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UFU - Junho/2011

O PULSO L
I
O pulso ainda pulsa T
O pulso ainda pulsa E
R
Peste bubônica câncer pneumonia A
Raiva rubéola tuberculose anemia T
Rancor cisticircose caxumba difteria U
Encefalite faringite gripe leucemia R
A
O pulso ainda pulsa
O pulso ainda pulsa

Hepatite escarlatina estupidez paralisia


Toxoplasmose sarampo esquizofrenia
Úlcera trombose coqueluche hipocondria
Sífilis ciúmes asma cleptomania

O corpo ainda é pouco


O corpo ainda é pouco

Reumatismo raquitismo cistite disritmia


Hérnia pediculose tétano hipocrisia
Brucelose febre tifóide arteriosclerose
miopia
Catapora culpa cárie câimbra lepra afasia

O pulso ainda pulsa


O corpo ainda é pouco

ArnaldoANTUNES, Tony BELLOnO, Marcelo FROMER, In:


Titãs, Õ Blésq Blom, 1989.

Tendo em vista o texto acima dos Titãs,

A) explique por que a utilização de elementos


formais da poesia tradicional, tais como
rimas e estrofes simétricas, provocam um
efeito surpreendente no texto;

B) Na canção acima, a saúde (ou a falta dela)


serve de pretexto para o questionamento
da sociedade. Discorra sobre, no mínimo,
três problemas sociais do Brasil metafori-
zados pelos males e doenças citados em
“O Pulso”.

Resolução:

A) O poema versa sobre a impotência do cor-


po, sua fragilidade diante das inúmeras pa-
tologias a que é acometido. Nesse sentido,
a alternância de versos longos e curtos,
obedecendo a certo ritmo, procura imitar a
pulsação do corpo, e toda a sua descontinui-
dade. Além disso, essa pulsação constante,
a sofreguidão do corpo suportando todas as
doenças oportunistas, são marcadas pela
musicalidade latente das aliterações do p e
do s, assonâncias do o e do a, encontradas
nos dísticos que se entremeiam às estrofes
maiores.

B) Destacam-se três versos, a partir dos quais,


compreendemos, no campo metafórico,
problemas de natureza social. O verso
Hepatite escarlatina estupidez paralisia
anuncia pela palavra estupidez, a alienação
nacional, criando um estado de paralisia
das estruturas políticas que controlam o
país. Além disso, o verso Hérnia pediculose
tétano hipocrisia, por meio da última pala-
vra, explicita, como exemplo, a corrupção
escondida na hipocrisia da maioria que
comanda a máquina governamental. Por
fim, os versos finais, Catapora culpa cárie
câimbra lepra afasia, alertam-nos para o
drama da saúde pública, cujos culpados,
como assinalam os versos anteriores, são
marcados pelas atitudes hipócritas diante
de uma sociedade alienada e alienante.

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