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I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A

Capítulo

17
Propagação de vazão em
rios

O
objetivo dos cálculos de propagação de vazão em rios é determinar o
hidrograma de vazões em uma seção transversal de um rio, com base no
hidrograma conhecido em uma ou mais seções transversais localizadas a
montante. A propagação de vazões é especialmente interessante quando é
necessário determinar o comportamento de uma onda de cheia ao longo de um rio
natural ou canal artificial.

Propagação de
cheias em rios
Os efeitos principais que ocorrem
quando uma cheia se propaga ao
longo de um rio são a translação
e o amortecimento, ilustrados na
Figura 17. 2.

Em um canal ideal e se a água


não tivesse viscosidade, uma
onda de cheia poderia se
propagar sem alteração na forma
do hidrograma. Neste caso
haveria apenas a translação da
Figura 17. 1: Hidrogramas do rio Uruguai em Garruchos e Itaqui (localizada cerca de 192 km a onda de cheia, com o pico de
jusante) em 1987.
vazão no ponto de jusante
ocorrendo algum tempo depois
do pico a montante. Entretanto,
W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S

existe perda de energia


devida ao contato e atrito
com as margens e com o
fundo. Além disso, os canais
e rios não são perfeitamente
regulares, e a água é retida e
armazenada em trechos mais
largos e nas áreas inundáveis,
sendo posteriormente
devolvida ao rio. Como
Translação resultado uma onda de cheia
é gradualmente amortecida
Q
enquanto se propaga para
Hidrograma em A
jusante.
Hidrograma em B A intensidade do
amortecimento de uma cheia
depende de diversos fatores,
t como a rugosidade do leito
do rio e das margens, da
Amortecimento presença de vegetação no
Q leito, ilhas e planície, e na
quantidade de obstáculos
Hidrograma em A
como pilares de pontes e
Hidrograma em B
aterros.

Além da translação e do
amortecimento a onda de
t cheia em geral cresce de
montante para jusante em
Figura 17. 2: Efeitos de translação e amortecimento de uma onda de cheia se propagando ao longo de um rio. função da contribuição que
recebe dos afluentes.

Em rios em regiões muito planas podem ocorrer ainda efeitos de jusante, afetando a
vazão e o nível da água em função do que ocorre a jusante de um determinado local,
como no caso de trechos de rio próximo ao mar, que sofrem o efeito da maré.

Velocidade de propagação de ondas de cheias


Ondas de cheia se propagam para jusante com uma velocidade que é maior do que a
própria velocidade média da água. Assim, a velocidade de propagação da onde de cheia
em um rio cuja velocidade média, durante uma cheia, é de 1 m.s-1, é superior a 1 m.s-1,
podendo chegar a 1,6 m.s-1, por exemplo.

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A velocidade de propagação da onda de cheia é importante para estimar o momento


de ocorrência do pico de vazão em locais a jusante de um ponto em que existe
monitoramento.

A velocidade de propagação das ondas de cheia em rios pode ser estimada pela
celeridade cinemática, que pode ser obtida com base nas características médias das seções
transversais do rio e de sua declividade.

A celeridade cinemática é definida como (ver Ponce, 1989 ou Dingman, 2009):

dQ
c= (17.1)
dA

A celeridade cinemática pode ser estimada considerando válida a equação de Manning


para o escoamento permanente e uniforme, isto é:
2 1
R 3 ⋅S 2

Q = u ⋅ A = A⋅ h (17.2)
n

onde A é a área molhada da seção transversal; u é a velocidade média da água em m.s-1;


Rh é o raio hidráulico da seção transversal (descrito a seguir); S é a declividade (metros
por metro, ou adimensional); e n é um coeficiente empírico, denominado coeficiente
de Manning.

Combinando as equações 17.1 e 17.2 em um rio largo, onde o raio hidráulico pode ser
aproximado pela profundidade média, obtém-se a seguinte aproximação para a
celeridade da onda de cheia:

5
c= ⋅u (17.3)
3

onde c é a velocidade de propagação da onda de cheia (celeridade cinemática - m.s-1); e


u é a velocidade média da água (m.s-1).

Da equação 17.3 se observa que a velocidade de propagação das ondas de cheia é


maior do que a própria velocidade média da água. Além disso, a velocidade de
propagação das cheias tende a ser maior para cheias maiores, porque o nível da água e
a velocidade média tendem a ser maiores.

Por outro lado, em rios com grandes planícies de inundação, a velocidade de


propagação das ondas de cheia tende a diminuir drasticamente no momento em que o
rio começa a transbordar.

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Cálculos de propagação de cheias em rios


Historicamente, o objetivo dos cálculos de propagação de cheias ao longo de rios foi
prever a magnitude e o tempo de ocorrência de vazões para que pudessem ser
realizadas ações para proteger as vidas de pessoas e minimizar prejuízos materiais.
Desde o final do século XIX é conhecido um conjunto de equações diferenciais
parciais que descrevem o escoamento em rios, na condição que considera escoamento
unidimensional e baixa declividade, entre outras simplificações. Estas equações são
conhecidas como equações de Saint-Venant, em homenagem ao seu formulador, e são
apresentadas abaixo na forma atualmente mais utilizada.

∂A ∂Q
+ =0
∂t ∂x
∂Q ∂  Q 2  ∂h
+   + g ⋅ A ⋅ + g ⋅ A ⋅ S f = 0
∂t ∂x  A  ∂x
(17.4)

onde A é a área molhada da seção transversal (m2); h é o nível da água na superfície em


relação a um referencial (nível médio do mar) (m); Q é a vazão (m3.s-1); t é o tempo (s);
g é a aceleração da gravidade; x é a distância linear ao longo do rio (m); e Sf é a perda
de carga devida ao atrito com as margens e fundo (adimensional).

A primeira equação é a equação de continuidade aplicada a um trecho infinitesimal do


rio e a segunda equação é obtida a partir da equação de conservação de quantidade de
movimento para o mesmo trecho infinitesimal.

As equações de Saint-Venant permitem representar os efeitos de translação,


amortecimento e também os efeitos de jusante sobre o escoamento a montante.

Não existem soluções analíticas para as equações de Saint-Venant na maior parte das
aplicações úteis. Somente nas décadas mais recentes é que os métodos numéricos e os
computadores digitais permitiram a solução das equações completas de Saint-Venant.
Atualmente existem diversos programas computacionais de modelos matemáticos que
resolvem as equações de Saint-Venant numericamente para resolver problemas de
propagação de vazão em rios e canais.

Método Muskingum
Antes do surgimento dos computadores e das facilidades atuais para solução das
equações de Saint-Venant diversos métodos simplificados foram criados para
representar a propagação de ondas de cheias em rios. Um dos métodos simplificados
mais conhecidos é o método Muskingum, que recebeu este nome porque foi aplicado
inicialmente ao rio Muskingum, nos EUA na década de 1930.

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O método Muskingum combina a equação da continuidade a uma equação


simplificada que relaciona o armazenamento em um trecho de rio às vazões de entrada
e saída do trecho.

A equação da continuidade de um trecho de rio:

dS
= I −Q (17.5)
dt

é aproximada em diferenças finitas como:

St + ∆t − St I t + I t +∆t Qt + Qt +∆t
= − (17.6)
∆t 2 2

onde S é o volume armazenado no trecho; I é a vazão de entrada; Q é a vazão de saída.

O método Muskingum está baseado em uma relação entre a vazão e o armazenamento


em que a vazão do trecho é representada por uma ponderação entre a vazão de entrada
e saída:

S = K ⋅ [ X ⋅ I + (1 − X ) ⋅ Q ] (17.7)

Combinando as equações 17.6 e 17.7, a vazão de saída de um trecho de rio ao final de


um intervalo de tempo ∆t pode ser relacionada às vazões de entrada e saída no início
do intervalo de tempo (Qt e It) e à vazão de entrada ao final do intervalo de tempo
(It+∆t), como mostra a equação seguinte:

Qt + ∆t = C 1 ⋅ I t + ∆t + C 2 ⋅ I t + C 3 ⋅ Qt (17.8)

onde

∆t − 2 ⋅ K ⋅ X
C1 = (17.9)
2 ⋅ K ⋅ (1 − X ) + ∆t

∆t + 2 ⋅ K ⋅ X
C2 = (17.10)
2 ⋅ K ⋅ (1 − X ) + ∆t

2 ⋅ K ⋅ (1 − X ) − ∆t
C3 = (17.11)
2 ⋅ K ⋅ (1 − X ) + ∆t

sendo que C1+C2+C3 = 1.

O método Muskingum tem dois parâmetros de cálculo (K e X) que devem ser


definidos antes dos cálculos.

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O parâmetro X é um ponderador adimensional cujo valor deve estar entre 0 e 1, mas


na maior parte dos rios e canais naturais seu valor é próximo a 0,3. Dependendo do
valor de X ocorre mais ou menos amortecimento da onda de cheia. Para um valor de
X igual a 0,5 não ocorre amortecimento. Quando X é igual a zero o amortecimento é
máximo.

O parâmetro K têm unidades de tempo e deve ser expresso nas mesmas unidades de
∆t. O valor de K pode ser estimado pelo tempo de viagem do pico da cheia do início
ao final do trecho de rio, ou seja, a distância dividida pela celeridade. Quanto maior o
valor de K, mais afastados no tempo ficam os picos de vazão na entrada e saída do
trecho de canal.

Para evitar minimizar a possibilidade de erros, os valores de K e X devem ser


escolhidos de tal forma a satisfazer o seguinte critério:

∆t
X ≤ ≤ (1 − X )
2⋅K

EXEMPLO

1) Calcule o hidrograma de saída de um trecho de rio, ao longo do qual o tempo


de propagação da onda de cheia é de 2,4 horas. O hidrograma de entrada no
trecho é dado na tabela.
3 -1
Tempo (horas)
3
I (m ,s )
-1 Tempo (horas) I (m ,s )
1 1,00 13 3,51
2 1,20 14 2,87
3 1,53 15 2,32
4 2,03 16 1,90
5 2,67 17 1,60
6 3,43 18 1,39
7 4,20 19 1,25
8 4,78 20 1,15
9 5,05 21 1,10
10 5,01 22 1,05
11 4,69 23 1,00
12 4,16 24 1,00

O valor de K do método de Muskingum pode ser considerado igual ao tempo de viagem do pico entre o
início e o final do trecho (2,4 horas). O valor do ponderador X pode ser escolhido entre 0,1 e 0,3, que
são valores típicos para os rios. Adotando um valor de X = 0,2, que corresponde ao meio do intervalo,
os valores de C1, C2 e C3 ficam:

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C1 = 0,008

C2=0,405

C3=0,587

∆t
O valor escolhido de X também satisfaz o critério X ≤ ≤ (1 − X ) .
2⋅K

Considerando que a vazão de saída no primeiro intervalo de tempo é igual à vazão de entrada, a vazão
no segundo intervalo de tempo pode ser calculada por:

Qt + ∆t = C 1 ⋅ I t + ∆t + C 2 ⋅ I t + C 3 ⋅ Qt

ou seja

Qt + ∆t = 0,008 ⋅ 1,2 + 0,405 ⋅ 1,0 + 0,587 ⋅ 1,0 = 1,00

no segundo intervalo de tempo

Qt + ∆t = 0,008 ⋅ 1,53 + 0,405 ⋅ 1,20 + 0,587 ⋅ 1,00 = 1,08

E as vazões nos intervalos seguintes pode ser calculada de forma semelhante, resultando nos valores
apresentados na tabela que segue.

Tempo (horas) I (m3/s) Q (m3/s)


1 1.00 1.00
2 1.20 1.00
3 1.53 1.08
4 2.03 1.27
5 2.67 1.59
6 3.43 2.04
7 4.20 2.62
8 4.78 3.28
9 5.05 3.90
10 5.01 4.37
11 4.69 4.63
12 4.16 4.65
13 3.51 4.44
14 2.87 4.05
15 2.32 3.56
16 1.90 3.04
17 1.60 2.57
18 1.39 2.17
19 1.25 1.84

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20 1.15 1.60
21 1.10 1.41
22 1.05 1.28
23 1.00 1.19
24 1.00 1.11

Em trechos longos de rios pode ser necessário fazer a divisão do comprimento total
em sub-trechos e realizar a propagação para cada um destes sub-trechos, de montante
para jusante.

Método Muskingum-Cunge
Um problema do método Muskingum para propagação de vazões é que para definir os
valores dos parâmetros K e de X é necessário dispor de dados observados de vazão
nos extremos de montante e jusante do trecho de rio, o que raramente se cumpre.

O método de Muskingum-Cunge permite contornar este problema através de


estimativas dos valores de K e X a partir de características físicas do rio.

No método Msukingum-Cunge as equações 17.8 a 17.11 continuam valendo, porém o


valor de K pode ser obtido dividindo o comprimento do trecho pela celeridade da
onda de cheia:

∆x
K= (17.12)
c

onde ∆x é o comprimento do trecho de rio (m); K é o parâmetro do modelo


Muskingum (s); e c é a celeridade cinemática da onda de cheia (m.s-1).

O valor de X ideal para a aplicação do método Muskingum-Cunge pode ser obtido a


partir da equação:

1  Q 
X = ⋅  1 −  (17.13)
2  B ⋅ c ⋅ S 0 ⋅ ∆x 

onde B é a largura do rio (m); S0 é a declividade de fundo do rio (m.m-1); c é a


celeridade da onda de cheia (m.s-1); Q é uma vazão de referência (m3.s-1) e ∆x é o
comprimento do trecho de rio (m).

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O intervalo de tempo de cálculo ideal para o método Muskingum-Cunge deve ser


relativamente pequeno se comparado ao tempo de ascensão do hidrograma.

Tr
∆t ≤ (17.14)
5

onde Tr é o tempo de ascensão do hidrograma.

O valor de ∆x também deve ser cuidadosamente escolhido. Uma estimativa (Fread,


1993) é:

c ⋅ ∆t   2 
1

Q
∆x ≅ 1 +  1 + 1,5 ⋅   (17.15)
2   B ⋅ S 0 ⋅ ∆t ⋅ c 2  

onde Q é uma vazão de referência (m3.s-1) e c a celeridade cinemática (m.s-1).

A aplicação do método Muskingum-Cunge inicia pela definição do intervalo de tempo


adequado para a representação da onda de cheia. A seguir é definida uma vazão de
referência. Uma boa estimativa da vazão de referência pode ser uma vazão um pouco
inferior à vazão máxima do hidrograma de entrada do trecho.

A partir da definição da vazão de referência, pode ser calculada a celeridade, usando


uma equação de escoamento permanente uniforme, como a de Manning, e
considerando que o rio tem uma seção transversal simples (trapézio ou retângulo).

Com base na celeridade e no intervalo de tempo de cálculo é possível estimar o valor


de ∆x, pela equação 17.15. Se o valor de ∆x for próximo do comprimento total do
trecho (L), é adotado em lugar do ∆x calculado o comprimento total do trecho. Caso o
valor de ∆x calculado seja bastante inferior ao comprimento total do trecho (L), o
trecho deve ser dividido em sub-trechos.

Com base nos valores ideais de ∆x e ∆t são calculados os valores de K e X, e os valores


de C1, C2 e C3 para aplicação do método.

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EXEMPLO

2) Determine o hidrograma 18 km a jusante de uma seção de um rio de 30 m de


largura, declividade de 70 cm por km, coeficiente de Manning n=0,045. Os
dados do hidrograma de entrada são dados na tabela.

Intervalo de Tempo
tempo (minutos) Vazão montante (m3/s)
1 40 20
2 80 30
3 120 60
4 160 90
5 200 100
6 240 130
7 280 115
8 320 95
9 360 80
10 400 60
11 440 40
12 480 20
13 520 20
14 560 20
15 600 20

O primeiro passo da solução é estimar a vazão de referência para o cálculo dos parâmetros.
Considerando que a vazão máxima do hidrograma de entrada no trecho de rio é 130 m3.s-1, uma opção
para a vazão de referência é 90 m3.s-1, que é ligeiramente inferior à vazão máxima (cerca de 70% do
pico).

Considerando um rio com seção transversal retangular, e considerando que o raio hidráulico pode ser
considerado igual à profundidade, a vazão de 90 m3.s-1 corresponde ao nível d’água 2,66 m. A
velocidade média na seção, nesta mesma vazão de referência, é de 1,13 m.s-1. A celeridade pode ser
obtida pela equação 17.3, o que resulta em 1,88 m.s-1.

O intervalo de tempo em que existem dados observados é de 40 minutos, o que corresponde a um sexto
do tempo de pico da onda de cheia. Assim, observa-se pela equação 17.14 que o intervalo de tempo de
40 minutos é adequado. Isto corresponde a ∆t=2400 s.

Com base nestes dados a equação 17.15 pode ser utilizada para determinar o ∆x ideal. O resultado é
∆x=5249 m. Com base neste ∆x ideal é necessário decidir como o comprimento total do trecho será
dividido. Uma primeira estimativa é calcular o número de sub-trechos necessários para atingir o ∆x
ideal:

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L 18000
N= = = 3,43
∆x 5249

Assim, seriam necessários 3,43 sub-trechos. Como não é possível trabalhar com valores não inteiros de
sub-trechos, o número de sub-trechos adotado é N=3. Assim, cada um dos trechos tem ∆x=6000 m.

O valor de K pode ser calculado pelo tempo que uma onda com celeridade c leva para percorrer um ∆x,
isto é:

∆x 6000
K= = = 3190 s
c 1,88

e o valor de X pode ser calculado pela equação 17.13, resultando em X=0,31.

∆t
Observa-se que estes valores de X e K satisfazem o critério X ≤ ≤ (1 − X )
2⋅K

Com base nestes valores de X e K obtém-se C1=0,062; C2=0,644 e C3=0,294 usando as equações
17.9 a 17.11.

Considerando que no primeiro intervalo de tempo a vazão de saída de cada um dos 3 subtrechos é igual
à vazão de entrada do primeiro sub-trecho, pode ser iniciado o cálculo para o segundo intervalo de
tempo:

No primeiro sub-trecho:

Qt + ∆t = C 1 ⋅ I t + ∆t + C 2 ⋅ I t + C 3 ⋅ Qt

ou seja

Qt + ∆t = 0,062 ⋅ 30 + 0,644 ⋅ 20 + 0,294 ⋅ 20 = 20,6

a vazão de saída deste sub-trecho passa a ser a vazão de entrada do subtrecho seguinte, assim a vazão
de saída do segundo subtrecho no segundo intervalo de tempo é calculada por:

Qt + ∆t = 0,062 ⋅ 20,6 + 0,644 ⋅ 20 + 0,294 ⋅ 20 = 20,0

e no terceiro sub-trecho segue que:

Qt + ∆t = 0,062 ⋅ 20 + 0,644 ⋅ 20 + 0,294 ⋅ 20 = 20,0

repetindo estes cálculos para cada intervalo de tempo são obtidas as vazões de saída de cada sub-trecho,
como mostra a tabela a seguir:

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W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S

Tempo Vazão montante Vazão Vazão Vazão


Intervalo de tempo (minutos) (m3/s) subt 1 subt 2 subt 3
1 40 20 20.0 20 20
2 80 30 20.6 20.0 20.0
3 120 60 29.1 21.0 20.1
4 160 90 52.8 28.2 21.2
5 200 100 79.7 47.2 27.3
6 240 130 95.9 71.1 42.8
7 280 115 119.0 90.0 64.0
8 320 95 114.9 110.2 83.6
9 360 80 99.9 112.6 102.6
10 400 60 84.6 102.7 109.1
11 440 40 66.0 88.8 103.7
12 480 20 46.4 71.5 92.1
13 520 20 27.8 52.6 76.4
14 560 20 22.3 34.7 58.5
15 600 20 20.7 25.9 41.2

A vazão máxima na entrada do trecho é de 119 m3.s-1 e a vazão máxima na saída é de 109,1 m3.s-1.
O pico na vazão de saída ocorre 160 minutos (2 horas e 40 minutos) depois do pico de vazão na
entrada do trecho.

Leituras adicionais
A propagação de vazões em rios e canis é tema de livros dedicados exclusivamente ao
assunto. Em português uma referência útil é o livro Hidráulica Fluvial, de Rui Vieira da
Silva, Flávio Mascarenhas e Marcelo Miguez; além do livro Modelos Hidrológicos
(Tucci, 199).

Programas de computador comerciais ou distribuídos gratuitamente, como o HEC-


RAS, permitem calcular problemas de propagação de vazões em rios e canais usando
modelos hidrodinâmicos, que resolvem as equações de Saint-Venant numericamente.
Os manuais destes programas também podem servir de leitura complementar.

Exercícios

1) Refaça o exemplo 2 considerando que o rio tem uma seção transversal


trapezoidal com margens com inclinação de 50% e largura do fundo de 10 m e
declividade de 20 cm por km.

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2) Utilize o método de Muskingum-Cunge para propagar o hidrograma dado pela


equação abaixo, em um rio com 15 km de extensão, largura média de 60 m,
coeficiente de Manning n = 0,030, com declividade de 0,0002. Utilize intervalo
de tempo horário.
β
 t  t 
Q(t ) = Qbase + (Q pico − Qbase ) ⋅  ⋅ exp 1 − 
 T p  T 
 p 

onde t é o tempo; Qbase=10 m3.s-1 ; Qpico=230 m3.s-1 ; Tp = 35 horas; β = 10

3) Utilize o método Muskingum-Cunge para calcular o hidrograma do rio


Uruguai em Itaqui, a partir dos dados observados em Garruchos, no período
de outubro e novembro de 1987 dado na tabela a seguir. Garruchos está
localizada 192 km a montante de Itaqui. Considere que a largura média do rio
neste trecho é de 900 m, a declividade do fundo é de 7 cm/km, coeficiente de
Manning n = 0,040 e que a seção transversal é retangular. Compare os
resultados aos valores observados em Itaqui. Se for necessário use um
intervalo de tempo de cálculo inferior a um dia, interpolando linearmente os
dados de entrada.
3 -1 3 -1
Data Vazão em Garruchos (m .s ) Vazão em Itaqui (m .s )
16/10/1987 3597 3011
17/10/1987 5738 3537
18/10/1987 7194 4823
19/10/1987 8753 6269
20/10/1987 9489 7599
21/10/1987 10548 8712
22/10/1987 10372 9675
23/10/1987 8268 10174
24/10/1987 6539 9900
25/10/1987 4948 8841
26/10/1987 3993 7421
27/10/1987 3484 6124
28/10/1987 3155 4999
29/10/1987 3028 4192
30/10/1987 2862 3675
31/10/1987 2680 3308
01/11/1987 2524 3036
02/11/1987 2466 2837
03/11/1987 2315 2668
04/11/1987 2071 2551
05/11/1987 1881 2302

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