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FUNDAMENTOS DA PREVENÇÃO E DO
CONTROLE DE PERDAS E AS METODOLOGIAS
PARA IDENTIFICAÇÃO DE RISCOS
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All content following this page was uploaded by Janduhy Camilo Passos on 02 June 2014.
Em termos de evolução, porém, observa-se que parte das ações relativas à prevenção de
perdas foi desenvolvida em virtude da grande incidência de infortúnios do trabalho, pois a
gravidade e a freqüência das lesões nos trabalhadores, os danos às máquinas e equipamentos, às
instalações e ao processo produtivo, demandaram uma série de esforços que, de início, tinham como
objetivo prevenir e controlar tais eventos.
De acordo com Santos & Rodrigues (1997), essa primeira divisão das metodologias para
identificação de riscos é decorrente da escolha do objeto central de análise. Nesse sentido, Denton,
apud Santos & Rodrigues (1997), afirma que os métodos cujo enfoque recai sobre a segurança nos
locais de trabalho podem estar centrados no trabalho ou nos empregados, embora existam métodos
que tentem combinar essas duas propostas.
Os métodos centrados nos empregados postulam que um ambiente seguro pode ser criado e
mantido pelos mesmos, desde que eles sejam motivados a desempenharem as suas funções com
segurança. Para isso, algumas técnicas devem ser usadas, como a supervisão geral e o incentivo à
classe trabalhista. O incentivo pode ser obtido através de maior participação nas decisões relativas à
segurança; podem ser utilizados também os treinamentos em relações humanas, a associação da
segurança com emoções agradáveis ou recompensadoras, a melhoria da comunicação interna etc.
Essas ações visam a motivar os empregados a reconhecerem o seu meio ambiente e as suas reações
diante deste, com o objetivo de se precaverem e de se conduzirem de forma segura.
QUADRO 1: Métodos de investigação dos acidentes de trabalho
MÉTODO CARACTERÍSTICAS
COMPORTAMENTAL Utiliza o comportamento humano e suas avaliações giram em torno do
comportamento individual ou coletivo, possibilitando vários enfoques, dentre os
Quais destacam-se: a susceptibilidade do indivíduo aos acidentes; e a concepção
psicodinâmica, para a qual os acidentes podem ser iniciados por razões de
comportamento.
EPIDEMIOLÓGICO A ênfase recai sobre a procura das causas dos acidentes e, com esse intuito, são
percorridos os atos inseguros, as condições inseguras, as falhas humanas etc.,
colhendo-se dados estatísticos quanto à incidência, horário, local etc. Esse método
sugere múltipla causalidade e age primariamente como elemento de seleção.
SISTEMAS Para esse modelo o acidente seria causado pela produção anormal do sistema
homem-máquina e tem as suas causas individuais estudadas dentro do conjunto do
sistema trabalho, cujos fatores se entrelaçam e se auto-regulam. O sistema
completo de trabalho seria a execução da operação: indivíduo x material x tarefa x
ambiente.
Em relação aos métodos de abordagem centrados no trabalho, Santos & Rodrigues (1997)
dizem que os mesmos têm como ênfase a correção das deficiências nos locais de trabalho através da
engenharia. Nesses métodos, é comum o emprego de técnicas como a supervisão severa, incentivos
materiais, pecuniários ou a concessão de folgas. Também são usados treinamentos visando a
dotarem os trabalhadores dos conhecimentos necessários para o reconhecimento de riscos de
acidentes e para a operação correta dos equipamentos. Ainda, são empregados avisos e outras
formas de comunicação, mostrando e enfatizando os riscos de acidentes de trabalho e as suas
conseqüências. Conforme os autores citados, essa segunda abordagem tem como objetivo definir a
forma mais “segura” para se realizar um trabalho. Logo após, os trabalhadores são treinados de
acordo com definições estabelecidas, e um rígido controle é exercido sobre a obediência às normas
de segurança.
Quanto a métodos que procurem unir as duas vertentes citadas por Denton, encontra-se o
MEPHISTO (Metodologia para Estudo e Projetos em Higiene e Segurança do Trabalho). Nessa
metodologia, o estudo dos riscos é realizado através do levantamento de dados relativos às
condições ambientais e as suas relações com os meios naturais, sociais e técnicos que envolvem o
trabalhador e o relacionam com os demais agentes (o empregador e o restante dos funcionários) e
com os instrumentos de trabalho. As condições de vida do funcionário também são levantadas por
meio de entrevistas que abordam vários aspectos, inclusive a vida familiar.
Para Santos (1996), esse método permite tirar conclusões, tanto a respeito de como o
trabalho e as condições de vida podem predispor o funcionário a doenças e acidentes no trabalho,
como possibilita o diagnóstico dos pontos críticos, em nível de unidade e em nível de seção de
trabalho, apontando a ordem de prioridades para o encaminhamento da solução dos problemas
encontrados. Isso, levando em conta a possibilidade de implantação de soluções.
A filosofia de que os acidentes também poderiam gerar danos à propriedade (acidentes sem
lesões) foi introduzida por Heinrich, a partir de 1931. Nos estudos que realizou, Heinrich conseguiu
demonstrar que, para cada acidente com lesão incapacitante, havia 29 acidentes que produziam
lesões não incapacitantes (leves) e 300 acidentes sem lesões (De Cicco & Fantazzini, 1985).
Durante o período de 1959 a 1966, o engenheiro Frank Bird Jr. empreendeu uma pesquisa
na qual analisou mais de 90 mil acidentes ocorridos em uma empresa siderúrgica americana, e
atualizou a relação estabelecida por Heinrich, desenvolvendo a proporção 1:100:500. Ou seja, para
cada uma lesão incapacitante, existiam 100 lesões não incapacitantes e 500 acidentes com danos à
propriedade (De Cicco & Fantazzini, 1985).
Os dados obtidos permitiram que Bird desenvolvesse a sua teoria intitulada de “Controle de
Danos”. Um programa de Controle de Danos é aquele que requer a identificação, registro e
investigação de todos os acidentes com danos à propriedade, e a determinação do seu custo para a
empresa. Além disso, todas essas medidas deverão ser seguidas de ações preventivas (De Cicco &
Fantazzini, 1985).
Segundo Tavares (1996) e De Cicco & Fantazzini (1985), Bird ainda ampliou o seu
referencial de estudo analisando acidentes ocorridos em 297 empresas, as quais representavam 21
grupos de indústria diferentes, com um total de 1.750.000 operários que trabalharam mais de 3
bilhões de horas durante o período de exposição. Assim sendo, obteve a seguinte proporção:
1:10:30:600. Para cada acidente com lesão incapacitante, havia 10 acidentes com lesões leves, 30
acidentes com danos à propriedade e 600 acidentes sem lesão ou danos visíveis (quase-acidentes).
Estes dados podem ser melhor compreendidos observando-se a figura 1.
A partir de 1972, surge uma nova abordagem na questão de prevenção de perdas. Essa
abordagem, fundamentada nos trabalhos desenvolvidos por Willie Hammer, foi denominada de
Engenharia de Segurança de Sistemas e ampliou o escopo da atuação do prevencionismo, pois as
empresas passaram a ser visualizadas dentro de um enfoque sistêmico (De Cicco & Fantazzini,
1985).
Segundo Chiavenato (1999, p. 56), um sistema é caracterizado por ser “um conjunto
integrado de partes, íntima e dinamicamente relacionadas, que desenvolve uma atividade ou função
e é destinado a atingir um objetivo específico”. Todo sistema integra um sistema maior, chamado
supra-sistema, e é formado por sistemas menores ou subsistemas. Esse conceito mostra que as
empresas podem ser consideradas como um sistema social aberto, visto que interagem com o
ambiente externo. Nessa interação as empresas recebem insumos (inputs) e os transformam em bens
e/ou serviços, através das relações intra-organizacionais (ambiente interno), que são ofertados ao
mercado consumidor (outputs) e dele recebem informações (feedback) que vão influenciar o
comportamento geral do sistema.
Lesões leves
Lesões leves 10
Acid. c/ dano
29 100 à propriedade 30
Heinr
Bird
FIGURA 1: Comparação dos estudos realizados por Heinrich e Bird
FONTE: Tavares, 1996.
Essa visão sistêmica das organizações possibilitou que uma outra perspectiva fosse inserida
no prevencionismo, fazendo com que o mesmo passasse a contemplar os eventos ou fatos
antecessores á concretização dos acidentes, possibilitando que as ações preventivas adotadas pelas
empresas não fossem mais apenas baseadas em “tentativas e erros” ou em avaliações pós-fato das
causas que produziram o acidente. Isso permite evitar a formalização dos acidentes e,
conseqüentemente, a ocorrência de inúmeros prejuízos ao patrimônio empresarial, uma vez que o
mesmo fica resguardado de situações geradoras de efeitos indesejados. Deve-se considerar que os
eventos ou fatos antecessores são os “quase-acidentes” abordados por Bird, e que agora são
definidos como incidentes críticos. Trata-se, portanto, de uma situação ou condição com potencial
para provocar dano, mas que não o manifesta.
A importância do enfoque sobre os incidentes críticos encontra respaldo nos resultados das
pesquisas desenvolvidas sobre os mesmos, como a realizada em uma indústria manufatureira de
New Jersey. Suas conclusões mostram que os erros e as condições inseguras detectadas nos
“acidentes sem lesão” eram os mesmos que desencadeavam os acidentes com lesões. Também foi
apurado que os futuros acidentes com lesões e/ou danos materiais poderiam ser prenunciados
analisando-se os quase-acidentes. Deve-se observar, no entanto, que os incidentes críticos poderão
ocorrer várias vezes, antes que as variáveis envolvidas configurem as condições que levem ao
acidente em termos de danos materiais e/ou lesões (De Cicco & Fantazzini, 1985).
2. Técnicas para identificação de riscos
A Análise Preliminar de Riscos (APR), por sua vez, consiste em um estudo, durante a
concepção ou desenvolvimento prematuro de um novo sistema, com a finalidade de determinar os
riscos que poderão estar presentes em sua fase operacional. Esse procedimento é de suma
importância, principalmente nos casos em que o sistema a ser concebido não possui semelhança
com outros existentes.
Já a Análise de Modos de Falha e Efeitos (AMFE) permite analisar como podem falhar os
componentes de um equipamento ou sistema, estimar as taxas de falhas, determinar os efeitos que
poderão advir e, conseqüentemente, estabelecer as mudanças necessárias para aumentar a
probabilidade de que o sistema ou equipamento realmente funcione de maneira satisfatória.
Por último, a Árvore de Análise de Falhas (AAF). Essa é uma técnica de análise que permite
uma abordagem lógica e sistemática de um evento muito indesejado. Essa técnica pode fornecer a
probabilidade de ocorrência em estudo e gera os chamados “conjuntos mínimos catastróficos”, que
são falhas simultâneas, desencadeadoras de catástrofes. A AAF encontra sua melhor aplicação
1
“Análise de risco é o estudo detalhado de um objeto visando identificar perigos e avaliar os riscos
associados. O objeto pode ser organização, área, sistema, processo, atividade, intervenção”. Cardella (1999,
p.106).
diante de situações complexas devido à maneira sistemática na qual os vários fatores podem ser
apresentados.
Outros meios de identificação de riscos também merecem ser considerados, como por
exemplo, os citados por Cardella (1999) e observados no quadro a seguir:
Análise Comparativa compara o objeto de estudo com padrões estabelecidos em projeto. Seu objeto são os
sistemas, instalações e processos, em qualquer fase do ciclo de vida, e o foco recai
sobre os desvios em relação aos padrões.
FONTE: adaptado de Cardella (1999)
3. Considerações finais
Entre os recursos citados está conhecimento das ações prevencionistas cujo fundamento
está alicerçado nas várias metodologias que possibilitam a identificação de riscos. No entanto, como
afirmam De Cicco & Fantazzini (1985), não existe um método ótimo que permita uma total
identificação. Na prática, deve-se utilizar a combinação dos vários métodos existentes, para a
abrangência do maior número de informações possíveis sobre os riscos. Assim sendo, é
indispensável que o gestor conheça e operacionalize as várias técnicas disponíveis visando a correta
aplicação das mesmas no âmbito organizacional. Isto conforme as características possuídas pela
empresa e as variáveis que intervém sobre a mesma como: tamanho das instalações físicas, sistema
de produção utilizado, bens/ou serviços ofertado ao mercado, número de funcionários, relação com
o meio que a cerca (clientes, fornecedores, órgãos governamentais etc.) etc.
CARVALHO, Alberto Mibielli de. Métodos de investigação dos acidentes do trabalho. Revista
Brasileira de Saúde Ocupacional e Segurança. v.12, p.65-68. São Paulo: FUNDACENTRO, jul/set,
1984.
CHIAVENATO, Idalberto. Administração nos novos tempos. Rio de Janeiro: Campus, 1999.