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Curso de Letras Lingual LEITOR-AUTOR Organizagao: Marinés Ulbriki Costa Maria Thereza Veloso “Frederico Westphalen -RS URI ISSN 1415-8817 UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAIE DAS MISSOES Campus de Frederico Westphalen Departamento de Linguistica, Letras e Artes iteratura A \ TEORIA DEANALISE DO DISCURSO EA POSIGAO DO & Literatura] Frederico Westphalen | v. 12 | n. 19 p. b= 122 Dez. 2010, REVISTA LINGUA & LITERATURA Edig&o - 2010/11 © Copyright 1998- URI Qualquer parte desta publicagio pode ser reproduzida desde que citada a fonte. Versio online Integral (ISSN 1984-381 X) disponivel em: R349.“ Revista Lingua e Literatura / Universidade Regional Integrada do Alto Unuguai e das Misses, Departamento de Linguistica, Letras e Artes; Organizagio [de] Marinés Ulbriki Costa, Maria Thereza Veloso ~. v. 12.,n. 19 (dez. 2010) ~. Frederico Westphalen : URVFW, 2011. Semestral ISSN - 1415-8817 ISSN (versio on line) — 1984-381x 1. Linguistica — Periédicos 2. Literatura 3. Andlise do Discurso I. Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Misses — Campus Frederico Westphalen IT. Departamento de Linguistica, Letras e Artes CDU: 8171(05) Catalogagdio na fonte: Bibliotecdrio Ricardo César Silva CRB 8/7851 Solicita-se permuta. We ask for exchange. On demande I' echange. Si richiede la scambio. Wir bitten um Austauch. Se pide canje. Publicagao indexada no Qualis B3, Latindex, MLA Master List of Periodicals ¢ MLA International Bibliography URI Editora: URI URI- Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missdes Prédio 8, Sala 108 ‘Campus de Frederico Westphalen : Rua Assis Brasil, 709 - CEP 98400-000 Tel.: 55 3744 9223 4 Fax: 55 3744-9265, E-mail: editorauri@yahoo.com.br Impresso no Brasil Printed in Brazil : uma concep¢ao discursiva Cloris Maria Freire Dorow* ente trabalho busca analisar a posigio do sujeito-leitor charge, sendo necessirio considerar condigdes vigentes nando-se a um contexto sécio-histérico, que devem ser ocesso de interpretagao. Numa primeira andlise, podem- s posigdes-sujeito: 0 sujeito-autor, sob a ética da posigao- tence, resgata do interdiscurso enunciados ja-ditos e o, isto é, imprime ao texto uma estrutura de inicio, texto que sera lido e interpretado pelo sujeito-leitor, igfio-sujeito constatada. Assim, a leitura é gerada pelo deste sujeito-leitor, que também ¢ influenciado pela ‘0 constitui. Para interpretar o texto, é preciso a a.com outras leituras e de um conhecimento ou nao do histérico no qual'o texto foi criado. Portanto, para ‘sujeito-leitor vai recompor o texto, salientando a ‘onstitutiva do discurso, e nesta reorganizacao vai edificar a0 mesmo tempo em que gera novos sentidos. ‘Sujeito-leitor. Charge. Discurso. Leitura. nculagao entre a imagem ¢ o texto verbal apresentada nas iza um importante recurso para relacionar estudos sobre zetras, rea de Linguistica Aplicada, pela UCPEL; Diretora de Ensino Sul-rio-grandense - Campus Pelotas. rederiog Wesiphalen |v. 12]. 19| p. 11-26] Dez. 2010. Recebido em: 03 dez. 2010] ee “Aprovado em: 20 dez. 2010] 12 Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missées a leitura ea interpretacao, pois as linguagens utilizadas possibilitam um tempo minimo para a leitura e emitem informagées variadas ocasionando. humor por meio de circunstancias do dia a dia, trazendo ao leitor um momento de alegria e de divertimento, Porém, para perceber o seu sentido, Pprecisa-se adquirir uma percepgao da realidade circundante sobre o tema apresentado na charge, para apreender seu teor de criticidade. Tendo como parametro o fator hildrio, e divertido, as charges desvendam, por meio de um discurso, ilusoriamente desprovido de consequéncias, 0 cotidiano da vida social, interrogando valores e supostas verdades estabelecidas, propiciando ao leitor indagagGes sobre regras e leis presentes na sociedade. Assim é 0 outro que possibilita a edificagao da imagem que se possui do mundo e da propria pessoa. Logo, a compreensao do discurso tornar-se-a uma atividade capaz derepresentar identidades através de'uma ideologia explicitada. Assim, a charge é, atualmente, um fator importante na formagao de identidades, pois veicula cotidianamente mensagens de rapida leitura e que também sao ludicas, por isso é bastante buscada pelo leitor, trazendo em seu discurso um jogo de vozes dialégicas. Essa diversidade de vozes se op6e e suscita o riso. O chargista explicita sobre uma determinada ideia e também deixa claro seu posicionamento sobre 0 acontecimento, usando de uma interpretagao para parodiar um mundo, que se torna hilério pela alteracao de valores sociais . Ao se ler uma charge, pode-se vislumbrar muito mais uma reflexao sobre um fato do que um juizo critico. Também constata-se,que, com6 todo 0 texto, apresenta uma multiplicidade de outros discursos. Entao, todo discurso é considerado heterogéneo, pois inimeras vozes nele se fazem ouvir. Logo, sao os posicionamentos tedricos da Analise do Discurso (AD) que poderao tornar possivel um olhar que vai além, buscando o implicito e 0 que nao esté dito, mas esta se fazendo vislumbrar na analise do texto. Considerando estes aspectos, selecionou-se um trabalho com charge, realizado com alunos de primeiro ano do PROEJA, para analisar ~ os discursos explicitos e implicitos, que nao sao percebidos quando o sujeito-leitor nao possui conhecimentos do contexto social, espacial e temporal em que a charge est insérida. Mas, para isto, é necessario abordar alguns pressupostos tedricos Revista Lingua & Literatura 13 1 Pressupostos teéricos 1.1 Forma-sujeito em Pécheux* O preceito que embasa a AD é de que o Sujeito nao é a fonte do dizer. Ao contrario disso, entende que esse sujeito é assujeitado por algo que nao The é inerente, mas que "vem de fora", isto é, refere-se aum Sujeito assujeitado a um "exterior", concebido aqui como a ideologia. Isso significa dizer que, ao voltar-se para 0 exterior", a AD busca explicitar como, por meio do linguistico contemplado por essa “exterioridade", um discurso, inscrito em condi¢ses sécio-histéricas de produgao determinadas, mantém uma relagdo com a ideologia. Pode-se dizer que a ideologia é a condigao para a constituigao do sujeito e dos sentidos. A produgao do dizer efetua-se a partir da interpretagao do sujeito pela ideologia. Constatando a premissa de que a ideologia ¢ 0 inconsciente so "estruturas funcionamentos", M. Pécheux diz que seu trago comum é o de mascarar sua existéncia no Amago de seu proprio funcionamento, produzindo evidéncias "subjetivas" (nas quais se constitui 0 sujeito). Assim, a evidéncia do sujeito - a de que somos sempre ja sujeitos ~ desconsidera que o homem é "interpelado" em sujeito pela ideologia. Para Orlandi, esse é 0 paradoxo pelo qual 0 sujeito é chamado.a existéncia: Sua interpelagdo pela ideologia (1999, p. 46). Pécheux retoma de Althusser, autor de "Aparelhos Ideolégicos de Estado" (AIE), a nogao de assujeitamento, explicando mais claramente essa relacao sujeito/ideologia. Nessa obra, o autor vislumbra a ideologia como pratica de sujeitos em relacdo com os AIE e pensa ‘a ideologia como uma “relagao imaginaria dos individuos com as relagdes reais sob Os quais eles vivem” (ALTHUSSER, 1985, p. 88). Estabelecé, assim, uma relacao entre inconsciente (no sentido freudiano) e a ideologia (no sentido marxista). As concepgées reducionistas de ideologia, que relegam o aspecto material, s&o criticadas por Althusser, pois tais nogdes levariam a construcao de um sujeito "ideal", ou seja, de “um sujeito dotado de uma consciéncia onde livremente cle formula as ideias em que cré” (Ibidem, P. 90), isto é, um sujeito capaz de se conduzir em suas opgdes. O vocabulo livremente aparece grifado contrapondo a ideia do 14 Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missdes autor, pois para ele, o efeito da ideologia ¢ contrario, isto é, "impor" (sem parecer fazé-lo) as evidéncias como evidéncias (Ibidem, p. 94). Desta forma, o sujeito ilude-se, pensando "ser livre" , autor de seu discurso € com responsabilidade plena de seus atos. A essa concepgao idealista de sujeito, o autor contrapde uma outra, a de um sujeito desprovido de liberdade, de um sujeito assujeitado pela ideologia e que se identifica com ela ("sou eu 0 autor, é sobre mim que est’io comentando"). O funcionamento da ideologia é explicitado por Althusser, através de uma metafora, corroborando que ela funciona como um espelho, onde 0s sujeitos contemplam sua propria imagem. Esse espelho é duplamente especular, ou seja, o funcionamento da ideologia engloba um Sujeito ("s" maitisculo), que é o centro, o lugar tinico e que os sujeitos ("s" minisculo) devem se assujeitar. Constitui-se, assim, um relacionamento, por um lado, entre os sujeitos e, por outro, entre os sujeitos ¢ o Sujeito. Assim, 0 "individuo é interpelado como sujeito (livre) para livremente submeter-se as ordens do Sujeito, para aceitar, portanto, (livremente) sua submissao" (Ibidem, p. 104). E evidente que existe uma incoeréncia no interior do sujeito: "nao sendo nem totalmente livre, nem totalmente submetido, o espago de sua contradigdo é tenso" (ORLANDI, etal., 1988). Isto é, 0 sujeito ¢ interpelado pela ideologia ¢, simultaneamente, ocupa um lugar que é apenas seu na formagio discursiva que o determina e com sua individualidade historic "Cada sujeito é assujeitado no universal como singular 'insubstituivel (PECHEUX, 1975, p. 156). Pécheux denomina "forma-sujeito" a identificagdo do sujeito do discurso com a formagao discursiva que o constitui. Isto é, a forma-sujeito constitui-se no sujeito afetado pela interpelago ideolgica ou o sujeito comprometido pela ideologia. ~ Assim como 0 sujeito s6 existe através do discurso (segundo Courtine, 1981, nao ha sujeito do discurso, mas diferentes posigdes do sujeito), também o sentido metamorfoseia-se, imerso nas diferentes formagées discursivas. Portanto, o sentido concebido apenas pelo uso, historicamente, ¢ 0 discurso como 0 produto de sentido entre locutores ocupando perspectivas diferenciadas. Pécheux coloca isso da seguinte forma: Se uma palavra, expresstio, proposi¢o podem receber sentidos diferentes [...] conforme refiram a tal ou tal formagao discursivo é porque [...] elas nfo tém um sentido que Ihes seria "proprio" enquanto ligado a sua literalidade, mas seu sentido se constitui em cada formacao discursiva, nas relagdes que entretém com outras palavras, expressdes proposi¢des da mesma formacao discursiva (1975, p. 145). ‘Para ter a ilusao de ser 0 dono do seu discurso o sujeito, segundo , cria dois tipos de realidades discursivas ilus6rias: 0 esquecimento que consiste nas opgdes que o sujeito faz ao falar, na rede de e paradigmas pelos quais opta inconscientemente, produzindo unciados que parecem inicos e originais. E a chamada ilusdo ial, constitui-se num esquecimento parcial, semi-consciente. Eo ento n° 1, denominado esquecimento ideoldgico que se situa no sciente ¢ ¢ de natureza ideoldgica. Neste esquecimento, 0 sujeito uimera de achar-se fonte do seu discurso-¢ nio mero receptor de € sentidos pré-existentes. Assim, 0 sujeito ene -se de que ele é dor absoluto do seu discurso. Esta seria uma “ilusio necessaria", construtora do sujeito, pois m sujeito estigmatizado pela ideia de unidade, centro, origem. AD discorda desta ideia iluséria e retoma a nogao de dispersao do ) (FOUCAULT, 1969), ao reconhecer o desdobramento de papéis, do as diversas posi¢des que 0 sujeito ocupa dentro de um mesmo ssim, existe uma heterogeneidade que se encontra no discurso e c pela dispersiio do sujeito. Para a Andlise de Discurso (AD) 0 discurso sera considerado no um feixe de significagdes. Corroborando tal concepgao, Orlandi o ..]4palavra diseurso, etimologicamente, tem a idéia de curso, de percurso, de correr, de movimento. O discurso € assim a palavra em movimento, pratica de linguagem: com 0 estudo do discurso observa-se o homem falando [-1 (1999, p. 15). lanto, caracterizam-se como discurso, os enunciados gerados | determinada interagao verbal, em que os sujeitos apresentam- ido um padrao de suas posigdes sociais e ideolégicas. Desta 0s discursos metamorfoseiam-se periodicamente, pois sao 16 Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missdes moldados pelo meio no qual se produzem. Por isso, é interessante observar a posigao de Possenti (2001) ao dizer que "[...] 0 discutso é um efeito de sentido, uma posigéo, uma ideologia, que se materializa através da lingua [...]". Em outras palavras, 0 discurso necessita da lingua para se tornar concreto, para simbolizar. Assim, o discurso é corporificado pela lingua, ¢ através dela que ele adquire vida, concretude. Porém, 0 sentido do discurso nao esta acorrentado lingua, fato que pode ser enfatizado no texto de Fernandes: Inicialmente, podemos afirmar que o discurso, tomado como objeto da Analise do Discurso, nao € lingua, nem texto, nem a fala, mas que necessita de elementos lingliisticos para ter um existéncia material. Com isso, dizemos que discurso implica extérioridade a lingua, encontra-se no social e envolve questdes de natureza estritamente lingliistica, Referimo-nos a aspectos sociais ¢ ideol6gicos impregnados nas palavras quando elas so pronunciadas (2007, p. 18). Conclui-se, ento, que para analisar um discurso nao basta apenas amaterialidade linguistica, mas outros 'fatores como as condigdes sociais nas quais ele se produziu. Diante disso, é preciso analisar a produgao de sentidos, complementando-se harmonicamente em um determinado dizer, pois um mesmo discurso pode apresentar diversificados sentidos, dependendo do lugar em que ¢ produzido, da ideologia a qual o sujeito que o pronunciou esta filiado e das condigdes em que se deu esta produgao. Pécheux propde em sua obra, que, um trabalho de leitura, visto sob esta ética, conduz ao inconcebivel, dualmente: pensar de forma explicita o concebivel para desvelar o inconcebivel, em outras palavras, colocar regras no sistema € no intradiscurso € eliminar a homogeneidade ficticia dos mesmos. Portanto, lega ao leitor uma incumbéncia: fazer uma leitura na qual "o sujeito é, ao mesmo tempo, despojado e responsavel pelo sentido daquilo que 1é" (1 981, p. 53). 1.2 Heterogeneidade da enunciagao Authier-Revuz explicita algumas formaside heterogeneidade que denunciam a presenga do outro: a heterogeneidade mostrada e @ Lingua & Literatura terogeneidade constitutiva. Denomina de heterogeneidade mostrada a 2 é linguisticamente descritivel - discurso relatado: discurso indireto e curso direto; - forma marcada de conotacao autonimica: aspas, itdlico, nentario, glosa, etc., agindo como "marcas de uma atividade de controle -gulagem do processo de comunicagao" (1982, p. 50). A heterogencidade mostrada opde-se 4 homogeneidade do discurso vendo, registrando-se uma duplicidade de indicag6es: a linearidade _cadeia vé-se pees por discursos de estatutos diferenciados, do para um outro ato de enunciagio, ou estar implicita, unde pas ¢.0 itdlico nao estado glosados. ‘Sao sinais de heterogeneidade, segundo Authier, aneeai ae -se na do discurso em enuncia¢do: uma outra lingua; um outro registro sivo, um outro discurso (técnico, feminista, moralista, do senso im, etc.), uma outra modalidade de consideragao de sentido, um ), 0 interlocutor. "A dupla designagao de um fragmento outro e da idade a que remete constitui, por diferenca, uma dupla afirmagio do 990, p. 31). Estas formas preconizam uma exterior da diferenciada, inserindo, iltaneamente, um exterior em relagao ao qual se fundamenta o aquela do enunciado, instrumentalizando-o para se expressar de sua lingua e de seu discurso, num posicionamento impassivel ador. He esta evidenciado por aacos univocos na (ane - 0 discurso livre, a a ironia, a antifrase, i imitacao, etc., nao mals no smb da sivel entre 0 ditado Tocutor e 0 do outro, as vozes se misturam ites de uma s6 construgao linguistica. Essas formas marcadas, passiveis de serem descritas mente, que marcam o outro e desvelam, indicam a idade no exterior discursivo esto fundamentadas numa lei ica ao prdprio 4mago da linguagem: a sua heterogencidade ————E—————————— 18 Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai ¢ das Misses articulacao da realidade das formas de heterogeneidade mostrada no discurso com a realidade da heterogeneidade constitutiva do discursivo, 0 dialogismo de Bakhtin ea psicanilise, sob a dtica lacaniana de Freud, duas teorias nao-linguisticas. Eo principio do dialogismo, expondo o lugar que o autor atribui ao outro no discurso que interessa, primordialmente, 4 autora, enquanto, na psicandlise que a aguea, o que importa € 0 estudo sobre um sujeito criado i| pela linguagem, estruturalmente clivado pelo inconsciente. ‘A dialogizaciio do discurso possui dois paradigmas, segundo Bakhtin: um direcionado para os "outros discursos" como formas constitutivas do discurso, outra direcionada para o destinatario, o outro da interlocugao: Um enunciado vivo, significativamente surgido em um momento histérico e em um meio social determinados, nao pode deixar de tocar em milhares de fios dialdgicos vivos, tecidos pela consciéncia sécio- ideolégica em torno do objeto de tal enunciado e de } participar ativamente do didlogo social. De resto, ¢ dele | que o enunciado saiu: ele é como sua continuagao, sua réplica [...] (BAKHTIN, 1975, p. 100). A interlocugaio é um aspecto relacionado a dialogizagao do discurso, pois possui o direcionamento para 0 destinatario, isto é, "toda enunciagao depende 'bivocalmente' do locutor ¢ do alocutério". Ao pronunciar-se, 0 locutor funda um didlogo com o discurso do receptor, formulando-o, nao como simples decodificador, mas como um elemento alvo, legando-Ihe uma concep¢ao de contradiscurso. Para Bakhtin, "constituindo-se na atmosfera do jd dito’, o discurso é determinado ao mesmo templo pela réplica ainda ndo-dita, mas solicitada e ja prevista" (1975, p. 103). Segundo o pensamento de Authier-Revuz sobre o posicionamento teérico de Bakhtin, a definigdo de subjetividade nao pode estar centrada num Ego enquanto ser tinico e origem onipotente de sua palavra, mas num sujeito que se fragmenta, particula de um universo histérico-social no qual interage com outros discursos dos quais se torna dono ou ante os quais toma posigao (ou ¢ posicionado) para elaborar o seu dizer. Essa postura tedrica, em telagao ao acontecimento discursivo, € réiterada por Pécheux, quando escreve que "o acontecimento discursivo 0 ponto de encontro de uma atualidade ¢ de uma memoria" (1990, p.

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