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2, 2301 (2010)
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Artigos Gerais
Magnetosferas planetárias
(Planetary magnetospheres)
E. Echer1
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, São José dos Campos, SP, Brasil
Recebido em 14/1/2009; Revisado em 17/7/2009; Aceito em 23/11/2009; Publicado em 17/1/2011
Este trabalho consiste em uma introdução às magnetosferas planetárias do Sistema Solar. Apresenta-se uma
descrição geral da configuração das magnetosferas dos oito planetas do Sistema Solar e de sua formação pela
interação de seu ambiente eletromagnético com o fluxo do vento solar. As magnetosferas planetárias são do tipo
intrı́nseco (Mercúrio, Terra, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno) quando o planeta possui um campo magnético
intrı́nseco e a interação ocorre entre o vento solar e o campo planetário, com possı́veis contribuições do plasma
planetário; e induzida (Vênus e Marte) quando a interação ocorrer entre o fluxo do vento solar e a atmosfera
superior/ionosfera do planeta. Um exemplo de medidas in-situ em uma magnetosfera também é apresentado
com os dados de campo magnético da sonda Cassini em Saturno.
Palavras-chave: magnetosferas planetárias, vento solar, campo magnético planetário, sistema solar.
An introduction to the solar system planetary magnetospheres is presented. First the process of formation of
the magnetosphere by the interaction of solar wind with an electromagnetic planetary obstacle is shown. Next,
a general description of magnetosphere regions is presented. Finally, a short description of the solar system
eight planetary magnetospheres is given. Planetary magnetospheres are of two types: intrinsic (Mercury, Earth,
Jupiter, Saturn, Uranus, Neptune), when the planet has an active and intrinsic magnetic field and the inter-
action creating the magnetosphere occurs between the solar wind and the planetary field, with contributions
of the planetary plasma; and induced (Venus and Mars), when the planet lacks an internal field, and it is the
interaction between the solar wind and the planetary atmosphere/ionosphere that forms the magnetosphere. An
example of in-situ observations at a planetary magnetosphere is presented with magnetic field data from the
Cassini mission at Saturn.
Keywords: planetary magnetospheres, solar wind, planetary magnetic field, solar system.
qual o campo magnético da Terra controla o movi- subsônicas, defletido e aquecido. É uma região de fluxo
mento das partı́culas carregadas. Qualitativamente, turbulento, instabilidades e ondas. As propriedades da
uma magnetosfera é o volume do espaço no qual o frente de choque dependem fortemente do número de
vento solar é excluı́do por um campo planetário. Esta Mach (razão entre a velocidade do choque e a veloci-
definição não é muito precisa, pois o vento solar não dade caracterı́stica da onda magnetosônica no meio),
é totalmente excluı́do da magnetosfera e também há da pressão do vento solar e do ângulo entre o campo
fenômenos dinâmicos de mistura dos dois plasmas. interplanetário e o vetor normal ao choque [8, 9].
Planetas não magnetizados também criam cavidades
no vento solar com propriedades bem similares as de
magnetosferas planetárias.
Em sumário, pode-se definir uma magnetosfera por
três conceitos básicos:
(ICMEs) podem ter velocidades entre 500-1000 km/s, e feixes rápidos de buracos coronais tipicamente têm velocidades entre 600-
800 km/s.
4 Descontinuidade: fronteira de transição abrupta em parâmetros macroscópicos (densidade, temperatura, campo magnético), que
separa diferentes regiões do espaço. Descontinuidades em fluidos magneto-hidrodinâmicos podem ser do tipo tangencial, de contato,
rotacional ou choques. As descontinuidades tangencial e rotacional correspondem à condições de magnetosfera fechada e aberta (ao
fluxo de massa e energia do vento solar), respectivamente.
Magnetosferas planetárias 2301-3
tosfera. O fluxo de plasma é bem turbulento na região de plasma interno do planeta, condutividade magne-
das cúspides polares. tosférica/ionosférica, escala da magnetosfera em relação
Na magnetosfera interna, onde o campo magnético ao tamanho do planeta.
é quase-dipolar, o movimento das partı́culas carregadas
é caracterizado por 3 quantidades, cada qual conser-
vando um invariante adiabático do movimento: giro- 4. Tipos de magnetosferas
ressonância, movimento oscilante ao longo de uma linha
de campo (bounce) e deriva. A variação espacial de Há diversos tipos de magnetosferas no sistema solar,
campo magnético faz com que ı́ons positivos derivem tais como a própria heliosfera (cavidade no espaço in-
para oeste no plano equatorial, gerando uma corrente terestelar onde o vento solar predomina), magnetosferas
anelar, a qual é bem intensificada durante tempestades de planetas e luas não magnetizados porém com atmos-
magnéticas [2, 3]. fera (Vênus, Marte, Titã), luas não magnetizadas sem
O plasma magnetosférico apresenta movimentos atmosferas (Lua terrestre), sistemas resultantes da in-
predominantes de corrotação (mais internamente) e teração do vento solar com asteróides/cometas e objetos
convecção (mais externamente). O movimento de cor- da famı́lia de Plutão e magnetosferas de planetas mag-
rotação é impactado à ionosfera por colisões com a netizados [5]. Neste artigo se descrevera a interação
atmosfera neutra e transmitido ao restante da magne- do vento solar com planetas magnetizados (Mercúrio,
tosfera por um campo elétrico. O movimento de con- Terra, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno) e não mag-
vecção resulta da presença de um campo elétrico na netizados (Vênus e Marte).
direção amanhecer-entardecer (dawn-dusk ) através da
magnetosfera/magnetocauda, o qual causa um movi- 4.1. Magnetosferas intrı́nsecas
mento lı́quido de plasma da cauda magnética para o
lado diurno. A fronteira entre as regiões dominadas por Em uma magnetosfera “verdadeira” (intrı́nseca) o ta-
corrotação e convecção se localiza ao longo das linhas de manho da escala espacial é determinado pela distância
campo cruzando o equador em 4-5 RT (raios terrestres) de equilı́brio (Lmp) ao longo da linha planeta-Sol,
– a plasmapausa. A região interna da plasmapausa é na qual a soma da pressão do campo magnético
a plasmasfera, preenchida com plasma denso e frio (de planetário e da pressão exercida pelo plasma confinado
baixa energia) de origem ionosférica. na magnetosfera balança a pressão do vento solar. A
Os cinturões de radiação de Van Allen preenchem Lmp varia com a intensidade do campo planetário,
uma região em forma de toróide ao redor dos plane- a pressão de plasma magnetosférico e a distancia he-
tas contendo partı́culas energéticas aprisionadas. Esses liocêntrica/pressão do vento solar. Numa magnetos-
cinturões consistem de elétrons e ı́ons energéticos apri- fera, o campo magnético difere significativamente do
sionados que se movem ao longo das linhas de campo e que seria se o planeta estivesse em um vácuo (dipolo
oscilam entre os dois hemisférios. perfeito). O campo é distorcido por correntes fluindo
O vento solar “estica” ou distorce o campo mag- na magnetopausa e no plasma aprisionado dentro da
nético na direção anti-solar, constituindo a magneto- magnetosfera. A existência de um campo magnético
cauda. Na magnetosfera interna, a configuração de global em um planeta com intensidade suficiente para
campo é a de um dipolo distorcido, mas uma transição defletir o vento solar leva a caracterı́sticas únicas do
rápida segue-se e em torno de 15 RT as linhas de ambiente planetário. A formação de uma magnetosfera
campo são radiais; a magnetopausa se torna então gera uma região no espaço ao redor de um planeta na
quase cilı́ndrica, separada em dois lóbulos (N e S) pela qual o plasma do vento solar é excluı́do e dentro da qual
lâmina de plasma. No caso da Terra, no lóbulo norte um campo planetário distorcido controla o movimento
o campo é direcionado para a Terra/Sol e no lóbulo das partı́culas carregadas. Externamente à esta cavi-
sul para a direção anti-solar. A lâmina de plasma é dade se encontra a onda de choque no fluxo supersônico
uma espessa camada de plasma quente (plasma de alta do vento solar e uma magnetocauda se desenvolve na
energia), contendo a lâmina neutra (lâmina de corrente) direção anti-solar. Mais detalhes foram discutidos na
onde ocorre uma rápida reversão na direção do campo sessão 3 e Fig. 1.
magnético.
O momento magnético (MT , campo superficial 4.2. Magnetosferas induzidas
equatorial × cubo do raio planetário) da Terra é
7.91 × 1015 T.m3 . Os principais fatores que afetam A natureza da interação entre um planeta não magne-
o tamanho e a dinâmica de uma magnetosfera são: tizado e o vento solar supersônico é determinada pela
pressão dinâmica do vento solar, componentes By e Bz condutividade elétrica do corpo. Se circuitos condu-
(no sistema de coordenadas centrado no eixo magnético tores existem através do interior ou da ionosfera do
do planeta e na linha radial Sol-planeta) do campo planeta, então correntes elétricas fluem através do pla-
magnético interplanetário, campo magnético do plane- neta e no vento solar, onde elas criam forças que de-
ta, rotação planetária, fontes de plasma e densidade saceleram e desviam o fluxo do vento solar incidente.
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O vento solar desviado flui ao redor de uma região que terplanetários que passam perto da ionopausa e formam
é similar à uma magnetosfera planetária. a magnetocauda.
Nem Vênus nem Marte possuem um campo plane-
tário na atualidade. Ambos os planetas têm ionosferas
5. Magnetosferas dos planetas
que provêem os circuitos condutores necessários para
defletir o vento solar. A barreira que separa o plasma Apresenta-se uma breve descrição das magnetosferas de
planetário do plasma do vento solar é referida como cada um dois oito planetas do sistema solar. A Tabela 1
ionopausa (por analogia à magnetopausa). apresenta um sumário das principais propriedades de
A estrutura magnética circundando Marte e Vênus cada planeta e de sua magnetosfera.
tem caracterı́sticas bem similares àquelas encontradas
em uma magnetosfera verdadeira circundando um pla-
5.1. Mercúrio
neta magnetizado. Isso ocorre, pois a interação causa
o campo magnético do vento solar a se “empilhar” ao Mercúrio possui um momento magnético relativamente
redor do planeta. O campo empilhado se expande para pequeno, MM ∼ 0.63 × 10−3 MT . Observações sugerem
longe do Sol, formando uma magnetocauda induzida. A que a magnetosfera de Mercúrio é muito pequena para
simetria da configuração magnética dentro da magne- manter uma população de plasma aprisionado ao redor
tocauda é governada pela orientação do IMF no vento do planeta, mas aceleração impulsiva de partı́culas car-
solar incidente, a qual varia com o tempo. Numa mag- regadas pode ocorrer na magnetocauda estendida de
netosfera induzida como a de Vênus, o vento solar in- Mercúrio. Ele é o menor planeta e de rotação mais
terage diretamente com a ionosfera planetária. Cam- lenta do sistema solar a ter um dı́namo magnético
pos e plasmas observados são geralmente de origem do ativo. A alta densidade média (5.4 cm−3 ) observada
vento solar ou ionosférica. Não há cinturões de ra- indica que uma parte significante do planeta é ocupada
diação ou uma magnetocauda intrı́nseca. A fronteira do pelo núcleo. O momento de dipolo é direcionado no
obstáculo com o vento solar é definida pela superfı́cie da mesmo sentido do terrestre, com inclinação de ∼14◦
ionopausa, onde há equilı́brio entre a pressão dinâmica em relação ao eixo de rotação. O fraco momento de
do vento solar no lado externo e a pressão térmica de dipolo de Mercúrio mais a alta pressão dinâmica do
ı́ons/elétrons ionosféricos no lado interno. vento solar resultam em uma magnetosfera muito pe-
Além da ionopausa, em direção ao vento solar, a quena. A cavidade magnética deflete o vento solar a
interação do vento solar tem as caracterı́sticas de ma uma distância de apenas 1.5 Rp (raio planetário, ver
magnetosfera planetária. A frente de choque aparece à Tabela 1) acima do centro do planeta. Mercúrio não
frente do obstáculo, o vento solar é defletido em uma tem uma ionosfera/atmosfera dinamicamente significa-
região de magnetobainha/ionobainha, o IMF é com- tiva. No entanto, as observações mostram que a mag-
primido e empilhado ao redor do obstáculo na região netosfera é bem dinâmica, com variações no fluxo de
da magnetobainha. partı́culas energéticas de alguns minutos, sendo obser-
A magnetocauda induzida é a extensão da magne- vada a possı́vel ocorrência de sub-tempestades.
tobainha, com os campos IMF empilhados sendo ar- Mercúrio foi explorado pela 1a vez com as duas tra-
rastados no rasto dos obstáculos ionosféricos. O efeito jetórias de cruzamento da sonda Mariner-10 em 1973 e
empilhamento do campo na magnetocauda induzida é 1975. Recentemente, em 2008, a sonda Messenger reali-
aumentado além daquele da magnetobainha devido à zou duas trajetórias de cruzamento e outra esta prevista
entrada de massa (mass loading) dos tubos de fluxo in- em 2009, antes da fase orbital iniciando em 2011.
Planeta Tipo magne- Órbita (UA) Diâmetro equa- Periodo de Mp (MT ) Inclinação Lmp (Rp )
tosfera torial (RT ) rotação dipolo
Mercúrio Intrı́nseca 0.39 0.39 58d 0.001 14◦ 1.4
Vênus Induzida 0.72 0.95 -243d <0.0001 - > 1.0
Terra Intrı́nseca 1.0 1.00 1d 1 11◦ 11
Marte Induzida 1.52 0.53 24.6h < 0.001 - 1.2
Júpiter Intrı́nseca 5.2 11.21 9.92h 20000 -10 ◦ 45-80
Saturno Intrı́nseca 9.5 9.41 10.66h 580 <-1◦ 20
Urano Intrı́nseca 19.2 3.98 17.24h 49 -59◦ 27
Netuno Intrı́nseca 30.1 3.81 16.1h 27 -47◦ 26
RT = 6378 km. 1 MT = 7.91 × 1015 T.m3 . Rp = raio do planeta. Lmp = posição sub-solar da magnetopausa.
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provoca um desarranjo na disposição das suas partı́culas Esta temperatura é constante para cada substância.
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A energia para o plasma é derivada predominantemente energéticas dos cinturões também são absorvidas em co-
de fontes internas à magnetosfera. O tamanho gigante lisões com as luas. As principais fontes de plasma são
da magnetosfera deve-se a forte intensidade do campo a ionosfera de Saturno, o vento solar, e a atmosfera e a
magnético planetário, a baixa densidade do vento solar superfı́cie gelada das luas. A magnetopausa se encontra
na órbita de Júpiter, a rápida rotação do planeta e a em ∼20 Rp e a frente de choque em torno de 30 Rp .
fonte de plasma em Io. A mais provável fonte do campo A magnetosfera de Saturno foi explorada primeira-
magnético de Júpiter é um dı́namo hidromagnético as- mente por trajetórias de cruzamento com a sonda
sociado com movimentos de fluido nas partes eletrica- Pioneer-11 em 1979, posteriormente pelas sondas
mente condutoras do interior do planeta. Voyager-1 (1980) e Voyager-2 (1981). A missão Cassini
A lua Io possui forte atividade vulcânica, causada está explorando como sonda orbital o sistema de Sa-
pelo aquecimento do satélite devido a deformação cau- turno desde 2004. A magnetosfera ainda é estudada
sada por forças de maré. A atmosfera vulcanicamente por meio de emissões aurorais com o telescópio espacial
derivada de Io é perdida por espalhamento para a mag- Hubble.
netosfera. As partı́culas aprisionadas nos cinturões
de radiação colidem com as partı́culas atmosféricas e 5.7. Urano
as arrancam da esfera gravitacional de influência de
Io, as colocando em órbita de Júpiter. As partı́culas O eixo de rotação de Urano encontra-se quase no plano
atmosféricas são então ionizadas por troca de carga, de sua órbita, 97◦ , mas o eixo magnético não está pro-
ionização por impacto e fotoionização, sendo movidas ximamente alinhado ao eixo de rotação, estando in-
para movimento em corrotação com o planeta pelo clinado por 59◦ em relação ao eixo de rotação. Isso
campo elétrico associado com o plasma magnetizado em implica que o vento solar flui perpendicularmente ao
rotação. As velocidades associadas com esse processo eixo magnético. A magnetopausa se encontra em torno
combinadas com a alta taxa de perda de massa de Io são de 25 Rp e a frente de choque à 33 Rp . O momento
suficientes para distorcer o campo magnético de Júpiter magnético é de MU ∼ 50 MT , com grande contribuição
em um disco – o magnetodisco. As forças centrı́fugas do momento de quadrupolo, comparável ao termo de
associadas com este magnetodisco distendem a mag- dipolo. A magnetosfera parece em geral ser similar à
netosfera em todas as direções e aumentam o raio di- da Terra, porém menos ativa em termos de atividade
urno da magnetosfera ate 100 RJ . Júpiter ainda possui de ondas e fluxo de partı́culas energéticas.
uma super-extensa magnetocauda com observações in- Urano foi explorado in-situ apenas pelo cruzamento
dicando sua extensão ate a órbita de Saturno. da sonda Voyager-2 em 1986.
A magnetosfera de Júpiter foi explorada primeira-
mente por trajetórias de cruzamento com as sondas 5.8. Netuno
Pioneer-10 (1973), Pioneer-11 (1974), Voyager-1 (1979),
Voyager-2 (1980), Ulysses (1992), pela sonda orbital O eixo de rotação de Netuno é particularmente perpen-
Galileo (1995-2003) e recentemente pelos cruzamentos dicular a direção do vento solar, o que propicia que o
das sonda Cassini (2000) e New Horizons (2007). A eixo polar magnetosférico ou cúspide polar encontre-se
magnetosfera ainda é estudada por meio de emissões alternadamente alinhado com o fluxo ou perpendicu-
aurorais (visı́vel e UV) com o telescópio espacial Hub- lar ao fluxo do vento solar. O eixo dipolar magnético
ble, raios X (telescópio Chandra) e emissões de radio tem uma inclinação de 47◦ com o eixo de rotação e o
por radio-telescópios de superfı́cie. momento magnético de Netuno equivale a 27 MT . O
momento de quadrupolo é bem grande, com maior con-
tribuição ao campo superficial deste termo do que em
5.6. Saturno qualquer outro planeta. A magnetopausa se encontra
em torno de ∼26 Rp e a frente de choque em ∼34 Rp . A
É o 2◦ maior planeta do Sistema Solar, girando tão
magnetosfera é a mais quiescente do sistema solar, com
rápido quanto Júpiter e com composição similar ao do
nı́veis de ondas e fluxos de partı́culas energéticas sendo
planeta maior. O campo magnético de Saturno é, no
bem baixos. A configuração magnetosférica é bastante
entanto intrinsecamente mais fraco que o de Júpiter. O
similar à da Terra.
momento de dipolo é de MS ∼ 580 MT , 1/5 do valor
Netuno foi explorado in-situ apenas pelo cruza-
de Júpiter. O campo magnético apresenta uma estru-
mento da sonda Voyager-2 em 1989.
tura bem simples, quase axi-simétrica, com separação
de ∼1◦ em relação ao eixo de rotação e sentido oposto
à da Terra. 6. Exemplo de dados de um cruzamento
A magnetosfera de Saturno não possui um meca- pela magnetosfera de Saturno
nismo interno para energizar plasma como a lua Io de
Júpiter. As partı́culas aprisionadas nos cinturões de A Fig. 2 apresenta os dados da magnitude do campo
radiação, terminam na sua borda interna nos anéis, magnético observados pela sonda Cassini na trajetória
os quais são absorvedores de partı́culas. As partı́culas de entrada em Saturno [11, 12]. O eixo y é o campo
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magnético (B) em nT, com resolução de 1 minuto e se a formação da cavidade magnetosférica via in-
eixo y é o tempo, entre 25 de junho a 10 de julho de teração com o vento solar e suas caracterı́sticas
2004. As diversas regiões da magnetosfera estão indi- gerais. Apresentaram-se os dois tipos de magnetos-
cadas pelas abreviações apresentadas na figura. feras planetárias - induzida e intrı́nseca. Também apre-
sentou-se uma breve descrição de cada uma das oito
magnetosferas planetárias. Por fim, apresentou-se um
exemplo de observações in-situ de uma magnetosfera
planetária, com dados de campo magnético da sonda
Cassini em Saturno.
O estudo comparativo das magnetosferas plane-
tárias é extremamente importante para o entendimento
dos processos fı́sicos da interação vento solar-planetas e
da fı́sica de plasmas espaciais. Cada uma das mag-
netosferas do Sistema Solar é única, pois tanto as
propriedades do vento solar são diferentes em cada
órbita planetária como as propriedades internas (campo
magnético, atmosfera, plasma) variam bastante. Atual-
mente transita-se da fase exploratório-descoberta para
Figura 2 - Dados da magnitude do campo magnético medidos
a fase de entendimento dos processos fı́sicos em magne-
pela sonda Cassini durante a trajetória de entrada em Saturno. tosferas e o estudo desse conjunto variado de sistemas
A resolução de 1 minuto e o intervalo de tempo é entre 25/6/2004 magnetosféricos é fundamental para o avanço do conhe-
e 10/7/2004. As abreviações significam: VS: vento solar; FS: cimento humano na fı́sica espacial. Esse conhecimento
cruzamento da frente de choque; FS(2) cruzamento duplo da
frente de choque; Mb: magnetobainha; Mp: cruzamento da pode ser aplicado aos planetas extra-solares, os quais
magnetopausa; Mp(2): cruzamento duplo da magnetopausa; A: irão propiciar no futuro uma diversidade maior de mag-
aproximação mais próxima da Cassini por Saturno. netosferas para estudo comparativo.
A magnetosfera de Saturno estava em um estado di-
namicamente ativo durante o perı́odo, o que se pode Referências
constatar pelos cruzamentos múltiplos da frente de
choque e magnetopausa. A sonda Cassini encontrava-se [1] E.N. Parker, The Astrophysical Journal 128, 664
no vento solar nos dias 25 e 26 de junho. A partir do dia (1959).
27 de junho, 7 cruzamentos da frente de choque foram [2] G. Parks, Physics of Space Plasmas: An Introduction
observados. O cruzamento da frente de choque é notado (Westview Press, Boulder, 2004).
por um aumento abrupto na magnitude do campo. Três [3] E. Echer, W.D. Gonzalez, F.L. Guarnieri, A. Dal Lago
pares de cruzamentos de entrada e saı́da na magneto- and L.E.A. Vieira, Advances in Space Research 35, 855
bainha (Mb) são observados nos dias 27 e 28 de junho (2005).
de 2004. O cruzamento final ocorreu às 05:40 UT do [4] D.P. Stern and N.F. Ness, Annual Review of Astron-
dia 28 de junho, à ∼40.5 Rp . Posteriormente a Cassini omy and Astrophysics 20, 139 (1982).
encontrou a região da magnetobainha, caracterizada
[5] M.G. Kivelson and F. Bagenal, Enc. Solar System
por flutuações magnéticas turbulentas e três cruzamen- (Acadeimc Press, San Diego, 1999), p. 477-497.
tos múltiplos da magnetopausa, no dia 28-29 de junho.
[6] C.T. Russell, Planetary and Space Science 49, 1005
Após o último cruzamento da magnetopausa, a Cassini
(2001).
atingiu a aproximação mais próxima com Saturno às
02:40 UT de 1 de julho de 2004 (∼3 Rp ). A trajetória de [7] T. Gold, J. Geophys. Res. 64, 1665 (1959).
Saı́da da Cassini na magnetosfera de Saturno também [8] E. Echer M.V. Alves e W.D. Gonzalez, Revista
apresentou um quadro dinamicamente complexo, com Brasileira de Ensino de Fı́sica 28, 51 (2006).
cruzamentos múltiplos da magnetopausa entre os dias [9] E. Echer, Advances in Space Research, in press (2009).
3 e 5 de julho e da frente de choque entre os dias 6 e 8 [10] E. Echer, W. Zarka, L. Gonzalez and A. Denis, Astron-
de julho. omy and Astrophysics submetido (2009).
Dados de campo magnético e outros instrumen-
[11] M.K. Dougherty, N. Achilleos, N. Andre, C.S. Arridge,
tos de varias sondas que passaram pelas magnetos-
A. Balogh, C. Bertucci, M.E. Burton, S.W.H. Cowley,
feras podem ser obtidos do site Planetary Data System G. Erdos, G. Giampieri, K.-H. Glassmeier, K.K. Khu-
(http://pds.jpl.nasa.gov/). rana, J. Leisner, F.M. Neubauer, C.T. Russell, E.J.
Smith, D.J. Southwood and B.T. Tsurutani , Science
7. Conclusões 307, 1266 (2005).
[12] E. Echer, in Proceedings of the 10 th International
Nesse artigo apresentou-se uma introdução às mag- Congress of the Brazilian Geophysical Society, Rio de
netosferas planetárias do Sistema Solar. Descreveu- Janeiro, 2007, p. 1-5