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' \ \ richmad La ishoane VopSackes € nahuecta vt da Qeegeaha A DIVISAO DA GEOGRAFIA EM CAMPOS TOPICOS * 0 DUALISMO ENTRE A GEOGRAFIA FISICA E A GEOGRAFIA HUMANA. As conclusées do capftulo anterior contestam uma divisio-da Geografia que vem sendo geralmente aceita © seguida hé deze- nas de anos nos cursos universitétios, como se essa disciplina fos- fda de duas partes, cada qual coerente ¢ unificada: a ia Hu jeplordvel que tenhamos inda “Geografia Fisica”, expressio que possufa significado iverso para 0s gedgrafos de hé cem anos, © que apresenta sportante, basea- nado campi es, facilmente observives, e mais, que dentro de cada \dados seriam semelhantes entre si ifereagas maiores exi las © as de nseqiientemente, cada divisio elaboraria seus 05 de observagio hhaveria de conter catego: rogeneas, que exigiriam larga variedade de de observagio, ao passo que hi uma estreita similaridade entre as plantas caltivadas, o 70 Ce 17h ¢ te ter asseverou que “a transigiio da parte fisica para a parte huma- na da cigacia (geografia) nfo envolve salto maior que a do para as formas do relevo, ou destas para a cobertura veget (2:312); se isso deve ser considerado um exagero, nfo hé davi- da que acentua a5 imensas diferengas de cardter entre os diversos elementos nio-humanos, Em contraste, todos reconhecem que os elementos atmostéricos formam uma categoria tinica, a do clima, que exige métodos de estudos que Ihe sao peculiares, O mesmo € verdadeiro, em larga ‘medida, para cada uma das outras categorias convencionais de “clementos naturais". Poucos desses elementos, porém, sfo intei- ramente néo-humanos, Formas de relevo de importincia secun- dacia, roclimas, solos, vegetacio silvestre, tudo isso 6 afetado, ‘ou menor grau, pela cultura humana, Muito freatient mente, a0 estudarem esses aspecto (0 gedgrafos obe- deceram a légica dessa divisio abstrata para exclu, ou nfio levar resultado ide € ofereoer uma descticio do que se julga haver exis- tido no passado, até mesmo em passado remoto, € nfo a do que ‘corte na realidade, Do outto lado da Geografia a situagdo 6 ainda mais flagrante: 6 absurdo, em face dessa situagGo, considerar 2 Geografia Huma- na como separada da Geografia Fisica. O homem pertence A ter- Qualquer obra ma~ no chifo, uma fa- ‘em Geografia, portanto, uma separagio real en- ementos fisicos ¢ os elementos humanos, nfo temos uma disciplina formada de duas partes distintas. Mais propriamente, trata-se de uma disciplina'em que alguns dos aspectos estudados terdo sido, presumivelmente, em larga medida determinados pela peetos hio de ter sido, em grande parte, determinados pelo ho- mem, agindo ao lado da natureza, Assim & que Hettner, conforme Geese sugey &S "SPSS SHSSSESSESEELEBES se observou anteriormente, considera a natuteza e o homem inse- pardveis na complexa unio que forma o caréter das Areas. Nu- ma ampliagdo dessa idéia, Herbertson escreveu, em 1916: ‘podemos considerar (....) um pafs hi , sem abstrair uma parcela essen um ssa vo se for ass 0” (7-149). Vidal chegou a conclusdo semelhante numa proposigho sua, citada: “Por conseguinte, a Geografia Humana nfo uma Geogratia da, qual tenham sido excluidos os ‘manos. Na verdade, tal geografia nunca existiu, exceto na mente 1:35 of. Sauer, 25:178; Allix, 49:296, Ed- ). , 08 debates da comissio que preparou o volume American Geography levaram & conclusto, expressa por James ¢ também por Whittlesey, de que a divisto entre Geograt Geografia Humana obscureceu a verdadeira natureza da di 10 invés de esclarect-la, Muitas pessoas, porém, mostraram-se chocadas com essa assercio. E trabalhos subseqlientemente publi- cados demonstraram que 0 conceito do estudo da “terra fisica” est profundamente arreigado em nosso pensamento. Por conse- guinte, toma-se necessério considerar-lhe os antecedentes hist6- rieos. Desenvolvimento Histérico do Dualismo O préprio termo “Geografia Fi € um dos mais venerados ¢ reverenciados do nosso. campo de estudos, tendo se originado pelo menos na época de Varenius, © empregado por Kant ¢ Hum- boldt. Mas para esses sdbios o adjetivo tinha uma cono- ra diretamente comparivel & “Geografia Geral” de Var 4 qual hoje denominames “Geograia problema da Geografla Fisica (Iiteralmen consiste em determinar (.. eternos que encadeiam os fenémenos da vida aos da nalureza nimada” (1:76,79;, 14:60,64). Por conséguinte, para Humboldt como para Kant a Geografia Fisica incluia o homem, nfo em virtude de uma reflexfo poste- 72 ferthought”), mas como essencial No transcurso das décadas que se sucedera los “Geografia Fisica” geralmente seguiam Humboldt ¢ sm uma parte sobre as ragas humanas, Somente no século 1 6 que foi eliminado esse capitulo sobre 0 da Geografia deveria ser “o hor orgnico em contraste com 0 ia em ‘Geogratia dicotomia, B justamente para setvir, de desse género que existe a Geografia. 2 fa ide central da Geografi hhecer ow red quaisquer razies, dois ” (93:28) No entanto, essa metéfora consagrada pelo tempo, destréi 0 prinefpio que a encerra, O tinico propésito de una ponte hé de os dois iados de um corte. Uma falsa dicotomia de ponte. A natureza, como reslidade Snteg apresenta clivagem alguma entre o homem e a natureza-menos-o- chomem. Até a segunda metade do.século XIX, o estudo dessa realidade, empreendido pelo homem, nfo reconhecia tal clivagem. Por conseguinte, nfo havia necessidade de qualquer ponte (1:369), Dentro da propria Geografia, a divisfo académica eatre 0 na- tural 0 social cindiu a matéria em duas partes, de tal sorte que idades os ge6grafos se viram classificados em em algumas. 0 principio em ‘over suas conferéncie pi en diversas passegens de seu liveo Korn ‘estonso por Tatham (1:65,07-68; 9:84; 14:17 wre das Geistige ‘Congeanto seus 73 dois quadros distintos. Reuni-los num s6 constituiu 0 propésito do famoso pronunciamento de Mackinder, de 1887 (16). Mas 0 coneeito de Geografia como ponte tende a perpetuar esse dualis- ‘mo. Pode-se chamar de falsa a dicotomia entre o homem e a na- tureza; mas, se o debate, no campo da Geografia, prosseguir ses termos, a disciplina inevitavelmente se dividird em Geografia Fisica e Geografia Humana, ou Social. A Falta de Coertncia da “Geografia Fisica” A falta de unidade € mais do que uma questo de duslismo. livro didético padréo que tenha por titulo “Geografia uma prova da conclusto de Kirk Bryan segundo a qual, considerada 2 parte do resto da Geografia, “ela constitu um grupo de cigncias especiais, cada uma delas visando aos seus pré= ivos”, de tal sorte que inexiste uma unidade coezente ‘A mesma falta de unidade se evidencia na di idge © East, O que, em qualquer part didéticos, & simplesmente denominado “Geografia Fisica”, como diviséo fundamental da matéria, distribui-se, nessa discussto por duas subdivisies — a “Geogratia Fisica” © a “Biogeogrs primeira constituda de fragmentos quase descontinuos, Embora esses autores reconhegam que a terra, o ar € 0 Oceano séo “sob importantes aspectos curfosamente diferentes ¢ separados”, afir- mam, como um “trufsmo”, que “os trés so intimamente vinctlados gates” (93:41) © buscam apolar exe tuto numa profits smanta, uma cetta compreensio de que, ina imagem ,tomadas iramente & porte do que fem conjunto, possui fungio e valor cs gobgrafos pretendem ating. Posto totaln mano, nosso planeta e as interselagSes do suas partes coasttuem matécia ‘unitiria de estado, que, para a nossa mente se apredénta de certa mans como um todo... © ponto de vista unitéro ainda tem o seu valor... Quer consideremos nosso planeta como a sede da vide, quer como a m hhomem, a totilidade de sua inrincada organizagfo fisica c base adequada ¢ nocessiria 20 estudo (99:55 © seg,). Essas afirmagées sto eltadas por extenso porque to bem ilus- tram, em minha opiniao, a esséncia do probler A crosta da terra, que constitui, somente ela, a matéria unitéria dotada.de 74 fe de organizagio,? é formada de partes inextricavel- ment das, néo s6 de tessa, ar e Agua, mas também de © homens; campos, sebes, celeizos © casas; es- iio. Todos esses aspectos animados e feitos pelo homem sfo intrincadamente cons- 3s de varios fragmentos de materia s6lidos, Liquidos e gaso- s0s, provenientes de formas inanimadas. Por conseguinte, se sub- ‘raimnos desse conjunto o homem e todas as suas obras, © que restard hi de ser algo menos do que a totalidade da terra inor~ ‘ginica, Seré uma abstragio mental, destitulda de coeréncia na Tealidade (analogamente, Humboldt, 14:367 © seg.). (0 conceito de “Geogratia Fisica” como o estudo dos aspectos nio-humanos da terra desenvolveu-se simultaneamente 20 con- Geito de que a fungio especial da Geografia seria estudar as rela- ges entre o homem e a terra (ndo-humana). Ambos tém origem hha Filosofia da Ciéncia que procura explicar, conforme observa ‘mos no capftulo antecedente, os fendmenos do homem em fun¢io Ge fendmenos nfo-humanos € sujeitos a leis naturals, A tarefa da “Geogratia Fisica”, por conseguinte, seria estudar 0 “meio fisico 0 homem”. Recentemente, Leighly levantou uma objego contra essa subor- inagdo da Geografia Fisica ao estudo dos fendmenos natureis, tomados como a metade causal do dogma determinista. ¢ Visando a escapar as limitagSes assim impostas, Leighly propée que « Geogratia Fisica exclua todas as consideragoes de utiizagto pelo homem e busque simplesmente “investigar as operagGes das leis da natureza na face do globo, na terra, no céu¢ na 4gua” (108:318). Nao resta divida, porém, que tudo quanto observa- ros na terra, na agua e até mesmo no céu resulta da interagéo Ge muitos elementos que incluem, em grau varidvel, tanto fatores TA expressio “inatéria unitiria de estudo" nto deve, evidentemeste, ser ‘ia em qualquer sentido literal, uma vez que podo consistir quer na tolalidade dos elementos inotginiccs, quer na totalida sMlorhumenat, Nout exsalo,, Woolitidge tae endos Fleare contra a "profunds ‘issio", no campo da Geo parte incompletas ‘e inadequadas”, a fitien ¢ a humana (92:19). 4 As rales filoséficas gers desse ponto de remumidamente apoatadas no trabalho de Leighly, sendo, Yyedo oom maior atengio 0 papel que se Wiliam Moris Davis ¢ outros estudiosos que vieram 17), Robert §, Fatt poblioow uma erltin da posigio de Leighly om sou ‘uabalho “A Note on. Rollia D. Salisbury”, Annals, Association of Ame- rien Geographers, Vol. XLVI (1957), 276, 7 humanos, quanto nZo-humanos. Investigar a operagio das nfo-humana, na face do planeta, é realizar uma at os elementos terrestres; do rma por si mesma uma tunidade parcial, uma parte integrado do todo. Em contraste, © conceito de “meio natural” parecen, 20s gt6- arafos da geracio passada, conferir uma certa forma de wnidade A Geografia Fisica, Eles se esqueceram de que o proprio termo no passa de uma denominacto coletiva, que abrange elementos individuais © complexos-de-elementos, os quais s6 podem ser in- tegrados em termos do que estiver envolvido pelo meio. Os gebgrafos franceses, segundo Le Lannow, chegaram prati- longtemps que nous

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