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Psicologia do desenvolvimento @ DESENVOLVIMENTO PRE-NATAL E @ DESENVOLVIMENTO MORAL E PRIMEIRA INFANCIA DESENVOLVIMENTO SOCIAL Desenvolvimento pré-natal Ateoria de Kohlberg do raciocinio moral Como nos desenvolvemos durante a primeira _Estilos de apego e de parentagem infancia A teoria de Erikson dos estagios psicossociais @ COMO PENSAMOS AO LONGO DA VIDA Ge dee eno iieiia Como aprendemos a linguagem A teoria de Piaget do desenvolvimento ‘cognitivo Aabordagem sociocultural de Vygotsky 20 desenvolvimento Como a inteligéncie muda na idade adulta 236 | RICHARD A. GRIGGS 16.0 momento, discutimos percepeao, aprendizagem, meméria, pensamento e inteligéncia, mas nao consideramos como esses processos se desenvolvem 10 longo da vida. E isto © que os psicélogos do desenvolvimento estudam ~ ‘como © por que nds mudamos & medica que ficamos mais velhos. Eles estudam 0 nos- 80 comportamento e processamento mental desde @ concepedo até a morte. A psicolo- gia do desenvolvimento 6 o estudo cientifico do desenvolvimento biolagico, cognitivo, social e da personalidade ao longo de todo o periodo da vida. Este capitulo focalizara trés tipos importantes de desenvolvimento: biolégi- co, cognitivo e social (0 proximo capitulo trataré da psicalogia do desenvolvimento 0 ostus personalidade). | ientitica do desenvolvimento biologie, Historicamente, uma questo que se destaca _sovial eda personalidade ao longo do em todos os tipos de desenvolvimento é a pergunta ea ee sobre natureza versus ambiente (que também dis- cutimos no capitulo sobre a inteligéncia). Como com relacao a inteligéncia, ¢ maioria dos psic6logos agora acredita que a natureza e o ambiente interagem para influenciar co nosso desenvolvimento. Questées controversas que ainda permanecem se referem a como, exatamente, a natureza e o ambiente interagem e qual é mais importante para 08 varios aspectos do nosso desenvolvimento (Harris, 1998). Retornaremos & questo natureza/ambiente em diferentes pontos do capitulo. Os psicdlogos desenvolvimentais normalmente dividem o perlodo da vida em di- versos estagios, comecando no pré-natal e terminando na idade adulta tardia. 0 Quadro 71 apresenta um conjunto de estagios-bastante utilizado, cada um dos quais caracte- rizado por diferentes mudangas biologicas, cognitivas e sociais. A maioria das teorias importantes da psicologia do desenvolvimento discutidas por nds é de estagio. Elas ‘organizam a mudanca desenvolvimental fornecendo os intervalos de idade aproxima- dos em que podemos esperar certos comportamentos e funcionamento cognitive. Mas nao esqueca que @ Idade em que os individuos entram e saem dos estagios pode variar, que a transigao provavelmente 6 mais gradual do que abrupta, e que a definicao dos estégios pode diferir entre as culturas. O capitulo esta dividido em discussées de diferentes tipos de desenvolvimento, mas 6 importante lembrar que eles ocorrem simultaneamente e, portanto, influenciam-se mutuamente. Comecaremos discutindo os primeiros dois estagios do perfodo de vida —0 desenvolvimento pré-natal e 0 periodo de bebé - para aprender como o desenvolvi- mento se inicia © progride muito cedo na vida. A nossa maior preocupacao, aqui, sera © desenvolvimento fisico, especificamente sensorial motor. A seguir, foc desenvolvimento cognitive do nascimento a idade adulta, examinando 0 desenvolvi- mento inicial da linguagem, a influente teoria de Jean Piaget dos estagios de desenvol- vimento cognitive, a abordagem sociocultural de Lev Vygotsky a este desenvolvimento, e veremos se a inteligéncia diminui ao longo do periodo da vida Na Gltima segao deste capitulo, consideraremos o desenvolvimento social, come- ando com uma discusso de influente teoria de Lawrence Kohlberg sobre o desenvol- vimento do raciocinio moral. A seguir, examinaremos o desenvolvimento social muito inicial, com uma discussao das pesquisas sobre formacao do apego € estilos de paren- tagem, e concluiremos com uma descrigéo da teoria de Erik Erikson sobre os estagios de desenvolvimento social da personalidade ao longo do periodo da vida. Este capitulo ihe dara uma ideia melhor de onde vocé esté em seu desenvolvimento, como chegou lé e para onde esté se encaminhando. ——————————————— ee Estégio Intervalo de idade aproximado ign Pré-natal concepeao ao nascimento. Primeira infancia nascimento aos 2 anos “Infancia “20s 12 anos ‘Adoloscéncie 12 20s 18 anos dade adulta jovem, 18 aas 40 anos idade adulta média ‘40 20s 65 anos idade adult tardia” acima de 65 anos SS Desenvolvimento pré-natal e pr meira infancia (© que acontece no ambiente pré-natal? Que capacidades sensoriais nés temos 20 rnascer? © nosso cérebro esté totalmente desenvolvido no nascimento? Nesta sese, tra taremos de perguntas como esssas. Sabemos, por exemplo, que o cérebro nao est t0- tulmente desenvolvido no nascinvénto, Lembre que no capitulo sobre a meméria nos aprendemos que nao temos nenbuma meméria explicita deste periodo da nossa vida, porque o hipocampo s6 atinge seu desenvolvimento completo mais tarde, Esta préxima ceed deve interessat a todos nos, porquie ndo temoslembrancas da nossa vida no estagio pré-natal e no perfodo de bebé. Vamos comerat pelo inicio de todo o desenvolvimento -a unio do espetmatozoide com o dvull. Desenvolvimento pré-natal ‘A concepcio humana comeca quando um espermatozoide (a célula reprodutiva smasculina) penetra na membrana de um évulo (a célula reprodutiva feminina) Cada vena dessas células reprodutivas contém instrugées genéticas. Quando as duas se com binam, é formado um conjunto completo de instrugdes genéticas, metade do pai e me- cade da mie. 0 dvulo fertilizado que se forma partir da uniao do espermarozoide edo Geulo se chama zigoto. Todas as outras células do corpo humano se desenvolvert’a partir desta célula tnica, e cada célula duplicada carrega uma cépia das instrugdes ge- éticas do zigoto original. O zigoto se transforma em uum agrupamento crescente Con forme as células se duplicam. gene é a unidade basica de instrucao genética. Os genes ao segmentos curtos de cromossomos, moléculas de DNA igen 0 oro fertizado ave so (ow ADN, écido desoxissibunucleico) que contém instrugSes forme part fa wi das células do genéticas para todas as células do nosso corpo. Com excegiio das células reprodutivas (espermatozoide e 6vulo), todas as cé- eae ee erent Tulas de um humano normal 8m 23 pares de cromossomos, genética tum de cada par vindo da mae e 0 outro do pai. As células re- = oromossonos Moléculas da DNA que produtivas recebem apenas um membro de cada par, o que lhes da apenas 23 cromossomos. Isso significa que, quando um es- células do corpe. PSICOLOGIA; UMA ABORDAGEM CONCISA | 237 ‘espermatozoide e do Gvulo na reproductio contém instrugdes genéticas para todes as 238 | RICHARD A. GRIGGS permatozoide se combina com um byulo, 0 zigoto tera os 46 completos. Eo vigésimo ferceito par de cromossomos que determina 0 sexo da pessoa. Na mulher, existem dois cromossomos com forma de X (XX); no homem, existe am cromossomo em forma de X ‘eum cromossomo menor em forma de¥ (KY). Eo cromossomo ¥ que leva ao desenvol- samente de um homem; portanto, 0 sexo do zigoto é determinado pelo espermatozoide, x on Y, que fertiliza 0 ovulo. Em alguns casos, logo no inicio do desenvolvimento, © agrupamento crescence de células duiplicadas se divide em dois agrupamentos com genes idénticos. Esses agrupa- mentos se transformam em gémeos idénticos (monozigéticos). Bles sio idénticos por que se originam do mesmo zigoto, Os gemens fraternos (dizigé' Aitilivacdo de dois 6vulos aproximadamence no mesmo momelt ‘Assim, os gemeos cos) se originam da fiiternos sdo niio idencicos, podem ser de sexos diferentes ¢ to diferentes quanto dois filhos no gemeos dos mesmos pais. Vocé talvez.esteja se pergunrando por que dois 6 thos dos mesmos pais podem ter uma aparéncia tio diferente, Pela mesma razdo po! Ae fithos de pais diferentes variam imensamente em aparéncia 0 2050 determina qual dos 23 pares de cromossomos vai para a célula reprodutiva. Isso significa que exiscem 27 (8 mmilhdes, aproximadamente) de possibilidades cromossémicas para cada célula reprodu- src gala um dos pais. Além disso, quando as duas células reproctutivas se unem POM formar 0 zigoto, elas interagem e aumentam ainda mais a singularidade do zigoto. Epor jsso que os illhos de uma mesma faniflia podem ser tio diferentss. o Gecenvolvimento pré-natal (da concepsio ao nascimento) se divide em tés esth- gios:o germinal, o embri snario ¢ o fetal, O estagio germinal comeca com a formacio do igoto e termina depois de aproximadamente 2 semanas, quando a porsao externa do agrupamento de células que esté se desenvolvenclo a partir do zigoto se prende a parede aa a. Esta implantagao leva & formagao da placenta edo condo umbilical, que POT tem que o oxigenio e os nutrientes da mae entrem « os residuos saat A porgao interna do zigoto se transforma no organismo em desenvolvimento, 0 embrido. Durante 0 esté- gio embrionario (de 2 semanas a cerca de 2. meses), as principatt estruturas e drgios do gorpo comecam a se desenvolver, eo embrido comesa ase parecer com um humano, Durante o estigio fetal (de cerca de 2. meses apos a concepsao até o nascimento), a8 estru- tua 6 05 Srgios Corpotais conipletam seu desenvolvimento por melo de am ieSEnETS to muito rapido — ¢ o organismo é chamado de feto. g8meos idénticos (monozigéticos) GEmoos {que se originam do mesmo zigoto. gémeos fraternos (diigétices) Gémeos que se originam da fertlizagio de dois ‘vulos aproximadamente no mesmo ‘momento (dais zigotos) {atores teratogénicos Agentes ambiontais ‘como dragas e virus, doengas e condicaes fisicas que prejudicam o desenvolvimento pre-natal e causam defeitos no nascimento 0,88 vezes, 0 morte ‘sindrome alogdlica fetal (FAS - fetal alcohol syndrome) Uma sindrome que feta bebés cujas mes consomem grandes quantidades de élcool durante 3 gravidez, esultando em uma variedade de tfeitos graves, incluindo retardo mental ¢ anormalidades facials. Fatores genéticos e ambientais influenciam o desenvol- vimento pré-natal. A questo natureza/ambiente é relevance, mesmo nessa fase. O desenvolvimento 6, principalmente, uma fangdo do cédigo genético do zigoto (natureza), mas o meio ambiente (ambiente) também desempenha um papel. O desen- yolvimento pré-natal é afetado pelo ambiente da mie, Fatores teratogénicos sao agentes ambientais (como dragas ou virus), ddoencas como rubéola) e condigées isicas (come m4 nuttigdo) que prejudicam 0 desenvolvimento pré-natal ¢ causam defei- ths no nascimento ou até a morte. As mulheres gravidas que bebem alcool, fumam ou usam drogas colocam seus fetos em. grande risco. A sindrome alcoélica fetal (FAS -. fetal alcobol syndrome) acontece quando as mies consomem Alcool durante 2 gravider, resultando em uma variedade de efeitos graves, ny Findo retardamento mentale anotmalidades faciais na crian- PSICOLOGIA: UMA ABORDAGEM CONCISA | 239 ca. Conforme aumenta o consumo de alcool, aumenta o risco de FAS. Nao existe um limite conhecido seguro de consumo dessa substancia, de modo que a melhor estratégia éevitar totalmente 0 dlcool e outros fatores teratogénicos durante a gravidez. Os efeitos dos fatores teratogénicos também variam dependendo de quando, durante a gestacio, 0 feto foi exposto. No inicio da gravidez, um fator teratogénico pode aferar a formasao dos olhos, ao passo que mais tarde o cérebro é afetado. Ha outros fatores maternos que afe- tam o desenvolvimento pré-natal; a idade é um deles. A probabilidade de riscos de satide para o feto aumenta nas maes jovens demais, de 15 anos ou menos, ou velhas demais, acima de 35 anos (Andersen et al., 2000; Phipps, Blume e DeMonner, 2002) Outros riscos para 0s recém-nascidos incluem prematuridade e baixo peso no nasci- mento. Aqueles que nascem prematuramente, antes da 37* semana, tém problemas que aumentam com o grau de prematuridade, Problemas de satide importantes de bebés pprematuros incluem imaturidade dos pulmdes e dos sistemas digestivo e imunolégico Bebés prematuros também tém baixo peso no nascimento, embora isso possa acontecet também com alguns bebés nao prematuros; o baixo peso aumenta as chances de proble- mas neurolégicos e morte (Holsti, Grunau e Whitfield, 2002). Muitos dos fatores tera~ togénicos discutidos aumentam a probabilidade de prematuridade, embora em cerca de 50% dos casos nao existam causas identificaveis. Entéo, nao esqueca: uma mulher sadia, gue prové um ambiente pré-natal saudavel, aumenta.a probabilidade de um bebe sadio Como nos desenvolvemos durante a primeira infancia © desenvolvimento motor e 0 desenvolvimento sensorial/perceptual sfio as duas maiores 4reas de desenvolvimento durante a primeira infncia. Comegaremos com uma visdo geral das nossas capacidades no nascimento, Depois, discutiremos como esses pro- cessos se desenvolvem durante a primeira infancia. Desenvolvimento motor. © recém-nascido vem equipado com varios reflexos motores, que sio respostas nao aprendidas, Alguns desses reflexos, como o de respira~ ¢f0, que nos fornece oxigénio, tém um valor de sobrevivéncia dbvio e sao permanen- tes, mas outros nao so tao necessérios e desaparecem durante o primeiro ano de vida. Dois exemplos de reflexos que desaparecem sio o de Babinski, em que os bebés abrem os dedos dos pés para cima quando seus pés sio rocados, e o de preensdo, em que agarram qualquer objeto que roque na palma das maos. Dois outros reflexos motores, 0 de suc~ a0 €0 de enraizamento ou busca, tém a ver com obter nutri¢io e, portanto, esto obviamente relacionados a sobrevivéncia. O refle- x0 de sucedo leva o bebé a sugar qualquer coisa que toque em seus labios, e 0 reflexo de enraizamento ou busca leva o bebé a girara boca na direcdo de qualquer coisa que toque em suas bochechas ea buscar algo para sugar. No primeiro ano de vida, mais ou menos, os bebés aprendem a sentar, ficar em pé e caminhar. Esta é uma sequéncia ordenada; cada novo comportamento motor se baseia em comportamentos prévios. Os bebés aprendiem a se erguer e sustentar 0 corpo, depois a sentar sem apoio ¢ a ficar em pé segutando-se em algum objeto, j 240 | RICHARD A. GRIGGS © roflexo de suet inato que leva 0 bebé a sugar qualquer ‘coisa que toque em seus lébios. Um reflexo humana depois a engatinhar, a ficar em pé sem apoio e, finalmente, a caminhar sem apoio por volta dos 12 meses. Qutrora se pen- sava que o desenvolvimento motor era, principalmente, um reflexo de onraizamento ou busea Um Teflexo humang inata que leva 0 beb@ a processo maturacional, que se desdobrava de acordo com girara boca na diregso de qualquercoisa ym programa genético, Entretanto, como acontece na maio- ‘que toque em suas bochechas ea buscer algo pare eugar. ria das conquistas, o processo é mais complexo. Aprender a fabinade Una diminuiggonaresposta -caminhar, por exemplo, envolve a interacao de multiplos fa- fisologica aum estimulo depois queele se _tores, como aumento de forca, proporg&es corporais e equi- toma familiar librio (Thelen, 1995). Durante este primeiro ano, os bebés também estdo desenvolvendo suas capacidades perceptuais e aprendendo a coordenar seus movimentos corporais com o input perceptual. De fato, conforme o bebé aprende a se movimentar sozinho, ele passa por mudangas na percepcio de profundidade (a nossa capacidade de perceber a distancia dos objecos em relacao a nés). Os bebés que engatinham passam a ter medo de altura e de cair, enquanto aqueles da mesma idade que nao engatinham nao demonstram este medo (Campos et al., 2000). Desenvolvimento sensorial-perceptual. Os psicélogos criaram algumas técnicas experimentais interessantes para estudar as capacidades perceptuais em bebés nao ver- bais. A técnica do olhar preferencial, um procedimento utilizado para estudar a visio, é surpreendentemente simples (Fantz, 1961, 1963). Dois estimulos visuais so apresenta- dos lado a lado, e o pesquisador registra quanto tempo o bebé olha para cada estimulo. Seo bebé olhar mais para um dos lados, infere-se que ele percebe a diferenca entre os dois estimulos e tem uma preferéncia. Ourra técnica envolve a habituagdo, uma diminuicio na resposta fisiologica a um estimulo depois que ele se torna familiar, O bebé olhara para um estimulo novo, desconhecido, mas esse interesse se habitua e o bebé passa a olhar cada vez menos para ele. Ele se aborrece com o estimulo. Se o bebé olhar mais tempo para um novo estimulo do que para um antigo, infere-se que ele deve ser capaz de perce- der a diferenga entre os dois. Os pesquisadores usam outras medidas além do tempo do othar. Por exemplo, os bebés intensificam a succao da chupeta quando se deparam com um estimulo novo, desconhecido, Quando se habituam ao estimulo, a sucgdo volta ao normal, Da mesma forma, um pesquisador desenvolvimental pode usar modificagoes em mecanismos biolégicos, como o ritmo dos batimentos cardiacos, para indicar 0 com- portamento perceptual dos bebés. Por meio dessas engenhosas técnicas, ficamos sabendo que os nossos cinco senti- dos ja funcionam no nascimento (embora nao estejam totalmente desenvolvidos). O nosso sentido dominante, a visio, € o que esta menos desenvolvido no nascimento. Os recém-nascidos nao conseguem enxergar muito claramente. Estima-se que a sua acui- dade visual (resolugao dos detalhes visuais) seja de aproximadamente 20/400 a 20/800 (Kellman e Banks, 1998). Isso significa que os detalhes visuais que uma pessoa com. visio normal 20/20 consegue enxergar de 120 metros a 240 metros de distancia é o que © bebé enxerga a 6 metros. A acuidade se desenvolve muito rapidamente e atinge 20/20 durante o primeiro ano de vida. A visio para cores se desenvolve ainda mais cedo, aos 2.0u 3 meses, quando se torna comparével & dos adultos (Kellman e Arterberry, 1998). és também sabemos que os bebés tém uma preferéncia visual por rostos, especial men- te pelo rosto da mie, e por outros estimulos complexos (Field et al., 1984; Valenza et al., 1996). A preferéncia dos bebés pela complexidade visual pode ser devida ao fato de que PSICOLOGIA: UMA ABORDAGEM CONCISA | 241 tal estimulacao é necessaria para o desenvolvimento adequado das trajetérias visuais e do cértex durante esse periodo de vida (Greenough, Black e Wallace, 1987). Aaudicao, no recém-nascido, est mais desenvolvida do que a visio. De fato, ele € capaz de distinguir a voz da mae da voz de outras pessoas (DeCasper e Fifer, 1980). As pesquisas indicam que esta capacidade e varias preferéncias auditivas se desenvolvem ainda no utero, antes do nascimento. Vamos considerar brevemente um dos mais fa~ mosos estudos sobre os efeitos da aprendizagem pré-natal sobre as preferéncias audi- tivas depois do nascimento (DeCasper e Spence, 1986). Durante as tiltimas 16 sema- nas de gestacao, mies leram em voz alca, duas vezes por dia, 0 livro do Dr. Seuss, The Cat in the Hat. Depois do nascimento, os pesquisadores fizeram os bebés sugarem um mamilo artificial que, dependendo do padrao de succao do bebé, ativaria uma grava- ao da voz da mae lendo a hist6ria do Dr. Seuss ou outra histéria que ela nunca lera em vor alta, A maioria dos bebés preferia a hist6ria familiar que as maes haviam lido para eles enquanto ainda estavam no iitero. Eles também preferiam o som da voz humana e sons de falaa outros tipos de som. Por volta dos 6 meses, a audicao do bebe € comparavel a do adulto. Uma das mais notaveis capacidades auditivas que o bebé apresenta envolve a percepcao da fala. Os fonemas s40 os me- [i fonemas Os menores sons da fala nores sons da fala distintivos em uma lingua. Eles nos permi-~ “stitvos em uma lingua tem distinguir palavras diferentes na lingua. Por exemplo, a diferenca entre as palavras pat (tapinha) e bat (morcego) é a diferenca nos fonemas pa e ba, Para aprender uma lingua, os bebés precisam ser capazes de detectar essas diferencas sutis entre os fonemas, ¢ eles conseguem fazer isso logo depois do nascimento. Linguas diferentes ndo usam exatamente os mesmos fonemas, ¢ 0s adultos que nao sao falantes nativos de uma determinada lingua tém dificuldade em detectar os sons da fala dessa Kingua. Os adultos japoneses, por exemplo, tém dificuldade com os sons r e J do inglés. Os bebés, ao contrario, sao capazes de detectar todos os fonemas, independentemence de terem sido expostos a eles. No entanto, por volta dos 12 meses, eles ja nao conseguem de- tectar os sons da fala que nao esto presentes em sua lingua nativa (Kuhl, 2004). Parece que os bebés chegam ao mundo preparados para aprender a lingua a qual serao expostos, seja ela qual for Os sentidos de olfaco, paladar e tato também esto bastante desenvolyidos no nasei- mento, Por exemplo, os bebés conseguem diferenciar 0 cheiro da mae do cheiro das ou- tras pessoas. Pesquisadores descobriram isso colocando em um lado do bebé um absor- vente de amamentaco usado dentro do sutia pela mae e, no outro lado, um absorvente usado por outra mulher. Entao, eles mediram o tempo que o bebé se virava para cada lado - os bebés passavam mais tempo voltados para o absorvente da mae (MacFarlane, 1975). Alguns estucos recentes indicam que o entendimento que o bebé eem do mundo fisico e as suas capacidades cognitivas podem ser muito melhores do que se pensava antigamente. Pesquisas revelam que bebés muito jovens podem ter um entendimento conceitual inato do movimento dos objetos ~ por exemplo, que os objetos simplesmente nao atravessam superficies solidas (Baillargeon, 1993). Outras pesquisas sugerem que eles so capazes de realizar operacdes matemiticas simples, como adicao ¢ subtracio (Wynn, 1992). f claro que essas afirmagées provocam controvérsias - tentar entender a mente de um bebé nao verbal nao é uma tarefa facil. 242 | RICHARD A. GRIGGS O desenvolvimento das capacidades cognitivas perceptuais do bebé depende do de- senvolvimento do cérebro. No nascimento, 0 cérebro do bebé contém aproximadamente 100 bilhdes de neurénios, mas ainda é bastante imaturo ¢ precisa formar conex os neurénios (redes neurais). Durante os primeiros meses de vida, hé uma verdadeira explosao de crescimento dessas conexdes, especialmente na parte do cortex que controla a percepcio ea cognicao. Milhares de novas conexbes sao criadas para cada neurdnio. As conexdes entre a retina e o cérebro so um bom exemple. Sem experiéncias visuais, essas trajetorias visuais nao se desenvolvem, ¢ a visao fica permanentemente perdida (Kalar, 2007). E por isso que um bebé recém-nascido com cataratas que impedem a visio precisa removélas o mais cedo possivel, para que possa se desenvolver uma visio normal. Du- rante o periodo de bebé, as redes de neuréniios que sio utilizadas se tornam mais fortes, eas que nao sao desaparecem (Thompson, 2000). Resumo da segao CO nosso desenvolvimento pré-natal comeca com a concepeao, a fertilizagao de um Ovu- lo por um espermatozoide para formar um zigoto, e prossegue pelo estgio germinal (as pri- meiras 2 semanas de vida}, 0 estégio embrionario (de 2 semanas a 2 meses) ¢ 0 estagio fetal {de 2 meses ao nascimento). O desenvolvimento pré-natal é quiedo pelo cddigo genético do zigoto (natureza), mas fatores teratogénicos (agentes ambientais como drogas ou virus, doengas e ma nutrigao) podem influenciar © meio ambiente pré-natal (ambiente) ¢ resultar om defeitos no nascimento e até na Morte. Outros fatores que afetam o desenvolvimento pré-natal incluem a sindrome alcodlica fetal e a idade da mae. Prematuridade ¢ baixo peso no nascimento também sao riscos para o recém-nascido, O recém-nascido chega equipado com varios reflexos motores, alguns essenciais para a sobrovivéncia, tais como 08 reflexos de enraizamento au busca e 0 de sucgao, que levam & nutri¢go, @ alguns nao tao essenciais, ‘como o de preenséo, que desaparece durante o primeito ano de vida. Durante esse primelro ano, o bebé aprende a sentar, a ficar em pé ea caminhar, em uma sequéncia muito ordena- da: cada novo comportamento motor baseia-se em comportamentos prévios. Ele também. aprende a coordenar seus movimentos corporais com inputs perceptuais. Embora ainda ndo totalmente desenvolvidos, 03 nossos cinco sentidos funcionam no nascimento, sendo a viséo 0 menos desenvolvide deles. Para estudar as capacidades sensoriais/parceptuais iniciais no bebé nao verbal, os pesquisadores criaram técnicas ‘especiais que lhes permite determinar 0 que os bebés sao capazes de discriminar. Essas pesquisas mostram, por exemplo, que os bebés possuem a capacidade notavel de discriminar fonemas, as menores unidades distintivas em uma lingua. O desenvolvi- mento sensorial/perceptual depende do desenvolvimento do cérebro na forma de uma grande explosao de crescimento de redes neurais, como, por exemplo, entre a retina & 0 cérebro. Se essas trajetdrias visuals ndo se desenvolvem no periodo de beb6, @ visa fica permanentomente perdida. As redes neurais que sao utilizadas ficam mais fortes, ¢ izadas so eliminadas.. ‘as que nao so Vocé aprendeu os conceitos? | 1 __ Explique como os efeitos dos fatores teratogénicos se devem ao ambiente e nao & natureza. ____Explique como a hat perceptuais do bebé. lades sensoriais/ fizada para estudar as habi agao 6 u PSICOLOGIA: UMA ABORDAGEM CONCISA | 243 Como pensamos ao longo da vida Nesta seco, examinaremos como se desenvolvem as nossas capacidades cogmitivas, sais como pensamento e linguagem, Jé que somos animais verbais e a nossa capacidade de linguagem nos diferencia dos outros animais, veremos primeiro como esta capack dade comeca a se desenvolver, o que nos levaré de volta & questo natureza/ambiente. A seguir, apresentaremos tuma das mais importantes contribuigSes eeOricas & psicologia 2 teoria de desenvolvimento cognitivo do psicélogo suico Jean Piaget. De acordo com cle, comecando no nascimenco, todos nés atravessamos 0s mesmos quatro estagios, qualita- tivamente diferentes, de desenvolvimento cognitivo, Depois, discutiremos a abordagem sociocultural de Lev Vygotsky ao desenvolvimento cognitivo. Essa abordagem tornow-se tuito popular recentemente, porque enfatiza a importancia dos contextos social € cul- tural no desenvolvimento, Por dltimo, veremos se a inteligéncia diminui ao longo da parte adulca do periodo de vida. Como aprendemos a linguagem ‘A nossa capacidade de usar a linguagem nos torna tinicos. Nenhum outro animal parece set capaz de adquitir e desenvolver capacidades de linguagem como os humanos peyem, Nao nascemos falando, mas a nossa capacidade de linguagem comeca a se de- senvolver logo depois. Criancas de diferentes culeuras aprendem a falar Iinguas muito ‘Tforentes, mas codas parecem atravessat a mesma sequencia de estdgios. Descrevereni% tases estagios de aquisico da linguagem e depois, 20 explicar como se dé essa aquisicao, consideraremos a questdo natureza/ambiente. Vamos comegar pelo bebé recém-nascido e ver como a linguagem desenvolve. Os be- bés ndo falam, mas se comunicam pelo chord, Eles choram de modo diferente, por exemplo, para indicat fome e dor. © choro, juntamenté'com os movimentos ¢ a5 expresses faciais, permitem que o bebé se comunique bastance bem. Os bebés também preferem a a gem dirigida ao bebé (motherese),0 formato de fala diferente que os adultos usam quando alam com bebés. Nessa linguagem as frases S80 sats Cura, com um tom mais agudo & we emelodioso que o da fala normal, Por volta dos 2 meses, os bebés fazem ruidos mais significativos, ou balbucios iniciais (repetir sons de vogal como “go” e“ah’), e riem: Os be- baz balbuciam sons iniciais em resposta aos pais, numa verdadeira interagao vocal. . Par volta dos 6 ou 7 meses comeca o baibucio propriamente dito, arepetigao ritmica de visias slabas, incluindo consoantes e vogais. As silabas que so balbuciadas ndo se E> tnitam aos sons que o bebé escuta ou aos sons da linguagem cos pais. Mas, nos proximos 5 meses, esse balbuciar inicial comeca a incluir cada vez mais os sons da lingua nativa bebé. Ele, agora, é capaz de compreender algumas palavras, como “mame” e “papal. ‘exemplo, ao ouvira pergunta “Onde esta a mamae?”, 0 bebé @ paraa sua mie. Linguagem diigida a0 belé (motheress) 0 formato diferente de fale que os adultos usam quando falam com bebés. As frases SSuas primeiras palavras normalmente se teferem aos Seus | so mei curas, com um tam mois agudoe lores e a objetos de seu ambiente cotidiano. As vezes,.os | melotioso, halbueio A repetigao rtmica de varias 5 sflabas, inclinda consoantes e vous completa, Um bom exemplo é a erianga it para a porta | holtrae Una polava vsads por um aa “tchau”, O vocabulario aumenta lentamente até os 18 para expressar um idela completa Por volta de 1 ano, os bebés comecam a falar algumas pala~ usam uma holéfrase, uma palavra que expressa uma 244 | RICHARD A. GRIGGS superextensio A splicacéodeums palavra meses, e entdo ha uma explosao de vocabulario, talvez de 100 recentemente aprendida a objetos que esto incluidos no seu significado, ou mais palavras por més. Este também € o perfodo em que fubextensio Aincapacidade de aplicar ~-«OCOTTEM a superextensio e a subextensao. A superextensdo 6 uma palavrareventemente aprencida a aplicagao de uma palavra recentemente aprendida a objetos € objetos que esto incluids no seu que nao estdo inclufdos no seu significado. A subextensio & a eee Netcratiledae incapacidade de aplicar a nova palavra a objetos que esto in- palavras constuidas, pincipalmente, por __clufdos no seu significado. Vamos exemplificar para deixar isso substantivos e verbos, bem claro. Um bom exemplo de superextensio é a tendéncia das criangas a chamar qualquer homem de “papa”, superesten- dendo a palavra e deixando o pobre pai arrasado. A subextensio ocorre com frequéncia quando as criangas nao estendem as categorias de “cachorro” e “gato” a cachorros ¢ gatos além dos animais de estimacao da familia. A palavra é aplicada de modo excessivamente limitado. Conforme o vocabulario se expande, diminui a incidéncia da superextensao e da subextensao. O préximo passo no desenvolvimento da linguagem € a combinacio das palavras em frases. Isso comegana explosio de vocabulario entre os 18 ¢ os 24 meses. As criangas pas- sam a usar uma fala telegréfica, frases de duas palavras constituidas, principalmente, por substantivos e verbos. Chama-se fala telegrafica porque a linguagem é semelhante ade um telegrama, concisa e direta. Alguns exemplos sao “Papai foi” e Jogar bola”. Es- sas declaracdes de duas palavras comegam a ser expandidas e, entre os 2 e aos S anos, as criangas adquirem a gramitica de sua lingua nativa. Nas mais diferentes culcuras, as ctiangas aprendem essas tegras implicitamente e em uma ordem muito previsivel. Como elas fazem isso nos leva de volta a questo natureza/ambiente. As criancas adquirem a linguagem cedo e facilmente, sem instrugio direta, e esse processo de aquisicao parece ser © mesmo entre culturas com linguas muito diferentes. E pot isso que existe muita sustentagdio para o argumento de que o desenvolvimento da linguagem é uma capacidade geneticamente programada (Chomsky, 1965; Pinker, 1994), Mas a crianca nio consegue desenvolver uma fala normal sem exposicao 4 fala humana, ¢ esta claro que as pessoas que cuidam dela podem facilitar e intensificar 0 seu desenvolvimento da linguagem. E por isso que as experiéncias desempenham um papel importante na aquisi¢ao da linguagem. Como normalmente é 0 caso na questao nature- za versus ambiente, ha algumas evidéncias em favor de ambos 0s lados ~ natureza e meio ambiente fornecem influéncias interativas (Elman et al., 1996). Uma das melhores ilustracdes da habilidade especial das criancas para aprender uma lingua é a existéncia de um periodo critico para essa aprendizagem. Um perfodo ctitico é momento no tempo em que é mais facil aprender certas habilidades. Se as criancas ndo aprenderem uma lingua até certa idade, acredita-se que até a puberdade ou talvez antes, elas nao a aprenderao tao bem quanto as criangas mais jovens. Por exemplo, as criangas que so isoladas do contato humano antes da puberdade tém dificuldade em aprender uma lingua, mesmo depois de anos de exposicao posterior. O exemplo mais conhecido € 0 da menina “Genie” (Fromki et al., 1974). Ela foi mantida amarrada a um troninho (uma cadeira com penico por baixo) pela maior parce de seus primeiros 13 anos de vida. Durante esse tempo, Genie ouviu muito pouca linguagem e teve interagdes sociais mi- nimas. Depois que foi libertada, pesquisadores e terapeutas se esforcaram muito para reabilité-la. Embora ela tenha feito algum progresso linguistico e conseguido aprender centenas de palaveas, seu desenvolvimento gramatical nunca atingit 0 nivel desenvol- vimental tipico, mesmo depois de varios anos de tentativas. Um padrio semelhante € PSICOLOGIA: UMA ABORDAGEM CONCISA | 245, encontrado na aquisicao da linguagem de sinais. A maioria dos filhos surdos de pais que ouvem nao é tao habil na linguagem de sinais como 0s filhos surdos de pais surdos, pois costumam aprendé-la mais tarde, j4 que os pais ndo sinalizam desde o inicio (Newport, 1991; Senghas e Coppola, 2001). Também existe um perfodo eritico para a aquisicéo de uma segunda lingua. Como vocé pode saber a partir da sua luta para aprender uma se~ gunda lingua, as criangas tém uma facilidade muito maior do que os adultos (Birdsong e ‘Molis, 2001; Johnson e Newport, 1989). O desenvolvimento da linguagem ocorre durante os primeiros anos de vida, quan- do 0 cérebro e as capacidades cognitivas, como o pensamento e o raciocinio, ainda estiio se desenvolvendo. Quando as criancas comegam a falar, é facil comecar a pensar nelas como adultos em miniatura, mas isso seria um grande erro. Suas capacidades cognitivas nao sao iguais as do adulto. Para ver como essas capacidades cognitivas se desenvolvem, vamos considerar a teoria de Piaget sobre 0 desenvolvimento cognitivo, que nos diz como um recém-nascido que no fala se transforma em um adulto cogni- tivamente complexo, A teoria de Piaget do desenvolvimento cognitivo Jean Piaget, um psicdlogo suigo do século XX, foi um pesquisador do pensamento infantil, e sua pesquisa levou a uma teoria do desenvolvimento cognitive que cons- titui um verdadeiro marco, Ele foi considerado um dos 20 mais influentes pensado- res do século XX pela revista Time, em 1999. Piaget comegou sua carreira na Franga, trabalhando com Theodore Simon (da famosa escala de inteligéncia Binet-Simon) na padronizagao de testes de inteligéncia (Hunt, 1993). Entretanto, ele logo voltou a Suica e comecou sua propria pesquisa sobre como as criancas pensam. Piaget no realizou experimentos formais. Em suas entrevistas livremente estruturadas, ele pro- punha problemas para as criancas resolverem (no inicio de suas pesquisas, ele usou seus trés filhos como sujeitos), observava cuidadosamente suas acdes e as questiona- va sobre suas solugdes. Ele estava particularmente interessado em seus ettos - que acreditava importantes para se entender o pensamento infantil ~ e, especialmente, em como esse pensamento diferia do pensamento adulto. Ele descobrit que criancas mais ou menos da mesma idade frequentemente cometiam os mesmos erros. A partir desses dados, Piaget criou uma teoria de desenvolvimento cognitivo que revolucio- nou 0 nosso entendimento do pensamento infantil e de como ele se desenvolve (Pia- get, 1926/1929, 1936/1952, 1983). A teoria cognitiva de Piaget incorporou dois de seus interesses: a biologia e a filoso- fia. Ele supunha que o desenvolvimento cognitivo se originava da adaptacao da crianga a0 seu ambiente, ¢ que ela busca promover sua sobrevivéncia tentando aprender sobre seu ambiente. Isso significa que a crianca € uma ativa buscadora de conhecimento e com- preende o mundo operando sobre ele. Bla organiza esse conhecimento no que Piaget chamou de esquemas, que sao estruturas para o nosso conhecimento de pessoas, obje- tos, eventos e aces. Lembre, nds discutimos os esquemas no Capitulo 5. $0 as unidades basicas do nosso conhecimento, que nos permitem organizar e interpretar as informagdes sobre o nosso mundo. Na nossa me- fesquemas 0 termo de Piaget pars == miéria de longo prazo, temos esquemas para conceitos (tais | estruturas do nosso conhecimens sas como livros ou cachorros), eventos (como ira um restaurante |, P9ss0as, objetos, eventos | 255s ale ‘ ‘os permitem orgarizareiniepeearase owao dentista) e ages (como andar de bicicleta). ea 7 ————llll— 246 | RICHARD A. GRIGGS Segundo Piaget, a adaptacio cognitiva envolve dois processos, assimilacao e acomodacio, sendo que ambos influenciam 0 desenvolvimento dos esquemas e, portanto, a aprendizagem. A assimi- Jago é a interpretacao de novas experiéncias em termos dos nossos esquemas existentes; a acomo- dagao é a modificagao dos atuais esquemas para levar em conta novas experiéncias. O nosso exem- plo anterior de superextensao - quando os bebés chamam todos os homens de “papa” - represen- taria a tentativa da crianga de assimilar. Mas elas aprendem que precisam acomodar e modificar seus esquemas, Uma crianga tem um tinico pai, mas existem muitos homens no mundo. F por meio da acomodagao que aumentam o ntimero e a complexidade dos esquemas e que se da aapren- Jean Piaget interagindo com uma erianca qui esta dizagem. Na acomodagio, ou sao ctiados novos tentando resolver um problema, em um de seus estudos livrmente estruturados. esquemas para as informagées que nao se encai- xam nos esquemas existentes ou esses esquemas slo modificados para incluir as novas informa- ses (como acontece no caso dos conceitos “pai” e “homens” por exemplo). Piaget também propds que mudancas importantes no pensamento da crianca ocor- rem em estagios. Cada estagio permite apenas certos tipos de pensamento e envolve um funcionamento cognitivo qualitativamente diferente. Ele também supunha que todas as crianeas atravessavam os mesmos estagios na mesma ordem. Ele propos quatro estagios, apresentados no Quadro 7.2. Ao aprender sobre cada estigio, perceba que vocé estaré assimilagao Otermo doPiagot paras -—- modificando seus esquemas para acomodar essas novas infor. interpretagto de novas expergncias em mages sobre a teoria de Piager. Ento, depois que acabar de ler termos dos esquemas existentes, sobte os estgios, examine novamente o Quadto 7.2. Vocé tera ea ae eae eur tie ee ae descrigdes de estagio em seus esque- modificagao dos esquemas existentes a fim de que se ajustem as novas experiancias. _ Mas modificados para a teoria de Piaget, do estagio lade) Descrigao. Estagio (intervalo de Sensério-motor (do nasci- As criancas usam os sentidos o as capacidades motoras para mento aos 2 anos) aprender sobre o mundo e desenvolver a permanéncia do objeto. Pré-operacional (dos 2.a0s As criangas usam o pensamento simbélico pera compreander 0 6 anos) mundo, mas continuam egocéntricas e nao realizam as opera- Ses mentais que permitem © pensamento légico. Operacional concreto (dos As criangas realizam operagoes concretas que permitem o. 6 20s 12 anos) Pensamento légico sobre eventos concretos, compreendem a ‘conservagao @ realizam operacdes matematicas, mas ndo racio- cinam abstratament Operacional formal (dos 12 O maior desenvolvimento das operagoes cognitivas permite ‘anos aidade adulta} que o adolescente pense abstratamente e raciocine de modo hipotetico-dedutivo. PSICOLOGIA: UMA ABORDAGEM CONCISA | 247 O estagio sensério-motor. No estigio sensdrio-motor, do nascimento aos 2 anos, aproximadamente, os bebés aprendem sobre o mundo por meio de suas inceragdes sen- sotiais e motoras com ele. Comegando com os simples reflexos que discutimos antes, eles passam a conhecer 0 mundo olhando, escurando, sugando, agarrando e manipulando. (Os bebés com menos de 8-12 meses nao apresentam a permanéncia do objeto, 0 co- nhecimento de que um objeto existe independentemente do cont: aro perceptual com ele Por exemplo, os bebés jovens nao compreendem que um brinquedo continua a existir mesmo que eles nao consigam vé-lo. A permanéncia do objeto se desenvolve ao longo dos 8-12 meses de vida. Bebés muito jovens nao procurardo um objeto que sumiuy; mas por volta dos 4 a 8 meses, eles as vezes o procurardo, especialmente se estiver apenas parcialmente escondido. Dos 8 aos 12 meses, eles procurario os bringuedos, mesmo dhe tstejam completamente ocultos, o que indica que percebem que o brinquedo ainda exis- te, apesar de nao conseguirem enxergé-lo. As criangas continuam a desenvolver seu en tendimento da permanéncia do objeto e atingem um entendimento completo por volta Gos 2 anos. Da mesma forma, a representacio simbolica dos objetos e eventos comeca a se desenvolver durante a iltima parte do estgio sens6rio- motor. Por volta dos 12 meses, comecam a-usat as palavras como simbolos para representar objetos conhecidos. Dos 18 aos 24 meses, os bebés usam a fala telegrafica, que é a continuacao do desenvolvimento da representacio simbélica. © estégio pré-operacional. No estagio pré-operacional, dos ? aos 6 anos, 0 pensar mento infantil se torna mais simbélico e baseado na linguagem, mas continua egocents- Co, e a crianga nao realiza as operacdes mentais que permitem o pensamento légico. As clancas pré-operacionais conseguem fingir,imaginar e brincar de faz de conta, Elas tém a capacidade de usar uma coisa para representar outra: fingem que uma vassoura ¢ um cavalo para montar, ou que seu dedo é uma escova de dentes, Elas nio precisam mais estar interagindo com um objeto pata pensar sdbre ele Por exemplo, agora apontam para 2 6 gra de um cachorro e dizem “cachortinbo” ou engatinham e latem, fingindo serum ca, Ghotro, A aprendizagem das palavras também continua em um ritmo rapido e,no final dlo estdgio pré-operacional, as criangas ja conhecem milhares delas. Flas também apren- dem a criat narrativas e descrigdes de eventos passados com @ escrutura de iuma historia, Entretanto, o pensamento da crianca nese estagio ainda apresenta limitagdes importantes. Vamos primeito considerar 0 que significa pensamento egocéntrico. Bgocentrismo é a incapacidade de distinguir as proprias percepcOes, pensamentos e sentimentos em relagdo aos dos ou- tros. [sso significa que uma crianga pré-operacional nao conse- gue perceber o mando da perspectiva de uma outra pessoa. Por exemplo, a crianca pré-operacional nao percebe o que esta fazen- do quando bloqueia a visio da TV. Ela imagina que a visio que bs outros tém é a mesma que ela tem. O comportamento ego- cénttico nao se origina de egoismo ou falta de consideragao. Ela simplesmente ainda nao desenvolveu a capacidade cognitiva de ver a visio de outra pessoa. E importante que os pais percebam essa limitagao cognitiva em seus filhos pré-operacionais. Caso contrario, eles podem, etroneamente, interpretar 0 comporta- mento da crianga de maneira negativa e puni-la injustamente. estagio sensério-motor 0 primeira estagio da teoria de Piagot do desenvolvimento Ccogritivo, do nascimento aos 2 anos, aproximiadamente, durante o qual os bebés prendem sobre o mundo por meio de suas interacdes sensoriais ¢ motoras com ole, ¢ desenvolvem a permanéncia do objeto. permanéneia do abjeto 0 conhecimento de {que um objeto existe indopendentemente do contato perceptual com el. estigio pré-operacional 0 segundo estagio da teoria de Piaget do desenvolvimento cognitivo, dos 220s 6 anos, durante o qual o pensemento da crianga se torna mais simbélico e baseado na linquagem, mas continua egocentrica © sem as operacdes mentais que permitem o pensamentologico. egocontrismo Aincapacidade de distingulr ‘8s proprias percepgbes, pensamentos & sertimentos em relagdo aos dos outros. 248 | RICHARD A, GRIGGS DENNIS, O PIMENTINHA ‘A seguir, para compreender o que Piaget quis Jp ae dizer com auséncia das operagdes mentais que permitem que a crianca pense logicamente, va- mos considerar a conservagao. Algum ‘entendi- mento da conservacao marca o final do estagio pré-operacional e 0 inicio do estagio operacional conereto. Conservacao é o conhecimento de que as propriedades quantitativas de um objeto (tais come massa ¢ nimero) continuam as mesmas. apesar de mudancas na aparéncia. Em outras pa- lavras, as propriedades quantitativas de um objeto nao mudam com uma mudanga na aparéncia, Hé [DENNIS THe MENACE ucod by parialan of Flank Kahn 39d 1992 y 4 muitos testes piagetianos de conservacéo, mas um € dos mais conhecidos é o problema dos copos com. § Uquido (Figura 7.1). Neste teste, primeiro mos- £ tram-se a crianca dois copos baixinhos ¢ largos com quantidades de liquido iguais. Com a crianga ee olhando, o liquido de um dos copos é derramado Eu estou com muita fome em um copo mais alto e estreito. Entao se pergun- taaela se O-dois copos tem a mesma quantidade de liquido ou se um deles tem mais, Se a crianga compreende a conservacao, ela sera capaz de explicar por que os copos de formatos diferentes tém a mesma quantidade de liquido. Nenhum liquido foi retirado ou acrescentado. Mas a crianga pré-operacional dité que os dois copos tém quantidades diferentes de liquide e, mais frequentemente, que 0 copo mais alto ¢ estreito tem mais liquido. Como o pensamento egocéntrico, 2 incapacidade de compreender a conservagao ilustra um dos pontos principais de Piaget ~ a ctianga nao é um adulto em miniatura com menos informagOes. A maneira de pensar da crianca muito diferente, e essa diferenga depende do seu estagio de desenvolvimento cognitivo. Uma razo importante para a crianga pré-operacional nao compreender a conserva- io € ela nao compreender a reversibilidade - 0 conhecimento de que reverter uma transformacio produz as condicGes existentes ances da transformagao. Como adultos, vocé e eu compreendemos que poderiamos facilmente derramar o iquido do copo mais alto de volta no mais baixo para retornar ao estado inicial. Uma crianga pré-operacional nao compreende essa operaco de reversibilidade. Seu pensamento cambém reflete cen- tragdo — a tendéncia a focalizar apenas um aspecto do problema de cada vez. No proble- ma dos copos com liquido, por exemplo, a crianga s6 consegue se concentrar na altura dos copos e conclui que um deles tem mais porque é mais alto, conservagie O conhecimentodequees -Obviamente, tanto a altura quanto a largura dos copos preci- propriedades 4 (tais como massa e nimero| continuam as ‘mesmas apesar de mudangas na aparéncia. eee ide O conhecimento de copos com liquido, estao ilustrados na Figura 7.1. Encontre roversii uamitativas dos objetos sam set considerados para se fazer um julgamento correto. Ou- tros testes piagetianos de conservagao, além do problema dos querreverteruma transformagéo produz uma crianca pré-operacional de 3 ou 4 anos e tente estes testes. as condigGes a transformagao. contragio A tendéncia a focalizar apenas tum aspecto do ue existiam antes da As respostas da crianga nao sé o surpreendero, como também Ihe dario um entendimento muito melhor das limitagdes cog- problema de cada vez nitivas do estagio pré-operacional de desenvolvimento. PSICOLOGIA: UMA ABORDAGEM CONCISA | 249, -g0/ By “sonunuod oWUOWLdWO9 9 esse ‘OH ‘eunjoo eu css CLS Ss “oyjouip ope| 0 exed sew yse anb oviseq O opudwioa sjeur oye WHO} O sjew ene} Vv ‘oye stews odoo O jeuoypesedo-o1d ‘edueuo ep wsodsey siew 9 o818eq 12D ae SS -oanuap! owoLwLdL09 ‘ap saoiseq S1og gopudwioa ‘s20}seq SOp WIN BAOIN, ‘ouy @ opudwoo zoybue seu! ovewio} wn ey-opuep 18 ap sauo|eninbe lar oye) Jeng —_“Sodepad sop wn asseuy sodepad si0q e66666 Ge6666 ee6666 S66666 -seujayy sep ewin uo sedad se anus “sewiep op oBof oSedse o ejuawnly —_ep SONUEPI -ojjenige @ ove stew odoo ouyno we odoo win 2u1e.0q oedeuoysueM, opseniestice ep sodn SoLign op 523501 oquauiidiueg, er ‘eu sepep ovs jeuotoesedo-qud edues9 ep seoida seisod supa ‘apepnuenb ep ogtenlosuoa ap s0186 9p sojduiexe o¥s sete3 | oBbersosuo? @P $2180 | eeenby y ouawinN nUNUED, apepauend, ‘oeden1asu0o ep ody i 250 | RICHARD A. GRIGGS Os estagios operacional concreto e operacional formal. Durante o gio operacional concreto, aproximadamente dos 6 aos 12 anos, as criangas obtém maior entendimento da conservacao e de outras operagdes mentais que Ihes permis pensar logicamente, mas apenas sobre eventos concretos. Formas diferentes de cons ‘cao se desenvolvem em momentos diferentes. Por exemplo, a conservacao de quanti mtimero e massa continuos é adquirida bastante cedo, mas a consetvacio do com mento é mais dificil e s6 € adquitida mais tarde no estégio operacional coricreto (Vs Miller e Ellis, 2004). Além das operacdes de conservacio, a crianga operacional con ta desenvolve outras operagSes mentais que Ihe permitem raciocinar logicamente, cémo transitividade (se A > Be B > C, ento A > C) e seriagao (a capacidade de ord: estimulos ao longo de uma dimensao quanticativa, tal como um conjunto de lapis p comprimento), Entretanto, todas essas operagdes se limitam a um raciocinio légico sobre event concretos. Por exemplo, a transitividade se limita a ter os objetos reais presentes, co trés bastdes de comprimentos diferentes. As criangas nao seriam capazes de resolver problema da transitividade sem os bastoes fisicamente presentes. Da mesma forma, o} -jetos concretos (como os copos de liquido) precisariam estar presentes pata ser resolvi © problema da conservacao da quantidade continua. Isso significa que © raciocinio crianga operacional concreta esta ligado a realidade imediata (0 que esta diante dela tangivel) e no ao mundo hipotético das possibilidades. Ela nao consegue lidar com p blemas “e se” ¢ “se ento”, e nem com 0 pensamento abstrato. Ela também nao é cap: de deducio sistematica para resolver um problema, ¢ usa uma estratégia aleatoria tentativae erro, ~ No estagio operacional formal, aproximadamente aos 12 anos, as ctiancas passam . Segundo Piaget, os adolescentes a ser capazes deste pensamento hipotético-dedutiv« nao s6 pensam hipoteticamente, como também séo capazes de deducio sistematica € testagem de hipdteses, o que pode ser facilmente referido como pensamenco cientifico. Para compreender a diferenca de pensamento entre as criangas operacionais e concretas, Piaget usou diversas tarefas de pensamento cientifico (Inhelder e Piaget, 1958) Em uma dessas tarefas, mostravam-se a criancas ou adolescentes varios frascos do que parecia ser o mesmo liquido transparente, e dizia-se a eles que uma combinacao de dois desses liquidos produziria um liquido azul. A tarefa era decerminar a combinagao que o produziria. As criancas operacionais concretas apenas comesavam a misturar dife- cestagio operacional concreto 0, ‘erceire estgio na teori de Piaget do desenvolvimento cognitive, das 6 aos 12 ‘anos, durante o qual as criancas passam ‘@ compreender melhor a conservagao ce cutras aperagdes mentais que thes permite pensar logicamente, mas apenas ‘sobre eventos concretos, estagio operacional formal 0 litimo estagio da teoria de Piaget do desenvolvimento cognitivo, comegando aproximadamente aos 12anos, durante 0 qual a crianga adquire a capacidade de pensamanta hipctético-dedutvo, rentes liquidos transparentes ao acaso. Mas as criancas opera cionais formais procediam de modo muito diferente. Blas cria~ vam um plano sistemético para deduzir qual deveria ser a combinagao correta, determinando todas as possiveis combi- rages (hip6teses para a combinacio correta) e, depois, avalian- do cada uma sistematicamente. Para executar 0 plano, elas mis- turavam, sistematicamente, © liquido de um frasco com cada ages produzia o um dos outros. Se nenhuma dessas com! liquido azul, elas deduziam que o liquide do copo nao era rele- vante para a combinacao buscada, e ento passavam a testar cada um dos outros liquidos transparentes da mesma maneira, até achar a combinagao correta. PSICOLOGIA: UMA ABORDAGEM CONCISA | 251 Os adolescentes operacionais formais também sao capazes de avaliar alogica de afir mages verbais sem referéncia a situagdes concretas; a crianga ‘operacional concreta s6 consegue fazer isso com evidéncias coneretas. Por exemplo, em um estuclo operacional formal, o experimentador perguntou se tma afitmacio sobre algumas fichas de pogust coloridas era verdadeira, fala ou incerta (Osherson ¢ Markman, 1975). Quando 0 &

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