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TELLES, Lucila Silva.

A ação educativa no Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular

A AÇÃO EDUCATIVA
NO CENTRO NACIONAL DE
FOLCLORE E CULTURA POPULAR

Lucila Silva Telles

Este artigo trata da ação educativa desenvolvida no CNFCP,


destacando a inserção do folclore no universo da escola e a
permanente construção do diálogo travado com os educado-
res sobre folclore e cultura popular, além dos projetos
educativos oferecidos às escolas.

Palavras-chave
FOLCLORE, CULTURA, CULTURA POPULAR, EDUCAÇÃO, MUSEU,
BIBLIOTECA, PROJETOS EDUCATIVOS, AÇÃO EDUCATIVA.

TELLES, Lucila Silva. A ação educativa no Cen-


tro Nacional de Folclore e Cultura Popular. Tex-
tos escolhidos de cultura e arte populares, Rio
de Janeiro, v. 3, n. 1, p. 169-76, 2006.

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Textos escolhidos de cultura e arte populares, v. 3, n. 1, 2006.

Para falar a respeito da ação educativa muito claras do que sejam o saber e o
que desenvolvemos no Centro Nacional povo a que o termo se refere.
de Folclore e Cultura Popular, é preciso Assim, a partir da observação desse
falar um pouco sobre essa instituição e público, os educadores e educandos que
o modo como foram e são permanente- formam a maior parcela de visitantes e
mente construídos os diálogos que tra- pesquisadores de nossos acervos, e pen-
vamos com os educadores que nos che- sando em atendê-los de maneira a res-
gam, seja diretamente, seja por meio de ponder, de um lado, a suas questões e
seus alunos. expectativas e, de outro, às nossas pró-
prias, é que se foram construindo as li-
Não destacaremos aqui nenhum ob- nhas do trabalho educativo no Centro
jeto específico do acervo do Museu de Nacional de Folclore e Cultura Popular
Folclore, que é o procedimento algumas a partir dos anos 80.
vezes usado para iniciar a conversa com
educadores, posto que cada objeto mu- É importante frisar aqui que, assim
seológico carrega um conjunto de sabe- como a pesquisa, a educação sempre foi
res, histórias, crenças e expressões em uma importante linha de ação dessa ins-
sua confecção e utilização no contexto tituição. Desde 1958, quando foi criada
em que foi recolhido. Tem, portanto, como Campanha de Defesa do Folclore
uma longa trajetória até se tornar um Brasileiro, até os anos 70, ela era mar-
objeto estático, que não pode ser toca- cada pelas ações de pesquisa e difusão –
do, sob pena de se cometer alguma he- o museu é bem posterior, de 68. E essa
resia; pois se ele está em um museu, me- difusão tinha como objetivo claro a es-
rece certa reverência porque carrega um cola, onde eram realizados concursos de
valor, certa carga reverenciável que a redação, atribuídas premiações a traba-
maioria dos visitantes que nos chegam lhos escolares, distribuídas publicações.
não sabe qual é; só sabe que existe. Temos até hoje, e alguns de vocês de-
vem conhecer, vários exemplares das
Esse distanciamento reverente do séries Cadernos de Folclore e
público, diante do objeto de museu ou Documentário Sonoro do Folclore Bra-
do texto em uma publicação especializa- sileiro (que são uns disquinhos compac-
da, é um pouco o que nos move. Tam- tos). Cada número dessas séries tinha
bém nos movem outras reverências dis- tiragens em torno de 10.000 exempla-
tanciadoras percebidas nesse público, res, para garantir massiva distribuição
como com o tema folclore, que todo alu- às escolas do país. Com esse esforço de
no em qualquer escola aprende que sig- enorme fôlego, que tem origem nas re-
nifica “saber do povo”, algo que é im- comendações da Unesco, na década de
portante o suficiente para ter uma data 1940, no pós-guerra, no sentido da re-
especial que precisa ser comemorada a construção das nações por meio da va-
cada ano, embora ele não tenha idéias lorização da identidade dos povos, a

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Campanha consegue inserir de maneira formação de público se dá, de maneira


definitiva o tema na pauta escolar, no mais ou menos explícita, e ali estarão
calendário oficial e no imaginário de su- sempre presentes argumentações, esco-
cessivas gerações de brasileiros. lhas, desejos de comunicar conceitos,
A grande procura que temos ainda visões, certezas e incertezas; desejo de
hoje por parte das instituições de ensi- dialogar, de saber que recepções essa co-
no, particularmente do ensino funda- municação tem, que impactos gera e,
mental, é resultado daquele esforço da claro, que público é esse.
Campanha. E a esse público dirigimos Essas respostas nos vêm majoritaria-
boa parte de nossas atenções. mente do público escolar, que com fre-
A partir da década de 1980, quando qüência põe em xeque a eficácia de nos-
o Centro sofre uma reformulação das li- sa comunicação, seja explicitamente,
nhas conceituais que orientam sua atu- quando questiona a estrutura da exposi-
ação, a partir da aproximação com a an- ção permanente, que não tem muitas in-
tropologia, o folclore passa a ser enten- formações objetivas, não oferece visitas
dido como um campo de estudos volta- guiadas para grupos, não se divide em
do para os conjuntos complexos de sa- regiões; seja implicitamente, quando en-
beres, crenças, expressões, visões de contra dificuldades em fazer sua pesqui-
mundo e modos de vida dos homens e sa na biblioteca e deixa as bibliotecárias
mulheres de uma sociedade ou de gru- de cabelo em pé.
pos sociais dentro dela. Expressões de Muitos desses grupos vêm, alunos e
sua cultura, que estão em permanente professores, buscar informações bastante
transformação. genéricas para seus trabalhos em sala de
Mais ou menos nessa mesma época, aula, e querem levar para a escola, de
amplia-se o conceito de educação para a uma só vez, por exemplo, o folclore do
equipe que trabalhava nessa área e que a Brasil, ou o folclore da Região Nordes-
entende como processo de transmissão, algo te, ou as danças típicas da Região Sul.
permanente na vida em sociedade e, portan- São demandas que costumam ter por fim
to, uma das dimensões da cultura dessa so- a realização de uma grande festa, que
ciedade. Nesse sentido, todas as iniciativas envolve toda a escola e conta com dan-
de difusão, voltadas para tornar públicos ças, músicas, comidas, etc., para come-
acervos, resultados de pesquisas e discus- morar a data dedicada ao folclore. O
sões nesse campo de estudo, são encaradas evento termina, e o tema será retomado
como ações educativas, ações de formação no ano seguinte, quando novamente a
de público. programação se inicia com pesquisas na
Seja na concepção e montagem de biblioteca e segue com visita ao museu.
uma exposição, seja na linha de uma edi- Buscando mexer com esse público, no
ção, na construção de uma página da sentido de ampliar os conceitos de fol-
internet, na programação de uma mos- clore com que a escola trabalha e reco-
tra de vídeos, etc., etc., essa função de locar os conceitos de museu e de pes-

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quisa em biblioteca, é que foi sendo são, falamos bem pouco, apenas pontu-
construída a ação educativa que desen- ando algumas áreas que julgamos estra-
volvemos no Centro. tégicas, e por fim voltamos à conversa.
É sem dúvida a melhor parte. E o fato
Visita preparatória de ser quase sempre um grupo de pesso-
as que em geral não se conheciam é um
A partir de contatos diretos e indivi- ganho extra para todos, com as trocas
duais de professores que nos procura- que ocorrem, as diferenças e afinidades
vam com dúvidas sobre como trabalhar que vão surgindo e sendo tratadas ali.
os temas com seus alunos, pedíamos que Ao final, eles levam para casa alguns
eles visitassem a exposição permanente textos, entre eles os que integram o guia
e nos voltassem com as questões que a impresso à disposição dos visitantes na
visita lhes tinha suscitado. A partir des- exposição.
sa conversa seguinte, que em geral se A opção de não oferecer visitas guia-
abria com a discussão sobre as ausênci- das aos grupos parte do pressuposto de
as e presenças de temas por eles detec- que é o professor, que conhece a reali-
tadas na exposição e de suas expectati- dade de seus alunos, o melhor guia para
vas, a escolha de outros caminhos para sua turma. A partir desse encontro pré-
seu trabalho era possível, já que “o fol- vio, ele tem condição de estabelecer a
clore” passava a ser visto como algo melhor maneira de explorar a exposi-
muito mais próximo de seu universo e ção, trabalhando os temas que elegeu,
de seus alunos. Essas experiências defi- antes, durante e depois da visita. A ele
niram as visitas preparatórias, que são sugerimos mesmo que – como o univer-
sempre oferecidas aos profissionais que so que a mostra apresenta é enorme, com
vêm agendar uma visita de sua turma. possibilidades infinitas – faça suas es-
Essas visitas preparatórias hoje acon- colhas, elegendo algumas áreas e des-
tecem de maneira mais sistematizada. cartando outras, com o fim de fazer des-
Oferecidas uma a cada mês, em média, se museu um objeto permanente de pes-
nelas professores de diferentes realida- quisa, como quando escolhemos um ca-
des se encontram conosco para essa prá- pítulo de um livro para trabalhar, saben-
tica, que se inicia com um panorama ge- do que sempre poderemos voltar ao mes-
ral sobre o Centro; em seguida vamos à mo livro para estudar outros capítulos,
reserva técnica do museu com um em qualquer seqüência.
museólogo da casa, que fala do cami- Há alguns anos fizemos uma pesqui-
nho que um objeto percorre, desde o lo- sa especial para sondar os resultados da
cal em que foi coletado em pesquisa de visita preparatória. Uma estagiária nos-
campo até fazer parte do acervo, e tam- sa que não era conhecida do público
bém dos critérios de organização desses identificava na agenda as visitas de tur-
objetos na reserva. Depois passamos à mas cujos educadores tinham ou não par-
visita à exposição, em que nós, da Difu- ticipado de preparatória e perambulava

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pela exposição, como se fosse uma visi- mos, sobre nossa maneira de expor, de
tante qualquer, aproximando-se discre- argumentar.
tamente do grupo escolhido. Embora não Para aqueles que buscam mais infor-
tenha sido um trabalho mais constante mações, é oferecido o guia impresso, mas
e seus resultados não tenham chegado a sua leitura se mostra difícil e mesmo im-
uma sistematização, seus relatos sempre possível em alguns momentos, quando
confirmavam que estávamos na direção a iluminação é bastante rebaixada.
certa: enquanto os professores que ti- Como solução surgiu o guia sonoro,
nham feito a preparatória circulavam mais conhecido como audioguide, um
com mais segurança pelos espaços, ex- equipamento individual por meio do
ploravam alguns temas e até arriscavam qual as pessoas podem acessar informa-
alguns palpites, grande parcela dos pro- ções sobre o que estão vendo. Com ele,
fessores que não tinham participado che- fornecemos informações de maneira
gava ao museu pela primeira vez, por- mais ampla e confortável para o públi-
tanto na mesma condição de seus alu- co, mas continuamos de alguma forma
nos, e, na entrada de algumas galerias, a provocá-lo, pois os conteúdos ali ofe-
emudecia pelo impacto do que não es- recidos não são sempre objetivos. Resul-
perava encontrar e pela ausência dos te- tado de um exaustivo e sensível traba-
mas e informações que esperava reco- lho de pesquisa nos muitos acervos da
nhecer. casa, o guia sonoro apresenta falas di-
versas, músicas, depoimentos, sons que
Museu buscam sugerir contextos, profundida-
des em torno de determinados objetos
Uma das queixas mais freqüentes por ou conjuntos ali expostos.
parte do público que visita a exposição
permanente é a falta de informações. Os
Projetos educativos
objetos ali estão, na maioria das vezes,
inseridos em conjuntos, pelos quais que-
remos comunicar seus contextos de pro- Os projetos itinerantes levam para as
dução e uso. Optamos por abolir textos escolas, e eventualmente para institui-
referenciais, assim como vitrinas, com ções de cultura, um recorte dos acervos
a finalidade de, oferecendo menos “bar- do Centro. Dizemos recorte porque são
reiras” entre os objetos e o público, atin- de fato seleções, escolhas assumidas pela
gir sua sensibilidade e mesmo provocá- equipe, de temas e abordagens que nos
lo pelo estranhamento. As reações são, parecem mais apropriados por diversos
claro, as mais diferentes possíveis, e gos- critérios, e um deles, que está no argu-
tamos muito das negativas também, não mento de cada um dos projetos, é o con-
pelo simples gosto de ter provocado, mas junto de módulos temáticos que estrutu-
porque de fato nos dizem muitas coisas ram o roteiro da exposição permanente
sobre essas e outras escolhas que fize- – Vida, Técnica, Religião, Festa, Arte.

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Olhando em volta Olhando em volta tem dois módulos


que circulam há anos – um trata de arte
A distância geográfica de algumas e artesanato, com foco em alguns artis-
escolas do Rio e Grande Rio, além de tas que expuseram na instituição, e ou-
dificuldades de infra-estrutura para a sa- tro que aborda algumas festas tradicio-
ída de turmas em visitas e passeios, tudo nais – e um terceiro, que começou a
isso atrelado ao desejo da equipe da casa itinerar em 2006, cujo tema é trabalho.
de trabalhar, além dos conceitos de fol- Este último módulo se diferencia dos an-
clore, os de museu, de objeto museoló- teriores por propor uma estrutura mais
gico, deram origem ao primeiro projeto aberta: os textos em que o apresentamos
educativo, o Olhando em volta, uma pe- abrem uma infinidade de temas possí-
quena exposição criada para ser monta- veis de ser trabalhados, muitos dos quais
da pelos alunos com o fim de desvelar não estão necessariamente representados
os bastidores de um museu, ou seja, a pelos objetos que ali estão, o que impli-
trajetória que um objeto percorre desde cará mais pesquisas, discussões, buscas
que entra em uma instituição de outros acervos e, o que mais nos in-
museológica até o momento em que in- teressa, grandes vôos. Esse módulo é
tegra uma exposição e por meio dela é mais apropriado aos adolescentes, pela
apresentado ao público. Assim como em maior proximidade que essa faixa tem
um museu, há fichas de tombo, pincéis com as questões do universo adulto – tra-
e flanelas para higienização, vitrinas balho, profissionalização, etc.
para serem montadas, painéis para fi-
xação de fotos e textos relacionados. O
projeto permanece cerca de um mês na De mala e cuia
escola, e, nesse período, os alunos lidam A pesquisa do público na biblioteca
com os objetos e com as informações ofe- gerou o projeto De mala e cuia. Literal-
recidas sobre os temas de que tratam, mente invadida nos meses em torno de
são estimulados a buscar outras fontes e agosto, a Biblioteca Amadeu Amaral, a
outros objetos, em seus acervos pessoais maior, na América Latina, especializa-
e no universo em que vivem. Olhando da em folclore e antropologia cultural,
em volta, eles se apropriam com mais não conseguia lidar com aqueles meni-
segurança dos temas propostos, compon- nos e meninas, em sua maioria do ensi-
do assim uma exposição autoral. Depois no fundamental, que, em grupos, che-
do processo que precede a montagem, a gavam para pesquisar o folclore brasi-
exposição pronta é divulgada pelo gru- leiro, o folclore em regiões, diversos ele-
po a fim de que seja visitada por outras mentos ou traços ‘típicos’, entre outros
turmas, outras escolas, parentes e vizi- temas genéricos e superficiais sobre os
nhos, que registram sua presença e tam- quais não faziam a mais pálida idéia ao
bém suas opiniões em livros próprios. chegar ali. Iam à bibliotecária, que in-

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dicava os fichários, e lá se viam inteira- exaustivo do acervo da biblioteca e das


mente perdidos, sem qualquer intimida- fichas das consultas realizadas. O cami-
de com essa prática. Acabavam fazendo nho escolhido então foi oferecer tanto
sua busca por assunto e, preenchida a os temas mais recorrentes naquelas fi-
ficha, a duras penas, não sem muitas chas, portanto demandas ‘tradicionais’,
galhofas entre si, entregavam-na à fun- e outros, jamais buscados por esse pú-
cionária que lhes trazia um volume que blico, mas que gostaríamos de ver con-
na maioria das vezes não conseguiam templados nas pesquisas, como por
sequer ler. Duas opções: copiar um tre- exemplo os ritos de passagem. Entre al-
cho qualquer em que encontraram al- guns ótimos retornos dessa escolha, e
guma palavra-chave ou voltar à funcio- que nos oferece inúmeros significados,
nária pedindo algo como um breve tex- há a expressão de espanto e curiosidade
to, definitivo, com a definição exata da- registrada por um menino no caderno
quele assunto. Ela então lhes apresenta de impressões que acompanha o proje-
uma publicação mais apropriada a essa to: “Eu não sabia que casamento era fol-
abordagem um tanto superficial. Com clore!”.
tanto estresse, depois de perguntar-lhe O acervo do De mala e cuia é com-
onde exatamente está, nesse novo livro, posto por livros, revistas, catálogos de
o que procuram, copiam automatica- exposições, recortes de jornais, folhetos
mente e, felizes e aliviados, dão por en- de cordel, postais, além de algumas gra-
cerrada sua dramática tarefa. vações sonoras e em vídeo. Estruturado
Essa cena ainda se repete hoje, mas segundo o roteiro temático da exposi-
com menor intensidade do que há cerca ção permanente, apresenta textos em que
de 20 anos. As bibliotecárias ainda têm conversamos com o professor, explici-
um acervo estratégico para alunos de- tando nossa busca de apoiar a pesquisa
sesperados, um acervo hoje mais atuali- escolar de maneira a proporcionar uma
zado e qualificado do que naquela épo- abordagem mais aprofundada do univer-
ca, que continha em seus títulos visões so da cultura popular. É uma proposta
datadas, reducionistas e superficiais. para que percebam mais próximos te-
Mas foi essa tensão de parte a parte den- mas aparentemente distantes do dia-a-
tro da biblioteca que gerou o projeto De dia de seus alunos, e a sugestão de cru-
mala e cuia. A demanda surgiu da equi- zamentos possíveis entre inúmeras ex-
pe de bibliotecárias da época que busca- pressões costumeiramente tratadas de
ram a área educativa propondo que se maneira estanque, como as crenças, os
distribuíssem aqueles livros “estratégi- saberes e relações sociais envolvidos na
cos” para as escolas como forma de re- preparação e realização de uma festa.
duzir essa enorme e desordenada fre- Propõe-se ali, portanto, a apropriação
qüência naquele período. dos temas por meio da investigação de
O projeto começou então a ser seus contextos; uma mudança radical,
gestado, a partir de um levantamento como quando se muda de mala e cuia.

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Fazendo fita Lucila Silva Telles é graduada e licenciada


Finalmente, o projeto Fazendo fita, em Letras pela UFRJ e trabalha no Centro
o mais recente de todos, oferece acervos Nacional de Folclore e Cultura Popular, do
Iphan.
de músicas e vídeos. Tendo por base tam-
bém o circuito da exposição permanen-
te, faz um passeio por um extenso uni-
verso de músicas cujos temas, ritmos e
contextos de ocorrências permitem es-
tabelecer inúmeras relações para tratar
a cultura popular. Nessa mesma linha,
mas em menor escala, pela própria li-
mitação de títulos, estão selecionadas as
produções em vídeo.
Com esses três projetos, parte dos
acervos institucionais, em seus diferen-
tes suportes – bibliográfico, museológico
e sonoro-visual –, é oferecida às esco-
las. Nos últimos anos temos tido expe-
riências novas de circulação desse ma-
terial, em outras cidades e estados,
em que os projetos percorrem as redes
de ensino sob coordenação de institui-
ções locais. Seu destino natural é ganhar
autonomia – pois já alcançaram a maio-
ridade – e, principalmente, se multipli-
car em diversas malas ou baús com es-
ses e outros acervos, constituídos nas vi-
vências, memórias e desejos coletivos de
que temos apenas vagas e eventuais no-
tícias.
Embora o desejo de manter a distân-
cia esse público – algumas vezes curio-
so e inquieto, outras, indiferente e pas-
sivo – se tenha expressado em algumas
vozes no início dessa trajetória e ainda
seja ouvido aqui e ali, essas experiênci-
as, ao contrário, nos tornam mais pró-
ximos, e mesmo cúmplices.

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