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Quer tirar boas notas este ano? Talvez essas dicas possa ajudar.
Indicação de Leitura
Até março o aluno terá que ter
lido o livro
“EXTRAORDINÁRIO” de
R.J. Palácio.
Para Agosto, o livro solicitado
será “Pássaro Contra a Vi-
draça” de Giselda Laporta
Nicolelis.
As leituras serão utilizadas em
sala de aula, em atividades
referentes a disciplina de soci-
ologia.
Não significa que o aluno terá
que ler somente esses livros.
Lembrando que o aluno pode
pegar livros emprestados na
biblioteca da escola.
O que é Sociologia?
A sociologia é a ciência que se debruça so- sociais.
bre a própria sociedade e todas as suas ra-
mificações, componentes e integrantes. Ela Para tanto, essa nova área
se dedica a compreender as formas de inte- de conhecimento, de acordo com Comte, deveria
ração que temos uns com os outros, nossas se propor a ser universal e aplicável a toda e
organizações e os fenômenos sociais ob- qualquer sociedade que exista ou venha a exis-
servados na realidade dos indivíduos. tir. Com esse objetivo, Comte volta-se para a for-
ma de observação das demais ciências anterio-
O olhar sociológico nos traz sempre uma no-
res à nova Sociologia, argumentando que os es-
va perspectiva sobre situações que aparen-
tudos dessa nova matéria deveriam se pautar em
temente são de natureza individual, mas que
fenômenos observáveis e mensuráveis pra que
acabam por atingir uma gama muito maior de
fosse possível apreender as regras gerais que
nossa realidade coletiva. Podemos tomar
regem o mundo social do indivíduo. Essa pers-
como exemplo o desemprego que, embora
pectiva é chamada de “positivismo” e é a forma
seja uma terrível tragédia na vida do indiví-
dominante de observação do mundo em meados
duo, ecoa em toda cadeia social, afetando
da Revolução Industrial (séculos XIX - XX)
nossa realidade econômica e acentuando a
desigualdade social e, possivelmente, agra- A diversidade social é uma das características mais
vando outros problemas como a violência, a estudadas pela Sociologia
fome e a precarização da educação.
De onde surgiu a Sociologia?
Ela se inicia como ideia em meados do sécu-
lo XIX, com o filosofo francês Augusto Com-
te, que propunha uma nova área de estudo
que reunisse as principais áreas do conheci-
mento das ciências humanas em uma única,
que se proporia a compreender todos os as-
pectos do homem social e os fenômenos que
se manifestariam nas diversas realidades
Você que gosta muito de beber/Fim de semana é um barato, Neste caso, garantir o “destino de viver entre festas”, nas
pode crer/Cerpa, Brahma, Antarctica ou Skol/Mas você tenha “terras de ricas florestas”, “fecundadas ao Sol do Equador”,
cuidado com o famoso Rupinol/O Rupinol é uma droga perigosa/ ao “Sentinela do Norte” é o que dá orgulho de ser filho do
Que a gatinha usa para lhe roubar/Quando ela bota no seu copo/ Pará. Por isso, o ufanismo se apresenta como o valor cívco
Você fica arrupinado/No final você sai roubado/Ela te chama de que mobiliza os sujeitos a declararem “Preferimos mil vezes
céu, ela leva teu anel/ Ela te chama de pão, ela leva teu cordão/ a morte” “a deixar de manter esse brilho”.
Ela te chama de amor, vai sentir é muita dor/ Ela te chama de
Referente à ação social afetiva, determinada por uma rea-
meu bem e leva tudo que tu tens/Ela leva tua carteira e leva até
ção emocional decorrente de certas circunstâncias, temos
tua pulseira/O Rupinol é perigoso, tu não levantas da cadeira/O
como ilustração a música de Gaby Amarantos, “Ex My Lo-
serviço está pronto, estás/ todo depenado otário/ Palitó com seu
ve”:
sapato levaram/O Rupinol é muito ingrato/ Porque antes de tudo
isso/Pra ela tu era um gato.. http://letras.mus.br/
Meu amor era verdadeiro/O teu era pirata/O meu amor era ouro/
E o teu não passava de/ um pedaço de lata/Meu amor era rio/E
No contexto apresentado na letra da música, o agente da
o teu não formava uma fina cascata/O meu amor era de raça/E
ação é a “gatinha que usa Rupinol para lhe roubar”. Como
o teu simplesmente um vira-lata/Ex my love/ ex my love/ se
meio planejado e, portanto, racional usa a droga perigosa.
botar teu amor na vitrine, ele nem vai valer 1,99.( http://
“O Rupinol é uma droga perigosa, quando ela bota no copo,
você fica arrepiado”. Aqui, a droga é o meio utilizado pelo
sujeito da ação social realizar seus fins, seu objetivo: “No Neste contexto, o agente da ação é a mulher que se dirige
final você sai roubado/Ela te chama de céu, ela leva teu ao seu “ex amor” e demonstra uma certa “dor de cotovelo”,
anel/ Ela te chama de pão, ela leva teu cordão/Ela te chama as circunstâncias que motivam os “ataques” detratores do
de amor, vai sentir é muita dor/ Ela te chama de meu bem e outro pela redução do qualificativo: “o amor pirata”, “um pe-
leva tudo que tu tens/Ela leva tua carteira e leva até tua daço de lata” ,”uma fina cascata” , “um vira-lata” e “se botar
pulseira”. teu amor na vitrine, ele nem vai valer 1,99”. Neste caso, a
ação social foi decorrente do estado de humor do sujeito da
Na letra da música de Edmar Rocha “Belém, Pará, Brasil” a
ação, que provoca no outro, o escárnio, o deboche, a des-
ação social visando fins é destacada na denúncia ao pro-
qualificação dos elementos do amor através da oposição
gresso em prejuízo das riquezas locais:
entre o que é positivo e negativo, tais como: verdadeiro x
pirata, amor de ouro x amor de lata, rio x fina cascata e raça
x vira-lata.
Vão destruir o Ver-o-peso e construir um shopping center/Vão
derrubar o Palacete Pinho pra fazer um condomínio/Coitada da Como ação social tradicional, a “Marcha do vestibular” de
Cidade Velha que foi vendida pra Hollywood/ Pra ser usada Pinduca retrata a ação dos sujeitos aprovados, cujo móvel
como um albergue num novo filme do Spielberg/Quem quiser da ação é a tradição:
venha ver/Mas so um de cada vez/Não queremos nossos
jacarés/Tropeçando em vocês/A culpa é da mentalidade/Criada Alô, alô, alô papai/Alô mamãe/Põe a vitrola prá tocar/Podem
sobre a região/Por que que tanta gente teme ? Norte não é com soltar foguetes/Que eu passei no vestibular/Eu agora não me
"M"/ Nossos índios não comem ninguém/Agora é so hamburger/ iludo/Estou com a cuca controlada/Já não sou mais cabeludo/
Por que ninguém nos leva a sério?/Só o nosso minério? /Quem Estou de/cabeça raspada/Tudo agora é alegria/Vou alegre
quiser venha ver/Mas só um de cada vez/Não queremos nossos pintando o sete/Com a turma na folia/Dando tiros de confete
jacarés/Tropeçando em vocês (http://www.vagalume.com.br/ (http://letras.mus.br/pinduca/355786/. Acesso: 01/05/2015).
Para Durkheim, o cumprimento desse conjunto de mani- exemplo da ação da consciência coletiva sobre o indiví-
festações coletivas, regras jurídicas e morais, dogmas duo:
religiosos, hábitos, padrões de conduta e costumes pela
sociedade, é que garante os laços de solidariedade soci-
al. Portanto, do ponto de vista sociológico, a solidarieda-
de social ocorre quando os indivíduos de uma coletivida-
de cumprem e seguem essas regras, normas e padrões
de conduta, sob pena de receberem uma coerção da
sociedade. Solidariedade social é o partilhar de um mes-
mo conjunto de regras sociais; são os laços que unem
os membros entre si e ao próprio grupo, a qual pode ser
orgânica ou mecânica.
A Solidariedade Mecânica é uma solidariedade por se-
melhança; nela os indivíduos diferem pouco uns dos
outros; os membros da coletividade tem os mesmos sen-
timentos, valores, os mesmos objetos como sagrados.
Há coerência entre os indivíduos em função da seme-
lhança. É aquela que predominava nas sociedades pré-
capitalistas, onde os indivíduos se identificavam através
da família, da religião, da tradição e dos costumes, per-
manecendo em geral independentes e autônomos em
relação à divisão do trabalho social. Como exemplos
temos as sociedades tribais, sem escrita, comunidades
simples. Quando se institui um processo de individualiza-
ção dos membros da sociedade que passam a ser soli-
dários por terem uma esfera própria de ação, surge a
solidariedade orgânica. Com isso ocorre uma interde-
A Consciência Coletiva é, em certo sentido, a forma mo-
pendência entre todos e cada um dos demais membros
ral vigente na sociedade. Ela aparece como regras fortes
que compõem tal sociedade; é aquela típica das socie-
e estabelecidas que delimitam o valor atribuído aos atos
dades capitalistas, onde, através da acelerada divisão
individuais. Ela define o que, numa sociedade, é conside-
do trabalho social, os indivíduos se tornavam interdepen-
rado "imoral", "reprovável”, “inadequado”, ou "criminoso".
dentes. Essa interdependência garante a união social,
em lugar dos costumes, das tradições ou das relações No ambiente da escola diariamente alunos, professores,
sociais estreitas. supervisora escolar, secretária, inspetores e outros agen-
tes sociais são confrontados por fatos sociais de toda
FATO SOCIAL E CONSCIÊNCIA COLETIVA
ordem. Os alunos devem ir uniformizados para escola,
O fato social tem sua origem no que ele chamou de maneira de se vestir padronizada, que caracteriza um
consciência coletiva. Os indivíduos, segundo Durkheim, hábito escolar, caso contrário, não entrarão na escola,
têm duas maneiras de agir: uma individual, que nos re- sofrerão coerção. A regra vale para todos os alunos, sen-
presenta no que temos de pessoal e distinto; e outra que do assim, geral. Ir uniformizado não é uma escolha pes-
nos faz ser de acordo com todo o grupo, que não nos soal, mas uma determinação social da escola. Por sua
representa, mas somente a sociedade que age e vive vez, os professores devem cumprir sua jornada de traba-
em nós – a consciência coletiva; ela constitui o "conjunto lho, caso contrário, serão descontados. O cumprimento
das crenças e dos sentimentos comuns à média dos da jornada tem um caráter geral e independe da escolha
membros de uma mesma sociedade, formando um siste- dos professores. Mas o fato social não pode ser encara-
ma determinado com vida própria" (DURKHEIM, do como um fato negativo que coage os indivíduos, que
1998,p.112). se impõe sobre eles independente do seu querer. Segun-
A partir da consciência coletiva somos capazes de assi- do Durkheim, os fatos sociais funcionam como ações
milar valores, hábitos e costumes que definem a maneira educativas para que os indivíduos aprendam desde cri-
de ser e de agir característicos do grupo social a qual ança a ser solidários, justos, seguidores de leis, normas
pertencemos. Essas crenças e sentimentos “modelam” e padrões de comportamento, para que a sociedade se
nossa consciência individual de acordo com o pensar desenvolva plenamente eliminando as chamadas
coletivo. Por exemplo: Sem qualquer lei existente, os “patologias sociais” – os crimes mais variados que pos-
paraenses só tomam tacacá em cuias; em outubro, os sam existir na sociedade, que são decorrentes do não
católicos vivem uma atmosfera religiosa para comemorar cumprimento das regras sociais. Quando uma sociedade
o círio; o modo de falar típico de paraense, como: atinge esse estágio de patologia social, ela atinge um
“égua”, “levou o farelo”, “bora logo”, “muito palha”, “muito estado anômico. Chama-se anomia social ao não cumpri-
firme”, “pô-pô-pô”, etc. são manifestações coletivas da mento das regras sociais, das leis, das normas e padrões
sociedade que pertencemos e que nos constrange a se de comportamento. Portanto, devemos ser sujeitos soci-
comportar segundo essas regras. Na tirinha a seguir, um ais cumpridores de regras para fugir da anomia social.
Karl Marx foi um pensador alemão tos utilizados. Para Marx, as terras
nascido em Tréveris em 5 de maio e os instrumentos utilizados para período, observa-se que aqueles
de 1818 e morreu em Londres em obter o látex, são chamados de que ocupavam os camarotes de
14 de março de 1883; foi um inte- meios de produção. Já aqueles que primeira e segunda ordem eram os
lectual e revolucionário, fundador trabalhavam para os proprietários, burgueses, os grandes empresá-
do comunismo moderno, que atuou os operários, são chamados de rios da borracha, enquanto que o
como economista, filósofo, historia- força de trabalho, ou seja, capaci- paraíso era ocupado por seus fun-
dor, teórico político e jornalista. O dade física para trabalhar, que no cionários, o proletariado. A forma
pensamento de Marx influenciou seu conjunto é denominado de pro- de determinar quem ocupava cada
várias áreas do conhecimento, den- letariado. Para o proprietário das lugar era simples: o preço. Os lo-
tre elas, a sociologia. Sua análise terras e dos instrumentos de produ- cais caros eram destinados aos
acerca da sociabilidade capitalista ção, é denominado de burguesia. ricos, e os mais baratos aos po-
parte de uma concepção materialis- Essa divisão da sociedade entre bres.
ta da história denominada de Mate- burgueses e proletariado é chama- Essa divisão espacial interna do
rialismo Histórico. Este modo de da de classes sociais. Essa divisão teatro revela a divisão da socieda-
interpretar a realidade social, parte de classes na sociedade passa de fora dele. Da mesma forma que
do seguinte pressuposto: há predo- quase ou totalmente despercebida são dispostos lugares para ricos e
minância da materialidade sobre a se não conhecermos esses concei- pobres dentro do teatro, assim o é
ideia, e esta só se desenvolve a tos, se não tivermos uma visão es- na cidade, existindo, por exemplo,
partir da matéria; os fatos, as coi- clarecida das diferenças sociais. bairros elitizados e bairros popula-
sas, os fenômenos estão em per- res, restaurantes para burgueses e
Ao entrar no teatro, percebem-se
manente movimento, inter-relação, para proletariado, etc.
várias divisões espaciais para o
determinação e contradição. Por-
público que vai assistir as apresen- No século XIX Karl Marx desenvol-
tanto, não é possível entender os
tações. Temos camarotes da pri- veu um estudo onde mostrava essa
conceitos marxianos como: indivi-
meira, segunda, terceira; e quarta diferença entre as pessoas na soci-
duo, classe social, luta de classes,
ordem: plateia e paraíso. Essa divi- edade. Ele criou os conceitos de
entre outros, sem levar em conta o
são espacial representa a divisão meios de produção, força de traba-
processo histórico, pois não são
social em classes daqueles que irão lho e classes sociais, para explicar
conceitos abstratos e sim uma abs-
assistir ao espetáculo, determinan- que o proletariado é explorado pela
tração do real, ou seja, a ideia ba-
do o local social que cada um deve classe burguesa. No Teatro da
seada no mundo real, na vida real
ocupar. Paz, por exemplo, aqueles que o
dos homens.
As pessoas que ocupavam os ca- construíram, levantando os tijolos,
marotes de primeira e segunda or- eram os mesmos que ocupavam o
O TEATRO DA PAZ – O CONTEX- dem eram os mais ricos, pois fica- paraíso, ou seja, os locais mais
TO DAS CLASSES SOCIAIS vam ao mesmo nível que o camaro- simples. Marx, no entanto, enxer-
te do presidente da Província - hoje gou a força do proletariado, visto
camarote do governador do Estado. que numericamente ele é maior,
Fundado no século XIX, durante o É possível perceber maior luxo e bastando apenas que esse se re-
ciclo da borracha, momento históri- riqueza de detalhes nesses cama- volte para então destruir essa divi-
co em que a cidade de Belém, capi- rotes: poltronas acolchoadas, por- são de classes. Ocorre que o prole-
tal do Grã-Pará, chegou a ser a tas maiores, papel de parede e de tariado não é unido, e individual-
mais rica do Brasil, o Teatro da Paz teto melhor trabalhados. mente cada um não percebe a for-
é um monumento histórico que nos ça que tem. Daí ser tão necessária,
diz muito daquele momento de luxo Conforme se sobe os andares, ca-
uma educação capaz de pôr em
e riqueza em que vivia a sociedade marotes de terceira e quarta ordem
cheque as desigualdades sociais e,
belenense. e paraíso, os detalhes vão diminuin-
não apenas torná-la aceitável
do. Ao chegarmos no paraíso, por
Naquele período, os poderosos do exemplo, as portas são menores, Agora, você aluno, acha que so-
Pará eram os “barões da borracha”, as cadeiras são mais simples e sem mente existiu no Teatro da Paz, lá
grandes empresários que trabalha- acolchoamento, e o teto do camaro- no século XIX, essa diferença de
vam com a extração e comerciali- te nem ao menos possui pintura, classes, ou hoje continua existindo
zação do látex. Possuíam imensas revelando assim a inferioridade da- lugares destinados a pessoas ricas
fazendas e muitos operários. Por queles que o ocupam. e pessoas pobres? Onde podemos
serem os donos das terras onde perceber a desigualdade social?
estavam plantadas as seringueiras, Com base na estrutura social de
assim como donos dos instrumen- classes da sociedade de Belém no
Ao tratar do conceito de “não-lugares”, Marc Augé ressalta do/ pra ir, bati com os olhos no luar/ A lua foi bater no mar e eu fui
a importância de se pensar a cidade hoje, para o perigo de que fui ficando/Não vou sair/ melhor você voltar pra cá / não vou
transformá-la em um espaço desprovido de identidade, de deixar esse lugar / Pois quando tava me arrumando /pra ir, bati com
os olhos no luar /A lua foi bater no mar e eu fui que fui ficando/E aí,
relacionamentos e de história. Pensar a cidade hoje é pen-
você partiu pro Canadá /Mas eu fiquei no já /vou já, pois quando
sar a escola onde estudamos, a praça onde passeamos, o tava me arrumando /Pra ir, bati com os olhos no luar/ A lua foi bater
bairro onde moramos, preservando sua identidade cultural, no mar e eu fui que fui ficando... (http://letras.mus.br/nilson-
nossos relacionamentos construídos e os fatos vivenciados chaves/217028/. Acesso: 30/04/2015).
por toda a comunidade, visto que o “nãolugar” nos remete-
A letra da canção revela uma “falta de perspectiva” de futuro
rá ao espaço desprovido de sentimento de pertença, de
melhor da juventude belenense, decorrente das condições
dissolução dos laços sociais e de ausência de historicida-
sócio-econômicas vivenciadas pelo país no período da dita-
de. “O não-lugar é o espaço dos outros sem a presença
dura militar, em cenário brasileiro de desemprego, baixo
dos outros”(p.169). E dificilmente o “não-lugar” poderá ex-
crescimento econômico e, sobretudo, falta de liberdade polí-
primir ao mesmo tempo “a liberdade e a identidade, a mul-
tica. A saída é “partir para o Canadá”, onde se pode ganhar
tiplicidade dos possíveis e a necessidade de exis-
dinheiro, estudar; um espaço de “passagem” e de temporali-
tir’’(AUGÉ, 2000, p. 164).
dade previsível, um “não-lugar” que nega o lugar dos afetos,
Para entender melhor o significado de “não-lugares” e de dos vínculos afetivos: “do luar, do mar”. Todavia, os elemen-
lugares usaremos o cancioneiro popular paraense por en- tos de natureza identitária, relacional e histórica são mais
tender que a arte é expressão da vida. O artista, ao elabo- fortes: “mas quando estava me arrumando bati com os olhos
rar sua peça artística, ele se inspira na vida. Portanto, a no luar, a lua foi bater no mar, e eu fui que fui ficando”. Por-
arte se revela como um importante recurso pedagógico tanto, é necessário preservar o lugar de pertencimento, de
para explicar a vida social. afetos, de identidade: “não vou deixar esse lugar, melhor
Na letra da música dos compositores paraenses Paulo não ir”, pois há uma esperança no futuro, já que ele pode
André e Rui Barata “Esse rio é minha rua” vemos a mani- mudar: “os homens de Brasília não podem ser eternos”.
festação da natureza identitária, relacional e histórica à OS LUGARES DOS “NÃO-LUGARES” E OS “NÃO-
cidade de Belém e que os remete a outros espaços tam- LUGARES” DOS LUGARES
bém, vejamos:
Um dado importante é assinalado por Marc Augé em sua
Este rio é minha rua/Minha e tua mururé /Piso no peito da lua/ análise: a ideia de que há lugares e “não-lugares” por toda
Deito no chão da maré (bis). Pois é/ Pois é/Eu não sou de Ígara- parte. Há lugares em “não-lugares” e há “não-lugares” em
pé/Quem montou na cobra grande /Não se escancha em puraqué
lugares, pois ambos os conceitos referem-se a “espaços
(bis)/Rio abaixo rio acima/minha sina cana é/Só em falar na mardi-
ta/ Me alembrei de Abaeté(bis)/Pois é, pois é/Eu não sou de igara- muito concretos, mas também a atitudes e a posturas, à
pé/Quem montou na cobra grande/Não se escancha em puraqué/ relação que os indivíduos mantém com os espaços onde
Me arresponda boto preto/Quem te deu esse pixé / Foi limo de vivem ou que eles percorrem” (p.167). Isto significa dizer
maresia/ Ou inhaca de mulher(bis)/ Pois é, pois é/Eu não sou de que quando negligenciamos o cuidado com a escola, quan-
Ígarapé/Quem montou na cobra grande/Não se escancha em do depredamos a praça, quando jogamos lixo no canal, nos-
puraqué (bis) ( http://www.vagalume.com.br/paulo-andre-barata/ so comportamento em relação a esses espaços urbanos os
este-rioe-minha-rua.html. Acesso: 30/04/2015). transformam em “não-lugares” de ligeira circulação, sem
Ao tratarem o rio como “minha rua, minha e tua” remetem- afetos, sem pertencimento. Mas, se a partir de outro olhar,
nos ao sentimento de pertencimento à cidade e à rua. Ao outro comportamento e outra postura, começamos a cuidar
se reportarem ao folclore paraense como: a “cobra gran- da escola, preservar a praça e manter limpo o canal de nos-
de”, “o puraqué”, “o boto preto”, o “mururé” e às expres- sa cidade, esses espaços tornam-se lugares aprazíveis de
sões da regionalidade como: “pixé”, “limo de maresia”, se viver, de construir laços de afetividade, de identidade e
“inhaca de mulher” remetem-nos à natureza identitária da de história. Portanto, são nossas práticas sociais que deter-
cultura regional; e ao demarcarem um tempo passado e minam os espaços em lugares e “não-lugares”. Pensar a
um tempo presente “Quem montou na cobra grande/não escola como um lugar de aprendizagem e de convivência
se escancha em puraqué” , remetem-nos aos elementos afetiva não significa apropriar-se dela; mas estudar os recur-
de natureza histórica; e finalmente, ao espaço da vivência, sos urbanísticos que fazem parte da cidade, os equipamen-
da pertença, do lugar, à natureza relacional: “Só em falar tos e serviços que permitem ao aluno superar o estranha-
da mardita/Me alembrei de Abaeté”. mento de um espaço pouco familiar e se orientar em um
universo de estranhos. Assim, entre os indivíduos existirá
Na letra da música do compositor paraense Celso Viáfora,
uma relativização à ideia de lugar e “não-lugar”, partindo do
“Não vou sair” podemos identificar os conceitos de lugares
pressuposto que há em cada um de nós uma particularida-
e de “não lugares”, vejamos:
de, uma postura, uma atitude e visões diferentes de mundo.
A geração da gente/ Não teve muita chance /de se afirmar, de O que para um indivíduo pode significar um lugar, para outro
arrasar, de ser feliz /Sem nada pela frente/ Pintou aquele lance / pode ser um “não-lugar”, e é exatamente por isso que se funda-
de se mudar, de se mandar desse país / E aí, você partiu pro Ca- mentam as relações dos indivíduos dentro de uma sociedade,
nadá /Mas eu fiquei no já vou já/ pois quando tava me arrumando / com a contribuição de ideias e pontos de vistas diferentes, que
Pra ir, bati com os olhos no luar /A lua foi bater no mar e eu fui enriquecem grandiosamente a nossa formação social. A ideia
que fui ficando/ E aí, você partiu pro Canadá/ Mas eu fiquei no já
de “nãolugares” pode também revelar os modos de vida que
vou já, pois quando tava me arrumando/ Pra ir, bati com os olhos
caracterizam a sociedade contemporânea: individualista, solitá-
no luar /A lua foi bater no mar e eu fui que fui ficando/Distante
ria, transitória e mutante. Através do “não-lugares” se descortina
tantas milhas/ são tristes os invernos /Não vou sair, tá mal aqui,
mas vai mudar / Os donos de Brasília não podem ser eternos/ pior uma sociedade passageira, efêmera e solitária. Lugares e “não-
que foi, pior que tá, não vai ficar/ Não vou sair/ melhor você voltar lugares” também nos impõe a questão: como posso mudar de
pra cá /não vou deixar esse lugar /Pois quando tava me arruman- atitude e preservar minha cidade, minha escola, minha pra-
ça?
Sobre a violência
ou tentou reparar o dano. Quando
Fabiana Alves Pereira novo atingidos e convocados a
viu que aproximei meu carro do
Psicóloga pensar a selvageria de alguns
dele para perguntar o que houve,
taxistas contra o motorista do
O que reivindicam, afinal? Violên- baixou o vidro e me encheu de de-
Uber. Reivindicam o que afinal
cia, desrespeito humano, descaso saforos, com baixarias, dizendo
essas pessoas? Nada justifica
com a vida e com os valores são que eu não tinha do que reclamar,
tamanha intolerância e atos vio-
questões que permeiam nosso dia porque afinal de contas não acon-
lentos. Fui vítima de uma violên-
a dia. Diariamente me sinto ex- teceu nada!Esse é o sentimento de
cia no trânsito. Estava eu parada
descaso, tratar as coisas como se
posta e atingida diretamente a num sinaleira quando uma cami-
estas situações; pode ocorrer com não tivesse acontecido nada! Sim,
nhonete passou em alta velocida-
qualquer um de nós. Não se trata aconteceu, e está acontecendo
de pela minha esquerda e arran-
mais de um caso isolado ou restri- muita coisa. Coisas graves, sérias,
cou meu retrovisor. O motorista
to. Tivemos que conviver e digerir que ferem a convivência humana,
viu que bateu no meu carro. E
que violam nossos direitos, que
fatos e acontecimentos que cho- não era para seguir em frente,
nos invadem e nos agridem. Ex-
cam pela violência física e moral. pois a sinaleira estava fechada,
Mas não podemos deixar de re- cesso de razão, de pressa, de
era apenas para assegurar um
gistrar as pequenas ocorrências agressividade, de cobiça. Em meio
lugar à frente naquela fila onde
cotidianas, que por serem já tão a tanta intolerância, selvageria,
todos esperavam a vez de se-
corriqueiras, já não são mais noti- violência e descaso humano; em
guir! Esse sujeito mexeu comigo,
meio a tantas "reivindicações", eu
ciadas. não só pela avaria no meu carro,
tenho uma especial: quero continu-
Estamos perdendo nossos refe- mas pela avaria que me causa
renciais, nossos valores. Não pre- ar tendo esperança na humanida-
esse gesto. Ele sequer perguntou
cisou muito tempo e estamos de de, nas pessoas de bem, na genti-
se eu precisava de alguma coisa,
leza, no respeito.