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‘Ana Maria Ramos Estevao O QUEE SERVICO SOCIAL editora brasiliense Nn ee Ana Maria Ramos Estevio Ngo 6 suficiente para descrever a profissio. De fato nio é facil descrever o que é 0 Servico Social, para que serve o trabalho da assistente social e como ele se realize, Fazemos Assisténcia Social ou Servigo Social? Ja se disse que o Ser dizem que a assistente outros mais sérios disse- ram que somos “os artifices das relagBes sociais” ou “os modernos agentes da caridade". Para os de ““esquerda’” somos os que poem panos quentes nas feridas do capitalismo. Enfim, tanto leigos como profissionais j6 deram mil ¢ um palpites ¢ até agora no se conseguiu definir o que é Servigo Social. Para se resolver 0 caso, até se tentou mudar 0 nome da profissao. Talvez perguntar 0 que & Servico Social nao seja a questéo certa. ‘Acho que o melhor seria dizer © que fazem © pensam os assistentes pouco de sua histéria, mos Social tem pai e mée e, inclusive, até jé se deitou no diva do analista. © Servigo Social & fruto da Unio da cidade O que & Servigo Social com a inddstria, Seu nascimento teve como cendrio as inquie- tudes soci como qualquer bom {a cidade} e se identificar com o pai Na adolescéncia, negou varias vezes suas origens @ hoje pode-se dizer que tem feigdes préprias, com contornos definidos na luta pela sobrevivéncia 2, identificado com seus pais, chegou para ficar. E claro que, em sua fase de maturagio, mantém todes as ambigiiidades inerentes a uma profisso que, buscando comprometer-se com a populacéo 8 qual presta servicos, & também canal de ligagéo entre cidados, empregados e patrdes. Dai, a consciéncia infeliz de muitos assistentes sociais que acreditam na profisso, mas néo saber o que fazer com ela. Se me disponho a escrever sobre 0 que é Servigo Social néo & so porque pode interessar @ muita gente, mas principalmente porque, apesar de tudo, acredito na profissio. DAS DAMAS DE CARIDADE A MARY RICHMOND E A INFANCIA DO SERVICO SOCIAL Desde que existem pobres, ha gente que se preocupa com eles. Mas a partir do surgi- mento da sociedade capitalists, quando 0 jucro deixou de ser pecado ou imoralidade, que a preocupacéo com as “classes despossuldas”” ¢ ‘05 problemas sociais e politicos que esta popu: aco poderia criar, tornou-se uma necessidade de defesa da burguesia recém-chagada 20 poder. Estado @ Igreja vao dividir tarefas: 0 primeiro impde a paz politica (e com toda a violet necesséria), a tgreja, ou melhor, as lorejas (Catélica @ Protestante) fica com o aspecto O que é Servigo Social social: trata-se de fazer caridade. stificativa é a necessidade de todos praticarem 0 bem, portanto os ricos precisavam cumprir seus deveres com os pobres. Era uma preocupaggo com 0 individuo. O modo’ pelo jensava resolver os problemas sociais era pela “reforma dos costumes” ou “reforma social” de cada um. Toda a assisténcia social nesta época é feita de forma no sistemdtica, sem qualquer teori- zaglio a respeito além de vagas justificativas religiosas ¢ ideologicas. E a partir da segunda metade do século dezenove que algumas pessoas, como Chalmers na Inglaterra, Ozanam na Franga e Von der jemanha, praticam uma caridade de cardter assistencial que se const ‘esboco de técnica ¢ de forma organizads. Mas © que faziam estas pessoas que era diferente da prética caritativa anterior? Elas dividiram as paréquias em grupos de vizinhanga, designaram um responsével em cada setor para ajuda material e fazer trabalho educative (principalmente dando conselhos). 2 ‘Ana Maria Ramos Estevdo ‘As conferdncias S8o Vicente de Paulo, em 1833, por exemplo, organizam seu trabalho em torno de visitas @ ajudas a domicfiio, creches, escolas de reeducago de delinqientes, cuidados fe socorros a refugtados e imigrantes. O que era feito apenas nas paréquias passa a ser feito por ‘organizada em pequenos bairros, a assisténcia comegou a se expandir € procurou conquistar um espago na cidad ‘Até af a Assisténcia Social é exercida, em caréter nfo profissional, como contribuicdo Voluntéria daqueles que possufam bens para aqueles que eram pobres. ‘Bem, 0 que fazia entdo uma dams de caridade ou tassistente social” na segunda metade do século XIX? Procurava em primeiro lugar conhecer as verdadeiras necessidades de cada um. Usar feconomicamente 2s esmolas disponivels, visitar fas casas dos pobres e necessitados, estudar nciosemente os pedidos de ajuda e conse- para con guir trabalho para os “desocupado: prevenir os problemas derivados da pobreza. ‘Um marco importente para a organizagdo da 0 que é Servigo Social ‘Assisténcia Social é 2 fundago em 1869 da Sociedade de Organizago da Caridade em Londres, que se baseia em alguns pontos que fundamentaram a prética de toda a assisténcia social a partir de entéo. Seus princfpios de trabalho so: 4. Cada caso seré objeto de uma pesquisa escrita; 2, Este relatorio sera entregue a uma comissdo que decidiré o que se deve faz 3, Nao se dard ajuda temporaria, mas meto- dica @ prolongada até que o individuo ou 2 familia voltem as suas condigdes normais; 4.0. assistido seré agente de sua propria readaptagdo, como também seus parentes, amigos e vizinhos; 5, Seré solicitada ajuda as instituigdes adequa- das em favor do assistido; 6. Os agentes desses obras receberdio instrugbes gerais © escritas e se formardo por meio de loituras @ estadias praticas; 7. As instituigdes de caridade enviarso a de seus assistidos para formar um fichario central, com o objetivo de evitar abusos B a Ana Maria Ramos Estevio O que é Servigo Social 1s repetic&es de pesquisas; 8. Formar um repertdrio de obras de bene- ficencia que permita organizé-las convenien- temente. Sociedades como esta se formaram em todos os paises capitalistas mais desenvolvidos, princi- palmente nos Estados Unidos. A novidade principal destas instituigdes era colocar, como principio, a necessidade de criar instituigdes que se encarregassem de formar pessoas especificamente para realizar as tarefas de assisténcia social ¢ colocar em pauta a insti- tucionalizagao do Servigo Social. © que se fazia por prazer ou por obrigaco 6a passa a se esbogar como uma profissio secularizada, Mas, é bom lembrar que para esse movimento | ionalizago outros fatores importantes | contribu tram. Temos de penser, entiio, como e por que ‘ou para que surge uma profissdo. Em primeiro lugar é quando ela se torna socialmente necessdria e as i iano. Antes de serem bastavam alguns conselhos bem dirigidos Ana Maria Ramos Estevdo | 0 que é Servigo Social 7 las, as profiss6es se legitimam pela sua eficécia social e/ou polltica. & claro que as questées human{sticas contam como deciaragio de boas intengées, principalmente para aqueles que sero os pioneiros da profisso. O Servico Social também comegou assim. Em 1899, na cidade de Amsterdé, funda-se ‘a primeira escola de Servigo Social do mundo & inicie-se também o processo de secularizagdo da protissio, isto é, para o Servigo Social, 2s expli- cacées religiosas do mundo séo substituidas por explicagdes cientificas. O nascimento da Socio- vai dar o suporte teérico para o Servigo Social ‘A nova profissiio segui caminhos diferentes fem cada pats. Para nés interessa lembrar como isto aconteceu nos Estados Unidos porque, ‘como bons colonizados, copiamos os métodos e téonicas de 14, durante muito tempo. ‘As damas de caridade que pretendiam ganhar ‘0 céu minorando as agruras alhelas acreditavam seriamente que os pobres eram a causa de sua propria situagSo e bastavam uma ajuda inicial fe alguns conselhos bem dirigidos para que se thes abrissem as portes das benesses que o capitalismo oferecia a todos indistintamente. Como © pobre sempre tem muitos filhos, néo bastava apenas ajudar a pessoa, era necessirio também pensar na familia, daf surge o trabalho com 2s familias, com menores, na drea de higione, etc. ‘Até entdo, por razées semethantes, 0 poder piblico no estava interessado em assumir os custos da assisténcia social deixando-a nas mdos ices particulares, especialmente as ss econdmicas, com a pobreza e a miséria se rando, canseqiéncias do répido crescimento |. A Sociologia tentou dar conta de tudo isto e oferecer uma explicacdio jiosa ao que acontecia na sociedade e, a0 mesmo tempo, havia na sociedade americana virlas experiéncias de filantropia e caridade, tendendo a procurer um espago dentro das novas profissGes emergentes. Foi juntando tudo isso e mais a preocupacdo {um roformar essa sociedade que Mary Richmond, uma assistente social norte-americana, no ‘Ana Maria Ramos Estevio 0 que é Servigo Social infcio do século XX, teve a sensibilidade de comegar a pensar e escrever a respeito do que & Servico Social e do como ele deveria ser exercido. ‘Aproveitando os relatos de experiéncias de junas e a sua vasta experiéncia de igdo, ela é sobre a diferenga entre fazer ou caridade, ou filantropia, ¢ 0 Servico Social propriamente dito. E através de seu livro Caso Social Individual que surgem as primeiras luzes sobre uma pratica profissional ndo ainda institucionalizada, ¢ ¢ ola quem vai dar as medides da pratica profissional competente. Para Mary Richmond, dar ajuda material para as pessoas pobres nao era Servico Soc! apenas um asso do oficio, mas no o proprio oficio, De fato, para ela, fazer Servico Social impli cava trabalhar a personalidade das pessoas & © seu meio £ claro que 0 “meio social” ‘eram a famflia, a escola, os amigos, 0 emprego, ete. ‘© que faria entio um assistente social no inicio deste século se ele fosse sério, rigoroso ‘e competente? Em primeiro lugar determinar qual a historia ia preocuparse em jual da forma: iente. Se ele no havia conseguido desenvolver suas. potenc dades, enquanto pessoa ¢ cidado, era porque a situago vivida por ele, em seu meio social, nfo fo um correto € completo desen- volvimento de sua personalidad. Esta primeira assistente social acreditava que ‘a personalidade das pessoas pode, por motivos alheios & sua vontade, depandendo do meio social em que viva, se atrofiar, ndo realizando assim tudo de que a8 pessoas podem ser capazes quando Ihes so dadas as condicdes necessérias. Iria também estudar e investigar seriamente © meio social daquela pessoa, através de entre vistas, conversas .informai 8 amigos, professores, patrdes, etc. Observando fe anotando, fazendo relatérios minuciosos, obteria um diagnéstico e tentaria descobr quais as possibilidades daquela pessoa vir desenvolver a sua personalidade e como conseguir a ajuda do meio social para sua causa. < Ana Maria Ramos Estexto Era preciso descobrir quais as possiveis motivagSes do seu cliente que poderiam incen- tivé-lo a querer mudar, a se desenvolver enquanto gente, descobrir quais aspectos de sua persona- lidade deveriam ser reforcados e quais deveriam ser negados. Este procedimento Mary Richmond chamou de “compreensdes”: compreensio do meio social compreenséo da personalidad. Isto feito, era necessério ent&o escolher qual caminho dever-se-ia seguir para que esti lidade se desenvolvesse e para que o meio social contribufsse para isso. Caso 0 meio sot pudesse mudar, o cliente mudaria de meio. A isto Mary Richmond chamou “as acdes’’ agées diretas sobre a person: de do cliente e indiretas sobre o meio. através de longas conversas, afora e de visitas, ganharia caminhada em busca de seu desenvolvimento idual: propondo-the alternativas, mostran- 0 que é Servigo Social ‘As ages indiretas sobre o meio seriam para fazer com que este contribuisse para o trata mento, nfo $6 através de apoio, mas de efetiva is entre o cliente © assistente social faria reunides, entrevistas e debates, daria sugestdes, faria criticas para que as pessoas © instituigées em volta do cliente estivessem também afinadas no trabalho de desenvolver esta personalidade atrofiada. Evidentemente, o cliente chegava diante do assistente social para solicitar algum tipo de ajuda concreta: dinheiro, roupas, case, comida, etc. A instituigsio dava ao profissional os meios para atender esta solicitago, mas 0 trabalho no parava af, Esta proposta profissional chamase Servic Social de Casos Individuais. € exigia muito tempo e muita paciéncia, extensos relatorios e coleta minuciosa de dados. © grande mérito de Mary Richmond foi dar um estatuto de seriedade & profisso, mostrar que era possivel fazer mais do que caridade, ser Figoroso em termos de procedimento, descobrir técnicas que 0 exercicio 2 2 Ana Maria Ramos Estevio 0 que 6 Servigo Social Profissional. Os textos até entéo escritos sobre o assunto eram apenas um pouco mais que arrazoados de 1. Mary Richmond secularizou a profissio e, a0 mesmo tempo, teve a lucidez de perceber que era necessdrio dar bases técnicas a pritica sistemética que se exercia, oferecendo formas de ‘trabalhar nas quais todas as assistentes sociais se reconhecessem, Foi baseando-se nos textos dela que todo mundo escreveu, criticou, mudou. bom lembrar que 0 livro Caso Social Indi- icado em 1917, apés o susto da varias de voluntariado para se consti profisso dentro da divisto sox sociedade industrial capi Mary Richmond foi a pioneira do Servigo Social nestas bandas. Tratar damente ou fazer Servico Social de Casos tornou-se lugar-comum. E até hoje faz parte de bagagem técnica de qualquer assistente social aprender a resolver “casos”. Algumas décadas depois, aparece um segundo tipo de método de atuagzio em Servico Social: 0 Servic Social de Grupo. 0 aprofundamento da crise capitalista tornou evidente que resolver “casos” de maneira isolada, um por um, jé ndo era suficiente para atender as grandes demandas. Ao mesmo tempo, a manipulacdo de massas realizada por fascistas e nazistas, no bojo desta crise, despertou a atengo da psicologia social para o desenvolvi- mento de teorias e experimentagSo sobre o comportamento dos grupos. Kurt Levin, um psicSlogo alemao, judeu, certa dinamica que, sendo trabalhada, poderia oferecer resultados praticos no tratamento 0. A coisa funcionou e esta pr em varias éreas de atividade: acampamento de jovens, Centros Comunitérios, recuperacdo de delingiientes juvenis, etc. Os assistentes sociais comegaram entéo a Ana Maria Ramos Bstevio O que 6 Servigo Social 28 i trabalhar também com grupos e, em 1934, se que tem por fi objetivos deste método de trabalho. Pouco a Pouco, a prética profissional exercida dentro dos grupos € aceita como um dos métodos e forma bésica através da qual o Servico Social atua. 0 assistente social podia, em determinadas Wuiges, montar os grupos por tipo de problema comum apresentado: grupo de jovens que querem fazer recreacio, senhoras que querem ajudar os favelados de uma regido, ou entdo ser solicitada por algum grupo local para dar a orientacdo técnica necesséria ao bom funcionamento destes grupos. O problema @ ser tratado pelo assistente social tanto podia ser do grupo como exterior a ele. Foi em 1935 que Gisella Konopka, uma assistente social americana, escreveu um dos cléssicos do Servico Social de Grupo, onde fala muito da necessidade de se encontrar formas de vencer a soliddo dos grandes centros urbanos e criar lagos de amizade e ajuda mitua entre as pessoas. Nesta época, as pessoas também. sentiam na pele que # competicao na sociedade capitalista n&o era brinquedo. O grande endo planejado crescimento urbano era um monstro, bicho-papdo pronto a engolir © Servigo Social, pensava-se, tinha jes © 0 espace social necessério para lutar contra ele profissionalmente. O desenvolvimento do Servico Social de Grupo levou a um terceiro método de atuagio profissional: 0 Servico Social de Comunidade. A concepeio de trabalhos com grupos se desenvolveu para a ago intergrupos, isto é: hé certo tipo de problematica social que neces- sita atuao de varios grupos, que, por terem objetivos comuns, devem se interligar, E a partir dessa necessidade que comeca a se gester @ nogaio de Servigo Social de Comunidade. De inicio trata-se de um trabalho de organi zago de comunidade entendido como “a arte © proceso de desenvolver os recursos potenciais € 05 talentos de grupos de individuos e dos indi- viduos que compem esses grupos”. Depois, 0 Servigo Social de Comunidade vai ser eoncebido como “um proceso de adaptagio e ajuste de tipo interativo e associative e mais uma técnica Ana Maria Ramos Estevio4 0 que € Servigo Social 27 para conseguir o equi rio entre recursos & Esta idéia de organizer a comunidade passa @ ser melhor preciseda quando se descobriu que juntamente com os esforcos dos grupos e das populacdes locais agrega-se 0 esforco dos governos para promover a melhoria das condi is @ culturais das comu- Mas as coisas nio seriam assim to plécidas: nto pés-guerra, com 0 socialismo grassando na Europa Oriental e na China, o mundo jé tendo sido repartido por blocos de interesses opostos, era necessério oferecer aos paises do “Terceiro Mundo”, na érea de influéncia dos Estados uma alternativa para a proposta ta. nizar a “comunidade”, mas era necessério, principalmente, promover o seu desenvolvimento @ partir dos seus préprios recursos humanos (evidentemente com uma pequena ajuda do exterior © trabalho social com comunidade outro espaco que vai ser conquistado pela profisso € desenvolvimento de comunidade passa a ser um método de trabatho privativo do Servigo que produziu efeitos téo bons para os que até a ONU (Organizagéio das Nages Unidas} formula propostas de desenvolvimento de comunidade para os paises ditos subdesenvol. vidos: é 2 formula mégica que iré salvar esses paises do comunismo, isto é, da barbérie. ee 0 que é Servigo Social 2 O FEIJAO E O SONHO: © SERVICO SOCIAL DESCOBRE A LUTA DE CLASSES Quem, nos idos de 1960, tinha a idede em torno dos doze anos, morava na peri grandes cidades © era pobre o su Procurar as instituigdes assistenciais, lembrar dos saquinhos farinha de trigo que se tribufa para a popu- lagdo nesta época, Todos eles © carimbo em portugués 9 Progresso — Alimentos para a Paz. Junto com estes alimentos, América Latina © no Brasil, o Desenvolvimen. tismo e 0 Servico Social de Comunidade. A principio, orientado por vagas nogées de doenga social, anormalidade, necessidade de equilibrar os pontos de estrangulamento soci @ de desequilibrio, evotui depois para as idéias de subdesenvolvimento e atraso econdmico, As comunidades eram atrasadas culturalmente, economicamente subdesenvolvidas e socialmente doentes. E neste periodo que tomam pé as idéias “desenvolvime 0s paises da América Latine do atraso, trazé-los para @ modernidade capitalista, fazer um esforco Conjunto povo-governa para promover © pro- gresso de cinglienta anos em cinco, A postura desenvolvimentista examina a Posigo dos paises do assim chamado Terceiro Mundo em termos de transiggo de uma socie- dade tradicional para uma sociedade moderna, O desenvolvimento econémico & um processo com varias etapas, que tém como ©s paises a0 mesmo modelo econdmico dos palses desenvolvides. Para nés, “tupiniquins”, © modelo eram os Estados Unidos. ‘A emergéncia da problemética do desenvolvi- mento, pensado desta forma, influenciou os pro- | 30 jetos profissionais do Servico Social, entendido como uma técnica que deve contribuir, e tem todas as condicées para isso, no processo geral do desenvolvimento econdmico e social do pais. Assim, na década de 60, 0 Servico S expande 20 assumir as propostas desenv mentistas, também em plena expansfo nos pa(ses latino-americanos; propostas estas levadas 2 efeito no Brasil pelos governos Juscelino € Jinio Quadros. cido que, uma vez acordado, traria a Prosperi- dade, a paz, elevando-se 0 nivel de vida do povo € 0 produto interno bruto. Pera despertar o gigante, é necessério industria. ar 0 paisa toque de caixa, Se para isso é necessA. rio capital estrangeiro, no tem importancia, A meta prioritaria do governo passa a ser o homem, nao somente o crescimento econdmico em si mesmo; assim se Passava pelo menos ao nivel do discurso janista € assistente social Sempre gostou de boas intengées, 0 que é Servigo Sociat Neste momento, os “assistentes sociais se Propdem a aceitar o desafio de sua participacdo Ro novo projeto desenvolvimentista, exigem Posigdes e funcSes, e avaliam as formas para preparar-se para desempenhé-las a content” “Propdem-se, através do método de Desen- volvimento de Comunidade a contribuir para 0 Processo de mudanga exigido pelo desenvol vimento"’, enfim, os grandes problemas estru- turais terdo solugdes técnicas. Apenas retomando: o Servigo Social comeca sua existéncia tratando os problemas sociais de forma individual através do atendimento de c2s0s, incorporando depois os métodos de grupo @ de comunidade. No comego da década de 60, os assistentes sociais assumem o desenval- Vimentismo, @ sua atuagdo, 20 tornar-se mais ica, fundamentase na busca de neutra- lade, frieza e distanciamento em relagdo aos problemas tratados ¢ no aprimoramento dos métodos. O assistente social para trabathar dentro desta Perspectiva tinha de ser quimicamente puro, inodoro, incolor e insipido, segundo caracte. rizago feita por Ander-E9g, I EEEEEEIS'S'SSS Se 3 32 Ana Maria Ramos Euteyso | que € Servigo Social de viés, colaborou para que o ino-americano assim se caracte- rizasse foi @ revolugdo socialists cubana de 1959. O éxito da experiéncia cubane mostrou-se um Perigo para os regimes De repente, os Estados ir apresentar propostas alternativas inente onde a maioria da populaggo 'fabetos, famintos, culturalmente @ economicamente subdesenvol- vidos. Precisavam fa26-lo pois o inimigo havia se implantado em seu proprio quintal. Cuba era um exemplo de que 0 status quo norte-ameri- ano passava por um grande risco. Cuba se transforma em um problema politico € a resposta a este problema também deveria ser politica, dav a ALIANCA PARA O PRO. GRESSO, que, além de oferecer ajuda material Concreta as populagdes, trouxe as idéias desen- volvimentistas, Cabe nao esquecer que com o florescimento da industria em nossos paises o Servigo Social de empresa acha um campo fértil para o seu desen- volvimento, Mas o desenvolvimento da profiss#o em empresas acontece paralelamente 20 seu er ‘Puro, inodoro, incolor einsipido, Oassistente social tina que ser quimicamente | | & Ana Maria Ramos Estedo 0 que é Servico Social 35 desempenho na érea publica institucional, e até hoje um campo de atuaggo que mantém uma certa autonomia em relagdo aos outros, © muitos assistentes sociais até o consideram o Patinho feio do Servigo So No momento em que parece que foram dadas todas as condic&es para a elaboracéo de uma concepcao desenvolvimentista do Servico Social, Que 05 assistentes sociais se instalaram dentro do novo espaco profissional que se abria, a dinamica do processo social levou a situagies que parecem negar esta possibilidade e colocou © Servigo Social tanto na América hispanica, quanto no Bra |. Alguns internos 2 profissio, outros alheios a ela Apés algum tempo de prética dentro da Perspectiva desenvolvimentista e cormunitéria duas quest6es se colocaram para as assistentes 30% 1. Era impossivel trabalhar dentro das reali dades locais, tentando responder aos desafios proprios desta realidade, com métodose técnicas, modernos sim, mas elaborados em outra reali dade. Isto 6, os métodos de desenvolvimento de comunidade elaborados nos palses desenvol- fos no davam certo em paises subdesen- volvidos. 2. Era impossivel ser profissionais neutros, aplicando métodos e técnicas de forma fria e descomprometida, numa realidade com proble- mas sociais tZo graves e to humanos. Se a Alianea para 0 Progresso era uma resposta politica frente a problemas politicos, se o trabe- tho em comunidade colocava claramente as uest&es do “atraso cultural”, do subdesenvolvi- mento, da participago de toda a populagdo no Progresso social, por que isto no acontecia? Entram na ordem do dia, dentro do Servico Social latino-americano, as questées politicas, Porque, por mais bem-intencionados que os assistentes sociais fossem, era evidente que o que se fazia no era suticiente para responder ‘as verdadeiras questées Pouco a pouco, a principio timidamente ¢ depois com tode © furor revolucionério que EE EEE EEE EEE 36 Ana Maria Ramos Estevio 0 que é Servigo Social 37 grassava na segunda metade da década de 60, Surge entre os assistentes sociais o que se deno- minou a Gerago 65, isto ¢, © Servico Social descobre a luta de classes. Como diz o Paulinho da Viola, as coisas estdo no mundo, o que eu preciso é aprender. A Geracdo 65 no comegou sua autocritica feroz questionando o desenvolvimento, mas idade exigida dos técnicos e a importacdo de métodos. Come- favase entdo a lutar por um Servico Social com feigdes préprias, isto &, com métodos ¢ técnicas mais de acordo com nossas realidades, Passamos a pensar, teorizar, ensinat © ensaiar um Servigo Social tipicamente latino-americano, Em 1965, também, o mundo estava entrando em fase de ebuli¢éo, e a Geracio 65 sofreu o duro transe de ver questionada toda sua concepefio de mundo, de sociedade, vendo ruir Pouca a pouco os alicerces de tudo em que acreditava, inclusive os da profissio. Os economistas deixaram de falar em subde- senvolvimento e passaram a falar em dependéncia, Capitalismo monopolista, imperialismo. Os socidlogos deixaram de acreditar na harmonia eno equilibrio social e passaram a falar em contradi¢&es, luta de classes, conflitos inconciliéveis de interesses. Os assistentes sociais deixaram de falar em Pobre, carente, patol de comunidade e passaram a falar em mudancas de estrutura, trabalhadores, compromisso com @ populagio € revolugao. © questionamento quanto & situecdo p dos paises latino-americanos torna-se mais agressivo: 0s trabalhadores, os satos, as universidades, os profissionais liberais, os traba- thadores rurais, enfim, a sociedade em seu conjunto comeca a falar em socialismo, em Passagem do poder de uma classe para a outra, passa a questionar o status quo. No bojo destas interrogacdes, tendo em vista @ proposta emergente de uma nova sociedade, moldada em relagdes néo capitalistas de trabalho e de vida, o Servico Social entra em pinico. “E se vier © socialismo, nds que sempre trabalhamos de bragos dados com o sistema, faremos 0 qué?” Mas ento, no Brasil, vem 0 “milagre” (e 0 arrocho, e a repressiio, e © Ato Instit Ana Maria Ramos Estevi 0 que é Servigo Social 39 n© 8): as coisas tomam um rumo muito dife. Fente do tomado nos demais pa(ses da América do Sul. Nestes, a resposta a estas questées deu no que se convencionou chemar de Movimento de Reconceituacéo do Servico Social. Isto é, todos os conceitos, crengas, bases tebricas j ‘no mais valiam, era necessério procurar outros Era_necessario também outros espacos profissionais, Tudo que os assistentes sociais faziam até este. momento estava maculado pelos interesses burgueses. Trabalhar em instituigées piblicas significava fazer a jogo do sistema, trabathar em industria era defender os interesses do patrdo Perante 0s operdrios, distribuir ajuda material era ser paternalista e assistencialista, Enfim, fazer Servigo Social era reproduzir @ ideologia burguesa, capitalista e exploradora. Logo, fazia-se necessério, inci mudar o ome da profissio, O Servico Social passou a se chamar Trabalho Social e a concepeao desen- volvimentista e técnica anterior deu lugar a uma concepedo “conscientizadora-revolucionéria’ © método de trabalho pautava'se obrigato- riamente pelo historico e dialético”, as anélises informadoras da prética, 8 textos produzidos nos paises iatino-america os traziam sempre a reafirmago de doutrinas “marxistas"” Para se chegar a0 Servico Social era preciso, antes de tudo, falar de luta de classes, de contra. digdo, de tese, antitese e sintese, de formas de ver e ler a realidade, de ideologia; ei certa terminologia marxista_incorporot Servi¢o Social. E lugar-comum, hoje em dia, falarse em “método dialético” para 0 Servico Social Obviamente, 0 grau de critica e autocritica mesclado com as novas proposi¢des variou de als para pafs. Nos paises onde o processo social estava_mais borbulhante, o movimento de Feconceituagdo foi mais feroz, nos pa(ses onde este processo era mais lento, a dinémica da reconceituacio também foi mais lenta. Levando isso em consideragio, dé para imaginar como foi este movimento no Brasil ‘onde 0 processo politico era o inverso do que acontecia na Argentina, Chile, Uruguai, Peru, ete. Nesses Ultimos tinha-se governos demo. 40 Ana Maria Ramos Estevdo 0 que 6 Servigo Social 41 craticos, com todos os substantivos que pode ter_uma democracia burguesa _(liberdades is, partidérias, de expressio, etc.], no tinhamos uma ditadura militar. © Movimento de Reconceituaggo brasileiro foi mais uma adequagio aos ures anos do milagre € a modernizago do Servico Social para as exigéncias do momento, onde é o Estado quem dirige © processo de modernizagio da sociedade brasileira, Assim sendo a reconceituagéo no Brasil se dé assimilando as exigéncias conjunturais da sociedade brasileira, concentrando-se na tarefa de adequar 0 Servico Social as necessidades do Estado © da grande empresa monopolista. A justificativa para sua existéncia € tornarse mais eficionte, mais racional e mais técnica. S6 para constar, hé, no inicio dos anos 70 no uma tentetiva de retomada da Reconcei- tuacdo em moldes revoluciondrios e a proposicgo de um método dialético com um atraso histérico de pelo menos 5 anos. Como era muito dificil pensar © cotidiano Profissional © o compromisso com a populacso passando pelo materi assistentes sociais passaram a confundir a pratica profissional com a mi ‘a. Para quem trabalhava na favela, 0 compromisso significava ir morar na favela, para quem trabathava na industria, comprometer-se era ir trabalhar na inha de montagem. Como qualquer trabalho institucional era execrado como reaciondrio ealiviador de tensbes, igBes piiblicas o assistente soci era a imagem do controle social e dos interesses do Estado, a maioria dos assistentes sociais, que apesar das suas crencas precisava trabalhar para iver, passou a faz8-lo com uma con: todas as culpas do mundo. E muito facil fazer um balango depois que o ‘tempo assentou sua poeira sobre os aconteci- mentos; reconstruir 0 quadro e retomar o presente & mui mais complicado. O sonho 0 que & Servigo Social a3 Intervalo para mudanga de cenario Brasil — de 20 @ 30: Questo social um caso de policia — caridade e repressio Para methor compreenséo de como foi o surgimento do Servigo Social no Brasil, e para chegarmos ao Brasil pés-60, é preciso uma breve Pausa para estabelecermos o cendrio deste Paraiso tropical na época em que comegam asurgir as, falei que o Serv da cidade e da indistria, sua que © proletariado comeca a brigar também pelo ‘seu lugar na vida pe A “questo s momento, nada mais é do que a necessidade de se levar em consideraggo os interesses da classe Operaria em formagao. A implantagao do Servico Social se dé neste Proceso histérico, a partir da cular de varios grupos da classe dominante, que tém na lgreja Catélica seu porta-voz E claro que nio fazia parte das reivindicagées dos operérios a implantacdo deste tipo de servigo. Por mais estranho que parega, so 08 grupos burgueses que mais v3o contribuir ara que esta profissdo se coloque socialmente. Bom, por que foi assim? As condigdes de trabalho neste pais eram as piores possiveis. A jornada didria era sempre calculada de acordo com as necessidades das empresas. Se a fabrica precisasse que seus operdrios trabalhassem dezesseis hores por dia, trabalhava-se 16 horas por dia. Mulheres, menores de idade (menores de 14 anos inclusive), estavam sujeitos ao mesmo ritmo de trabalho, néo tinham direito a férias nem descanso remune- rado no fim de semana. Se 0 operdrio ficasse doente ngo tinha auxflio doenca. O trabalho do operdrio e de sua familia era somente para comer. Sua vida cultural, educagao (priméria), saude @ todos 0s pequenos prazeres cotidianos que a vida pode oferecer ficavam a cargo da filantropia ou da caridade. O trabathador urbano brasileiro “4 Ana Maria Ramos Estento | O que é Servigo Social 45 © sua familia eram subcidadaos. Comecam a surgir, entéo, movimentos sociais que tinham como objetivo defender o unico Patriménio desta populagdo: sua vida, Formam- se as Sociedades de Resisténcia e os sindicatos que, a principio, lutardo pela defesa do poder vo @, logo depois, pela promulgacéo de uma legislacdo trabalhista que controlasse um Pouco a exploracdo selvagem a que estavam submetidos os trabalhadores. © Estado (governo) respondeu muito timida- mente, fazendo alguns decretos e eis que estavam muito longe de dar o minimo requerido. A Gnica resposta concreta as greves e movimen. 0s foi a repressto policial que, apesar de bater, Prender, etc., no se mostrou eficiente para acabar com 0 problema. Temes como saldo, no fim da década de 20, a Lei de Férias (16 diss) e 0 Cédigo de Menores, que regulamentava @ jornada de trabalho das eriangas. A reacio das empresas com relagio a estas Pequenas vitérias foi a “preocupagio” com 0 Que 0 operério faria nestes dias de folga, quando O openizio nos dias de folga seria vitima este homem comum, que nfo teve a educagio fic dos “vicios"e da “animalidede” eee 46 Ana Maria Ramos Estevio © © refinamento necessérios para cultivar o no estava suficientemente dentro da cabera do homem do povo para que ele pudesse organizar seu curto lazer. Era necessdrio, portanto, que estas medidas sociais fossem complementadas pelo disci mento deste curto tempo livre, propiciando-se também equipamentos de lazer, alguma educago formal, a mentalidade de culto ao lar e sua boa organiza¢ao, quer dizer, tornar o proletariado ajustado & ordem capi i zindo uma certa “racionalidade” comportamento e sua postura frente a sociedade. Dai as empresas comecarem a oferecer uma Precéria assisténcia médica, as caixas de auxili as escolas, 2s vilas operdrias, etc. Para a tarefa de socializar 0 protetariado no capitalismo, contribuem os empresérios e a Igreja Catdlica, através do seu laicato, Sto as Ligas das Senhoras Cat6licas, em Sio seu trabalhadores urbanos brasileiros, dentro de ) que & Servigo Social Brasil — décadas de 40 a 50: Questiio social — um caso de politica Apesar de sua aco extremamente limitada e de seu contetido assistencial e paternalista, foi @ partir do lento desenvolvimento das Ligas das Senhoras Catdlicas e da Associagdo das Senhoras Brasileiras que se criaram as bases materiais, de organiza¢do e principalmente humanas, que a partir da década de 30 per da aco social e o escolas de Servigo Social. Deste embrido de Servigo Social a necessidade de formagio técnica especi foi um pulo, pois 2 ef movimentos frente a “questo social” era incontestavel. Em 1936, foi fundada a Escola de Servigo Social de So Paulo, a primeira do que, como era de se esperar, iga-se a Pontificia Universidade Catélica de So Paulo. 47 Ana Maria Ramos Estevdo Apés este perfodo a questio social torna-se cada vez mais uma questo de politica e menos de policia, apesar de ainda hoje certos governos colocarem coronéis em Secretarias de Promocso Social. As tarefas desenvolvides pelos assistentes sociais durante este perfodo s8o restar assistncia mater Mentos), fazer encaminhamentos, empregos e abrigos provisérios, diferem muito daquelas exercidas pelas pioneiras da profissdio, no comego do século. Apos a criacdo das primeiras escolas de Servico Social, ocorre a institucionalizagio do Servigo Social, quer dizer, pouco a pouco o governo vai criando instituigées que vio assumir @ assisténcia social e legalizando a existéncia da profisséo no Brasil A criagéo do Consetho Nacional de Servigo Social, por decreto-lei, em 1938, 6 um sintoma 0 que & Servigo Social da preocupagio do Estado Novo cam a questo a mesmo que este Conselho no tenha dado resultados praticos. ira institui¢éo publica importante, através de sua acdo a . A LBA, organizagdo de nivel nacional, daré um apoio efetivo as escolas de Servigo Social i8 existentes e vai is onde n&o havia, Com relagéo ao processo de institucionali zaco do Servigo Social, a LBA foi o organismo mais importante porque, dado o seu cardter do Servigo Social, a0 mesmo tempo que auxiliou a methorar a formagao técnica dos profissionais. Quanto as técnicas de trabalho, continuou dentro dos padrées existentes, isto ¢, copiava 05 modelos norte-americanos. 0 que € Servigo Social O SONHO ACABOU E O FEIJAO ESTA CARO, O SERVICO SOCIAL POE OS PES NO CHAO © imicio da década de 70 foi, também para 6s, assistentes sociais, o fim dos sonhos, Com o fim do projeto revolucionério para a América Latina e, por outro lado, com o fim do a 1, © movimento de reconcei- tuscdo no s6 acabou, como foi triturado pelo rolo compressor da reago. Mas hd um problema estrutural dentro da Profissiio que mesmo no periodo de erftica mais feroz permaneceu intocado: a questio dos principios do Servi¢o Social Ouvimos na Faculdade e lemos nos textos de formagao profissional, até a exaustio, oseguinte & necessério respeitar a pessoa humana e sua dignidade, a pessoa humana tem direito a encontrar na sociedade as condigées para sua auto-realizaggo, todo ser humano tem capaci- dade de se aperfeigoar o se desenvolver. Isto em linguagem comum quer dizer: “Eu, assistente social, compreendo — o porque vocé é gente como et Somente agora, quando se observa que a declaragio dos direitos da pessoa humana, elaborada pela ONU, pode ngo passar de palavras as, € que o Servico Social comega a se deitar no div do analista, Afinal no. somos responséveis pelas culpas do mundo, muito menos pelos seus desacertos. A consciéncia infeliz ndo é suficiente para 0S problemas sociais, mas € campo fértil para o aparecimento das patruthas ideolé- gicas na area profissional, outra marca incon- fundivel do perfodo que se iniciou na década de 70, Os assistentes sociais sentiam-se intimidados ‘em apresentar sua prética cotidiana, seu dia-a-dia 92 cinzento, porque se @ cor ‘ermetho © trabalho profs. sional no tinha qualidade, Mas, como as pessoas precisam continuar vivendo e comendo, e para trabalhar (neste sentido o capit ‘mais nestas pequenas imposigdes di nos discursos da vanguarda), o Se Continuou exercendo suas fungdes & hoje tenta ‘adquirir maior jogo de cintura, Inch Assisténcia, fazendo docu Menor (FEBEM) atendemos menores ‘menores, orientamos os ide econdimica de seus Postos de Satide da Prete Satide do Estado continua, Ahamento para outros recursos, distribuindo O que é Servico Social idrias do que Se atendimento de emergéncia, atendendo a popu. lard quando hi enchentes, quadas de barraco, alojando temporariamente as famil escolas, igrejas, ete. € acionando 0 esquema de defesa ci vacinas, ete.), necessérios nestas situagdes, Assessoramos as creches da Secretaria, orienta, mos favelados quanto aos seus dirt © pais de Processos de adacdio de sean’ Of ou abandonadas pela impossi , orientando quanto aos Servigos de satide prestados por estas instituigdes Para que os usudrios de fato usem tudo aquilo 2 que eles tém direito, explicando a importancia da vacinaco para pais que ainda ngo.o sabem, fazendo grupos de grévides e de orientacdn Sexual para adolescentes, participando de campanhas de vacina, Na Secretaria da Fai fazemos_ plan @ do Bem Estar mento, plantées para (bombeir Pronto atendimento, No Instituto Nacional de Pre INPS) fazemos oriemtacao a respeito de direitos Previdenciérios, auxitiamos velhinhos a fazerem £485 aposentadorias, explicamos aos assalariados, futuros papais e mamées, como receber ¢ auxilio nati idade "Nas empresas facilitamos o uso dos convénios, } Ana Maria Ramos Estevio O que é Servigo Social edministramos caixas de empréstimos, organi 2amos festas de funciondrios, ete. Nas paréquias tabalhamos com a distribuiggo de recursos assistenciais (alimentos, enxovais de bebé, Colaboramos na organizagio de clubes de mées, fazendo palestras e até dando aulas de croché, se este for o elemento que vai idades mais comuns no dia-a-dia da maior parte dos assisten. ‘es sociais, dou-me conta de que alguns profis- ais da drea do social consideram algumas Gestas atividades como suas funcdes; s6 que quando @ populagso procura nossos servicos, ela no discute nem separa se 6 trabalho do assistente da educadora sanitéria ou da pedagoga, Ela (a poputaedo) quer ser atendida e isto deve Ser feito da methor maneira poss(vel, Tudo isso e mais algumas pequenas préticas profi fianas constituem 0 di do nosso quefazer. Parece pouco? De fato ainda & muito pouco e fazer apenas isto nfo significa um compromisso efetivo com a populacio, e, Por isso, apés 1975 a profissfo v8 surgirem lguns fatos novos que, apesar de no se consti- tufrem na prdtica da maioria dos assistentes sociais, caminha lentamente para isso. 8 encontramos, hoje, muitos colegas de trabalho que acreditam que se identificar e Participar profissionalmente de movimentos de favelados em busca de methores condigdes de ‘moradia, auxiliar no encaminhamento de lutas or creche e participar de movimentos sociais, colaborando na organizagio e mobilizacgo de grupos sociais que buscam desafogo minimo pera a dureza da vida colocando seu saber profissional a servico destes grupos; enfim, socializando 0 méximo possivel seus conhecimentos técnicos. Alguns assistentes sociais de instituigdes Piiblicas ndo mais esperam que a populaco venha até elas, mas saem de suas salas de tra- balho e vio até a populacio. Sabemos hoje que é necesséria a fiscalizacao dos servicos prestados populagdo © que o Ana Moria Remos Estevio cidadios, diariamente, colocar presente este f2t0, repeti-io mil vezes se isto for neces mostrar @ verdade des mais variades maneiras, Pera que isto se torne verdade e néo apenas discurso. Hoje o trabalho com Caso, Grupo e Comu: Ridade jé ndo é © mesmo de 30 anos atrés 0 Servigo Social busca conquistar novos espacos Profissionais a0 mesmo tempo que, procuranco se identificar enquanto categoria, tenta so ‘organizar. E claro que a realidade mudou, ¢ hoje a diferenca entre o feijéo e 0 sonho acompanha © ritmo galopante da internamente, percebe-se fe recuperacdo das técni £35 profissionais negadas anteriormente como enantes @ reacionérias, e que a prestaggo de servicos assistenciais nfo. sig mente ser assistencialista, Os essistentes sociais estto descobrindo que a O que é Servigo Social identificagio e@ © comprometimento com a Populacdo & qual presta servigos passa necessa. riamente pela sua thador assalariado na sociedade capitatista moderna e que, nela ou em qualquer outra Sociedade, “gente & para brilhar e néo para ‘morrer de fome”’. O que é Servigo Social DO POBRE AO CIDADAO A nogio de pobre e de pobreza, caréncia social, desajuste, doenga social, como jé vimos, Permeou por muito tempo a pratica do Servico Social. No caso do Brasil, isto é muito mais sério do ‘que parece, porque a nossa tradicfo é baseada na concepsdo do favor e portanto do privilégio Quem primeiro trabathou neste pals foram 05 condenados em Portugal que, como casti ‘eram mandados para este fim de mundo pa trabalhar até morrer. Depois se tentou fazer 0 indio trabalhi mas ndo deu certo. Quem de fato trabalhou mesmo no Bra: foram os escravos africanos, e nessa época ou se era senhor de terra ou escravo. A escal social s6 tinha espago definido para o dono de escravos ou para os escravos. Trabalhar mesmo nesta terra era “coisa de preto””. Os que no eram escravos nem senhores da terra eram os “homens livres" (do trabalho Que, segundo consta, incorporavam-se soci mente dentro de afazeres tipo servico publ Pequeno comércio ou, em sua grande maiori viviam de favores dos donos da terra ou di seus representantes. A colocagao destes homens livres no sociedade no se definia pela sua participagao no proceso produtivo. Como eles no trabalhavam, também no tinham direitos, tinhom “pri estes dependiam de boa vontade Ana Maria Ramos Estevio O que é Servigo Social 61 seu padrinho. A idéia de que as pessoas, pelo simples fato de nascerem, tém direitos adauiridos perante que 0 fato de poder trabalhar mais um direito, muito menos, O trabalho no ¢ visto como forma de parti Sipacio ou de contribuicdo a sociedade, é ‘um castigo. Até hoje hd um ditado que di Procurando emprego, no trabalho”. Entdo, © brasileiro & aquele que quando vai 2 qualquer instituiggo publica, oxercer seus direitos, ests sempre pensando e se colocande a posi¢go daquele que vai pedir um favor depende da boa vontade de quem o atende recebendo-o bem ou nfo. Ele nfo se sente como “Eu estou cidaddo usufruindo seus direitos e, para ele, ser pobre no ¢ um problema social mas uma vergonha individual 0 Bra 6 uma sociedade eminentemen € urbano-industrial. Vive mais gente na cidade do que no campo, a industria domina a agricul. tura, As cidades crescem cada dia mais e 0 uso da cidade torna-se, a cada dia que passa, um sacrificio maior, quando poderia e deveria ser também um prazer. © brasileiro por ngo ter aprendido a ser cidadgo, isto é, aquele que vive na cidade e que tem direitos de cidadania adquiridos, sofre Penosamente sua carga diéria de sacrif{cios. ito comprado através da contribuicso obrigatéria, mensalmente descontada de seu salario, 6 um problema, E dentro deste quadro que 0 Servico Soci busca redimensionar sua pratica cotidiana. Durante muito tempo a sociologia, a psico- logia e a filosofia foram as disciplinas nas quais © Servi¢o Social procurou as explicagdes para fundamentar sua prética cotidiana, Por estes caminhos conseguimos entender um pouco o mundo @ a sociedade em geral, mas ainda estamos buscando explicar, por exemplo, como é que o brasileiro de hoje usa a cidade, como ele encara a prestacdo de servigos pitblicos @ quais s80 seus direitos de cidadania, inclusive das assistentes sociais, cuja profissio 6 essencialmente urbana. O que é Servigo Social 6 Fazer a ponte entre o cotidiano e a Hist: & uma questo nova, tanto nas Ciéncias Sociais, como no Servigo Social © assistente social também é cidadgo e, como todos eles, também paga impostos até pelo ar que respira, assim como toda a popu- que isso recupera, um pouco, a ntela. Nao estamos mais diente do pobre que vem pedir favores, mas diante do trabslhador (empregado ou desempregado) que paga impostos que deveriam ser revertidos em servigos sociais e em direitos de cidadania. Como a maioria dos assistentes sociais trabalha ies piblicas, mantidas portanto pelo jinheiro piblico, e recebem seus salérios dos impostos que s80 pagos pelo conjunto da socie dade, seu patro é 0 contribuinte e no o Estado. A este patréo devemos muito, principalmente competéncia. Trabalhamos, portanto, na dis direitos de cidadania, como fi exercicio destes direitos que 0 Estado tem feito questo de complicar e de mostrar como favores. A crescente burocratizaco dos servigos piblicos, o nimero incrivel de papéis e carimbos necessérios para que o trabalhador se u de um pequeno servigo (consultar um especia- lista do INAMPS, por exemplo, que nio é para todo mundo, s6 para os assalariados com registro em carteira), mostram muito bem que nem sempre 0 interesse das instituiges pUblicas € prestar um bom servigo. No trabathamos para resolver os problemas do mundo, ou porque temos d6 dos pobres, ou por vocacdo para o sofrimento. Aqui acaba a ‘nossa consciéncia culpada. 0 Servico Social 6 uma prétice profissional, de nivel universitério, inserida na divisio social do trabalho como qualquer outra profissfo, © divide, com os trabalhadores urbanos, as incer tezas e esperancas de quem é brasileiro e, apesar disso, tem fé na vida, 0 que é Servica Social CONCLUSAO: NOVOS HORIZONTES... Novos horizontes esto surgindo para o Servigo Social, Muita gente esté escrevendo como se dividem © se organizam os vi saberes e poderes dentro delas e como este Poder se espraia pelo resto da sociedade. Fala-se também muito em préticas alternativas ou alternativas as priticas tradicionais. De qualquer forma, temos alguns momentos que foram marcantes nesta fase de mudancas por que passamos. Cabe frisar dois destes mo- mentos em termos de organizagio da categoria profissional. O primeiro deu-se em 1978, quando a Associa Paulo (APASP), que jé existia hé muitos anos, mas estava em banho morno desde 1968, se earticulou, Nestes dez anos (68/78), muitas tivas, pois era impossivel, neste perfodo, qualquer luta organizativa. mais forte, dada a negra a época. © 29 momento foi em 1979, durante 2 reatizaco do II! Congresso Brat Social, quando demos a grande virada de mesa Um Congresso que @ principio tinha muito de bajulagdo dos nossos empregadores, acabou sendo, gracas as presses da base, um momento de reafirmacdo dos interesses da categoria. insergo dos assistentes sociais na vida politica do pafs, hoje, torna-se evidente quando observaros os moradores da periferia defen: dendo-os no recente caso criado pelo ex-secretério da Familia e do Bern-Estar Social (0 coronel); e Ana Maria Remos Estevao O que 6 Servico Social quando um assistente Profissional para exercer mandato na Camara de Vereadores de Sao Pa indicam mudangas. Hoje nos defrontamos com muitas poss dades € por isso estamos diante de muitas duividas. A sociedade como um uestdo da _democratiza servicos pil muitas tutas, Nao 86 a to assistente social ser funcionério deste Estado the coloca muitas ambig D4 para jdidades, laginar 0 que seria um assistente Social sai da entidade lo. S80 vitorias que todo tem colocado a c30 do Estado e dos ic0s, Como ponto central de suas Esta_democratizagio. pressupde igéncia de novos e melhores recursos social trabathando, digamos, numa FEBEM democratica? Ou exercendo fungées repre sentativas? Acho que cabe como resposta: nés nunca fizemos isto, teremos de aprender fazendo e i-nios preparando pata faz6-1o bem feito, Pensar 0 papel do Servigo Social no aparelho de Estado, a relago do Servico Social com o Estado, & a grande questo. Mesmo que a solugso para a crise econémica que sofremos no soja © a necessidade de responder aesta questo Ro se coloque de imediato, & certo que o Estado esté mudando, e esperamos que se afirme a tendéncia de mudar para melhor. Precisamos nos preparar para isto. Seré que 0 Servico Social esté preparado para atender @ populagdo nos menores prazos, com baixos custos ¢ garantindo os melhores resulta- dos? 0 que é Servigo Social cc INDICACOES PARA LEITURA # do Raul de Carvalho, co-editado Ecitora Cortez, S40 Paulo, 1982, & sem divida um der @sereveu sobre o assunto. como © Movimento de Recon- ctituagso do Servigo Social, 0 texto do José Paulo Netto, ‘ue £8 encontra na coletines Desatio 20 Servizo Social, ide Editora Humanitas, Busnos Aires, & de tdci! leitura, mas € bom lembrar que esté escrito em espanhol o ‘puma edi¢o muito difleit de encontrar. Hé outros também muito interessantes, como o texto do Vicente de Paula Fateiros, Metodologia do Service Social, que & uma discussdo a respeito da forma come 0 Servigo Social trabalha, Para quem desejar um panorama do que é 0 Servico Social hoje, no Brasil, a revista Servico Sociol e Socie- questdes da profissio, Editora Cortez, Sd0 Paulo, Muitas das o desenvolvidas nos ‘rarem algumat textos a que me referi, no & mera coincidéncis, & citarso mesmo,

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