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MINISTRO DE ESTADO
Márcio Pereira Zimmermann
DIRETOR-PRESIDENTE
Agamenon Sergio Lucas Dantas
Editores
Reinaldo Santana Correia de Brito
Maria da Glória da Silva
Raul Minas Kuyumjian
Brasília, 2010
Copyright 2010
Impresso no Brasil
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser armazenada ou reproduzida por qualquer
meio sem a autorização expressa por escrito da CPRM
EDITORES
Reinaldo Santana Correia de Brito
Maria da Glória da Silva
Raul Minas Kuyumjian
REVISÃO
Os autores dos capítulos
REVISÃO FINAL
Hardy Jost
PUBLISHERS
Ernesto von Sperling
José Márcio Henriques Soares
ISBN 978-85-7499-095-8
CDD 553.430981
TIRAGEM
1.000 exemplares
APRESENTAÇÃO
V
VI
SUMÁRIO
Capítulo VIII - DEPÓSITO DE COBRE DAS MINAS DO CAMAQUÃ, RIO GRANDE DO SUL 163
João Angelo Toniolo, Marcus V. D. Remus & José Luiz Reischl
VII
VIII
CAPÍTULO I
Abstract This chapter is an introduction to the book Copper Deposit Models of Brazil, edited by the
Brazilian Geological Survey. The first discovery of copper occurrences in Brazil took place during the XIX
century. After that, new deposits were discovered and today the country is the 16th world producer of the
metal. During the last years a considerable improvement about the national territory geology took place
that resulted in the better understanding of the known Copper deposit and the recognition of new favorable
areas. In view to systematize Brazilian’s Copper deposits under the support of the increase in knowledge
and re-interpretation of mineralization processes, the best known deposits were considered as models
(descriptive and genetic) to support exploration in similar geological environments. In this book, each
model is described in separate chapters that contemplate the following deposits: 1 - Iron Oxide-Cu-Au
(IOCG) of the Carajás Province; 2 - Cu-Au porphyry of Chapada, Central Brazil; 3 - Cu-Ni magmatic
segregation deposits related to mafic-ultramafic differentiated intrusions Curaçá Valley Province; 4 - Ni-
Cu deposits of Fortaleza de Minas (O-Toole) related to komatiites of the Morro do Ferro greenstone belt,
Minas Gerais; 5 - Kuroko-type VMS deposits of Cabaçal, Mato Grosso State, and Bom jardim de Goiás,
Goiás; and 6 - Cu-Au-Ag deposit hosted by conglomerate-sandstone clastic sequence of Camaquã Mines,
State of Rio Grande do Sul. The book does not contemplate those deposits where Copper occurs as
associate to Lead and Zinc in carbonate sequences. The last chapter discusses the influence of intertropical
weathering on the Carajás and Chapada deposits. The most significant increase in Brazilian’s Copper
reserves took place between 1999 and 2000, by the definition of the Carajás Province reserves, but, in
2000, only the Caraíba deposit was under production. Until 2003 Brazil depended on significant Copper
import, but the picture gradually inverted from 2004 on and after 2007 the internal production became
larger than importation and the Carajás, Caraíba and Chapada may lead Brazil as a Copper self-sufficient
and exporter.
A descoberta das primeiras ocorrências de Cobre de Cobre conhecidas no Brasil à epoca e uma des
no Brasil datam do século XIX e ocorreu inicialmen crição suscinta dos depósitos dos municípios de Pi
te no Ceará (Pedra Verde 1833), depois no Rio cui (Paraíba), Jaguarari (Bahia) e Caçapava do Sul
Grande do Sul (Camaquã 1865) e na Bahia (Cara (Rio Grande do Sul). Nova obra surge ao final déca
íba 1874). Com o passar dos anos, novas jazidas da de 1980, quando o Departamento Nacional da
foram encontradas e hoje o País é o décimo sexto Produção Mineral DNPM, sob a coordenação de
maior produtor mundial de minério de Cobre e, em Schobbenhaus & Silva Filho publicou uma série inti
2008, a produção foi estimada em 210.000 ton de tulada Principais Depósitos Minerais do Brasil. O vo
metal. O Chile é o maior produtor mundial com 36% lume III dessa série, publicado em 1988, trata dos
do total, seguido por EUA (8%), Peru (7,6%) e China depósitos de Metais Básicos não Ferrosos e Alumí
(6%). As principais empresas produtoras no Brasil nio, com descrição de alguns depósitos de Cobre
são a Vale (60%), Mineração Maracá (Yamana) (25%), brasileiros. Após o final de 1990 nenhuma obra epe
Mineração Caraíba (13%). Outras perfazem 2%. Os cificamente dedicada aos depósitos de Cobre do Bra
principais Estados produtores são o Pará (60%), a sil foi produzida, exceto a de Dardenne & Schobe
Bahia (20%) e Goiás (20%). nhaus (2001), na qual todos os depósitos de Cobre
A primeira síntese sobre depósitos de Cobre no são abordados num contexto maior de discussão dos
Brasil foi produzida por Silvio Fróes de Abreu, em traços mais marcantes da metalogenia do Brasil.
1973, no livro Recursos Minerais do Brasil (volume Nos últimos 8 anos houve uma melhoria signifi
2) da Editora Blücher (USP). Naquela obra o autor cativa do grau de conhecimento das características
faz um breve relato sobre as principais ocorrências geológicas do território nacional, em decorrência da
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Hardy Jost, Maria da Glória da Silva, Raul Minas Kuyumjian & Reinaldo Santana de Brito
aquisição de novos dados aerogeofísicos de alta re onado a metamorfismo de baixo a médio grau e in
solução e da realização de trabalhos sistemáticos de trusões máficas e/ou granitos do tipo I ou A distais,
cartografia geológica em diferentes áreas do país. em contextos estratigráficos com abundância de BIF.
Isto permitiu a melhor compreensão dos depósitos Se manifestam por sistemas de alteração cálcio só
de Cobre conhecidos e o reconhecimento de áreas dica com expressão de dezenas a centenas de kilô
de favorabilidade para a presença de novos depósi metros quadrados, controlados por estruturas crus
tos. Tomando como espelho os resultados de estu tais de grande escala. Até o presente, depósitos desta
dos modernos que conduziram à re interpretação dos categoria no Brasil são reconhecidos apenas na Pro
processos envolvidos na formação de depósitos mi vìncia Carajás (Teixeira et al., neste livro, capí-
nerais em outros continentes, nasceu a proposta e o tulo II), onde são representados pelos depósitos
estímulo para realizar esta obra, a qual visa apre de Salobo, Sossego, Cristalino e Igarapé Bahia Ale
sentar uma síntese atualizada do conhecimento so mão e outros menores como Gameleira, Estrela, Bre
bre depósitos de Cobre conhecidos no Brasil, com o ves, Alvo GT 46 (Igarapé Cinzento), Águas Claras e
fulcro em depósitos modelos e apresentados em ca Alvo 118, em Carajás, e Serrote da Lage, em Sergi
pítulos independentes. Cada capítulo descreve um pe.
depósito modelo sob os prismas do histórico da des 2 - Depósitos de cobre-pórfiro resultam da
coberta, das reservas, das principais feições geoló concentração de sulfetos de Cobre, com possibilida
gicas do depósito, suas relações com as rochas en de de Mo e Au como co produtos, a partir de solu
caixantes, interpretação genética e critérios pros ções hidrotermais em posição apical de intrusões
pectivos, que visam subsidiar trabalhos futuros de dioríticas e granodioríticas. Estes depósitos são res
pesquisa em regiões com ambiente e processos ge ponsáveis por cerca de 60% do suprimento mundial
ológicos semelhantes. no metal e os principais produtores situam se nota
No que tange a informação acessível, os exem damente no Chile, no sudoeste dos Estados Unidos
plos são direcionados para depósitos economicamen e no oeste do Canadá. Até o momento, o único de
te explotáveis, pois é neles que estão expostos os pósito conhecido desta categoria é o de Chapada
argumentos que alimentam o conhecimento sobre o (Kuyumjian et al., capítulo III), localizadado no
ambiente geológico e as características que permi Arco Magmático de Mara Rosa, Goiás, na forma de
tam interpretar os processos de mineralização. A op magnetita biotita gnaisse e muscovita biotita xistos
ção por depósitos modelo apoiou se no avanço que derivados de protólito intrusivo cálcio alcalino félsi
ocorreu nos últimos anos sobre o entendimento dos co a intermediário deformado e circundado por ro
respectivos atributos empíricos (descritivos) e teó chas metavulcano sedimentares, em típica associa
ricos (genéticos) dos depósitos melhor conhecidos ção de ambiente de arco vulcânico.
por equipes de autores mais familiarizados com cada 3 - Depósitos de segregação magmática
depósito e proporcionar informações direcionadas depósitos desta categoria ocorrem associados a ro
para a exploração e avaliação do potencial mineral chas máfico ultramáficas e se formam por imiscibi
de outras regiões. A não inclusão de outros depósi lidade de líquidos durante a diferenciação magmáti
tos de Cobre que ocorrem no território nacional de ca. Este processo emvolve a geração de um líquido
riva da insuficiência na definição do seu contexto sulfetado, formado por assimilação de Enxofre das
metalogenético. Também não foram considerados os encaixantes, o qual se desmistura do líquido silica
depósitos nos quais o Cobre participa como associa tado. Depósitos desta natureza incluem algumas das
do a Pb e Zn em seqüências calcárias. maiores reservas mundiais de Cobre e onde o metal
Assim, na atualidade, os principais depósitos mi é, em geral, extraído como sub produto, ou co pro
nerais de Cobre brasileiros incluem os seguintes duto de Ni Co EGP. Dois sub tipos de depósitos de
modelos, em ordem decrescente de volume: segregação magmática são conhecidos:
1 - Depósitos do tipo Óxido de Fe-Cu-Au Depósitos associados a intrusões comportam
(IOCG) Depósitos desta categoria são considera três sub tipos. Um consiste de depósitos associados
dos como a expressão metassomática de eventos com intusões de rochas máficas e ultramáficas e com
de alteração de larga escala crustal relacionada com porta pelo menos três tipos distintos, em função da
intrusões e passaram a ser tipologia distinta a partir composição e ambiente da intrusão: (i) minerali
dos depósitos gigantes de Olympic Dam, Austrália. zação disseminada em dunitos alojados ao longo de
Sua formação é atribuída a um evento termal relaci contatos entre rochas sedimentares e vulcânicas de
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Modelos de depósitos de Cobre do Brasil Principais modelos de depósitos de Cobre no Brasil: aspectos históricos, contextos geológicos e importância
econômica
greenstone belts, onde podem acompanhar depósi Depósitos do Sub-tipo Kuroko consistem de
tos de Ni sulfetado em komatiitos, como exemplifi sulfeto maciço associado a rochas piroclásticas e
cam os depósitos de Agnew (Perseverance) e Mt domos félsicos a intermediários e sedimentos asso
Keith, na Austrália; (ii) depósitos associados a in ciados, em particular folhelhos ricos em matéria or
trusões rasas picríticas em derrames de basaltos con gânica, de ambiente de arco de ilhas e greenstone
tinentais, como os de Norils´k, Rússia; e (iii) mi belts. Distribuem se do Arqueano ao Terciário. Em
neralização maciça e disseminada das porções ba alguns casos, o sulfeto maciço está sobreposto a uma
sais de intrusões acamadadas de grande porte de zona de stockwork com sulfetos disseminados, em
ambiente de rift e que, no seu percurso intercepta meio a zonas de alteração hidrotermal contemporâ
ram folhelhos, evaporitos ou qualquer outro litótipo neas com o depósito. Economicamente, são explo
capaz de fornecer Enxôfre contaminante, como o rados principalmente para cobre, chumbo e zinco,
Complexo de Duluth, nos Estados Unidos. tendo como subproduto o ouro e a prata. Depósitos
Modelos de depósitos brasileiros, provavelmente desta categoria no Brasil compreendem os de Caba
semelhantes aos de Duluth, compreendem os do Vale çal, no Mato Grosso, (Pinho et al., capítulo VI) e
do Curaçá, na Bahia (Teixeira et al., capítulo IV), de Bom jardim de Goiás, Goiás (Seer & et al., ca-
os quais aparentemente têm um estágio magmático pítulo VII). O primeiro, com estrutura completa,
representado por mineralização disseminada em pi mas exaurido, consiste de lentes de sulfeto maciço
roxenito e norito, e um segundo estágio inequivoca acompahado de mineralização em stockwork do sis
mente hidrotermal, do tipo Fe Cu Au, com minerali tema alimentador hospedados na transição entre
zação disseminada em glimerito. Até o momento, rochas metavulcânicas félsicas e unidades tufáceas.
são conhecidos apens dois distritos adicionais com O segundo se manifesta apenas como stockwork do
mineralização semelhante em intrusões máfico ul conduto exalativo alojado em metapiroclásticas da
tramáficas, quais sejam, a de Americano do Brasil cíticas/riodacíticas a andesíticas do Arco Magmático
(Americano do Brasil, Mangabal I e Mangabal II), de Arenópolis, na Faixa Brasília. Ocorrências brasi
em Goiás e o Complexo de Canindé do São Francis leiras semelhantes compreendem as de Palmeiró
co, em Sergipe. polis (Goiás) e várias da Bahia, Ceará, Pará e Rio
Depósitos associados a komatiitos São típi Grande do Sul.
cos de greenstone belts do Arqueano e do Paleopro Em contraste, o Sub-tipo Chipre consiste de
terozóico, onde ocorrem como sulfeto maciço e dis sulfeto maciço associado a rochas da porção vulcâ
seminado ao longo da base das fácies de canais de nica máfica de ofiolitos derivados de zonas de rift
escoamento de derrames komatiíticos com interca axial de cadeias mesoceânicas ou de back arc. O
lações de rochas sedimentares capazes de fornecer Sub-tipo Besshi, por sua vez, consiste em sulfetos
o enxôfre contaminante. Exemplos clássicos desta maciços intercalados em rochas sedimentares terrí
categoria compreendem os de Kambalda, Austrália. genas laminadas, brechas, tufos basálticos a ande
No Brasil, conhece se apenas um depósito, esgota síticos, BIFs e chert vermelho, de ambiente tectôni
do, de Cu Ni em komatiitos e que compreende o de co incerto. Tudo indica que o ambiente seja do tipo
Fortaleza de Minas (Carvalho & Brenner, capítulo bacia de intra arco falhada, bacia de back arc, ou
V), no greenstone belt Morro do Ferro, em Minas mesmo zona de acresção sob sedimentos terríge
Gerais, e uma ocorrência, a de Bela Vista, no gre nos de talude continental.
enstone belt de Crixás, Goiás. 5 - Depósitos em séries sedimentares detrí-
4 - Os depósitos vulcanogênicos - VMS - Re ticas estão relacionados com espessas seqüências
sultam da precipitação química de metais e outros sedimentares e podem ser do tipo Red Bed, de ocor
elementos a partir de exalações vulcânicas. Cerca rência em sucessões de conglomerados e arenitos
de 15% das reservas mundiais de cobre ocorrem arcoseanos de ambientes continentais ou transicio
em jazidas vulcanogênicas e são explorados para nais, e do tipo Kupferschiefer, associado a camadas
Cobre, Chumbo e Zinco, com Ouro e Prata como de folhelhos lagunares e marinhos. No Brasil, exem
subprodutos. Depósitos desta categoria compreen plos de depósitos de cobre associados a seqüências
dem três sub tipos, isto é, Kuroko, Chipre e Beshi. de conglomerados e arenitos arcoseanos (tipo Red
Dentre estes, se tem conhecimento de ocorrência Bed) compreendem os do Distrito de Camaquã (To-
em território brasileiro apenas do tipo Kuroko e, até niolo et al., capítulo VIII), no Rio Grande do Sul.
o presente, não há registro dos demais. Prováveis depósitos do tipo Kupferschiefer compre
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Hardy Jost, Maria da Glória da Silva, Raul Minas Kuyumjian & Reinaldo Santana de Brito
endem as ocorrências de Pedra Verde, São Julião e cimo de reservas pela inclusão do depósito de Ser
Aurora, no Nordeste, e o de Terra Preta, no Mato rote da Lage, em Alagoas. Novo incremente de re
Groso. servas ocorreu em 1999 com a reavaliação do depó
Além das cinco tipologias de depósitos de Cobre sito de Chapada, que entrou em operação em 2006.
descritas nesta obra, o metal é também explorado, Significativo aumento de reserva ocorreu entre 1999
em menor escala de (1) veios de quartzo, siderita e e 2000, com o aprofundamento das pesquisas e con
outros carbonatos, em geral pequenos, com enargi seqüente maior definição das reservas de Carajás,
ta, calcosina, calcopirita e bornita, mas que, no Bra mas, em 2000, apenas o depósito de Caraíba estava
sil se conhecem apenas ocorrências; (2) depósitos em explotação.
em escarnitos, formados por metamorfismo e me Das reservas totais de minério de cobre determi
tassomatismo de contato de granitos sobre seqüên nadas em 2000 pelo Departamento Nacional da Pro
cias com rochas carbonáticas e, no Brasil, são ainda dução Mineral DNPM, 75,2% foram medidas, 10,7%
desconhecidos e (3) cobre nativo em basaltos conti indicadas e 14,1% inferidas, distribuídas entre os
nentais, raros e que, no Brasil, há apenas ocorrênci Estados do Pará (64,5%), Goiás (20,1%), Alagoas
as sem importância econômica nos basaltos da Ba (4,5%), Bahia (4,2%), Ceará (3,4%), Mato Grosso
cia do Paraná, no Rio Grande do Sul. do Sul (2,2%), Minas Gerais (0,2%) e Mato Grosso,
Tendo em vista que a obra tem por finalidade não considerados todos os tipos de depósitos, inclusive
apenas divulgar o conhecimento, mas subsidiar a os em rochas calcárias do Paraná.
exploração mineral, seu conteúdo não seria com A balança comercial do minério de Cobre mostra
pleto se não incluísse os efeitos de flutuações climá que até 2003 o Brasil dependia de significativa im
ticas intetropicais quentes e úmidas que afetaram o portação de Cobre, quadro este que passou a se in
território nacional desde o início do Terciário. Em verter gradualmente a partir de 2004 e, de 2007 em
vista disso, a obra também inclui um capítulo dedi diante, a produção interna superou as importações
cado aos efeitos do intemperismo sobre alguns dos e os depósitos de Carajás, Caraíba e Chapada pode
depósitos melhor conhecidos (Porto et al., capítu- rão tornar o Brasil autosuficiente e exportador do
lo IX). metal.
O elenco de depósitos descritos nesta obra reve
la, também, traços interessantes do histórico da pro Referências
dução de Cobre no Brasil. Assim, a primeira mina a
entrar em operação foi a de Camaquã, onde a ativi Schobenhaus C. & Silva Coelho C.E. 1988. Principais de-
pósitos minerais do Brasil - Metais básicos não-ferro-
dade inciou em 1888 e perdurou até 1996, quando sos, Ouro e Alumínio. Departamento Nacional da Pro-
foi destivada. Camaquã foi a principal fonte de Co dução Mineral & Companhia Vale do Rio Doce, Vol. 3,
670 p.
bre até 1986, quando ingressou a produção de Ca
Dardenne M.A. & Schobenhaus C. 2001. Metalogênese do
raíba, seguido de Cabaçal em 1987 que encerrou as Brasil. Editora da Universidade de Brasília, 392 p.
atividades em 1991. Entre 1990 e 1992, houve acrés Fróes de Abreu, S.1973 Recursos minerais do Brasil. Edgard
Blucher, São Paulo, Vol. 2, 2a ed., 320 p.
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CAPÍTULO II
DEPÓSITOS DE ÓXIDOS DE
FERRO-COBRE-OURO DE CARAJÁS
1
Grupo de Metalogênese, Centro de Pesquisa em Geofísica e Geologia, Universidade Federal da Bahia, Campus
Universitário de Ondina, Salvador, Bahia, 40170-290.
2
Consultora Independente. Email: zaragerhardt@gmail.com.
3
Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Av. Ulysses Guimarães, 2862, Sussuarana, Centro Administrativo da
Bahia, Salvador, Bahia, 41213-000.
Abstract The iron oxide-copper-gold (IOCG) deposits of Carajás, Pará State, Brazil, make up a
variety of Archean-Paleoproterozoic mineralizations never before described in the same region. At
one side are the Salobo-type deposits, which can be considered classic IOCGs. At the other end of
the spectrum are the Breves, Estrela, Águas Claras and Alvo 118 deposits, which register successive
processes of hydrothermal alteration, representing a continuum from IOCG into Li–Be–Sn–W greisen
deposits. Resources of all these IOCG deposits together are estimated at 2,500Mt @ 1% Cu and
0.5gAu/t. The main metallotects that seem to lead to the concentration of metals include reactivated
splays of regional shear zones, which cut reactive, mafic to intermediate rocks, besides granitic
intrusions, which acted as the fluid source, and impermeable units that constituted barriers to magmatic
hydrothermal mineralizing fluids. Sulfur concentration increases along with the increased ratio of
felsic to mafic rocks. The tectonic history of the Carajás Province involves an Archean phase of
convergence, followed by a Paleoproterozoic mantle plume. Subduction occurred beneath the southern
edge of the high grade Xingu Complex between 2.76 and 2.74Ga. The passive margin was at the
northern boundary of the Rio Maria granite-greenstone terrain. In the Paleoproterozoic, the high
grade and low grade collision terrains were invaded by granitic plutons.The anorogenic granites of
Carajás were placed at shallow crustal levels during extensional tectonic regime in response to an
important activity of mantle plume, which resulted in widespread continental volcanism in the Amazon
Craton within the 1.88–1.76Ga interval. Isotopic ages and compositions for several of these IOCG
ores confirm a secular variation of the regional alteration style, in which magmatic fluids initially
oxidizing and alkaline in the deep and hot deposits, have evolved into acidic and reductant fluids in
the shallow, hybrid deposits. In summary, the terrains of the Carajás Province are recognized as the
result of the juxtaposition of a paleoproterozoic mantle plume with an Archean, Andean-type
volcanoplutonic arch. Hydrothermal processes that occurred associated with phases of tectonic
reactivation and granitogenesis in these terrains, are responsible for the various styles of IOCG
mineralizations, which ultimately are part of the process of crustal recycling that occurs in the region
since the Neoarchean.
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Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósitos de Óxidos de Ferro cobre ouro de Carajás
Olympic Dam (Lindenmayer 1998, Lindenmayer & sul, mais antigo (2,86 3,0Ga), denominado Bloco
Teixeira1999); (v) tipo Besshi (Almada & Villas Rio Maria, compreende um típico terreno granito
1999); e (vi) tipo híbrido, singenético exalativo as greenstone arqueano. O domínio a norte, denomi
sociado a óxidos de Fe U ETR da classe OFCO nado Cinturão Itacaiúnas, evoluiu entre 2,8 e
(Dreher 2004). Tipos híbridos caracteristos, inclu 2,5Ga, sendo composto por rochas vulcanossedi
indo cobre pórfiro associado a cúpulas graníticas mentares e granitóides (Dall’Agnol et al. 2005,
e óxido de Fe (Cu Au) foram identificados, respec Tallarico et al. 2004, Macambira et al. 1990), hos
tivamente, nos depósitos Breves e Estrela por pedeiras dos grandes depósitos de Fe, Cu Au, Mn,
Botelho et al. (2004) e Lindenmayer et al. (2005). Ni e Zn. Esses dois domínios são interpretados
A maior parte das jazidas está relacionada com como produto da justaposição de ambientes de
granitóides que foram colocados em três episódi arco vulcano plutônico do tipo Andes Central, que
os distintos: o primeiro, no Neoarqueano (2,7Ga), mais tarde foram afetados por uma pluma manté
o segundo do Neoarqueano ao Paleoproterozóico lica de caráter intracontinental (Teixeira 1994, Tei
(±2,5Ga) e o terceiro no Paleoproterozóico xeira & Lindenmayer 2006).
(1,88Ga). Estas parecem ser também as idades O Cinturão Itacaiúnas, que engloba a Serra de
isotópicas dos minérios, indicando uma recorrên Carajás, compreende uma faixa de direção WNW,
cia de eventos mineralizantes. composta por metandesitos basálticos e rochas
Tallarico et al. (2004) sugeriram que os depósi vulcânicas félsicas (2,7Ga), reunidos no Supergru
tos proterozóicos de menor porte, como Gamelei po Itacaiúnas, nas quais se intercalam formações
ra, Breves e Águas Claras, que apresentam uma ferríferas bandadas (jaspilitos), rochas vulcanoclás
assembléia mais rica em enxofre e quartzo e mais ticas e sedimentares clásticas, cujo grau de meta
pobre em óxido de ferro, estariam relacionados a morfismo varia desde anquimetamórfico até anfibo
uma alteração do tipo greisen. lito. Essas unidades estão discordantemente cober
Pimentel et al. (2003) e Lindenmayer (2003) con tas pelos depósitos clásticos, fluviais a marinhos, da
cluiram que as rochas ricas em ferro, hospedeiras Formação Águas Claras. O embasamento é domina
do minério de Cu Au de Gameleira e do Salobo, do por gnaisses graníticos, tonalíticos e trondhjemí
foram formadas por alteração hidrotermal e ferro ticos (terreno TTG), anfibolitos e quartzitos do Com
metassomatismo das rochas vulcânicas máficas e plexo Xingu (2,8Ga), tal como definido por Macambi
félsicas hospedeiras. O enriquecimento localizado ra et al. (1990), Araújo & Maia (1991), Araújo et al.
em ferro ocorreu após a alteração cálcico sódica (1994) e Nogueira & Truckenbrodt (1994).
regional e foi contemporâneo com os processos Núcleos granulíticos mais antigos do Complexo
de sulfetação e potassificação, comuns na maio Pium, alongados segundo E W e dispostos a sul da
ria dos depósitos de Carajás. Adicionalmente, es Serra de Carajás, ocupam áreas restritas e são com
tágios peculiares de alteração fílica tardia (Bo postos por granulitos máficos e félsicos, enderbitos
telho et al. 2004) ou greisenização (Lindenmayer e charnoquitos, de idades em torno de 3,0Ga. Estes
et al. 2004) foram descritos, respectivamente, nos granulitos são interpretados como fragmentos da
depósitos Breves e Estrela. crosta inferior, colocados ao longo de zonas de cisa
O objetivo deste trabalho é apresentar o esta lhamento regionais, testemunhos da justaposição
do da arte do conhecimento atual, discutindo se dos dois blocos crustais (Araújo & Maia 1991).
as semelhanças e diferenças entre os respectivos As sequências greenstone belt do Bloco Rio Ma
depósitos, bem como as hipóteses genéticas atu ria estão metamorfisadas na fácies xisto verde e
almente vigentes. Sumariando, os depósitos de consistem de derrames basálticos e komatiíticos
cobre de Carajás são internacionalmente reconhe na base com intercalações de formação ferrífera
cidos como típicos OFCOs, embora existam varia bandada e chert, que gradacionam ao topo para
ções e peculiaridades localizadas, permitindo a se metarriodacito intercalado a metapelito e metap
paração em subtipos, como adiante descrito. samito. Estas sequências formam faixas estreitas
e deformadas, distribuídas sobre o embasamento
CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL gnáissico do Complexo Xingu e entre os granitói
des arqueanos e paleoproterozóicos que dominam
A Província Mineral de Carajás engloba dois a região (Dall’Agnol et al. 2005).
domínios tectônicos distintos (Fig. 1). O domínio a Intrusões granitóides mesoarqueanas (2,87
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João Batista Guimarães Teixeira, Zar a Gerhardt Undenmayer & Maria d a Glória da Silva
MESOZÓICO NEOARQUEANO
Figura 1 Mapa geológico regional da Província Mineral de Carajás. Compilado e interpretado a partir dos
dados da Carta Geológica do Brasil ao Milionésimo GIS Brasil (CPRM 2004).
19
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósitos de Óxidos de Ferro cobre ouro de Carajás
2,95Ga) correspondem aos tonalitos Arco Verde, ferro e quartzitos; (ii) o Grupo Grão Pará (Beisie
Parazônia e Caracol, aos trondhjemitos Mogno e gel et al. 1973), formado por basaltos espilitiza
Água Fria, aos granitos Guarantã, Xinguara e Mata dos, vulcânicas máfico félsicas e piroclásticas, da
Surrão e ao Granodiorito Rio Maria (Macambira et tadas de 2,76 2,74Ga (U Pb,Trendall et al. 1998,
al. 1990). Machado et al. 1991) além de camadas espessas
Diversos granitos alcalinos e metaluminosos do de FFB da Formação Carajás; (iii) o Grupo Igarapé
Neoarqueano (2,7Ga) ocorrem na Serra de Cara Bahia, confinado à área da mina de ouro de Igara
jás, como o Complexo Granítico Estrela, Granito pé Bahia, é composto por rochas sedimentares e
Planalto e Granito Serra do Rabo. No Bloco Rio vulcanoclásticas de composição félsica e máfica,
Maria os granitos alcalinos são representados pela além de intrusivas máficas e rochas vulcânicas, com
Suíte Plaquê (Dall’Agnol et al. 2005, Macambira et uma idade mínima de 2772±46 Ma (Galarza et al.
al. 1990, Sardinha 2002). Estas intrusões demar 2001). Essas unidades supracrustais são cober
cam uma importante fase de deformação regional, tas discordantemente por sedimentos detríticos,
concomitante com a efusão dos andesitos basálti marinhos rasos a fluviais, da formação Águas Cla
cos da Serra de Carajás (Pinheiro & Holdsworth ras, datada de 2681±5Ma (Trendall et al. 1998,
1997). Araújo & Maia 1991, Nogueira & Truckenbrodt
A crosta arqueana do domínio colisional foi in 1994).
vadida, há cerca de 1,88Ga, por intrusões do tipo As rochas do Supergrupo Itacaiúnas e da Forma
rapakivi, tais como os granitos Carajás, Cigano, ção Águas Claras foram intersectadas por grandes
Salobo e Pojuca no Cinturão Itacaiúnas e pelos falhas transcorrentes E W entre 2,58 e 2,52Ga (Pi
granitos Jamon e Musa no Bloco Rio Maria nheiro & Holdsworth 1997), representantes da re
(Dall’Agnol et al. 2005). ativação de antigas falhas do embasamento. Tais
As diferenças entre os dois domínios arquea falhas são mais ou menos contemporâneas com
nos são refletidas em seus potenciais metaloge as intrusões dos granitos do Salobo e Itacaiúnas,
néticos. O Cinturão Itacaiúnas hospeda os mais cristalizados, respectivamente, há 2573±2Ma (U
importantes depósitos minerais conhecidos atu Pb zircão, Machado et al. 1991) e 2560±37Ma (Pb
almente no Cráton Amazônico (Fe, Cu Au, Mn, Ni, Pb em zircão por evaporação, Souza et al. 1996).
Al). No Bloco Rio Maria são conhecidos alguns de Estes granitos são alcalinos e metaluminosos, ten
pósitos de Au e W, além de pequenos depósitos do sido afetados por deformação dúctil (Linden
de Cu (Dall’Agnol et al. 2005), como Boa Esperan mayer 1990).
ça e Cuca. Outra reativação importante do mesmo siste
ma de falhas é evidenciada pela brechação inten
GEOLOGIA DA SERRA DE CARAJÁS sa do granito jovem do depósito Estrela, colocado
há 1,88Ga, quando toda a região foi cortada por
Os depósitos de OFCO, em sua maioria, hos granitos anorogênicos ricos em álcalis, represen
pedam se em rochas vulcânicas máficas a inter tados na área de Carajás pelos granitos Carajás,
mediárias do Supergrupo Itacaiúnas, conforme re Cigano, Pojuca, Estrela e Salobo Jovem (Linden
latório interno da Docegeo (1988) (Fig. 2). Este mayer et al. 2005).
Supergrupo contém também rochas piroclásticas, A idade de 2,76Ga atribuída para a cristaliza
rochas subvulcânicas e camadas espessas e con ção original das rochas vulcânicas do Grupo Salo
tínuas de jaspilitos da formação ferrífera bandada bo Pojuca, da base do Supergrupo Itacaiúnas, in
(FFB) da Formação Carajás (Beisiegel et al. 1973). dica que o Grupo Salobo Pojuca e as rochas vul
As rochas vulcânicas são principalmente andesi cânicas Grão Pará sobrejacentes são parte de um
tos basálticos de filiação cálcico alcalina (Teixeira evento vulcânico contínuo (Pimentel et al. 2003).
& Eggler 1994). A sequência repousa discordan Rochas máficas intrusivas portadoras de piro
temente sobre os gnaisses TTG do Complexo Xin xênio são raramente encontradas, ocorrendo prin
gu, com idade de ca. 2,86Ga (Silva et al. 1974, cipalmente em soleiras que intrudiram as forma
Machado et al. 1991). ções ferríferas bandadas (Teixeira & Eggler 1994,
O Supergrupo Itacaiúnas é dividido em três gru Lindenmayer et al. 2002).
pos: (i) o Grupo Salobo Pojuca, basal, (Docegeo A origem da paragênese mineral que predomi
1988), composto por anfibolitos, rochas ricas em na nas vulcânicas máficas e rochas intrusivas as
20
João Batista Guimarães Teixeira, Zar a Gerhardt Undenmayer & Maria d a G/6ria da Silva
s•3o·
6000'
6°30'
MESOZÓICO o 50 100km
NEOARQUEANO 0 GRANULITO
0 GRANITÓIDES. MINAS E DEPÓSITOS DE OFCO
D Complexo MÁFICO.ULTRAMÁFICO. 1• Salobo: Cu (Fe-Au-Ag-Mo)
D Grupo BURITIRAMA: Mármore, quartzito ferruginoso, 2• Sossego: Cu-Au
mica-xisto, rochas metassedimentares elásticas e 3- Cristal ino: Cu-Au
químicas. 4- Igarapé Bahia-Alemão: Cu-Au
5- Gameleira: Cu (Fe-Au-Mo-Co-U-F-€TR)
D Formação ÁGUAS CLARAS: Arenito, conglomerado,
6- GT-46 (Igarapé Cinzento): Cu-Au
pelito, slltito.
7- Estrela: Cu (Mo-Au-Sn)
c::::JGrupo IGARAP~ BAHIA: Formação ferrífera bandada, 8- Breves: Cu (Au-Ag-W..Si-Sn)
metabasalto, metadiorito, metavulcãnicas félsicas, 9- Águas Claras: Au (Cu-Ag)
metapiroclásticas, rochas metassedlmentares elásticas. 10- 118: Cu-Au
Figura 2 Mapa geológico do setor nordeste da Província Mineral de Carajás com localização dos principais
depósitos de óxidos de ferro cobre ouro (OFCO). Compilado e interpretado a partir dos dados da Carta do
Brasil ao Milionésimo GIS Brasil (CPRM 2004).
21
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósitos de Óxidos de Ferro cobre ouro de Carajás
DEPÓSITOS DE OFCO DE CARAJÁS mão. Com exceção do último depósito onde domi
na alteração cloritica, a alteração potássica, jun
A maioria dos depósitos de OFCO de Carajás tamente com o enriquecimento em ferro e sulfeta
está localizada em ramificações reativadas das ção é uma cacacteristica dos minérios de OFCO de
zonas de falha regionais, como por exemplo os Carajás. A mineralogia de alteração consiste de
depósitos Salobo, Gameleira, Sossego, Cristalino biotita rica em flúor, K feldspato, magnetita, faya
e Alvo GT 46. Com exceção de Igarapé Bahia Ale lita, grunerita, almandina, quartzo, turmalina, al
mão, os depósitos de OFCO estão intimamente re bita, allanita uraninita, fluorita, pirita, calcopirita,
lacionados com granitos e a maioria deles hospe ouro, bornita, calcosita, pirrotita, Co pentlandita
da se em rochas máficas reativas. e molibdenita.
A interação de fluidos magmáticos graníticos A fase final de alteração é caracterizada por
com as rochas hospedeiras máficas, nos sistemas lixiviação de potássio e formação de clorita ao lon
hidrotermais, resultou em um caráter geoquímico go de fraturas e selando veios, juntamente com
bimodal para estes depósitos, que contêm as as carbonatos (calcita a siderita) e epidoto, indican
sociações ETR, U, F, Mo ou Cu Au e Co, Ni, Cr, res do que parte do cálcio, lixiviado na alteração cálci
pectivamente (Lindenmayer et al. 2001). A presen co sódica, retornou ao sistema. Este é o tipo de
ça de uma rocha impermeável, favorecendo a ca alteração mais importante no depósito Igarapé
nalização de fluidos também é importante, como Bahia Alemão e também está presente em zonas
por exemplo, os quartzitos Salobo, o contato ga localizadas de algumas jazidas. Alguns depósitos,
bro andesito em Gameleira, o contato vulcânicas como por exemplo, Estrela (Lindenmayer et al.
máficas félsicas no Estrela e a soleira máfica no 2004) e Breves (Botelho et al. 2004) mostram uma
depósito Águas Claras. alteração tardia bastante diferente, representa
Os estilos de mineralização são caracterizados da por uma fase incipiente de greisenização, iden
principalmente por veios, brechas, veios brecha tificada pela destruição do plagioclásio e forma
dos e disseminações. Nos depósitos do norte da ção de “zonas esbranquiçadas”, em Estrela, e “zo
serra predominam sulfetos de cobre de baixo en nas escuras”, em Breves, compostas por quartzo,
xofre, enquanto que no sul predominam os sulfe topázio, mica branca e siderofilita, além de clorita
tos de alto teor de enxofre. O aumento de sulfe e fluorita, juntamente com wolframita, berilo, ber
tos ricos em enxofre associa se à maior presença trandita e cassiterita, estes últimos, em Breves.
de rochas félsicas, hospedeiras dos depósitos. Em geral, a salinidade assim como a evolução
A maioria dos depósitos compartilha a mesma dos fluidos mineralizantes são bastante semelhan
sucessão de fases de alteração hidrotermal. No tes em todos esses depósitos. O sistema hidro
entanto, a intensidade e a extensão em área de termal inicia com fluidos magmáticos de alta sali
cada estágio é muito variável. Alteração cálcico nidade que evoluem, com a diminuição de tempe
sódica, precoce e pervasiva, muitas vezes super ratura, para fluidos menos salinos, após mistura
posta ao metamorfismo, é observada ao longo dos com fluidos externos, de origem diversa (Réquia
100km do cinturão de Carajás desde Salobo Po et al. 2003, Dreher 2004) ou após a ebulição (Ron
juca a NW, até os depósitos Estrela e Cristalino, chi et al. 2003).
no extremo SE. Esta alteração precedeu a mine
ralização OFCO e sua ocorrência generalizada su Depósito Salobo
gere que ela não está relacionada diretamente com
a concentração do minério. Seus produtos princi O depósito de Cu (Fe Ag Au Mo) do Salobo é
pais são anfibólios cálcicos ricos em K (Gomes a maior jazida de cobre do Brasil, com 789 milhões
2002), hastingsita, Fe pargasita, Fe hornblenda e de toneladas de minério contendo 0,96% Cu,
actinolita associadas com albita, quartzo, Ti mag 55gAg/t e 0,52gAu/t (Vianna 1997). Este depósito
netita e escapolita subordinada. Esta fase é mui foi descoberto em 1977 pela Docegeo, como re
to bem representada nos gabro dioritos de Ga sultado de follow up de anomalias geoquímicas de
meleira e nos andesitos basálticos do Salobo, bem sedimentos de corrente e de levantamentos geo
como no Cristalino e Sossego. Remanescentes físicos (Farias & Saueressig 1982).
desta alteração são observados também no De O depósito situa se 30km a norte da Serra de
pósito Estrela e no depósito Igarapé Bahia Ale Carajás, em uma faixa montanhosa composta pelas
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João Batista Gu/marã~s Teix~lra, Zara ~rhardt Un{ft,nmayer & Maria d a Glória da Silva
rochas do Grupo Salobo Pojuca, que se estende por adas de magnetita, grunerita, almandina, fayalita,
3,5 km de direção WNW ESSE, balizadas1 a norte, biotita, hastingsita, bomita, calcosita e calcopirita,
por gnaisses trondhjemft icos e, a sul, por quartzí com intercalações de bandas de rochas com biotita,
tos . granada e quartzo ( ±plagioclásio± grunerita), ante
De acordo com Siqueira & Costa (1991), o depó riormente denominadas de xistos, e formações fer
sito Salobo corresponde a uma estrut ura duplex for ríferas e rochas com hastingsita e plagioclásio (anti
mado por duas zonas de cisalhamento: uma curvilí bolitos) . Quartzitos balizam a sul esta zona minera
nea a norte e uma retilínea a sul. Esta zona de cisa lizada (Lindenmayer 1990).
lhamento desenvolveu se há 2555±4 Ma (Machado Os minerais de minério consistem principalmen
et a/. 1991), imprimindo a todas as rochas do depó te de bornita e calcosita, com calcopirita subordi
sito, com exceção das intrusões mais jovens, forte nada, hospedadas em bandas ricas em magnetita
foliação subvertical, muitas vezes de caráter miloní ( Lindenmayer 1981, 1990; Farias & Saueressig
ti co. 1982). Minerais de ganga incluem fayalita, grune
A zona mineralizada tem espessura de 300 a rita, hastingsita, Fe biotita , almandina, quartzo ,
600m, que se prolonga para além de 700m de pro turmalina, mica branca, fluorita, allanita, greenali
fundidade. Ela é composta por rochas muito defor ta, clorita e stilpnomelano. Veios mineralizados tar
madas e hidrotermalizadas, nas quais a mineralo dios contêm grafita, calcopirita, molibdenita, ura
gia original encontra se completamente substitu ninita, ilmen ita, Co pentlandita, safflorita, covelli
fda por novas assembléias hidrotermals. Os con ta, digenita, hematita, cobre e ouro nativos (Lin
tatos entre os diversos litotipos são normalmen denmayer 1990).
te gradacionais e se verificam por meio do aumen As rochas compostas de magnetita, grunerita, ai
to ou diminuição da percentagem de uma ou mais mandina, fayalita, biotita, hastingsita e quartzo de
fases minerais (Fig. 3). rivam da alteração de basaltos andesíticos e foram
Basaltos andesít icos e dacitos compreendem divididas em dois grupos, com base na assembléia
atua lmente rochas formadas por proporções vari mineral e composição quím ica: o primeiro com A1p 3
.
·.,.,··..
VvY.
··~v"./~
'.JI y.'?
?' \
\
O 250 500m
LEGENDA
I"v v vi Soleiras de diabâsio fanerozóico
rnm Zonas de cisalhamento
D Quartzito
CJ Rocha vulcânica félsica alterada
Rocha vulcênica mâfica alterada - Minério grunerltico
D Complexo Xingu
f Zonas de falha
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Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósitos de Óxidos de Ferro cobre ouro de Carajás
<3,00% e Fe2O3t=27,20 83,00% e o segundo com cluir que a presença de fluorita como fase tardia,
t
Al2O3=3,01 14,00% e Fe2O 3
=23,00 79,00% (Lin indica a importância de fluidos ricos em flúor, que
denmayer 1990). poderiam ser os responsáveis pelo enriquecimen
No primeiro grupo predominam magnetita, faya to de ETR no depósito Salobo.
lita e grunerita, tendo hastingsita, Fe biotita e gra As rochas hospedeiras do Salobo foram forma
nada como constituintes menores, enquanto que o das sob a influência de um sistema hidrotermal
segundo grupo é formado predominantemente por em temperatura decrescente (Lindenmayer 2003).
almandina, Fe biotita, grunerita (fayalita) e magne A mais alta temperatura de equilíbrio estimada foi
tita, tendo quartzo como acessório. O primeiro gru de 750º C, representada pela assembléia, fayali
po hospeda o minério de mais alto teor. Estas ro ta, hastingsita, Mn almandina, grafita, magnetita
chas metavulcânicas mostram graus variáveis de e calcopirita. Processos de ferrificação e sulfeta
enriquecimento em ferro, processo que deu ori ção ocorreram durante este estágio de alteração.
gem às rochas ricas em magnetita, com conteú Com o decréscimo de temperatura (550 650ºC,
dos de Al2O3 em torno de 3 por cento. Elas plotam 2,5 kbar), fluidos ricos em K, alcalinos e fracamen
ao longo de uma linha de mistura entre andesito te oxidantes, promoveram o crescimento de bioti
basáltico, dacito e rochas pobres em Al (<3% Al2O3) ta, com a incorporação do K e SiO2, juntamente
em diagramas binários FeOt Al2O3, FeOt Zr e FeOt com a lixiviação do Ca e Sr, propiciando o equilí
SiO2 (Lindenmayer 1990). brio da assembléia mineral característica deste
As rochas com biotita, granada e quartzo domi estágio de alteração. Os minerais de alteração são
nam em uma zona intermediária de 50 a 200m de biotita, albita, grunerita, magnetita, bornita calco
espessura, situada entre os quartzitos e as rochas sita, quartzo e turmalina. Sob temperaturas infe
a magnetita, grunerita, almandina, fayalita, biotita, riores a 370ºC e regime dúctil rúptil, desenvolveu
hastingsita. Essas rochas, derivadas da alteração se um estágio tardio de alteração clorítica, associ
de dacitos, formam camadas ou lentes individuais ado a minerais portadores de Ca como calcita,
de 10 a 30m de espessura, sendo compostas por epidoto e fluorita (Lindenmayer 2003), seguido por
quartzo, biotita, almandina e plagioclásio (An21 a um enriquecimento em muscovita ao longo de pla
An64), com quantidades subordinadas de muscovita, nos de fratura.
turmalina, sillimanita e clorita e tendo como acessó A alteração hidrotermal é caracterizada por flui
rios magnetita e zircão. As rochas com hastingsita e dos magmáticos, altamente salinos (34 a 52%
plagioclásio resultam da alteração hidrotermal de ba eq.NaCl), que evoluiram para fluidos menos sali
saltos andesíticos e ocorrem em níveis lenticulares, nos (21,1 para 1,2% eq. NaCl) em temperaturas
com espessuras entre 2 a 5m, intercaladas nas ro mais baixas, após se misturarem com fluidos de
chas a biotita, granada e quartzo, preferencialmen origem exterior (Ronchi et al. 2003). Estes valores
te próximo ao contato com os gnaisses do embasa estão de acordo com Réquia et al. (2003), que con
mento. São rochas de granulação média, compos siderou os valores de δ18O entre 6,6 a 12,1‰,
tas por hastingsita, parcial ou totalmente substituí calculados para o fluido mineralizante, como indi
da por cummingtonita, plagioclasio (An3 a An30) e bi cadores de origem magmática.
otita, além de quartzo, clorita (chamosita), turmali Todos os modelos genéticos até hoje propos
na e magnetita, e ilmenita, zircão e apatita subordi tos reconhecem a forte influência de uma assina
nados (Lindenmayer 1990). tura granítica na área, indicada principalmente
Os quartzitos têm cerca de 100 a 200m de es pelo conteúdo elevado dos grandes íons de ele
pessura e consistem em rochas maciças e de gra mentos litófilos, U, F, Mo e ETR. A ausência de tex
nulação média a grossa, contendo quartzo (~95%), turas miloníticas dos sulfetos de Cu sugere que
almandina, biotita, clorita, sillimanita, muscovita, al ele seja tardio ao desenvolvimento das zonas de
bita e magnetita como acessórios. cisalhamento, cujos anfibolitos milonitizados foram
Os altos conteúdos de ETR (média de 938ppm datados de 2555±4Ma por Machado et al. (1991).
em 6 amostras) da magnetita maciça, aliada às Uma hipótese considera que a mineralização se
correlações positivas Cu×La e La×Fe, indicam uma ria relacionada ao “Granito Antigo do Salobo” (GAS)
origem metassomática das rochas ricas em ferro, que é uma intrusão pré tectônica datada de
em vez de um processo químico sedimentar. De 2573±2 Ma (Machado et al. 1991). A formação de
acordo com Alderton et al. (1980), pode se con clorita titanita em 2581±5 Ma, 2554±5 Ma e
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João Batista Guimarães Teixeira, Zara Gerhardt Lindenmayer & Maria da Glória da Silva
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Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósitos de Óxidos d e Ferro cobre o uro de Carajás
Figura 4 Mapa geológico simplificado do depósito Sossego (Fonte: Monteiro et a/. 2008).
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João Batista Guimarães Teixeira, Zara Gerhardt Undenmayer & Maria da Glória da Silva
LEGENDA
Depósitos coluvionares
D laterizados
- Gabro
- Dlabásio
!!:i) Brechas hidrotermals
D Rochas vulcânicas félsicas
o 500m
Figura 5 Mapa geológico simplificado do depósito Cristalino (Fonte: Ribeiro et a/. 2009).
vita. As fraturas nas rochas félsicas sao preenchi As rochas encaixantes do depósito Cristalino
das por quartzo, biotita, clorita, anfibólios, sulfe possuem minerais secundários devido às diversas
tos e carbonatos (Ribeiro et a/. 2009). etapas de hidrotermalismo . As principais altera
As brechas hidrotermais são, em geral, de na ções hidrotermais sao a potássica (com neo fo r
tureza máftca, intensamente cloritizadas, com bi mação de biotita e microclina), sódica (albitização
otita e hornblenda ainda identificáveis Os termos e escapolitização), anfibolitização, cloritizaçao, car
mais félsicos das brechas sao constituídos de pia bonatação, silicificação, Fe metassomatismo (mag
gioclásio e quartzo. Os mine rais metálicos sao netita, hematita e ilmenita), sericitizaçao, sulfeta
magnetita e sulfetos, com predominancia de cal ção (calcopirita e pirita) e, em menores propor
copirita e pirita. Ocorrem ainda carbonato, sericita ções, enriquecimento em apatita e allanita (Huhn
e titanita. As brechas estao cisalhadas ou fratura et a/.1999).
das e preenchidas em suas descontinuidades por
quartzo, carbonato, clorita ejou opacos (Ribeiro Depósito Igarapé Bahia-Alemão
et ai. 2009).
A mineralizaçao é hospedada por varias rochas, O depósito de Cu Au de Igarapé Bahia situa
incluído brechas hidrotermais, basaltos cisalhados, se cerca de 45km a oeste da mina de ferro N4.
foliados a maciços, riolitos e rochas vulcanoclásti Descoberto em 1974 pela Docegeo, foi primeira
cas félsicas. Este conjunto litológico é capeado por mente descrito como um depósito de cobre do tipo
uma formaçao ferrífera bandada pertencente ao stratabound, hospedado em arenitos. Vinte anos
Grupo Grão Pará. Neste depósito foram reconhe depois, a zona de intemperismo na área foi expio
cidas diversas fases de alteraçao hidrotermal, que tada para ouro, na zona superficial de minério la
produziram uma mineralogia secundária muito va terítico composto por hematita, maghemita e go
riada. Os minérios su lfetados ocorrem em brechas, ethita, gibbsita com caulinita e quartzo subordi
disseminações e preenchendo fraturas, tanto nas nados . Até 1999 foram extraídos da zona de oxi
rochas intrusivas quanto nas rochas encaixantes dação de 150m de espessura, 18,5Mt@ 1,97gAu/
(Huhn et a/.1999). Estudos minerográficos (Ribei t . Cerca de 60t Au foram extraídas até 1999 (Talla
ro et a/. 2009) demostraram que a mineralogia prin rico et a/. 2000).
cipal do minério é constituída de calcopirita, pirita O depósito de minério primário do Alemão foi
e magnetita, com calcosita, ilmenita, hematita e descoberto em 1997 e provou ser a continuação
bornita subordinadas. do depósito Igarapé Bah ia em subsuperficie. Ele
27
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósitos de Óxidos de Ferro cobre ou ro de Carajás
contém cerca de 170Mt @ 1,5% Cu e 0,8gAu/t cha (Tazava 1999). As rochas encaixantes mos
(Tallarico et a/. 2000). tram idades isotópicas Pb Pb de 2,74 2,75Ga (Ga
O depósito é hospedado pelo Grupo Igarapé larza et ai. 2001). Aná lises U Pb SHRIMP de fosfa
Bahia, cronocorrelato com o Grupo Grão Pará, na tos associados à mineralização indicaram que o
sequência de topo do Grupo Itacaiúnas. O Grupo Grupo Igarapé Bahia seria relacionado aos com
Igarapé Bahia é composto por rochas metassedi plexos arqueanos (2,57Ga) do Cinturão Itacaiú
mentares, metavulcanoclásticas, rochas vulcânicas nas (Tallarico et a/. 2005).
máficas espilitizadas e rochas intrusivas (Docegeo O minério ocorre na matriz de uma brecha com
1988) (Fig. 6). posta por calcopirita associada a magnetita, bor
O minério primário ocorre em brechas heterolí nita, molibdenita, cobaltita, pirita, digenita e ouro
ticas compostas por grandes fragmentos de com (Dreher 2004). Calcopirita também ocorre nos vei
posições variadas, imersos numa matriz de gra os, juntamente com calcita e quartzo, além de dis
nulação fina de magnetita, carbonatos, clorita e seminada nas rochas do footwa/1 e hangingwa/1.
calcopirita (Tazava 1999, Tazava & Oliveira 2000, Assim como as demais mineralizações OFCO de
Almada & Villas 1999, Tallarico et a/. 2000). Uma Carajás, o minério de Igarapé Bahia Alemão é en
sequência predominantemente metavulcânica riquecido em Co, Mo, u, P, ETR leves, W, F, Mn, Pb,
ocorre no footwa/1 e uma sequência metasedimen Sn, Ag, B e Cl. Apenas vestígios da alteração cálci
tar elástica compõe o hangingwa/1 da zona de bre co sódica e potássica foram detectados no depó
@
NE
Figura 6 Mapa geológico (a) e seção transversal (b) do depósito Igarapé Bahia Alemão (Fonte: Tal/a rico et
a/. 2000).
28
João Batista Guimarães Teixeira, Zara Gerhardt Lindenmayer & Maria da Glória da Silva
sito Igarapé Bahia. Estes são atestados por res ra, diminuição da fO2 e aumento do pH. Esta hipó
tos de hastingsita pargasita associada à albita e tese implica que o depósito Igarapé Bahia Alemão
biotita, respectivamente, imersas em grandes mas tenha sido criado pela superposição de uma ativi
sas de rochas cloritizadas (Lindenmayer et al. dade magmático hidrotermal tardia, desenvolvida
1998). Alguns autores consideraram a brecha como em uma seqüência arqueana, previamente afeta
sindeposicional (Almada & Villas 1999, Villas & San da por processos exalativos hidrotermais. Além
tos 2001, Dreher 2004). Outros atribuíram a ori disto, o enriquecimento do minério de Igarapé
gem da brecha a processos epigenéticos hidro Bahia Alemão em U, ETR, F e Mo seria devida à
termais (Tazava & Oliveira 2000, Ronzê et al. interação das rochas encaixantes com um magma
2000). granítico (Lindenmayer et al.1998).
Análises isotópicas Pb Pb da calcopirita da zona
do minério produziram idades neoarqueanas de Depósito Gameleira
2769±29Ma (Villas & Santos 2001) e 2764±22Ma
(Galarza et al. 2002). De acordo com estes auto Inicialmente denominado Pojuca Leste, o de
res a mineralização é singenética e coeva com a pósito Gameleira corresponde à extensão para les
deposição da sequência vulcanossedimentar. To te do depósito de Cu Zn de Pojuca, descoberto
davia, após interpretarem as idades isotópicas U pela Docegeo no início da década de 1970 (Fig. 7).
Pb da monazita na matriz da brecha, Tallarico et O depósito está situado a cerca de 64km do Nú
al. (2000) afirmaram que a mineralização é epige cleo Urbano de Carajás e seus recursos são esti
nética e cerca de 175Ma mais jovem do que as mados em 100Mt @ 0,7% Cu (Cordeiro 1999).
rochas encaixantes. As hospedeiras da mineralização são rochas
Os fluidos mineralizantes são tanto de baixa compostas de anfibólio plagioclásio quartzo, bio
salinidade (6% eq. NaCl) aquo carbônicos tita quartzo granada, magnetita quartzo gruneri
(CO 2 ±CH 4 ), quanto aquo salinos (até 45% ta, formações ferríferas e rochas ricas em quartzo
NaCl+CaCl2) (Dreher 2004). Dados isotópicos de do Grupo Salobo Pojuca, do Supergrupo Itacaiú
C e O indicam que parte do CO2 é de origem mag nas, formadas entre 2742 e 2732Ma (Machado et
mática, e que os valores de δ34S de 2,1 a 5,6‰ al. 1991).
são coerentes com uma origem vulcanogênica Uma sequência de metandesitos com 400m de
Valores de δ18O de 6,5 a 10,3‰ parecem indi espessura, compostos por biotita quartzo e grana
car contribuição magmática ou interação com ro da biotita quartzo, ocorrem na zona nordeste da
chas sedimentares sob condições de alta razão área. Essas rochas são cortadas por uma soleira ga
fluido/rocha (Dreher 2004), ou ainda, uma mistu bróica com espessura entre 300 e 500m. Rochas ban
ra de soluções profundas com águas meteóricas dadas ricas em Fe, com foliação milonínica importan
(Tallarico et al. 2000). A temperatura do fluido mi te, que ocorrem preferencialmente no contato entre
neralizante, estimada pelo estudo de equilíbrio iso os andesitos e a soleira, têm origem hidrotermal.
tópico do oxigênio em pares de minerais coexis Duas intrusões granitóides cortam as rochas do de
tentes, foi determinada em 400ºC (Dreher 2004). pósito, sendo posteriores à foliação milonítica e an
A temperatura de equilíbrio das cloritas da matriz teriores a episódio de deformação rúptil. O granitói
da brecha foi estabelecida entre 321 a 325ºC. Em de mais antigo é paleoproterozóico e está associa
termos gerais, estes dados estão de acordo com do com a mineralização. Trata se de um quartzo sie
as temperaturas de homogenização de 150 a nito aplítico, enquanto que o mais jovem, mesopro
430ºC, medidas em inclusões fluidas altamente terozóico, é um granito leucocrático (Lindenmayer et
salinas (até 40% eq. NaCl) e de 100 a 150ºC, me al. 2001).
didas nas inclusões fluidas moderadamente sali As rochas ricas em ferro da faixa Pojuca Gamelei
nas (~10% eq. NaCl) por Ribeiro (1989) e por Lin ra foram anteriormente classificadas como formações
denmayer et al. (1998). ferríferas bandadas, tendo a elas sido atribuídas as
De acordo com Tallarico et al. (2000), a intera fácies óxido e sulfeto por Hutchinson (1979). A mi
ção de fluidos magmáticos quentes e ácidos, com neralização, no entanto é epigenética, ocorrendo nas
fluidos mais frios, oxidados e de menor salinidade rochas bandadas ricas em ferro, em veios de quart
parece ter governado a deposição de Cu, Au, U e zo, disseminadas nas rochas encaixantes, preen
ETR juntamente com a diminuição da temperatu chendo fissuras ou formando a matriz de veios de
29
Modelos de Depósitos Brasileiros de Ccbre Depósitos de Óxidos de Ferro cobre ou ro de Carajás
sw NE
D Leucogranito
I/I Veios Mineraf~Zados
200m D Granito
D Rocha bandeda com quartzo-
grunerita-magnetita
- Gabro
D Metandesito e xisto
quartzo brechados. Os sulfetos principais são calco Uma temperatura média de 540±250C foi esta
pirita e bomita, com traços de cobaltita, Co pentlan belecida a partir de medidas em três pares de mine
dita, pirita, molibdenita e ouro (Lindenmayer et a/. rais, correspondendo ao equilíbrio anfibólio grana
2001) . da concomitante com a intrusão de veios pegmatíti
As rochas hospedeiras do depósito Gameleira fo cos. Tomando por base os dados geotermométri
ram afetadas por alteração hidrotermal particular cos, pode se concluir que os processos de altera
mente potássica, que transformou o protolito ígneo ção potássica, enriquedmento em ferro e sulfeta
em rochas com biotita quartzo granada. A altera ção em Gameleira foram produzidos essendalmen
ção hidrotermal originou também as rochas banda te por interações fluido rocha, associadas ao resfri
das ricas em ferro, juntamente com o minério de Cu amento do sistema hidrotermal, que esteve ativo
Au . Os efeitos da alteração hidrotermal e da defor no intervalo de temperatura de 540 a 1900C (Lin
mação tectônica na soleira foram moderados, per denmayer et a/. 2001).
mitindo a preservação da textura subofítica original, Estudos de inclusões fluidas caracterizaram so
atualmente impressa em rochas a actinolita, biotita, luções hidrotermais aquosas de salinidade variável
albita quartzo. Tendo por base sequências parage e com t raços de nitrogênio (Lindenmayer et a/. 2001) .
néticas espedficas de substituição mineral, pode se A associação de inclusões deficientes em C0 2
admitir que a maioria dos elementos maiores e mui apresentando uma vasta gama de temperaturas de
tos elementos traço foram mobilizadados durante a homogeneização e salinidades têm sido descrita na
alteração hidrotermal e deformação ( Lindenmayer literatura como típica de fluidos portadores de forte
et a/. 2001). herança magmática (Shepherd et a/. 1985, Roedder
Os andesitos cálcico alcalinos e gabros cogené & Bodnar 1997). Supersaturação dos fluidos foi atin
tlcos, hidrotermalmente alterados, produziram ida gida durante a formação das rochas ricas em Fe. Os
des isotópicas Sm Nd de 2757±81 Ma com ~d (T) de fluidos mais quentes, responsáveis pela alteração
0,8 (Pimentel et a/. 2003). Alteração fílica, muito lo potássica, albitização e lixivlação de Ca, foram oxi
calizada e tardia, representada por muscovita, clori dantes, alcalinos e com alta atividade de K e O, além
ta e dravita, também foi observada. A razão Na :Ca de altas razões Na :Ca . Durante o resfriamento ocor
no fluido provavelmente aumentou com o declínio reu a diminuição da razão Na:Ca acompanhada por
das temperaturas. Isto ficou registrado nas assem um grande aumento da atividade do F, evidenciada
bléias minerais sussessivas observadas no gabro, pela presença maciça de fluorita . Epidoto e calcita
que passaram de actinolita andesina oligoclásio raros também atestam o aumento da atividade do
para associações pobres em Ca, formadas por bioti Ca na direção dos últimos estágios hidrotermais. Os
ta Na escapolita sericita (Lindenmayer et a/. 2001). dados texturais de Gameleira, mostrando que os mi
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João Batista Guimarães Teixeira, Zara Gerhardt Lindenmayer & Maria da Glória da Silva
nerais de ETR estão sempre associados a veios de das foram geradas há 1839±15Ma (isócrona Sm Nd),
sulfeto e ocorrem como inclusões na biotita, indicam enquanto que a mineralização venular foi simultâ
que a cristalização de biotita rica em flúor, fluorita e nea à deformação rúptil há 1700±31Ma (isócrona
fases metálicas teriam sido os mecanismos princi Sm Nd). Estas idades permitem inferir o tempo de
pais, responsáveis pela cristalização dos minerais atividade do sistema hidrotermal do Gameleira a um
de ETR (Lindenmayer et al. 2001). mínimo de 88 e a um máximo de 180Ma (Pimentel et
A associação da fluorita com a uraninita em Ga al. 2003).
meleira sugere que um composto de U F poderia Dados geológicos e isotópicos suportam a cor
ter sido o agente complexante do urânio. A as relação das rochas hospedeiras de Gameleira com
sembléia de alteração, a paragênese sulfetada e os andesitos basálticos e com as soleiras quart
a associação metálica (Fe Cu Au Mo Co U F zo dioríticas da mina de ferro de N4, localizada
ETR) do depósito Gameleira são similares àqueles cerca de 30km a sudeste do depósito Gameleira.
do distrito de Cloncurry, na Austrália, gerados em Esta associação de rochas vulcânicas e intrusivas
zonas crustais relativamente profundas, como por pertence à Formação Parauapebas, Grupo Grão
exemplo Ernest Henry, Monakoff e Mount Kalba Pará, que foi gerada em um cenário de colisão de
doon, como descrito por Ryan (1998), Milner (1993) uma margem continental arqueana (Teixeira 1994,
e Williams & Blake (1993), respectivamente. Lindenmayer et al. 2001).
Estudos de isótopos radiogênicos ajudaram a
compreender a evolução geológica do depósito de Depósito Estrela
Cu Au de Gameleira. Trouxeram também informa
ções sobre a origem e natureza das rochas encai O depósito Estrela localiza se próximo à extre
xantes. A geocronologia do depósito, de acordo com midade leste do Cinturão Itacaúnas, cerca de 10km
Pimentel et al. (2003), é sumariada a seguir: ao norte do depósito Cristalino. Os andesitos e
2,75 Ga vulcanismo andesitico cálcico alcalino gabros mineralizados do depósito Estrela ocorrem
(arco magmático) e intrusão gabróica associada ao diretamente sobre a cúpula de um albita ortoclá
Grupo Pojuca. Os valores de εNd (t) negativos e as sio granito (Fig. 8). As rochas encaixantes do mi
idades modelo de 2,8 a 3,1Ga indicam que os mag nério são andesitos cálcico alcalinos alterados, ga
mas originais foram contaminados por crosta conti bros e riolitos do Grupo Grão Pará. A idade isotó
nental antiga. pica Sm Nd de cerca de 2,76Ga corresponde, pro
1,87 Ga intrusão do Granito Pojuca e prova vavelmente, à idade de cristalização das rochas
velmente do sienito aplítico, acompanhada pela ge vulcânicas originais e gabros do depósito, coinci
ração das rochas bandadas ricas em ferro e minera dente com a idade das rochas do depósito Game
lização de Cu Au. leira e do Grupo Salobo Pojuca, da base do Su
1,70 Ga precipitação dos sulfetos dos veios pergrupo Itacaiúnas (Lindenmayer et al. 2005).
portadores de sulfetos de Au e sulfetos de Cu. Os riolitos são formados por fenocristais de oli
1,58Ga intrusão do granito leucocrático. goclásio, quartzo e ortoclásio imersos em matriz
A relação inequívoca da mineralização de Fe Cu de oligoclásio, ortoclásio, quartzo e Fe biotita. São
Au com o sienito aplítico de Gameleira é principal quimicamente semelhantes aos riolitos da Serra
mente atestada pela coincidência perfeita dos pa Norte, embora mais alterados e enriquecidos em
drões de ETR das rochas bandadas ricas em ferro, ETR, Rb, Ce, Th, Nb, Sm e Y (Lindenmayer et al.
fluorita, turmalina e do sienito aplitico (Lindenmayer 2005).
et al. 2001) As rochas intrusivas paleoproterozóicas com
A presença da soleira gabróica atuando como um preendem quartzo diorito pórfiro (1881± 5Ma, U
corpo rígido e impermeável, teve um papel impor Pb em zircão), albita ortoclásio granito e quartzo
tante na canalização da circulação dos fluidos hidro álcali feldspato sienito (episienito) vermelho
termais. Os principais caminhos foram inicialmente (1875±1,5 Ma, U Pb em monazita), cujas idades
focalizados no contato andesito soleira. Mais tarde, isotópicas coincidem com a de formação do miné
o padrão de circulação modificou para incluir as fra rio (1,85Ga, isócrona Sm Nd em rocha total).
turas, criadas durante o estágio de deformação rú O ortoclásio albita granito (OAG), composto por
ptil (Lindenmayer et al. 2001). quartzo, feldspato e protolitionita, é peralumino
As rochas bandadas ricas em ferro e mineraliza so e alcalino. Trata se de granito sódico, com ra
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Modelos de Depósitos Brasileiros de Ccbre Depósitos de Óxidos de Ferro cobre o uro de Carajás
SW NE
IOOZ
c:::J Diabásio
c:::J Zona brechada
c:::J Zona de cisalhamento
IIIêl Rocha greisenlzada
- Albita-ortoclásio granito
c:::J Riolito
c:::J Andeslto
D Gabro
EF-14
' Furo de sondagem
Rgura 8 Seção transversal simplificada do depósito Estrela (Fonte: Undenmayer et a/. 2005).
zão Fe0/Fe 2 0 3 entre 9 e 14. O episienito (quartzo rofilita e magnetita esqueletal, substituindo mine
álcali feldspato sienito QAFS) vermelho é consti rais máficos e plagioclásio . A essa fase está reJa
tuído por feldspato potássico, fluorita, clorita e cionada a mineralização venular (Lindenmayer et
magnetita . É álcali cálcico, metaluminoso e rico em ai. 2005).
Ba (1220ppm) e Cu (1590ppm). Existe uma perfei Um estágio de greisenização tardio e localiza
ta coincidência entre os padrões de ETR do OAG e do é representado por Li muscovita e zinnwaldi
QAFS, exceto pela ausênda de anomalia negativa ta, junto com turmalina, quartzo, ftuorita, topázio
de Eu no QAFS, sugerindo que o último seja uma e clorita . Carbonatos sucedem a mineralização. Os
fácies hidrotermalizada do OAG . Os granitóides gabros e andesitos menos alterados têm assina
mostram valores de & 8 0%o entre +7,0 e +10,0, turas isotópicas de oxigênio próximas de 5,0 51 5
dentro do intervalo esperado para rochas desta õ18 0%o, característicos de rochas não alteradas de
natureza (Lindenmayer et a/. 2005) . composição semelhante (Lindenmayer et a/. 2005) .
Os meta andesitos e metagabros do depósito Os padrões de ETR do albita ortoclásio grani
Estrela são muito alterados, embora ainda porta to, extremamente semelhantes aos de biotita, ftu
dores de texturas ofíticas e subofíticas . Os efeitos orita e turmalina da ganga dos veios do minério,
da alteração hidrotermal encontrada nessas ro indicam que ftuidos provenientes do granito foram
chas são representados por três tipos principais os responsáveis pela concentração do minério no
de assembléias minerais. A assembléia mais anti depósito Estrela.
ga e menos hidratada é composta por anfibólio, O quartzo diorito pórfiro é a rocha mais enri
do tipo hastingsita, pargasita e Fe hornblenda e quecida em Au (5 a 50ppb) encontrada na área .
plagioclásio re liquiar ígneo substituído, em graus Seu padrão de ETR normalizado pelo condrito mos
variados, por sericita, carbonato ejou albita, jun tra grande semelhança e paralelismo com a rocha
tamente com titano magnetita e epidoto . Essa é greisenizada rica em Rb (>1000ppm) e Li (1080
a assembléia predominante em gabros e corres ppm) .
ponde à alteração cálcico sódica precoce, embora A zona mineralizada parece estar controlada
a coexistência de epidoto, albita, carbonato e elo por splays da Falha Carajás, encontrando se em
rita, em algumas amostras, sug ira preservação par faixa de andesitos e gabros subordinados, bali
cial de assembléia metamórfica mais antiga. Se zada a NE e SW por riolitos. Existe um zoneamen
gue se a alteração potássica, junto com ferrifica to dos sulfetos no depósito Estrela, com predomí
ção moderada e sulfetação, atestada pela presen nio de pirita e pirrotita em direção ao norte e oes
ça de Fe biotita marrom e verde, junto com side te nos riolitos, e calcopirita e pirita a sul e leste,
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João Batista Guimarães Teixeira, Zara Gerhardt Lindenmayer & Maria da Glória da Silva
nos andesitos e gabros. A razão S/Cu do minério, = +5,3‰ do oxigênio do fluido, em equilíbrio com
em geral, é mais elevada do que nos depósitos quartzo dos veios, na temperatura de 250°C, in
da região norte da Serra de Carajás, como Salo dica fluidos de origem metamórfica para a greise
bo, Pojuca Gameleira e Igarapé Bahia Alemão, nização. Os fluidos tardios (δ18O‰ =+1,3), em tem
onde predominam bornita calcosita, calcopirita peratura de equilíbrio isotópico do oxigênio de
bornita e calcopirita, respectivamente (Linden 165°C, já sofriam forte influência de águas mete
mayer et al. 2005). óricas. A alteração potássica, responsável pela
Os estilos de mineralização compreendem vei formação maciça de biotita siderofilita na área, jun
os, brechas e stockworks. Os principais minerais tamente com a sulfetação, teve influência de flui
de minério são calcopirita, pirita, pirrotita, molib dos magmáticos derivados dos granitos. Já flui
denita, bornita e magnetita, em ganga de quart dos metamórficos foram possivelmente preponde
zo, fluorita, albita, siderofilita, turmalina, epidoto, rantes no transporte e deposição de metais. À me
chamosita e topázio. A calcopirita, mineral de co dida que o sistema resfriava, a mistura de fluidos
bre mais importante, é aurífera (0,177 apfu de Au). tornava se maior e os fluidos meteóricos passa
A pirita é cobaltífera (Co=0,012 1,756 apfu) e a ram a ter papel importante quando do fechamen
pirrotita é niquelífera (Au=0 0,139, Ni=0,147 0,375 to do sistema, em regime rúptil, abaixo de 200°C
apfu) (Lindenmayer et al. 2005). (Lindenmayer et al. 2005).
A sucessão mineral descrita sugere que o flui Os valores de δ34S de calcopirita (+0,1 a +3,5) e
do era inicialmente neutro a alcalino e oxidante, pirita (+0,6 a +4,1), além de molibdenita (+0,9)
passando a ácido e redutor durante o estágio de indicam fonte magmática para o enxofre. Nos car
greisenização. Na fase tardia ocorrem os carbo bonatos dos veios tardios, os valores de δ13C da
natos acompanhados de quartzo e fluorita, suge calcita são compatíveis com origem magmática, en
rindo diminuição na pressão de PCO2 e alta razão quanto que o de siderita poderia ser atribuído a
Ca/Na (Lindenmayer et al. 2005). carbono crustal, com influência de fluidos hidro
As inclusões fluidas revelam flutuações de sali termais (Lindenmayer et al. 2005).
nidade ao longo dos eventos de alteração hidro Alteração hidrotermal intensa e extensa e a
termal da área. A coexistência geral de inclusões formação dos veios mineralizados em Cu Au, ocor
fluidas bifásicas aquosas e trifásicas/multifásicas reu há ca. de 1,85Ga. Os valores fortemente ne
saturadas, juntamente com uma ampla variação gativos de εNd(T) dos veios sugerem derivação de
de salinidade, indica fluidos hidrotermais com im fluidos a partir de fonte com assinatura isotópica
portante contribuição granítica, podendo ser ex de Nd arqueana (Lindenmayer et al. 2005).
plicados por processo de reação contínua entre o A idade da molibdenita não reflete necessaria
fluido e a rocha encaixante durante a queda de mente a da mineralização cupro aurífera dos de
temperatura (Lindenmayer et al. 2005). pósitos da região da Serra de Carajás. A idade
Também participaram desse sistema hidroter Re Os de 2,7Ga em molibdenita deformada na
mal fluidos provenientes das rochas máficas, pos borda de um veio mineralizado de idade isocrôni
sivelmente já metamorfisadas, como indica a as ca Sm Nd de 1857±98Ma, junto com a presença
sinatura isotópica de oxigênio e deutério e que de molibdenita não deformada e mais jovem, su
contribuíram com alguns metais, tais como Ni e Co, gere que haja mais de uma geração do mineral na
imprimindo à assembléia mineral um caráter bimo área (Lindenmayer et al. 2005).
dal. A biotitização leva δ18O de gabros e andesitos Os dados isotópicos e geocronológicos de
para valores próximos dos granitos, cujos fluidos monstram que a mineralização de Cu Au e o even
foram possivelmente os responsáveis pela alte to hidrotermal associado são paleoproterozóicos,
ração. Valores mais baixos de δ18O mostram que a sem associação com os eventos ígneos arquea
alteração fílica e greisenização dos andesitos e nos. A comparação com os depósitos Salobo,
gabros foi mais intensa quanto mais empobrecida Bahia Alemão e Gameleira mostra que no depósi
em δ18O for a rocha (Lindenmayer et al. 2005). to Estrela não ocorrem as grandes massas de
Greisenização e brechação tardias tiveram im magnetita, características dos depósitos de óxido
portante contribuição de águas meteóricas, em de Fe, Cu Au. A alteração cálcico sódica que an
bora quartzo do veio de greisen tenha se equili tecede a mineralização carece de fases como es
brado com fluidos metamórficos. O valor de δ18O‰ capolita e as assembléias minerais vinculadas a
33
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósitos de Óxidos de Ferro cobre ouro de Carajás
esse estágio são raras, podendo muitas vezes ser 2,4gAg/t, 1200gW/t, 175gMo/t, 75gBi/t e 70gSn/t
atribuídas a metamorfismo regional, anterior à in (Nunes et al. 2001, Tallarico et al.2003, Botelho et
trusão granítica (Lindenmayer et al. 2005). al. 2004).
Superposta à alteração potássica dominante, A mineralização ocorre na zona apical de uma
na qual Fe biotita e siderofilita são os principais intrusão de biotita granito alcalino (Botelho et al.
minerais, ocorreu greisenização em faixas locali 2004) e também em arenitos e siltitos encaixan
zadas, caracterizada pela presença de quartzo, tes, que pertencem à base da Formação Águas
topázio, fluorita, turmalina, clorita e micas litinífe Claras (Tallarico et al. 2003) (Fig. 9).
ras, como protolitionita, Li muscovita e zinnwaldi A mineralização é paleoproterozóica, produzi
ta. As rochas que as contêm apresentam teores da pelo sistema hidrotermal criado por uma intru
de Li acima de 1000ppm. Estes dados parecem são granítica há 1853±9 Ma (zircão U Pb, Botelho
caracterizar um depósito de tipo híbrido, com al et al. 2004), ou há 1878±7 Ma (zircon SHRIMP U
gumas características comuns aos depósitos de Pb, Tallarico et al., 2003). Além do biotita granito
OFCO e de cobre pórfiro de alto enxofre nos está alcalino, intrusões de monzogranitos e sienogra
gios precoces, evoluindo para greisenização tar nito intensamente alterados ocorrem nas proxi
dia (Lindenmayer et al. 2005). midades. O minério é disseminado, associado a
As feições regionais que controlam os demais um sistema tipo stockwork, dentro de um halo de
depósitos de OFCO de Carajás estão também pre alteração enriquecido em Cu, Au, W, Mn, Bi, Sn, La
sentes no depósito Estrela, como o controle a partir e As, localizado na cúpula da intrusão. Manifesta
de splays da Falha Carajás, a concentração do ções da mineralização de Cu Au também apare
minério em andesitos reativos, balizados por duas cem nas rochas encaixantes, sob a forma de vei
falhas silicificadas, que poderiam ter agido como os de quartzo (Botelho et al. 2004).
barreiras na canalização dos fluidos hidrotermais Os minerais de minérios são calcopirita, arse
e a relação direta com granitos, fontes de calor, nopirita rica em cobalto, pirita, molibdenita, pirro
fluidos e alguns metais, como mostram os elemen tita, wolframita, cassiterita e bismutinita, acompa
tos associados F, U, ETRL, Mo, K, Rb, B e Li (Lin nhados por marcassita, löllingita, glaucodot, sa
denmayer et al. 2005). fflorita, estanita, scheelita, berilo, fenacita, calco
Os valores negativos de εNd(T) das rochas do sita, covellita, uraninita e thorita. O ouro associa
depósito Estrela sugerem contaminação com ma se com bismuto nativo, como inclusões em arse
terial crustal mais antigo. Da mesma forma, as ra nopirita, calcopirita e glaucodot. Outros minerais
zões Th/Yb versus Ta/Yb dos riolitos sugerem am associados ao minério são fluorita, rutilo anatá
biente de margem continental ativa. A compara sio, ilmenita, carbonato, apatita rica em ETR, xe
ção dos resultados das datações isotópicas Sm notímio e monazita (Botelho et al. 2004).
Nd de Salobo, Gameleira (Pimentel et al. 2003) e Dois tipos de alteração hidrotermal, uma po
do depósito Estrela sugerem que as rochas hos tássica e outra fílica, foram descritos na área por
pedeiras são cronocorrelatas. Todavia, os valores Botelho et al. (2004). A primeira é marcada pela
de εNd(T) das rochas do depósito Estrela ( 3,2), presença de microclínio e biotita rica em Cl em au
Gameleira ( 1,4 em andesitos, 0,8 em gabros) e réolas metassomáticas acima do granito e em vei
Salobo ( 0,1) sugerem que elas não são cogené os. A alteração fílica hospeda os corpos principais
ticas. O valor menos negativo para a isócrona, de minério, sendo caracterizada pela presença de
quando as rochas vulcânicas do Salobo são anali muscovita, quartzo, clorita e turmalina (Botelho et
sadas junto com as do depósito Gameleira, suge al. 2004).
re que as rochas do Salobo são menos contami Os fluidos mineralizantes representam o siste
nadas com crosta continental (Pimentel et al. 2003). ma H2O NaCl, com salinidade menor do que 20%
eq. NaCl e temperaturas de homogenização entre
Depósito Breves 150 e 250°C (Botelho et al. 2004).
34
João Batista Guimarães Teixeira, Zar a Gerhardt Undenmayer & Maria d a Glória da Silva
s N
---
......... .-- ·--
Limite da zona de-intemperismo -
-
Roehas-:_
sedimentares -
Rgura 9 Seção transversal do depósito Breves (Fonte: Tal/a rico et a/. 2004).
gu, cerca de 100km do Núcleo Residencial Cara com textura porfirítica a glomeroporfirít ica.
jás. Afloramentos rochosos na área de pesquisa O depósito Alvo GT 46 está inserido no contex
são raros. Os mapeamentos realizados no depô to da seqüência metavulcano sedimenta r arque
sito Alvo GT 46 pelos geólogos da extinta Doce ana do Grupo Grão Pará. Nesse depósito foram
geo no âmbito do Projeto Aqu iri foram viabiliza descritas rochas plutônicas e vulcânicas toleíticas,
dos com auxílio da descrição dos testemunhos de de ambiente de arco vulcânico, sedimentos vu lca
80 furos de sondagem e resultaram em um mapa no exalativos do tipo BIF e granitóides cálcico ai
na escala original de 1:5 .000 (Fig. 10). calinos, também com assinatura de arco . O con
Com base nos estudos petrográficos e litogeo junto foi afetado por uma deformação heterogê
químicos realizados em 14 furos de sondagem (Sil nea em regime rúptil dúctil, acompanhada de um
va et a/. 2005), os seguintes litotipos foram carac metamorfismo dinamotermal da fácies anfibolito
terizados na área: (Silva et a/. 2005).
gabros, basaltos e basalto andesíticos com As principais hospedeiras da mineralização são
textura original preservada embora mineralogica rochas anfibolíticas contendo biotita. As minerali
mente transformadas por alteração hidrotermal; zação do t ipo Fe Cu Au consistem de sulfetos de
anfibolftos fracamente a moderadamente ani cobre ( calcopirita, bornita, covelita e calcosita) com
sotrópicos; magnetita associada, encaixadas nos anfibolitos
anfibolitos intensamente foliadas e ricos em mais intensamente deformados e em planos de
biotita; fraturas dos granitos arqueanos. Um metassoma
rochas graníticas, em geral isotrópicas, local tismo ferro potássico das rochas encaixantes foi
mente deformadas e foliadas sob regime rúptil produzido pelo fluido mineralizante (Silva et a/.
dúctil, com diferentes graus de alteração hidro 2005).
termal; Estudos de inclusões fluidas e de isótopos de
gnaisses e xistos ricos em granada e sillima S e O indicam que os fluidos mineralizantes eram
nita; de natureza magmato hidrotermal, de provável
formações ferríferas bandadas com magneti derivação granítica. Os dados geocronológ icos di
ta e quartzo, com ocorrência de grunerita subor retos e indiretos apontam para uma idade paleo
dinada; proterozó ica da ordem de 1,8 Ga para o evento
diques e soleiras doleríticas não deformados, mineralizante (Silva et a/. 2005).
35
Modelos de Depósitos Br asileiros de Cobre Depósitos de Óxidos de Ferro cobre o uro de Carajás
(a)
...
FD-12 Furo de sondagem.
o 500m
(b)
sw Seção Geológica SW-NE do Alvo GT46 NE
Figura 1 O Mapa geológico (a) e seção transversal do depósito GT 46 (Fonte: Silva et a/. 2005).
36
João Batista Guimarães Teixeira, Zara Gerhardt Lindenmayer & Maria da Glória da Silva
37
Modelos d e Depósitos Brasileiros de Cobre Depósitos de Óxidos de Ferro cobre ouro de Carajás
de õ18 0 das rochas menos afetadas pelos proces branca, carbonato, sulfetos, ftuorita, epidoto, ai
sos hidrotermais situam se no espectro de 5,3 a bita e caulim. Os sulfetos ocorrem preferencialmen
6,0%o, compatíveis com os descritos na literatu ra te na parte central dos veios, compostos de cal
para rochas de origem mantélica, pouco mod ifica copirita, pirita, esfalerita e arsenopirita, com tra
das por processos pós magmáticos, em especial ços de galena, pirrotita, cobaltita, bismutinita, es
aquelas geradas em ambientes de subducção . Es tanita e tenantita (Soares et ai. 1994).
ses dados isotópicos estão em consonância com A alteração hidrotermal está em grande parte
o estudo litogeoquím ico realizado nas rochas do associada à cloritização e sericitização das rochas
depósito Alvo GT 46 no qual conclu iu se de que hospedeiras, com turmalinização intensa, silicifi
estas teriam sido geradas num ambiente de sub cação, carbonatização e caulinização. Vênulas de
ducção (Silva et a/. 2005). slderita cortam as demais litologias, provavelmente
Em contraste, as encaixantes do minério e os representa ndo a fase final do sistema hidroter
anfibolitos próximos aos halos de metamorfismo/ mal Águas Claras (Silva & Villas 1998).
metassomatismo imposto pelos granitos, apresen Estudos de inclusões ftuidas revelaram que as
tam valores de õ18 0 aumentados em decorrência soluções mineralizantes foram predominantemente
de sua interação com fluidos h idrotermais de pro aquosas, contendo NaCI, CaCI 2 e MgCI2 • Tempera
vável origem magmática (Silva et a/. 2005). turas de homogeneização de 360 a 160°C e de
360 a 100°C foram obtidos, respectivamente, em
Depósito Águas Claras inclusões altamente salinas (30 a 45% eq.NaCI) e
inclusões moderadamente salinas (0,5 a 23,5% eq.
O depósito de Au Cu (W) de Águas Claras (Sil NaCI) (Silva 1996).
va & Villas 1998) situa se na área central do Cin O ouro ocorre como electrum (75% de Au e 25%
turão Itacaiúnas, hospedado em quartzitos e síl de Ag) de granulação muito fina em: (i) inclusões
t itos arqueanos da Formação Águas Claras e tam nos grãos de arsenopirita, (ii) contatos de pirita
bém em diques e soleiras gabróicas, intrudidas há calcopirita e (iii) como partículas isoladas em agre
ca. 2,60Ga (Fig. 11). gados de calcopirita (Soares et a/. 1994).
O depósito se localiza dentro de uma zona de
cisalhamento dextral com direção NE, que consti Depósito A lvo 118
tui um dos principais sp/ays da Falha Carajás. A
mineralização de Au Cu (W) ocorre como stockwork O depósito de Cu Au do Alvo 118 situa se ao
na zona principal de cisalhamento, estendendo longo de uma grande falha de direção EW, locali
se por 400m, com largura máxima de 20m e até zada no setor sul do Cinturão Itacaiúnas, próximo
250 a 300m de profundidade (Silva & Vlllas 1998). ao contato das rochas metavulcânicas do Grupo
Os veios de quartzo mineralizados a Au Cu con Grão Pará com granulitos do Complexo Pium, e com
têm clorita, magnetita e hematita, turmalina, mica migmatitos e gnaísses dos complexos Xingu (AI
8E
I B
v
O Laterlta ' '~alna
• CoiOvlo '- Zona de
'- cisalhamento
O Metapellto
O Arenito ~nerafização
IC Gabro
• Veio de quartzo
~ Veio de quartzo brechado
~ Veio de quartzo-sulfetos
~ Zona hídrotermalízada e
caulinlzada, com quartzo,
turmalina e óxidos de
ferro
b
Figura 11 (a) Mapa geológico e (b) seção transversal do depósito Águas Claras (Fonte: Vil/as & Santos
2001).
38
João Batista Gu/marã~s Teix~ira, Zara Gerhardt Undenmayer & Maria da Glória da Silva
39
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósitos de Óxidos de Ferro cobre ouro de Carajás
neralizações relacionadas a magmatismo anoro poral com evaporitos. Restringe se então a apli
gênico ou a zonas de colapso de orógenos intra cação da hipótese de Barton & Johnson (1996) a
continentais, (ii) em ambientes de tectônica ex alguns depósitos específicos, nos quais se regis
tensional, com as mineralizações relacionadas a trou a presença de evaporitos, tais como os de
arcos de margens continentais ativas. pósitos de Salton Sea (EUA) e Korshunovsk (Rús
Os fluidos responsáveis pela mineralização se sia). Estudos recentes, no entanto, ressaltaram a
riam de origem ígnea, ricos em voláteis (Hitzman importância de fontes alternativas de fluidos para
et al. 1992). Esta proposta ganhou importância à explicar a onipresença de soluções altamente sa
medida que estudos de inclusões fluidas e de isó linas nos depósitos de OFCO de Carajás. Análises
topos de O, H e S de zonas mineralizadas de de de razões isotópicas de boro indicaram altos va
pósitos de diferentes partes do mundo, indicaram lores δ11B (12,6 a 26,6‰) para o minério relacio
fluidos de natureza magmática, com maior ou me nado ao depósito Igarapé Bahia, o que poderia
nor participação de fluidos meteóricos. O modelo representar uma evidência indireta de contribui
considera a assinatura de inclusões fluidas, de ção de evaporitos marinhos para o sistema hidro
natureza aquosa salina a hipersalina e carbôni termal (Xavier et al. 2005).
cas. O fluido original composto por H 2 O CO 2 Considerando se que a assinatura de inclusões
NaCl±CaCl 2±KCl sofreria uma separação (unmi fluidas e assinaturas de razões isotópicas efeti
xing) durante sua ascenção na crosta, em respos vamente apontam para fluidos de natureza mag
ta à queda de pressão e de temperatura (Adshe mática, a questão imediata que surge refere se à
ad et al. 1998, Oliver 1995, Ettner et al. 1993). natureza da rocha fonte desses fluidos. Vários au
Os fluidos mineralizantes seriam então origina tores ressaltaram o fato de que a maior parte dos
dos de um magma rico em CO2 e, considerando depósitos de OFCO, espalhados em diferentes re
que a separação do CO2 resulta numa saturação giões do planeta, associados a diferentes ambi
precoce da fase líquida em metais, a presença des entes geodinâmicos, mostram se invariavelmente
sa fase seria de crucial importância no processo associados a rochas graníticas (ou granitóides).
mineralizante À essa separação das fases atribuiu Estas, em geral, são rochas oxidadas (granitói
se também a alteração sódica (Pollard 2000). des da série da magnetita), de composição ácida
Levando em conta os trabalhos experimentais a intermediária (granitos a dioritos), ricos em po
de Iiyama (1965) sobre o equilíbrio da razão Na/ tássio, gerados a partir da fusão parcial de ro
(Na+K) em fluidos ricos em CO2 e Cl, Pollard (2001), chas da crosta inferior com alguma contribuição
concluiu que a separação de fluidos compostos por mantélica A fusão parcial, em regime de alta tem
H2O CO2 NaCl±CaCl2±KCl pode levar, num momen peratura, das rochas meta ígneas da crosta infe
to inicial a um aumento dessa razão, resultando rior seria efetivada por meio da quebra da biotita
na alteração sódica de alguns minerais (albitiza e do anfibólio. Este processo liberaria água e flúor
ção dos feldspatos). Num momento posterior, o de para o líquido (fundido) e a alta temperatura pro
créscimo dessa razão geraria alterações potássi moveria a quebra de resistatos tais como zirconi
cas. Esses dados colocam em discussão a neces ta e espinélio ferro titaníferos, enriquecendo o fun
sidade de envolver evaporitos na composição do dido em terras raras, zircônio, urânio, dentre ou
fluido hidrotermal geradores de depósitos do tipo tros (Pollard et al. 1998, Creaser 1996, Rämö &
OFCO, uma vez que a alteração sódica pode ser Haapala 1995).
explicada à luz da evolução de fluidos ricos em CO2.
Para Barton & Johnson (1996) os depósitos de SÍNTESE DA EVOLUÇÃO TECTÔNICA DA PRO-
OFCO poderiam resultar da incorporação de me VÍNCIA CARAJÁS
tais por fluidos magmáticos e/ou não magmáticos,
por interação com evaporitos. Segundo estes au Com base nos dados de geocronologia, pode
tores, a presença de um corpo intrusivo na área se concluir que a Província Carajás foi sequencial
do depósito teria o papel apenas de fornecer ca mente afetada pelas seguintes fases tectônicas:
lor para movimentar os fluidos e gerar um sistema (i) três fases compressionais no Neoarqueano; (ii)
de convecção hidrotermal. Para Hitzman (2000), uma fase compressional e uma extensional no Pa
no entanto, a maioria absoluta de depósitos OFCO leoproterozóico, e (iii) uma extensional ao final do
prescinde de qualquer associação espacial ou tem Neoproterozóico, início do Paleozóico.
40
João Batista Guimarães Teixeira, Zara Gerhardt Lindenmayer & Maria da Glória da Silva
fase pré-colisional, ao redor de 2,76Ga (Neo tre 2,74 e 2,70Ga, representados por soleiras e
arqueano) (Wirth 1986, Teixeira 1994), quando diques básicos e intermediários, alguns destes úl
ocorreu a deposição das rochas do Grupo Grão timos de tendência shoshonítica (Meirelles 1986,
Pará, incluídos a formação ferrífera bandada (For Dardenne et al. 1988, Teixeira 1994, Mougeot
mação Carajás) e as rochas vulcânicas cálcio al 1996).
calinas da Formação Parauapebas, em ambiente
de arco de margem continental. MODELO METALOGENÉTICO PARA OS DEPÓSI-
fase colisional, ao redor de 2,74Ga (Neoar TOS DE OFCO DE CARAJÁS
queano), identificada pelos granitóides intrusivos
(Teixeira 1994, Barros et al. 2001, Avelar et al. Com base nas considerações expostas, pode
1999). se adotar para o Cinturão Itacaiúnas o modelo de
fases de reativação crustal, ao redor de evolução geotectônica proposto por Teixeira
2,55Ga (Neoarqueano), identificada pelos grani (1994), que envolve convergência oblíqua de ter
tóides tardi colisionais (Machado et al. 1991,Tei renos, seguida pela colisão continente continen
xeira 1994, Souza et al. 1996). te durante o Arqueano (Fig. 13). Feições relevan
fase compressional, no intervalo de 2,09 a tes do modelo proposto compreendem:
2,08Ga (Riaciano), quando ocorreu a colisão en a hipótese requer que a subducção tenha
tre o Escudo das Guianas e o Bloco Amazônia Cen ocorrido sob a borda sul do terreno de alto grau
tral, acompanhada de anatexia crustal e geração (Complexo Xingu), no intervalo de 2,76 a 2,74Ga.
de granitóides (Ledru et al. 1994, Tassinari et al. em fases anteriores à colisão, ambas as mar
2000). gens continentais passaram por evoluções geoló
fase extensional, relacionada à colocação de gicas complexas. A margem passiva localiza se na
granitos anorogênicos, em torno de 1,88Ga (Oro borda norte do terreno granito greenstone (Bloco
siriano) (Dall’Agnol et al. 2005, Machado et al. Rio Maria), enquanto que a margem ativa foi de
1991). senvolvida sobre as rochas do Complexo Xingu.
fase de fraturamento crustal generalizado, a subducção processou se em ângulo oblíquo
ao redor de 553±32Ma (Cordani et al. 1984), rela em relação à margem continental ativa, provocan
cionada ao processo de aglutinação do setor oci do o estabelecimento de um sistema de cisalha
dental do Supercontinente Gondwana. mento sinistral paralelo a esta margem. Este sis
As interpretações das feições geológicas da Pro tema denominado de Cinturão Itacaiúnas, é for
víncia Carajás discutidas em trabalhos anteriores mado por grandes falhas direcionais afetando o
suportam as seguintes considerações: embasamento e que foram mais tarde reativadas
a Bacia Carajás, representada principalmen (pelo menos três vezes) sob regime rúptil dúctil
te pela sequência vulcanossedimentar do Grupo (Pinheiro & Holdsworth 1997). Estas reativações
Grão Pará e pelos sedimentos de cobertura da For criaram duas grandes descontinuidades estrutu
mação Águas Claras, repousa sobre rochas do em rais denominados respectivamente falhas Carajás
basamento de alto grau metamórfico (Complexo e Cinzento.
Xingu), muito próximo ao limite de um terreno gra três episódios principais de reativação rúptil
nito greenstone contíguo (Bloco Rio Maria). dúctil do embasamento foram marcados por intru
resultados robustos de geocronologia U Pb e sões granitóides no Cinturão Itacaiúnas, respec
Pb Pb (Machado et al. 1991, Macambira & Lafon tivamente há 2573±2Ma (U Pb, zircão, Machado
1995, Macambira & Lancelot 1996), indicam que et al. 1991), 2527±34Ma (Rb Sr, rocha total, Bar
as evoluções do Complexo Xingu e do Bloco Rio ros et al.1997) e 2560±37Ma (Pb Pb, evaporação
Maria foram concomitantes há 2,8Ga, enquanto de zircão, Souza et al. 1996).
que as rochas vulcânicas cálcio alcalinas do Gru no intervalo de 1,89 a 1,87Ga (Macambira &
po Grão Pará foram geradas o intervalo de 2,76 a Lafon 1995), os terrenos de alto grau (Complexo
2,74Ga (Wirth 1986, Teixeira 1994). Xingu) e o de baixo grau metamórfico (Bloco Rio
a formação ferrífera bandada fácies óxido da Maria), anteriormente amalgamados, foram inva
Formação Carajás foi depositada no intervalo en didos por plutões de granitos anorogênicos. Os
tre 2,75 e 2,74Ga (Trendall et al. 1998). granitos paleoproterozóicos de Carajás foram co
episódios magmáticos tardios ocorreram en locados em níveis crustais rasos em regime ex
41
Modelos de Depósitos Brasileiros d e Ccbre Depósitos de Óxidos d e Ferro cobre ouro de Carajâs
2760Ma SUBDUCÇÃO
COMPLEXO XINGU
2740Ma SUBDUCÇÇÃO+OBDUCÇÃO+COLISÃO
Exemplos: Salobo
Depósitos arqueanos tardios de OFCO e Sossego
Figura 13 Modelo de evolução geotectônica para a Província Mineral de Carajás, com ênfase na geração dos
depósitos de óxidos de ferro cobre ouro.
tensional, em resposta à atividade de uma super turamento crustal de direção geral NS, sendo mui
pluma mantélica (Teixeira et ai. 2001, Daii'Agnol et tas das fraturas preenchidas por diques de dia
a/. 2005). Os efeitos da superpluma provocaram básio.
ruptura crustal, acompanhada do extensivo vul Com base no conjunto de informações discuti
canismo continental sobre o Cráton Amazônico das pode se considerar que as mineralizações de
(Vulcanismo Uatumã), que ocorreu no intervalo de OFCO de Carajás dividem se em dois grandes gru
1880 a 1760Ma, durante as fases denominadas pos. O primeiro grupo compreende os depósitos
Maloquinha, Iriri, Creporí e Teles Pires (Santos et de idade arqueana (Tabela 1), que podem ser sub
a/. 2001, 2002). divididos em (i) precoces, ou sincolisionais (p. ex .
ao redor de SSOMa, durante a fase de agluti Igarapé Bahia Alemão e Cristalino) e (ii) tardios,
nação do setor ocidental do Supercontinente Gon ou pós colisionais (p. ex, Salobo e Sossego). O
dwana, ocorreu um processo generalizado de fra segundo grupo compreende os depósitos de ida
42
João Batista Guimarães Teixeira, Zara Gerhardt Lindenmayer & Maria da Glória da Silva
de paleoproterozóica (Tabela 2), cuja origem está de geólogos das empresas Rio Doce Geologia e
relacionada ao evento de magmatismo anorogê Mineração (Docegeo), hoje extinta e da Compa
nhia Vale do Rio Doce (CVRD), hoje Vale, que tra
nico de 1,88Ga (p. ex. Gameleira, Estrela, Breves, balharam em Carajás durante as três últimas dé
Alvo GT 46, Águas Claras e Alvo 118 (Fig. 13). cadas.
Em resumo, os terrenos de alto e baixo grau
metamórfico da Província Carajás são reconheci Referências
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ano de ácido sulfúrico, em Marabá, Pa. In: IBRAM,
48
CAPÍTULO III
Abstract The Cu-Au Chapada deposit is located 8km from Alto Horizonte-GO. The geologic picture
is dominated by metavolcanic sedimentary sequences that integrate the Neoproterozoic Magmatic
Arc of Mara Rosa, located in the central portion of the Tocantins Province. The framework of the
deposit is represented by an antiform whose core is composed by association of magnetite-biotite
gnaisse and muscovite-biotite schist surrounded by amphiboles schist, biotite-muscovite schist,
metacherts, metavulcanoclastics rocks, amphibolites and kyanite-quartz schist. These rocks are
cut by pegmatite dikes oriented towards N40°-60°W. The core of biotite gneiss corresponding to an
acid to intermediate plutonic body, typical of volcanic arc environment, with calc-alkaline character,
and the association of metavulcanoclastics rocks, amphibolites and metacherts involving is related
to a metavolcanic-sedimentary sequence. The Cu-Au Chapada ore is formed predominantly by the
association chalcopyrite-pyrite-magnetite, but also chalcopyrite-magnetite or chalcopyrite-pyrite,
with subordinate occurrences of galena, sphalerite and bornite. The deformational history of the
Cu-Au Chapada Deposit comprises three phases of deformation. Phase Dn is represented by isoclinal
recumbent folds, resulting in compressive stress EW to NW-SE, in association with amphibolite
facies metamorphism. Phase Dn+1 is related to the Rio dos Bois shear zone, with drag and intrafolial
folds which asymmetry indicates general vergence to the SE, in association with greenschist facies
metamorphism. The later deformational event, Dn+2, is related to regional smooth folding of foliation,
oriented approximately EW and NS, resulting in a dome-and-basin interference pattern. Two genetic
hypotheses have been presented for the mineralization: one suggests that the deposit was generated
by processes similar to those involved in the genesis of porphyry Cu-Au deposits, in arcs of intra-
oceanic islands; in this chapter it is understood that only part of the formation of the Cu-Au Chapada
deposit is associated with magmatic processes described in hydrothermal deposits of porphyry Cu-
Au, between 900 and 850 Ma. Evidence shows that the genesis of the Cu-Au Chapada deposit is also
related to epigenetic hydrothermal processes, marked by the transformation of magnetite-biotite
gneiss to muscovite-biotite schist, associated with the deformation of Rio dos Bois shear zone at the
end of the Brazilian Orogeny, between 600 and 560 Ma. In this sense, it is assumed that part of the
deposit, called Capacete, is interpreted as an orogenic or intrusion related Cu-Au deposit developed
during syn- to late-tectonic stage of collisional magmatism.
Keywords: Cu-Au porphyry deposit, Chapada, Goiás, Brazil, Neoproterozoic, Mara Rosa Magmatic Arc
51
Modelos ck Depósitos Br asileiros r:k Cobre Depósito de CU Au porflrítlcc Chapada, Goiás
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-
Figura 1 Mapa de localização do Depósito de Cu Au Chapada.
52
Raul Minas Kuyumjlan, Claudlnel Gouveia d e Oliveira, Frederico Bedran Oliveira & carlos Ed uardo Par afzo Borges
rasa, com dimensões finais de 3000 m x 900 m x t rado se destina 80% para exportação e 20% para
220 m e relação estéril/minério 1:1 (incluindo 30 o mercado interno .
m de capeamento) . A reserva do depósito é de
421 m ilhões de toneladas (medida + indicada) e CONTEXTO GEOLÓGI CO REGIONAL
teores de 0,31% Cu e 0,225 g/t Au (Fig. 2). Em
2007 foram extraídos 16 milhões tjano de minério O Depósito de Cu Au Chapada se localiza na
e produzidos 180 .000 tjano de concentrado, com porção central da Província Tocantins, que repre
recuperação de 89% Cu e de 55% Au. O concen senta um amplo orógeno neoproterozóico desen
Legenda .·
I
/
D Coberturas Fanerozóicas
D Granulitos/ortognáisses (Embasamento?)
Saciado
Parnafba
/
Faixa Brasflia '":-~
\~
Zona Externa
r-=l Grupo Bambui (inclui a cobertura
L...::.Jsobre o Cráton São Francisco) ~' .-"';
D Ortognaisses
Maciço de Goiás
I - I Coberturas dobradas I Grupo Serra da Mesa
Complexos máfico-ultramáficos I seqüências
vulcanc:>-sedimentares adjacentes:
D PPMPbj - Barro Alto I Juscelãndla
PPMPnc - Niquelãndia I Coitezeiro
PPMPcp - Cana Brava I Palmeirópolis
GrBenstone belts/Ortognalsses
Convenções Saciado
Paraná
Principais elementos estruturais:
t-:;::. 1 - Lineamento Transbrasilíano
2 - Sintaxe dos Pirineus N
_/
Falhas de empurrão (rampas frontais e
oblfquas)
Limites geológicos
A
- / Limites da Provfncia Tocantins
Limites estaduais
50
Escala
o 50 100km
Figura 3 Mapa geológico simplificado da porção centro leste da Província Tocantins (Pimentel et ai. 2004).
53
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Cu Au porfirítico Chapada, Goiás
volvido entre o Cráton Amazônico, a oeste, e o tas de rochas vulcanossedimentares com orienta
Cráton São Francisco, a leste, em conseqüência ção geral NNE: o Arco Mara Rosa, na sua parte
da convergência e colisão de massas continentais norte, onde predominam metassedimentares de
na aglutinação de Gondwana ocidental, durante a tríticas, enquanto metavulcânicas félsicas a inter
Orogenia Brasiliana. A parte leste da Província é mediárias são pouco frequentes e granitos pós
ocupada por espessa sequência de rochas metas orogênicos são metaluminosos do tipo I A; e o Arco
sedimentares e extensa exposição de rochas ne Arenópolis, na sua parte sul, onde metassedimen
oproterozóicas do Arco Magmático Goiás (Fig. 3). tares detríticas são menos abundantes, enquan
Na Faixa Brasília, o mais proeminente grupo de to metavulcânicas dacíticas a andesíticas são fre
estruturas compreende um sistema de falhas re qüentes e granitos pós orogênicos são leucocrá
versas e de empurrão, com vergência tectônica em ticos com muscovita (Pimentel & Fuck 1992, Pimen
direção ao cráton São Francisco, a leste. Tais es tel et al. 1997, Pimentel et al. 2000, Junges et al.
truturas constituem as mais conspícuas feições da 2002b, Pimentel et al. 2004).
deformação neoproterozóica durante o ciclo oro No Arco Magmático Mara Rosa, na região de
gênico Brasiliano (Fuck et al. 1994, Strieder & Sui Chapada Mara Rosa, as metaplutônicas de com
ta 1999, Araújo Filho 2000). Na porção norte do posição tonalítica a diorítica são consideradas se
Arco Magmático Goiás, tais feições tectônicas mos melhantes às rochas graníticas tipo M de arcos de
tram se representadas por: (i) um sistema regio ilha imaturos e apresentam características quími
nal de zonas de cisalhamento reversas oblíquas cas semelhantes às de adakitos (Pimentel et al.
e/ou de empurrões de alto ângulo (falha Rio dos 1997). Dados isotópicos de U Pb indicam que o
Bois), com disposição geral NE, responsáveis pela magmatismo tonalítico, com magmatismo máfico
justaposição de rochas do arco neoproterozóico associado, ocorreu em dois intervalos de tempo:
aos terrenos granito greenstone arqueanos da entre ca. 856 e 807 Ma e entre ca. 640 e 622 Ma
região de Crixás Hidrolina, a sul, e a rochas pale (Junges et al. 2003). As supracrustais daquela re
oproterozóicas da sequência vulcanossedimentar gião formam três faixas estreitas de direção NNE,
Campinorte e metassedimentares mesoprotero denominadas de leste, central e oeste, separa
zóicas do Grupo Serra da Mesa, a leste; e (ii) um das entre si por metatonalito e metadiorito. As três
sistema espaçado de zonas de cisalhamento trans faixas são constituídas de anfibolitos, metatufos
correntes dextrais, com orientação geral NNE, cor félsicos a intermediários, metagrauvacas, grana
respondente aos lineamentos Transbrasilianos. da mica xistos, metachert, formação ferrífera,
Esses dois sistemas mostram se recortados por quartzito e rochas ultramáficas, todas metamorfi
falhas discretas de cisalhamento direcional orien zadas nas fácies xisto verde a anfibolito (Arantes
tadas segundo NW. et al. 1991) (Fig. 4). Os anfibolitos são toleíticos,
semelhantes a boninitos, reresentando fragmen
O ARCO MAGMÁTICO GOIÁS to de crosta oceânica, ou calcio alcalinos, produ
tos de magmatismo de arco (Palermo 1996, Paler
O Arco Magmático Goiás limita se a oeste com mo et al. 2000). Granada anfibolito e epidoto anfi
a Faixa Araguaia e cavalgado a leste pelo Maciço bolito da área do depósito de Chapada apresen
de Goiás e foi formado pela acresção de sistemas tam assinatura química semelhante à de metaba
de arcos de ilhas na margem oeste do Cráton São saltos originados em ambiente de back arc (Kuyu
Francisco, no período de 900 a 600 Ma (Pimentel mjian 1989).
& Fuck 1992, Pimentel et al. 2000, 2004, Laux et As composições isotópicas Sm Nd de granada
al. 2005). Geograficamente, estende se na dire mica xistos feldspáticos e de biotita gnaisse de
ção nordeste sudoeste por mais de 1000 km, nas granulação fina indicam idades TDM no intervalo
porções oeste do estado de Goiás e sul do esta 0,9 e 1,2 Ga, indicando que tais rochas são pro
do do Tocantins, estando encoberto ao norte pela dutos de erosão de rochas do arco, com pouca
Bacia Paleozóica do Parnaíba (Fuck et al. 2005, contribuição de fontes mais antigas, e que foram
2006). O Arco Magmático Goiás compreende dois depositadas em ambiente intraoceânico. Idades
domínios principais de crosta juvenil neoprotero Sm Nd obtidas a partir dos pares granada rocha
zóica constituídas predominantemente por ortog total de rochas metassedimentares da seqüência
naisses tonalíticos expostos entre faixas estrei Mara Rosa indicam dois eventos metamórficos: um,
54
Raul Minas Kuyumjlan, Claud/nel Gouveia de Oliveira, F~derlco Bedran Oliveira & cartos Eduardo Paraízo Borges
LEGENDA
O Cobertura laterillca
• Granitóides pós-orogênioo
8 • Gabros e dioritos
b
((
D Zona hidrotermalmente alterada
Q.
o
UJ
D Metassedlmentares
z • Metavulcânlcas félslcas
D Anfibolitos e meta-ultramáficas
D Ortognaisses
O Ocorrências de ouro
Rgura 4 Mapa geológico do distrito de Cu Au e Au Chapada Mara Rosa (modificado de Arantes et a/. 1991)
e seção estrutural esquemática através do Arco Magmático Mara Rosa (Palermo et ai. 2000).
mais antigo, há 760 Ma ,e outro, mais jove m, com autores, esse período de formação de arcos de
idades t ipicamente brasilianas, há ca. 600 Ma (Jun ilha coincide, em parte, no tempo geológico, com
ges et ai. 2002a, b). O último evento deformacio a fragmentação do supercontinente Rodínia.
nal foi imediatamente seguido de intrusões graní
t icas ( biotita granito e leucogranito a duas micas) PRINCIPAIS DEPÓSITOS E OCORRÊNCIAS DE
e gabro dioríticas, constituindo uma associação Cu-Au E Au DO ARCO MAGMÁTICO MARA ROSA
bimodal pós orogênica (Pimentel et ai. 1997, Jun
ges et ai. 2002b) . O Depósito de Cu Au Chapada se insere no con
Segundo Junges et ai. (2003), o Arco Magmáti texto do distrito auro cuprífero Chapada Mara
co de Goiás representa a colagem de arcos de ilha Rosa (Oliveira et a/. 2000 , 2004), que vem sendo
intra oceânicos que se iniciou em aproximadamen investigado por companhias de mineraçao desde
te 900 850 Ma entre os continentes neoprotero o início da década de 70. Este distrito contém im
zóicos Amazonas e São Francisco . Esta colagem portantes garimpos e depósitos de Au (Posse,
foi acrescionada à margem oeste do continente Mundinho, Viúva, Suruca), Au Ag Ba (Zacarias) e
São Francisco em 780 760 Ma e posteriormente Cu Au (Chapada), além de várias ocorrências au
deformada du rante o fechamento final do oceano ríferas pouco estudadas (Lacerda 1986). Segun
em 600 Ma. Portanto, as rochas de arcos de ilha do Oliveira et a/. 2000), os principais depósitos de
na região central do Brasil registram um longo ouro e cobre ouro do distrito Chapada Mara Rosa
período de convergência de placas e formação de podem ser identificados
arco magmático, incluindo colisões arco continen por quatro associações distintas: (i) Depósito
te e continente continente, após o fechamento de Zacarias (Au Ag Ba), interpretado como vulcano
extensa bacia oceânica . Ainda segundo aq ueles gênico disseminado de natureza estratiforme ( Pool
55
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Cu Au porfirítico Chapada, Goiás
1994); (ii) Depósito Chapada (Cu Au), interpreta ção geral NE e mergulhos moderados a fortes para
do como vulcanogênico disseminado (Kuyumjian, NW, denominadas de faixas leste, central e oeste.
1989) ou cobre porfirítico (Richardson et al. 1986); Essas faixas se mostram entremeadas por corpos
(iii) Depósito Posse (Au), definido como dissemi alongados sin tectônicos de ortognaisses dioríti
nado controlado por zona de cisalhamento meso cos a tonalíticos e recortadas por intrusões tardi
zonal (Palermo et al. 2000); e (iv) Depósito Mundi a pós tectônicas, pouco ou não deformadas, de
nho (Au Cu Bi), considerado como veios quartzo composições dioríticas a graníticas. As faixas são
sulfetados controlados por zona de cisalhamento compostas em diferentes proporções por associa
com magmatismo pós orogênico associado. ções de metabasaltos, metatufos intermediários
No contexto do Arco Mara Rosa, duas ocorrên a félsicos, metaultramáficas, metagrauvacas finas
cias se destacam, Serra do Caranã e Morro dos a médias, metacherts, formações ferríferas, além
Picos, as quais estão associadas à cianita musco de grande variedade de metassedimentares psa
vita quartzo xistos/cianita quartzitos (± muscovi mo pelíticas e produtos hidrotermalizados, meta
ta, ± pirita) estruturados na direção NNE e mer morfizados sob condições de fácies xisto verde a
gulho WNW. Segundo Nascimento (2008), todas anfibolito. Oliveira et al. (2006) redefiniram essas
as características das unidades litológicas descri faixas com base em dados geocronológicos. Des
tas na Serra do Caranã permitem correlacioná las sa forma, as faixas central e leste, pertencentes à
com zonas hidrotermais metamorfizadas, na qual Sequencia vulcano sedimentar Mara Rosa, foram
a seqüência litológica, de rochas a cianita, seria o renomeadas para subunidades metavulcânica bá
equivalente metamórfico de zonas de alteração hi sica e metavulcano sedimentar, respectivamente,
drotermal argílica intermediária a avançada. Para enquanto a faixa leste, dominantemente metas
isso a autora se baseou na presença de estrutu sedimentar (subunidadade metassedimentar), foi
ras do tipo boxwork, interpretadas como uma po reconsiderada como pertencente à Seqüência vul
rosidade secundária formada a partir da dissolu cano sedimentar Santa Terezinha.
ção de anidrita, mineral que ocorre geralmente O Depósito de Cu Au Chapada se insere no con
associado com halos de alteração potássica de texto da faixa leste ou da subunidade vulcano
depósitos do tipo pórfiro. Ainda segundo a auto sedimentar que compreende uma ampla variação
ra, a presença de hornblenda biotita ortognais de metavulcânicas básicas a ácidas e metassedi
ses, com baixo teor de Cu e Au em profundidade, mentares psamo pelíticas e químicas, além de pro
é um indicativo de alteração hidrotermal potássi dutos hidrotermais, dentre os quais se destacam
ca, e a presença de uma associação de actinolita cianititos, cianita quartzitos, estaurolita cianita
epidoto (clorita) da borda desses ortognaisses anfibolito, quartzo epidositos, pirita quartzo seri
estaria associada com uma alteração propilítica. cita xisto, muscovia biotita xisto feldspático, mus
Nascimento (2008) tambem descreve o Morro dos covita biotita plagioclásio microclínio gnaisse e
Picos, localizado a oeste da cidade de Porangatu, gedrita antofilita xisto (Fig. 5). As metavulcânicas
com características semelhantes à Serra do Cara básicas são representadas, sobretudo, por anfi
nã, com ocorrência de Cu associada a muscovita bolitos finamente bandados, sendo, no entanto,
pirita cianita quartzito, com feldspato, rutilo, tur comuns variações de granada anfibolito, biotita
malina, lazulita, crandalita, biotita e clorita subor anfibolito, antofilita anfibolito e epidoto anfibolito.
dinados. Algumas rochas interpretadas supostamente como
metavulcânicas ácidas a intermediárias (metario
GEOLOGIA LOCAL dacitos, metadacitos, metatufos andesíticos) são
identificadas por biotita microclínio gnaisse, epi
O Depósito de Cu Au Chapada está inserido no doto biotita plagioclásio gnaisse, muscovita plagi
contexto geomorfológico de extensos platôs sus oclásio gnaisse e cianita biotita plagioclásio gnais
tentados por perfis lateríticos espessos, onde ex se. A seqüência de metassedimentares psamo
posições de rochas inalteradas são escassas. O pelíticas apresenta a mais ampla variação petro
contexto geológico do depósito é dominado pela gráfica, com destaque para o grupo de biotita xis
Seqüência vulcano sedimentar Mara Rosa, que tos e biotita xistos feldspáticos que são constitui
Arantes et al. (1991) compartimentaram em três dos predominantemente de biotita, quartzo e pla
faixas estreitas e anastomosadas, com disposi gioclásio, além de combinações variáveis de anfi
56
Raul Minas Kuyumjian, Claudinei Gouveia de Oliveira, Frederico Bedran Oliveira & Carlos Eduardo Paraízo Borges
Figura 5 Mapa geológico de semi detalhe do Depósito de Cu Au Chapada (modificado de Oliveira et al.
2004).
57
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Cu Au porfirítico Chapada, Goiás
Figura 6 A. Ortognaisse tonalítico com bandamento, segregação quatzosa e remobilizados quartzo feldspáticos,
com destaque para xenólitos de anfibolito. B. Exposição de anfibolito maciço, cinza escuro e granulação
média, em frente de lavra da porção norte da cava da mina. C. Exposição de pegmatóide que recorta muscovita
biotita xisto. D. Frente de lavra localizada a sul da cava da mina, com detalhe para amostra de tonalito cinza
escuro de granulação média a grossa e textura ígnea fanerítica preservada.
bólio, epidoto, clorita, feldspato potássico, grana da região de Chapada apresentam caráter predo
da, estaurolita, cianita e muscovita. São comuns minantemente calcio alcalino de arco oceânico. Nos
ainda quartzitos e biotita quartzo xistos feldspá anfibolitos descritos no Depósito de Cu Au Cha
ticos finamente laminados ou em camadas espes pada observam se baixas concentrações de cério
sas interpretados como meta arenitos impuros e/ e ETR, com enriquecimento dos elementos leves
ou metagravaucas, intercalados esporadicamen em relação aos pesados, típico de rochas máficas
te por metavulcânicas básicas que afloram em vulcânicas de ambiente de arco (Richardson et al.
grande extensão a sudeste de Mara Rosa (Fig. 6). 1986).
Na região do Depósito de Cu Au Chapada, as
rochas metabásicas se assemelham tanto a me DESCRIÇÃO DO DEPÓSITO DE Cu-Au CHAPADA
tabasaltos (granada, diopsídio e epidoto anfiboli
tos) quanto à meta andesitos basálticos (quart Na seção geológica da Figura 7, confeccionada
zo granada e quartzo anfibolitos), sendo que os a partir da interpretação de furos de sonda e da
metabasaltos possuem assinaturas geoquímicas descrição de frentes de lavra, observa se que o
similares a basaltos toleíticos imaturos de arco de arcabouço estrutural do Depósito de Cu Au Cha
ilha, ricos em Mg, Ni e Cr (Kuyumjian 1989). Os pada é representado por um antiforme aberto em
diopsídio anfibolitos, entretanto, apresentam as que o núcleo é representado pela associação de
sinatura geoquímica complexa entre arcos de ilha magnetita biotita gnaisses/muscovita biotita xis
e MORB, o que sugere ambiente de retro arco para tos, enquanto a cobertura compõem se de uma
a formação de tais rochas (Kuyumjian 1994, Jun ampla variação de rochas metavulcânicas e meta
ges et al. 2002b). Já os meta andesitos basálticos vulcanoclásticas básicas a ácidas, além de metas
58
Raul Minas Kuyum]lan, C/audinel Gouveia de Oliveira, Frederico Bedr an Olivei ra & car/os Eduardo Parafzo Borges
40Qm
3SOm
J<Kim
250m ., ? ? ?
? 7
o 25 SO(M)
?
Legenda
Unidades Lltológlcas
Magnetlta-blotlta gnalssef Seção Geológica
Muscovila-biotlta xisto
Biotlta-muscovita xisto/ /!/ Falha de Empurrão
Metachertfmetavulcanocléstica
Anflbólto xisto +Anticlinal
Cianlta-quartzo xisto
sed ientares qufmicas (metacherts). Todo o conjun biotita, muscovita, epidoto e, subordinadamente,
to mostra se recortado por d iq ues peg matíticos anfibólio, granada, cianita, magnetita/hematita e
estreitos orientados segundo N40 60°W e por uma ilmenita . A rocha apresenta foliação difusa diag
intrusão diorítica sem icircular pouco deformada. nosticada por domínios sigmóides com microestru
tura g ranoblástica fina , constltufdos de quartzo,
Rochas hosped eiras plagioclásio e microclínio, envoltos por faixas es
treitas e anastomosadas compostas de biotita
As rochas hospedeiras comp reendem uma am marron, muscovita e ep idoto. Neste t rabalho, os
pia variação de xistos associados à magnetita bi magnetita biotita gnaisses são interpr etados
otita gnaisses finos e anfibolitos, dentre os quais como produtos metamórficos de intrusão (ou sub
se destacam muscovita biotita xistos, anfibólio xis vulcânica) ácida a intermediária .
tos, associação biotita muscovita xistos/cianita epi Musco vita- biotita x istos são as rochas mais
doto muscovita biotita x isto feldspático/meta comuns da mina, perfazendo cerca de 60 % das
cherts e associação cianititos/quartzo cian ititos/ hospedeiras da mineralização, e representam ge
cianita quartzitos/cianita muscovita quartzo xistos nericamente produtos da substitu ição de magne
(Fig. 8) . tita biotita gnaisses expostos principalmente na
Magnetita-bíotita gnaisses ocorrem como cor porção central da cava. São rochas de tonalida
pos centimétricos a métricos com geometria tabu des cinza claro a escuro e compõem se essencial
lar ou sigmóide (boudins simétricos a assimétricos) mente de biotita, muscovita, quartzo , epidoto e
intercalados e/ou envoltos por muscovita biotita carbonato neoformados e plagioclásio, microclínio
xistos, além de muscovita biotita xisto feldspáti e, subordinadamente, anfibólio, granada, estau
co, cianita biotita xisto, biotita quartzo xisto, epi rolita e cianita rel iquiares. Os m inerais opacos são
doto biotita xisto feldspático. Os magnetita bioti representados por pirita e calcopirita neoforma
ta gnaisses, identificados na mina por biotita dos, que se encontram entremeados em agrega
gnaisses finos ou metaaren itos feldspáticos, exi dos lamela res de biotita e muscovi ta , além de
bem tonalidades de cinza claro a médio, macroes magnetita/ilmenita e hematita reliquiares. Essas
trutura maciça, granulação fina e compõem se es rochas apresentam fol iação bem desenvolvida re
sencialmente de quartzo, plagioclásio 1 mícroclinio, alçada por domínios granoblásticos finos quartzo
59
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Cu Au porfirítico Chapada, Goiás
Figura 8 A) Exposição de muscovita biotita xisto (Bx) intercalado com magnetita biotita gnaisse. B)
Fotomicrografia de muscovita biotita xisto, com destaque para o contato de faixas com textura granoblástica
e faixas com textura lebidoblástica, rica em biotita e muscovita (LT/NC). C) Exposição de biotita muscovita
xisto, levemente foliado, com cor cinza claro. D) Fotomicrografia de biotita muscovita xisto exibindo lame
las orientadas de muscovita e biotita associadas a cristais de epidoto e pirita (LT/NC). E) Amostra de
metachert amarelo claro, maciço, rico em pirita. F) Fotomicrografia de metachert exibindo cristais de mus
covita e pirita em meio à matriz de quartzo (LT/NC).
feldspáticos, com disseminações de biotita e epi rochas permitem classificá las em muscovita bio
doto, envelopados por agregados lepidoblásticos tita xisto feldspático, cianita biotita xisto, biotita
ricos em biotita, muscovita e, subordinadamente, quartzo xisto, epidoto biotita xisto feldspático e
clorita de granulação fina a média. Plagioclásio, estaurolita cianita granada biotita xisto.
microclínio, cianita e estaurolita exibem freqüen Anfibólio xistos ocorrem em maior volume na
temente alteração parcial para muscovita, en interface da associação magnetita biotita gnais
quanto anfibólio se apresenta substituído por bi se/muscovita biotita xistos com anfibolitos que se
otita. As variações na composição modal dessas situam nas cotas mais elevadas da mina (capa).
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Raul Minas Kuyumjian, Claudinei Gouveia de Oliveira, Frederico Bedran Oliveira & Carlos Eduardo Paraízo Borges
São rochas com tonalidades de cinza escuro a ver chert, descritos na porção sudoeste da cava. São
de escuro, granulação fina a média e macroestru rochas que apresentam tonalidades de cinza cla
tura maciça a finamente foliada ressaltada pela ro a cinza escuro, granulação fina a média, macro
orientação de lamelas de biotita, por vezes alte estrutura foliada a ligeiramente maciça em que se
rada para muscovita e clorita, e porfiroclastos alon destacam porfiroclastos alongados de feldspatos
gados de anfibólio, imersos em matriz com textu parcialmente alterados imersos em matriz fina (tex
ra predominantemente granoblástica fina compos tura porfirítica reliquiar). A matriz é compartimen
ta por anfibólio (gedrita, hornblenda ou antofili tada em domínios granoblásticos lenticulares a
ta), biotita, quartzo, epidoto, plagioclásio e, su sigmóides constituídos de quartzo, plagioclásio,
bordinadamente, carbonato, mica branca e clori epidoto, muscovita e biotita, além de cianita, anfi
ta. Os porfiroclastos de anfibólio ocorrem espora bólio e granada, que se encontram envelopados
dicamente substituídos por biotita e carbonato. por domínios lepidoblásticos anastomosados com
Essas rochas são, por vezes, ricas em pirita e cal postos de biotita, muscovita e, subordinadamen
copirita que se associam preferencialmente aos te, epidoto e cianita. Biotita exibe frequentemen
domínios lepidoblásticos ricos em biotita, ou a car te alteração parcial para sericita e clorita. Os mi
bonato e epidoto remobilizados por falhas e fra nerais opacos são representados por pirita, cal
turas tardias E W e NW SE. copirita e, em menor proporção, magnetita que se
Associação biotita-muscovita xistos/cianita- mostram como grãos alongados (estirados) dis
epidoto-muscovita-biotita xisto feldspático/ postos ao longo da foliação e entremeados com
metacherts ocorre principalmente na porção su agregados lamelares de biotita e muscovita. Os
doeste da cava, capeando o núcleo da associação grãos de calcopirita e pirita ocorrem como cristais
magnetita biotita gnaisse/muscovita biotita xisto. xenoblásticos de granulação muito fina a fina.
São rochas com variação petrográfica complexa, Os metacherts são cinza claro a cinza amarela
mas que pela própria associação com metassedi do, maciços a ligeiramente bandados e compõem
mentares químicas (metacherts), metavulcanoclás se de quartzo e, em menor proporção, muscovita
ticas e metavulcânicas básicas (capa da mina) são e pirita. Quartzo ocorre em agregados sigmóides
denominadas genericamente de rochas metavul com microestrutura granoblástica fina, que se mos
cano sedimentares ricas em muscovita, biotita, tram delimitados por faixas estreitas de muscovi
calcopirita e pirita. ta de granulação fina. Pirita e calcopirita são por
Os biotita muscovita xistos são os principais re vezes abundantes (<10%) e se mostram como
presentantes desta associação e se caracterizam grãos estirados que definem superfícies de ban
por apresentar tonalidade cinza claro, granulação damento difuso.
fina a média e foliação bem desenvolvida marca Associação cianititos/quartzo cianititos/ci-
da por domínios lepdoblásticos ricos em muscovi anita quartzitos /cianita-muscovita-quartzo
ta e, subordinadamente, biotita e epidoto, que en xistos ocorre como pequenas elevações no en
volvem núcleos granoblásticos constituídos de torno do depósito (Morro do Urubu) e na porção
quartzo, plagioclásio e, em menor proporção, mi leste da cava, controladas por falhas de empur
croclínio. Porfiroblastos poiquilíticos de cianita, rão NE SW reorientadas por falhas direcionais E
anfibólio, granada e estaurolita são constituintes W. Os cianita quartzo xistos são cinza esbranqui
comuns e ocorrem preferencialmente associados çados a branco azulados, finos a médios e com
aos domínios micáceos, onde se apresentam como foliação difusa marcada por domínios granoblásti
grãos alongados a sigmóides, por vezes rotacio cos ricos em quartzo envelopados por muscovita
nados, com alteração parcial em suas extremida e cianita. Variações petrográficas ricas em quart
des para muscovita fina (sericita). Disseminações zo ou cianita, pobres em muscovita e com estru
de calcopirita (<2%) e pirita (<10%) ocorrem como tura maciça são genericamente denominadas de
grãos alongados (estirados) de granulação fina, cianita quartzitos ou quartzo cianititos. Cianita
associados (ou intercrescidos) com domínios ricos ocorre como cristais alongados orientados ou como
em muscovita e biotita. agregados prismáticos de granulação média a
Cianita epidoto muscovita biotita xistos felds grossa, com microestrutura diablástica, concentra
páticos correspondem a produtos interpretados dos em charneiras de dobras da fase Dn+1. Musco
como metavulcanoclásticas associadas à meta vita ocorre como lamelas dispostas segundo a fo
61
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Cu Au porfirítico Chapada, Goiás
liação ou como lamelas finas oriundas da substi biotita muscovita xistos, metacherts e rochas ri
tuição de plagioclásio ou de outros minerais alu cas em cianita da seqüência metavulcano sedi
minosos, incluindo cianita. Microclínio, plagioclásio, mentar exposta na porção leste e sudoeste da
estaurolita, rutilo e pirita são subordinados. Ruti cava. O minério magnetítico descrito no núcleo da
lo ocorre como diminutos prismas, em geral inclu cava se destaca por conter teores mais elevados
sos na cianita. Pirita, sob a forma de grãos ou bo de ouro que o minério rico em pirita.
xworks alongados e orientados segundo a folia Sob microscópio, revelam grande variedade de
ção, é o sulfeto dominante. As rochas dessa as texturas envolvendo calcopirita, pirita, magnetita
sociação não são consideradas minério, mas ocor e os minerais da ganga. Essas texturas são pro
rem associadas a biotita musvovita xistos ricos em dutos de transformações metamórficas e deforma
calcopirita. cionais que se manifestam mais comumente como
grãos reliquiares de sulfetos fortemente estirados
Textura e Mineralogia do Minério e recristalizados, arranjos granoblásticos poligo
nizados de sulfetos e óxidos, e intercrescimentos
O minério do Depósito de Cu Au Chapada con de sulfetos e filossilicatos (biotita, muscovita, clo
siste de disseminações de sulfetos ao longo de rita) neoformados. A calcopirita ocorre como grãos
planos de foliação (ou superfícies axiais de dobras) livres e, menos frequentemente, inclusões no in
e, em menor proporção, por pequenas concentra terior e/ou em fraturas na magnetita e pirita.
ções maciças em charneiras de dobras ou em fa
lhas e fraturas orientadas segundo E W e NW SE. Deformação e Metamorfismo
O minério é constituído por uma associação de
sulfetos (calcopirita, pirita, bornita, molibdenita, Ramos Filho et al. (2003) evidenciaram na re
esfarelita, galena) e óxidos (magnetita, hematita, gião de Alto Horizonte, dois sistemas cisalhantes
ilmenita, rutilo), onde calcopirita aparece como o regionais, sendo um sinistral com direção N40 45oE
único mineral minério importante. Os minerais da e outro dextral com direção N25 30oW, resultan
ganga compõem se dominantemente de biotita, tes de compressão regional NNW SSE. Os auto
muscovita, quartzo, feldspatos, anfibólio e, subor res definiram duas fases de deformação na região
dinadamente, epidoto, clorita, carbonato, cianita, de Alto Horizonte: (i) D1 representada por su
estaurolita, granada, titanita e rutilo. O ouro, com perfícies de empurrão de direção e vergência para
granulação muito fina, ocorre incluso na calcopiri leste, com dobras assimétricas a isoclinais recum
ta, porém variações mais grossas ocorrem em fra bentes de eixos NS e N20o 30oE e foliação pene
turas e espaços intergranulares em sulfetos (Ri trativa com mergulho para W resultantes da uma
chardson et al. 1986). compressão regional EW, mais antiga, e (ii) D2 – com
De maneira geral, o minério do Depósito de Cu a geração de zonas de cisalhamento NS basilia
Au Chapada é constituído pela associação de cal nas, dobras abertas com eixo EW e dois sistemas
copirita, pirita e magnetita, prevalecendo as as regionais de zonas de cisalhamento com forte
sociações calcopirita magnetita (minério magnetí mergulho e rejeito direcional, sendo um sinistral
tico) ou calcopirita pirita (minério pirítico), onde com direção N40o 45oE e outro destral com dire
pirita é o mineral mais abundante, magnetita tem ção N25o 30oW, resultantes de compressão regi
ocorrência subordinada, enquanto galena, borni onal NNW SSE. As dobras abertas interferem com
ta e esfalerita são raras (Fig. 9). As duas associa as dobras isoclinais recumbentaes dando origem
ções minerais são refletidas em mapeamento de a padrão de interferência tipo cogumelo. Na falha
detalhe na cava da mina, onde se observa um reversa sinistral Rio dos Bois, resultante da com
núcleo central rico em magnetita (minério magne pressão regional D2, ocorre milonito granítico com
títico) e um envelope externo em que predomina clastos de plagioclásio e microclina, e foliação com
pirita (minério pirítico). O núcleo rico em magneti atitude N55oE/40oNW, com indicadores estruturais
ta ocorre hospedado predominantemente por sugerindo cisalhamento sinistral.
magnetita biotita gnaisses intercalados com mus O mapeamento estrutural das frentes de lavra
covita biotita xistos, descritos principalmente na da mina mostrou que a história deformacional do
porção NE da cava (corpo capacete), enquanto o Depósito de Cu Au Chapada está registrada em
minério pirítico está associado principalmente a três fases deformacionais principais (Dn, Dn+1, Dn+2)
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Raul Minas Kuyumjian, Claudinei Gouveia de Oliveira, Frederico Bedran Oliveira & Carlos Eduardo Paraízo Borges
Figura 9 A, B, C e D. Fotomicrografias do minério pirítico, com destaque para textura realçada por intercres
cimentos sulfetos/filossilicatos (biotita, muscovita, clorita), (A LT/NP, B LR/NC, C LT/NC, D LR/NC). E)
Fotomicrografia do minério magnetítico, com destaque para textura granoblástica média realçada por conta
tos planares entre os minerais (LR/NC). F) Fotomicrografia da associação calcopirita pirita (minério pirítico),
com destaque para a ocorrência de calcopirita em fraturas no interior e nas bordas de grãos xenomórficos de
pirita (LR/NC).
que estão diretamente relacionadas à evolução com comprimentos de onda e amplitudes de mag
tectônica do Arco Magmático Mara Rosa durante a nitude regional. No depósito de Cu Au Chapada,
Orogenia Brasiliana (Evento En) no Neoprotero a fase Dn é diagnosticada por dobras sub isocli
zóico, num intervalo aproximado entre 900 e 600 nais a isoclinais recumbentes, envolvidas por re
Ma (Oliveira 2010). dobramento assimétrico apertado coaxial, com
Fase deformacional Dn foi responsável pela vergência para E/SE, geradas por esforço compres
estruturação da seqüência vulcano sedimentar sivo E W a NW SE (Fig. 10). Estas estruturas es
Mara Rosa em sinclinais e anticlinais assimétricos, tão bem registradas em anfibolitos e magnetita
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Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Cu Au porfirítico Chapada, Goiás
Figura 10 A) Dobras recumbentes (Dn) associadas aos magnetita biotita gnaisses, expostas na porção
NE da cava. B) Superfície Sn truncada por superfície Sn+1 associada à falha Rio dos Bois.
Figura 11 A. Padrão de dobras parasitas e intrafoliais em muscovita biotita xistos. B. Sigmóide assimétrico
de quartzo com sulfeto.
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Raul Minas Kuyumjian, Claudinei Gouveia de Oliveira, Frederico Bedran Oliveira & Carlos Eduardo Paraízo Borges
Figura 12 A) Sinclinal Dn+2 desenvolvida por dobramento regional suave, levemente assimétrica, com
eixo E NE/ W SW. B) Fraturas e/ou juntas N S a N20°W e mergulho de 70° 90° para W, associada à zona
de charneira de dobras recumbentes.
65
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Cu Au porfirítico Chapada, Goiás
se, Zacarias). Essas rochas se distribuem mais fre As rochas ricas em cianita do Arco Magmático
qüentemente sob a forma de blocos e matacões Mara Rosa ocorrem em diversos contextos, sendo
ao longo das encostas de serras estreitas e line mais comuns em associação com biotita gnaisses
ares, que na maioria dos casos se adapta a zo tonalítitos, onde exibem um nítido zoneamento
nas de cisalhamento de extensão regional (ex. com rochas com concentrações elevadas de epi
Falha Rio dos Bois). Outras rochas portadoras de doto e biotita, incluindo epidositos e biotita xis
cianita, representadas por cianita quartzito, mus tos. Nós sugerimos que estas rochas foram origi
covita cianita quartzito, muscovita cianita quartzo nadas a partir do metamorfismo superimposto so
xisto, cianita granada muscovita xisto, cianita bi bre produtos gerados durante transformações
otita quartzo muscovita e plagioclásio paragoni magmático hidrotermais, similares aos sistemas
ta cianita xisto, ocorrem em lentes ou corpos irre envolvidos na formação de depósitos de Cu Au por
gulares com dimensões diversas. De maneira ge firíticos. As rochas ricas em cianita estariam relaci
ral, estas rochas contêm rutilo como acessório fre onadas aos halos pré metamórficos marcados por
qüente, além de córindon, lazulita, anidrita, ros alteração hidrotermal avançada (halo argílico), di
coelita (V muscovita), turmalina e ouro com apari agnosticados por protolitos ricos em quartzo e ca
ção esporádica. Pirita é o sulfeto dominante, por olinita.
vezes em concentrações elevadas, enquanto cal
copirita é subordinada ou, mais comumente, au Características Singenéticas da Mineralização de
sente. Cianita ocorre freqüentemente como porfi Cu-Au
roblastos prismáticos sin cinemáticos e, em me
nor proporção, como porfiroblastos placosos com Para Richardson et al. (1986), o Depósito de
textura diablástica, concentrados em charneiras Cu Au Chapada foi gerado por processos simila
de dobras. Esse mineral sofreu blastese durante res aos de depósitos de Cu Au porfirítico, enquanto
a fase Dn, sob condições de fácies anfibolito, sen Kuyumjian (1989) defendeu origem que se apro
do, no entanto, comum a sua transformação para xima ao modelo de depósitos vulcanogênicos dis
muscovita pela superimposição de deformação as seminados (stringer ore type). Os argumentos de
sociada à fase Dn+1, sob condições de fácies xisto Kuyumjian (1989) se fundamentam no zoneamento
verde. Na década de 1980, a ocorrência de cianiti da alteração hidrotermal associada à mineraliza
tos da Serra das Araras foi lavrada por garimpa ção. O autor sugere que epidositos e rochas ricas
gem e o seu concentrado empregado na indústria em epidoto teriam se formado pela interação vul
de refratários. cano exalativa de soluções aquosas marinhas
Rochas com cianita são em geral formadas por aquecidas e basaltos em estágio anterior ao de
três processos: i) metamorfismo de zonas de al senvolvimento da foliação Sn (fase Dn). Os epidosi
teração hidrotermal avançada (halo argílico) em tos representariam condutos de fluxo de salmou
rochas vulcânicas e plutônicas de arcos de ilha; ras com metais, incluindo Cu e Au, enquanto mag
ii) metamorfismo de sedimentos aluminosos; e iii) netita pirita quartzo sericita xistos, encaixantes da
metassomatismo sin metamórfico controlado es mineralização, poderiam representar halo de al
truturalmente. Estudos geoquímicos e petrográfi teração fílica metamorfisado. Enfatiza ainda que
cos em cianita quartzitos da Noruega (Müller et al. existe estreita associação entre as rochas com es
2007) e da Província Piedmont na Virginia Central, taurolita e gedrita e os domínios mineralizados, o
Estados Unidos (Owens & Passek 2007), têm dis que pode ser indicativo de halo clorítico metamor
cutido a origem dessas rochas em contexto simi fizado, enquanto os xistos com microclínio e altos
lar ao do Arco Magmático Mara Rosa. Os autores teores de K2O são sugestivos de alteração potás
sugerem que os protolitos das rochas ricas em ci sica, que teria se associado mais intensamente à
anita são equivalentes aos produtos gerados por precipitação de calcopirita e ouro.
alteração argílica avançada em ambiente subvul Por outro lado, Richardson et al. (1986) combi
cânico. No caso da Província Piedmont, as rochas nam feições geológicas e geoquímicas para suge
ricas em cianita são tidas ainda como evidências rir que o Depósito de Cu Au Chapada tem carac
da ação de sistema epitermal aurífero de alta sul terísticas que se assemelham às descritas em de
fetação (high sulfidation epithermal gold system) pósitos de Cu Au porfiríticos formados em ambi
(Owens & Passek 2007). entes de arcos de ilhas intra oceânicos (Yumul et
66
Raul Minas Kuyumjian, Claudinei Gouveia de Oliveira, Frederico Bedran Oliveira & Carlos Eduardo Paraízo Borges
al. 2002). De acordo com os autores, entre as si biotita gnaisses reliquiares. Os sulfetos (calcopiri
milaridades observadas destacam se: abundân ta, pirita) ocorrem como disseminações planares
cia de minério sulfetado disseminado, predominan concordantes com a foliação milonítica de baixo
do calcopirita e pirita, e ausência de lentes de sul ângulo e/ou interestratificados com agregados
fetos maciços; teor e volume de sulfetos de Cu e lamelares de biotita e muscovita.
Au compatíveis com os depósitos de cobre porfirí O fato desse depósito (Corpo Capacete) se en
tico de arco de ilha; associação de sulfetos e óxi contrar controlado por uma zona de cisalhamento
dos do Depósito de Cu Au Chapada, assim como de expressão regional (zona de cisalhamento Rio
seu zoneamento, incluindo envelope periférico rico dos Bois), formada durante os estágios finais da
em pirita e um núcleo central abundante em mag evolução da Orogenia Brasiliana na região, entre
netita, semelhante aos descritos em depósitos de 620 e 580 Ma, sugere que esse depósito integre
cobre porfirítico; a química da alteração no entor a classe dos depósitos auríferos orogênicos (oro
no do depósito é também similar ao que se verifi genic gold deposits) (Fig. 13). Se por um lado o po
ca nos depósitos de cobre porfirítico, com enrique sicionamento tecno estrutural, as condições me
cimento em K2O e depleção em Na2O e CaO; e va tamórficas e a natureza da alteração da minerali
lores da composição isotópica de enxofre (δ34S) zação são compatíveis com as características dos
compatíveis com fluidos de derivação magmática depósitos dessa categoria, por outro lado as ele
(ca. 0‰) (Sawkins 1990, Sillitoe 1997). vadas concentrações de calcopirita encontradas
Kuyumjian (2000) reformulou a sua proposta raramente são descritas em depósitos com carac
genética, se aproximando do modelo de Richard terísticas epigenéticas. Isso nos permite extrapo
son et al. (1986), ao sugerir que o Depósito de lar que essa mineralização apresenta caracterís
Cu Au Chapada teria se formado pela conjunção ticas que se aproximam mais daquelas que são
de processos hidrotermais magmáticos epitermais, relacionadas para os depósitos controlados por
seguidos de remobilização metamórfica, que o au intrusões (intrusion related Cu Au deposits).
tor denomina de sistema porfirítico epitermal me
tamorfizado ou modificado. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
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Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Cu Au porfirítico Chapada, Goiás
em calcopirita pirita e ouro, em que prevalecem neo à fase Dn+1, não descrito anteriormente, traz
reações de biotitização, muscovitização e sulfeta um novo aspecto para as mineralizações de Cu e
ção controladas por deformação dúctil a dúctil rú Au do Arco Mara Rosa e coloca o sistema Rio dos
ptil que se associa ao desenvolimento de foliação Bois como importante agente mineralizador.
milonítica que preserva, em parte, núcleos reliqui
ares de magnetita biotita gnaisses. Agradecimentos Os autores agradecem ao CNPq
O fato do depósito ser controlado pela zona de pelo apoio financeiro nas formas de bolsas a pós
cisalhamento Rio dos Bois, formada durante os es graduandos e recursos de editais universais aos
tágios finais da evolução da Orogenia Brasiliana professores pesquisadores, ao Instituto de Geo
na região, entre 620 e 580 Ma, sugere que parte ciências UnB pelas atividades laboratorias, à Mi
do depósito (Corpo Capacete) integre a classe dos neração Maracá Indústria e Comércio S/A, do Gru
depósitos auríferos orogênicos (orogenic gold de po Yamana Gold Inc. pelo apoio logístico.
posits). Por outro lado, as elevadas concentrações
de calcopirita permitem extrapolar que essa mi Referências
neralização apresenta características que se apro
Arantes D., Buck P.S., Osborne G.A., Porto C.G. 1991.
ximam mais daquelas que são relacionadas aos A Sequência Vulcano-sedimentar de Mara Rosa e
depósitos controlados por intrusões (intrusion re Mineralizações Auríferas Associadas. SBG, Núcleo
Centro-Oeste, Boletim Informativo, pp. 27-40.
lated Cu Au deposits). Araújo Filho J.O. 2000. The Pirineus syntaxis: an exem-
Pelo exposto, as evidências de dois eventos ple of intersection of two Brasiliano fold thrust belts
in Central Brazil, and its implications for the tecto-
mineralizantes revelam uma metalogênese com
nic evolution of Western Gondwana. Revi. Brás.
plexa resultante de processos superpostos. O Geoc., 30:144-148.
evento mais recente, epigenético e contemporâ Bedran F.O. 2010. Características epigenéticas do de-
68
Raul Minas Kuyumjian, Claudinei Gouveia de Oliveira, Frederico Bedran Oliveira & Carlos Eduardo Paraízo Borges
69
,
CAPITULO IV
DEPÓSITOS DE COBRE DO
VALE DO RIO CURAÇÁ, BAHIA
Abstract More than three hundred mafic-ultramafic bodies of various sizes and containing copper
sulfide mineralization occur in the region of the Curaçá River Valley, northern Bahia State. All of
these mineralized bodies make the Cupriferous Province of the Curaçá River Valley, which covers
an area of about 1700km2, spreading over the municipalities of Juazeiro, Jaguararí and Curaçá.
The basement, supracrustal sequence and mafic-ultramafic intrusive rocks underwent granulite
facies metamorphism and have been later reworked during the evolution of the Itabuna-Salvador-
Curaçá Orogen, resulting in diaphtoresis to the amphibolite facies, partial migmatization and intrusion
of granitic rocks. With the slow and progressive rise of the terrain, retrograde reactions continued to
occur, located mainly in shear zones, inprinting in the rocks greenschist facies mineral paregenesis.
The lithological sequence was subjected to at least three phases of deformation (D 1-D 3), which
generated open and closed folds, with vertical axial planes and N-S oriented axes with gentle dips to
the south, which correspond to three metamorphic events (M1-M3) that gave origin of the granulite to
amphibolite parageneses. In granulites of the Caraíba Complex, SHRIMP U-Pb ages of 2695±12Ma
and 2634±19Ma were obtained in zircons cores and an age of 2072Ma was obtained on their
metamorphic borders. Zircons from norites were dated by the U-Pb SHRIMP method. The results
indicate the crystallization age (2580± 10Ma) and the age of granulitic metamorphism (2103±23Ma).
The main hydrothermal event is Paleoproterozoic, as demonstrated by Ar-Ar dating on phlogopite
from the Caraíba Mine, which yielded plateau-ages of around 2.0-2.1Ga.
The mafic-ultramafic bodies are composed of cumulates (rare peridotites and abundant
pyroxenites) and mafic cumulates (melanorite, norite, gabbro-norite), leuconorite and rare
anorthosite. The main mineralized bodies with copper sulfides are associated to pyroxenite, glimmerite
and norite. In addition to the mineralized bodies of Caraíba there are other bodies of high economic
potential in the Curaçá Valley, like Target R22, Surubim and Vermelhos. Mineralization consists of
copper sulfide, with predominance of chalcopyrite+bornite, in a ratio of 70% to 30%. The sulfides
occur primarily associated with hypersthenite, norites and mica-rich rocks (glimmerite). The sulfides
are invariably accompanied by magnetite. The cupriferous mineralization of the Curaçá River Valley
is part of the tectonothermal evolution the northern segment of the Itabuna-Salvador-Curaçá Orogen,
which occurred within the 2.6 to 1.8Ga interval. The data set obtained so far, both on the regional
scale and on the deposit scale, shows the high complexity of this type of ore, which preserves traces
of inherited characteristics of genetic processes and subsequent modifying processes. The ore displays
evidence of a mantelic origin, and has been modified by tectono-deformational and metamorphic
processes that affected either the mafic-ultramafic sequences and their host rocks.The sum of all of
these processes yielded a hybrid mineralization, mainly controlled by tectonism, with unequivocal
proof of remobilization and enrichment by hydrothermal processes of probable magmatic nature.
73
Modelos de Depósitos Br asllelms de CDbre Depósltx>s de Ccbre do Vale do Rio Q.waçá, Bahia
LEGENDA
D Coberturas fanerozóicas
D Coberturas neoproterozóicas
D Orógeno neoproterozóico
D Coberturas mesoproterozóicas
- Oróge!'lo ltabuna-SaJvador-Curaçá (OISC)
- Rochas granullticas
r-----1 Terrenos gnáissicos arqueano-paleo-
'---' proterozõicos com supracrustals
- - Limite do Crâlon São Francisco
Agura 1 Mapa geológico esquemático do Cráton São Francisco, com destaque para o Orógeno Itabuna
Salvador Curaçá (OISC). O retângulo corresponde ao segmento norte desse orógeno.
blocos arqueanos, no intervalo de 2,1 2, 0Ga . (Sa Posteriormente, em função do potencial metalo
baté et a/. 1990, Ledru et a/. 1994, Barbosa & Sa genético, vários trabalhos foram desenvolvidos na
baté 2002, 2004). região, a exemplo de Rgueiredo (1976) , Unden
Na porção norte deste orógeno (Fig . 2) , locali mayer (1982), Jardim de Sá et a/. (1982), Concei
za se o Cinturão Salvado r Cu raçá (CSC), interca ção ( 1990), Oliveira ( 1990) , Teixeira (1997 ) e Lei
lado entre os blocos arqueanos de Gavião a oes te (2002 ).
te e de Serrinha a leste, caracterizado por apre Estudos específicos da evolução geoquím ica e
sentar lentes de diferentes rochas tectonicamen de geologia isotópica dos terrenos de alto grau
te imbricadas, em deco rrência de episódios de do Vale do Curaçá foram realizados por Figueire
deformação cisalhante dúctil, inicialmente de ca do (1980), Sabaté et a/. (1994), Oliveira & Tarney
ráter tangencial, que evoluiu par a um regime ( 1995) e Silva et a/. (1997) . Trabalhos de síntese
transcorrente (Kosin et a/. 2003) . No CSC são des da evolução do conhecimento sobre o Cinturão
critos o Complexo Caraíba , Tanque Novo Ipirá e a Salvador Cu raçá, incluindo o Bloco Serrinha e o
Suíte São José do Jacuípe, além de corpos máfico Cinturão Saúde Itapicuru Jacobina foram prepara
ultramáficos e diver sas gerações de gran itóides dos por Kosin et a!. ( 1999, 2001 , 2003), Souza et
paleoproterozóicos intrusivos (Seixas et a!. 1975, a/. ( 2000) e Oliveira et a/. (2004) .
Loureiro 1991, Melo 1991, Sampaio 1992, Melo et Consi de rando que o presente capítulo tr ata
a/. 1995). apenas das m ineralizações de cobre do OSC, que
A presença de m inera lizações, com destaque ocorrem apenas no Vale do Rio Curaçá, serão d is
para sulfetos de cobre no Vale do Rio Curaçá e cutidos a seguir aspectos relativos exclusivamen
cromita no Vale do Rio Jacurici, despertou a aten te à geolog ia e metalogênese dessa porção do
ção de geólogos de empresas públicas e privadas orógeno.
e de pesquisadores de universidades para o seg
mento norte do OISC. Ladeir a & Brockes Jr. (1969 ), SÍNTESE DA GEOLOGIA DO VALE DO RIO CURAÇÁ
seguidos por Delgado & Souza (1975), foram os
pioneiros no estudo detalhado das rochas hospe Os terrenos do Vale do Rio Curaçá (Fig . 3) , com
deiras do m inério de cobre do Vale do Rio Curaçá . põem uma estreita faixa de d ireção N S situada
74
João Batista Guimarães Teixeira et ai.
4o•ow 39•ow
Legenda
D Granito/Sienito
Cl Compl exo Tanque Novo-lpirá
D Complexo Caralba
[!!) Compl exos Máficos--Uitramáficos
D Sequências Vulcano-sedimentar
D Grupo Jacobina
D Complexo São José do Jaculpe
I'' I Diques Máficos
D Compl exo Saúde
D Gnaisses Bandados
- Embasamento Arqueano
........_ Zonas de Cisal hamento principais
Figura 2 Mapa geológico do segmento norte do Orógeno Itabuna Salvador Curaçá, modificado de Kosin et
ai. (2003).
Bloço
s.....mha
A - Mina
- Corpos mineral izados a cobre Medrado
- Corpos mineralizados a cromo
- Complexo Caraíba I
D Complexo Tanque Nov()olpirá
'
'
D Granulitos, gnaisses, migmatitos e granitos
10 20
D Metassedimentos meso-neoproterozóicos I t
m Sienito ltiúba
Figura 3 Mapa geológico simplificado do segmento norte do Orógeno !tabu na Salvador Curaçá, mostrando
a faixa que corresponde ao Vale do Rio Curaçá.
75
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósitos de Cobre do Vale do Rio Curaçá, Bahia
76
João Batista Guimarães Teixeira et a/.
de Juazeiro, Jaguararí e Curaçá (Fig. 4) . Docegeo, Mineração Caraíba, Codelco, além de tra
Os corpos máfico ultramáficos são compostos balhos de pesquisadores acadêmicos.
de cu mulatos ultramáflcos (abundante piroxenito Os estudos realizados por Undenmayer (1982)
e raro peridotito) e cumulatos máficos (melanori nos corpos máfico ultramáflcos, permitiram o re
to, norito, gabro norito), além de leuconorito e raro conhecimento de rochas de composição hiperste
anortosito . Essas rochas foram objeto de uma nítica norítica (às quais estão associadas as prin
série de estudos real izados por d iferentes auto cipais mineralizações de cobre da área), associa
res, que lhes atribuíram diversas hipóteses petro ções de corpos noríticos e gabróicos com anorto
genéticas. Em decorrência disto, constituiu se um sitos subordinados (pobres em sulfetos de Cu) e
valioso acervo de dados cartográficos, estruturais; lentes de gabro e gabro noritos estéreis.
geofísicos, petrográficos, geoquímicos, isotópicos, A presenca de intrusões mineralizadas sempre
geocronológ icos, dentre outros, resultantes dos em contato direto com sedimentos carbonáticos,
trabalhos históricos efetuados na área pela CPRM, aliada à existência de sulfetos associados a g rafi
• Bo;J Sorte
• VeMlitlhO$
Osienito
,..-- Falha
• Cidades N
10'00'S
•
o
Outras localidades
10
A
20 klli
Figura 4 Mapa geológico simplificado do vale do Rio CuraçfJ1 mostrando as áreas de ocorrência de corpos
máfico ultramáficos. Modificado de Delgado & Souza (1981).
77
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósitos de Cobre do Vale do Rio Curaçá, Bahia
ta bem como a existência, na jazida de Caraíba, Em total discordância em relação a esta linha
de sedimentos carbonáticos portadores de níveis de pensamento, Maier & Barnes (1999) propuse
de anidrita (prováveis níveis de evaporitos arque ram que os piroxenitos e glimmeritos mineraliza
anos de acordo com Leake et al. 1979), em íntima dos de Caraíba representariam restitos de um pro
associação com o minério, são fortes indícios de cesso de fusão parcial de um protólito diorítico rico
que a assimilação de enxofre das encaixantes te em sulfetos de cobre, pobre em sulfetos níquel e
nha tido papel importante na formação desses de rico em magnetita, flogopita, apatita e zircão. Fe
pósitos. nômenos de anatexia, segundo esses autores,
Lindenmayer (1982) propôs que os corpos má teriam ocorrido durante o pico do metamorfismo
fico ultramáficos representam soleiras diferencia granulítico, relacionado à deformação D2. Ainda de
das, originados a partir de um magma basáltico acordo com Maier & Barnes (1999) o protólito dio
toleítico. Trabalhos posteriores, realizados por Lin rítico seria resultado da cristalização de um mag
denmayer et al. (1984), D’el Rey Silva (1984, 1985) ma residual proveniente de um magma basáltico
e D’el Rey Silva et al. (1988, 1994, 1996) conver que fracionou olivina e piroxênio em profundida
giram para esta proposição de soleiras diferenci de, ficando deficiente em Ni, o que, segundo os
adas, intrusivas no embasamento do orógeno autores, justificaria os baixos teores de níquel no
Salvador Curaçá. Para os autores citados, as in minério de cobre de Caraíba e demais corpos do
trusões teriam ocorrido antes dos três eventos Vale do Curaçá.
deformacionais que atingiram a região (D1, D2 e Datações U Pb SHRIMP em zircões dos noritos
D3). Isso explicaria, segundo eles, a complexa ge de Caraíba, realizadas por Oliveira et al. (2004),
ometria apresentada pelos corpos mineralizados forneceram uma idade 207Pb/206Pb concordante de
e suas encaixantes e a dificuldade encontrada em 2580±10Ma, interpretada pelos autores como de
se estabelecer uma sequência litoestratigráfica cristalização. Uma população de zircões com ra
coerente para os mesmos. zões Th/U<0,1, forneceu a idade de 2103±23Ma,
Para Mandetta (1982), os corpos mineralizados interpretada pelos autores como a do metamor
a cobre teriam sido gerados a partir de um mag fismo regional de alto grau.
ma toleítico e os corpos máficos estéreis, com des No tocante ao timming de colocação dos cor
taque para as rochas mais ricas em olivina, teriam pos máfico ultramáficos, Oliveira & Tarney (1995)
tido como fonte um magma rico em magnésio. O postularam, com base em observações de campo,
autor propôs que o conjunto de corpos represen que os mesmos intrudiram em rochas previamen
te uma intrusão máfico ultramáfica diferenciada, te deformadas. Entretanto, para D’el Rey Silva
com os membros ultramáficos (piroxenito e rochas (1985) e D’el Rey Silva et al. (1996) estes corpos
mais ricas em olivina) na base, seguidos de ro teriam intrudido as encaixantes antes do evento
chas máficas (melanorito e norito) e as rochas mais deformacional D1 e submetidos aos eventos sub
ricas em plagioclásio (leucogabro e anortositos) sequentes D2 e D3.
no topo. Estudos petrográficos, geocronológicos e iso
Uma nova proposta surgiu para a petrogênese tópicos mais recentes, realizados por D´el Rey Sil
destes corpos em decorrência dos trabalhos de va et al. (2007), em rochas anfibolíticas presentes
senvolvidos por Oliveira (1990) na Mina Caraíba. em um afloramento situado no Aeroporto da Mina
Para o autor, os corpos máfico ultramáficos seri Caraíba (Afloramento do Aeroporto), lançaram uma
am representados por múltiplas intrusões de di nova proposta para a origem dos corpos máfico
ques, além de brechas ígneas de composição hi ultramáficos. Os resultados obtidos pelos autores
perstenítica, norítica e anortosítica de afinidade supracitados revelam que o protólito dos anfiboli
toleítica. Os peridotitos e gabros, ainda segundo tos estava em conformidade com a posição sub
Oliveira (1990), seriam xenólitos trazidos pelo mag horizontal das rochas vulcano sedimentares da
ma toleítico que deu origem aos diques e teriam unidade Tanque Novo Ipirá, sendo, portanto, pré
uma assinatura geoquímica cálcico alcalina. deformação D1. Além disso, o protólito é crono
Embora discordantes, as propostas até então correlato aos corpos máfico ultramáficos e possui
apresentadas convergem no sentido de que to assinatura isotópica compatível com rochas basál
das propõem uma origem magmática convencio ticas oriundas de um manto depletado. Com base
nal para os corpos máfico ultramáficos. nisso, D´el Rey Silva et al. (2007) consideram pos
78
João Batista Guimarães Teixeira et al.
sível que o protólito de Caraíba possa ter sido: gem a partir da fusão parcial de material de uma
(a) um segmento de crosta oceânica, (b) derra litosfera continental mais antiga, ou então de um
mes de basaltos oceânicos intercalados com os magma de origem mantélica que sofreu forte con
sedimentos da unidade Tanque Novo Ipirá, (c) si taminação por material da crosta continental.
lls gabróicos intrudidos na unidade Tanque Novo Granitóides pós tectônicos foram descritos por
Ipirá. Otero & Conceição (1996) na porção sul do Cintu
rão Salvador Curaçá, no extremo meridional do ma
Granito e Sienito Paleoproterozóicos ciço sienítico de Itiúba. Os autores reportaram a
presença de sienogranitos e monzogranitos com
No Vale do Curaçá, a Suíte São José do Jacuípe biotita e/ou hornblenda, e granodiorios e monzo
e os Complexos Caraíba e Tanque Novo Ipirá, fo nitos subordinados, finos a médios, localmente
ram intrudidos por granitóides paleoproterozóicos porfiríticos e com estruturas de fluxo magmático.
sin , tardi e pós tectônicos. Otero & Conceição (1996) descrevem a presença
A geração de granitóides sintectônicos, de acor de xenólitos de sienito e estruturas de mingling
do com Melo et al. (1995), compreende corpos me (misturas mecânicas). Não existem até o momen
taluminosos, subalcalinos, cujo representante to idades U Pb em zircões dessas rochas. Os da
mais expressivo é o granitóide Riacho da Onça. dos geocronológicos disponíveis são idades iso
Trata se de um corpo composto por augen gnais crônicas Rb Sr, em rocha total, obtidas por Melo
ses quartzo monzoníticos, monzoníticos e graníti (1991) e por Otero & Conceição (1996), de 1915Ma
cos, colocados sintranscorrência, contendo xenó (Ro=0,7054) e 1897Ma (Ro=0,70387), respectiva
litos do Complexo Caraíba (Melo et al. 1995). mente.
Além do granitóide de Riacho da Onça, são ain
da descritos no âmbito do CSC outros corpos sin Deformação e Metamorfismo
transcorrentes, de composição granodiorítica a gra
nítica, derivados de magmas cálcico alcalinos (ori Barbosa & Sabaté (2002, 2004) definiram o Cin
gem mantélica), e também corpos peraluminosos, turão Salvador Curaçá (CSC) como um orógeno
derivados de fusão crustal (Kosin et al. 2003). colisional paleoproterozóico envolvendo diferen
Silva et al. (1997) realizaram datações U Pb tes terrenos presentes nos blocos arqueanos de
SHRIMP em zircões do granitóide Riacho da Onça Gavião e Serrinha. As deformações decorrentes
tendo obtido a idade riaciana de 2126 ± 0,019Ma. desse evento colisional parecem ter ocorrido em
O maciço sienítico de Itiúba constitui um batóli dois estágios principais, ambos associados com in
to alongado N S, com cerca de 150km de exten trusões graníticas, de acordo com vários autores,
são, intrusivo no embasamento do CSC. De acor a exemplo de Alves da Silva et al. (1993), Sabaté
do com Conceição et al. (1991) este corpo, baliza (1996), Chauvet et al. (1997a, b) e Leite (2002,
do por zonas de cisalhamento, foi gerado em re 2009).
gime transcorrente transtensional, ou em um sis Segundo Alves da Silva et al. (1993) a defor
tema pull apart como sugerido por Corrêa Gomes mação mais antiga (estágio D1), de natureza com
et al. (1996), provindo de fonte mantélica. Concei pressiva, teria sido dominada por empurrões e do
ção & Otero (1996) descreveram no maciço de Iti bras com vergência para sudeste. Para Sabaté
úba rochas álcali feldspato sieníticas e sienitos leu (1996) e Leite (2002) essa deformação D1 é ca
cocráticos, cinza claro a rosados, médios a gros racterizada pela geração de um bandamento com
sos, com estruturas de acumulação magmática. posicional e por dobras relíquias, isoclinais a dei
Conceição (1990) caracterizou o como metalumi tadas. Posteriormente, ainda de acordo com Al
noso, com média alcalinidade, potássico e enrique ves da Silva et al. (1993), a tectônica compressiva
cido em Ba, Sr e ETR. Datações U Pb SHRIMP em teria mudado para direcional, com a formação de
zircões deste maciço forneceram a idade de várias zonas de cisalhamento norte sul e forte fo
2084±9Ma (Oliveira et al. 2004). Ainda de acordo liação com a mesma orientação (estágio D2). De
com Oliveira et al. (2004), idades modelo Nd TDM acordo com Leite (2002), o estágio D2, resultante
no intervalo 2,70 2,81Ga e valores de εNd(t) ne da tectônica de transpressão estabelecida pela
gativos ( 5,77 a 8,51) obtidos em amostras do colisão oblíqua, retrabalhou as deformações ge
Sienito de Itiúba seriam indicativos de uma ori radas no estágio D1 e teve seu padrão geométri
79
Modelos de Depósitos Br asileiros de Ccbre Depósitos de Ccbre do Vale do Rio Cur açá, Bahia
80
João Batista Guimarães Teixeira et al.
actinolita representa a fase de reequilíbrio regres ram homogeneização parcial e modificações hete
sivo das paragêneses anteriormente geradas. rogêneas na composição isotópica original, indu
zidas pelo metamorfismo acompanhado de defor
Resultados Geocronológicos e Isotópicos mação progressiva (D’el Rey Silva et al. 2007). As
idades obtidas por meio desta investigação per
As unidades litoestratigráficas do Cinturão Sal mitem considerar que o protólito da rocha anfibo
vador Curaçá foram datadas por vários autores, lítica cristalizou se há aproximadamente 2,6Ga e
por diferentes métodos. Nos granulitos do Com que o metamorfismo de alto grau que afetou as
plexo Caraíba foram obtidas as idades U Pb rochas do cinturão granulítico processou se no
SHRIMP de 2695±12Ma e 2634±19Ma, nos núcle intervalo de 2,08 a 2,05Ga (D’el Rey Silva et al.
os de zircões e idade 2072Ma em suas bordas me 2007). Estas idades estão em perfeito acordo com
tamórficas. Oliveira et al. (2004) obtiveram, nes os dados de Oliveira (1998) e de Vlach & Del Lama
sas mesmas rochas, idades modelo T DM entre (2002). Ainda de acordo com D´el Rey Silva et al.
2,83Ga e 2,71Ga, com valores de εNd (2695 Ma) (2007) os valores de εNd (para T ~2,6 Ga) obtidos
entre 0,49 e 1,71. nas rochas anfibolíticas situam se entre 2,03 e
As rochas metassedimentares de alto grau do +1,21, com as amostras provenientes das porções
Complexo Tanque Novo Ipirá não possuem até o centrais dos boudins mais largos (portanto, me
momento dados U Pb. O único dado geocronoló nos contaminadas), com valores em torno de zero.
gico publicado é uma idade modelo TDM de 2719Ma, Estes resultados foram interpretados pelos auto
obtida por Oliveira et al. (2004) em gnaisses alu res como indicativos de que os anfibolitos tiveram
minosos. As relações de campo sugerem que es como protólitos rochas basálticas oriundas de um
tas rochas sejam mais jovens que o Complexo manto deplecionado, ou seja, rochas de fundo
Caraíba. Já a Suite São José do Jacuípe (SSJJ), de oceânico.
acordo Teixeira (1997), apresenta relações de cam Os granitóides intrusivos no Cinturão Salvador
pos sugestivas de um posicionamento estratigrá Curaçá são paleoproterozóicos. Entre eles foram
fico inferior aos metassedimentos do Complexo reconhecidos: (i) granitóide sintectônico, com ida
Tanque Novo Ipirá e é truncada (além de apre des U Pb SHRIMP de 2126±0,0019Ma e
sentar xenólitos) pelo Complexo Caraíba. 2082±0,007 Ma, referentes à cristalização e me
O metamorfismo de alto grau ao qual essas ro tamorfismo, respectivamente (Silva et al. 1997);
chas foram submetidas foi datado também por Vla (ii) granitóide sin a tarditectônico, a exemplo do
ch & Del Lama (2002) pelo método Th U Pb em Sienito de Itiúba e o quartzo monzonito de Cape
microssonda eletrônica. As rochas analisadas fo la do Alto Alegre, com idades U Pb SHRIMP de
ram gnaisse com espinélio sillimanita cordierita 2084±9 e 2078±6Ma, respectivamente (Oliveira et
granada e gnaisse com coríndon espinélio sillima al. 2004); e (iii) granitóides pós tectônicos, de com
nita granada, cujos valores estimados de tempe posição sieno granítica, dos quais só existem isó
ratura e pressão foram de 835°C/6,9kb e 890°C/ cronas Rb Sr rocha total, com idades entre 1915 e
7,4kb, respectivamente. A monazita em equilíbrio 1897Ma (Melo 1991, Otero & Conceição 1996).
com essas associações minerais revelou idades de
fechamento do sistema Th U Pb próximas a 2,07 DEPÓSITOS DE COBRE
e 2,08 (±0,02)Ga, interpretadas como idades de
cristalização e, portanto, do metamorfismo da fá Distribuição Geográfica
cies granulito (Vlach & Del Lama 2002).
Zircões dos noritos de Caraíba foram datados Intrudidos nos complexos Caraíba e Tanque
pelo método U Pb SHRIMP por Oliveira et al. (2004). Novo Ipirá ocorrem mais de trezentos corpos má
Os resultados apontaram a idade de cristalização fico ultramáficos de dimensões variadas. Alguns,
dessas rochas (2580±10 Ma) e a idade do meta em especial os do Vale do Rio Curaçá, contêm mi
morfismo granulítico (2103±23Ma). neralizações econômicas sulfetadas de cobre, sob
Geocronologia U Pb em anfibolito e resultados a forma de bornita e calcopirita. O conjunto dos
de análises isotópicas Sm Nd em anfibolito, tona corpos mineralizados constitui a Província Cuprí-
lito e granito coletadas no “Afloramento do Aero fera do Vale do Rio Curaçá, a qual abrange uma
porto”, localizado a norte da Mina Caraíba, indica área de cerca de 1700km2 que engloba parcial
81
Modelos de Depósitos Br asileiros de Cobl1! Depósitos de Cobre do Vale do Rio w raçá, Bahia
mente os municíp ios de Juazeiro , Jaguararf e Cu minério de cobre no Vale do Rio Curaçá são atri
raçá . Contudo, a distribuição regional das ocor buídos ao engenheiro Oliveira Bulhões, que du
rências de cobre transcende os limites do Vale do rante estudos sobre o pro longamento da estra
Rio Curaçá, estendendo se para sudeste até pró da de ferro do Rio São Francisco no ano de 1874,
ximo do paralelo 11os . Investigações detalhados descobriu fragmentos de malaqu ita . Da descober
sobre a extensão da província cuprífera contida ta à implantação da mina de Caraíba (céu aberto
em terrenos de alto grau metamórfico ainda es e mais tarde subterrânea), hoje gerenciada pela
tão para ser realizadas. Mineração Caraíba S.A., decorreram mais de cem
Os relatos mais antigos sobre a ocorrência de anos .
Os principais corpos mineralizados a sulfetos
de cobre são associados a piroxenitos, no ritos e
glimeritos da Mina Caraíba . Além dos corpos mi
neralizados de Caraíba existem outros de eleva
do potencial no Vale do Rio Curaçá, a exemplo dos
Alvos R22 , Surubim e Vermelhos (Fig. 7).
Rochas H ospedeiras
Alvos
DJ Vennelhos
m Surubim
m Mina Carafba
e arredores
Legenda
D Augen Gnaisse
- Diques de Dlabásio
D Gabros e Anfibolitos
D Gnaisse Bandado Arapuá
G:] Gnaisse Bom Despacho
D Gnalsse Surublm
- Granito Cinza e Róseo. Leptlnitos e Trondhjemltos
C] Intercalações Calcisslllcátlcas
O Milonito Serrote de Sousa
- Noritos e Piroxenitos
c:J Ortognalsses Tonalltlcos e Granodlorltlcos
- Sienito ltiúba
o 4 8 12
--===--km
Figura 7 Mapa geológico simplificado do Vale do Rio Curaçá com a localização dos alvos Caraíba,Surubim e
Vermelhos). Fonte: Corpo Técnico da Mineração Caraíba S.A
82
João Batista Guimarães Teixeira et a/.
quência supracrustal pelítica na base e química no ta, apatita, zircão, ilmenita e pirrotita ocorrem como
topo . As rochas supracrustais, pertencentes à uni acessórios. Na área do Alvo R22 esta rocha é uma
dade Tanque Novo Ipirá, são representadas por importante hospedeira de mineralização de cobre.
Jeptinito grafitoso, gnaisse quartzo feldspático, cor O gabro é esverdeado, médio a grosso, com
dierita siliman ita granada biotita gnaisse, anfibo clinopiroxênio, hiperstênio, biotita e plagiociásio.
Jito, formação ferrífera bandada, rocha cálcico sili Em gerai, não é associado a minério de cobre .
cática, mármbre e quartzito (D'ei Rey Silva et a/. Além das rochas descritas, uma de composição
1999, Lindenmayer 1982). Além das rochas supra d iorít ica, esverdeada, grossa, com hornblenda e
crustais ocorrem também gnaisse mfgmatítico e in biotita, ocorre na cava da Mina Caraíba e no Alvo
trusões sintectônicas (G1 e G2 ) de tonalito e gra R22. As Figs. 9 e 10 mostram o padrão de ETR das
nodiorito e intrusões tarditectôn icas de sienogra rochas noríticas, gabróicas e diorítfcas.
nito (G 3 ) . Observações de campo e estudos petrográff
Todo o conjunto fo i submetido a pelo menos cos comprovaram que as rochas máfico ultramáfl
três fases de deformação progressiva (01 0 3 ) , que cas, em especial o piroxenito, meianorito e norito,
geraram dobras abertas e fechadas, com planos foram significativamente afetadas por flu idos hi
axiais verticalizados, eixos orientados N S e mer droter mais que transformaram parcial os transfor
gulhos suaves para sul, às quais correspondem maram em rochas marrom escuro, ricas em bioti
três eventos metamórficos (M 1 M3 ) que deram ori ta/flogopita ( 65 a 98%) 1 com percentuais varia
gem a paragêneses das fácies granulito a anfibo dos de plag ioclásio (O a 17%) e quartzo (O a 30%).
iito (D'el Rey Silva et a/. 2007). Foram ainda descritos nessas rochas percentuais
As rochas máfico ultramáficas consistem em cor
pos decamétricos a hectométricos de leucogabro 1 111000E 111400E
Granito (G 3)
bre. Q Norito e gabro pobres em .....__ ..-.,
sulfetos de cobre
O leuconorito é um norito rico em clinopiroxê D Hiperstenito e norito ricos em sulfetos de
nio, com estrutura bandada . Por vezes passa a 0 Migmatito, gnaísse máfico bandado a ortognaisse N
111500
camadas centimétrfcas de a nortosito, constituídos D Sequência .supracruslal .,.,. Zona de falha
por plagioclás io, com quartzo subo rdinado.
O gab ro- norito é verde acinzentado e de tex
Figura 8 Mapa geológico simplificado do open pit da
tura granoblástita média. É constituído de hipers Mina Caraíba, de acordo com D'el Rey Silva (19841
tênio, hornblenda, biotita e piag iociásio. Magneti 1985).
83
Modelos de Depósitos Br asileiros de Ccbre Depósitos de Ccbre do Vale do Rio w r açá, Bahia
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Figura 9 Diagrama r ocha( condrito de rochas noríti Figura 10 Diagrama rocha(condrito de rochas diod
cas (lilás) e gabróicas (verde) da Mina Caraíba, ticas da Mina Caraíba.
elevados de magnetita e, subordinadamente, apa ser:~tesnos glimmeritos e nas rochas máfico ultra
tita , zircão e hercinita . A apatita ocorre subordi máficas micáceas em geral.
nada, mas, por vezes, em até 10% da rocha . Quan De acordo com as análises de química mineral
do muito ricas em mlcas, essas rochas têm sido realtzadas neste trabalho, as micas possuem com
denominadas de glimm erit os. Estes ocorrem pre posição p redom i nantemer:~te flogopítica, plotando
ferencialmente em zonas tectoni zadas, onde os no campo easton ita siderofilita flogopita no dia
litotipos máfico ultramáficos foram cisalhados e, grama da Fig . 12a. A formula estrutural dessas
portanto, sujeitos à ação mais penetrativa de flui micas foi calculada com base em 22 átomos de oxi
dos . Os minerais de transformação apontam para gênio e a distribuição catiônica foi normalizada a
fluidos ricos em ferro, potássio e elementos de alto 14. Todas as micas analisadas possuem razões
campo de força (Zr e P). moleculares Fe 3 +j fe2+ < 0,3 e Mg/Fet > 1,5 (Fig .
Estudos litoquím icos realizados no âmbito des 12b), sendo portando compatíveis com flogopita
se trabalho, e em trabalhos anteriores (a exem de origem hidroter mal (Yavuz & Oztas 1997) .
pio de Maier & Barnes 1999), mostram um forte Paralelamente, observa se a existência de po
enriquecimento em LREE, Zr, Y e P nos glimmeri pulações compos icionalmente distintas de magne
tos, em relação aos piroxenltos ( Figs . 11 a e b) . titas nas rochas máfico ultramáflcas : (i) uma po
O enriquecimento nesses elementos parece de pulação de magnetitas ricas em Cr, AI, Tr e V, quan
corrente da percolação de flu idos hidrotermais nas titativamente predominantes, de provável orígem
rochas máfico ultramáficas . Tal hfpótese tem su magmática, e (ii ) uma população de magnetita
porte no quimismo das micas e de magnetitas pre mais puras, com teores mínimos ou Uvres desses
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Figura 11 A Diagrama rocha( condrito de piroxenito (verde) e glimmerito (azul). 8 Diagrama mg ' versus
Pp 5 (% peso) de piroxenito (quadrados verdes ) e glimmerito (quadrados azuis).
84
João Batista Guimarães Teixeira et a/.
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o 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3
Fe 3+JFe 2 +
Mg Fet
Figura 12 A Diagrama ternário AI Mg Fe total mostrando a tendência composicional das micas do glimme
rito e piroxenito micáceo de Caraíba. 8 Diagrama da razão Mg/Fet e F&+jFe2 + das micas de Caraíba.
8,00000 A 14,00000 B
7,00000 12,00000
6,00000
10,00000
5,00000
8,00000
4,00000 • no2 • no2
6,00000
3,00000 . AI203 • er2o3
4,00000
2,00000
. .I
•
• 2,00000
I
1,00000
0,00000
I L • J JI 0,00000 I I 1.1 I I
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
Figura 13 Diagramas de barras mostrando (a) as correlações entre os teores(% em peso) de Ti02 e Al2 0 3 e
(b) Ti02 e CrP:r
85
Modelos de Depósitos Br asileiros de Ccbre Depósitos de Ccbre do Vale do Rio Curaçá, Bahia
D E F G H I J
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~ 2000 ~l=:l:::t:::J::=t:::::I=:::J==:t===:=:===f Ar Ar obtidas em flogopita das
~ 1800 i F G H I J K L M rochas máfico ultramáficas do
corpo Caraíba, Vale do Curaçá.
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o 20 40 60
39
80 100 8
Cumulativa% Ar ralaasa
86
João Batista Guimarães Teixeira et a/.
longo de duas décadas, os autores supracitados tações sinistrais nestas estruturas (NE SW).
propuseram um modelo deformacional para o cor A Mina Carafba e o Alvo R22 ( polígono destaca
po Carafba, o qual se aproxima da forma de um do nas figuras 16 a e b) estão situados entre duas
cogumelo orientado N S {Fig . 15) . O cogumelo de expressivas falhas de direção NE SW, as quais sec
corre da interferência da slnforme F3 com várias cionam zonas de cisalhamento N S (Fig . 17a). As
dobras F2 • Tais comp.lexidades dificultam a defini feições lineares magnéticas de direção NE SW
ção segura das feições morfológicas dos corpos ocorrem em menor proporção e estão sobrepos
de minérios e resultam em variações bruscas de tas as de direção N S, com seus sinais magnéti
espessura, forma e teor, em distâncias relativa cos de maiores amplitudes.
mente pequenas, exigindo uma elevada densida Neste mesmo ambiente, a partir do processa
de de sondagem para alcançar graus de seguran mento e Interpretação dos dados aerogamaespec
ça adequados aos trabalhos de lavra . trométricos, observa se um baixo radiométrico cor
respondente às rochas máfico ultramáficas, circun
Geofísica dado por rochas com assinatura radiométrica de
alto K, Th e U (Fig . 17b). O baixo radiométnco en
O processamento e a interpretação dos dados contra se no interior de uma estrutura dobrada,
aeromag netométricos demonstram que a área em no formato de uma sinclinal. Os dados gravlmétri
estudo encontra se em uma faixa com expressi cos (Bouguer) mostram estruturas com anomalias
vos trends magnéticos de direção aproximadamen positi vas, que coincidem com o baixo radiométrfco
te N S, originados por uma tectônica cisalhante (rochas máfico ultramáficas) num trend aproxima
que gerou a foliação milonítíca . Estes trends po damente NNW. Na Figura 17b pode se se obser
dem ser observados tanto na imagem do campo var a área de maior ocorrência de rochas máfico
magnético total (Fig. 16a) quanto na derivada ver ultramáficas a qual coincide com baixo radiométri
tical deste campo (Fig . 16b), o que sugere sinais co e com a anomalia Bouguer.
magnéticos de fontes profundas. Seccionando o
trend N S, são observadas outras assinaturas ge Principais Características do Minério
ofísicas lineares, com direção NE SW, relacionadas
a falhas e fraturas. Deslocamentos de eixos de A mineralização cons iste em su lfetos de cobre,
anomalias mostram, em alguns casos, movimen com predomínio da paragênese calcoplrita+bomita,
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Rgura 15 Representação esquemática do cogumelo da Mina Caraíba (bloco diagrama e seção transversal)
de acordo com D'el Rey Sjfva et a/. (1988). Notar o padrão de interferência F2 x F3 na Seção 36 (modificado de
D'el Rey Silva et a/. (1996) e D'el Rey Silva & Oliveira (1999) .
87
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósitos de Cobre do Vale do Rio Curaçá, Bahia
Figura 16 A Mapa do campo magnético total. B Mapa da primeira derivada vertical do campo magnético
total mostrando os traços estruturais da área da Mina Caraíba e arredores. O polígono representa a área da
mina e do Alvo R22. Datum WGS 84/Zona UTM 24S.
88
João Batista Guimarães Teixeira et al.
numa relação de 70% para 30%. Ocorrem dois ti foi observada mais frequentemente associada ao
pos de mineralizações associadas a hiperstenitos minério disseminado. As figuras 19 e 20 ilustram
e noritos e a rochas ricas em mica (glimmeritos): diferentes feições texturais do minério, observa
(i) minério disseminado, em rede, ocupando os in das em estudo petrográfico, com destaque para
terstícios da trama silicática das rochas hospedei os intercrescimentos entre calcopirita e magneti
ras (Fig. 19a), e (ii) minério epigenético, preen ta, conforme ilustrado na Figura 20b. Os maiores
chendo planos estruturais nas rochas máfico ul teores de cobre ocorrem relacionados aos sulfe
tramáficas (Figs. 18b, 19b, 20a) e, secundariamen tos em fraturas, uma vez que nestas estruturas o
te, nas encaixantes regionais, em especial nas ro preenchimento por sulfetos maciços pode atingir
chas cálcico silicáticas. 10cm de largura.
O minério disseminado ocorre apenas nos pi Os sulfetos encontram se invariavelmente
roxenitos enquanto o minério em fraturas ocorre acompanhados de magnetita. Nas áreas de con
tanto nos piroxenitos e noritos quanto nas rochas centração de sulfetos tectono controlados o per
cálcico silicáticas encaixantes do corpo máfico ul centual de magnetita equipara se ao percentual
tramáfico. A mineralização tectono controlada tam de sulfetos e às vezes o supera. A Figura 21, ex
bém forma brechas, com clastos de ortopiroxenito traída de trabalho realizado por Maier & Barnes
envoltos por calcopirita (Fig. 18c) que mostram cla (1996) em piroxenitos mineralizados do Vale do
ra natureza epigenética. Curaçá, ilustra as proporções entre opacos e sili
Além de calcopirita e bornita, ocorrem outros catos e a relação magnetita versus sulfetos no mi
sulfetos associados ao minério, a exemplo de co nério.
velita, cubanita, digenita, pirita, pirrotita e pen Os resultados de estudos de química mineral
tlandita. No que diz respeito à pentlandita, esta realizados no âmbito desse trabalho mostraram
Figura 19 Mina Caraíba. A Fotomicrografia do minério disseminado. Sulfetos de cobre e magnetita nos inters
tícios da trama silicática. LR 100×. B Fotomicrografia do minério de cobre em fraturas no piroxenito. LR 100×.
89
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósitos de Cobre do Vale do Rio Curaçá, Bahia
Figura 20 Mina Caraíba. A Fotomicrografia do minério de cobre. Magnetita e calcopirita em fratura no piroxenito.
LR 100×. B Fotomicrografia do minério que mostra detalhe do intercrescimento magnetita calcopirita. LR 250×.
Figura 21 A Proporções modais de silicatos e de fases opacas (magnetita e sulfetos) em amostras representa
tivas de piroxenitos mineralizados do Vale do Curaçá. B Magnetita e sulfetos normalizados a 100%. Símbolos:
(C) Caraíba, (A) Angico, (Ts) Terra do Sal, (V) Vermelhos, (Su) Sussuarana, (Se) Sertãozinho. Fonte: Maier &
Barnes (1996).
se muito similares aos resultados obtidos por Maier do por saturação do magma toleítico em enxôfre,
& Barnes (1996). Tais dados apontam claramente com ocorrência posterior do fenômeno de imiscibi
para a existência de pelo menos duas gerações lidade de líquido. Na opinião da autora, o enxofre
de magnetitas, sendo uma geração de magneti proviria de rochas ricas em anidrita, presentes na
tas ricas em Ti, V, Cr e Al e outra geração de sequência metavulcano sedimentar encaixante
magnetitas desprovidas, ou quase totalmente dos corpos máfico ultramáficos. Tal hipótese não
desprovidas destes elementos. As relações tex explicaria a ausência de níquel no minério nem as
turais e o quimismo das magnetitas titano vana elevadas razões Se/S observadas.
díferas são sugestivas de uma origem primária, Medidas das razões isotópicas de enxofre dos
magmática. Já magnetita desprovida de Ti, V, Cr e sulfetos (calcopirita e bornita) da Mina Caraíba,
Al possui relações texturais sugestivas de origem Alvo R22 e Vermelhos, foram realizadas para o
tardia. A associação comum de magnetita com mi presente trabalho pelo Prof. Bernard Bühn, do
nério remobilizado acompanhado de abundante Laboratório de Geocronologia e Geologia Isotópica
flogopita, que preenche dutos estruturais, apon da Universidade de Brasília.
ta para uma origem hidrotermal. Os resultados (Fig. 22) mostram que os valo
res de δ34S (‰ VCDT) distribuem se de +1,98 a
DISCUSSÃO SOBRE A METALOGÊNESE DOS 2,34, com valor médio de 0,95. Estes valores têm
DEPÓSITOS um espectro mais amplo de distribuição que os
obtidos por Oliveira & Choudhuri (1993), situados
Lindenmayer (1982) propôs uma origem mag na faixa de 1,495 a +0,643. Observe se que os
mática para os sulfetos, os quais teriam se forma valores mais baixos, próximos de zero, estão re
90
João Batista Guimarães Teixeira et a/.
evento, hidrotermal, responsável pelo minério tec Figura 22 Valores de B14 S obtidos em sulfetos (cal
tono controlado, que é a mineralização economi copirita e bornita) do minério da Mina Caraíba, Alvo
R22 e Alvo Vermelhos.
camente importante. Os valores isotópicos do mi
nério intersticial apontam para uma origem pre
dominantemente magmática, mantélica, do S. No pelo magma e que o modelo de dessu lfu rização
minério tectono controlado os valores de o34S pa não exp licaria as elevadas razões Cu/N i do miné
recem indicar um S de origem igualmente mantéli rio, Maier & Barnes (1999) reavaliaram a hipótese
ca, ou reciclado de fonte mantélica com baixo fra genética anteriormente proposta. Na reformula
cionamento, com discreta participação de enxôfre ção da hipótese os autores citados propuseram
crustal, mais pesado, oriundo das rochas encai uma origem crustal para o minério de cobre do Vale
xantes regionais dos corpos máfico ultramáficos. do Curaçá. De acordo com esta proposta, os orto
De maneira geral, o minério da Mina Caraíba e piroxenitos representariam restitos da fusão par
dos demais alvos mineralizados a cobre do Vale cial de um protol ito diorítico que continha su lfetos
do Rio Curaçá, a exemplo de Surubim e Verme ricos em Cu e Se (e pobres em Ni), magnetita, fio
lhos, apresenta características incomuns quando gopita e apatita. Nesse modelo, os su lfetos teri
comparados a outros depósitos de cobre associa am sofrido fusão, porém devido à sua alta densi
dos a rochas máfico ultramáficas, como destacam dade teriam permanecido no restito. Os autores
Maier & Bames (1996, 1999): (i) as elevadas ra prosseguiram sugerindo que bornita e calcop irita
zões Cu/Ni (a presença de sulfetos de Ni é reduzi foram as fases principais cristal izadas a partirdes
da no minério), (ii) as altas razões Se/S, em média se líqu ido sulfetado, com posterior red istribuição
1200x10-6, mas de até 4500x10-6, enquanto a nas charneiras das dobras durante o último even
razão no manto superior é da ordem de 230 a 350 to de deformação da área.
x 10-6, (iii) o elevado percentual de magnetita as Embora Maier & Barnes (1999) descartem a ai
sociada aos sulfetos (vide Fig. 21), (iv) a presen ternativa de modelo hidrotermal para o minério de
ça, por vezes dominante, de flogopita nos ortopi Caraíba, ressalte se que Hutch inson (2004) e Chen
roxenitos, (v) concentrações anômalas de apatita (2008) considerem a possibilidade do depósito de
e zircão. Okiep, África do Su l, análogo aos do Vale do Cura
A maior parte destas características foi também çá, pertencer aos do tipo óxidos de ferro cobre
descrita nos depósitos de cobre de Koperberg, ou ro (OFCO). A natu reza tectono controlada de
distrito cuprífero de Okiep, África do Sul, motivo grande parte do minério de cobre do Curaçá, so
pelo qual os depósitos do Vale do Curaçá têm sido mada à abundante presença de flogop ita e mag
historicamente comparados a Okiep (Townend et netita, além de apatita e zircão, enriquecimento
a/. 1980, Oliveira & Tarney 1995). No caso do de em LREE, ausência de níquel, presença de ouro,
pósito de Okiep, Cawthom & Meyer (1993) e Boer dentre outras características, permite de fato que
etal. (1994), postu laram a existência de um miné se considere a possibilidade desse minério tratar
rio primário magmático, constituído por calcop irita se de uma associação Cu Fe Au do tipo OFCO.
e pirrotita, submetido a processos de oxidação e Em que pese o caráter especulativo dessa pro
dessulfurização face ao metamorfismo de alto grau, posta, há que se considerar que a associação fio
resu ltando na associação ca lcop irita, bornita, mag gopita + magnetita pode eventualmente resultar
netita pura. Para Maier & Barnes (1996), a gêne de processo metassomático ferro potássico. Res
se do minério de Caraíba poderia ser expl icada à salte se que a flogopita dos gl immeritos tem ida
luz dessa hipótese. de Ar Ar em tomo de 2Ga, ou seja, é crono corre
Cons iderando que as altas razões Se/S não lata ao magmatismo potássico que intrude tanto
decorrem necessariamente da perda de enxofre o embasamento quanto as intrusões máfico ultra
91
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósitos de Cobre do Vale do Rio Curaçá, Bahia
Figura 23 A Mapa dos valores anômalos de potássio. B Mapa dos parâmetros ternários R(F) G(Kd) B(Ud)
da região da Mina Caraíba. Datum WGS 84/Zona UTM 24S.
92
João Batista Guimarães Teixeira et al.
Tabela 1 Minério Sulfetado da mina subterrânea. Com base no conhecimento atual, os indícios
prospectivos mais importantes, em escala regio
nal, seriam (i) a presença de rochas básicas e ul
trabásicas, (ii) evidências indiretas de mineraliza
ção sulfetada, como ocorrências de minerais oxi
dados de cobre (malaquita e azurita), (iii) anoma
lias de cobre em amostras de sedimentos de cor
Tabela 2 Minério sulfetado do Alvo Surubim. rente e de solo, (iv) evidências indiretas da exis
tência do processo de mineralização detectadas
por levantamentos magnetométricos, gravimétri
cos e de polarização induzida (IP), (v) zonas de
cisalhamento em rochas básico ultrabásicas, e (vi)
zonas com presença significativa de micas potás
sicas.
Referências
Tabela 5 Minério oxidado do Alvo Surubim.
93
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósitos de Cobre do Vale do Rio Curaçá, Bahia
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95
CAPÍTULO V
DEPÓSITO DE Ni-Cu-Co-Au-EGP
DE FORTALEZA DE MINAS,
MINAS GERAIS
1
Departamento de Petrologia e Metalogenia, IGCE/UNESP-Rio Claro. E-mail: carvalho@rc.unesp.br
2
Votorantim Metais. E-mail: thomas.brenner@vmetais.com.br
Abstract The Fortaleza de Minas Ni-Cu-Co-Au-PGE deposit is located in the southwestern region of
the State of Minas Gerais, Brazil, about 350 km from Belo Horizonte. The deposit is hosted by komatiites
of the Mesoarchean (2.86 Ga) Morro do Ferro greenstone belt, which was affected by Paleoproterozoic
(2.2-1.9Ga) metamorphism and granitic intrusions, as well as Neoproterozoic (~600 Ma) deformation.
The greenstone belt is included within migmatites of the Barbacena Complex (3.3-2.7 Ga) and partially
covered by Neopretorozoic metassedimentary rocks. The deposit has a tabular shape and contains
three types of ore. The most important consists of massive and sisseminated volcanogenic ore, followed
by sulfide veins that comprises tectonically remobilized sulfides, and later hydrothemal sulfide veins.
The ore minerals comprise pyrrhotite, pentlandite, chalcopyrite, cobaltite-gersdorfite, PGE nd
magnetite. Reserves are estimated to be aroud 10.106 tons in the average with 2.5% Ni, 0.4% Cu,
500 ppm Co and 0.7 g/t Pt, Pd and Au.
99
Modelos de Depósitos Brasileiros de Ccbre Depósito de Nl Cu Cc Au EGP de Fortaleza de Minas, Minas Gerais
cujas características são de ambiente de lagos de colisão Brasiliana de direção E W entre os blocos
lavas. São Pau lo e Brasília ao longo da Sutura de Altero
sa (Fig. 1).
AMBIENTE TECTÔNICO O Complexo Barbacena (Hasui et a/. 1993), ou
Complexo Campos Gerais (Cavalcante et ai. 1979),
Ao sul da região de Fortaleza de Minas afloram ou, ainda, Embasamento Cristalino ou Pré Cam
rochas do Complexo Varginha (Cavalcante et a/. briano Indiviso é uma entidade heterogênea com
1979), do Neoproterozó ico (660 640 Ma), repre posta por três unidades litológicas distintas. Uma
sentadas por migmatitos, chamockitos, granulitos representa o arcabouço litológico geral (Fig.1) e é
e ortognaisses, submetidas a metamorfismo de formada por granitóides foliados, biotita e/ou an
altas temperaturas e elevadas pressões e que ca fibólio gnaisses bandados, laminados e facoidais,
racterizam o Cinturão Granulítico Alfenas (Almeida e migmatitos diversos com melanossoma gnáissi
et ai. 1979, Zanardo et ai. 1990, Hasui 1993, Dell co, anfibolítico e ultramamáficos. Embutidos tec
Lama et a/. 2000, Carvalho 1990, 1998). As rochas tonicamente nessas rochas ocorrem, regionalmen
supracrustais compreendem paragnaisses, quart te, os demais domínios. O mais antigo é repre
zitos, rochas cálciossilicáticas, formações ferrífe sentado por faixas estreitas e descontínuas de
ras, anfibolítos e metaultrabásitos diversos . Todo sequências metavulcanossedimentares (Fig. 2b),
o Complexo se estrutura com marcante foliação tais como as de Alpinópolis e de Fortaleza de Mi
SW de baixo ângulo, com lineação de estiramento nas (Carvalho et a/. 1992, Teixeira et ai. 1987, Bren
NW SE, associada ao Sistema Transcorrente Cam ner 2007). Com direção geral N45W, são constitu
po do Meio, de caráter sínístral e relacionado à ídas por derrames básicosjultrabáslcos com qui
....,
o
 200
'l<m'
....._ Principais rodovias
....- Limito de Estado
LEGENDA
Cenozólco.Carbonlfero
c::::::J
Cobertura sedimentar e sills de diabásio
da Bacia do Paraná
Neoproterozólco
c::!::d
Metassedimentos (Grupo Bambui) do Cinturao
Orogênico BrasQia
D
Metavulcanicas e metassedimentares
(grupo Araxá/Cenastra e equivalentes do
Cinturão Orogênico Brasllia
Proterozolco (meso?)
c::::::J
Chamochltosfenderbitos do Complexo
Varginha e supracrustais associados a
21'S terrenos de alto grau metamórfico do
Cinturao Granulftico Alfanas
AW~~j"o
""
i
oo
Granitos, Gnaises e Migmatitos do ooml)lexo
Barbacena e terrenos Granito Greenstone
associados
,:!; ' Zonas <le cisalhamento
~ dt:lctals-ruptels
~istama Transcorrenta
Paleo-Piaca ~ Campo do Melo
Sio Paulo ~ ®Depósito de Ni·C....Co-S-EGP
Mocflficado de Schobbenhaus el 81, (1981)
e Au de Fortaleza de Mínas
Agura 1 Esboço geológico regional do sudoeste do estado de Minas Gerais, onde está localizado o depósito
Fortaleza de Minas.
100
Seb-astl:lo Gomes de carvalho & Thomas Lafayette Brenner
(A)
/ Contato geológico
/ Zona de empurrão
/ Principais rodovias
o 10
km
(B)
+ + + + +
FORTALEZA
+ + DE MINAS + + +
+++~+++~~\
++
+ +'ii) +- ..;.
1" + +
+ + T T T
gn
o 4
km
® Depósito de Ni-Cu-Co
de Fortaleza de Minas
_..,.,... Falhas neoproterozólcas
------- Contatos geológicos
LEGENDA
101
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Ni Cu Co Au EGP de Fortaleza de Minas, Minas Gerais
deste, representam os terrenos granito greens 1990; Soares 1988; Wernick 1981; Morales et al.
tone do sudoeste de Minas Gerais. Possuem evi 1993). Dados geológicos, gravimétricos e magne
dências de terem sido submetidos a sucessivos tométricos sugerem que subducção de leste para
processos deformacionais e metamórficos no Pro oeste colocou um bloco crustal ao norte (Paleo
terozóico inferior e superior, respectivamente na Placa Brasília), hospedeiro dos terrenos granito
fácies anfibolito e xisto verde. greentone do sudoeste mineiro (Fig. 1) sob um de
O terceiro domínio, também representado por sul (Paleo Placa São Paulo), separados pela Su
faixas metavulcano sedimentares alongadas se tura de Alterosa (Haralyi & Hasui 1985, Hasui et al.
gundo EW, aflora na região das cidades de Jacui 1989). A colisão desenvolveu um sistema de ca
Bom Jesus da Penha (Fig. 2a). Apesar de pouco valgamentos, posteriormente afetado pelo Siste
estudadas, estas seqüências são constituídas por ma Transcorrente Campo do Meio, de condições
rochas metabásicas e metaultrabásicas com raros dúcteis até rúpteis da fácies anfibolito/zona da ci
níveis de metachert. Outras características, como anita, com local anatexia (Hasui et al. 1988, 1990,
as ocorrências antieconômicas de asbesto, cromi 1993; Carvalho 1990, Zanardo 1992, 1996; Fer
ta podiforme, aluviões auríferas exauridas e au nandes 2003, Feola 2004, Brenner 2007).
sência de komatiitos têm sido argumentos para
interpretá las como fragmentos de ofiolitos da base GEOLOGIA DO DEPÓSITO E SEU ENTORNO
dos grupos Araxá/Canastra.
Cavalgando os terrenos granito greenstone, a A integração de estudos geológicos com da
norte e a oeste, ocorre espesso pacote de me dos aerogeofísicos, geofísica de superfície e de son
tassedimentos (Fig. 2b) neoproterozóicos atribuí dagem mostra que as rochas do greenstone belt
dos aos Grupos Araxá/Canastra, que localmente Morro do Ferro e, em especial, as relacionadas com
compõem a nappe de Passos e interpretados como o ambiente mineralizado (Fig. 2b), localmente de
de deposição em margem continental. Seus litóti nominado como Segmento Guariroba Peróba, se
pos estão metamorfizados na fácies xisto verde a estruturam em sinformes no embasamento mig
anfibolito e compreendem filitos, sericita xistos, matítico gnaissico (Fig. 3). O depósito de Fortale
mica xistos granatíferos, xistos, quartzitos e gnais za de Minas ocorre no flanco de uma dessas es
ses. Próximo às cidades de Jacuí e Itaú de Minas truturas da porção sudoeste do greenstone belt
ocorrem metarenitos, metassiltitos, metacalcários, onde o mesmo consiste de uma sucessão de der
metafosforitos, formações ferríferas bandadas e rames subdivididos por Brenner et al. (1990) em
subordinados tremolita xistos e serpentinitos. O três unidades vulcânicas denominadas de inferior,
último conjunto tem sido interpretado como mis intermediária e superior (Figs. 3 e 4). Nestas uni
tura tectônica de superfície de cavalgamento me dades se reconhece as características típicas de
diante a qual as rochas dos Grupos Araxá/Canas greenstone belt, tais como ciclicidade de vulcanis
tra foram empurrados sobre os terrenos granito mo, natureza komatiítica, brecha de fluxos, lavas
greenstone, de oeste para leste. Regionalmente em almofadas e textura spinifex. Embora predo
(Fig.1) ocorrem ainda metapelitos e carbonatos minem derrames de basalto e de komatiito piro
neoproterozóicos do grupo Bambui, que cobrem xenítico, com raros basaltos toleiíticos, na porção
os terrenos granito greenstone a nordeste bem sudoeste ocorre espesso derrame de basalto ko
como rochas sedimentares paleozóico/mesozóicos matiítico com alto grau de diferenciação, compos
da Bacia do Paraná, a oeste. to por vários derrames fracionados com intercala
Os vários modelos geotectônicos propostos ções de formações ferríferas. O depósito hospe
para a área interpretam o Complexo Barbacena da se nos ortocumulados basais desse derrame,
como área arqueana retrabalhada no Neoarque os quais foram transformados em serpentinito e
ano, Paleoproterozóico e Neoproterozóico. Feições talco xisto (Fig. 4).
de deformação, transporte tectônico, segmenta Estudos mineralógicos, metamórficos e estru
ção e metamorfismo desenvolvidas por cavalga turais, complementados por dados litogeoquími
mento seguido de transcorrências e reativações cos realizados por Brenner et al. (2007), mostram
lá registradas também estão impressos na jazida que a porção basal daquele derrame é composta
de Fortaleza de Minas e nas unidades litológicas por olivina ortocumulada (serpentinito), seguida
posteriores (Ebert 1968, 1998; Hasui et al. 1988, de piroxênio cumulado (piroxenito) na porção in
102
~bastillo Gomes de GaNa lho & Thomas Lafayette Brenner
Segmento Guariroba.f'eroba
sw L u u
NE
~
+
12
20
Unidade superior- - f - - - - - - 1
16
MgO
Figura 4 Seção estratigráfica e esquemática das unidades vulcânicas do greenstone belt Morro do Ferro nos
arredores de Fortaleza de Minas, e suas relações com o deposito (modificado de Brenner et a/. 2007).
103
Modelos de Dep ósitos Brasileiros de Cobre Depósito de N/ Cu Co Au EGP de FofÚJ/eza de /11/nas, Minas Gerais
•. ::::: . ,.....................................................
.................................. ...
~
+
+
+ +
+++++++++ + J- + +
++++++++++ + + -+ -~--so_om_ _
D Corpo de minério Fortaleza de Minas D Derrames komatllticos fracionados
D
Derrames komatifticos não diferenciados
(principalmente basaltos e piroxenitos) EJ Gnaisse e mlgmatitos do complexo Barbacena
Figura 5 Distribuição dos derrames komatiíticos diferenciados férteis e indiferenciados estéreis na porção
sudoeste do segmento Guariroba Peroba do Greenstone Belt Morro do Ferro.
104
~bastlf!o Gomes de GaNa lho & Thomas Lafayette Brenner
MgO Fe+n
CaO Al20s AI Mg
o Komatlltos Guarlroba·Peroba
o Derrames fracionados Fortaleza de Minas
Agura 6 A Diagrama MgO CaO Alp3 que mostra a composição química de komatiitos pouco diferenciados
representativos do segmento Guariroba Peroba (quadrados), e das lavas fortemente fracionadas reconheci
das apenas na porção SW do segmento (circulo). 8 Diagrama de Jensen que discrimina o campo dos
basaltos komatiíticos (triângulos) dos piroxenitos cumulaticos (círculos) e olivina cumulados (quadrado)
gerados a partir do fracionamento dos derrames komatiícos da porção SW do segmento.
Tabela 1 Modificações metamórficas provocadas pelas orogêneses Paleoproteroz6ica a Brasíliana nas rochas
do greenstone belt Morro do Ferro.
Neoarqueano Transamazônico ao btasiliano
S.etpentina"
ss olivina.< serpentioito :11 talco
ortocum.uladas Ant(50-~)-mgt(I0-15%)-<.-rb- :11 actlt!'lllJlolita
tl<Xhl- olivinas ~
~ clorita
~
:.1 sctpentina
105
Modelos de Depósitos Brasileiros de Ccbre Depósito de N/ Cu Cc Au EGP de Fortaleza de Minas, Minas Gerais
ao.----------------.
A B
8000
Cb
c o
o o
21100
o~
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o o
o o i5'
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1000 6<Po cJ;I
A Gabro o
o
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111
o Piroxênio-cumulado :1.
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• Olivina-cumulado
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• 10
2
o o
o 10 20 ao 40 o 10 20 ao 40
MgOwt% MgOwt%
Figura 7 Diagramas de correlações negativas de Si02 e Atp3 com MgO e positivas de Ni e Fe0/Ti02 indica ti
vos de fracionamento dos magmas originais dos derrames da porção sudoeste do segmento Guariroba
Peroba, greenstone belt Morro do Ferro.
sitiva entre Ni e Fe0/Ti02 , versus MgO (Rgs . 7c e olivina ortocumulada, piroxên io cumulados e ga
7d) discriminam essas tendências . Estimativas bro, como o de Fortaleza de Minas. As Rgs. 8A e B
sobre a composição méd ia de MgO desses derra mostram a semelhança de comportamento dos
mes fracionados permitem inferir que o magma principais elementos químicos descriminantes de
original continha entre 18 e 23 % de MgO (Bren fracionamento dos derrames de Fortaleza de Mi
ner et a/. 200 7), o que corresponde a komattítos e nas e de Fred · s Flow de Mun ro TownshTp, Cana
basaltos komatiíticos (Figs. 6 e 7) dá, considerado como lago de lavas.
Estudos de Brenner et ai. (200 7) sobre o alto
grau de fracionamento dos derrames no ambien DESCRIÇÃO DO DEPÓSITO
te mineralizado, caracterizado por altas razões Cr/
Ni, Cr/ Mg e S/Se, ausência de empobrecimento de Após a sua formação, o depósito Fortaleza de
níquel nas encaixantes do depósito, contam ina Minas foi afetado por sucessivos eventos tectôni
ção crustal evidenciada pelo enriquecimento em cos desde o Paleoproterozóico até o Brasiliano e
Terras Raras Leves, ausência de texturas spinifex sua forma atual se ajusta a uma zona de cisalha
nas proximidades do corpo de minério e a faciolo mento t ranscorrente dúctil rúptil sinistra ! N45W,
gia dos derrames demonstram que o resfriamen sub vertical, pertencente ao sistema principal de
to e a diferenciação do magma contrasta com os transcorrência Campo do Meio, de idade Brasília
ambientes descritos na literatura como portado na . Associadas ao sistema principal ocor rem fa
res de depósitos correlatos. Ambientes de vu lca lhas t ranscorrentes secundárias WNW ESSE, NW
nismo komatiít ico com alto grau de fracionamen SE e NE SW, de mergulhos subverticais e que cor
to, até então pouco considerados do ponto de vista respondem às orientações P, R, Y e R' do modelo
metalogenético, têm sido descritos como origina de Riedel (Fig. 9), principais responsáveis pela len
dos em lagos de lavas (Hill et a/. 1995) . Nesse t icu larização do corpo de minério. Em harmonia
ambiente, o fracionamento das lavas resulta em com a orientação da zona de cisalhamento princi
106
~bsstll!o Gomes de GaN a lho & Thomas Lafayette Brenner
A 8
Brecl1a de lopo Brectoa de 10po? o
Splnífvx
SlO,
Gabro
Gabro
Fo,O,
120
.___~1~
0 ----~
20~--~~
~~~--~
~--
% em peso
Figura 8 Diagramas que mostram a semelhança entre (A) os tipos litológicos e respectivas assinaturas
geoquímicas resultantes de fracionamento de komatiitos de Munro Township Freed's Flow e (8) de Fortaleza
de Minas.
{A )
Encalxantes
SOm
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l':lw
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o
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c i= O
NNW p
NW Y..D
WNW R
E-W T
NE R'
NNE X
Figura 9 A Mapa geológico simplificado do depósito Fortaleza de Minas que mostra o corpo de minério e a
distribuição das dasses de minério. 8 Detalhe da área mais rica do depósito interpretada como de lago de
lavas. C Esquema que mostra que o corpo de minério foi afetado por deformações progressivas segundo
o modelo Riedel no Brasiliano. Modelo Riedel com indicação dos eixos x e z, na elipse de deformação. NW SE
Cisa/hamento simples (sinistra/). P, Y, R Zonas de cisalhamento sinistra/. R' Zona de cisa/hamento
dextral. T Fraturas de tensão. X Descontinuidades.
107
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Ni Cu Co Au EGP de Fortaleza de Minas, Minas Gerais
pal e os sistemas secundários, o depósito é contí de deformação cisalhante que favoreceram a sua
nuo por mais de 1,5 Km, com espessura média de cominuição (Fig. 10b). A estrutura de brecha, con
5 m, profundidades superiores a 500 m e se situa siderada inicialmente como de origem tectônica,
na base de espesso derrame komatiítico (Figs. 3, pode, em parte, derivar da erosão termo mecâni
5 e 9). ca que ocorre quando o derrame flui sobre as ro
O depósito contém três classes principais de chas do substrato (Lesher & Campebell 1993, Lam
minério, designadas como de minério vulcanogê bert et al. 1998). O minério também pode conter
nico, minério tectonicamente remobilizado e miné estruturas tectônicas tais como faixas de cisalha
rio hidrotermal. Com base em critérios genéticos, mento dúctil marcadas por estreitas zonas de com
estratigráficos, composição mineral do minério e posição mineral distintas, ou por diferenciação no
da ganga, quantidade de sulfetos, teor, texturas grau de moagem, estiramento de silicatos, sulfe
e quimismo, cada classe, exceto a de minério hi tos e clastos, catáclase marcada por leitos de pen
drotermal, ainda pouco estudado, comporta tipos tlandita mais ou menos contínuas na matriz sulfe
e/ou subtipos de minérios (Brenner 2007). Na clas tada composta predominantemente por pirrotita,
se dos minérios vulcanogênicos (Fig. 10) ocorrem ou foliação milonítica dada por finos leitos de pen
os tipos maciço brechóide (BR), matriz (MX) e dis tlandita, sombras de pressão e filmes de silicatos
seminado (DS). Na classe dos minérios remobili (Fig. 10c).
zados (Fig. 11) ocorrem os tipos cisalhado em ro Este tipo de minério consiste de sulfetos, óxi
chas ultramáficas (SU) e cisalhado em formação do e silicatos (Tabela 2). Os sulfetos representam
ferrífera (SC). cerca de 60% (em peso) da composição total e,
quando recalculados para 100%, revelam 65% de
CLASSE DOS MINÉRIOS VULCANOGÊNICOS: pirrotita, 25 a 30% de pentlandita e 5 a 10% de
ASPECTOS TIPOLÓGICOS, MINERALÓGICOS E calcopirita (Tabela 3). Os silicatos representam 24%
QUÍMICOS da composição total, sendo a tremolita o mineral
mais freqüente (10%). A fase óxido representa
Apesar das condições tectono metamórficas 12% e é composta por magnetita. Embora ocorra
transformaram o depósito e suas encaixantes, os ampla variação de teores dos elementos que o
três tipos de minérios da classe dos vulcanogêni compõem (Fig. 12), os teores médios são de 4,14%
cos possuem características típicas de formação de Ni, 0,56% de Cu, 870 ppm de Co, 16% de S,
simultânea com o resfriamento e a cristalização 0,42 g/t de PT, 0,69 g/t de Pd e 0,14 g/t de Au
fracionada da lava komatiítica hospedeira. Do pon (Tabela 4).
to de vista genético, a fonte de metais dessa clas Minério de matriz (MX). Ocorre acima e em
se de minério, bem como o tempo de sua concen contacto com o minério brechóide e abaixo do dis
tração, relativamente às suas hospedeiras, inse seminado e tem poucas variações tipológicas (Figs.
re se em um contexto singenético/familiar nos 10E a G). Sua principal característica é a textura
moldes do clássico modelo das “bolas de bilhar”, na qual a paragênese sulfetada, dominante, en
proposto por Naldrett (1973, 1981A e B), Naldrett volve as demais fases minerais e, em especial, a
& Campbell (1982) e Naldrett (2005). serpentina pseudomorfa de olivina e magnetita,
Minério maciço brechóide (BR) - Ocupa a por que ainda preservam formas originais arredonda
ção basal do corpo e está sobreposto a uma ca das (Figs. 10E e F). Comumente ocorre na base
mada de BIF (Fig. 4). Seu nome deriva da abun de derrames fortemente diferenciados, indicativa
dância de clastos de formação ferrífera, serpenti de origem magmática com textura cumulu. Essa
nito, talco xisto e, por vezes, piroxenito e gabro tipologia é comum em outras seqüências greesns
suportados por matriz sulfetada. Não raro, frag tone mineralizadas mundiais, em particular na Aus
mentos de minério de matriz e disseminado tam trália (Lescher & Keays 2002, Naldrett 2005), onde
bém ocorrem neste tipo. As principais variedades é descrita como minérios com textura em rede. Em
de minérios desse tipo estão ilustradas na Fig. 10. Fortaleza de Minas, esse tipo, apesar de preser
Os fragmentos, em geral orientados, são milimé var a textura original, pode estar recristalizado,
tricos a decimétricos e, por vezes, métricos (Fig. cataclástico (Fig. 10G), mas é menos deformado
10a). A variação das dimensões dos fragmentos é do que o tipo BR, mais dúctil, e do que o dissemi
controlada principalmente por zonas de maior taxa nado DS, mais rúptil. A paragênese sulfetada re
108
Sebastião Gomes de Carvalho & Thomas Lafayette Brenner
Figura 10 Classe de minérios vulcanogênicos (primários). A Minério maciço brechóide (BR) com fragmen
tos de serpentinito, termolita xisto e formação ferrífera envolvidos por sulfeto maciço. B Minério maciço
brechóide com fragmento decimétricos de BIF e de outros menores envolvidos por matriz sulfetada. Obser
var que fragmento de BIF já continha foliação, dobras e fraturas antes de ser englobado por sulfetos. C
Minério brechóide cisalhado, com finos leitos de pentlandita recristalizada e sombras de pressão na foliação
milonítica. D Pentlandita (Pn) e pirrotita (Po) no minério BR (440x). E Minério de matriz (MX) com massa
de sulfetos que circunda antigorita pseudomorfa sobre olivina. F Minério de matriz com faixa centimétrica
de cisalhamento dada por granulação mais fina, próximo ao contato com Minério Brechóide. G Minério de
matriz fina por cisalhamento. H Textura típica do minério de matriz, com sulfetos (Po, Pn e Cp) em volta de
cristais reliquiares de olivina transformados em serpentina e termolita (300x). I Minério disseminado (DS)
composto impregnação por sulfetos do protólito de serpentinito (pontos claros), mais rúptil do que os demais
tipos, com comum presença de fraturas com crisotilo. J Variedade do minério disseminado dada por concen
trações arredondadas (manchadas) de sulfetos. K Minério disseminado fraturado e cisalhado com inicio de
remobilização de sulfetos para as fraturas. L Arranjo típico do minério DS, com sulfetos e serpentinito
intercrescidos (200x).
presenta cerca de 50% (em peso) da composição mais abundante (Tabela 2). Os teores médios dos
mineral do minério, seguida de cerca de 35% de elementos do minério, embora variáveis (Fig. 12),
silicatos e 10 a 15% de óxidos (Tabela 3). Como são de 3.4% de Ni, 0,63% de Cu, 724 ppm de Co,
no tipo BR, contém 65% de pirrotita, 25 a 30% de 13,2% S; 0,53 g/t de PT, 0,74 g/t de Pd e 0,14 g/
pentlandita e 5 a 10% de calcopirita, com 10 a ton de Au (Tabela 4).
15% de magnetita e 27% de antigorita, o silicato Minério disseminado “DS”. Ocorre no topo do
109
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Ni Cu Co Au EGP de Fortaleza de Minas, Minas Gerais
Tabela 2 Composição mineralógica modal (% em peso) dos principais tipos de minério do depósito de
Fortaleza de Minas (MG).
Tabela 3 Percentagem em peso, recalculadas para 100%, das principais fases de sulfetos dos minérios do
depósito de Fortaleza de Minas.
Tabela 4 Média dos teores nas três classes de minérios do depósito de Fortaleza de Minas.
corpo de minério e se caracteriza por dissemina óxido dominante (15%) e os sulfetos não atingem
ções de sulfetos, em média 20% do total da ro 20% (Tabela 2). A paragênese sulfetada, recalcu
cha, em matriz de serpentinito e segundo algu lada para 100%, consiste de 65% de pirrotita, 30%
mas variedades tipológicas (Figs. 10I, J e K). A fase de pentlandita e 5% de calcopirita, proporções es
silicatada atinge até 65%, da qual a antigorita tas semelhantes as dos tipos BR e MX (Tabela 3).
(46%) é o mineral mais abundante. Magnetita é o Seus teores médios (Fig. 12 e Tabela 4) são de
110
Sebastião Gomes de Carvalho & Thomas Lafayette Brenner
0,95% de Ni, 0,25% de Cu, 260 ppm de Co, 2,70% representados por actnolita (55%) e grunerita
de S, 0,13 g/t de PT, 0,24 g/t de Pd e 0,08 g/ton (5%) (Tabela 2). Os sulfetos representam 30% em
de Au. Como nos demais tipos, está recristalizado peso e, quando recalculados para 100%, contêm
e com evidências de comportamento rúptil, exten 65% de pirrotita, 25% de pentlandita e 10% de
sivo ao serpentinito hospedeiro. calcopirita (Tabela 3). Magnetita ocorre em menos
de 5%. Os teores médios são de 1% de Ni, 0,35%
CLASSE DOS MINÉRIOS REMOBILIZADOS: de Cu, 239 ppm de Co, 4.4% de S, 0,11 g/t de PT,
ASPECTOS TIPOLÓGICOS, MINERALÓGICOS E 0,20 g/t de Pd e 0,08 g/t de Au (Tabela 4).
QUÍMICOS
CLASSE DOS MINÉRIOS HIDROTERMAIS:
Esta classe está representada por minérios ci ASPECTOS TIPOLÓGICOS, MINERALÓGICOS E
salhados hospedados em talco xisto e serpentini QUÍMICOS
to da capa (SU), e em formações ferríferas (SC)
(Fig 11). Suas relações com a tectônica local su O minério maciço hidrotermal “MH” (Fig.13) é
gerem que os tipos desta classe se formaram du volumetricamente pouco expressivo e de ocorrên
rante o início da Orogênese Brasiliana, responsá cia restrita à área sul da jazida. É controlado por
vel pela remobilização dos minérios BR, MX e DS sistema tardio de fissuras, vênulas, fraturas hori
para suas encaixantes proximais. São, portanto, zontais a verticais, e pequenas falhas verticais a
de origem epigenética a partir dos minérios vulca inclinadas de direções preferenciais NS e NE SW.
nogênicos primários. Esse conjunto é obliquo à maior extensão da jazi
Minério cisalhado em rochas ultramáficas da (Fig.9) e resulta de controle pela zona de cisa
“SU” - (Figs. 11A e B). Representa uma variedade lhamento Campo do Meio, principal responsável
do minério DS e está hospedado em zonas de ci pela arquitetura atual dos minérios vulcanogêni
salhamento que ocorrem na capa de serpentini cos remobilizados tectonicamente.
tos e talco xistos. Os sulfetos ocorrem em fratu Os principais corpos de minério são bolsões de
ras R e P do modelo de Riedel, que, com freqüên espessura desde poucos centímetros até uma de
cia, se interconectam. É composto por ganga de zena de metros, aparentemente persistindo como
silicatos (>65%) representados por talco (38%) e estruturas pull apart em profundidade. Estão hos
clorita (11%) (Tabela 2). A fase sulfetada é com pedados em serpentinitos, mais raramente em tal
posta por pirrotita, pentlandita e calcopirita, que co xistos, da capa do depósito, e mantêm contato
ocorrem em proporções de 65%%, 25% e 10%, com o tipo BR na sua lapa, considerado como sua
respectivamente, quando recalculada para 100%. principal fonte de origem. Possuem características
Magnetita ocorre em proporções superiores a 10% que os diferenciam das demais tipologias tais como
(Tabela 3). Embora variável (Fig.12), teores típi sua posição espacial, presença de texturas hidro
cos deste minério são de 1.23% de Ni, 0,22% de termais no minério e nas encaixantes proximais,
Cu, 308 ppm de Co, 5,1% de S, 0,23 g/t de PT, teores, quimismo e paragênese mineral. A ausên
0,32 g/t de Pd e 0,09 g/t de Au (Tabela 4). cia de deformação indica que são tardios ao Ciclo
Minério cisalhado em formação ferrífera “SC” Brasiliano e sua gênese vinculada a soluções hi
(Figs. 11C, D e E). Este tipo de minério ocorre drotermais os relaciona com os estágios finais de
logo abaixo do, e em contato com o minério maci metamorfismo do ciclo. As soluções foram ricas em
ço brechóide, e na porção superior do horizonte elementos químicos e complexos solúveis, como
de formação ferrífera estéril da lapa do depósito CO3 -2 SiO2, Mg, Ca, Fe, Ni, Cu, Co e PGE, remobiliza
(Fig. 4). É composto por massas de sulfetos remo dos dos minérios vulcanogênicos e remobilizados
bilizadas a partir do minério brechóide em condi tectonicamente para sistemas de fraturas aloja
ções fluidas a subsólidas e depositadas em fratu das em serpentinito e talco xisto e também afeta
ras P, X, R e T do modelo Riedel em zonas de trans ram os minérios anteriores.
tensão (Santos 1996), bem como em foliações da As mudanças causadas pelas soluções hidro
formação ferrífera. Seu caráter remobilizado é evi termais nos serpentinitos mineralizados da capa
denciado pela presença de fragmentos de minéri (DS e SU) são evidenciadas por brechação, diges
os primários nas massas sulfetadas. A ganga do tão e substituição em diferentes graus de intensi
minério é composta por cerca de 70% de silicatos, dade. As fases minerais hidrotermais estão dis
111
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Ni Cu Co Au EGP de Fortaleza de Minas, Minas Gerais
Figura 12 Diagrama de variação dos teores e da correlação entre os elementos Ni, Co, Cu e EGP das
diferentes classes de minérios do depósito e das tipologias de cada classe em A, B, C e D. Observam se,
respectivamente, os limites inferiores e superiores dos teores de Ni Cu; Ni Co; Ni Pt e Ni Pd, bem como as
correlações entre esses elementos em cada tipo de minério. A linha vertical pontilhada delimita o campo dos
minérios de alto e baixo teores. O minério maciço hidrotermal (MH), pelo seu baixo volume não está repre
sentado.
112
Sebastião Gomes de Carvalho & Thomas Lafayette Brenner
113
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Ni Cu Co Au EGP de Fortaleza de Minas, Minas Gerais
114
~bastJ:Io Gomes de caNa lho & Thomas Lafayette Brenner
c::g]Area de ocorrência conjunta de mlnerios BR,MX e OS 1a 1 Área com predomina nela do minério upo se
I R I Área de ocorrência conjunta do minério tipo BR e MX O Área com predominância do minério tipo SU
~ Unhas de lsoteor de Nlquel delimitando areas do corpo de mlnerlo I c:=PI Mina a céu aberto
~com teores iguais ou superiores a 4%
~ Unha de lsoteor de Nlquel delimitando areas do corpo de mlnerlo
~com teor igual ou maior que 3% e menor que 4% _..;
~ Unha de isoteor de Nfquel delimitando areas do COfPO de minerio Falha
~ com teor Igual ou maior que 2% e menor que 3%
Figura 14 Seção vertical e longitudinal abrangendo o depósito Fortaleza de Minas em toda a sua extensão.
Incorpora todas as informações geológicas disponíveis incluindo aquelas obtidas em mais de 300 furos de
sondagens profundas.
115
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Ni Cu Co Au EGP de Fortaleza de Minas, Minas Gerais
Tabela 6 Média dos teores dos principais tipos de tica é provável reflexo da evolução geológica poli
minérios do depósito de Fortaleza de Minas nos do
cíclica da área.
mínios de canal e remobilização.
116
~b-astillo Gomes de GaN a lho & Thomas Lafayetr:e Brenner
que configuram amplas anomalias geoquímicas de permitiu o reconhecimento de três zonas distin
primeira ordem, indicativas da presença da mine tas que, da superfície em profundidade, compre
ralização (Fig. 19). O detalhamento do gossan endem a de gossan maciço (ZGM), de gossan ban
35
%NI l1
30
25
MIN
~mes baséltlcos
OUROS 5 10 2
GABROS
%Cu
0.2
' sistentes à alteração (Fig. 20M).
Zona do gossan bandado "ZGB" Com 5 a 6
m de espessura, se caracteriza pela alternância
0.1
de leitos ora mais ora menos escuros, decorreo
0.0 .....__..__ _.__ _.__ _....._ __....__.____,
tes da dissolução, deposição e redeposição de óxi
0.0 0 .1 0.2
0 .3 0 .4 0.5 0.6 0.7 hidróxidos de ferro, controladas por fraturas, fis
Cu/(Cu+NI) suras, falhas e pela foliação milonítica que canali
Classe dos minérios vulcanogênlos Classe dos minérios remolbllizados
O Minério cUssemlnado (OS) t:,. Minério remoblllzado (SU) zaram as soluções superficiais em profundidade
o Minério de matriz {MX} <>
Minério remobilizado {SC} (Fig. 20N). Como as demais zonas, é constitufda
+
Minério Brechóicle (BR} O Teor médio considerando
por massa de goethita, mas das quais difere pela
lodos os tipos
presença microscópica de pirrotita e pentlandita
Agura 16 Relação dos teores de Cuj(Cu+ Ni) e Pt/ primárias e de víolarita e pirita secundárias, bem
(Pt+Pd) nas diferentes tipos de minério de Fortaleza como de magnetita e restos de talco, por vezes
de Minas. O campo circular marca o domínio de depó
sitos de Ni em komatiítos e a elipse o domínio dos mesoscópico, e localmente serpentina e anfibólio
depósitos associados a gabros. (Fig. 20) .
117
Modelos de Depósitos Brasileiros de Ccbre Depósito de N/ Cu Cc Au EGP de Fortaleza de Minas, Minas Gerais
PROFUNDIDADES~ DAS
ZONAS DE ZONAS DE ALTERA ES
Eb pH KAM AG MK FM
(M) (M-D) (M-D)
o o -8.5 (T)
-0.1 6
-0.2 5 15-50 35. 125 60 22
-0.3 6
15- 180 125-325 80 NO
-0.4
Figura 17 Esquema das zonas de alteração supergêna indicadas por diferentes assembléias minerais de
três perfis sobre depósitos de Ní Cu em komatiítos da Austrálía, similares às de Fortaleza de Minas (Modifi
cado de Marston et a/. 1981 e Nickel et a/. 1977). (KAM) Kambalda, (AG) Agnew, (MK) MT.Keith e (FM)
Fortaleza de Minas: (M) minério maciço, (D) disseminado, (T) todas tipologias de minérios (BR,MX, OS, SC,SU
e MH). (NO) não observado no depósito.
Tabela 8 Parâmetros estatísticos da zona oxidada do depósito de Fortaleza de Minas calculados a partir de
412 análises.
Zona do gossan com sulfato, carbonato e PGE da zona oxidada (Fig. 19).
pirita "ZGSCP"- Presente em toda extensão da Zona de transição - Seu contato com as zona
jazida entre 16 e 22m de profundidade. Situa se imediatamente superior é irregular e transicional
na zona de saturação (lençol freático) ou dos sul e possui cerca de 100 m de espessura (Rg. 21).
fetos supérgenos e marca a passagem da zona Carvalho & Brenner (2001) a subdividem em duas
oxidada para a de transição (Rg. 20J) e contém zonas distintas, designadas de violarltajbravoita
uma variedade de minerais representados por pir "ZTVB" e de transição com violarita "ZTV".
rotita, pentlandita e pirita em transformação para Zona de transição Violarita/ Bravoita
sulfato (melanterita), bem como siderita, aragoni "ZTVB" - É a porção superior da zona de transi
ta e malaquita fibro radiada (Rg.20). Além des ção e sua designação deriva de que cerca de 30%
ses, é comum a presença de pirita niquelífera que, do volume de pentlandita está alterada para vio
por vezes, ocorre em concentrações maciças (Rg. larita/bravoita. Pode atingir até 30 m de espessu
20K). Esta zona é a mais rica em Cu, Ni, Co, Au e ra, seu limite inferior é irregular e reflete diferen
118
~bastillo Gomes de carvalho & Thomas Lafayette Brenner
Tabela 9 Sumário da composição e principais transformações mineralógicas das diferentes zonas de altera
ção da jazida de Fortaleza de Minas.
M inério Zona de Zona do Carb onato/ Zon a do Gossan Zona do Solo
Pri mário Transiçlio Ssulfato/Pinta (ZCCSP) Bandado (ZCB) e rico em Cossan
Maciço (ZGM) (ZSG)
Pírrotita (Po) Po · Bv· Me- Po·, Bv·, Go, Py+ Me- Po·, py·.• ao• Go
Pentlandita (Pn) Pn ·sv· lan- Pn , Bv · Go, lau- rn·· Py ,Go Go
.; terita siG·yy+ terita
Q,
'ü
Calcopirita (Cp) ep•. cv· cp• ,cv· , Cpf Cp· , Go ao•
·c" Magnetita (Mt) Mf" .H.m· Mf".He, Go· Mr.Hm' ,Go' Mt .Go+
0..
.'!l
Clorita(CI) CI cr ct· -
E Carbonato (Cal) Cal , Doi , Mag , Vi v Mqt ,Ara, Sid - Go
"' Talco (Tal) Tal Tal Tal Tal
~ Serpentina (Serp) Serp• , Tal Serp· ,Tal Serp" Serp
Anfibólios Anf', Tal', Serp• Anf Anf Anf
Quartzo (Qzo) Qz· Qz· Qz•
·-...
·~
Cr-Magnetita CrMT
Sph•
Cmt , Mr, ao·
Sph· . ao•
Mf, Onr • ao·
ao•
Mt ,Cmr. ao
Esfalerita (Sph) ao
"'"'
~ Q
... Co-aersdorffita Cg cg· Cb, ao· ao• ao
< lhnenita(lhn) IIm IIm , hem·, Go· IIm .Go IIm , Go
Ntcolita (Nic) Bv Go Go Go
Maucherita (Mau) Mau - - -
Ouro (Au) Au Au Au Au
- .
Orneita(Ome,) Orne Orne Orne
. Orne
Convençocs Po - a ptrrohta e domtnaote; Po - - a p1rro hta e subordrnada; Bv - brav01talv10lnnta: Stg - stgentta; Mqt -
malaquilll; Cv = covelita; Cpt = cnprita!calcot riquita; Ao f = actinolila, tremolita, grn nerita; Go = goetbita; Ara= ar agonita;
Serp : Jizardita, crisotila, antigorita: Meia : melaateritas e vivianitas; Sid = sider ita; Cl = chamositn, dinocloro, • : •ãn foi
observado; Hm : hmatlta; Carb = magnesitas, cal citas. dolomltos. slderltas. aragonltas: VI V: vivianltll: Mqt = malaquha;
CrMT =cromo nugoetita; Cg =gersdorf
1010 L
1005 L
1000 L
995 L
990 L
_ _ 1250N
Figura 18 Modelo tridimensional que ilustra o comportamento espacial da zona oxidada (gossan) e o topo da
zona de transição da jazida de Fortaleza de Minas. 101 O L refere se a cota altimétrica; 250 N refere se a
transversal georreferenciada em relação ao norte da jazida. No detalhe pode se observar a configuração de
blocos utilizados para explotação do minério.
119
Modelos <k Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de N/ Cu Co Au EGP de Fo rtaleza de Minas, Minas Gerais
- Sololateri!ico poooollansportadolalltodDM
~ Nivel de cascalho conslituido por
I
QlSlLJ fragmentos de Gossan
f -.;j Solo residual amarelo/avermelhado
Agura 19 Modelo proposto para a zona oxidação do depósito Fortaleza de Minas, com indicação da variação
vertical e lateral dos teores de Ni Cu PGM. Observar que a zona de oxidação é mais profunda sobre o minério
de tipo BR, onde a oxidação foi mais efetiva, e menos efetiva sobre o tipo MX. Os tipos Se e OS praticamente
não formam gossan.
120
Sebastião Gomes de Carvalho & Thomas Lafayette Brenner
Figura 20 Diferentes tipos de alteração supérgena do minério de Fortaleza de Minas. A Minério BR inalte
rado no limite ZI/ZMI. B Principais minerais primários (Po, Pn e Cp) do minério. C Alteração inicial da
pentlandita para violarita com formação de textura em blocos. D Amostra de minério BR próximo ao
contato ZTV/ZTVB. E Contraste da alteração entre o fragmento de BIF inalterado e envolvido por minério BR
em avançado estágio de alteração. F Inicio da alteração da pentlandita para violarita e formação de oxi
hidroxidos de ferro. G Aspecto do minério BR na ZTVB intensamente alterado. H Minério MX alterado para
violarita na ZTVB em contato com minério BR gossanico. I Descontinuidades da volarita/bravoita oriundas
de pentlandita e pirrotita e início da alteração para oxi hidróxido de ferro. J Malaquita com textura radial em
fraturas do minério BR. K Formação de pirita maciça na ZGSCP. L Formação de pirita a partir de oxi
hidróxido de ferro na ZOX. M Aparência do minério BR na ZGM. N Minério BR transformado em gossan
bandado (ZGB) ao longo da foliação milonitica. O Minério BR na ZGM com transformação da pirita em oxi
hidróxido de ferro. Z/P = ZMI Zona do minério inalterado. ZT Zona de transição; ZTV Zona de transição
com violarita; ZTVB Topo da zona de transição com mais de 20% de violarita/bravoita; Pn Pentlandita; Po
Pirrotita; Cp Calcopirita; Vio Violarita; Bv Bravoita; ZGSCP Zona do gossan com sulfeto, carbonato e
pirita; ZOX Zona oxidada; ZGM Zona do gossan maciço; ZGB Zona do gossan bandado.
al. 2009) para a formação e segregação da as dos magmas, da distância percorrida pelo derra
sembléia de minerais calcófilos nos derrames, atu me e da paleotopografia no entorno dos centros
almente o modelo este o mais aceito para explicar eruptivos. Os autores supra mencionados classifi
a gênese de depósitos em komatiitos. cam os depósitos de sulfetos deste ambiente em
As diferentes fácies dos derrames são função, cinco tipos e nove subtipos (Tabela 10), dentre os
dentre outros aspectos, do volume e composição quais, para Fortaleza de Minas, se destacam os
121
Modelos de Depósitos Brasileiros de Ccbre Depósito de N/ Cu Cc Au EGP de Fortaleza de Minas, Minas Gerais
1250N 1300 1350 1400 1450 1500 1550 1600 1650 1700 1750 1800 1850 1900 1950 2000 2050 2100 2150 2200N
~------------------------------------------------------------------------------_.
LEGENDA Limites da cava
SOOL
1100L 1250N 1400N a céu aberto
1-1--+---+--- 11 Transversais
geomeferenciadas
- - - - - Contato
950L
122
~bastl~o Gomes de GaNa lho & Thomas Lafayette Brenner
10 ·100 lun
Chaminé central
(e.g., Shangani)
Derrames canalizados distais
(e.g., Donaldson. Dundonald)
A Fácies de derrames em
lóbulo distai
(e.g., Barbeton)
~ Sentido do
~fluxo de lava
olivina ortocumulado
Fragmentos do
Substrato fundido
Escala vertical exagerada
123
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Ni Cu Co Au EGP de Fortaleza de Minas, Minas Gerais
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125
,
CAPITULO VI
DEPÓSITO DE COBRE DE CABAÇAL,
MATO GROSSO
Abstract The Cabaçal Deposit is located in the southwestern region of the Mato Grosso state,
Brazil, into the Amazonian Craton domains. The discovery of the deposit comes from the result of
intensive exploration program developed by Mineração Santa Marta - BP International. The mine
was operated between 1987 and 1991 and 869,279 tons of ore rich in Au and Cu have been extracted.
The region where the mine is located is represented by belts of volcanic-sedimentary rocks separated
by granite-gneissic blocks. The sulfide-gold deposit is hosted by the Manuel Leme formation, part of
the Alto Jauru Group, Cabaçal Belt. The Manuel Leme Formation was dated by U-Pb method on
zircon, the results yield a concordant age of 1853 ± 15 Ma. Due to the high degree of rock deformation
and a penetrative foliation, a clear definition of the local stratigraphic sequence was only set during
the drilling program and mine operation. This sequence consists of a volcanic-chemical unit, a
chlorite rich zone and a volcanic-volcaniclastic unit. The Cabaçal anomalous sulfide concentrations
occur in the transition from the felsic volcanic to the tuffaceous sedimentary unit. However, there
are other zones of anomalous metal concentrations that do not follow this control. Three phases of
deformation affected the Cabaçal mine rocks and caused local sulfides remobilization and gold and
silver enrichment. The mineralized zone of Cabaçal has at least three well-defined limits. A NE fault
defines the southern border, while the northeastern limit is given by a gabbro sill, and the transition
between a weathering rock and mineralized rock and a weakly altered rock marks the southwestern
boundary. The northern boundary is not well defined, being marked by a NE fault system. Three
mineralized zones were defined and coincide with hydrothermal centers called South Copper Zone
(SCZ), Central Copper Zone (CCZ) and East Copper Zone (ECZ). The stringer zones of the three
hydrothermal centers become more weakly mineralized and less hydrothermally altered toward the
northwest. The hydrothermal alteration in the Cabaçal mine suggests a volcanogenic genetic model
in which hydrothermal centers generated sericitization, chloritization and silicification alterations at
different stages. The Cabaçal Mine ore is divided into disseminated, banded, venular, brecciated
and massive. Gold occurs associated with sulfides, quartz veins and Bi-Te minerals. The paragenetic
sequence has been discussed but there is a consensus about the association (pyrite, pyrrhotite,
galena, sphalerite and chalcopyrite, native bismuth selenides, tellurides and gold) formed on at
least three stages. Despite discussions about the genetic processes involved in the Cabaçal deposit
generation, a history involving volcanogenic stage and subsequent deformation events appears to
be the most acceptable.
129
Modelos de Depósitos Br asileiros de Cobre Depóslt:c d e Cobre de Gabaçal, Mat:c Grosso
as geoquímicas e geofísicas na Faixa Cabaçal. anos. Descrições apontam para um modelo gené
Duas destas zonas anômalas viriam a se tornar t ico relacionado aos processos vu lcânicos, insta
minas. A Mina do Cabaça! e a Mina Santa Helena, lados durante o Paleoproterozóíco gerando depó
sendo a primeira de Cu Au e a segunda de Zn Cu . sitos do t ipo Sulfeto Maciço Vulcanogên ico, muito
A Mina do Cabaça!, objeto principal do presen embora existam argumentações sobre processos
te artigo está localizada na porção sul do Craton genéticos associados a cisalhamento que afetou
Amazônico , a aproximadamente 30 quilômetros da a região .
cidade de Araputanga, na região sudoeste do Es Várias empresas de mineração estão desen
tado de Mato Grosso (Fig. 1). A área da mina pode volvendo t rabalhos de exploração mineral na re
ser acessada a partir de Cuiabá, através das ro gião. Os t rabalhos de pesquisa concentram se nas
dovias asfaltadas (BR 070 174 e MT 175), em um faixas Cabaça! e Jauru, tendo sido localizadas vá
percurso de aproximadamente 350 quilômetros até rias novas anomalias de cobre, chumbo e zinco,
a cidade de Araputanga. A partir de Araputanga o além de ouro .
acesso se dá pela rodovia não pavimentada MT
148 e estradas vicinais, que também acessam a CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL
mina Santa Helena. O acesso também pode ser
realizado a partir da cidade de Rio Branco. A região sudoeste do Estado de Mato Grosso
A Mina do Cabaça! entrou em operação em mar está inserida na porção sul do Craton Amazônico.
ço de 1987 e encerrou em 1991 com o esgota Até a década de 80 os trabalhos então publica
mento das reservas e a elevação dos custos ope dos faziam poucas descrições detalhadas sobre a
racionais . Um total de 869.279 toneladas de mr geolog ia local, tratando as unidades como de difí
nério foi processado. O teor final de ouro f icou cil distinção, denom inando as com o termo com
estimado em 5 gramas/tonelada e o de cobre em plexo.
0,82% . A partir da década de 1980, um convênio de
Os processos genéticos relacionados à gera cooperação entre o Curso de Geologia da Univer
ção dos depósitos de Cu Au e Zn Pb Cu Au da Fai sidade Federal de Mato Grosso e o Departamento
xa Cabaça! foram palco de debate nos últi mos Nacional da Produção Mineral, levou a um progra
CONVENÇOES CARTOGRÁFICAS
Figura 1 Mapa de localização e vias de acesso para as minas do Cabaça/ e Santa Helena na Faixa Cabaça!,
sudoeste do Estado de Mato Grosso.
130
Francisco Edfgio cava/cant~ Pinho, Élzlo da Silva Barboza & car/os José Fenand~
+ +
+ +
+ +
+ +
+ +
+ +
Figura 2 Esboço da Geologia Regional que mostra os três cinturões de rochas vulcano sedimentares,
separadas por blocos de gnaisses, migmatitos, granodioritos e tona fitos (modificado de Monteiro et a/. 1986).
131
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Cobre de cabaça!, Mato Grosso
Domínio Tectônico Cachoeirinha (DTC). blocos que as separam foram intrudidas por ro
Um dos critérios utilizados por Ruiz (2005) para chas graníticas da Suíte Intrusiva Alvorada, de ida
definir a unidade lito tectônica (DTC) foi o fato de des entre 1537 e 1440 Ma e da Suíte Intrusiva
que as rochas a ela associadas não exibem regis Guapé no final do Mesoproterozóico, além de in
tros de ação termal e deformacional da Orogêne trusões de rochas básicas e ultrabásicas (Pi nho
se Sunsás, conforme indicam os dados K Ar dispo 1996).
níveis.
Lacerda Filho et a/. (2004) compilando dados e GEOLOGIA LOCAL
fazendo checagens de campo para a composição
do mapa geológico em escala 1:1.000.000 do Es Para descrição deste item foram utilizadas as
tado de Mato Grosso, definiram a sequêncía de informações de acordo com Lacerda Filho et a/.
rochas vulcânicas e sedimentares das Faixas Jau (2004), além de informações de Monteiro et a/.
ru, Araputanga e Cabaça! como Grupo Alto Jauru. (1986) e Pinho (1996). O mapeamento geológico
Lacerda Filho et a/. (2004) definiram o grupo como da área de ocorrência da Mina do Cabaça! (Fig. 3)
composto por metabasito toleítico com raros ní permitiu individualizar as formações Mata Preta e
veis de metatufo andesítico a riodacítico, metape Manuel Leme do Grupo Alto Jauru, Complexo Alto
lito, BIF, grafita xisto, quartzo sericita xisto, serici Guaporé, Tonalito Cabaça!, Suíte Intrusiva Santa
ta clorita quartzo xisto, quartzito e paragnaisse. Cruz, Suíte Intrusiva Alvorada, Intrusões de Ga
Segundo Lacerda Filho et ai. (2004) as faixas bro e Grupo Aguapeí, que serão descritos a se
Cabaça! e Araputanga estão separadas pelo Com guir.
plexo Guaporé, Tonalito Cabaça! e Suíte Intrusiva O Grupo Alto Jauru ocorre em cinturões alinha
Santa Cruz. Estas unidades estratigráficas são dos segundo a direção N30• 400W (Fig. 2). Na
constituídas principalmente por orto e paragnais Faixa Cabaça! este grupo é composto pelas for
ses, tonalitos e granitos foliados, e apresentam mações Mata Preta e Manuel Leme de Monteiro et
diferentes idades. O Complexo Guaporé apresen ai. (1986).
ta idade U Pb em zircão em torno de 1740 Ma, A Formação Mata Preta apresenta derrames ba
enquanto a Suíte Intrusiva Santa Cruz tem idade sálticos maciços, em estruturas almofadadas e vul
aproximada de 1587 Ma. canismo explosivo, de afinidade toleítica em sua
Entre as faixas Araputanga e Jauru ocorrem ro base. São metabasaltos compostos por actinolita,
chas do Complexo Guaporé e da Suíte Intrusiva plagioclásio, quartzo e epidoto, além de t itanita,
Água Clara de idade aproximada de 1485 Ma. apatita, carbonato, pirita, calcopirita e magnetita
As faixas de rochas vulcano sedimentares e os como minerais acessórios. A porção de topo é for
ss•os·
@Mina desativado
• Sede de Fazenda
/ Falha normal
D Grupo Aguapeí
• Dique de Gabro
• Granito Alvoroda
DGnaisses (Complexo
Alto Guaporé, Suíte
Intrusiva Santa Cruz e
Tonalito Cabaça!)
D Fm. Manuel Leme
ô Fm. Mata Preta
Figura 3 Mapa geológico da Faixa Cabaça/ de acordo com Monteiro et a/. (1986), Pinho (1996) e Lacerda
Filho et a/. (2004).
132
Francisco Edígio cava/cant~ Pinho, Élzlo da Silva Barboza & car/os José Fenandes
mada por rochas vulcânicas intermediárias a áci O Complexo Alto Guaporé foi denominado por
das (andesitos, dacitos e riodacitos), intercalao Menezes et a/. (1993). Lacerda Filho et a/. (2004)
do se com o vulcanismo básico. classificaram gnaisses orto e paraderivados ocor
A Formação Manuel Leme representa um vul rentes na Faixa Cabaça! como pertencentes a esta
canismo de caráter mais diferenciado, composta unidade .
por dacitos, r iodacitos, tufos félsicos, bem como Os dados petrográficos dos paragnaisses e
sedimentos elásticos e químicos. Os dacitos e rio gnaisses migmatíticos mostraram a presença de
dacitos consistem de quartzo, oligoclásio, biotita, sillimanita e cianita cristalizadas paralelamente à
muscovita e clorita, com zircão, titanita, apatita e follação metamórfica que é i ndicativa de condição
opacos como minerais acessórios. Estas litologias metamó rfica da fácies anfibolito superior e de
raramente apresentam textura porfíritica preser média P/T. Os hornblenda blotita gnaisses e os
vada (Rg. 5A). Os tufos félsicos por sua vez sem biotita gnaisses granodioríticos apresentam ftuxo
pre apresentam uma xistosidade bem desenvolvi milonítico marcado pelo alinhamento dos minerais
da e predominam na base da Formação Manuel máficos e minerais ocelares e tabulares recristali
Leme. Metassedlmentos elásticos são represen zados de plagioclásio. A química dos ortognaisses
tados por quartzo sericita xisto e quartzo clorita revelou caráter metaluminoso de afinidade calcio
sericita xisto e a sedimentação química por cherts alcalina, similares aos batólltos cordilheiranos mo
(Fig. 5B) e formações ferríferas bandadas (BIF), demos (Lacerda Filho et a/. 2004).
com sericita e clorita e camadas ricas em magneti Esta unidade corresponde às Suítes Intrusivas
ta . O aumento da sedimentação marca o topo da Quatro Marcos e Santa Fé (Carneiro et a/. 1992) e
Formação Manuel Leme . às Suítes Intrusivas São Domingos e Aliança (Ruiz
O ambiente que gerou as rochas do Grupo Alto
Jauru, composto por basaltos, rochas vulcânicas Concordia Age= 1853.0 ±15 Ma
0,36
félsicas e intermed iár ias, além de sedimentação, (95% confldence, decay-coost. ens included)
foi implantado no final do Paleoproterozóico . Pi MSWO (of concordance) =0.0050,
Probabllity (of concordance) =0.94
nho et a/. (1997) com base em interpretações de 0,35
dados de campo e de geoquímica definiram um
ambiente arco de ilhas para a geração do Grupo
Alto Jauru. ?
"(._
0,34
.c
Os dados geocronológicos U Pb em zircão obti
dos em metavu lcânicas ácidas e tufos, de 1769 ±
t
0,33
29 Ma (Pinho 1996) e de 1767 ± 24 Ma (Geraldes
2000) evidenciavam até então o registro mais an
0,32
tigo do domínio tectônico.
Em estudos geocronológicos por U Pb ICPMS
laser ablation em zircões, realizados no Labora 0,31 '--~-'----'--'----'--..___.__..___.__..___.__,
tório de Geocronologla da Universidade de Brasí 4 ,7 4,9 5,1 5,5 5,7 5,9
Tabela 1 Dados isotópicos deU Pb em zircão de rocha vulcânica dacítica da Formação Manuel Leme, Faixa
Cabaça/ MT.
Idades Aparentes
f206 Ih l.Q§fR lQ.ZfR err (%) lQ.ZfR err (%) lQill err (%) Rho lQ.ZfR (Ma) ~ (Ma) ~ (Ma) Cone.
Grão (%) u 204Pb 206Pb 1s~igma 23SU 1sioma 238U 1sioma 206Pb 235U 238U (%)
Z02 0,15 0,24 10051 0,112082 0,92 5,127 1,76 0,331784 1,50 0,85 1833 17 1841 15 1847 24 100,74
Z07 0 ,89 0,33 1738 0,111075 1,72 5,131 1,84 0,335054 0,65 0,53 1817 31 1841 16 1863 11 102,52
Z10 0,45 0,27 3435 0,112390 1,04 5,054 1,27 0,326125 0,73 0,54 1838 19 1828 11 1820 12 98,97
zll 0,65 0,30 2368 0,112959 0, 10 5,204 0,94 0,334110 0,63 0,68 1848 13 1853 8 1858 10 100,58
Z17 2,41 0,25 641 0,113311 1,53 5,249 1,81 0,335965 0,96 0,51 1853 28 1861 15 1867 16 100,76
z19 011 o 25 2n19 o 116097 o 75 5 459 2 04 o 341002 1 90 o 93 1897 13 1894 17 1891 31 99 71
133
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Cobre de Cabaçal, Mato Grosso
Figura 5 A) Dacito com textura porfíritica preservada, nicóis cruzados; B) Amostra polida de metassedimen
to químico representado por chert; C) Metachert bandado (CHB) com bandamento marcado pela variação de
coloração das camadas silicosas, e por finas bandas de sericita, clorita e/ou biotita, nicóis cruzados; D) Zona
da Clorita rica em granada, luz natural; E) Amostra polida da Zona da Clorita cortada por veio de quartzo rico
em sulfetos; e F) Amostra polida de tufo félsico.
1992). Geraldes (2000) indica que tais rochas cris lhadas que seguem a direção regional NNW. Os
talizaram se em torno de 1750 Ma (Suíte Intrusi níveis mais escuros apresentam hornblenda e bi
va Aliança) e 1550 Ma (Suítes Intrusivas São Do otita, enquanto os mais claros são compostos por
mingos e Quatro Marcos). andesina, microclina e quartzo. Minerais acessóri
Monteiro et al. (1986) individualizaram uma in os incluem apatita, titanita, allanita, zircão e mag
trusão tonalítica, exposta ao longo do médio cur netita.
so do Rio Cabaçal, a qual denominaram de Tona- Pinho et al. (2001) apresentaram dados obti
lito Cabaçal. Na Faixa Cabaçal ocorre como corpo dos em análises U Pb em zircão realizados no Iso
alongado na direção NNW que cobre uma área de tope Geochemistry Laboratory of the Kansas Uni
aproximadamente 90 Km2, composta por rochas versity, mostrando que o Tonalito Cabaçal apre
mesocráticas de granulação média a grossa, apre senta diferentes populações de zircões, as quais
senta uma xistosidade e localmente faixas cisa representam diferentes idades, que variam des
134
Francisco Edígio Cavalcante Pinho, Élzio da Silva Barboza & Carlos José Fernandes
de o Arqueano (2635 Ma) até o Neoproterozóico tral, composta por labradorita, augita, serpenti
(645 Ma). Pinho & Chemale (2009) em análises U na, biotita e magnetita. Pirita e pirrotita encon
Pb Laser ablation em zircões realizadas no LGI tram se disseminadas em pequenas proporções.
UFRGS, confirmaram os dados obtidos por Pinho Não existem datações para estas rochas, poden
et al. (2001). Estes dados levaram Pinho & Che do ser relacionadas com outras intrusões de ca
male (2009) a sugerirem que pelo menos parte ráter básico que ocorrem na Faixa Jauru.
das rochas mapeadas como Tonalito Cabaçal, re No final do Mesoproterozóico a região foi reco
presenta rochas geradas durante o Neoprotero berta por sedimentos do Grupo Aguapeí, são con
zóico na Faixa Cabaçal. glomerados e quartzitos que sustentam a Serra
A Suíte Intrusiva Santa Cruz foi inicialmente de Monte Cristo na porção leste da Faixa Cabaçal.
denominada por Ruiz (1992), constituindo um cor Coube a Souza e Hildred (1980) a denominação
po granítico de dimensão batolítica, com direção de Grupo Aguapeí e a divisão em três formações:
NNW, estendendo se desde a localidade de Re Fortuna, Vale da Promissão e Morro Cristalino. No
serva do Cabaçal até a cidade de São José dos local os sedimentos fazem parte da unidade de
Quatro Marcos, que juntamente com o Complexo base deste grupo.
Alto Guaporé, separa a Faixa Cabaçal da Faixa Ara
putanga. Ruiz (1992) mapeou duas fácies petro DESCRIÇÃO DO DEPÓSITO
gráficas, uma dominante, sendo composta por ro
chas leucocráticas, de cor rosa, inequigranulares O depósito do Cabaçal está hospedado na For
grossas a médias, foliadas, classificadas como bi mação Manuel Leme. Devido ao alto grau de de
otita monzogranitos e biotita sieno granitos; ou formação das rochas e a uma foliação penetrati
tra fácies correspondente a rochas mesocráticas, va, uma clara definição da sequência estratigráfi
de cor cinza escura, faneríticas, equigranulares, ca local, somente foi definida durante o programa
de granulação grossa, foliadas, classificadas como de sondagem e de operação da mina. Esta sequ
hornblenda granodioritos. ência consiste de uma unidade vulcano química,
Geraldes (2000) obteve idade U Pb em zircões uma zona cloritizada e uma unidade vulcânica vul
entre 1587 ± 4 Ma e 1549 ± 10 Ma, a provável canoclástica (Fig. 5). Estas unidades foram inicial
idade de cristalização da Suíte Intrusiva Santa mente descritas nos relatórios internos da Mine
Cruz. ração Santa Marta e posteriormente por Pinho
Idades U Pb em zircão entre 1546 ± 15 Ma e (1996).
1389 ± 3 Ma obtidas por Geraldes (2000) e Ruiz et A Unidade vulcano-química (CTB) segundo a
al. (2004) em corpos graníticos da Suíte Intrusiva nomenclatura utilizada pelos operadores da mina.
Alvorada mostram que a região foi submetida a Consiste de metatufos e cherts bandados, inter
intrusão de pequenos plutons monzograníticos, ar calados com metassedimentos detríticos e quími
redondados a elípticos com orientação NW, equi cos, e metavulcânicas ácidas e intermediárias a
granulares, de granulação média a fina, isotrópi básicas.
cos a levemente orientados. A maioria destas rochas é representada por xis
O termo Granito Alvorada foi utilizado inicial tos compostos por sericita, clorita, biotita e quart
mente por Monteiro et al. (1986) quando diferen zo, em proporções diferentes para cada protólito.
ciou corpos graníticos anteriormente mapeados São quartzo sericita clortia±biotita xisto, sericita
como pertencentes à Suíte Intrusiva Guapé de quartzo xisto, sericita quartzo clorita±biotita xis
Barros et al. (1982). A denominação de Suíte In to e clorita sericita quartzo xisto.
trusiva Alvorada coube a Ruiz (1992). Localmente são observados relíquias de aca
Diques e sills de gabro ocorrem na parte cen mamento e acamamento gradacional. Geralmente
tral da Faixa Cabaçal, intrudidos em rochas da For essas estruturas são milimétricas a centimétricas,
mação Manuel Leme. A principal ocorrência é re e subparalelas à foliação principal. Alguns tufos
presentada por um dique de direção N70 80W, com silicificados mostrando inversão gradacional foram
mergulho para NE que se estende por mais de dez observados (Mason & Kerr 1990).
quilômetros, passando nas proximidades da mina Metacherts bandados (CHB) estão intercalados
do Cabaçal (Figs. 3 e 6). São rochas de granulo na CTB, consistem de até 98% de sílica. Um ban
metria média, tornando se grossa na parte cen damento proeminente pode ser observado nes
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Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre DepósltD de Cobre de OJbaç<!l, MatD Grosso
PROTEROZÓICO
I~A d
A Sill de gabro
Figura 6 Mapa geológico da área da Mina do Cabaça!, com detalhe para as três zonas mineralizadas (modi
ficado de Mason & Kerr 1990 e Pinho 1996).
tes cherts, marcado pela variação de coloração das tração de veios de quartzo.
camadas silicosas, e por finas bandas de sericita, A ZCL é representada por um xisto verde escu
elo ri ta ou biotita ( Rg . SC). ro (Figs. SD e SE), rico em ctorita com alguma bio
Na porção sudoeste da mina ocorrem interca tita e sericita, catcita é um mineral comum nesta
!ações de derrames dadticos porfiríticos cinza, fi rocha. Granada, estílpnometano e grunerita cum
nos, com foliação incipiente e composta por plagi mingtonita ocorrem em leitos centimétricos, não
oclásio, quartzo, biotita e sericita. contínuos .
Metavulcân icas básicas a intermediárias ocor Grande parte das ocorrências de cobre está re
rem na porção sudeste da mina, representadas !acionada à ZCL. Magnetita e sulfetos (pirrotita,
por biot ita clorita xistos com fragmentos de epi calcopirita, pirita , galena e esfalerita) são comuns
dotos. São metatufos e brechas com fina matriz nesta unidade. Os sulfetos ocorrem como corpos
rica em clorita, epidoto e quartzo. maciços, associados com veios de quartzo de di
A Zona Cloritizada (ZCL) ocorre entre a CTB e ferentes direções, ou bandado em finas camadas
o pacote de tufos e metavulcânicas porfiríticas, de paralelas à foliação principal.
nominado (TAC/VAP). O contato entre ZCL e CTB é A Unidade Tufácea, Metavulcânica Porfirítica,
gradacional, com fragmentos de CTB na ZCL e por denominada (TAC/VAP), é representada por um xis
vezes intercalações entre as duas unidades . Por to marrom composto por quartzo, plagíoctásio, bi
outro lado, o contato entre ZCL e TAC/VAP é brus otita , sericita e clorita. Co mo acessórios ocorrem
co marcado pela ocorrência de um nível rico em calcita, epidoto, granada e sulfetos (pirita, pirroti
biotita de até 20 em de espessura e peta concen ta, calcopirita, galena e esfalerita). Por vezes são
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Francisco Edígio Cavalcante Pinho, Élzio da Silva Barboza & Carlos José Fernandes
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Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Cobre de Cabaçal, Mato Grosso
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Francisco Edígio cavalcant~ Pinho, Élzlo da Silva Barboza & car/os José F~rnand~s
Estágio IV Estágio V
' ''
'\
\ \
I '
\
\
\
' \
\
I
D
D
D
D
Sericitização
Biotltização
Cloritização
Forte cloritização com
stockwor1<s de sulfetos
-
D S~icificação
Sulfeto maciço
Brecha freática
I
r Veios de sulfeto
Ir Veios de quartzo
' Falha slnvulcânlca
Figura 7 Sequência de alteração hidrotermal de acordo com o modelo genético proposto (Modificado a partir
de Mason & Kerr 1990).
to do Cabaça!; zona da biotita, zona da clorita, do diagrama de Hey ( 1954) a clorita foi classifica
zona da sericita e zona da sílica. da como ripid iolita, com enriquecimento em Mg e
A Zona da Biotita (ZBI) define o limite entre a empobrecimento em Fe, quando comparada com
alteração hidrotermal e o TAC/VAP. Possui espes outras cloritas do CTB (Pinho 1996) . Urabe et a/.
sura variando entre poucos centímetros até 25 me (1983) reportaram situação semelhante para as
tros, formando um Importante marcador para as cloritas do Depósito de Sêneca, onde a razão Fe/
zonas mineralizadas. A biotita é o principal mine (Fe+MG) alcança 0,28 no centro do halo de altera
ral desta zona, ocorrendo também clorita, sericita ção e 0,51 nas partes marginais.
e carbonato, sulfetos ocorrem em baixa concen Durante a operação da mina bandas centlmé
tração. tricas a decimétricas de ZCL rico em estilpnomela
A biotita mostra variação entre os conteúdos no, cummingtonita, granada, magnetita e pirroti
Fe e Mg e enriquecimento de Mg em relação ao Fe ta foram mapeadas em diferentes locais. Estes
marca as biotitas da ZBI. A passagem da ZBI para níveis representam possíveis alterações de forma
a ZCL ocorre é brusca a gradual, sendo comuns ções ferríferas, e caracteristicamente apresenta
fragmentos de uma zona dentro da outra. vam altos teores de ouro .
A Zona da Clorita (ZCL) hospeda a maioria das Monteiro et a/. (1989) observaram a presença
minera lizações do Cabaça!. O contato com o CTB de plagioclásio parcialmente alterado para mate
é gradaclonal, formando um CTB cloritizado . A ZCL rial clorítico criptocristalino. Baseados nessa alte
representa a parte central dos condutos por onde ração sugeriram que a ZCL representa a altera
percolaram os fluidos mineraliza ntes (Mason e Kerr ção de uma rocha andesítica vulcânica ou vulca
1990). A clorita é o principal componente da ZCL, noclástica, onde o sódio do plagíoclásio foi substi
chegando a 50% do volume da rocha . Outros mi tuído pelo magnésio.
nerais são biot ita, calcita, granada, estilpnomela A zona da Sericita envelopa a ZCL e afeta ro
no, cummingtonita, sulfetos e magnetita . A partir chas do CTB e do TAC/VAP. É uma rocha bandada
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Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Cobre de Cabaçal, Mato Grosso
de espessura centimétrica a decimétrica que coin panhada de teores mais elevados de ouro.
cide com a xistosidade principal. As bandas são Os minérios brechados e maciços estão restri
de quartzo e de sericita e menos comumente de tos à CCZ associados a ZCL e CTB. As brechas
biotita e clorita. Sulfetos ocorrem disseminados e são formadas por fragmentos de ZCL, CTB, tufos
os veios de quartzo são pouco abundantes. e veios de quartzo, em uma matriz de sulfetos. A
A alteração por silicificação está presente na calcopirita é o principal sulfeto da matriz, no en
CCZ e tem o seu início relacionado ao estágio III tanto a pirita e a pirrotita estão presentes, e em
do modelo proposto por Mason & Kerr (1990). É casos específicos, a galena e a esfalerita formam
marcado por uma intensa formação de veios de a matriz. Ouro visível pode ser observado em vei
quartzo em altas profundidades. Na mina esta fase os de sulfeto cortando o minério brechado.
é representada pela ocorrência de veios em al Mason e Kerr (1990) sugerem que o minério
guns níveis. No topo dos pipes de alteração, na brechado está associado a uma série de explo
interfácie água/rocha, a silicificação é representa sões freáticas que ocorreram durante a erupção.
da por um capeamento de chert. Este episódio foi posterior ao processo de altera
O minério da Mina do Cabaçal está dividido em ção hidrotermal que formou as zonas ricas em clo
disseminado, bandado, venular, brechado e maci rita e quartzo. Daí a existência de fragmentos de
ço. O ouro ocorre associado a sulfetos, veios de rochas hidrotermalmente alteradas nas brechas.
quartzo e minerais de Bi Te. A calcopirita é o principal mineral formador de
O minério disseminado consiste de grãos ou sulfetos maciços, pirrotita e pirita também se fa
agregados de sulfetos que ocorrem coincidentes zem presentes. Neste tipo de minério os sulfetos
com a foliação principal. São principalmente calco alcançam o volume de 80% da rocha e ocorrem
pirita, pirita e pirrotita em concentrações de 0,5 a como lentes pouco espessas (até 1,40 m ), con
1%. A principal ocorrência deste tipo de minério é cordantes com as camadas vulcânicas ou vulcano
a zona de contato entre ZCL e CTB. clásticas. Calcopirita substituindo pirita é freqüen
O tipo bandado forma lâminas continuas de sul te, sugerindo um minério originalmente rico em
fetos, milimétricas a centimétricas, coincidentes pirita como processo inicial de formação.
com S1. Geralmente está associado ao CTB e ao Os principais estudos texturais e mineralógicos
topo da ZCL, sugerindo uma gênese vulcânica. Os sobre a Mina do Cabaçal são os relatórios inter
sulfetos incluem calcopirita, pirita e pirrotita que nos da Mineração Santa Marta (1987), Marchetto
perfazem 5 a 10% da rocha. Valores acima de 30% (1988 e 1989) e Pinho et al. (1994).
não são raros. A mineralogia do minério em Cabaçal inclui sul
O minério venular ocorre em toda a mina. É com fetos, selenetos, Bi nativo e ligas Au Ag e Au Bi.
posto principalmente por quartzo leitoso, muito Os mais freqüentes sulfetos são calcopirita, pirita
embora veios de carbonato ocorram como fase se e pirrotita. Também estão presentes a marcasita,
cundária. Existem pelo menos dois sistemas de vei esfalerita, cubanita, galena e molibdenita. Em
os de quartzo na mina. O primeiro consiste de menores porcentagens ocorrem arsenopirita, co
veios de quartzo leitoso e esfumaçado, concor velita, digenita e calcocita. Teluretos, selenetos,
dantes com a foliação principal. Os veios desta Bi, Au e ligas com Au aparecem como traços. As
fase estão dobrados e boudinados, gerando vei relações texturais entre os minerais sugerem di
os lenticulares. ferentes fases de mineralização.
Pinho (1996) e Pinho & Fyfe (1996) sugerem a Como sulfeto predominante a calcopirita con
existência de duas gerações de veios de carbo siste até 65% dos sulfetos. Ocorre como massas
nato para a Mina do Cabaçal. Dados de isótopos irregulares e raramente como bandas subparale
de O, C e Sr indicam que o primeiro grupo de veio las pobremente desenvolvidas, e mostra uma leve
pode ser relacionado a processos ígneos, enquan anisotropia. Geminação polisintética é constante.
to que os veios do segundo grupo tiveram sua Frequentemente a calcopirita é substituída pela
origem relacionada a fluidos meteóricos. pirita ou ocorre como gotas na esfalerita. A ocor
Sulfetos são abundantes nos veios de quart rência comum de ripas exolvidas de cubanita e de
zo. Os mais comuns são calcopirita, pirita e pirroti estrela de esfalerita indicam uma temperatura
ta. Uma feição interessante nos veios de quartzo entre 250 300 oC (Marchetto 1989). Estudos de
é a presença de fragmentos de ZCL, sempre acom microssonda eletrônica não mostraram nenhum
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Francisco Edígio Cavalcante Pinho, Élzio da Silva Barboza & Carlos José Fernandes
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Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Cobre de Cabaçal, Mato Grosso
Figura 8 Sequências paragenéticas propostas para Mina do Cabaçal. A) segundo Mason & Kerr (1990) e B)
segundo Pinho (1996).
Pinho (1996) descreve uma fase de fluídos pri te se tornou mais intenso, pois dele dependia a
mários com temperatura de homogeneização en definição de processos de lavra.
tre 240 e 340ºC e salinidades variando de 0,5 a Mason & Kerr (1990) sugerem que o depósito
5% equiv. NaCl. Outra fase de fluídos secundários do Cabaçal representa um típico sistema de sulfe
foi caracterizada por temperatura de homogenei to maciço vulcanogênico, que foi invertido e acha
zação entre 80 e 220ºC, com salinidades varian tado em uma dobra recumbente. As mineraliza
do entre 1,6 e 14,9% equiv. NaCl. ções podem ser definidas em termos de associa
Segundo Hannington et al. (1986) as soluções ções de alteração hidrotermal (sericita biotita clo
primárias envolvidas na formação de depósitos de rita silica) em uma zona de pipe achatado, consis
sulfeto maciço vulcanogênico tem temperaturas tindo de sulfeto maciço vulcanogênico (Cu Au) e
abaixo de 350ºC, pH igual ou maior que 3,6 e sa zonas de stringer (Au).
linidades variando entre 3,5 e 6,4 equiv. NaCl. Pinho (1996) e Pinho et al. (2002) consideram
Pinho (1996) determinou valores de ä18O para que para a definição de um modelo genético para
veios de quartzo da Mina do Cabaçal entre 7,87 a o depósito do Cabaçal, os seguintes pontos de
10,32‰ padronizados por SMOW. Usando a equa vem ser considerados: a associação do minério
ção de fracionamento de Matsuhisa et al. (1979) com rochas vulcânicas e vulcanoclásticas félsicas;
e os valores de temperatura obtidos a partir de a intensa alteração do footwall contrária ao han
estudos de inclusões fluidas, do geotermômetro gwall; a inversão estratigráfica da sequência; a
biotita granada conforme Thompson (1979) e ge ocorrência de corpos de sulfeto maciço e as altas
otermômetros propostos por Marchetto (1989) a concentrações de ouro em algumas feições estru
partir de estudos da paragênese mineral, Pinho turais. O depósito do Cabaçal deve ser considera
(1996) determinou valores de ä18O para os fluidos do singenético aos processos de criação da For
mineralizantes entre 2,85 e +2,3‰. mação Manuel Leme, do tipo sulfeto maciço vulca
Os fluidos formadores da mineralização no Ca nogênico. Após os processos vulcânicos a Faixa
baçal são similares aos de depósitos vulcanogê Cabaçal foi afetada por cisalhamento NNW SSE
nicos. A variação de ä18O sugere uma mistura de causando a remobilização de sulfetos e o enrique
água do mar com águas magmáticas e meteóri cimento em ouro (Pinho 1996).
cas, como foi proposto por Ohmoto et al. (1983) Toledo (1998) e Figueiredo (2000) consideram
para a formação das mineralizações de Kuroko a jazida do Cabaçal como pertencente ao modelo
(Pinho 1996). de depósitos mesotermais de ouro e metais base.
Esse depósito está relacionado a uma zona de ci
MODELO GENÉTICO salhamento dúctil e assemelha se, até certo pon
to, aos depósitos de ouro filonares de terrenos
Durante a explotação do minério do Cabaçal granito greenstone, descritos em outras partes do
considerava se que o mesmo era estruturalmen mundo (Figueiredo 1000).
te controlado, porém pouco se discutia sobra a Biondi (2003) classifica a mina do Cabaçal como
sua gênese. No inicio da década de 90 este deba um depósito de metais base remobilizados com
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Francisco Edígio Cavalcante Pinho, Élzio da Silva Barboza & Carlos José Fernandes
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Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Cobre de Cabaçal, Mato Grosso
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pp.
145
,
CAPITULO VII
DEPÓSITO DE COBRE VMS DE
BOM JARDIM DE GOIÁS
Abstract - The Bom Jardim de Goiás copper deposit located at southwestern of Goiás State, Brazil,
and is hosted by the volcano-sedimentary sequence of the Bom Jardim de Goiás Group, which is
part of the Goiás Magmatic Arc. The ore reserves are estimated in 4.575.660 t with average grade of
0,9% Cu and 0,9 ppm Au. The host-rocks are calc-alkaline, volcanic arc dacite/riodacite to andesite
metapyroclastics. Their åNd(t) values are between -4,36 and 0,64, with TDM model ages ranging from
0,78 to 1,15 Ga, representing a young source área with some crustal reworking. The mineralization
occurs as a stockwork that forms a 1200m x 240m x 300m lense-shaped body. The ore consists of
pyrite and calcopyrite, with minor magnetite, pyrrhotite, hematite, covelite, sfalerite, ilmenite, rutile,
gold, actinolite, chlorite, biotite, epidote, titanite and calcite. Hydrotermal alteration of the host tuffs
is characterized by silicification. The deposit characteristics indicate that it represents the feeder
zone of a VMS.
149
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre VMS de Bom Jardim de Goiás
150
Hildor José Se~r, Stella BIJOS Gutmarã~s, Mán:l a Arão Moura & Arl p/inlo Antônio Ntlst:>n
I a..,.doPmmA I
O Cobertura Fanerozóica
D Intrusões alcalinas [J Graben Piranhas
cretáceas (conglomerado, arenito,
Granitos Pós-orogenéticos (ca. 588 a 485 Ma)
• I) Granito Scn:a Negra, 1) Granito Serra do lran, 3) Granito Rio Caiapó, D Diorito Córrego
4) Oraníto (porá, 5) Granito [8raelllndia, 6) Gnlnito Serra do Impertinente. Lajeado
Figura 1 Mapa geológico do Arco Magmático de Goiás na região sudoeste de Goiás (Pimentel et ai., 1999,
Pimentel et ai., 2000), O retângulo na região de Bom Jardim assinala o mapa geológico da figura 2.
de baixo g rau metamórfico, com idade de 711 ± neste Grupo enfatizando a mineralização de co
53 Ma (K Ar em rocha total em metabasalto) e o bre por meio da petrografia das encaixantes e do
situaram na base do Grupo Cuiabá. Os resultados minério, litogeoquímica, química mineral e geoquf
do Projeto Bom Jardim fora m apresentados por mica isotópica e geocronológica , refinando o mo
Costa et al.(1979). Em destaque, a descoberta e delo metalogenético com dados mais ro bustos.
cubagem do depósito de cobre de Bom Jard im de As rochas do GBJG ocupam área aproximada
Goiás (Fig . 2) a part ir de prospecção geoquímica, de 50 Km 2 limitando se a NE com ortognaisses do
geofísica e 6. 725,40 m de sondagem. AMA através de falha, a sudeste com o Granito
Barbosa (1979) elevou o complexo à categoria Serra Negra por contato intrusivo, a sul com ro
de g rupo , mas não sugeriu subd ivisões estrati chas sedimentares da Bacia do Paraná e a oeste
gráficas . No entanto, Marques et ai. (1980) pro por falha com as rochas m etassed imentares do
põem 9 sub un idades informais para o complexo Grupo Cuiabá e Granito Macacos (Fig . 2).
e rea lizam estudos litogeoquímicos das rochas Embora metamorflsadas e deformadas, é no
vulcân icas . Com base nos t rabalhos anteriores e tável a preservação de estruturas e texturas ori
em mapeamento litoestrutural, Seer (1985 ) rede ginais em grande parte das rochas como pode ser
finiu o complexo para Grupo Bom Jardim de Goiás conferido nos trabalhos de Seer (1985 ) e Guima
(GBJG) propondo as formações Córrego da Furna, rães ( 2007 ). A deformação dúctil pode ser descri
Có rrego da Aldeia , Morro do Uru bu, Alde inho e ta através de quatro fases de dobramento, as três
Morro Selado da base para a o topo, sucessiva primeiras ocorrendo de modo coaxial e a última
mente . Abordou a geolog ia estrutural, a petrogra subortogonal às demais . Estas mesmas fases de
fia e a litogeoquímica das rochas do GBJG e apre dobramento foram descri tas para a Seqüência
sentou estudos sobre a minera lização de cobre . Vulcano sedimentar de Arenópolis por Pimentel
Por fim , Guimarães (2 007 ) retomou os estudos (1985) . Deformação d úctil rúpti l é representada
151
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre VMS de Bom Jardim de Goiás
Figura 2 Mapa geológico da região de Bom Jardim de Goiás que mostra a localização do depósito, redesenha
do por Guimarães (2007) a partir do mapa de Seer (1985).
por zonas de cisalhamento subverticais como as gados criptocristalinos que remetem a vidro vul
falhas da Aldeia e da Serra Negra (Fig. 2) e a de cânico alterado. São comuns texturas ígneas pre
formação rúptil por falhas normais e juntas. Três servadas subofítica, porfirítica e glomeroporfirítica
eventos metamórficos sintectônicos estão impres (Fig. 4C), mas também ocorrem hialopilítica e vi
sos nas rochas, sob condições da fácies xisto ver trofírica e feições de rápido resfriamento bem como
de, zona da biotita, e junto ao granito Serra Ne amígdalas preenchidas com calcita (Fig. 4D).
gra ocorre metamorfismo de contato que alcan A unidade que hospeda a mineralização de co
çou a fácies hornblenda hornfels (Seer 1985). bre é a Formação Córrego da Aldeia constituída
A unidade mais basal do GBJG é a Formação por metapiroclásticas de composição intermediá
Córrego da Furna com espessura estimada em ria com espessura estimada em 800m (Fig. 3). Pre
1500m onde predominam metavulcânicas basálti dominam tufos finos, dacítico riodacíticos, finamen
co andesíticas (Fig. 3). Compõe se por derrames te laminados e de cor cinza acastanhada. Mais ra
maciços, de cor verde claro a escuro, comumente ramente ocorrem tufos afaníticos, grossos, lapilli
amigdaloidais, derrames com estruturas almofa tufos, lâminas de chert e corpos intrusivos de hor
dadas (pillow lavas) na base (Fig. 4A) pillow bre nblenda diorito. São preservadas feições de aca
chas (Fig. 4B) e intercalações de tufos máficos gros mamento gradacional e contatos bruscos. Ao mi
sos e tufos finos laminados. croscópio foram classificados como tufos finos, tu
Os derrames possuem espessura métrica e as fos de cristal (Fig. 4E) e tufos cristal líticos (Fig.
amígdalas ocorrem na base e/ou topo estratigrá 4F) onde predomina matriz cinerítica. Os cristalo
fico e bordas de pillow lavas. Ao microscópio apre clastos dominantes são quartzo e plagioclásio.
sentam anfibólio, plagioclásio e clinopiroxênio, com Estas rochas possuem grande quantidade de vei
clorita, biotita, epidoto, titanita, quartzo, minerais os e vênulas discordantes da estratificação que
opacos, leucoxênio, calcita subordinados, e agre provocam alteração nas encaixantes e são preen
152
H i/dor J osé Seer1 Stella BIJOS Guimarães, Márci a Arão Moura & Arlp/inlo Antônio Nilson
-:;;;F;:ç;::=f Filitos
Grauvacas
Conglomerados polimiticos
com matriz arenosa
e-~=<o'!..Go l
Rochas piroclásticas
riodaclticas
• f
S'
8
. .. Demmes riolltio-os
"'..
~
...~ ~ "
• Xistos bllsicos dobrados
nlveis amigdsloidsis
~ ~ , ' transpostos
i3 •
~ o ~ '
ê3 ""v. ~ '
·~ ~-,.,.....,"" êo • •
u,
@
~
, ' Demunes andeslticos
Figura 3. Colunas estratigráficas do Grupo Bom Jardim de Goiás. Espessuras estimadas. Redesenhado por
Guimarães (2007) a partir de desenho de Seer (1985).
chidos por quartzo, actinolita, carbonato, pirita 1 pessura máxima estimada em 1500m (Fig . 3). Os
calcoplrita, hematita e magnetita. O homblenda conglomerados são imaturos, contém blocos de
diorito é uma rocha de granulação médía a gros até 1m de diâmetro, são mal estratificados e com
.sa, onde fenocristais de hornblenda conferem tex postos por clastos de granito, granodiorito, rioli
tura porfírítica. to, rochas vulcânicas de composição intermediá
A Formação Morro do Urubu, com espessura es ria e básica , arenito, siltito, argllito, quartzo, fel
timada em SOOm (Fig. 3) é constituída dominante dspato e mica, além de gnaisse e xisto. A matriz é
mente por rochas metapiroclásticas ácidas, com arenosa com alguma contribu ição de argila . Su
intercalações de derrames riolíticos. As rochas pi barcóseos e grauvacas ocorrem como camadas
roclásticas, em geral lapillitos e aglomerados com centimétricas a métricas e possuem cor verde quan
tufos e tufos lapillíticos subordinados, são mal se do inalterados. Nesta un idade foi encontrado um
lecionadas, encontrando se bombas e blocos em corpo Intrusivo de metagabro de granulação mé
meio a matriz tufácea grossa e lapillítica (Fig. 4G) . dia .
As bombas são arredondadas, fusiformes, com ter A unidade mais jovem do GBJG é a Formação
minações retorcidas, os blocos são angulosos e Morro Selado com espessura estimada em 200m
os lápfllis arredondados, constituídos por riolito (Fig. 3) e representada por xisto, ortoquartzlto e
(Figura 4H). Ao microscópio a matriz é composta metaconglomerado. O ortoquartzito é médio a
por sericita, quartzo e feldspato onde estão imer grosso, com termos finos em menor proporção ,
sos cristaloclastos de quartzo, feldspato, pirita e marcas de onda simétricas e marcas de corrente
litoclastos de riolito e tufos riolfticos. centimétricas. O metaconglomerado ocorre na for
Estratigraficamertte acima desta ocorre a For ma de lentes métricas em meio ao ortoquartzito e
mação Aldeinho, uma sequência de metassedimen na base deste ocorre uma camada delgada de
tos detríticos composta por conglomerados poli micaxisto não ultrapassando 3m e desaparecen
míticos, subarcóseos, grauvacas, siltitos e argili do em alguns locais.
tos interdigitados lateral e verticalmente com es As características geológicas descritas permi
153
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre VMS de Bom Jardim de Goiás
Figura 4. A) Estruturas almofadadas nos derrames basálticos (notar bordas de resfriamento, linhas de
amígdalas e material interpillow claro); B) Pillow brecha em amostra de mão (notar bordos de resfriamento e
material interpillow claro); C) metabasalto com textura glomeroporfirítica; D) metandesito com amígdalas
preenchidas por calcita; E) tufo de cristal dacítico; F) Tufo cristal lítico riodacítico com matriz cinerítica; G)
lapili tufo riolítico; H) bomba vulcânica riolítica ao microscópio: fenocristal de quartzo com bordos corroídos e
fenocristal de feldspato potássico alterado para sericita, imersos em matriz de quartzo e sericita . Fotos de
H.J.Seer.
tem supor que as rochas do GBJG evoluíram em do pela abundância de brechas, tufos, tufos lapi
contexto de arco de ilhas, onde parte do vulcanis llíticos, aglomerados e lapillitos riolíticos. A sedi
mo foi subaquático e parte subaéreo. O substrato mentação foi inicialmente detrítica grossa, mal
dos edifícios vulcânicos consistia de ortognaisse selecionada e oriunda do desmantelamento dos
como atestam os seixos deste na Formação Aldei edifícios vulcânicos. Intrusões de microgabro indi
nho. O vulcanismo foi explosivo, como evidencia cam que o magmatismo foi contemporâneo com a
154
H i/dor José Seer1 Stei/a Bljos Guim arães, Márcia A rã o Mour a & Ar1p/lnlo AntlSnto Nilson
155
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre VMS de Bom Jardim de Goiás
tes na área do depósito, às vezes substituídos corresponder a zonas de fratura E W que afetam
por quartzo microcristalino. Os pumices, por ve todas as rochas. O terceiro sistema dispõe se mais
zes, podem formar faixas alongadas gerando uma ou menos perpendicular ao acamamento dos tu
textura eutaxítica em função de compactação li fos identificados no furo BJ 34. As relações entre
tostática (Guimarães 2007). A composição quími estes sistemas nem sempre são claras, mas de
ca dos tufos cineríticos e de cristal com base em modo geral as fraturas E W, preenchidas, seccio
dados de Marques et al. (1980), Seer (1985) e nam as demais e são, portanto, mais jovens. Tam
Guimarães (2007) mostra que eles podem ser clas bém vênulas preenchidas somente por carbonato
sificados como dacitos/riodacitos e mesmo ande foram interpretadas como mais jovens.
sitos, apresentam filiação magmática cálcio alcali A mineralização secundária foi controlada por
na e nos diagramas discriminantes de ambientes deformação e metamorfismo. As evidências disto
tectônicos plotam no campo dos arcos vulcânicos. são encontradas na comparação dos padrões de
Seus valores de εNd(0) situam se entre 4,36 e 0,64 anomalias geoquímicas e magnetométricas e de
e idades modelo TDM variam de 0,78 a 1,15 Ga su geometria da área mineralizada (Costa et al. 1979)
gerindo áreas fonte juvenis com certo retrabalha com as estruturas da primeira fase de dobramen
mento crustal (Guimarães 2007). to (Seer 1985). As anomalias dispõe se segundo
os eixos das dobras desta fase de deformação e
Controle do depósito à direção da foliação que acompanha estas do
bras. A petrografia do minério revela que as fases
O principal controle do depósito é litológico/es minerais foram recristalizadas por metamorfismo
tratigráfico, pois a mineralização está hospedada regional (Seer 1985).
em tufos de composição intermediária pertencen
tes à Formação Córrego da Aldeia. Alteração hidrotermal
Evidências de mineralização primária na inter
face rocha/água foram encontradas no intervalo A alteração hidrotermal dos tufos encaixantes
de 130 a 144,4 m do furo BJ 34 (Seer 1983) onde da mineralização é uma feição notável em Bom Jar
foi observada sequência de tufos com tênues in dim de Goiás, mas até o momento só foi caracteri
tercalações de chert (Fig. 6). zada em associação com os sistemas de vênulas
Os tufos variam de muito finos a grossos, mui mineralizadas tendo sido descrita por Seer (1985)
tas vezes com acamamento granodecrescente. Os e Guimarães (2007) (Fig. 7A). É caracterizada por
níveis de chert com espessura milimétrica foram silicificação gradual que ocorre a partir da parede
identificados a 140 e 143 m. Na base de algumas dos veios e vênulas em direção à encaixante (Figs.
destas lâminas ocorrem vênulas milimétricas pre 7B e 7C). Em vênulas preenchidas principalmente
enchidas por carbonato e calcopirita. A impressão por clorita e sulfetos ocorre intensa silicificação da
é de que as lâminas serviram como uma camada matriz dos tufos, com preservação parcial de seu
que reteve a ascensão de fluidos mineralizantes. arcabouço. Vênulas com actinolita e sulfetos cau
No furo BJ 35, de 72 a 72,15 m, ocorre lâmina mi sam modificação mais intensa da encaixante, com
limétrica de chert com sulfetos disseminados. formação de quartzo micro a criptocristalino que
Entretanto, a mineralização mais notável no de destrói as texturas originais. Nestes dois tipos de
pósito, de origem primária em caso de stockwork, alteração a encaixante torna se rosa esbranqui
é um complexo sistema de vênulas que corta a çada e mesmo esverdeada. Estas tonalidades tor
rocha em aparente desordem. No entanto, uma nam se gradacionais para as cores normais cin
análise superficial de 128 vênulas mineralizadas, za acastanhadas dos tufos. Em ambos os proces
cujas atitudes foram obtidas em afloramento, in sos, as zonas de alteração podem ser ricas em
dica a existência de três populações principais: sulfetos, actinolita, magnetita e hematita (Fig. 7C).
N10W/70 80NE; E W/80; N4050W/20 30SW (Seer A hematita em geral ocorre no front de alteração e
1985). O primeiro sistema de vênulas é paralelo à a magnetita próximo das paredes das vênulas. A
direção da clivagem ardosiana associada às do espessura das zonas de alteração em geral supe
bras da primeira fase de dobramento e isto suge ra 2 a 3 vezes a espessura das vênulas.
re que houve remobilização de sulfetos durante Assim, espessas zonas de alteração denunci
esta fase. O segundo sistema de vênulas pode am a proximidade de veios mais possantes, como
156
HJ/dor José Se~r, Ste/la BIJOS Gulmarã~s, Márcia Arão Mour a & Arlpllnlo Antônio Nilson
281. LEOllNDA
Ul.
- Th.fo cinerltico
- Thfo cristalino
Si!! Rocha Básica
-l!!!lil Cbert
Veios de qlllli1Zo
!:iii Veios de clorita
• Veios K-feldspato
l'!:ij Veios a pirita e/ou caloopirim
- Veios com anfibólio
IZI Fragmentos Iíticos
O Tufo cineritico cloritiz:ado
Grãos pirita!calcopirita
- Grãos de K-feldspato
Grãos de clorita
... Grãos de carbonato
FUROBJ34
...
LEGENDA
• Thfo cineritico
• Tufo cristalino
l!lJ Rocha Básica
• Thfo cineritico brecbado
l!!!".iii Veios de quariZO
!:iii Veios de clorita
- Veios K-feldspato
~ Veios a pirita e/ou catcopmtlll
D Tufo clneritico
D Thfo cineritico feldspatizado I
Grãos pirita/calcopirita
Grãos de K-feldspato
Grãos de clorita
FUROBJ39
lm I
Agura 6 a) Esquema do furo estéril 8134 da CPRM nas profundidades amostradas por Guimarães (2007).
Os dados de 130m a 145m foram compilados de Seer (1985); b) Esquema do furo mineralizado 8139 da
CPRM nas profundidades amostradas por Guimarães (2007).
notável na sondagem BJ 14, onde um veio de apro mum próximo das paredes das vênulas, e epidoti
ximadamente um metro de espessura de sulfetos zação junto a veio de actinolita e albitização (Gui
causa uma alteração de até três metros na encai marães 2007) . As zonas de alteração geralmente
xante acompanhada de intensa brechação. Neste são uniformes, mas podem ter contornos irregu
local as lamelas de hematita chegam a atingir 1 lares . Por fim, as vênulas estére is, preenchidas
centímetro de comprimento. Além da silicificação apenas por quartzo, não apresentam feições de
foram observadas cloritização, embora mais co alteração visível nas encaixantes.
157
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre VMS de Bom Jardim de Goiás
Figura 7 A) Aspecto das vênulas em afloramento; B) vênulas mineralizadas com sulfetos (Py pirita e Cpy
calcopirita; sil silicificação) em testemunho de sondagem destacando se coloração esbranquiçada devido
a alteração hidrotermal da encaixante; C) alteração hidrotermal nas proximidades de vênula mineralizada
podendo se notar intensa silicificação e crescimento de anfibólios (Anf); D) Brecha em tufo cineritico, inten
samente silicificada; E) hematita (Hem) formada por alteração hidrotermal em bordo de veio mineralizado
com sulfeto; F) Grão de pirita com inclusão de calcopirita e calcopirita alterada para covelita (Cov); 7) agrega
do de calcopirita com grãos de pirita; 7H) agregado de calcopirita e pirita com destaque para grão de ouro.
Fotos de H.J. Seer (7A a 7F) e de S. B. Guimarães (Fotos 7G e 7H).
158
Hildor José Seer, Stella Bijos Guimarães, Márcia Arão Moura & Ariplinio Antônio Nilson
3 metros, e em brechas (Fig. 7D). Dentre os sulfe copirita. A ilmenita forma lamelas e grãos euédri
tos e óxidos a pirita é o mineral mais abundante. cos disseminados, comumente associada à hema
Geralmente é subédrica e mais raramente euédri tita, enquanto o rutilo, arredondado, ocorre dis
ca. Ocorre de modo isolado em disseminações nos seminado. O ouro foi identificado como raros grãos
tufos, como grãos euédricos a subédricos de 0,1 anédricos menores que 0,2 mm e incluso em pirita
a 0,4 mm, ou então como massas onde não se (Seer 1985; Guimarães 2007) (Fig. 7H). Quartzo,
consegue individualizar os grãos. Quando maciça actinolita, clorita, biotita, calcita e epidoto associ
apresenta muitas fraturas irregulares que são am se intimamente aos sulfetos e óxidos, mos
geralmente preenchidas por calcopirita, hematita trando contatos interpenetrados.
e silicatos (quartzo e clorita). Texturas poiquilíti Análises por microssonda eletrônica realizadas
cas dadas por inclusões de silicatos, magnetita, por Guimarães (2007) revelam que a pirita tem va
pirrotita, rutilo e calcopirita são comuns na pirita lores de As entre 0,01 e 0,05%, Cu de 0,03 a
(Fig. 7F). 0,15%, Ag de 0,01 a 0,05%, Zn de 0,01 a 0,09%,
A calcopirita, segundo sulfeto mais abundante, enquanto valores de Pb e Au são nulos. A pirita
é geralmente anédrica, com 0,02 a 0,2 mm de diâ maciça quando ocorre em contato com calcopirita,
metro (Figs. 7F, 7G e 7H), e forma agregados que apresenta teores de 1 a 2,3% de Co e até 1% de
preenchem ora os espaços intergranulares, ora fra Ni. A presença de Co na pirita também foi verifica
turas em pirita ou então ocorre como inclusões em da em espectro EDS em microscópio eletrônico de
pirita e pirrotita. Também pode ser maciça em vei varredura. As análises em calcopirita apresentam
os e com inclusões de pirita, hematita e pirrotita. valores de As entre 0 e 0,05%, Ag de 0,01 a 0,02%,
Mostra se, às vezes, alterada para covelita, que Zn entre 0,03 e 0,07%, Ni de 0 a 0,3%, Co de 0 a
forma auréola azulada em torno dos grãos de cal 0,06% e Mn de 0 a 0,16%, enquanto os valores
copirita (Fig. 7F). Este processo ocorre em fratu de Pb e Au são nulos. Análise de microssonda ele
ras e disseminações, e não é observado quando trônica em um grão de ouro revelam teores de Ag
a calcopirita está inclusa em pirita. Inclusões de de até 42,78% e Au de até 56,43%, com valores
silicatos são mais abundantes na calcopirita do que menores de S, Bi, Fe, Cu e Pt. Por possuir mais de
na pirita. Do mesmo modo o intercrescimento en 25% de Ag é classificado como electrum.
tre silicatos e calcopirita é mais nítido do que en As análises químicas do minério mostram que o
tre pirita e silicatos. Raras inclusões arredonda Cu varia de 315 a 10000 ppm e confirmam o alto
das e diminutas de esfalerita, pirita e magnetita teor em Co (804 a 3720 ppm) e Ni (112 a 340 ppm)
ocorrem no interior da calcopirita. A esfalerita tam verificado através de microssonda na pirita. Os te
bém ocorre nas bordas da pirita (Guimarães 2007). ores de Au no minério variam de 26 a 1317 ppb.
Pirrotita é menos comum no depósito, mas está Com relação aos ETR três amostras de minério
presente como inclusões na pirita, por vezes acom exibem enriquecimento dos ETRL em relação aos
panhada por calcopirita, intercrescida com silica ETRP e anomalia negativa de Eu, de modo similar
tos nas bordas de vênulas e como disseminações ao que ocorre nas análises dos tufos encaixan
nas zonas de alteração. Como grãos de 0,05 a tes. No entanto, uma análise não mostra este com
0,4 mm, a magnetita é euédrica a anédrica, inclu portamento embora com anomalia negativa de Eu
sa em pirita, calcopirita e silicatos, mas predomina (Guimarães 2007).
como disseminada nas rochas hospedeiras. Em
suas bordas pode estar substituida por hematita. Modelo genético
Esta forma grãos euédricos, lamelares com até 1
cm de comprimento, maclas polissintéticas e abun Os dados apresentados permitem enumerar as
dantes reflexões internas vermelhas e é comum seguintes características para o depósito de co
tanto no interior de veios/vênulas como nas zo bre de Bom Jardim de Goiás: minério hospedado
nas de alteração das encaixantes. Outras vezes em rochas vulcânicas piroclásticas, de composição
ocorre como grãos anédricos a subédricos, meno intermediária, cálcio alcalinas, com assinaturas
res que 0,5 cm, disseminada nos tufos, preenchen geoquímicas e isotópicas de arco vulcânico, asso
do fraturas em pirita, junto com calcopirita, ou como ciadas a lâminas de chert e sequência de basalto/
agregados irregulares. Muitas vezes está corroí andesitos com estruturas pillow e pillow brechas,
da por silicatos ou intercrescida com estes e cal tufos básicos e rochas piroclásticas ácidas e cor
159
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre VMS de Bom Jardim de Goiás
160
Hildor José Seer, Stella Bijos Guimarães, Márcia Arão Moura & Ariplinio Antônio Nilson
Quebec, Canadá (Gibson 1979). Outro aspecto que Marques V.J., Guimarães M.T., Costa S.A.G. 1980.
Aplicações de estudos petroquímicos à pesquisa
pode ser investigado refere se à alteração hidro mineral de suítes vulcanogênicas em Bom Jardim
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tos. Neste caso, também é recomendável uma in Oliveira I.W.B. 2000. Cobre de Bom Jardim – Estado de
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P r o j e t o B o m J a r d i m - M o i p o r á . Trabalho de
Graduação, Universidade de Brasília /Projeto
Rondon, 59p.
161
CAPÍTULO VIII
Abstract The Camaquã Mine (Cu-Au-Ag) is located in southern Brazil and hosted by the Neopro-
terozoic volcano–sedimentary sequence of the Camaquã basin. In that deposit, the sulfide ores are
mainly fracture-controlled and also disseminated in the matrix of siliciclastic sequences. The Cama-
quã deposits produced 171.396 t Cu, 4,5 t Au and 338 t Ag and consist of NW veins, stockworks and
disseminated ores with chalcopyrite, pyrite, bornite, chalcocite, gold, silver. Chlorite, white mica,
quartz, albite, carbonate and later barite and hematite are the main gangue minerals. The ore lodes
are enclosed in conglomerates and sandstones. Geothermometry from previous studies show depo-
sition temperatures within the hydrothermal field (maximum of ca. 215 to 300 °C). Previous results
34
of δ S of sulfides show a homogeneous composition, with values around 0‰ (Camaquã), which
indicate a magmatic origin for the sulfur. The δ13C PDB of calcite from gangue and cement of Camaquã
(–2.47) and the neighbours, Santa Maria (–0.43 to –2.85) and Cerro dos Martins (–1,90 to –4,45%)
deposits are interpreted as having originated from mixing sources: magmatic fluids contaminated
by basement marbles from Vacacai unit. Sr-isotope composition from the least radiogeneic sulfides
of Camaquã (0.7087) show values very close to the gangue carbonate (0.7082) that overlap the
values of Cerro dos Martins carbonates (0.7068 to 0.7087) and are consistent with an origin by
mixing of hydrothermal fluid and remobilizations from basement marbles. The Pb and Nd isotope
composition of ores would be derived from mixing between magmatic fluid and basement metamor-
phic/sedimentary rocks fluids. The 535 to 474 Ma (K-Ar in mica/ilite from gangue in Camaquã) age
of the mineralization indicated in previous contributions are interpreted as the minimum age of
deposits. Thus, the mineralization is coeval and related to a shoshonitic to alkaline magmatic event
that occurred around to 545 Ma.
Keywords: copper deposit, hydrothermal system, veins, disseminations, red-bed hosted, Camaquã
Mines, Brazil
165
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Cobre das Minas do Camaquã, Rio Grande do Sul
1948, os Engsº. Nero Passos e Victor Leinz des sedimentos ativos de corrente, solo e rocha, o que
cobrem novo filão e, a partir de então, ambos os resultou na descoberta do depósito de Pb e Zn
filões passaram a se denominar de Mina Uruguai denominado de Jazida Santa Maria (JSM) distante
e Mina São Luiz e o local recebeu a denominação cerca de 3km a SSW das Minas do Camaquã.
de Mina Camaquã (Fig. 1). Em 1979 foi contratada a empresa Paulo Abib
A partir de 1957 estudos geológicos e de as Anderi, quando a mineração e a concentração fo
sistência técnica foram desenvolvidos pelo Depar ram modernizadas e ampliadas, e as reservas das
tamento Nacional de Produção Mineral DNPM, Uni Minas do Camaquã recalculadas em 28.400.000t
ted States Geological Survey USGS, CBC e Mit com um teor de 1,05% Cu. No final de 1981 foi
subishi Metal Mining Company e entre 1958 e 1965 retomada a produção de cobre e em 1988 a CBC
o DNPM executou sondagem na área. A Geotemi foi privatizada. Em 1996 as atividades de lavra
Geologia e Técnica de Mineração Ltda, a partir de foram novamente paralizadas (Fig. 2).
dados de sondagens do período CBC Mitsubishi cal No decurso do período da existência das Minas
culou reservas de 5.280.000 t a 2,11 % Cu. do Camaquã conheceu se que o minério de Cu
Em fevereiro de 1971 foi inaugurado o poço São está associado a rochas plutono vulcano sedimen
Luiz até o nível 700 (210m), a nova usina de força tares do Neoproterozóico Eopaleozóico do Rio
e o novo engenho para concentrar minérios com Grande do Sul, representadas nas rochas da Ba
capacidade para tratar 50.000 t/mês. cia do Camaquã e granitóides contemporâneos. O
Bettencourt (1972) atualizou o conhecimento minério foi extraído em duas minas subterrâneas
geológico das Minas do Camaquã e informou a pro (São Luiz e Uruguai) e eventualmente de uma pe
dução com cerca de 25.000 t de Cu até aquela data. quena mina a céu aberto, denominada Zona In
A reserva inferida e prevista até os níveis 1.200 termediária (Fig. 3).
pés das Minas São Luiz e Uruguai alcançou cerca A lavra subterrânea foi realizada por shrinkage
de 17 milhões t com os teores de Cu entre 1 e 1,5%. stoping utilizando um espaçamento médio de 30m
Entre 1955 e 1974 a produção das Minas do entre os níveis. Durante esta etapa foram produ
Camaquã atingiu 3.330.304 t de minério ou 41.918 zidas 3.500.000 t de minério com um conteúdo de
t de Cu contido (Gavronski 1975). 44.000 t de Cu. Em 1981 o minério passou a ser
A produção foi paralisada em 1975 pela trans extraído a céu aberto e subterrânea, onde a lavra
ferência do domínio acionário da CBC ao Banco Na a céu aberto situa se na parte superior da Mina
cional do Desenvolvimento Econômico BNDE, Uruguai e a subterrânea com método sublevel sto
quando foi contratada a DOCEGEO Vale do Rio ping, com painéis de 60m de altura e dois subní
Doce, Geologia e Mineração para realizar pesqui veis em média, continuou por setores da Mina São
sas na área, o que que resultou em nova cuba Luiz e posteriormente na Mina Uruguai (Fig. 4). As
gem de 18.000.000t com 1,55% Cu. dimensões finais da cava são de aproximadamen
Em 1978, DNPM/CPRM executaram um furo es te 900m de comprimento; 400m de largura e altu
tratigráfico com 1200m nas Minas do Camaquã. ra de 250m. As bancadas possuem 10m de altura.
Em outubro de 1978 a CBC iniciou as sondagens A quantidade de minério de Cu extraído consta da
sobre anomalias geoquímicas de Cu, Pb e Zn em Tabela 1. Os subprodutos extraidos foram Au e Ag
Tabela 1 Demonstrativo das reservas mineradas das Minas do Camaquã. Fonte: CBC Companhia Brasileira
do Cobre.
166
João Angelo Toniolo, Marcus Remus & José Luiz Reischl
167
Modelos de Dep6sltos Br asileiros de Cllbre Dep6slto de Cllbre das Minas do Camaquã, Rio Grande do Sul
com 4,5 t de Au com teor de 0,2 g/t e 338 t de Ag cerca de 130 km segu ndo NW SE e 120 km na d i
com teor de 15 g/t. reção NE SW, assentados sobre terrenos ígneos
e metamórficos do Escudo Sul riograndense e para
CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL Almeida (1969 ) representam o estág io de transi
ção da plataforma Brasileira . Rochas sed imenta
As unidades sed imentares e vulcanogênicas da res da Bacia do Paraná cobrem a Bacia do Cama
Bacia do Camaquã afloram descontinu amente por quã ao norte, oeste e sul. No leste, a Bacia do
Camaquã está em contato normal e por falha com
rochas do seu embasamento, representadas pelo
Complexo Metamórfico Porongos.
O embasamento Pré Cambriano da Bacia doCa
maquã possu i diferentes segmentos crustais se
parados por g randes traços estr uturais (Ribeiro &
Fantinell 1978, Fragoso Cesar 1982, Jost & Hart
mann 1984, Soliani Jr. 1986, Costa 1997, Paim et
ai. 2000r Hartmann et ai. 2007) .
Hartmann et ai. ( 2007) interpretam a evolução
pré cambriana do estado num contexto de inter
relações de placas tectônicas no Neoproterozói
co, onde o escudo é o resultado dos processos de
geração e deformação de crosta continental, cuja
contribuição maior ocorreu em dois ciclos orogêni
Figura 2 Vista atual da Mina Uruguai. As bancadas
têm 10 m de altura. cos, o Transamazônico ( 2, 26 2,00 Ga) e o Brasília
266500 267000
MINAS DO CAMAQUÂ
LEGENDA
Q, CAVA
""'~. NV SL -64
NVSL 170
~~--~~~------------~+--~~u~1=72~----~s
"""' NV u -64 I
- AAMPA DE UGAÇAO
SL-U
e POÇO (SHAFT)
}:> BOCA DA MINA
COOftOEHADAS UTM
DIJUM CÓRRfGOALEGRE· ZH 22
266000 267000
Figura 3 Localização dos diversos níveis e setores das Minas do Camaquã mostrando a distribuição espacial
das áreas mineradas.
168
João Angelo Toniolo, Marcus Remus & José Luiz Reischl
no (900 535 Ma). ao longo dos anos para a Bacia do Camaquã. Con
O anteparo Arqueano de co lisão do prime iro temporaneamente com a Bacia do Camaquã ocor
ciclo orogênico não está registrado no estado, mas re um pluton ismo granítico alcal ino a subordina
os processos orogên icos do Neoproterozóico ti damente shoshonitico a cá lcio alcalino de idade
veram como referencial o continente antigo, cujos entre 545 e 594 Ma .
fragmentos remanescentes constituem o atual Crá A Bacia do Camaquã foi preenchida e deforma
ton La Plata. Fragmentos remanescentes do Crá da durante as fases tardias da Orogenia Brasília
ton La Plata estão expostos na porção sudoeste na e diversas propostas de evolução geológica são
e oeste do Rio Grande do Su l (Fig. 5) e consistem sintetizadas na Tabe la 3.
no Terreno Taquarembó, como o Comp lexo Granu Formação Maricá é a unidade mais antiga (ca.
lítico Santa Maria Chico e no Terreno Tijucas, com 620 Ma) e é a seqüência basal da Bacia do Cama
ortognaisses do Complexo Encantadas. No Batóli quã . É composta de aren itos, aren itos cong lome
to Pelotas, ocorrem os septos do embasamento, ráticos com estratificação cruzada acanalada e lo
com destaque para os ortognaisses do Complexo cais conglomerados interpretados como de canais
Arroio dos Ratos e os paragnaisses do Complexo entre laçados e de planície fluvial; ritmitos areno
Várzea do Capivarita. sos tabu lares e heterolíticos, ritmitos arenosos e
No Neoproterozóico, o escudo é descrito em ter pelíticos, interpretados como de ambiente de pia
mos de Terreno São Gabriel (juvenil, idades mo taforma marinha (Ribeiro 1983, Paim et a/. 2000,
delo Nd semelhantes às idades dos zircões ígne Pelosi 2005). Seus fragmentos são caracterizados
os), Terreno Tijucas (metavu lcânicas, idades mo por elevado grau de maturidade textura! e estu
delo Nd ma is antigas que as idades dos zircões dos de proven iência, paleocorrentes, petrográfi
ígneos) e Batólito Pelotas (retrabalhamento crus cos e geocronológicos dos fragmentos da fração
tal, idades modelo Nd muito mais antigas que as ca lhau desenvolvidos por Pelosi (2005), revelaram
idades de zircões ígneos). Todas essas unidades que as principais áreas fonte da un idade Maricá
fazem parte do Cinturão Dom Feliciano, formado eram granitos, tonalitos e milon itos graníticos do
no Neoproterozóico. Arqueano e Paleoproterozóico . Estudos petrográ
As Minas do Camaquã estão hospedadas por ficos combinados com dados isotópicos Sm Nd in
uma sequencia sed imentar do Eodicariano Neopro dicaram áreas fonte com idades modelo paleopro
terozóico denominada de Formação Arroio dos No terozóica dominante (Borba 2006).
bres do Grupo Bom Jard im, que é parte da Bacia Formação Hilário Diversos autores descreve
do Camaquã. O posicionamento estratigráfico da ram e propuseram diferentes conotações estrati
Formação Arroio dos Nobres consta da Tabela 2, a gráficas para a Formação Hilário, a qual consiste
qual mostra as diversas propostas estratigráficas de rochas vu lcânicas básicas e intermediárias, pi
Cotas sw NE Cotas
300 MINA URUGUAI MINA SÃO LUIZ 300
3
200 200
5
100 100
o .Q_
4
-100 -100
-200 -200
-300 -300
Figura 4 Perfil esquemático das Minas Uruguai e São Luis com as respectivas galerias da mina subterrânea
e da cava a céu aberto.
169
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Cobre das Minas do Camaquã, Rio Grande do Sul
Figura 5 Mapa geológico do sul do Brasil e Uruguai, mostrando as principais unidades tectono estratigráfi
cas e estruturais (fonte: Hartmann et al. 2007).
170
João Angelo Toniolo, Marcus Remus & José Luiz Reischl
Gil & Sander (2007). Foi adicionada o trabalho de Wildner et al. (2008)
Tabela 2 – Principais propostas estratigráficas para as coberturas sedimentares e vulcano-sedimentares da Bacia do Camaquã, reproduzido de Toniolo,
roclásticas e sedimentares (pelitos e arenitos fi
nos rítmicos gerados em ambiente de pró delta
lacustre) desenvolvidas em meio subaquático e su
baéreo (Ribeiro & Lichtenberg 1978, Lima & Nardi
1992, Lima 1995). Datações radiométricas Ar Ar
em andesito e U Pb em zircões de lapilli tufo inter
mediário a básico, mostram que a unidade data
de ca. 590 Ma (Janikian 2004). A afinidade geo
química desta unidade varia de shoshonitica a al
calina (Lima & Nardi 1992, Toniolo et al. 2004) .
Formação Acampamento Velho Esta unidade
é composta de rochas vulcânicas e vulcanoclásti
cas subaéreas de afinidade alcalina (Sommer 1994,
2003, Wildner et al. 1999), com espessura superi
or a 600 m na sua área tipo. Na base inicia com
ignimbritos que transicionam para camadas tabu
lares e maciças de lapilli tufos e brechas compos
tas por fragmentos de rochas vulcânicas ácidas.
Estes estão cobertos por riolitos e no topo ocor
rem lapilli tufos retrabalhados e andesitos (Janiki
an 2004). Idades U Pb em zircões geraram valo
res de 549Ma.
Formação Arroio dos Nobres A unidade é cons
tituída por ruditos ricos em matacões e seixos de
rivados do embasamento cristalino e psamitos com
estratificação rítmica, ambos avermelhados, con
tendo material vulcânico em quantidades subor
dinadas. Nas Minas do Camaquã estas rochas se
alternam em espessas cunhas de flisch e estão
dobradas em anticlinal fechada. As rochas expos
tas em hogbacks contêm importante mineralização
cuprífera.
Membro Rodeio Velho Andesitos vesiculares
sem evidências de atividade piroclástica que ocor
rem a leste e a sul das Minas do Camaquã foram
atribuídas por Ribeiro et al. (1966) a um evento
vulcanico distinto daquele da Formação Hilário e
denominadas de Membro Rodeio Velho da Forma
ção Santa Bárbara (Tabela 2).
Estudos geoquímicos indicaram que estas ro
chas possuem afinidade alcalina e idades Ar Ar em
rocha total de amostra de basalto fanerítico fino
de 535,2 ± 1,1 Ma (Almeida et al. 2001, 2005).
Corpos de quartzo diorito intrusivos nas rochas
vulcânicas e sedimentares da Formação Hilário, en
caixantes do Depósito de Cu do Cerro dos Mar
tins, geraram idade Pb Pb por evaporação de zir
cão de 550 ±5 Ma Toniolo et al. 2004).
Intrusivas básicas e ultrabásicas Diques de
olivina gabro de afinidade alcalina e que cortam
rochas da Bacia do Camaquã estudados por Viei
171
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Cobre das Minas do Camaquã, Rio Grande do Sul
Tabela 3 Classificação baseada na Tectônica de Placas para a Bacia do Camaquã, como proposta por Paim et
al. (2000) e complementado por Toniolo et al. (2007).
ro (1998) e geraram idade K/Ar em rocha total chas da bacia do Camaquã. Outros são sin tectoni
e concentrados de plagioclásio de 137 a 123 cos e marcam períodos de atividade transcorrente,
Ma, coincidente com as idades do vulcanismo como o Granito Caçapava (562 Ma).
da Bacia do Paraná. Um dique corta os corpos
de minério da Mina São Luiz com metamorfismo PRINCIPAIS TRAÇOS ESTRUTURAIS DA REGIÃO
de contato e gerou a idade K Ar de 106 + 10Ma
(Bettencourt 1972). Estudos estruturais foram realizados sobre o Es
Plutonismo contemporâneo à Bacia do Ca- cudo Sul riograndense por diversos autores (Ribeiro
maquã Um plutonismo de afinidade alcalina a et al. 1966, Passos & Ribeiro 1966, Tessari & Picada
shoshonitica, subordinadamente cálcico alcali 1966, Picada 1971, Jost et al. 1984). Estudos na área
na, em parte contemporâneo com a Bacia do das Minas do Camaquã por Passos & Ribeiro (1966)
Camaquã é representado pelos granitos Caça mostram que as principais estruturas da região são
pava do Sul, São Sepé, Lavras do Sul, Santo falhas N30º 45ºE com mergulhos acentuados para SW
Afonso, Jaguari, Ramada, Cerro da Cria e o Sie que se extendem por e centenas de km e com largu
nito Piquirí (Fig. 6). O plutonismo ocorreu no ras entre algumas centenas de m a poucos km, com
intervalo entre 594 a 545 Ma (Sartori 1978, So deslocamentos horizontais da ordem de 5 a 10km.
liani Jr. 1986, Nardi & Bonin 1991, Chemale Jr. Para Passos & Ribeiro (1966) as falhas NW são re
et al. 1995, Remus 1999, Remus et al. 2000). presentadas por fraturas tensionais e o entrecruza
Alguns corpos possuem zonação química mento de falhas N30º 40ºE e N60º 70ºW coincide
dada por núcleo shoshonítico e borda alcalina, com a localização dos depósitos cupríferos do Cerro
como o Granito Lavras (ca. 594 Ma), ou núcleo dos Martins e das Minas do Camaquã. A Formação
cálcico alcalino e borda alcalina, como o Grani Arroio dos Nobres aflora nestas duas áreas devido
to São Sepé (550 558 Ma). Os corpos são epi ao soerguimento e erosão da Formação Guaritas. Por
zonais, com metamorfismo de contato nas ro outro lado, Tessari (1965) interpreta as falhas NE
172
João Angelo Toniolo, Marcus Remus & José Luiz Reischl
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Figura 6 Mapa geológico parcial e simplificado do Escudo Sul riograndense com as rochas graníticas
contemporâneas ao Grupo Bom Jardim da Bacia do Camaquã e as principais ocorrências de minerais metálicos.
Modificado de Wildner et a/. (2008).
173
Modelos de Depósitos Brasileiros de C:Cbre Depósito de Cobre das Minas do Camaquã, Rio Grande do Sul
rochas encai xantes, sem a presença de chapéu sigmoidais e no topo siltitos com fendas de resse
de ferro (Teixeira 1941). A elevação, ou Janela Bom camento (Fig. 8). O arenito g radaciona para o Con
Jardim, está circundada por rochas sed imentares glomerado Superior, o q ual tem de 220 a 250m de
horizontais a subhorizontais mais jovens da For espessura e consiste de bancos alternados de con
maç~o Guaritas, Gr upo Camaqu~ , em discordân glomerado e arenito, marrom ave rmelhados, em
cia angular sobre as rochas do Grupo Bom Jardim . bora esverdeado nas zonas mineralizadas . O con
As sequencias sed imentares da Janela Bom Jar glomerado é grosso a méd io, mal selecionado, com
dim estão estr uturadas em anticlinal (Gavronski clastos de tamanho variável, mas de até l ,SOm
et a/. 1964) com flancos de mergulhos variáveis e de diâmetro e méd ia em torno de 15 a 20 em e é o
núcleo parcialmente desventrado e que expõe are principal hospede iro do minério. Os clastos de an
nitos, silt itos e arg ilitos da Formação Maricá . As desito e riol ito, de diâmetro entre 0,5 e 3,Scm e,
falhas da área compree ndem dois sistemas prin assim como no Conglomerado Infe rior, possuem
d pais, um de direção N200 300E e outro N4SO 700 cristais de pirita e/ ou calcopirita, em particular os
W, coincidente com as estruturas mineral izadas na de riolito . O Arenito Superior (500 a 600m ) ocorre
área das Minas (Teixeira et a/. 1978). a NW das minas, é estéril e consiste de a renitos
Desde Leinz & Almeida (1941), diversos auto finos a médios, com intercalações milimétricas a
res descrevem as rochas encaixantes das Minas centimétricas síltico argilosas com marcas ondula
do Camaquã (Figs . 1 e 7), em particular Teixeira et das assimétricas e fendas de ressecamento.
a/. (1978), Badi (198 3), Faccini etal. (1987 ), Teixei O conjunto é int erpretado como produto da de
ra & Gonzales ( 1988) e Ribeiro ( 1991). Os autores posiç~o em um sist ema de leques aluviais e planí
subdividem a Formação Arroio dos Nobres, hos cies deltaicas.
pedeiras do minério, em cinco horizontes que, da Segundo Veigel (1989), os clastos do arcabou
Cotas sw NE Cotas
300 300
200 200
100 100
Conglomerado Superior
o Arenito Intermediário o
-100 Conglomerado Inferior ·100
-200 -200
Arenito lnfenor
-300 -300
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João Angelo Toniolo, Marcus Remus & José Luiz Reischl
ço dos conglomerados da Formação Arroio dos Formação Guaritas geraram as idades de 550 Ma
Nobres compreende granitos, vulcânicas ácidas a e 525 Ma, repectivamente (Benhome & Ribeiro
intermediárias, milonitos, gnaisses, xistos, filitos, 1983). A estes dados se somam resultados inédi
quartzitos, quartzo, feldspato e intraclastos, com tos de análises U/Pb em zircões detríticos execu
predomínio dos blocos e matacões de rochas íg tadas pelo autor em duas amostras (MC 02 e MC
neas, grânulos e seixos de rochas sedimentares 03) de arenitos coletados na cava das Minas do
e metamórficas. A matriz é arenosa arcoseana. Os Camaquã, encaixantes do minério filoneano cupro
arenitos intercalados aos conglomerados e as ca aurífero.
madas turbidíticas mais distais têm composição A amostra MC 02 é de arenito fino arcoseano
bastante similar. Dentre os minerais detríticos des cortado por veios com sulfetos e barita e a MC 03
tacam se a muscovita e a biotita em avançado grau de arenito esverdeado, fino a médio, arcoseano,
de cloritização, e dentre os minerais pesados es maciço de zona rica em hematita. Foram datados
feno, zircão e opacos. A fração argilosa dos peli 54 grãos da amostra MC 03 e 58 da amostra MC
tos intercalados em arenitos e arenitos conglo 02, dos quais, descartaram se de cada amostra 8
meráticos, ou que participa da sua matriz, é cons e 22 análises, respectivamente, por serem discor
tituída de illita e clorita de alta cristalinidade. dantes.
Nos arenitos, o contato entre grãos varia de As idades dos grãos válidos variaram do Neo
flutuante a pontual até lateral e seu empacota arqueano ao Neoproterozóico (Figs. 9 e 10). Os
mento é homogêneo e varia de frouxo a normal grãos mais jovens datam de 567±6, 566±6 e
(Lima 1998). Nestas rochas é comum a presença 554±5 Ma e são, portanto, do Ediacariano e limi
de argilas de infiltração. O cimento ocorre na for tam a idade máxima do processo mineralizador das
ma de sobrecrescimentos de quartzo e feldspa Minas do Camaquã.
tos, carbonatos posteriores as cloritas e dissemi
nações de calcopirita, pirita, calcosita, bornita, he DESCRIÇÃO DO DEPÓSITO
matita especular e provável wittchenita. Segundo
Laux (1999), o padrão de ETR dos arenitos encai Ribeiro (1991) descreve dois tipos de filões nas
xantes da mineralização indica sedimentos evolu Minas do Camaquã. Um consiste de filões maci
ídos e bastante trabalhados e a anomalia negati ços, comuns na mina São Luiz, caracterizados por
va de Eu fonte granítica. contatos bruscos com a rocha encaixante, ausên
As rochas vulcânicas da Janela Bom Jardim es cia de ação térmica sobre a mesma e compostos
tão concordantemente intercaladas nas sedimen por pirita, calcopirita ou calcosina, quartzo, hema
tares e contêm mineralização sulfetada e feições tita e rara barita. Outro é representado por filões
de englobamento de porções de sedimentos pe com predomínio de calcosita e bornita em ganga
las lavas (Ribeiro 1991). A interação lava sedimen de hematita e quartzo, característicos da Mina Uru
to é descrita e interpretada como peperitos (Toni guai, os quais se ramificam para o interior da ro
olo et al. 2007).
A anomalia de potássio das rochas hospedei
ras das Minas do Camaquã corresponde a uma
possível e forte zona de alteração hidrotermal as
sociada à formação do minério de cobre. Entre
tanto, Ribeiro & Araújo (1982) concluiram que a
anomalia deve se à diagênese anterior à minera
lização, com o crescimento secundário e a evolu
ção de esmectitas para illita.
DADOS GEOCRONOLÓGICOS
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Modelos de Dep6sltos Brasileiros de Cobre Dep6slto de Cobre das Minas do Camaquã, Rio Grande do Sul
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João Angelo Tonlolo, Marcus Remus & José Luiz Re/schl
portamento mais regular, em associaçao com zo Os planos de falha contêm cataclasitos e bre
nas ricas em bornita ou calcosita. chas, indicativos de espaço aberto. A largura dos
cataclasitos varia desde poucos centímetros até
Controles do d epósito decímetros e a das brechas atingem vários me
t ros. O mergulho dos planos de falha varia entre
Os filões cortam conglomerados e arenitos . Os 400 e 900, sendo mais frequentes 6QO a 800 . Es
corpos mais significativos são hospedados por con trias de deslizamento possuem caimento entre soo
glomerados, têm possança entre 30 e 50 em (Tei e 900. Rejeitos significativos entre blocos de falha
xeira & Gonzalez 1988) e, do ponto de vista eco de até algumas dezenas de metros são relativa
nôm ico, são a principal mineralização. Estudos de mente frequentes. As falhas são normais e esca
Bettencourt (1972) mostram que na Mina São Luiz lonadas, mas algumas são reversas como a Falha
predom inam do is sistemas de falhas e fraturas, Piritas de atitude NSSOE,3SONW, a qual corta os
um N200W,810NE e outro N700W,SQONE que cor filões da Mina Uruguai, com cavalamento de norte
tam acamamento de atitude N43oE,300NW (Fig. para sul.
12) e, na Mina Uruguai possuem atitude O controle estrutural é definido pela intersec
Nsoow,7oosw e cortam acamamento N44oE, ção de falhas e ramificações dos filões (Betten
320NW e N700E,4SONW (Fig . 13). court 1972). Os filões no interior das falhas são
- Contato
Aranilá
mldlo A o 20 ....
4w \ eo-
Rgura 12 Geometria e distribuição dos corpos de minério de filão da Mina São Luiz (modificado de Betten
court 1972).
Figura 13 Geometria e distribuição dos corpos de minério em filão da Mina Uruguai (modificado de Betten
court 1972).
177
Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Cobre das Minas do Camaquã, Rio Grande do Sul
descontínuos, com alternância de zonas com diss tituído de finas pontuações ou pequenos bolsões
seminação de sulfetos, brechas e veios maciços. calcosita, bornita ou calcopirita e pirita distribuí
O aumento da espessura dos veios ocorre nas zo das ao longo das superfícies de estratificação de
nas onde o mergulho das falhas é mais pronunci conglomerados e arenitos. Os teores de cobre das
ado e nos conglomerados. disseminações são, em geral, baixos (0,10% a
O controle litológico é influenciado pelas carac 0,30% Cu).
terísticas físicas das rochas encaixantes. Minério Na Mina Uruguai o minério é composto de dez
disseminado ocorre em níveis litológicos cuja per veios subparalelos com mais de 600m de compri
meabilidade permitiu a deposição de sulfetos e mento e até 2 m de espessura e sua característi
entre zonas brechadas pouco espaçadas. Assim, ca reside em intenso fraturamento que, no plano
os filões de minério desaparecem abruptamente horizontal, se estende por 600m de largura, mais
na passagem de arenito a conglomerado e, na de 1 km de comprimento e 700m de profundidade.
Mina São Luiz a mineralização se hospedou no Todas as falhas possuem brechas dispostas em
Conglomerado Superior e na Mina Uruguai no Are stockwork. Na porção noroeste da mina, mais im
nito Médio e no Conglomerado Inferior. portante economicamente, localizava se dissemi
nações de calcosina e bornita e filões maciços de
Geometria, dimensões, forma, tonelagem e teo- bornita, ao passo que na de sudeste ocorriam dis
res do depósito seminações de baixo teor com calcopirita e pirita
e filões de calcopirita com ganga de hematita e
Dados dos filões explotados no início do século quartzo.
passado, segundo Leinz & Almeida (1941) e Tei Na Mina São Luiz a área mineralizada abran
xeira (1941), estao sintetizados no Tabela 4. Os ge 700m de comprimento por 20m a 110m de lar
autores descrevem que os filões atingiam até 700 gura. As fraturas principais apresentam uma zona
m de comprimento e 4,0 m de largura e as zonas mineralizada atingindo 10 a 15m. Predominam fi
fraturadas e preenchidas por minério até cerca de lões de quartzo com calcopirita e, na porção noro
600 m de largura. este, com calcosina. O minério disseminado ocor
O minério ocorre principalmente em conglome re a sudoeste dos filões, principalmente no topo
rados e arenitos sob forma filoneana (Figs. 12 e do Conglomerado Inferior, com espessuras de 1 a
13). Lateralmente às fraturas que hospedam os 15m e é composto por calcosita (Teixeira & Gon
filões pode ocorrer minério disseminado, mas há zalez 1988).
zonas com disseminação de sulfetos sem aparen
te associação com filões (Teixeira et al. 1978, Tei Alteração hidrotermal
xeira & Gonzalez 1988).
O tipo filoneano consiste de: (i) bornita e cal Nas Minas do Camaquã, todas as rochas en
copirita maciças com até 60cm de largura, por ve caixantes das paredes dos filões estão alteradas
zes com filonetes de até 5 cm de largura de calco hidrotermalmente, efeito que se reflete pela mu
cita sobre bornita; (ii) hematita com calcopirita e dança da cor marrom ou rosa original dos areni
bornita; e (iii) quartzo com calcopirita com pouca tos e conglomerados para cores esverdeadas (Re
calcosita e rara bornita. O tipo disseminado é cons mus 1999) e é mais intensa nos conglomerados.
Tabela 4 Características dos filões. az azurita, ba barita, bn bornita, cb carbonato, cp calcopirita, cs calco
sina, cv covelita, mq malaquita, pi pirita, qz quartzo.
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Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Cobre das Minas do Camaquã, Rio Grande do Sul
Tabela 5 Composição de amostras das Minas Uruguai (MC) e São Luiz (MS): 01 arenito com filetes de
calcopirita e pirita; 02 arenito com hematita, calcopirita e pirita; 06 calcosina maciça com malaquita; 44
veio maciço de calcopirita e bornita no conglomerado; 62 veio de quartzo com pirita e calcopirita no conglo
merado; 81a veios e filonetes de calcopirita e bornita no arenito; 81b veios e filonetes de calcopirita e
bornita no arenito inferior; 103 filonetes de quartzo e calcopirita, hematita e clorita (Toniolo et al. 2007).
182
João Angelo To niolo, Marcus Remus & José Lu iz Reischl
crescente e concentração de Au incluso em calco ca mais próxima da razão inicial e que representa
pirita e bornita ou livre na hematita e próximo da o Pb mais primitivo do sistema plota junto as amos
pirita. O terce iro encerrou a mineralização com t ras de su lfetos da Jazida Santa Maria e que coin
ca lcita e barita. O geotermômetro clorita ind icou cide com sulfetos do depósito Crespos, encaixado
temperaturas entre 187° e 2870. em riolitos da Formação Acampamento Velho (Fig .
As inclusões flu idas em quartzo estudadas por 25). Isto ind ica que que os depósitos de Cama
Beckel (1992) e Lima (1998) indicam temperatura quã, Santa Maria e Crespos possuem fonte de Pb
máxima de homogeinização de 2220 C e pressão simi lar.
mínima em torno de 20 atm. A composição do flui As idades modelo Sm Nd do minério sulfetado,
do do possu i sali nidade entre 7,1 a 14 % NaCI inclu indo hematita, das Minas do Camaquã de 5
equ iv. e densidade de 0,95 a 1,10 g/cm 3 . Inclu amostras, mostraram valores TDM no intervalo de
sões fluídas em barita dos filões e das camadas 1,78 a 2,27 Ga com eNd( O) entre 17 e 23,5, indi
sed imentares estudadas por Benhome & Ribeiro cando fonte crustal antiga . Estes dados são con
(1983) geraram temperatura máxima de 50 600 C sistentes com os isótopos de Pb e ambos ind icam
(aná lises BRGM, cortesia M. Gon i eM. Le Bel 1983) que os metais do minério derivaram do embasa
e as estudadas por Bettencourt ( 1976 ) tempera mento Pré Cambriano .
tura de 200 800 C e sal inidade de 8 a 10% NaCI
equ iv., o que sugere que o estágio final de fratu Geocronolog ia
ramento e circu lação dos fluidos envolveu a mis
tura de soluções hidrotermais e água meteórica. Os prime iros dados geocrono lógicos sobre o
depósito de Cobre das Minas do Camaquã devem
I sótopos de Enxofre se a Benhome & Ribeiro (1983). Os auto res obti
veram dados K Ar de t rês amostras de caoli nita
Análises de isótopos de enxofre em pirita, cal situada entre um fi lão e a rocha encaixante e de
copirita e born ita rea lizadas por Remus (1999) ge duas amostras situadas em zona de percolação
raram valores de 83 4S 1,8 a +0,6 %, similares aos de água proveniente da superficie. Os dados ge
obtidos em estudos anteriors ( Bettencourt 1976, raram idades de 457 a 474 Ma nas amostras da
Beckel et a/. 1991). Estes dados ind icam, segundo borda do filão e na zona com infi lt ração de água,
Ohmoto & Rye (1979), que o enxofre é de origem idade ma is jovem de 401 ± 10 Ma . Laux (1999)
magmática. Por outro lado, dados de 83 4S de bari apresenta datações pelo método K/Ar obtidas por
ta tard ia e distai aos veios sulfetados do depósito Biondi (comunicação escrita) dos fi lões e dos ha
variam entre +10,3 e +14,0 %o (Bettencourt 1976), los de alteração . Clorita ao redor dos filões gerou
o que pode ind icar mistura de água marinha com a idade de 515 ± 12 Ma, sericita dos halos exter
enxofre magmático, mas também pode ser expl i 15,7. . - - - - - - - - - - - - - - - - - - - .
cado pela oxidação do fluido por queda de tempe
ratu ra e mistura de soluções quentes ascenden
++
tes com água meteórica fria. +
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Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Cobre das Minas do Camaquã, Rio Grande do Sul
nos de 538 ± 7 Ma e argila dos filões a idade de rochas sedimentares. As rochas vulcânicas inter
350 ± 8 Ma. caladas nos arenitos e conglomerados são ande
sitos de afinidade alcalina.
Efeitos do intemperismo Os dados metalogenéticos sobre os três depó
sitos mostram que as temperaturas de sua forma
A alteração supergênica nas Minas do Cama ção (215 a 300 °C) coincidem com o campo hidro
34
quã resulta da oxidação dos sulfetos. O minério termal, os intervalos de δ S dos sulfetos são ho
aflorante mostra manchas de alteração de cor ver mogêneos (Camaquã = em torno de 0‰, Santa
de da malaquita e crisocola (Fig. 26). A cuprita e o Maria = 7.1 a +1.1‰ e Cerro dos Martins = 6.2
cobre nativo ocorrem de 15 a 20m da superfície to +0.9 ‰), indicativos de enxofre magmático e
em bolsões de minério oxidado. A calcocita tem os de δ13CPDB de calcitas da ganga e cimento (Ca
ampla distribuição nas minas Uruguai, São Luiz e maquã = 2.47, Santa Maria = 0.43 a 2.85) e
Zona Intermediária, onde compõe a maior parte Cerro dos Martins = 1,90 a 4,45‰) indicam con
do minério, com comum covelita. Antlerita e bro taminação de fluidos magmáticos por mármores do
chantita cobrem os sulfetos oxidados juntamente embasamento da bacia. A composição isotópica do
com limonita (Bettencourt 1972). Sr dos sulfetos menos radiogênicos das Minas do
Camaquã (0,7087) é semelhante a da ganga de
MODELO GENÉTICO carbonato (0,7082) e se superpõe a dos carbona
tos do Cerro dos Martins (0,7068 a 0,7087) e são
Diversos modelos genéticos foram propostos consistentes com a mistura de fluidos hidrotermais
para explicar a origem do minério das Minas do com remobilização dos mármores do embasamen
Camaquã (Tabela 6). Os principais depósitos de to (Toniolo et al. 2004, Remus et al. 2008). A com
metais base e preciosos da região são Minas do posição isotópica mais primitiva do Pb dos sulfe
Camaquã (Cu Au Ag), Jazida Santa Maria (Pb Zn tos do sistema Camaquã Santa Maria coincide com
Ag) e Cerro dos Martins (Cu) e estão hospedados a do minério hospedado pelos riolitos da Forma
em rochas vulcano sedimentares do Grupo Bom ção Acampamento Velho (Prospecto Crespos) in
Jardim. O minério sulfetado dos três depósitos dicando que os metais provêm de fonte comum.
ocorre em fraturas e disseminações na matriz das
CRITÉRIOS PROSPECTIVOS
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João Angelo Toniolo, Marcus Remus & José Luiz Reischl
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Modelos de Depósitos Brasileiros de Cobre Depósito de Cobre das Minas do Camaquã, Rio Grande do Sul
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188
CAPÍTULO IX
Abstract In this chapter the authors describe the effects of lateritic weathering on primary Cu-Au
mienralization of three important Brazilian deposits, Chapada, in the State of Goiás, and Igarapé Bahia
and Salobo, in the Carajás Province. The text summarizes the results obtained by means of researches
undertaken by the authors and their published papers, as well as those presented in unpublished Masters
and PhD thesis. After a short description of the local geology and the primary copper mineralization of
each deposit, their respective regolith is described in terms of its outcrop characteristics, as well as of
their geochemical, mineralogical and micromorphological features. At the end, the authors present a
comparative analysis of the three deposits weathering features.
191
Modelos de depósitos de Cobre do Brasil Depósitos de Cu Au em Regolitos Lateríticos no Brasil: casos de Chapada, Igarapé Bahia e Salobo
la onde os outros minerais sofrem alteração intem comprimento por 800 m de largura e 260 m de pro
périca, resultando em regolitos também lixiviados fundidade. A corpo possui forma tabular, apresenta
em Cu apesar de não formar um perfil de gossan. se dobrado segundo uma antiforma aberta com flan
Em jazidas de cobre com ouro associado, o ouro cos mergulhando suavemente para SE e NW e eixo
apresenta um comportamento contrastante tendendo mergulhando também suavemente para SW (Cintra
a se concentrar no regolito devido sua baixa mobili 2003). Os reservas são de 319 Mt com 0,31% Cu e
dade geoquímica. Isto facilita sua lavra e metalur 0,21 g/t Au.
gia, dado a natureza friável do minério e o alto grau
de liberação do ouro. Aspectos Fisiográficos e Geomorfológicos
Neste capítulo apresentamos estudos de caso de
depósitos de Cu Au cobertos por regolitos lateríti Na região do depósito de Chapada predomina um
cos. Os casos apresentados das jazidas de Chapada clima tropical sazonal com precipitação média anual
e Igarapé Bahia são baseados em trabalhos de pes de 1500 mm, caracterizado por duas estações bem
quisa recentemente desenvolvidas pelos autores definidas. A temperatura média anual na região é
voltados para o estudo da distribuição geoquímica e de 23°C e a vegetação dominante é do tipo cerrado.
caracterização do regolito (Porto 2007, Benn & Por O relevo nesta região apresenta se suavemente on
to 2005, Menezes 2003). O caso apresentado de dulado com variações altimétricas em torno de 350
Salobo baseia se principalmente nos trabalhos de a 400 m acima do nível do mar sendo caracterizado
Toledo Groke et al. (1987, 1989, 1990) e Parisot et por extensos platôs lateríticos separados por am
al. (1990). Informações mais detalhadas acerca da plos vales resultantes de sua dissecação. Segundo
geologia dessas áreas e suas mineralizações primá estudos geomorfológicos realizados por Braun
rias constam dos Capítulos II (Guimarães et al.) e (1970), tendo por base os trabalhos de King (1956),
III (Kuyumjian et al.) deste volume. a laterização da área se deu provavelmente no final
do Mioceno, coincidindo com as fases de agradação
DEPÓSITO DE CU-AU DE CHAPADA do ciclo geomorfológico Velhas.
O depósito de Chapada esta associado à seqüên A produção desses mapas teve seu início nos ter
cia vulcano sedimentar de Mara Rosa, parte do arco renos lateríticos Australianos e constituem ferramen
magmático de Mara Rosa (Pimentel & Fuck 1992). A ta fundamental para o estudo da evolução da paisa
mineralização de Cu Au está hospedada em biotita gem e do regolito, além de servirem de apoio para a
xisto, muscovita biotita feldspato xisto e, subordi exploração mineral (Anand & Paine 2002). Na Aus
nadamente, a anfibólio xisto e biotita sericita xisto. trália Butt & Zeegers (1992) estabelecem três regi
A mineralização é composta por calcopirita, pirita e mes básicos do regolito que constituem as bases
magnetita, com ocorrência subordinada de bornita, para definir as principais unidades dos mapas de
calcocita, galena, esfalerita, hematita e molibideni regolito: regimes relictual, erosivo e deposicional.
ta. O ouro apresenta granulometria muito fina e ocor Na área de Chapada o mapa de regolito foi ela
re principalmente como inclusões na calcopirita, e borado considerando que os produtos dos proces
em menor quantidade no contato entre os grãos de sos de laterização mais intensos e duradouros, rela
sulfeto. Segundo Kuyumjian (1995) os sulfetos tam cionados ao ciclo Velhas, encontram se atualmente
bém podem ocorrer como inclusões em minerais em processo de erosão física e química. Testemu
metamórficos que indica a natureza pré metamórfi nhos das antigas superfícies de laterização ocorrem
ca da mineralização. De acordo com o autor, o depó na forma de platôs lateríticos sobre os quais repou
sito originou se a partir de exalações vulcânicas sam materiais tais como crostas ou fragmentos fer
durante a instalação e evolução da seqüência de arco ruginosos de diversos tipos, caracterizando assim o
de ilha de Mara Rosa, sendo posteriormente retra regime relictual. O regime erosivo caracteriza se pela
balhada durante o Brasiliano. Este modelo é uma exposição dos horizontes inferiores desse regolito
alternativa ao modelo de Cu porfirítico proposto por podendo conter remanescentes de material lateríti
Richardson et al.(1986). co ou novos materiais gerados durante o intempe
O corpo principal de minério possui 3000 m de rismo pós laterítico. O regime deposicional é pobre
192
Claudio Gerheim Porto, Rosely A. Liguori Imbernon, Maria Cristina M. de Toledo, Ricardo O. Gallart Menezes, Juliano José de Souza & Carlos E. Paraizo Borges
mente caracterizado em Chapada já que os produ latossolos, ocorre também na forma de blocos de
tos da erosão, sob condições dominantemente úmi variados tamanhos espalhados pela superfície. Isto
das, não se preservam na paisagem, ao contrário ocorre devido ao processo de desmantelamento cau
dos terrenos lateríticos australianos que evoluíram sado pela degradação física e química das crostas
sob condições áridas desde pelo menos o Mioceno. em ambiente úmido (Nahon e Tardy, 1992). Acima
Em Chapada o mapa de regolito foi produzido para da crosta ocorre o horizonte nodular caracterizado
uma região restrita às imediações do depósito (Fig. por abundantes fragmentos de crosta e concreções
1). Este mapa foi confeccionado através de inter ferruginosas imersos em uma matriz latossólica,
pretação fotogeológica integrados com mapeamen produtos da degradação da crosta. O latosolo no topo
to de campo (Menezes 2003) e mapas geológicos constitui um horizonte bastante homogêneo, sem
existentes (Silva & Sá 1988, Richardson et al. 1986). diferenciação de horizontes, lixiviado, argiloso, po
O regime relictual é caracterizado por uma área de dendo conter ainda fragmentos de crosta e concre
platô com ocorrência de crostas, nódulos e pisólitos ções ferruginosas disseminadas.
espalhados na superfície, ou cobertos por latossolo Na superfície do terreno ocorre uma feição bas
os quais podem conter níveis nodulares a profundi tante característica da área, denominada Lag que
dades de até 2 metros. O regime erosivo foi carac são granulados ferruginosos com cerca de 0,5 cm
terizado em regiões de encosta do platô, com colú espalhados na superfície derivados da degradação
vios latossólicos contendo fragmentos de materiais da crosta (Fig. 5). Três tipos principais de “Lag” fo
lateríticos, e em regiões de vale, com solos residu ram identificados segundo sua composição macros
ais finos contendo raros materiais lateríticos, poden cópica (Benn & Porto 2005): (i) Lag de brilho metá
do resultar no afloramento de saprolito, saprock ou lico, endurecido, bem arredondado e com superfíci
mesmo rocha fresca facilitando assim, o mapeamento es lisas, denominado de Lag cinza metálico, com
geológico. posto dominantemente de hematita (Fig. 6); (ii) Lag
A área do depósito de Chapada encontra se co laterítico, avermelhados, disformes e de composi
berta tanto pelo regime relictual como erosivo os ção similar à da crosta com hematita, goetita e cao
quais estão representados nas seções das Figuras 2 linita (Fig. 7); (iii) Lag magnético, separado com o
e 3 respectivamente. A definição da estratigrafia do auxílio de um imã de mão, com características se
regolito também obedeceu esta diferenciação como melhante à ambos acima, porém magnéticos devido
exposto a seguir. à presença de magnetita residual ou maghemita
neoformada.
Estratigrafia do Regolito Parisot et al. (1990) também descreve o regolito
de Chapada no regime relictual, porém não detalha
Descrições de inúmeros furos de sonda, trado e a porção pedolítica, mas estabelece que a espessu
poços de pesquisa sobre a área do depósito permiti ra do regolito pode atingir até 50 m sobre a zona
ram definir a estratigrafia do regolito (Fig. 4). No mineralizada (Fig. 4). Segundo suas observações,
regime relictual o regolito é dominado por uma zona abaixo da zona mosqueada ocorre o horizonte de
saprolítica friável, argilosa e micácea contendo fai argila variegada, constituída por um saprolito com
xas ferruginosas onde as estruturas do protólito en variadas feições de ferruginização. Abaixo ocorre o
contram se preservadas. Na sua porção superior o horizonte cinza esverdeado onde minerais secundá
saprolito adquire feições mosqueadas com maior rios e primários misturam se sendo a smectita o
concentração de argilas, caracterizando uma transi principal mineral diagnóstico. Na base do regolito
ção para a zona pedolítica. Na zona mosqueada as ocorre a rocha alterada coerente, equivalente ao
estruturas do protolito são ausentes e o material é saprock.
dominantemente caolinítico entremeado com faixas No regime erosivo ao menos parte do regolito
ferruginosas. Acima, a zona mosqueada grada para relictual foi exumada expondo o saprolito sobre o
a crosta laterítica através do endurecimento progres qual se desenvolveu solos residuais recentes. Por
sivo pela coalescência das zonas ferruginosas e for isso a espessura do regolito é de apenas cerca de 10
mação de estruturas pisolíticas o que resulta em seu m. A presença de saprolitos mosqueados na sua
aspecto coeso, embora possa conter ainda porções porção superior pode ser devida tanto a um proces
caoliníticas preservadas em meio à matriz ferrugi so intempérico recente, correlato à formação do solo
nosa. Esta crosta, embora posicionada abaixo dos residual, como à presença de remanescentes dos
193
Modelos de depósitos de Cobre do Brasil ~pós/tos de Cu Au em Regolltos Laterftlcos no Brasil : casos de Chapada, I g arapé Bahia e Sa/obo
horizontes mosqueados ou de argila variegada do erosional foi desenvolvido mediante avanço da fren
regime relictual. te intempérica. No regime erosivo a zona ferrugino
Comparando se as seções do regime relictual e sa tem 2 m de espessura, cerca de 1 m menos es
erosional (Rg. 8) observa se um desnível de cerca pessa do que no regi me relictual. A zona ferrugino
de até 40 m em sua porção central. Este desnível é sa no regime erosivo também é freqüentemente
maior do que a espessura do regolito relictual de 25 mosqueada, à semelhança da porção superior do
m e indica que a maior parte do regolito do reg ime saprolito no reg ime relictual. Isto ind ica que o in
70
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Limite da cava a céu aberto
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Figura 1 Mapa de regolito nas imediações do depósito de Chapada.
194
Claudio Gerhelm Porto, Rosely A. Ug uori I mbemon, Mar/a Cristina M. de Toledo, Ricardo O. Gallart Menezes, Juliano José de Souza & C<!rlos E. Paraizo Borges
NW SE LEGENDA
Seção 2600E · Regime Rellctual
400m- -400m - Regolito
O Sericita Xisto
D Quartzo-Sericita Xisto
D Biotita Xisto
D Bitotita-Felsdspato Gnaisse
0 Anfibolito
~ Corpo de Minério
f Furo de Sonda
Iq=:t::=f::l:=f~:=f?;;p;;;;;.t=l=:j==~~C;:~;;::;t:::lf:t:::::::~~=S:--k===f:::::=- D
D Quartzo-Sericita Xisto
Biotita Xisto
D Bitotita-Feldspato Gnaisse
D Anfibólio Xisto
iS.SS] Corpo de Minério
f Furo de Sonda
t:f) YAMANl!!lOLD
1o p 10 10 fO SOm
Figura 3 Seção no regime erosivo.
Prof. (m)
o
Latossolo
Zona Nodular
...... 3
Crosta
Zona
Mosqueada
Saprolito
Moficadode
Menezes (2003)
Modificado de
Parisot et. ai. (1990)
Figura 4 Estratigrafia do regolito no regime relic
tua/ do depósito de Chapada. Figura 6 Lag cinza metálico.
195
Modelos de depósitos de Cobre do Br asil Depósitos de OJ Au em Regolltos Lateritlcos no Brasil : casos de Chapada, I g arapé Bahia e Sa/obo
NW SE
400m:=:::::::::::::::::::::::::::::::=:=:=:=:=:=:=:=:=::;;~~;:======~400m
300m---------------------------------300m
O Regolito no Regime Rellotual D Regolito no Regime Erosivo ~<!. P fO f fiO B,Om
Figura 8 Superfície e profundiddade do regolito nas seções dos regimes relictual e er osivo.
temperismo mais recente, pós laterít ico, também se lia (Sm ith 1989).
deu sob condição tropical úmida. Estudos realizados por Parisot et a/. (1990), ba
seados em microanálises no regolito do depósito de
Distribuição do Cu e Au no regolito Chapada, mostram uma forte correlação Cu Fe no
saprolito, que é destruída nas porções superiores
Teores de Cu e Au no regolito foram computados do regolito. No entanto, anál ises por extração sele
a partir dos teores de todas as amostras de perfu ra tlva realizadas pelos mesmos autores, mostram que
ções executadas sobre a zona mineralizada nas i me a correlação Cu Fe permanece, mas para apenas 20
diações das seções das representando o regime re a 50 % do Cu contido nas zonas ferruginosas. Os au
lictual e erosional (Fig. 2 e 3). A distribu ição dos tores sugerem então que a caol inita deve ser a fase
teores de Cu no regime relictual pode ser visualiza portadora de Cu além da goethita . A livixiação do
da nos gráficos Box plot (Fig . 9) onde nota se que, Cu é então explicada pela baixa quantidade de goe
a partir do protól ito, há uma tendência de depleção thlta e o baixo teor de Cu da mineralização que gera
do Cu desde o saprolito até o latosolo . No entanto, baixa dispon ibilidade do metal nas soluções intem
na zona de crosta o Cu é parcialmente retido, com péricas .
portamento este que também se reflete no Lag. Já a Baseado em análises de distribuição granulomé
dep leção do Au é menos pronunciada, exceto no Lag t rica Parlsot & Melfl (1983) mostram que a correia
onde o ouro encontra se extremamente depletado ção Cu Fe no saprol ito é baixa, já que as frações
(Fig . 10). Observa se também um ligeiro enriqueci mais grossas e ricas em Fe contêm pouco Cu en
mento do ou ro na zona mosqueada. Isto corrobora quanto que as frações mais finas e pobres em Fe
com os trabalhos de Freyssinet (1993) no oeste da são mais ricas em Cu . Estes resultados contrapõem
África que mostra uma tendência de lixiviação do se àqueles obtidos por Parisot et a/. ( 1990) meneio
ouro com a evolução da crosta e concom itante re nados acima mas são coerentes com as análises de
196
Claudio Gerhe/m Porto, Rose/v A. Ug uorl I mbemon, Maria Cristina M. de To/edo, R/cardo O. Gal/ar t Menezes, Jullano José de Souza & Csrlos E. Paralzo Borges
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Figura 9 Distribuição de teores de Cu no regolito Rgura 12 Distribuição de teores de Au no regolito
no regime relictua/. no regime erosivo. Figura 14 Distribuição do Au nos
diferentes tipos de Lag.
Cuppm
.. 1200
• Lag Cinza Metálico
1000
• Lag Laterftlco
800 o Lag Magnético
• 600 o Lag Total
.. 400
200
o
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CH008 CH021
Mineralização
CH098 CH111 CH124
Background
CH116
~-~
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Rgura 13 Distribuição do Cu nos diferentes tipos
~ de Lag.
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CH008 CH021 CH098 CH111 CH124 CH116
Mineralização Background
Figura 14 Distribuição do Au nos diferentes tipos
' de Lag.
197
Modelos de depósitos de Cobre do Brasil Depósitos de Cu Au em Regolitos Lateríticos no Brasil: casos de Chapada, Igarapé Bahia e Salobo
dominantemente por nódulos ferruginosos, são as de minério de ouro contidos no regolito denomina
mais ricas em cobre. Neste trabalho pôde ser confir dos Acampamento Sul, Furo 30 e Acampamento Nor
mado que a fração grossa é o Lag laterítico, o mais te. Tais corpos estão dispostos em uma feição semi
rico em Cobre, goetita e caolinita, ao contrário do circular com mergulhos íngremes para NW, NE e SE
Lag cinza metálico ou magnético, mais pobre em Cu respectivamente (Fig. 15). A assinatura geoquímica
e rico em hematita, representando uma fácies mais da mineralização é definida pelos metais Au, Cu, U,
evoluída do perfil laterítico, onde a goethita é subs Sn, Mo, Pb, ETR, Y e W, (Silva 2007). Os recursos
tituída pela hematita, liberando o cobre nela hospe são de 219Mt de minério primário com teor médio
dado. Mecanismo similar pode também ser evocado de 1,4% Cu e 0,86 g/t Au, sendo que na zona lavra
para o ouro que parece ainda mais lixiviado do que da havia originalmente 15 Mt de minério de Au com
o Cu no Lag cinza metálico em relação ao Lag laterí teor de 5 g/t mais 14 Mt de minério com teor de 1,4
tico. No entanto, devido sua menor mobilidade o ouro g/t (Talarico et al. 2000).
vai reprecipitar se na zona mosqueada onde a goe
thita é mais abundante. Aspectos Fisiográficos e Geomorfológicos
198
Claudio Gerhelm Porto, Rose/y A. Ug uori I mbemon, Maria Cristina M. de Toledo, Rica rdo O. Gallar t Menezes, Jullano José de Sou za & Csrlos E. Pa ra lzo Borges
As ~ Perfil de Sondagem
o regolito da área do Bahia algumas delas concreti de gabro, mais mosqueado sobre os metassiltitos e
zadas em Teses de Mestrado e Doutorado reporta mais ferrug inoso sobre as rochas metavulcân icas.
dos a seguir. A estratigrafia do regolito foi estabele Acima ocorre uma zona ferruginosa fragmentada com
cida por Santos (2006) a partir de levantamentos uma matriz argilosa de coloração vermelha a roxa
detalhados nas bancadas das cavas dos corpos Acam na qual se insere uma mistura de fragmentos e con
pamento Sul e Furo 30 e descrições de testemunhos ereções ferruginosas angu losas e de tamanhos vari
de sondagem. Com este trabalho foi possível esta ados, incluindo blocos de saprolito ferruginoso late
belecer uma estratigrafia do regolito (Fig . 16). rizado além de fragmentos de formação ferrífera e
O saprolito é constituído de material muito argi de magnetititos . Estas feições levam a crer que se
loso devido ao baixo conteúdo de quartzo nas ro trata de uma zona colapsada. Lateralmente esta zona
chas metavulcânicas. Apresenta se variavelmente adquire feições mais pulverulentas exclusivamente
ferrugin izado, sendo mais caulínico sobre os diques na base de um paleocanal indentificado na área do
199
Modelos de depósitns de CDbre do Brasil Oepósltns de Cu Au em Regolltns Latetltlcos no Brasil: casos de Chapada, I garapé Bahia e Salobo
Zona de Gossan
Gossan Nodular
Gossan Colapsado
Gossan no Saprolito
Acampamento Sul. Já na base do paleocanal identi tubulos de goethita verticalizados que podem tam
ficado no pit do Furo 30 torna se uma brecha com bém estar relacionado à penetração de raízes . Em
fragmentos muito angulosos de formação ferrífera geral, ocorrem somente fora das áreas de paleoca
em uma matriz endurecida e arroxeada. Seu conta nal representando possivelmente um paleorelevo
to com o saprolito parece erosivo. Em geral a zona positivo.
ferrug inosa fragmentada representa uma zona de A camada de latossolo que recobre as crostas pos
transição entre o saprolito e a crosta. Localmente, sui coloração castanho alaranjada, contém concre
foi identificado Imediatamente acima do saprolito, ções ferrug inosas irregulares e pisólitos com até 0,5
um nível silicoso, sacaroidal, sub horizontal e im em disseminadas, porém mais concentrados na base.
pregnado por óxidos de ferro . Este material é en Apresenta contato nítido e plano com as crostas abai
contrado exclusivamente na base dos paleocanais e xo. Possui espessura de até 16m nas áreas de pale
foi interpretado como silcrete representando níveis ocanal, outrossim a espessura varia de menos de 1
freáticos pretéritos saturados em Si. ma 5 m . A seção da Rgura 17, montada a partir de
Quatro t ipos de crosta foram individualizados. De dados de sondagem, juntamente com a estratigra
baixo para cima: (i) Crosta roxa: pisolítica muit o fia do regolito, sugere que a camada de latossolo foi
ferrug inosa, com matriz argilosa, e nódulos irregu depositada sobre a crosta a partir de paleorelevos
lares, podendo conter faixas ou bolsões da crosta positivos que, nesta seção, pode ter sido represen
amarela; (ii) Crosta amarela: pisolftica com nódulos tada por elevações sustentadas por gossans.
mais regulares e de superfícies lisas. Ocorre em boi Angélica (1996) descreve o regolito com um per
sões e faixas verticalizadas penetrando, de cima para fil laterito gossânico sobre as brechas mineraliza
baixo, a crosta roxa podendo chegar até a zona fer das e um perfil laterítico sobre as encaixantes. Se
ruginosa fragmentada . Dado sua configuração su gundo o autor a espessura desse regolito é de apro
põem se ser resultado de ação biogênica pretérita ximadamente 100 m sobre as encaixantes sendo que
tais como penetração de raízes antes do endureci o saprolito domina nos 80 m inferiores . Já sobre as
mento do material; (iii) Crosta ocre: friável e com brechas mineralizadas a espessura atinge até 200
matriz argilosa de coloração amarelada e com nó m sendo que nos 150 m superiores ocorrem os cor
dulos irregulares amarelados. Sua ocorrência é tam pos gossânicos que constitui a principal fonte do
bém restrita às zonas de paleocanal onde aparece minério de Au porem muito depletados em Cu . Apre
em contato abrupto com o latosolo acima, gradando senta composição à base de goethita, hematita, gi
lateralmente para crosta maciça e/ou crosta roxa; bbsita, caolinita e traços de minerais secundários de
(iv) Crosta maciça : coesa com estrutura pisolítica cobre e fosfatos ricos em ETR. De 150 a 200 m ocor
cimentada e de coloração vermelha a roxa. Ocorre re uma zona de transição para o minério primário
em contato abrupto com o latossolo acima e contém onde o Cu encontra se fortemente enriquecido pela
200
Claudio ~rhe/m Porto, Rose/v A. Uguorl Imbemon, 1>1arla Cristina M. de Toledo, Ricardo O. Gallar t Menezes, Jullano José de Souza & car/os E. Paralzo Borges
wsw ENE
174 165 159 130 128
fiO
m
precipitação de minerais secundários na forma de Au que tende a um gradual enriquecimento para cima
malaquita, azurita e pseudomalaquita e subordina no saprolito atingindo seu ápice na zona ferrug inosa
damente cobre nativo, calcocita, digenita, cuprita. fragmentada. A partir daí os teores caem bastante
O perfil de gossan difere da estratigrafia de re na crosta e mais ainda no latosolo . Este padrão pode
golito já que o gossan na zona oxidada está em maior ser interpretado como resultado de enriquecimento
equilíbrio com o ambiente do regolito sofrendo me
nos transformações do que o saprolito das rochas
encaixantes . No entanto, é na zona de crosta que os -~
201
Modelos de depósitos de Cobre do Brasil Depósitos de Cu Au em Regolitos Lateríticos no Brasil: casos de Chapada, Igarapé Bahia e Salobo
residual no saprolito à medida que este é lixiviado. inclusão em calcopirita na forma de telureto de chum
É possível também que o enriquecimento observado bo (Fig 23) . Esta associação é apenas parcialmente
na zona ferruginosa fragmentada seja devido à re mantida no saprolito e dissipa se nos níveis ferrugi
precipitação do Au proveniente da lixiviação da crosta nosos mais superiores. (Imbernon et al. 2007).
segundo Freyssinet (1993). Tanto o Cu como o Au As condições extremas de intemperismo dispo
mostram teores muito baixos no latosolo o que con nibilizaram os elementos lixiviados ao meio de alte
diz com sua origem alóctone. ração e, desta forma, os minerais de cobre secun
Perfilagem geofísica executada em furos de son dários (malaquita) ocorrem associados à texturas e
da revela que as zonas mineralizadas a Au nos gos morfologias típicas de alteração de sulfetos metáli
sans do saprolito correlacionam se bem com as zo cos (Fig. 24).
nas anômalas radiométricas e magnéticas (Fig. 20). A 150 m de profundidade, aproximadamente, tais
Isto é interpretado como uma feição eminentemen feições ficam evidenciadas por microscopia óptica
te herdada do minério primário. No entanto, ano onde malaquita ocorre precipitada sobre cutãs fer
malias magnéticas são também detectadas nos la ruginosos, selando a porosidade, ou em associa
tossolos e crostas onde se acumulam minerais mag ção com cutãs de óxi hidróxidos de ferro secundári
néticos tais como maghemita neoformada ou trans os e malaquita iluviais (deposição após transporte
formada a partir da desestabilização da magnetita, em solução, formando cutã) (Fig. 25). Os elementos
ou magnetita e ilmenita residuais (Fig. 21). A acu terras raras (ETR’s) na forma de monazita primária
mulação desses minerais deve ter se dado a partir ainda podem ocorrer preservados neste nível, em
de seu espalhamento próxima à superfície incorpo associação com plasmas secundários de óxi hidró
rando se à crosta, durante sua formação, e posteri xidos de ferro associados a cristais de calcopirita
ormente nos latossolos durante sua deposição. primários; tais plasmas ferruginosos apresentam te
ores de cobre na composição química (Fig. 26).
Micromorfologia e microanálises Neste nível do horizonte de alteração, e com a
evolução do perfil em direção à superfície, os pro
Os primeiros indícios de alteração da mineraliza cessos intempéricos atuantes sobre a rocha minera
ção se evidenciam pela ocorrência de minerais se lizada disponibilizaram o cobre, que é incorporado
cundários de cobre, na zona de transição do perfil por outras fases minerais neoformadas.
de gossan, onde o cobre se precipita como cobre Em profundidades de cerca de 170 m, a cloritiza
nativo, calcocita, digenita, cuprita, malaquita, azu ção de anfibólios (Fig 27a) associada a óxidos de
rita e pseudomalaquita (Angélica 1996). ferro e manganês secundários, calcopirita, óxidos
O exame ao MEV conjugado à micro análise EDS, de ferro e molibdenita primários. A clorita secundá
realizadas ao curso do projeto LATAM (Porto et al. ria analisada ao MEV contém teor de cobre (Fig. 27b).
2007), revelaram relações geoquímicas e mineraló Ainda que a cloritização de anfibólios e minerais
gicas entre as fases primárias do minério sulfetado; micáceos e concomitante aumento dos óxi hidróxi
a indicação de fases secundárias que permitiram a dos de ferro acompanhe a evolução intempérica do
retenção do Cu no perfil de alteração; e as fases regolito, a presença de calcopirita e pirita primárias
minerais residuais na superfície (primárias e secun com micro inclusões de Au e Ag podem ser indicati
dárias) que poderiam ser utilizadas como traçado vos de um nível de enriquecimento do perfil gossâ
res do minério primário. nico. Algumas texturas típicas de gossans neste ní
A 250 m de profundidade, na base da zona de vel, à profundidade de 168 ms, compreendem bo
transição, a presença de chumbo na forma de gale xworks de óxi hidróxidos de ferro e clorita, com par
na com teores de Se está associado aos sulfetos pri tículas de liga Au Ag incorporadas nestas fases de
mários de cobre e à mineralização em Au e Ag. Esta minerais neoformados (Fig. 28). A composição da
composição indica uma assinatura geoquímica que liga Au Ag, em porcentagem em massa, calculada
diferencia a mineralização no Igarapé Bahia, ainda por análise ao MEV, indicou teores superiores de Au
não descrita anteriormente para o depósito (Fig. 22a (cerca de 70%) em relação a Ag (cerca de 30%).
e b). Outro elemento traço presente nas composi Essas feições típicas de perfis gossânicos, evolu
ções com Pb e Ag é o Te, observado tanto a 250 m ídos sobre depósitos minerais sulfetados, permane
de profundidade, associado à galena e à Ag (Fig 22 cem mesmo nos materiais em superfície. A 6 m de
b), quanto a profundidades entre 171 e 178 m, como profundidade, partículas de Au ficam incorporadas
202
CliiUdlo Gerhelm PortD, Rosely A. Uguorl/mbemon, Maria Cristina M. de Toledo, Ricardo O. Ga/lart Meneus, Jullano José de Souza & C!rlos E. Para/zo Borges
em uma matriz de óxi hidróxidos de ferro de forma nenhuma alteração intempérica, e são freqüente
esferoidal e restos de clorita (Fig 29) . mente encontrados em associação ao plasma ferru
A monazita primária ocorre em todo o perfil, desde ginoso nos níveis mais superficiais. Nos materiais
o horizonte de transição até a superfície (Fig. 30a). amostrados no capeamento superficial, são esses mi
Pontualmente, porém, nos níveis ma is superiores nerais resistatos que por vezes mantém a estrutura
próximo à superfície, a alteração da monazita pode de plasmas ferruginosos e porosos.
evoluir para fosfatos secundários de ETR • s e óxido A Figura 31 sintetiza as principais filiações geo
de cério. Entre 4 e 5 m de profundidade, fosfatos de químicas e mineralógicas, e traça uma ordem de ai
ETR secundários precipitam em boxwork de óxi hi teração dos minerais primários e, no tocante aos
dróxidos de ferro ( Fig. 30b). minerais do minério, estabelece de que for ma os
A magnetita, ilmenita, hematita, cassiterita, são mineralis secundários incorporara m os elementos
abundantes no minério primário e sofrem pouco ou metálicos, estabelecendo uma possível seqüência de
203
Modelos de depósitos de Cobre do Brasil ~p ós/tos de CU Au em Rego/ltos Lateriticos no Brasil: casos de Chapada, I g arapé Bahia e Salobo
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Claudio ~rhelm Porto, Rosely A. Ug uori I mbemon, Maria Cristina M. de Toledo, Rica rdo O. Gallar t Menezes, Juliano José de Sou za & C<!rlos E. Paralzo Borges
Geologia da área
205
Modelos de depósitos de Cobre do Brasil Depósitos de CU Au em Rego/Jtos Lateriticos no Brasil: casos de Chapada, I g arapé Bahia e Salobo
Figura 27 a) Anfibólio cloritizado, com óxidos de ferro secundário nas clivagens, e grãos de quartzo e
carbonato. Fotomicrografia ao microscópio óptico, polarização, 50 x. Profundidade 170, 5 metros. b)
Associação mineral onde cristais de clorita secundaria estão associadas a minerais primários: P1 clorita
com Cu na composição; P2 óxidos secundários de Fe e Mn; P3 calcopirita; P4 molibdenita primária.
Figura 28 Boxwok de óxidos de ferro e quartzo com inclusão de Au, com clorita secundária, óxidos de ferro
(magnetitajhematita).
Características do regolito
206
Claudio Ger helm Porto, Rosely A. Ug uori I mbemon, Maria Cristina M. de Toledo, Rica rdo O. Gallart Menezes, Jullano José de Sou za & carlos E. Para lzo Borges
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lncludoem 1 retenção de metais
calcoplrtta e 1 no perfil de alteração
ansenoplrtta I
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lnclua6es de Au· I I
Ag, sulfetos de
AgedeCu-Ag ,__Man_a_IIII_I___JI I Clarlta
lugar de horizontes lateríticos nas porções superio recimento de sulfetos de cimentação (covelita e di
res do regolito ocorre um nível de colúvio (Rg. 32). genita). O nível de transição é caracterizado pelas
Parisot et a/. (1990) distinguem cinco horizontes primeiras ocorrências de minerais secundários de
de alteração caracterizados pela evolução míneraló cobre, como malaquita, e de esmectita verde cuprí
gica observada. Na base do regolito, um nível de fera, que formam uma complexa rede fissura! que
transição (TR) ent re 62 e 65 m de profundidade, é corta a rocha praticamente fresca, mas já quase des
caracterizado por um importante fraturamento e apa provida de sulfetos primários (Toledo Groke et ai.
207
Modelos de depósitos de Cobre do Brasil Depósitos de Cu Au em Regolitos Lateríticos no Brasil: casos de Chapada, Igarapé Bahia e Salobo
Figura 32 Seção que ilustra a estruturação do regolito em Salobo, segundo Silva & Kotschoubey (2000).
208
Claudio Gerheim Porto, Rosely A. Liguori Imbernon, Maria Cristina M. de Toledo, Ricardo O. Gallart Menezes, Juliano José de Souza & Carlos E. Paraizo Borges
Figura 33 Granada em início de alteração: forma Figura 35 Pseudomorfo de biotita formado por ver
ção de produtos ferruginosos com cobre (até 3% de miculita com cobre (até 3% de CuO em análises por
CuO em análises por microssonda eletrônica MEV). microssonda eletrônica (ME). Fotomicrografia ao mi
Fotomicrografia ao microscópio óptico com luz na croscópio óptico com luz natural (1 cm = 100μm)
tural (1 cm = 50μm).
209
Modelos de depósitos de Cobre do Brasil Depósitos de Cu Au em Regolitos Lateríticos no Brasil: casos de Chapada, Igarapé Bahia e Salobo
210
Claudio Gerhelm Porto, Rose/y A, Uguorl ! mbemon, Maria Cristina M. de Tolt!do, Rica rdo O. Gallart Menezes, Jullano José de Souza & Garlos E. Paralzo Borges
o mais elevado refletindo o alto grau de retenção do regolito. A grande quantidade de fases secundárias
Cu na zona oxidada . Chapada apresenta uma sítua susceptíveis a fixação de cobre torna o regolito de
ção intermediária sendo que o Cu é menos depleta Salobo mais rico em cobre do que Chapada . Estes
do nas zonas ferruginosas e latossolos deles deriva controles são essencialmente decorrentes dê fato
dos no regime erosional em relação ao relictual. É res endógenos e parecem dominar em relação ao
possfvel que isto se deva ao menor tempo de expo fator tempo de intemperismo na lixiviação do Cu já
sição do regolito no regime erosivo. Apesar disso há que o regolito de Chapada é supostamente mais jo
pequena retenção do Cu na crosta, ao contrário do vem, relacionado ao ciclo Velhas (Mioceno) enquan
que ocorre no Bahia. to que Salobo se insere no domínio Carajás, relacio
Resultados para Au (Fig. 40) mostram um pa nado ao ciclo Sul Americano (eoceno oligoceno ).
drão inverso em relação Cu para o Bahia onde o Au Apesar de lfxtviado no regolito do Bahia, o Cu é
é enriquecido em todo regolito com destaque para a também incorporado pelos óxi hidróxidos de ferro e
Zona ferruginosa. É possível que isto seja, ao me manganês, assim como pelas cloritas. No entanto a
nos em parte, devido ao encapsulamento do Au nos limitada capacidade da clorita em reter o Cu contrl
óxidos de Fe da zona de gossan os quais são ausen bui para sua lixiviação do regolito. Salobo tem um
tes em Chapada onde o Au é mais lixiviado, princi processo similar de incorporação do Cu pelos filossi
palmente no regime relictual. No Bahia o enriqueci licatos ao curso da alteração intempérlca porém os
mento de Au também deve ter um componente produtos gerados tem maior capacidade de reter o
meramente residual devido à lixiviação dos mine Cu (Toledo Groke et ai. 1987)
rais de ganga . No entanto, o forte enriquecimento Do ponto de vista geoquímíco e micromorfológi
na Zona Ferrugi nosa deve ter tido também contri co, a evolução dos processos e a alteração dos mi
buição por reprecipitação química a partir da lixivia neraís primários no depósito do Igarapé Bah ia, for
ção da crosta rica em hematita . Para uma avaliação mando textu ras e estr uturas afins a perfis gossâni
mais pormenorizada a cerca da natureza desse en cos, são bastante similares às descritas em Salobo
rlquedmento torna se necessária a utilização de cá I por Silva & Kotschoubey (2000) e To ledo Groke
cu los de balanço de massa considerando as comple (1986) . No entanto, talvez um dos principais fato
xidades envolvidas (Freyssinet 1997, Porto 1995). res que tenha contribuído para a intensa lixiviação
Comparado com Salobo, Chapada tem um miné do Cu no Bahia seja a natureza maciça, ou quase
rio primário com baixos teores de Cu, estrutura sub maciça, dos sulfetos primários . Esta característica
horizontalizada e ganga mais rica em feldspatos o pode exercer grande influencia sobre a lixiviação já
que vai gerar um regolito rico em caolinita com ca que maior quantidade de ácidos são gerados duran
pacidade reduzida para retenção de metais. Parisot te a oxidação em minério ricos em sulfetos, e con
et ai. (1990) ressalta que, além disso, a estr utura seqüentemente maior será a capacidade de lixivia
subverticalizada de Salobo vai favorecer a man u ção dessas soluções (Taylor & Thornber 1992)
tenção das soluções intempéricas ricas em Cu no No que se refere às crostas de Igarapé Bahia, a
•
o.o L___::::===~===:!=====::;
protolto saprolllo Z. làrn.tglnosa crosta liltosolo
o.o L___::==~::::::::!:::~=~
protolno z.
ttÇrollt.o remoglnoaa croata lat.o.,olo
Agura 39 Fator de concentração do Cu nos hori Agura 40 Fator de concentração do Au nos horí
zontes do regolito nos depósitos de Chapada, Bahia zontes do regolito nos depósitos de Chapada e Bahia.
e Sa/obo.
211
Modelos de depósitos de Cobre do Brasil Depósitos de Cu Au em Regolitos Lateríticos no Brasil: casos de Chapada, Igarapé Bahia e Salobo
forte tendência de lixiviação do Cu deve se ao fato Amazônia, Manaus, AM. Boletim de Resumos Expandi-
dos, p. 136-139.
desta ser dominantemente composta por hematita Benn C. & Porto C.G. 2005. Geochemical dispersion in the
e gibsita ao invés de goetita e caolinita, como em lateritic regolith in the Chapada Cu-Au-Mo deposit,
Central Brazil. Abstract, International Geochemical
Chapada, onde a lixiviação do Cu é menos intensa.
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regolito foi sugerida por Mosser & Zeegers (1988) the evaluation of gossans in mineral exploration. Mi-
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enquanto a goethita é depletada em Cu no topo do lian Institute of Geoscientists Bulletin, 16:17-131.
Butt C.R.M. & Zeegers H. (Ed.). 1992. Regolith Explorati-
perfil. O Cu2+ estaria hospedado na rede cristalina on Geochemistry in Tropical and Subtropical Terrains.
dos argilominerais, não sendo, portanto fixado por Handbook of Exploration Geochemistry: 4. Elsevier,
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adsorção o que dificulta sua lixiviação pelas soluções Cintra E.C. 2003. Aplicação de redes neurais no controle
intempéricas. de teores de cobre e ouro do depósito de Chapada
Assim, o comportamento do Cu no regolito vai (GO). Tese de Doutorado – Instituto de Geociências da
Universidade Estadual Paulista. 151 p.
depender de fatores que são interdependentes. Estes Costa M.L., Angélica R.S., Fonseca L.R. 1996. Geochemi-
incluem a natureza e abundância dos minerais cal Exploration for Gold in Deep Weathered Lateritized
Gossans in the Amazon Region, Brazil: A case history
secundários; capacidade destes minerais fixarem o of the Igarapé Bahia deposit. Geochimica Brasiliensis,
Cu; razão concentração do Cu 2+ na solução 10:13–26.
intempérica. Influem também a composição do Costa, M.L. 1991. Aspectos Geológicos dos Lateritos da
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da ganga, assim como de sua estruturação que pode rapé Bahia, Carajás: Rochas fragmentárias, fluidos
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influenciar sobremaneira a hidrodinâmica do torado, Instituto de Geociências, Universidade de Cam-
processo de alteração. Além disso, contribuem pinas, SP, 221p.
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