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CICERO Livro Priueiro I. Sem 0 amor patrio) nao teriam Duilio, 1 Atilio2 e Me. telo # Hbertado Roma do terror de Cartago; sem ele, nio te- riam os dois Cipides apagado o incéndio da segunda guerra ptinica, e, quando seu ineremento foi ainda maior, nao o teria debilitado Quinto Méximo,4 nem extinguido M. Mar- celo,§ nem impelido P, Africano’s as préprias muralhas ini- tendo cafdo em poder dos cartagineses, fot por 4. Quinto Piblo Méximo, oognominado 0 Cunctator (o Contem- porizader), soube, com sua tatica prudente, sustar os progressos de ‘Anibal. 5. Marco Cléudio Marcelo, que, durante a segunda guerra pi Cipitio me Africano, foi 0 destruidor de Cartago no ano 146 aC. x etree migas. Certamente Cato,” homem cuja familia era desco. nhecida e de quem, ndo obstante, todos os que estudam as mesmas verdades invejam a gloria que aleangou com sua virtude e trabalho, podia ser Iicito deleitar-se ociosamente No saudivel e préximo sitio de Tusculo.8 Mas o homem | Yeemente prefere, embora seja chamado de louco e a neces. idade nao © obrigue, arrostar as tempestades puiblicas en. teiro © na trangiiilidade. Deixo de nomear os imimeros | vardes que saivaram a Reptiblica, e passo em siléncio aque- Jes de quem se conserva recente memoria, temeroso de sus. cltar queixas com a omissio de algum. Atirmarei, sim, que tamanha ¢ a necessidade de virtude que o género humano experimenta por natureza, tio grande o amor & defesa da |saude comum, que essa forga triunfa sempre sobre 0 dcio |e 8 voluptuosidade, Mas nfo ¢ bastante ter uma arte qualquer sem pré- ‘Uma arte qualquer, pelo menos, mesmo quando nao jue, pode ser considerada como ciéncia; mas a vir. se *f tude afirmase por completo na pritios, e seu melhor Weo consiste ¢m governar a Republica e converter em obras as Palavras que se ouvem nas escolas. Nada se diz, entre og fildsofos, que seja reputado como séo e honesto, que ndo © tenham contirmado ¢ exposto aqueles pelos quais se pres. ereve 0 direito da Republica. De onde procede a piedade? De quem a religiiio? De onde o direito das gentes? Eo que se chama civil, de onde? De onde a justiga, a £8, a equlidade, © pudor, a continéncia, 0 horror ao que é infame e o amor ao ue ¢ louvivel e honesto? De onde a fora nos trabalhos ¢ origos? Daqueles que, informando esses principios pela edu. cacao, 0s confirmaram pelos co-tumes e os sancionaram com as leis. Perguntando-se a Xendcrates,9 fil6sofo insigne, Gue conseguiam seus discipulos, respondeu: “Fazer esponta’ eamente 0 que se Ihes obrigarla a fazer pelas leis”. Logo, 0. cidadio.que obriga todos os outros, com as penas o ¢ CImpério da lei, as mesmas coisas a que a poucos perstia. 7. Gatéo, © antigo ou © Censor, eéiere pola austeridade do sells principios e ao qual se atribul a frase famosa: Delenda Cartha. 0! (Destmisse, Carts got" Anta cidade. do. Leto lst grego, discioulo de Platdo, enjas doutrinas so foryou por conciliar com os de Pitégoras, ‘a DA REPOBLICA “a discursos dos filsofos, 6 preferivel aos préprios oes re, lor gue so Posse aepoe = une boa, oramieeto do, Es | tado, do direito e dos costumes? Assim, julgo prefori as cidades magnas e¢ dominadoras, como as “denomina Enio,10 aos castelos e pracas fortes; creio, igualmen- te, que aos que governam a Reptiblica com ‘sua autori- dade se deve antepor a(abedoria dos peritos em negéclos piblicos. J4 que nos inclinamos a aumentar a es hhumanidade; j4 que para isso se encaminham nossos est dos e trabalhos, estimulados pela prdpria natureza, e mais, para tomar mals poderosa @ opulenta a vida do homens, sigamos 0 caminho que os melhores ecpipeate, x escutemos as vozes e sinais que nos chamam por detrés © ‘a que OS nossos predecessores fecharam 0s ouvidos. |. A essas razdes téo certas e evidentes se opdem, extro 0s que argunentam em contréri em primelro liga, os trabalhos que acarreta a defesa da Reptiblica, impedi- mento insignificante para o homem ativo e vigilanie, ¢ des prezivel nado s6 em coisa de tanta importéncia como am bém mas de menos interesse, nos estudos, nos assuntos comuns e nos negécios ordindrios. Acrescenta-se © perigo Ge perder a vida; opdese o temor & morte, torpe ¢ vergo- nhoso para o vardo integro, habituado a considerar que ‘ miserével consumir-se pela natureza e pela sennahide. 2 0 | que dar valorosamente 4 pétria, num momento determina- de, © que coo ou tae tert de devolvr B naturess, esse lugar que se julgam fortes e vitoriosos os versdtios, a0 alogurom as. ingratidoes e injustigns sofrdas pelos mais preclaros vardes, Aqui apresentam exemplos to- mados dos gregos: Milciades, 11 dominador e vencedor dos persas, ndo curado ainda dos ferimentos que recebera lu. tando corpo-a-corpo em preclara vitéria, perdeu a vida, que salvara das armas inimigas, nas masmorras da cidade; e "Temistocles 12 proscrito da patria que lhe devolvia a liber- To, Um. dos mais anfigos poctes latinos, greg0 de nascimento Sarai etenlnse, vecedar dos perses na balan de Ma istides. Acusado de pe T2. General ateniense, adversario de, Aristides. ceulato, fol exilado e retirouse para e Pérsia, onde morreu. ¥ Graco. CICERO no nos portos da Grécia por ele sal- bérbaros que em outros tempos hostili. certamente, poucos os exemplos da volubi- ide dos atenienses para com seus mais(pre- Um dos membros’ da famflia Popétta. HN Opimio Nepote, consul quo provocou a morte de Caio Caio Mirio, consul romano, vencedor dos Cimbros, rival de DA REPUBLICA 8 no vacilaria em arrostar as maiores tormentas eas prd- prias inundagées fluviais pela conservacio dos cidadaos, julgando sacrificer meu_bem-estar em arras da tranqlilli- ‘dade comum, A pétria nfio nos gerou nem educou sem es- peranga de recompensa de nossa parte, e 86 para nossa co.) modidade e para procurar retiro pacifico para a nossa in. | ciria e lugar trangtiilo para 0 nosso dcio, mas para apro- veitar, em sua propria utilidade, as mais mumerosas e me- | \\ Ihores faculdades das nossas almas, do nosso engenho, dei. xando somente 0 que a ela possa sobrar para nosso uso | privado, | V. Na verdade, néo devemos ouvir os subterfiigios ‘que empregam os que pretendem gozar facilmente de uma vida ociosa, embora digam que acarreta miséria e perigo au- xiliar a Reptiblica, rodeada de pessoas incapazes de reali- zar 0 bem, com as quais a comparago é humilhante, em eujo combate ha risco, prineipalmente diante da multidéo Tevoltada, pelo que ndo 6 prudente tomar as rédeas quan- do nio se podem conter os {mpetos desordenados do po- pulacho, nem 6 generoso expor-se, na luta com adversd- ios impuros, a injirias ou ultrajes que a sensatez nfo to- era; como se 0s homens de grande virtude, animosos e dotados de espirito vigoroso, pudessem ambicionar 0 po. der com um objetivo mais legitimo que o de sacudir 0 ju- go dos maus, que um dia ‘os homens honestos poderiam desejar, mas entio inutilmente, erguer de suas ruinas. VI. Quem pode demonstrar a isengio que nega ao sdbio toda participacéo dos negdcios putblicos, exceto nos casos em que 0 tempo ou @ necessidade o obrigue? A quem pode sobrevir maior necessidade do que a mim, na qual nada teria podido fazer, mesmo néo sendo cdnsul? Como ‘© poderia eu ter sido sem ter feito esta carreira desde a minha infancia, pela qual teria de chegar, de cavaleiro, a esta suprema honra? Néo esté em nossas mios servir a | Republica quando a vontade 0 ordena e de improviso, mes- |) mo quando ela corra grave risco, se néo nos tivermos co- | Jocado antes em condig6es favordveis. H, em geral, o qu mais estranho nos discursos dos sdbios 6 que os que ne- gam ser possivel governar uma nave num mar trangiiilo, porque munca procuraram saber fazéo, se julguem ca- i cICERO a © conhecimento’ dos negécios Spublicos sem se preparar even! para qualquer eventualidade ‘esconhecendo 0 que pode ocorrer. ® se fe, om nada se aproxima tanto humano do divino oie ar Como 90 fundar novas nagdes ou con. YH, Peo ae m ae consegui at. trar felicidade pera enol on oy fier dos lébios de P. Rutilio Rufo,19 em Esmirna, que nos re- feriu uma controvérsia de muitos dias, e na qual julgo nio estar omitindo ponto algum de interesse que se possa Te- lacionar com este grande assunto. TX. Sendo consules Tuditano,20 Aguflio,21 P. Cipiao, 0 Africano, filho de Paulo,22 decidiu passar as férias la- quem Cipiéo viu com alegria e perguntou: — Como, tu por aqui tio cedo, Tuberéo? Estas férias davam-te ocasifo oportuna para te entregares aos teus es- tds, — Tenho muito tempo — respondeu — para me ocu- par com meus livros, que estio sempre abandonados; mas fa ti é mais dificil ficar ocioso, ¢ muito mais em tempo de comogées puiblicas, — De onde se conclui — replicou Cipifio — nha ociosidade mais revela falta de negécios do animo, Ao que disse Tuberdo: — Verdadeiramente proveitoso te seria menos &nimo @ mais descanso, porque somos muitos os que resolvemos abusar de teu écio, se isto nao te incomoda. — Consinto nisso, e assim nfo deixaremos de adgui- ‘rir algum novo conhecimento. X. Queres, pois, jé que me dis confianga, e de certo Paulo: Comnéiio Cipifio, pai do Africano, 2. Sobrinho de Cipiio, © Atrieano. i cicero tanta como o afi de procurar para esse fato uma explica- go. Disse, entio, Cipiio: — Como sinto falta da presenga de Panécio,24 que es- tida com verdadeiro interesse, entre outras coisas, esses ‘maravilhosos fenomenos celestes! Por minha parte, Tube. Blo, se devo dizerte o que sinto, nfio posso assentir no que ele afirma como se visse e tocasse coisas das quais ‘apenas podemos formar vagas hipéteses; por isso, costu- mo julgar mais sdbio a Sdcrates,25 que prescinds dessa euriosidade nunca satisfeita, por se tratar de coisas sups- riores & razio humana, ou talvez indiferentes & vida do homem, — Ignoro, Africano — disse Tuberfio — por que se conserva @ memoria de que Sdcrates desprezava esse gé- nero de discussdes, para s6 procurar indagar tudo quanto Se refere aos costumes da vida. Que autor podemos encon! trar que a ele se refira, de mais autoridade que Platio? 26 ‘Em seus livros e em miuitas passagens, a linguagem de Sd- crates € tal que, mesmo discutindo a respeito dos cost, mes, das virtudes e até da Reptblica, mistura os mimeros, & seometria © @ harmonia, seguindo exemplo de Pitdgo- ras. Cipitio replicou: — # assim como dizes; mas creio ter ouvido de ti, Tu: berfio, que, uma vez morto Sdorates, Platéo transladouse Primeiro para o Egito, pelo desejo de saber, depois para a Iiflia e para a Sicilia. a fim de estudar Pitégoras; quo to. Ve ocasitio de discorrer com Arquitas,28 ‘Terentino 20 6 2%, Personagem desconhoctda. doutrinas Platio expe nos wentude, ‘Séorates fol ‘cone. Aiscipulo de Sécrates © mestre existéncia problemétlca, rloos, n DA REPUBLICA ‘com Timeu, 39 que recolheu os comentérios de Filolau3! ace ea ia que tudo favorecesse sua doutrina, uniu o en! a futileas da elogieneia socritia & profundidade © obseur dade de Pitégoras, . XI, Nem bem Cipitio disse isso, viu aproximarse L. Purio® e, saudando-o amistosamente, atraiu-o e colocouo fa seu lado. E como visse também P. Rutilio, que é 0 autor desta, narragio, depois de saudé-lo, convidou.o a sentar-se perto de Tuberio, Entéo, Purio: — Que discutis? — disse — Pusemos fim a0 vosso dis logo? — Nilo, de, modo slgum — respondew 9 Afriano, — to que com freqiiéncia investigas com interesse as ques. ees do género das que propos Tuberio ha breves instan- tes, e Rutilio tampouco deixava, comigo, de se ocupar al gumas vezes com elas, no sitio de Numancia. — Qual era a matéria da discussio? — perguntou Fi. a0. 38, — Os dois sis que dizem ter visto, e a respeito dos quais ele deseja, Filo, conhecer a tua opiniso. de dar alguns passos no pértico, saudou o recém-vindo Lé. Uo e seus companheiros Esptirio Mumio,%5 seu amigo pre ‘30, Fildsofo pitagérico, ao qual Plato dedica um dos seus Did: logos. 31. Fildsofo pitagérico. ileto, C. Fanio 36 e Quinto Cévola, 37 genros de Lélio @ jo vens instruidos, ja na idade de poderem ser questores; de- Pols de saudar todos, voltou ao portico, colocando Lélio no meio, como lhe concedendo um direito de preferéncia a sua amizade para com eles pela adoragao que este pro- fessava nos campos ao vencedor da Africa, que obrigava Oipido a homenagedlo na cidade pela sua superioridade em anos. Tendo-se dirigido mutuamente a palavra, Cipiéo, @ quem era grata a presenga dos amigos, quis que estes re. Pousassem no lugar do jardim que o sol mais banhava com Sous raios, porque era, do ano, a estagdo de inverno; e, a0 fazélo, apareceu um vardo muito ilustrado e querido por todos, M. Manilio, 38 que, depois de saudar Cipiio e os ou tros amigos, sentouse ao lado de Lélio, XIII. Filo disse entdo: — Nio creio que a presenca dos recém-vindos deva for- carnos @ procurar diferente assunto de controvérsia, mas tratélo com mais calma e dizer alguma coisa digna dos que nos escutam, — De que trataveis, ou qual era a conversagéio por nds interrompida? — perguntou Lélio, Filo respondeu: — Cipliio me perguntava qual o meu parecer sobre os dois sdis, cuje aparicio se testemunha geralmente, — E id sabemos, Filio, tudo o que concerne as nos- sas casas © & Reptiblica, para nos ocuparmos do que acon. tece no céu? — Pensas — replicou este — que nio interessa aos hossos lares saber 0 que acontece no imenso domicilio, que néio € o encerrado entre nossas paredes, mas o mun. do todo, que os deuses nos deram como albergue e patria, \fazendo.os nisto seus participes? Além do que, se ignoramos 37, Descendente de Mticio Quinto Cévola (0 Canholo), 0 jo fem romano que, depois de se ter introduzido no acampamento Le Worwena pera maté-lo e tendo assessinado 0 secretdrio Go Tel jul, que s0 tratasse de Porsena, foi conduzido & presence daste como para eastigar o seu engeno, quelmou a mo diteite um brasoiro. 9, Autor ce um pooma sobre astronomia, DA REPOBLICA a iss mos de ignorar também muitas e grandes coisas. io, troes de ores, aden ml tocen oi 0s vidos de sabedoria, a consideracio e 0 conhecimento dessas coisas me deleitam, Lélio respondeu: — Néo © nego, e menos ainda em tempo de férias; | mas poderemos ainda ouvir algo, ou viemos tarde’ — Nada esté ainda discutido e, estando a questo in. tegra, com prazer te concedo a palavra para que exponhas a Tespeito o teu julgamento. — Escutemoste primeiro, a menos que Manflio pre. tira resolver © litigio entre ambos os s6is, dando a ambos @ possessiio do céu. — Zombas — disse Manilio — da jurisprudéncia que me honro em conhecer, sem a qual quem distinguiria o seu do alheio? Mas deixemos essa questo ¢ escutemos Fi- 10, que mafores dificuldades tem resolvido do que as que no presente nos preocupa, P. Muicio ¢ eu. XIV. Filo: Nada de novo direi por mim descoberto ou pensado; néo posso diquecer que C. Sulpicio Galo, 39 hhomem sabio e douto, conforme se afirma universalmen. te, ouvindo falar de um caso semelhante em casa de M. Mar- elo, que fora cOnsul com ele, mandou que Ihe trouxessem © globo celeste que o avd de Marcelo tomara, no sitio de Si- racusa, daquela cidade magnifiea e opulenta, sem tirar de to abundante conquista outro despojo; eu ouvira falar dessa esfera a propésito da gléria e do renome de Arqui- medes, 40 e me admiraria se nfio soubesse que existia ou- tra mais notével, construida pelo prdprio Arquimedes ¢ Jevada por Marcelo ao templo da virtude. Mas de- pois, quando Galo comecou a explicéla com sua gran- de fabedoria, achei que o siciliano tinha mais génio do que a natureza humana parecia permitir. Galo di- zia que a outra esfera sdlida e maciga era invengéo antiga, posto que o primeiro modelo se devia a Tales de Mileto, 41 41. Fil6sofo grego da escola jénica, autor de uma Cosmologia 2 CICERO — Mas como — perguntou Tubera iberio — Jes homens incultos e nada cientificos esas Cipidéo: 1to 6 certo. i i Balavras improprias de uni homens sen’, Osenteeto, nem ensinar aque. uesties? homem séria e digno for: ram. as lguém propor.se do que afastar los 0 terror supersticioso., Suas, Nada melhor podia al Maqueles homens perturbad: $2, Astronomo grogo, a quem We str Boral, H-* ew at 8 vst ao que Poets 0. at 7 Oe Fortney ctt™o0m erego, autor de um poeta cdlebre so TM, Palco Pika, DA REPUBLICA 1 XVI. E nio foi de outro modo, na grande guerra que sustentaram 0s atenienies e os lacedeménios, que Péri- cles, 45 principe, na sua cidade, da autoridade, da prudén- cia e da elogtiéncia, assim que escureceu 0 sol, as trevas repentinamente se fizerem e 0 recelo assaltou 0 espirito dos atenienses, ensinou aos seus concidadios, diz-se, 0 que ele mesmo aprendera de Anaxagoras, 46 a quem ouvira, is- to 6, que, em periodos de tempo necessdrios e regulares. quando toda a lua se encontrasse sobre 0 sol, sucederia © mesmo em alguns meses, se bem que nfio em todos. E como, 20 discutir, demonstrasse com razdes 0 que afirma- va, livrou seu povo do terro; no entanto, por esse tempo, era, nova e ignorada a razio do escurecimento do sol pela in- terposigio da lua, razo que, segundo se assegura, foi Te. les 0 primeiro que descobrit. Nao escapou, depois, @ pe- netrag&io do nosso %inio, que escreveu pelo ano 350 da fun- dac&o de Roma: “Em as nonas de junho; a lua posse dian. te do sol, e (se fez) noite”; e foi tal nessa matéria 0 aper- feicoamento que, a partir desse dia cuja data vemos con. signada_nos_versos de Enio e nos anais méximos, repute- ram-sé.naturais os eclipses anteriores 20 que se verificou nas nonas de junho, no reino de Rémulo, 47 eclipse este que det lugar, com sua escuridio, a que se julgasse devi. do a um fato’prodigioso, XVII. Tuberdo ditse entéo: — Nao vés, Africano, como esta cigncia, que antes te parecia insignificante, deve ensi- nar-se?... Que se pode ensinar que parega grande eos hu- manos © a0 que penetra o dominio dos deuses? Que pode existir de duradouro para quem conhece o eterno? Que ha- veré de glorioso para quem vé quio pequena é a ter- ra em toda a sua extensio e na sua parte habitada, quio insignificante € 0 sitio que coupamos para esperar que, des te ponto, ignorado de muitissimos povos, poder nosso no- me voar, longe, nas asas da gloria? Certamente, para aque- Je que nem os gados, nem os edificios, nem o dinheiro con- sidera como verdadeira riqueza, pouco valem todas as coi. sas deste mundo, cujo desfruto 6, na sua opinifio, limitado, 45. Célebte orador ¢ estadista ateniense. 46. Filésofo grego, considerada como o fundader do teismo tios6fioo, =e 4. Lendério tundador e primeiro rei de Roma, n CICERO peg 80 Redueno, incerto o dominio, sem contar que, as ye. faaia, qe mines estava men indo contrava solitério — jemeretace oad somente esse € feliz! , due Dionisio, 4° quando erdade de seus stiditos, fez algo mie © 8 uma costa deser. ue nos outros fazia surgir a igno. W@W irano de Siracuse, que expulsou os cartaginsos da Siotia, DA REPUBLICA 2B sénela do sitio, viu, segundo se diz, figuras geométricas de- senhadas na areia, e, com Animo sereno, exclamou: — Ve- de, pois, vestigios de homem. — Interpretou assim, nfo o cultivo dos campos, mas os indicios da ciéncia. E por isso, Tuberfio, agradaramme sempre as ciénclas, os sdbios 6 os teus proprios estudos. XVIII, Entéo Lélio: Nio me atrevo — disse — a acreseentar a isso coisa alguma, Cipidio; porque nem a ti, uem a Filo, nem a Manilio... Tivemos na familia de TuberSo um amigo digno de servirlhe de modelo: “Elo Sexto, 4? homem realmente sen- sato ¢ de coragéo reto”; que de fato assim o fora, também Enio o afirma, no pelo fato dele procurar aquilo que ja- mais descobrirla, mas porque dava aos que o consultavam Tespostas que 0 libertavam das preocupagées e dificulda- des, Disputando contra os estudos de Galo, tinha sempre | nos Idbios frases que, na Ifigénia, 60 pronuncia Aquile: “Os astrénomos estudam os movimentos no céu, loca- lizam 0 Jupiter, a Cabra, 0 Escorpiio e outros nomes de animais; nem sequer conseguem ver 0 que estd sob seus proprios pés e querem perserutar 0 espago celeste”. — Costumava dizer também, ¢ disso sou testemunha, por 0 ter ouvido mais de uma vez com prazer e atencao, que 0 neto de Paciivio 62 odiava muito a ciéncia e o delei. tava mais o Neoptdlemo 63 de Yio, que opinava ser bom filosofar, embora ndo muito. Pelo que, se os estudos dos gregos tanto vos deleitam, nem por isso deixa de haver ou- tros melhores e mais livres latinos, que j4 aos usos da vi- | da, J& a0s negdetos da Reptiblica podemos aplicar. Quanto as ciéncias abstratas, se tém alguma utilidade, consiste es- ) ta em preparar a infancia para discernir coisas mais im. portantes XIX, Tuberdo: Nao dissinto de tua opinigo, Lélio; mas Gizeme quais séo as coisas que consideras de maior im. portancia, 48. Targiiinio Sexto. 50, Tragédia de Euripedes. 51. Herdi londério, que so distinguiu me guerra de Txéia. 52, Poeta dramético latino, contemporineo de Ciplio, 0 Afri cano, 38, Filho de Aquiles CICERO ete ela aparico de um duplo sol, e ne inda; bea a pee me hoje tem uma sO Republica, dois hone a tar mut 6 Rp, al fir ps eli? Be fe bn 0s ri lo, §7 continuam, apesar da morte de seus di fe cnintendo i dota: XX. Miicio disse: ie ite mos aprender para See eed ois, Lelio, que deva- Bs rma ere om FP, mem tte em Hag a i ce. a efes co partido arist Roma. ba a a See remem a a DA REPUBLICA 25 yeitosos a0 Estado, supliquemos, pois, a Cipiio que nos ex. ponha qual 6, a seu ver, a melhor forma de governo; exa minaremos, depois, outras questoes que, uma vez resolvi das, nos terao de levar & que nos oferece hoje o estado de Roma, dando.nos, ademais, a possibilidade de uma soli go favordvel. XXI. Filio, Manilio e Mucio aprovaram a idéia. — Insi isso — disse Lélio — porque me pareceu justo que o primeiro cidadio de Roma falasse antes de ou- trem @ respeito de uma questio politica, e tambérn por- que me lembro de que costumavas discutlr com Panéclo @-na presenca de Polibio,® ambos gregos muito versados ) na politica, e que demonstravas, com grande numero de | detalhes e raciocinios, a exceléncia da constituigéo de nos- fos antepassados. Preparado, como estas, no assunto, far- | nos-4s grande mercé desenvolvendo e expondo teu pensa. | mento a respelto da Republica, : XXII. Entéo, Cipiao respondeu: Nunca um assunto de meditagio, Lélio, me absorveu tanto o entendimento como 0 que neste instante me propdes. Com efeito, em cada profissio, 0 operdrio que se esforca por distinguir-se procura, trabslha, sonha conquistar a superioridade; co- mo poderei eu, que recebi de meus antepassados e de meu pai a missio tinica de servir e de defender 0 Estado, co- ocar-me abaixo do nivel do tiltimo operario, prestando & arte, primeira entre todas, menos cuidados do que os que ele presta ao officio mais ‘infimo? Mas se as doutrinas po- Iiticas dos mais esclarecidos escritores gregos nio me sa- ‘tisfazem completamente, tampouco me atrevo a ter prefe- réncia pelas minhas proprias {déias. Suplico-vos, portanto, que nio me escuteis como @ um ignorante, completamente estranho &s teorias gregas, nem tampouoo como mem inteiramente disposto a dar-lhes a preferé romano antes de mais nada, educado pelos cuidados de meu pai no gosto dos estudos liberais, estimulado desde | pegueno pelo desejo de apren mais pela experiéncia @ pelas ligdes domeéstjcas do que | ‘pelos livros. 59. Célebre historiador grego, mestre de Cipiéo, o Afrieano. cioERO XXII. Por minha ® ninguém conhe Parte, Cipiio — exclamou Filio — e¢o que te iguale em ts 8 tudo © que os gregos nos Cipidio respondeu: A i cae que devo tratar, iculdade do assunto de Pilfo respondeu: Com Sas esperangas; nio 6 de im ©, sobrepujards nos. Republica, te faltem as palavras que, 20 falar da XXIV. Cipiao dis: a se; Farei o ie a reas es ssa art chsran gS! 2a eran, eae Raise afastar o erro, que é6 a de a es nominacaio i > Siecle cranes gatas do ato ato iret nd eine z lero. > Boro especie, géncia. Assim, posto que n¢ aulestio em todo Molor que nio esqueceret algum Tilo, entéo: Bis wr — disse, Precisamente a dissertagdo que de ti XXV. , pois — prosseguiu o Africano — a Rept blica coisa do povo, considerando tal, nao todos os ho- mens de qualquer modo congregados, mas a reuniio ®) tem seu fundamento no consentimento juridico e na ut dade comum, Pois bem: a primeira causa dessa agregachoU/ de uns homens a outros é menos a sua debilidade do que um certo instinto de sociabilidade em todos inato; a espé- cie humana nao nasceu para o isolamento e para a vida errante, mas com uma disposi¢o que, mesmo na abundén- cia de todos os bens, a leva a procurar 0 apoio comum. XXVI. Astim, nfio deve o homem atribuir-se, como virtude, sua sOciabilidade, que ¢ nele intuitive. Formadas te, essas’ associagées, como expus, estabe- ‘antes de mais nada, num lugar deter- inado; depoi domicilio comum, conjunto de tem- plos, pragas e vivendas, fortificado, jd pela sua situagéo natural, j@ pelos homens, tomou o nome de cidade ou for- taleza, ‘Todo povo, isto 6, toda sociedade fundada com as condigées por mim expostas; toda cidade, ou, o que € o mes- mo, toda constituigao particular de um povo, toda coisa pu- blica, e por isso entendo toda coisa do povo, necesita, para ser duradoura, ser regida por uma autoridade inteligente que sempre se apdie sobre o principio que presidiu & forma. cao do Estado. Pois bom: edse governo pode atribuirse a um sé homem ou a alguns cidadios escolhides pelo povo inteiro, Quando a autoridade esté em mios de um $6, cha- mamos a esSe homem rei e a0 poder monarquia: uma vez confiada a supremecia a alguns cidadios escolhidos, a cons- tituigdio se torna aristocrética; enfim, a sabedoria popular, conforme a expresso consagrada, 6 aquela em que todas as coisas residem no povo. Cada um desses trés tipos de governo, se conservar aquele vinculo que uniu primitive mente os homens em sociedade, pode ser, nio digo perfeito ‘ou excelente, mas razodvel; qualquer um deles pode ser preferido a outro. De fato, um rei justo e sébio, um mimero eleito de cidadaos distintos, 0 proprio povo, embora tal su. posicéio seja menos favorével, pode, se a injustiga e as pai- x6es nfio o estorvam, formar um governo em condigdes de estabilidade, XXVII. Mas, na monarquia, a generalidade dos cida- dos toma pouca parte no direito comum e nos negécios pUblicas; sob a dominacio aristocrdtica, a multidio goza hn +) cE DA REPOBLICA de muito pouca itberdade, pois 5 has deliberagoes © 0 poten, poe ates oe, Patticipar lr por ultimo, quando 0 pone formagées. © sébio tem a obrigago de estudar essas re. volugdes periédicas e de moderar com previsio e destreza © curso dos acontecimentos; é essa a missio de um grande _ idadio inspirado pelos deuses. Por minha parte; creio quo 9 melhor forma politica é uma quarta constituicgéo for- | mada da mescla e reunido das trés primeiras. a! XXX. Aqui, Lélio: Sei que isso te agrada, Africano — disse; — eu te ouvi dizer isso com frequéncia; mas, antes de tudo, Cipifio, se no te contrario, desejo saber qual des- sas trés formas de governo te parece preferivel. Isso néo deixaré de ser conveniente 20 assunto. XXXL. Cada forma de governo — continuou Cipiio — reoebe sett verdadeiro valor da natureza ou da voniade do poder que a dirige. A liberdade, por exemplo, s6 pode exis-.) XVII, Falo assim tir _verdadeiramente onde 0 povo exerce a soberania; nao aio as considerando a pode existir essa lberdade, que € de todos os bens o mais Sebi doce, quando nao ¢ igual para todos, Como revestiré esse caréter augusto, néo j4 numa monarquia, em que a escra- ‘vidio ndo é equivoca nem duvidosa, mas nos proprios Es- tados em que todos os cidadios se chamam livres, porque tém 0 direito de sufrdgio, delegam 0 comando e se veem solicitados para a obtengio das magistraturas? O que se Ihes di deverse-ia dar sempre. Como obter jamais, para si mesmos, essas distingées de que dispdem? Porque esto excluidos do comando, do ptiblico conselho, das preeminén. cias dos juizes e tribunais acambareados pelas familias an- viu uma multidio ébria tigas ou poderosas, Mas, nos povos livres, como-em. Roma dese povo? ou Atenas, nfo hd eldadio que no possaaspirar XXXII, Quando, numa cidade, dizem alguns fildsofos, um ou muitos ambicio:os podem élevarse, mediante a ri- queza ou o poderio, nascem os privilégios de seu orgulho despético, e seu jugo arrogante se impde & multidao co- varde e débil. Mas quando 0 povo sabe, ao contrério, man- a ter sume prerrogativas, nfo ¢ possivel a esses encontrar lundador do imperlo persa, notével por sua mais gloria, prosperidade e liberdade, porque entéo 0 po- enna Persa, notével por sua brevure e mag. vo permanece drbitro das leis, dos juizes, da paz, da guer- i ageme ie Atenas, composto de trinta.e um met ra, dos tratados, da vida e da fortima de todos e de cada BHO, ncarregado ce : " | Tirano de “Aggie, eyes, criminals mais importantes, um; ento, ¢ 86 entdo, a coisa publica coisa do povo. Di- a, Ls Trinta Tiranos formance: 2, Se extrema crueldade zem, também, que com freqiiéncia se viu suceder & monar- Sateen ite aacs ems one quar saeco, o Reem Tete ah fica wee wilsen io Lisandro, uma nagio livre pediu reis nem patronatos de aristocratas. » ———_________atozso bros de uma mes. ue 6, fi para a airangaue & Pols, © Estado, senéo uma sooledade XXXII. Quanto as demais for rmas de go J6sofos nio ines conserva as denominagdes que neds eae waa sera damn ee ma Utila do rei, reservado a Jupiter Otimo, am homens ye lo do poder, dominador, egoista, de poderio tanto tnaioy quanto maiores a humilhagio e 0 envilecimento de set, por ? Mas do que ret, esse homem ¢ um tirano, porque » dle. méncia nio € to {dell a um tirano quanto a crdsldade y lim rei, Toda a questio se resume, para o povo, em servir senhor humano ou implacdvel; 0 que nao 1 teoor 6 que deixe de obedecsr. Como ¢ aus & Lapearerne, 10 na época em que sua’ constituigso poll 2 : jtica Br rais esplndoross, odin esperar prinipescidmestee a ava para rei quem quer que fo: Tula estirpe? A aristocracia, por outra parte, no € mais dentag, fycerescentam, poraue essa clasiticazso de aristo. , familias ricas se arrogam, faze set @nsentimento do povo, Quem thes deu suas prerrogativas? iJipiter, pat e soberano dos deuses na rellgito dos roma. €r8 chamnado segundo ‘og sats ‘aiverea time, Jipkter “Ponante, Tipiter Mazimo, eters POS serd a superioridade de seus talentos, de seu saber, de suas virtudes. Ougo quando. ,. ' XXXIV. O Estado que escolhe a0 acaso seus guias é fo sua sorte futura, elege-os dentre os melhores oldadios; pordue da sabecoria dos chefes depende a salvagéo dos po- ‘Yoo, a tal extremo que parece até que @ propria natureza eit & virtude © 20 génio império absolute sobre a debili- dade e a ignordncia da plebe, que s6 submissa deseja obe- Aecer. — Mas pretendese que essa forma excelente de gover- no 6 desacreditada pelos falsos jufzos do vulgo, que, nBo sabendo discernir 0 verdadeiro meérito, que 6 téo dificil, talvez, de discernir quanto de possuir, imagina que os me- si qualificativo, que de maneira nenhuma thes cabe; por-*” que as Tiquezas, 0 nome ilustre, 0 poderi ‘8 sabedoria que ensina os homens a se governar e nada mais sfio do que uma vergonhosa e insolente vaidade; nio hé no mundo espetéculo mais triste que uma socieds. do em que 0 valor dos homens medido pelas riquezas que posstiem, Ao contrdrio, que pode haver de mais belo e pre- claro do que a(virtude governando a Republica? Que é mais admiravel do que esse governo, quando o que manda nio 6 escravo de paixio alguma e d4 o exemplo de tudo o que ensina @ preconiza, nfio impondo ao vulgo leis que 0 pri- meiro a nao respeitar, mas oferecendo, como lel viva, a prd- pria existéncia aos seus compatriotas? Se fosse bastante um homem s6 para tudo, seria desnecessdrio 0 concurso de ou tros; assim como, se um povo inteiro pudesse vélo ¢ ou. vilo, disposto & Obediéncia, no pensaria em escolher go- vernantes. As dificuldades de uma sabia determinacéo fa- zem passar 0 poder das mos dos reis para as da aristocra- cla, da mesme forma por que a ignorancia e 2 cegueira dos povos transmitem a preponderéncia da multidio & de um pequeno ntimero. Desse modo, entre a impoténcia de um 86 © 0 desenfreamento da plebe, a aristocracia ocupou uma cfoERo XXXV. Lélio: Mas, Cipiao, vero, qual julgas preferiver? ” “SSS ‘8S formas de go. cae ag cee que 0 titulo de pai fosse sempre ins¢ Bre seus conoidadioe come sone fn ype, 8 doso de sua felicidade do aa acest mas a a aristocracia, pela sabedori 7 ia; 0 erdade, e, nessas condigGes, a es. Acredito.o; mas,’se néo re: Berd impossivel passar adiante, "“S°1Y®7T0s esse ponto XXXVI. Cipido: Imitemos, pois, Arato, que, a0 tratar Grandes coisas, julgou necessério comegar por Jipiter. Lélio: Por que por Jipiter? Que relagéo pode haver en- 08 versos do poeta e essa discussio? Cipiéo: Tanta, que nada encontro mais justo do que omear, acima de’ tudo, aguele que os sibios e os ignoran- tes proclamam, de comum acordo, senhor dos deuses e dos homens. Lélio: Como? Cipido: £ conveniente. O principio de que existe no céu_ am sé rei soberano e pai de todas as coisas, que faz com um gesto tremer o Olimpo, 65 conforme a frase de Home- ‘0, 8 esse principio essencial foi estabelecido pelos primei- {mponente autoridade e numerosos, ou antes universais os tes temunhos que nos asseguram que as nagGes reconhecem una. nimemente, pelos decretos dos principes, a exceléncia da mo. narquia, posto que se formaram na idéia de que todos os is do que uma fabula feita para 03 espiritos "ugamos Os mestres comuns de todos os génios s, escutando-o, apenas conhecemos, Létio: Quem so eles? Cipifo; Os mestres que, gragas a0 estudo minucioso da natureza, chegaram 8 demonstrar que 0 mundo inteiro dirigido por uma alma.. XXXVII. Mas, se quiseres, citar-teel autoridades que néo sejam barbaras nem antigas. Cipido: Observa, acima de tudo, que faz apenas quatro- centos anos que nao temos reis, ‘Lélio: Com efeito. Montanha entre a Tessélia e a Macedonia, onde, segundo a jgia, residam os deuses. 6. Gélebre poeta grogo, autor da Iliada © da Odisséia. CICERO cipido: Uma sucessio de quatro séculos na existéncia eum povo pode considerarse um longo periode? Lélio: % apenas sua idade virit Cipldo: Assim, hé quatrocentos anos, havia um rel em Roma, Létio: Um rei soberbo, Cipido: © antes dele? Zélio: Um rei muito justo: e assim suoessivamente, re. montando até Rémulo, que reinou ha seiscentos ance, Cipido: De modo que nem ele mesmo muito antigo, {Aio: De modo algum, vi'to que data da época da de. cadéncia da Grécia, parop 72% Mas, dizese, Rémulo foi rei de um povo bar aro? ; Se dividirmos os homens, como os gregos, em 70S) mae, ParbAOs, receio que tenha’sido um rel de mister gon, mas) aplicando © termo aos costumes © nae lingua. nos,” "8° Sulgo menos barbaros os gregos do qus cs roma. nos. Pouco imports © povo, mas homens sabios de uma épo. » encontramos jd testemu. antigos nem de inumanos, , Vel0, Cipitio, que nao te faltam auto. % mas, como todo bom juiz, prefin Provas &s testemunhas, aeuneey Cipido: Desde logo, Lélio, podes tomado de tua propria experiancia: Lélio: Que queres dizer? Golo: Néio te acontece, as veces, zangar-te com al guém? Létio: 8 Sojaria, empregar um exemplo wueedeme com mais freqliéncia do que eu de. fo, Tuando estés irritado, detzas & célera a s0- de tua alma? furia ‘® pauladas se a cdlera me dominasse! ito bem; Arquitas considerava a odlera co- sordom ‘sodiclosa da ma ¢ queria acalmé.a fom a efedo, Une a sso a avarez, a pateio das honras oda lune aS paixées volUptuosas, © v 2 ee ee hu todas esses defordens com tm tnloo principio, a rfl. xio, a parte mais excelente da alma, cujo impéri lugar & e6lera, aos exageros nem & voluptuosidade, Létio: Por completo. aus desejos © pido: Lamentarés, portanto, que os mi pe cciouas ‘painoeay Seloeanco’ oan Speers nek completo do homem? fada concsbo mais miserével do que a degrada- 0 da inteligéncia humana. Cipito s da alma : Pretendes, pols, que todas as parte devam estar sujeitas & uma 36 autoridade, que deve ser a reflexio? LLétto: Meu desejo 6 esse. into: Como, entio, veolas ne esostna de uma forma de govern, quando vs que, so a autridade so divide, nto ha verdadeira soberania, a gual, para existir, necessita de_ unidade? XXXIX. Lélio: Que importa a unidade ou a pluralidade, se nesta se encontra igualmente a justiga? ; Cilio: Velo, Talo, que as minhas testemuninas no tém para ti autoricade suficiente, e vou fazer que aumer tes tt mésmo o seu muimero. Létio; Como? 67, Antiga cidade maritima da Itilis, onde Cicero possufa uma quinia. mea ee Cipido: E é ‘muitos? et Meal Sie Cipigo: Por ai i Sl: for yao exe a ea Politics, o oder de ora neues pa iy Si Soi ome or Lélio; Inclinome a isso, | ee a 43 totalmente, él resc é Br cn das comparagées do milan og tans oa ein enter #8 opens tS | deragées mais Trennceyentt® 40 um enfermo, expe: oo : Nao ignoras quo a ‘omaram 0 titulo dere 2etio: Sim, por eerto, em Roma, teus negécios estéo em mios de » © quase sou de tua opiniso, gincia e crueldade de ! odioso aos romanos, Cipido: r cursy 22: POP conseguinte, sats Lelio: Foi tal como dizes, Cipido: ¥ certo que se destruto que 0, entiio, die rR, Solera algtma Henny engeee O°, 8 Ps © Ma travessn peo, osteo insteitenie ou a Bia trove | mas, ar comeca a alvoroca: rinidade sofre agravagio, logo ovis} ese ou en. G8. Turquinio Sexto, o Gh rons rn xan” NO Ultafo a tuorla fot causa de que. “DA REPUBLICA — formo implora 0 auxflio do xinico homem que o pode sal- yar. Do mesmo modo, 0 nosso povo, em paz € nos seus la- es, quer mandar ameagando, recusando, denunciando, afas. tando os ceus magistrados; mas, sobrevindo a guerra, obe dece a um rei, e toda paixio tumultuosa sacrificase © pe ece em arras da salvagdo da patria. Nossos pais jé 0 fize- ram; nas principais expedigdes, quiseram um s6 chefe cujo rulo expressa§se a exiensio de seu poder: era o ditador, im chamado porque escolhido pelo dito de um cdnsul, @ vés que em nossos livros tem o nome de mesire do povo. Létio: Bem 0 sei. Cipido: Nossos antepassados, portanto, agiram com no- tavel sabedoria... XLI. Quando 0 povo perde um rei justo, explode a dor que, conforme Enio, consternou Roma inteira depois da morte do melhor dos principes: Lembranca eterna dele tem intacta E, no céu pondo a vista, chora e die: Oh, Romulo divino! Que fiet Guarda da pétria em ti reconheciam! Oh, pai! Oh, rei! Dos deus tens a e — Nao davam os nossos antecessores 0 titulo de se- nhor e dono ao chefe cujas justas leis observavam; nfo Ihe davam tampouco o titulo de rei, mas o chamavam de protetor da cidade, pai e mesmo deus. Assim, nfo se enga- havam a0 dizer: Tu nos deste, 86 tu, a lua e a vida, — Consideravam que a existéncia, a gliria, a honre, procediam da justia do zei, e a poSteridade teria pensado ‘© mesmo se OS soberanos tivessem conservado idénticas vir- tudes; mas a injustica de um s6 basta, como vés, para des- truir para sempre essa forma de governo. Létio: Sem dtivida, e até anseio estudar essas mudan. gas que se obfervam em nossz historia e nas outras Repti. biicas. XLII. Cipido: Uma vex desenvolvida e exposta minha opinigo a respeito da forma de governo que julgo preferi. vel, serme.d preciso falar, com alguma circunspeccio, des- Fa CICERO | nao Ihe eScancei ‘iam. assagem? assim governada, a @ propria familia fica dade, estendendoo ex af despreza o filho, ¢ D pa revosrica 30 leste deixa de honrar o pai. Perece o pudor em nome da li- Perdade geral; nada separa o cidadéo do estrangeiro; 0 mes- ite, tremendo ante seus discipulos, adula‘os, a0 passo que bles o menosprezam; os jovens pretendem exercer as prer- fogutivas dos velhos, que, por sua parte, descem a loucu- yas da juventude para no parecerem odiosos e extravagan- tes. Os proprios esoravos participam dessa libertinagem; re- | (lamar as mulheres idénticos direitos aos de seus conju | | ges; em suma, os proprios ani ces, 05 cavalos, os | | fasnos, correm livremente, mas Jam ¢ envolvem quantos se opdem freada”, Ao chegar aqui, Platio exclama: “ fesse exiremo de licenga? Ao triste resultado de tornar os Cidadaos tio delicados e sombrios, que a menor aparéncia de autoridade os e exaspera a tal ponto que sonham com romper as leis que desprezam, para se encontrarem li- vres de qualquer XLIV. Létio: Traduziste tielmente o que foi dito por ele. Cipiao: Volto, agora, ao meu discurso. Dessa extrema ficenga, que £6 para cles era liberdade, embora falsa, Pla: tao faz nascer a tirania, como de um tronco funesio. Assim bomo o poder ilimitado dos grandes leva & queda da aristo/ demasiado livre & “en forma de governo, Essa excessiva liberdade logo se trans: forma em diira escravidio para os povos @ para os indivi Guos, Assim, da excessiva liberdade surge o tirano e 2 mais fnjusta © dura servilidade. Com efeito, esse povo indomito wesenfreado escolhe logo, por Gdio aos grandes, jé abatl- fos e degradados, um chefe audaz, impuro, perseguidor in- Solente dos cidadios que mais mérito possuem para com, ® patria, prédigo com os bens proprios ¢ allioios; depos, Zomo nao hd, para ele, seguranca na vida publica nom Grivada, € cercado de Goldados, confereseihe 0 poder, e acaba por ser, como Pisi i Gaqueles mesmos que o elevaram. Se acaba por pe Saat gm méos dos bons cidadaos, 0 que acontece comm fre Suencla, o Estado renasce; se 08 conspiradores sio ambi Go. Tireno de Atenas, contemporinco de Sélon. XLV. Desses tré 85 ss ; thor 6, som disputa, a monarguie nem oTe ae Ome. lonarquia; mas ela mesma é sem. tea que t0, retire. ng eutaria da combinagio 9, 4a nm, Dizes bem tua empresa, porque é tua fato, Que outro, sendo tu, pode falar melhor, quer das fuuigses de nossos pais, tu, filho de tio gloriosos ante- Wdos, quer da melhor forma politica, tu, que, rmos conquistado, que por desgraga estamos longe (0, terias nela o primeiro lugar, quer, enfim, do interes. ‘dos nossos descendentes, tu, oh Cipifio, que, libertando de seus dois terrores, asseguraste seu Porvir para pre?

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