IT corresponde a um campo magnético muito intenso. E também muito usada a unidade de !B| no sistema CGS, que é 0 Gauss (G): 16-104 14) O campo magnético da Terra €~ 0,6G = 6x10 * T. Campos magnéticos muito in- tensos produzidos em laborat6rio, durante tempos muito curtos, atingem algumas cen- tenas de T. Consideramos acima uma situago em que s6 existe campo magnético atuando sobre a carga q. Se existir, além disso, um campo elétrico K, a forga resultante F=q(E+vxB) (7.1.5) que se chama forca de Lorentz. E, como F, é um vetor polar, Como v também é um vetor polar, para que 0 pro- duto vetorial v x B seja polar é preciso que B seja um vetor axial, ou seja, 0 sentido de B estd associado a uma convencdo. Da forma como o definimos, é a convengiio S—> N da agulha magnética de prova. Se a carga q sofre um deslocamento di durante um intervalo de tempo infinitési- mo dt, temos dl = v dt, ¢ 0 trabalho realizado pela forga de Lorentz é dW =F-dl=F-vdt=qE-vdt pois v «(vx B) = 0. Logo, aw V ok (7.1.6) a ae €a poténcia (trabalho/(unidade de tempo)] associada a forga de Lorentz, que se deve ex- clusivamente ao campo elétrico. O campo magnético nao realiza trabatho, porque a forga magnética € sempre perpendicular a velocidade da particula. Assim, a energia cinética de uma particula carregada num campo puramente magnético permanece constante. Exemplo: Movimento num campo B uniforme Tomando 0 eixo Oz // B,temosB = B2. Se a velocidade inicial v , da parti- cula tem uma componente vy. # 0, esta componente nao se altera, porque 130 Campo magnético F, = 0. Logo, basta considerar a projegdo do movimento sobre plano (xy) perpendi- cular a B. Como a energia cinética nao se altera, a magnitude da velocidade no plano (xy) € constante, e a forga (portanto também a aceleragdo) é sempre perpendicular & veloci- dade, o que é uma caracteristica da aceleragio centripeta no movimento circular uniforme (fig. 7.2). Se v = Iv! € a velocidade inicial no plano (xy), temos v mv laren (1.7 e Figura 7.2 Orbita circular num campo B (8 aponta para cima). | Xia! (7.1.8) rom € a freqii@ncia angular correspondente ("“freqiiéncia de ciclotron”), que s6 depende de (q/m) e B. Essa freqiiéncia angular é independente da velocidade da particula: raio r cresce com v, mas 0 tempo para uma volta completa independe de v (cf. Fisica Bésica 1, Seg. 5.4). : Se vy: # 0, & preciso superpor ao movimento circular em torno de B um movi- mento uniforme na diregio de B, de forma que as particulas carregadas descrevem helices, espiralando em torno das linhas de B. Trajet6rias circulares de particulas carregadas em campos B uniformes tornam-se visiveis em instrumentos empregados na fisica de particulas. Historicamente, um dos mais importantes foi a cdmara de Wilson, um recipiente contendo vapor de Agua quase satu- rado, em que se faz uma expansio adiabitica stibita, resfriando-o, 0 que torna o vapor supersaturado, Gotinhas de 4gua tendem ento a condensar-se em torno dos fons existentes na cdmara, produzidos pela passagem da particula carregada que se quer detectar, cuja trajet6ria é assim materializada e pode ser fotografada, Com um campo B perpendicular ao plano da trajetria na cimara, ela é um | circulo ou arco de circulo, cujo raio mv /( qB) da a informagao sobre a magnitude do | momento my da particula; se conhecermos 0 sentido de percurso, também dé o sinal da | 7.1. Definigdo de B 131 carga (na fig. 7.2, 0 sentido de percurso anti-hordrio & para uma carga negativa; para uma carga positiva, o sentido seria horétio). ~ Um exemplo famoso foi a foto obtida em 1932 por Carl Anderson, em que a parti- cula atravessava uma placa de chumbo, com B dirigido para dentro do plano da foto, cujo aspecto é esquematizado na fig. p 7.3. A trajetéria tinha caracterfsticas i- : picas de um elétron. A diminuigio do Figura 7.3 Trajetéria de um pésiron numa raio de curvatura r de baixo para cima, cmara de Wilson, com B para dentro do plano. TA pica eetesenta de tates pas ina associada com uma perda de momento a0 atravessar a placa, mostra que o senti- do € anti-horério. Isso permitiu concluir que a carga era positiva e levou A descoberta do pésitron. AplicagGes importantes do movimento de particulas carregadas, cm campos clétricos. © magnéticos, jé foram vistas no curso de Mecinica (Fisica Bésica 1, Seg. 5.4): determinagio de e/me nas experiéncias de J. J. Thomson, filtro de velocidades, espectrmetro de massa, ciclotron. Exemplos encontram-se nos problemas do final deste capitulo. O fluxo de B fluxo de B através de uma superficie S, com versor da normal it, € definido por o-[ fds (7.1.9) Como nio existem cargas magnéticas (mohopolos), 0 andlogo magnético da lei de Gauss | fp-aas=o (7.1.10) LS para qualquer superticie fechada, Se V é 0 volume contido dentro de S, isto implica, pelo teorema da divergéncia, f aveav=o (At) v 0 que s6 € possivel, sendo V qualquer, se (7.1.12) Essa € uma das equagdes de Maxwell, representando uma propriedade fundamental do campo B, Dela decorre, como sabemos, que as linhas de fora magnéticas so sempre

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