Você está na página 1de 49

Direito Processual Penal

Crimes Contra o Patrimônio II


Prof. Douglas

Direito Penal
Crimes Contra o Patrimônio – Parte II

Professor Douglas Vargas

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 1


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

www.pontodosconcursos.com.br

Aula de hoje

Conteúdo Programático
Crimes Contra o Patrimônio II

Sumário
1. Introdução – Crimes Contra o Patrimônio II................................... 3
1.1 Alteração de Limites ................................................................. 4
1.2 Supressão ou Alteração de Marca em Animais .............................. 7
1.3 Dano .................................................................................... 09
1.4 Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia ......... 12
1.5 Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico .......... 13
1.6 Alteração de local especialmente protegido ............................... 14
1.7 Apropriação Indébita ............................................................. 15
1.8 Apropriação indébita previdenciária ......................................... 18
1.9 Estelionato ........................................................................... 23
1.10 Duplicata Simulada ................................................................ 28
1.11 Abuso de incapaz .................................................................. 30
1.12 Induzimento à especulação ..................................................... 32
1.13 Fraude no Comércio ............................................................... 33
1.14 Outras fraudes ...................................................................... 35
1.15 Receptação ........................................................................... 36
1.16 Receptação de Animais .......................................................... 41
1.17 Apropriação de coisa achada ................................................... 42
1.18 Observações Finais ................................................................ 43
1.19 Exercícios ............................................................................. 44

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 2


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Introdução – Crimes Contra o Patrimônio II

Fala galera!

Hoje vamos continuar nosso estudo sobre os crimes contra o patrimônio.

Novamente, deixo aqui meu e-mail (dougvargas87@gmail.com) e meu

Instagram (www.instagram.com/aprovandoo). Se precisarem falar comigo, não

hesitem. Seja por e-mail, pelo fórum do ponto, ou por direct, saibam que faço o

possível para responder o quanto antes. Eu realmente quero que vocês

aprendam, e gabaritem nossa disciplina na prova!

Um forte abraço e bons estudos!

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 3


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Alteração de Limites

Art. 161 - Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou


qualquer outro sinal indicativo de linha divisória,
para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa
imóvel alheia:

Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.

Conduta

A alteração de limites é o primeiro dos delitos do capítulo III (Da


usurpação), e trata de uma infração penal praticada sobre bens imóveis, e não
bens móveis!

O indivíduo simplesmente suprime ou desloca uma marcação de divisão


territorial, de modo que possa se apropriar de uma parte do terreno que não lhe
pertence.

Forma Culposa

Não há a previsão de forma culposa.

Formas Equiparadas, Qualificadas ou Privilegiadas

O delito de alteração de limite não possui previsão de condutas qualificadas


ou privilegiadas, no entanto apresenta diversas condutas equiparadas, às quais
o legislador inclusive optou por conceder nomenclaturas próprias (o que não é
comum. Vejamos:

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 4


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

§ 1º - Na mesma pena incorre quem:

Usurpação de águas

I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de


outrem, águas alheias;

Esbulho possessório

II - invade, com violência a pessoa ou grave


ameaça, ou mediante concurso de mais de duas
pessoas, terreno ou edifício alheio, para o fim de
esbulho possessório.

Dessa forma, os delitos de usurpação de águas e de esbulho


possessório são consideradas formas equiparadas do delito do art. 161, apesar
de possuírem um nome específico.
No primeiro caso, temos a conduta do indivíduo que desvia ou represa
aguas alheias em proveito próprio ou de outrem. Já no segundo caso, temos uma
invasão de terreno, com violência ou grave ameaça ou mediante concurso de
mais de duas pessoas (note que devem existir, portanto, três ou mais),
terreno ou edifício alheio, para fins de esbulho possessório.

Sobre essas condutas não tem muito segredo. Você precisa conhecer sua
existência e a literalidade dos artigos.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 5


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Observações Importantes

§ 2º - Se o agente usa de violência, incorre


também na pena a esta cominada.

§ 3º - Se a propriedade é particular, e não há


emprego de violência, somente se procede
mediante queixa.

Por força do § 2º, note que excepcionalmente o delito em estudo não


absorve a violência, de modo que o agente incorre tanto na pena a ele cominada
quanto na pena específica para a violência praticada. Além disso, estamos diante
de ação penal privada se não houver violência e se a propriedade objeto da
conduta for particular.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 6


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Supressão ou Alteração de Marca em Animais

Supressão ou alteração de marca em animais

Art. 162 - Suprimir ou alterar, indevidamente,


em gado ou rebanho alheio, marca ou sinal
indicativo de propriedade:

Conduta

É uma prática regular a marcação de animais como gado ou rebanho para


indicar a quem o animal pertence. Principalmente em animais frutos de
financiamento bancário, os quais costumam receber brincos plásticos concedidos
pela instituição financeira para a sua marcação.
Nesse sentido, o indivíduo que suprime ou altera de forma indevida marca
ou sinal indicativo de propriedade em ganho ou rebanho alheio incorrerá nas
penas previstas neste artigo.

Forma Culposa

Esse delito não possui previsão de forma culposa.

Formas Equiparadas, Qualificadas ou Privilegiadas

Também não há previsão de forma equiparada, qualificada ou privilegiada.

Observações Importantes

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 7


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

O delito do art. 162 necessita de perícia para comprovação de sua


materialidade (trata-se de infração penal que deixa vestígios: delito não
transeunte).

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 8


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Dano

Dano

Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar


coisa alheia:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Conduta

Agora sim adentramos o capítulo IV dos delitos contra o patrimônio. O delito


de dano merece especial atenção (os examinadores gostam muito de abordar
esse assunto).
A conduta em si é simples: trata da destruição, inutilização ou deterioração
de coisa alheia. Perceba que basta ser uma coisa alheia (não precisa ser móvel).
Pode-se, portanto, praticar dano tanto contra bens móveis quanto imóveis.

Tentativa e Consumação

O delito de dano admite a tentativa. Sua consumação se dá com a efetiva


deterioração, inutilização ou destruição da coisa (crime material).

Forma Culposa

No Brasil, dano culposo é fato atípico (não é crime). A responsabilização por dano culposo
se dá na esfera administrativa ou cível, mas não penal.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 9


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Já imaginou se você batesse seu carro de forma acidental e tivesse que


responder criminalmente? Seria absurdo. Felizmente, não existe essa previsão.
No entanto, note que, se você decidir bater seu carro para estragar o carro
de um terceiro, propositalmente, incorrerá no delito de dano (afinal de contas,
terá agido dolosamente).

Formas Equiparadas, Qualificadas ou Privilegiadas

O dano possui formas qualificadas, previstas no parágrafo único do art.


163. Vejamos:

Dano qualificado

Parágrafo único - Se o crime é cometido:

I - com violência à pessoa ou grave ameaça;

II - com emprego de substância inflamável ou


explosiva, se o fato não constitui crime mais grave

III - contra o patrimônio da União, Estado,


Município, empresa concessionária de serviços
públicos ou sociedade de economia mista;
(Redação dada pela Lei nº 5.346, de 3.11.1967)

IV - por motivo egoístico ou com prejuízo


considerável para a vítima:

Pena - detenção, de seis meses a três anos, e


multa, além da pena correspondente à violência.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 10


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Faça a leitura e releitura das hipóteses acima diversas vezes. Em listas


como essa, é muito importante conhecer cada caso que poderá ensejar a
mudança do delito de sua forma comum para a qualificada.

Observações Importantes

As condutas previstas no caput (Art. 163 – dano simples) e no inciso IV do


parágrafo único do art. 163 são de ação penal privada.

A conduta de pichação de edificações ou monumentos urbanos está prevista na lei dos


crimes ambientais (Art. 65), motivo pelo qual nesses casos não existirá o delito de dano e sim
um crime específico da lei 9.605/98.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 11


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia

Art. 164 - Introduzir ou deixar animais em


propriedade alheia, sem consentimento de quem de
direito, desde que o fato resulte prejuízo:

Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou


multa.

Conduta

A conduta do art. 164 é simples: O autor introduz ou deixa animais em


propriedade alheia, sem a autorização do proprietário. Note que, no entanto, não
basta introduzir ou deixar o animal sem autorização: a conduta deve resultar
em prejuízo, do contrário, não estará caracterizado o delito.

Este é um delito que não necessita ser estudado de forma aprofundada.


Para fins de prova, basta conhecer a literalidade do artigo.

Observações Importantes

Trata-se de delito de ação penal privada (previsão no art. 167 CP).

Se o agente introduz ou deixa o animal em propriedade alheia com o objetivo de causar


dano, responderá pelo crime de DANO, e não pela prática do art. 164.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 12


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico

Dano em coisa de valor artístico, arqueológico


ou histórico

Art. 165 - Destruir, inutilizar ou deteriorar


coisa tombada pela autoridade competente em
virtude de valor artístico, arqueológico ou
histórico:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e


multa.

Conduta

Esse artigo foi REVOGADO pela Lei dos Crimes ambientais, e só está aqui
listado para a ciência dos alunos que estudam fazendo a leitura da lei seca (o que
é extremamente recomendável, diga-se de passagem.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 13


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Alteração de local especialmente protegido

Art. 166 - Alterar, sem licença da autoridade


competente, o aspecto de local especialmente
protegido por lei:

Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa

Conduta

Nos mesmos moldes do artigo anterior, esse delito foi REVOGADO pela Lei
dos Crimes Ambientais, e só está aqui listado para a ciência dos alunos que
estudam fazendo a leitura da lei seca (o que é extremamente recomendável,
diga-se de passagem.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 14


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Apropriação Indébita

Apropriação indébita

Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel,


de que tem a posse ou a detenção:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Conduta

Finalmente adentramos o capítulo V do título II do CP, que trata dos delitos


de apropriação indébita.
Primeiramente, temos o art. 168, recorrente em provas, que trata da
apropriação indébita de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou
detenção.
A apropriação indébita se parece bastante com o furto, mas com uma
diferença básica: No furto, o indivíduo não tem a posse do objeto que deseja
furtar, de modo que ele deve fazer a subtração para obter êxito em seu intento
criminoso.
Já na apropriação indébita, o indivíduo detém a posse legítima do bem que
deseja subtrair, e decide inverter o título da posse, ou seja, passa a se
comportar como se fosse o dono daquele bem. Veja só um exemplo:

Sam vai até a biblioteca da Cidadela onde vive como


estudante, e faz o empréstimo legítimo de cinco
livros sobre história, com o objetivo de estudar.
Uma vez de posse dos livros, Sam gosta tanto de seu
conteúdo que decide não mais devolvê-los,
passando a agir como se fosse o dono dos objetos.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 15


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Note que no caso acima, Sam obteve a posse dos livros de forma lícita,
legítima, e depois decidiu manter os livros sobre sua posse, quando deveria
devolvê-los. Não houve subtração – ele simplesmente decidiu não mais devolver
os livros!
Outro ponto fundamental é o seguinte: a vontade inicial do agente, na
apropriação indébita, não é a de permanecer com o objeto. O dolo,
portanto, deve ser subsequente (a vontade de permanecer com o objeto deve
surgir após o momento em que o agente obteve a detenção ou a posse)!

Se, no caso de Sam, ele tivesse feito o empréstimo dos livros na biblioteca com o objeto
prévio de não mais devolvê-los, poderia incorrer no delito de estelionato, e não no delito de
apropriação indébita!

Tentativa e Consumação

A apropriação indébita é um tipo penal que, em regra, admite a tentativa.


Se consuma com a apropriação, que é demonstrada no momento em que o
agente age como se fosse o dono do bem apropriado.

No entanto, se a apropriação se consumar com a negativa de restituição (ou seja, o dono


legítimo pede o bem de volta e o autor se recusa a devolver), a consumação ocorrerá com a
recusa da devolução. E, nesse caso, não se admite a tentativa!

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 16


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Forma Culposa

Não existe a previsão de apropriação indébita culposa.

Formas Equiparadas, Majoradas, Qualificadas ou Privilegiadas

O delito de apropriação indébita possui a forma majorada (na qual a pena


é aumentada de 1/3) nos seguintes casos:

Aumento de pena
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando
o agente recebeu a coisa:
I - em depósito necessário;
II - na qualidade de tutor, curador, síndico,
liquidatário, inventariante, testamenteiro ou
depositário judicial;
III - em razão de ofício, emprego ou profissão.

Além disso, a forma privilegiada do delito de furto (art. 155) pode ser
aplicada ao delito de apropriação indébita, por força do art. 170 CP:

Art. 170 - Nos crimes previstos neste Capítulo,


aplica-se o disposto no art. 155, § 2º.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 17


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Apropriação indébita previdenciária

Apropriação indébita previdenciária

Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência


social as contribuições recolhidas dos
contribuintes, no prazo e forma legal ou
convencional: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e


multa

Conduta

O delito do art. 168-A trata da conduta daquele que deixa de repassar à


previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes.

Estamos diante de um crime próprio, praticado por diretores,


administradores, gerentes e sócios de pessoa jurídica responsável por realizar o
repasse das contribuições aos cofres públicos.

Formas Equiparadas

Em seu parágrafo 1º, o art. 168 apresenta as condutas equiparadas:

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 18


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

§ 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar


de: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
I – recolher, no prazo legal, contribuição ou
outra importância destinada à previdência social
que tenha sido descontada de pagamento efetuado
a segurados, a terceiros ou arrecadada do público;
II – recolher contribuições devidas à
previdência social que tenham integrado despesas
contábeis ou custos relativos à venda de produtos
ou à prestação de serviços;
III - pagar benefício devido a segurado, quando
as respectivas cotas ou valores já tiverem sido
reembolsados à empresa pela previdência social.

Temos, portanto, as seguintes condutas equiparadas:

Deixar de recolher Deixar de recolher


contribuição ou importância contribuições devidas à
que tenha sido descondata previdência que estejam
de pagamento efetuado a relacionadas a custos de
segurados, terceiros ou venda de produtos ou
arrecada do público. prestação de serviços.

Deixar de pagar benefício


devido a segurado quando
os valores forem
reembolsados à empresa
pela previdência.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 19


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Este delito, infelizmente, é um dos mais chatos. Não temos alternativa


senão a de realizar a leitura dos artigos várias vezes, para memorizar as
hipóteses previstas (principalmente as condutas equiparadas).

Tentativa e Consumação

A consumação desse delito ocorre quando acaba o prazo de repasse


para o recolhimento dos valores a previdência social.
No caso da conduta equiparada prevista no parágrafo 1º, inciso III, a
consumação ocorre no dia em que o responsável deixa de pagar o benefício
repassado ao segurado.

Forma Culposa

Não existe a previsão de forma culposa do delito do art. 168.

Observações Importantes

Segundo o STJ, se o valor do débito não for superior a R$ 10.000,00, é


possível aplicar o princípio da insignificância à conduta do art. 168.
Já para o STF, o valor em questão deve ser superior a R$ 20.000,00 para
que o princípio da insignificância não possa ser aplicado, tendo em vista que uma
portaria do Ministério da Fazenda estabelece o teto mínio de R$ 20.000,00 para
o ajuizamento de ações de execuções fiscais dessa natureza.

Causa específica de Extinção da Punibilidade

O delito do art. 168 possui uma previsão expressa de causa extintiva de


punibilidade do agente, específica para a sua conduta:

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 20


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

§ 2o É extinta a punibilidade se o agente,


espontaneamente, declara, confessa e efetua o
pagamento das contribuições, importâncias ou
valores e presta as informações devidas à
previdência social, na forma definida em lei ou
regulamento, antes do início da ação
fiscal. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

Observe que, portanto, se o agente confessar de forma espontânea e


realizar o pagamento das contribuições devidas, terá extinta a sua punibilidade
(afinal de contas, o importante para o governo é arrecadar, certo?)
A única observação aqui é que essa confissão e pagamento devidos ocorram
antes do início da ação fiscal.

Perdão Judicial

Além da previsão específica de extinção da punibilidade, existe ainda a


previsão expressa de perdão judicial para a conduta prevista no art. 168,
observadas as seguintes condições:

§ 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou


aplicar somente a de multa se o agente for primário
e de bons antecedentes, desde que:
I – tenha promovido, após o início da ação fiscal
e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da
contribuição social previdenciária, inclusive
acessórios; ou
II – o valor das contribuições devidas, inclusive
acessórios, seja igual ou inferior àquele
estabelecido pela previdência social,

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 21


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

administrativamente, como sendo o mínimo para o


ajuizamento de suas execuções fiscais.

Ou seja, se o agente for primário e de bons antecedentes, o agente


promover o pagamento da contribuição devida, mesmo após o início da ação
fiscal, poderá o juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar apenas a pena de multa.
O mesmo acontece caso o valor devido for igual ou inferior ao valor mínimo
estabelecido pela previdência para o ajuizamento de ações fiscais (inciso II).

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 22


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Estelionato

Estelionato

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem,


vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou
mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil,
ou qualquer outro meio fraudulento:

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de


quinhentos mil réis a dez contos de réis.

Conduta

Ah, o famoso art. 171. “Fulano é o maior 171”. Você com certeza já ouviu
essa expressão por aí!
O delito de estelionato se configura quando o agente obtém vantagem
ilícita, em prejuízo alheio, mantendo alguém em erro mediante algum artificio ou
meio fraudulento.
O estelionato se diferencia do furto pois, no estelionato, a vítima entrega o
bem voluntariamente, pois foi enganada (mantida em erro) pelo autor, que
utilizou de algum artificio que a fez acreditar que o bem entregue estaria seguro.
De forma oposta, no furto, o indivíduo subtrai o objeto (que não é entregue
voluntariamente pela vítima).

Requisitos

Com base no exposto, são requisitos do delito de estelionato:

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 23


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Vantagem
Erro da vítima
ilícita

Fraude do
Prejuízo alheio agente
delitivo.

Tentativa e Consumação

O estelionato é um crime material, motivo pelo qual se consuma quando o


agente obtém efetivamente a vantagem ilícita. Dessa forma, é possível a
tentativa!

Forma Culposa

Não existe, em nosso ordenamento jurídico, a previsão do delito de


estelionato culposo.

Formas Equiparadas, Qualificadas ou Privilegiadas

Em primeiro lugar, é importante observar que o estelionato possui uma


forma privilegiada, nos mesmos moldes do furto, prevista no parágrafo 1º do art.
171:

§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno


valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena
conforme o disposto no art. 155, § 2º.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 24


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Em segundo lugar, temos as chamadas formas especiais do estelionato,


que nada mais são do que condutas equiparadas (para as quais se aplica a mesma
pena do caput do artigo 171):

§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem:


Disposição de coisa alheia como própria
I - vende, permuta, dá em pagamento, em
locação ou em garantia coisa alheia como própria;
Alienação ou oneração fraudulenta de coisa
própria
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em
garantia coisa própria inalienável, gravada de ônus
ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a
terceiro, mediante pagamento em prestações,
silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias;
Defraudação de penhor
III - defrauda, mediante alienação não
consentida pelo credor ou por outro modo, a
garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto
empenhado;
Fraude na entrega de coisa
IV - defrauda substância, qualidade ou
quantidade de coisa que deve entregar a alguém;
Fraude para recebimento de indenização ou
valor de seguro
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa
própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou
agrava as consequências da lesão ou doença, com o
intuito de haver indenização ou valor de seguro;
Fraude no pagamento por meio de cheque

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 25


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

VI - emite cheque, sem suficiente provisão de


fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o
pagamento.

Note que, embora sejam seis hipóteses de condutas equiparadas, cada uma
delas possui uma nomenclatura específica determinada expressamente pelo
legislador.

Tratando ainda do tópico de formas privilegiadas, equiparadas e majoradas,


o estelionato também possui a previsão de duas formas majoradas:

§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime


é cometido em detrimento de entidade de direito
público ou de instituto de economia popular,
assistência social ou beneficência.

Estelionato contra idoso

§ 4o Aplica-se a pena em dobro se o crime for


cometido contra idoso.

Merece especial atenção a maior reprovabilidade da conduta de estelionato


praticada em desfavor de idoso, situação na qual a pena é aplicada em dobro.

Observações Importantes

Existem diversas súmulas do STJ e do STF que se aplicam ao delito de


estelionato, sendo que muitas delas já foram objeto de prova anteriormente. A
seguir, passamos a listar as que merecem destaque.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 26


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Súmula Conteúdo
246/STF Comprovado não ter havido fraude, não se
configura o crime de emissão de cheque sem
fundos.
521/STF O foro competente para o processo e
julgamento dos crimes de estelionato, sob a
modalidade da emissão dolosa de cheque sem
provisão de fundos, é o do local onde se deu a
recusa do pagamento pelo sacado.
554/STF O pagamento de cheque emitido sem provisão
de fundos, após o recebimento da denúncia,
não obsta ao prosseguimento da ação penal.
48/STJ Compete ao Juízo do local da obtenção da
vantagem ilícita processar e julgar crime de
estelionato cometido mediante falsificação de
cheque.
73/STJ A utilização de papel moeda grosseiramente
falsificado configura, em tese, o crime de
estelionato, da competência da Justiça
Estadual.
107/STJ Compete à Justiça Comum Estadual processar
e julgar crime de estelionato praticado
mediante falsificação das guias de
recolhimento das contribuições
previdenciárias, quando não ocorrente lesão
à autarquia federal.
244/STJ Compete ao foro do local da recusa processar
e julgar o crime de estelionato mediante
cheque sem provisão de fundos.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 27


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Duplicata Simulada

Duplicata simulada

Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de


venda que não corresponda à mercadoria vendida,
em quantidade ou qualidade, ou ao serviço
prestado. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de
27.12.1990)

Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos,


e multa.

Conduta

O delito de duplicata simulada é bastante específico: O indivíduo emite


fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponde à mercadoria vendida,
em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado. Para fins de prova, basta
conhecer sua literalidade.

Tentativa e Consumação

O delito de duplicata simulada se consuma com a mera colocação da


duplicada em circulação. Não há a necessidade de que tal ação cause algum
prejuízo!

Forma Culposa

Não há previsão de forma culposa.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 28


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Formas Equiparadas, Qualificadas ou Privilegiadas

O delito do art. 172 possui a seguinte previsão de forma


equiparada:

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá


aquele que falsificar ou adulterar a escrituração do
Livro de Registro de Duplicatas.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 29


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Abuso de incapazes

Art. 173 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, de


necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou
da alienação ou debilidade mental de outrem,
induzindo qualquer deles à prática de ato suscetível
de produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou
de terceiro:

Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

Conduta

Aqui temos a conduta do indivíduo que se aproveita da inexperiência,


paixão ou necessidade de um menor, ou da alienação ou debilidade mental de
alguém, para induzir a pratica de um ato que possa produzir um efeito jurídico
em prejuízo próprio ou de terceiro.
Vejamos um exemplo simples:

Indivíduo verifica um menor na rua utilizando seu


telefone Iphone 7, que vale aproximadamente R$
4.000,00.
Aproveitando-se da inexperiência do menor, o
autor induz a vítima a fazer a troca de seu telefone
por uma calculadora científica e mais R$ 50.00.

Tentativa e Consumação

O delito se consuma independentemente do prejuízo causado (trata-se,


portanto, de crime formal).

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 30


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Forma Culposa

Não existe previsão legal.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 31


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Induzimento à especulação

Art. 174 - Abusar, em proveito próprio ou


alheio, da inexperiência ou da simplicidade ou
inferioridade mental de outrem, induzindo-o à
prática de jogo ou aposta, ou à especulação com
títulos ou mercadorias, sabendo ou devendo saber
que a operação é ruinosa.

Conduta

Este delito se parece muito com o do artigo anterior, no entanto aqui o


abuso realizado pelo autor é realizado sobre a inexperiência ou simplicidade de
um terceiro qualquer, induzindo-o a participar de jogo ou aposta ou especulação
que é ruinosa (ou seja, que pode levar a vítima a perder seus bens com a prática).

Tentativa e Consumação

Mais uma vez se trata de delito formal, que se consuma independentemente


da existência de prejuízo.

Forma Culposa

Não há previsão legal de forma culposa.

Observações Importantes

Este delito pode ser praticado envolvendo tanto jogos ou apostas lícitas quanto ilícitas.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 32


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Fraude no Comércio

Fraude no comércio

Art. 175 - Enganar, no exercício de atividade


comercial, o adquirente ou consumidor:

I - vendendo, como verdadeira ou perfeita,


mercadoria falsificada ou deteriorada;

II - entregando uma mercadoria por outra:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou


multa.

Conduta

Muitas vezes o examinador pode tentar te enganar utilizando esse delito e


afirmando que você está diante de um estelionato comum (afinal de contas,
ambas as condutas envolvem a fraude).
No entanto, o art. 175 trata de um crime próprio, cujo sujeito ativo é
comerciante no exercício de sua atividade, tentando enganar seu cliente ou
consumidor.
A fraude se dá com as seguintes práticas:

Entregando como
Entregando uma
perfeita uma
mercadoria por
mercadoria falsa
outra.
ou deteriorada.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 33


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Tentativa e Consumação

Trata-se de crime material (que se consuma com a entrega da mercadoria


nas condições previstas anteriormente).

Forma Culposa

Não há previsão de forma culposa.

Formas Equiparadas, Qualificadas ou Privilegiadas

Existe uma previsão de forma equiparada à conduta do art. 175:

§ 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a


qualidade ou o peso de metal ou substituir, no
mesmo caso, pedra verdadeira por falsa ou por
outra de menor valor; vender pedra falsa por
verdadeira; vender, como precioso, metal de ou
outra qualidade:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.

Observe, no entanto, que aqui a pena é de reclusão, de um a cinco anos,


mais gravosa do que aquela prevista no art. 175, caput.

Observações Importantes

É cabível a aplicação da forma privilegiada prevista para o furto, no delito do art. 175.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 34


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Outras fraudes

Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se


em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem
dispor de recursos para efetuar o pagamento:

Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou


multa.

Conduta

Esse delito é muito divertido, porque quase ninguém faz ideia de que essa
conduta é crime! Comer em restaurante, se hospedar em hotel ou utilizar um
meio de transporte sem dispor de recurso para pagar é crime, previsto no art.
176 do CP!
Dito isso, esse é um delito muito simples e que só requer realmente o
conhecimento da literalidade de seu artigo.

Tentativa e Consumação

Trata-se de delito material (se consuma quando o agente efetivamente


toma a refeição, se hospeda no hotel ou utiliza o meio de transporte).

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 35


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Receptação

Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir


ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que
sabe ser produto de crime, ou influir para que
terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Conduta

A receptação é o delito praticado por aquele que, embora tenha


conhecimento de que está lidando com um objeto produto de crime anterior, se
dispõe a adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar tal produto
(receptação própria).
Também é passível de responsabilização o agente que, embora não execute
a receptação diretamente, influa para que terceiro de boa-fé adquira, receba ou
oculte o produto do crime anterior (receptação imprópria).

Quem pratica a receptação é um TERCEIRO que não está envolvido no crime do qual
provém o objeto. Se um indivíduo furta um determinado objeto, não poderá ele próprio
responder pelo furto e pela receptação ao transportar o bem subtraído, por exemplo.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 36


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Tentativa e Consumação

Nas modalidades transportar, conduzir e ocultar é crime permanente (a


consumação se portai no tempo, de modo que o agente sempre está em flagrante
delito).
Nas modalidades adquirir e receber, por sua vez, é crime instantâneo.

Já na modalidade de receptação imprópria, o delito se consuma com a


simples influência em um terceiro de boa-fé, de modo que não é possível a
tentativa. Executando ou não o terceiro a aquisição do bem, o delito estará
consumado.

Forma Culposa

Existe previsão de modalidade culposa no delito de receptação, prevista no


parágrafo 3º do art. 180:
§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua
natureza ou pela desproporção entre o valor e o
preço, ou pela condição de quem a oferece, deve
presumir-se obtida por meio
criminoso: (Redação dada pela Lei nº 9.426, de
1996)
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa,
ou ambas as penas.

O terceiro deve perceber que a coisa que está recebendo ou adquirindo está com o preço
desproporcional, ou em condição que torna possível presumir que o objeto é produto de
crime.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 37


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Dessa forma é importante perceber que, se o indivíduo meramente adquirir


um produto de um crime de maneira inocente, pagando preço regular e em
situação sem condições que pudessem ensejar a sua desconfiança sobre a origem
do produto, não cometerá crime de receptação, nem culposa nem dolosa!
Imagine a seguinte situação:

Indivíduo furta celular e anuncia o mesmo em um


site de vendas, com preço de mercado.
No ato da entrega, apresenta uma nota fiscal forjada
e o celular em uma caixa original que comprou de
um amigo, com o objetivo de disfarçar a origem
ilícita do produto.

Nessa situação, os pressupostos para que o comprador pratique a


receptação culposa não estarão presentes (não há disparidade absurda no preço
e as demais circunstâncias não indicam uma origem ilícita do produto), de modo
que o comprador não incorrerá na infração penal aqui prevista.

Formas Equiparadas, Qualificadas ou Privilegiadas

A receptação possui a seguinte modalidade qualificada:

§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir,


ocultar, ter em depósito, desmontar, montar,
remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer
forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no
exercício de atividade comercial ou industrial, coisa
que deve saber ser produto de crime: (Redação
dada pela Lei nº 9.426, de 1996)

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 38


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Pena - reclusão, de três a oito anos, e


multa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de
1996)
§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para
efeito do parágrafo anterior, qualquer forma de
comércio irregular ou clandestino, inclusive o
exercício em residência.

Aqui temos um crime próprio, praticado por comerciante que utiliza de sua
atividade comercial ou industrial para utilizar o produto de origem ilícita. Note
ainda que, por força do parágrafo 2º, a atividade comercial exercida pelo autor
sequer necessita ser lícita, e pode até mesmo ser exercida em residência.
Veja um exemplo:

Indivíduo é proprietário de uma oficina, e


costuma comprar peças retiradas de veículos
roubados para utilizar no reparo de veículos de
seus clientes, aumentando assim a sua margem de
lucro.

Existe ainda uma última forma qualificada, prevista no parágrafo 6º:

§ 6º - Tratando-se de bens e instalações do


patrimônio da União, Estado, Município,
empresa concessionária de serviços públicos
ou sociedade de economia mista, a pena prevista
no caput deste artigo aplica-se em dobro.

Observações Importantes

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 39


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

A receptação culposa é passível de perdão judicial, e a receptação dolosa


é passível da aplicação do privilégio previsto no delito de furto:

§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é


primário, pode o juiz, tendo em consideração as
circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Na
receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do
art. 155.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 40


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Receptação de Animais

Receptação de animal

Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar,


conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender, com a
finalidade de produção ou de comercialização,
semovente domesticável de produção, ainda que
abatido ou dividido em partes, que deve saber ser
produto de crime: (Incluído pela Lei nº 13.330,
de 2016)

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Conduta

Aqui estamos diante de espécie de receptação, que inclusive pode ser


objeto de prova por se tratar de alteração recente do Código Penal (incluída em
2016).
O objetivo do legislador foi de dar maior proteção a atividade pecuária,
criando um delito especifico para aquele que pratica a receptação de gado e
outros semoventes de produção.
O importante aqui é que você conheça apenas a existência desse delito e
sua literalidade. Por se tratar de artigo recente, não há muito o que se falar em
termos de doutrina ou jurisprudência.

A maior possibilidade é que o examinador venha a narrar uma situação que se enquadre
no art. 180-A e afirme que se trata de um delito de receptação comum para te induzir em erro.
Fique ligado!

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 41


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Apropriação de coisa achada

II - Quem acha coisa alheia perdida e dela se


apropria, total ou parcialmente, deixando de
restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de
entregá-la à autoridade competente, dentro no
prazo de quinze dias.

Conduta

Achado não é roubado, diz o ditado que tanto ouvimos na escola, certo?
Errado! Por força do art. 169, inciso II, aquele que encontra coisa alheia perdida
e deixa de devolver ou de entregar às autoridades competentes, no prazo de 15
dias, pratica uma infração penal!

Não confunda coisa achada com coisa esquecida. Se o indivíduo esquece seu objeto e este
vem a ser subtraído, ocorrerá furto, e não apropriação de coisa achada.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 42


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Observações Finais

O título dos delitos contra o patrimônio possui ainda uma previsão


específica de imunidade penal, segundo as quais alguns autores serão isentos
de pena para qualquer um dos delitos previstos no título II do CP (ou seja,
entre os artigos 155 e 180-A).

Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer


dos crimes previstos neste título, em prejuízo:

I - do cônjuge, na constância da sociedade


conjugal;

II - de ascendente ou descendente, seja o


parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou
natural.

Ou seja, um filho que furta do pai, por exemplo, está isento de pena, por
força do art. 181 do CP.

Além dessas possibilidades, temos a chamada imunidade penal relativa,


com a mudança do tipo de ação penal para pública condicionada à
representação nos seguintes casos:

Art. 182 - Somente se procede mediante


representação, se o crime previsto neste título é
cometido em prejuízo:
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente
separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 43


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

III - de tio ou sobrinho, com quem o agente


coabita.

Em outras palavras, se um irmão furta do outro, por exemplo, não estará


isento de pena, mas só se procederá à persecução penal se o irmão que foi vítima
oferecer sua representação.

Impedimento de aplicação dos art. 181 e 182

Apesar das previsões acima se estenderem a todos os delitos do título II,


algumas condutas são de maior reprovabilidade (como as que envolvem violência
e grave ameaça, por exemplo). Nesses casos, o legislador se manifestou no
sentido da inaplicabilidade da imunidade penal (absoluta e relativa) prevista nos
artigos 181 e 182 nos seguintes casos:

Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos


anteriores:
I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em
geral, quando haja emprego de grave ameaça ou
violência à pessoa;
II - ao estranho que participa do crime.
III – se o crime é praticado contra pessoa com
idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

Então lembre-se: Os artigos 181 e 182 não se aplicam nos seguintes


casos:

Delito de roubo, Ao coautor estranho


Ao crime praticado
extorsão ou que participa do
contra maior de 60
envolvendo violência crime (no caso de
anos.
/ grave ameaça. concurso de pessoas)

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 44


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Observações finais

Caro aluno, os seguintes delitos não foram listados no escopo de nossa


aula, por sua baixa incidência em provas de concursos públicos:

 Art. 169 (Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da
natureza);
 Art. 169, I (Apropriação de tesouro);
 Art. 177 (Fraudes e abusos na fundação ou administração de sociedade por
ações);
 Art. 178 (Emissão irregular de conhecimento de depósito ou "warrant");
 Art. 179 (Fraude à execução).

Além de dificilmente serem cobrados em prova, os artigos acima ainda


possuem pouquíssima jurisprudência ou mesmo analise doutrinária de grande
importância para fins de concurso público.
Dessa forma, de modo a otimizar seu estudo, recomendo apenas que você
faça a leitura da literalidade dos artigos acima, de modo realmente simplificado,
direcionando seu foco para os delitos contidos em nossa aula – que possuem um
volume de questões infinitamente maior.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 45


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Questões Comentadas

O réu primário cujo crime tenha sido o de adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou
pela desproporção entre seu valor e preço, ele presumia ter sido obtida por meio criminoso
poderá receber o perdão judicial, caso o juiz considere, conforme as circunstâncias, ser
adequada tal medida.
CESPE / TCU / Auditor

Exatamente. É o que prevê o parágrafo 5º do art. 180 CP. Assertiva


Correta.

Praticará o crime de estelionato aquele que obtiver para si vantagem ilícita, em prejuízo de
incapaz, mantendo-o em erro, mediante fraude.
CESPE / TRE-GO / Analista Judiciário

Negativo! Pratica o crime de abuso de incapaz, previsto no art. 173!


Assertiva Incorreta.

Aquele que vender a terceiro de boa-fé coisa que tenha furtado praticará os crimes de furto e
estelionato, já que lesionará bens jurídico-penais de pessoas distintas.
CESPE / DPE / Defensor Público

Nada disso. Conforme estudamos, quem pratica o delito de receptação é


um terceiro que não praticou a conduta criminosa do qual proveio o objeto ilícito.
Se o indivíduo furtou e vendeu, responde pelo furto, e não pela receptação.
Assertiva falsa.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 46


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

A apropriação de veículo do patrão por empregado doméstico que detinha o bem para
utilização em tarefas afetas às suas obrigações é delito de apropriação indébita, devendo a pena-
base ser majorada de um terço por determinação legal.
CESPE / Câmara / Analista Legislativo

Exatamente. O autor pratica o art. 168 do CP, com a pena aumentada de


1/3 pois pratica o delito em razão do ofício ou profissão que exerce (parágrafo
1º, inciso III). Assertiva correta!

Paulo e João foram surpreendidos nas dependências da Câmara dos Deputados quando
subtraíam carteiras e celulares dos casacos e bolsas de pessoas que ali transitavam. Paulo tem
dezessete anos e teve acesso ao local por intermédio de João, que é servidor da Casa.

Com base nessa situação hipotética, julgue o item a seguir.

A conduta de João se enquadra no tipo penal de apropriação indébita, uma vez que ele subtraía
os referidos bens valendo-se da facilidade que lhe proporcionava sua atividade profissional.

CESPE / Câmara / Técnico Legislativo

Os autores estavam SUBTRAINDO, não estavam com a posse legítima do


bem e decidiram manter os objetos para sim. Dessa forma, estamos diante do
delito de furto (mais especificamente peculato-furto tendo em vista que João é
servidor da Casa). Nada de apropriação indébita. Assertiva incorreta.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 47


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

O crime de dano é qualificado se cometido contra o patrimônio da União, do estado, do


município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista.
CESPE / IFB / Assistente

Com certeza! É o que prevê o art. 163, parágrafo único, inciso III.
Assertiva correta.

Considere que Pedro tenha adquirido equipamento de projeção, sabendo ter sido o objeto
furtado de determinado órgão público. Nessa situação, a pena prevista para a conduta de Pedro
é a de reclusão de dois a oito anos e multa.

CESPE / MPU / Técnico

É um absurdo o examinador cobrar a exata pena que deve ser cominada a


um delito, mas infelizmente isso acontece.
A conduta praticada por Pedro incide na seguinte previsão legal:

Receptação
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou
ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser
produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a
adquira, receba ou oculte.

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa

§ 6º - Tratando-se de bens e instalações do patrimônio da


União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços
públicos ou sociedade de economia mista, a pena prevista
no caput deste artigo aplica-se em dobro.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 48


Direito Processual Penal
Crimes Contra o Patrimônio II
Prof. Douglas

Dobrando-se a pena de 1 a 4 anos, temos a pena de 2 a oito anos que é a


cominada pela questão. Dessa forma, Assertiva correta.

www.pontodosconcursos.com.br | Professor(a). Douglas Vargas 49

Você também pode gostar