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Estatuto da Pessoa com Deficiência

O que você precisa saber:

Prof. Geraldo Carneiro (@geracarneiro)

O Estatuto visa sempre à inclusão social e a cidadania das pessoas com deficiência.
Tem por base a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo
Facultativo, incorporado com o rito de Emenda Constitucional (art. 5º, § 3º, da CF).

Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo
de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou
mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade
de condições com as demais pessoas.

DICA: Com a edição do Estatuto a incapacidade absoluta, prevista no Código Civil,


restringe-se aos menores de dezesseis anos de idade.

A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial.

DICA: qualquer afirmação de que a pessoa pelo simples fato de estar com deficiência
terá alguma limitação ou restrição de direito deve ser considerada errada. A deficiência
não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para:
I - casar-se e constituir união estável;
II - exercer direitos sexuais e reprodutivos;
III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações
adequadas sobre reprodução e planejamento familiar;
IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória;
V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e
VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando,
em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.

Do mesmo modo, qualquer ação ou omissão que vise a restringir a participação de


pessoa com deficiência pode ser considerada discriminatória, incluindo a recusa de
adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas.

CUIDADO: a pessoa com deficiência não está obrigada à fruição de benefícios


decorrentes de ação afirmativa.

É dever de todos, inclusive dos juízes e tribunais, comunicar à autoridade


competente qualquer forma de ameaça ou de violação aos direitos da pessoa com
deficiência.

DICA: são considerados, para o Estatuto, especialmente vulneráveis a criança, o


adolescente, a mulher e o idoso, com deficiência.

Dos Direitos:

A pessoa com deficiência tem direito a receber atendimento prioritário, extensivo a


seu acompanhante, exceto para o recebimento de restituição de imposto de renda e a
tramitação de procedimentos judiciais e administrativos.

CUIDADO: nos serviços de emergência públicos e privados, a prioridade conferida é


condicionada aos protocolos de atendimento médico.
A pessoa com deficiência não poderá ser obrigada a se submeter à intervenção
clínica ou cirúrgica, a tratamento ou a institucionalização forçada. No caso de envolver a
situação de curatela, deve ser assegurada sua participação, no maior grau possível, para a
obtenção de consentimento.

CUIDADO: é dispensável o consentimento em casos de risco de morte e de emergência


em saúde

As operadoras de planos e seguros privados de saúde são obrigadas a garantir à


pessoa com deficiência, no mínimo, todos os serviços e produtos ofertados aos demais
clientes.

Os casos de suspeita ou de confirmação de violência praticada contra a pessoa com


deficiência serão objetos de notificação compulsória pelos serviços de saúde públicos e
privados.

Em todas as áreas de estacionamento aberto ao público devem ser reservadas vagas


(equivalente a 2% do total, garantida, no mínimo, uma vaga), devidamente sinalizada e
com as especificações de desenho e traçado.

Nos programas habitacionais, públicos ou subsidiados com recursos públicos, a


pessoa com deficiência ou o seu responsável goza de prioridade na aquisição de imóvel
para moradia própria, observada a reserva de, no mínimo, 3% das unidades
habitacionais para pessoa com deficiência. Esse direito será reconhecido apenas uma
vez.

O poder público desenvolverá plano específico de medidas sobre tecnologia assistiva,


a ser renovado em cada período de 4 anos, devendo os procedimentos serem avaliados a
cada 2 anos.

Em tele centros e lan houses que recebam recursos públicos federais deve haver no
mínimo 10% dos computadores com acessibilidade para pessoas com deficiência
visual, garantindo ao menos um computador, quando o percentual for menor que um.

DICA: É vedado exigir o comparecimento de pessoa com deficiência perante os órgãos


públicos quando seu deslocamento, em razão de sua limitação funcional e de condições de
acessibilidade, imponha-lhe ônus desproporcional e indevido.

Devem ser oferecidos todos os recursos de tecnologia assistiva disponíveis para que
a pessoa com deficiência tenha garantido o acesso à justiça. O Estatuto assegura o direito
ao exercício de sua capacidade legal em igualdade de condições com as demais pessoas,
só quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela.

Da Curatela:

A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva


extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e
durará o menor tempo possível. Para casos de relevância e urgência poderá haver a
nomeação de curador provisório.

A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza


patrimonial e negocial, devendo o curador prestar, anualmente, contas de sua
administração. Não alcançará o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao
matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto.
CUIDADO: é facultada à pessoa com deficiência a adoção de processo de tomada de
decisão apoiada.

A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa com deficiência


elege pelo menos 2 pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de
sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil.

Devem apresentar termo em que constem os limites do apoio a ser oferecido e os


compromissos dos apoiadores, inclusive o prazo de vigência do acordo e o respeito à
vontade, aos direitos e aos interesses da pessoa que devem apoiar.

A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre terceiros, sem
restrições, desde que esteja inserida nos limites do apoio acordado. Terceiro com quem a
pessoa apoiada mantenha relação negocial pode solicitar que os apoiadores contra-
assinem o contrato.

Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão indevida ou não adimplir as


obrigações assumidas, poderá o juiz destituí-lo e nomear, ouvida a pessoa apoiada e se
for de seu interesse, outrem para prestação de apoio.

A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o término de acordo firmado em


processo de tomada de decisão apoiada. Já o apoiador pode solicitar ao juiz sua exclusão,
sendo seu desligamento condicionado à manifestação do juiz.

Por fim, prevê o Estatuto a criação do Cadastro Nacional de Inclusão da Pessoa


com Deficiência (Cadastro-Inclusão). Trata-se de um registro público eletrônico com a
finalidade de unir informações que permitam a identificação e a caracterização
socioeconômica da pessoa com deficiência, bem como das barreiras que impedem a
realização de seus direitos. Será administrado pelo Poder Executivo Federal.

DICAS DA RESOLUÇÃO 230/16 DO CNJ

- orienta os órgãos do Judiciário a cumprir as obrigações do Estatuto e da Convenção


sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência;
- prevê que os Tribunais instituam Comissões Permanentes de Acessibilidade e Inclusão,
composta por magistrados e servidores, com e sem deficiência;
- uma vez instituída, é indispensável a manifestação da Comissão no tocante aos direitos
das pessoas com deficiência;
- traz a previsão de que o tema da pessoa com deficiência será objeto dos concursos
públicos para o ingresso de todas as carreiras;
- garante vaga de estacionamento exclusiva para cada servidor com mobilidade
comprometida, caso o Tribunal disponha de estacionamento interno;
- a resolução prevê como forma de inclusão da pessoa com deficiência no trabalho a
colocação competitiva (=trabalhar junto com pessoas sem deficiência);
- prioriza o home office para os servidores com deficiência e para aqueles que possuam
dependentes na mesma situação, não se tratando de uma obrigação ( o servidor deve
optar por essa forma de trabalho).

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