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Giselle Cavalcante Queiroz (1), Virna Fernandes Távora Rocha (2), Ana Clara
Aparecida Alves de Souza (3).
(1) Faculdade Ateneu, Rua São Vicente de Paula, 300, Antônio Bezerra, Fortaleza,
Ceará – Brasil.
e-mail: gisellecqueiroz@gmail.com
(2) Instituto UFC Virtual, Campus do Pici - Bloco 901 - 1º andar - CEP 60455-760 -
Fortaleza – CE, (85) 3366 9457.
e-mail: virnaftr@gmail.com
(3) Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rua Washington Luís, 855 - Centro
Histórico, Porto Alegre – Rio Grande do Sul - Brasil, 51 3308-3536.
e-mail: clara.ufc@gmail.com
RESUMO
A Responsabilidade Social Universitária (RSU) deve estar na essência das instituições
de ensino superior, por serem considerados lócus para a busca de soluções, para a
superação dos desafios sociais e para responder às demandas da comunidade em seu
entorno (RIBEIRO, 2013). Segundo esse autor, isso significa que a RSU implica ensino
de qualidade, pesquisa científica ética, gestão responsável e extensão comprometida
com a superação dos problemas sociais. Neste trabalho, entende-se a extensão
universitária como um dos espaços importantes para a universidade exercer sua
responsabilidade com a comunidade em que está inserida. O presente estudo visa avaliar
como um projeto de extensão universitária contribui para atender necessidades que o
Estado não consegue suprir quanto à medicina preventiva. O projeto de extensão Saúde
em Movimento do Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Ceará
atua nesse contexto, atendendo residentes das comunidades situadas no entorno do
Campus do Pici. O projeto oferece serviço de acompanhamento de exercícios físicos a
moradores do bairro, contribuindo com a saúde destes. A medicina preventiva objetiva,
em princípio, melhorar a qualidade de vida das pessoas, por meio de ações de promoção
da saúde e prevenção de doenças e suas complicações (BANCHER, 2004). Para a
realização deste estudo, utilizou-se metodologia qualitativa, por meio de entrevistas com
os stakeholders do Projeto: estudantes, professores e moradores da comunidade
atendida. Os resultados destacam que o Projeto Saúde em Movimento apresenta-se
eficaz no atendimento à saúde, atenuando as dificuldades da comunidade beneficiada no
que diz respeito à medicina preventiva. Quanto aos estudantes atuantes no Projeto,
destaca-se a possibilidade de aprendizado prático dos saberes adquiridos na
Universidade. Verificou-se que houve um estreitamento da relação universidade-
comunidade no contexto destacado. O estudo contribui para fortalecer o reconhecimento
da extensão como segmento essencial para o exercício da responsabilidade social
universitária.
ABSTRACT
The University Social Responsibility (USR) must be at the core of higher education
institutions, because they are considered locus in the search for solutions to overcome
social challenges and to respond to community demands in their surroundings
(RIBEIRO, 2013). According to him, it means that the USR implies in quality education,
scientific research ethics, responsible management and extension committed to
overcoming social problems. In this paper, university extension is understood as one of
the important areas for the university to exercise its responsibility to the community in
which operates. This study aims to evaluate how a university extension project
contributes to meet needs that the State can not supply such as preventive medicine. The
extension project Saúde em Movimento from the Physical Education Department of the
Federal University of Ceará acts in this context, assisting residents of communities
located around the Pici campus. The project offers monitoring exercise service to the
neighbourhood residents, contributing to their health. The objective of preventive
medicine is, in principle, to improve life quality through promoting health, preventing
diseases and their complications (BANCHER, 2004). For this study, we used qualitative
methodology, through interviews with Project stakeholders: students, teachers and
residents of the community served. The results highlight that Saúde em Movimentois
effective in health caring, reducing the community's difficulties regarding preventive
medicine. As for the students working in the project, there is the possibility for them of
learning practically the knowledge acquired at the University. It was found that there
was a narrowing of university-community relationship in the context. The study
contributes to strengthen the recognition of extension as a key segment in the exercise
of university social responsibility.
O objetivo da presente pesquisa foi identificar os benefícios gerados pelo Projeto Saúde
em Movimento para stakeholders envolvidos na sua execução.
O estudo está dividido em sete seções a começar por essa introdução, seguida pelo
referencial teórico no qual as categorias Responsabilidade Social Universitária e
Medicina Preventiva são abordadas de maneira mais detalhada. A seção três apresenta
os caminhos metodológicos definidos para a condução do estudo, seguida pela seção
quatro que apresenta o projeto de extensão estudado. A seção cinco detalha a análise
realizada e os resultados alcançados. Conclui-se com as considerações finais do estudo.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Bacigalupo (2008) propõe que as universidades devem instituir a RSU em dois níveis de
impacto: institucional e social. Para a autora, a gestão da RSU deve relacionar-se com as
decisões administrativas que têm impacto no ambiente interno (impacto institucional) e
no ambiente externo, referente ao impacto social do ensino e da pesquisa na sociedade
de forma geral.
A ligação entre uma universidade e a sociedade pode ser implementada, como indicado
por Bacigalupo (2008), por meio da análise e aplicação de projetos inovadores, da
prática de pesquisas aplicadas, e do envolvimento entre professores e alunos para
solucionar problemas reais da sociedade. Assim, a RSU promove o trabalho
interdisciplinar entre professores e alunos por meio da articulação entre ensino, pesquisa
e demandas sociais reais.
Diante disso, o poder público preocupa-se com os custos assistenciais devidos essas
doenças crônicas e degenerativas, cujos tratamentos são caros e longos (ARAÚJO;
ARAÚJO, 2000). Santos e Westphal (1999) afirmam que há alguns anos a visão da
saúde passou da mera ausência da doença para a noção de bem-estar físico e mental.
Têm-se modificado a prática sanitária, passando-se da antiga – curativista – para a atual
– a vigilância da saúde (SANTOS; WESTPHAL, 1999). Tal vigilância requerida pela
medicina preventiva é sinônimo de promoção da saúde (HESPANHOL; COUTO;
MARTINS, 2008). Programas de promoção à saúde servem como catalisadores de
comportamentos saudáveis, estimulando outras mudanças (ARAÚJO; ARAÚJO, 2000).
Considera-se a prática das atividades físicas como uma das maiores conquistas da saúde
pública, entendendo-se a saúde pública como a ciência e a arte de evitar doenças,
prolongar a vida e desenvolver a boa disposição física e mental dos seres humanos
(FERREIRA et al., 2012).
A longevidade com qualidade de vida parece estar também relacionada com a prática
regular de atividade física durante a vida. Poucas são as pessoas que praticam algum
tipo de atividade física regular, apesar das campanhas. Por esse motivo, o risco
populacional atribuído à inatividade é elevado e apresenta-se como um sério problema
de saúde pública (AMARAL; POMATTI; FORTES, 2007).
Considera-se que a prática de qualquer atividade e não apenas a física constitui um meio
de manter e/ou melhorar a capacidade funcional. Além disso, é capaz de possibilitar
uma maior inserção na comunidade, através do fortalecimento de vínculos familiares, de
amizade, de lazer e sociais, promovendo mudanças na vida cotidiana, como busca de
melhoria da qualidade de vida (FERREIRA et al., 2012).
3 METODOLOGIA
A apresentação das falas dos entrevistados é feita sem revelar os seus nomes. Através
dos relatos, buscou-se ilustrar os benefícios e desafios vivenciados pelos envolvidos.
Destaca-se que alguns hospitais que possuem equipes do Programa do Governo Federal
“Saúde da Família”, encaminham novas pessoas para as atividades desenvolvidas no
PSM. Há ainda uma parceria com os postos de saúde de Fortaleza, assim, são
encaminhados protocolos e fichas de cadastramento através dos quais qualquer paciente,
de qualquer posto da Capital, pode ser encaminhado por médicos para ter o
acompanhamento de medicina preventiva e atividade física do PSM.
As inscrições para novos alunos estão sempre abertas, são gratuitas e podem ser
realizadas no Centro Esportivo do Campus do Pici da UFC. Pede-se que os interessados
consultem um médico antes e façam um check-up.
5 ANÁLISE E RESULTADOS
A partir dos dados coletados através de entrevistas e estudos realizados pelo Projeto
Saúde e Movimento, é possível destacar de que forma os atores envolvidos são
beneficiados pelas atividades desenvolvidas. A análise buscou identificar elementos que
evidenciassem os benefícios das parcerias estabelecidas para os stakeholders do Projeto.
O projeto acontece três vezes por semana e cumpre uma rotina: realização do cálculo de
frequência cardíaca; início da sessão de atividades, que tem uma duração média de 50
minutos; posteriormente fazem um aquecimento de dez minutos na pista de atletismo ou
no campo de futebol; então começam a caminhar e buscam atingir o seu ritmo nos 10
primeiros minutos, tendo que mantê-lo por mais 20 minutos, caminhando ou correndo;
eles medem a frequência cardíaca três vezes ao longo da prática; os beneficiados
seguem para a sala de ginástica localizada para fazer alongamento e relaxamento; e,
finalmente, medem a pressão pela última vez e anotam na carteirinha que possui o
registro diário dessas mensurações.
O coordenador destaca que, entre as principais doenças dos pacientes que frequentam o
PSM estão: Acidente Vascular Cerebral (AVC), doença cardiovascular, hipertensão,
diabetes e obesidade. Os casos mais graves recebem acompanhamento especial. Se a
dependência física for muito grande, os profissionais ligados ao Programa fazem uma
avaliação e encaminham para um projeto existente no curso de Fisioterapia, para que a
pessoa se recupere e só então possa integrar o PSM com os demais.
Um ponto relevante destacado pelo Coordenador do PSM trata das questões éticas. Os
alunos bolsistas envolvidos nas atividades são cobrados em relação à “responsabilidade
ética”, em relação ao cumprimento dos horários e ao atendimento aos beneficiados. Essa
relação próxima e atenta dos alunos cria vínculos importantes com os beneficiados, fato
que facilita os trabalhos realizados e promove uma maior integração.
Os pacientes ficam muitos vinculados ao programa. A ideia inicial era que
eles fossem para o projeto aprender a se controlar, aprender a medir a pressão
arterial, aprender sobre o aquecimento antes da corrida, aprender o quanto
deve se fazer de corrida, receber orientações sobre nutrição e dieta. O
Programa não conta apenas com exercícios, uma vez por mês eles frequentam
palestras sobre saúde e qualidade de vida. A ideia é que eles frequentassem
seis meses e depois passassem a fazer os exercícios perto de casa, nas praças,
mas eles ficam muito dependentes do projeto (Coordenador do PSM, 2015).
Conforme o Coordenador, o projeto oferece um bom retorno, pois afirma que em torno
de 95% dos beneficiados não fariam exercícios sozinhos, não teriam condições de pagar
uma academia ou de pagar uma clínica de reabilitação. Destaca que os pacientes levam
para os médicos informações sobre melhoria da saúde por conta da participação no
Projeto.
Como a gente está lidando com um público específico, tem todo um cuidado
na hora de falar, de tratar. A gente aprende a dar bom dia, a ser solícito cedo
da manhã. Fora o conhecimento adquirido ao por em prática o conhecimento
adquirido em sala de aula. Atividades adequadas para cada pessoa, que
articulação a gente está priorizando, cuidados com saúde, além do social, o
projeto tem o lado social também.
Sobre a relação com os alunos de educação física, a “Beneficiada G” afirma que “eles
estão de parabéns pelo carinho, pela educação que eles têm com a gente, a boa vontade.
Eles não são mal humorados. Eles são pessoas que ensinam a gente”. Os “Beneficiados
D, E e F” indicam que a relação entre professores, alunos e beneficiados é muito boa.
Essas percepções corroboram com as análises dos estudantes do projeto.
Pontuou que alguns aparelhos de pressão foram comprados pelo próprio professor
coordenador, pois é difícil fazer essa compra pela Universidade. Sem esses aparelhos o
projeto não poderia iniciar. Ainda há bastante dependência dos recursos disponíveis nas
áreas parceiras do Programa, como Medicina e Farmácia. A pouca estrutura disponível
nas instalações do PSM não permite realizar procedimentos básicos, como coleta de
sangue e testes de força. Mesmo diante de tais desafios, o Coordenador do PSM acredita
que há boas perspectivas para dar seguimento ao Programa no futuro.
Por outro lado, a “Beneficiada I” indica que a sala onde fazem alongamento deveria ser
maior. O “Beneficiado B” destaca que aguarda a instalação de uma sala de musculação
para os beneficiados, pois a que existe é apenas para os alunos da UFC. Acredita que a
sala de musculação ajudaria a melhorar as atividades. O “Beneficiado A” destaca a
necessidade de melhoria na infraestrutura e uma possível ampliação nos horários
oferecidos.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por suprir uma carência relacionada à saúde, as atividades oferecidas no PSM atenuam
os efeitos do sedentarismo, da obesidade e de muitos dos beneficiados, que em sua
maioria estão na terceira idade. Através das orientações, os beneficiados passam a
conhecer melhor o funcionamento de seus corpos e aprendem a controlar o peso, a
medir a pressão arterial e reconhecer a importância da atividade física frequente para
manutenção da saúde, contribuindo para viver a terceira idade com mais qualidade de
vida.
Como limitações do presente estudo, pode-se apontar o estudo de caso único, fato que
limita a análise e impede generalizações; e o tempo reduzido de cada entrevista
realizada, devido à pouca disponibilidade dos respondentes. Para pesquisas futuras,
aconselha-se a exploração de dados quantitativos que possam evidenciar melhor o
alcance do Programa e o seu impacto nas comunidades atendidas.
O artigo busca contribuir para a difusão de iniciativas de extensão universitária que têm
um impacto significativo na comunidade e revelam o real papel da universidade
enquanto ator também responsável pelo bem estar social.
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