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A AÇÃO EDUCATIVA
NO CENTRO NACIONAL DE
FOLCLORE E CULTURA POPULAR
Palavras-chave
FOLCLORE, CULTURA, CULTURA POPULAR, EDUCAÇÃO, MUSEU,
BIBLIOTECA, PROJETOS EDUCATIVOS, AÇÃO EDUCATIVA.
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Textos escolhidos de cultura e arte populares, v. 3, n. 1, 2006.
Para falar a respeito da ação educativa muito claras do que sejam o saber e o
que desenvolvemos no Centro Nacional povo a que o termo se refere.
de Folclore e Cultura Popular, é preciso Assim, a partir da observação desse
falar um pouco sobre essa instituição e público, os educadores e educandos que
o modo como foram e são permanente- formam a maior parcela de visitantes e
mente construídos os diálogos que tra- pesquisadores de nossos acervos, e pen-
vamos com os educadores que nos che- sando em atendê-los de maneira a res-
gam, seja diretamente, seja por meio de ponder, de um lado, a suas questões e
seus alunos. expectativas e, de outro, às nossas pró-
prias, é que se foram construindo as li-
Não destacaremos aqui nenhum ob- nhas do trabalho educativo no Centro
jeto específico do acervo do Museu de Nacional de Folclore e Cultura Popular
Folclore, que é o procedimento algumas a partir dos anos 80.
vezes usado para iniciar a conversa com
educadores, posto que cada objeto mu- É importante frisar aqui que, assim
seológico carrega um conjunto de sabe- como a pesquisa, a educação sempre foi
res, histórias, crenças e expressões em uma importante linha de ação dessa ins-
sua confecção e utilização no contexto tituição. Desde 1958, quando foi criada
em que foi recolhido. Tem, portanto, como Campanha de Defesa do Folclore
uma longa trajetória até se tornar um Brasileiro, até os anos 70, ela era mar-
objeto estático, que não pode ser toca- cada pelas ações de pesquisa e difusão –
do, sob pena de se cometer alguma he- o museu é bem posterior, de 68. E essa
resia; pois se ele está em um museu, me- difusão tinha como objetivo claro a es-
rece certa reverência porque carrega um cola, onde eram realizados concursos de
valor, certa carga reverenciável que a redação, atribuídas premiações a traba-
maioria dos visitantes que nos chegam lhos escolares, distribuídas publicações.
não sabe qual é; só sabe que existe. Temos até hoje, e alguns de vocês de-
vem conhecer, vários exemplares das
Esse distanciamento reverente do séries Cadernos de Folclore e
público, diante do objeto de museu ou Documentário Sonoro do Folclore Bra-
do texto em uma publicação especializa- sileiro (que são uns disquinhos compac-
da, é um pouco o que nos move. Tam- tos). Cada número dessas séries tinha
bém nos movem outras reverências dis- tiragens em torno de 10.000 exempla-
tanciadoras percebidas nesse público, res, para garantir massiva distribuição
como com o tema folclore, que todo alu- às escolas do país. Com esse esforço de
no em qualquer escola aprende que sig- enorme fôlego, que tem origem nas re-
nifica “saber do povo”, algo que é im- comendações da Unesco, na década de
portante o suficiente para ter uma data 1940, no pós-guerra, no sentido da re-
especial que precisa ser comemorada a construção das nações por meio da va-
cada ano, embora ele não tenha idéias lorização da identidade dos povos, a
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quisa em biblioteca, é que foi sendo são, falamos bem pouco, apenas pontu-
construída a ação educativa que desen- ando algumas áreas que julgamos estra-
volvemos no Centro. tégicas, e por fim voltamos à conversa.
É sem dúvida a melhor parte. E o fato
Visita preparatória de ser quase sempre um grupo de pesso-
as que em geral não se conheciam é um
A partir de contatos diretos e indivi- ganho extra para todos, com as trocas
duais de professores que nos procura- que ocorrem, as diferenças e afinidades
vam com dúvidas sobre como trabalhar que vão surgindo e sendo tratadas ali.
os temas com seus alunos, pedíamos que Ao final, eles levam para casa alguns
eles visitassem a exposição permanente textos, entre eles os que integram o guia
e nos voltassem com as questões que a impresso à disposição dos visitantes na
visita lhes tinha suscitado. A partir des- exposição.
sa conversa seguinte, que em geral se A opção de não oferecer visitas guia-
abria com a discussão sobre as ausênci- das aos grupos parte do pressuposto de
as e presenças de temas por eles detec- que é o professor, que conhece a reali-
tadas na exposição e de suas expectati- dade de seus alunos, o melhor guia para
vas, a escolha de outros caminhos para sua turma. A partir desse encontro pré-
seu trabalho era possível, já que “o fol- vio, ele tem condição de estabelecer a
clore” passava a ser visto como algo melhor maneira de explorar a exposi-
muito mais próximo de seu universo e ção, trabalhando os temas que elegeu,
de seus alunos. Essas experiências defi- antes, durante e depois da visita. A ele
niram as visitas preparatórias, que são sugerimos mesmo que – como o univer-
sempre oferecidas aos profissionais que so que a mostra apresenta é enorme, com
vêm agendar uma visita de sua turma. possibilidades infinitas – faça suas es-
Essas visitas preparatórias hoje acon- colhas, elegendo algumas áreas e des-
tecem de maneira mais sistematizada. cartando outras, com o fim de fazer des-
Oferecidas uma a cada mês, em média, se museu um objeto permanente de pes-
nelas professores de diferentes realida- quisa, como quando escolhemos um ca-
des se encontram conosco para essa prá- pítulo de um livro para trabalhar, saben-
tica, que se inicia com um panorama ge- do que sempre poderemos voltar ao mes-
ral sobre o Centro; em seguida vamos à mo livro para estudar outros capítulos,
reserva técnica do museu com um em qualquer seqüência.
museólogo da casa, que fala do cami- Há alguns anos fizemos uma pesqui-
nho que um objeto percorre, desde o lo- sa especial para sondar os resultados da
cal em que foi coletado em pesquisa de visita preparatória. Uma estagiária nos-
campo até fazer parte do acervo, e tam- sa que não era conhecida do público
bém dos critérios de organização desses identificava na agenda as visitas de tur-
objetos na reserva. Depois passamos à mas cujos educadores tinham ou não par-
visita à exposição, em que nós, da Difu- ticipado de preparatória e perambulava
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pela exposição, como se fosse uma visi- mos, sobre nossa maneira de expor, de
tante qualquer, aproximando-se discre- argumentar.
tamente do grupo escolhido. Embora não Para aqueles que buscam mais infor-
tenha sido um trabalho mais constante mações, é oferecido o guia impresso, mas
e seus resultados não tenham chegado a sua leitura se mostra difícil e mesmo im-
uma sistematização, seus relatos sempre possível em alguns momentos, quando
confirmavam que estávamos na direção a iluminação é bastante rebaixada.
certa: enquanto os professores que ti- Como solução surgiu o guia sonoro,
nham feito a preparatória circulavam mais conhecido como audioguide, um
com mais segurança pelos espaços, ex- equipamento individual por meio do
ploravam alguns temas e até arriscavam qual as pessoas podem acessar informa-
alguns palpites, grande parcela dos pro- ções sobre o que estão vendo. Com ele,
fessores que não tinham participado che- fornecemos informações de maneira
gava ao museu pela primeira vez, por- mais ampla e confortável para o públi-
tanto na mesma condição de seus alu- co, mas continuamos de alguma forma
nos, e, na entrada de algumas galerias, a provocá-lo, pois os conteúdos ali ofe-
emudecia pelo impacto do que não es- recidos não são sempre objetivos. Resul-
perava encontrar e pela ausência dos te- tado de um exaustivo e sensível traba-
mas e informações que esperava reco- lho de pesquisa nos muitos acervos da
nhecer. casa, o guia sonoro apresenta falas di-
versas, músicas, depoimentos, sons que
Museu buscam sugerir contextos, profundida-
des em torno de determinados objetos
Uma das queixas mais freqüentes por ou conjuntos ali expostos.
parte do público que visita a exposição
permanente é a falta de informações. Os
Projetos educativos
objetos ali estão, na maioria das vezes,
inseridos em conjuntos, pelos quais que-
remos comunicar seus contextos de pro- Os projetos itinerantes levam para as
dução e uso. Optamos por abolir textos escolas, e eventualmente para institui-
referenciais, assim como vitrinas, com ções de cultura, um recorte dos acervos
a finalidade de, oferecendo menos “bar- do Centro. Dizemos recorte porque são
reiras” entre os objetos e o público, atin- de fato seleções, escolhas assumidas pela
gir sua sensibilidade e mesmo provocá- equipe, de temas e abordagens que nos
lo pelo estranhamento. As reações são, parecem mais apropriados por diversos
claro, as mais diferentes possíveis, e gos- critérios, e um deles, que está no argu-
tamos muito das negativas também, não mento de cada um dos projetos, é o con-
pelo simples gosto de ter provocado, mas junto de módulos temáticos que estrutu-
porque de fato nos dizem muitas coisas ram o roteiro da exposição permanente
sobre essas e outras escolhas que fize- – Vida, Técnica, Religião, Festa, Arte.
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