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A boneca sensata

Estando a Eliza travessa


Com a bonequinha na mão,
Alisando-lhe a cabeça
Com ar de repreensão,

Disse-lhe, um pouco magoada:


-Mas é impossível, que séca!
Trazer-te mais asseada,
Como qualquer outra boneca!

Tua blusa encarnadinha,


Que te ficava tão bem,
Olha com está sujinha,
Que feias manchas que tem!

A saia, as mangas... Que séca!


Estou devéras zangada.
Vou comprar outra boneca
Que seja asseada.

Mas a pobre bonequinha


Respondeu-lhe, e com razão:
- Não posso, Dona Elizinha,
Aceitar essa lição.

Suja não gosta de ver-me


Por isso fazes alarme
Posso eu, acaso, mexer-me?
Posso a mim mesma lavar-me?

Se me vês toda suja, Elizinha


Suja da cabeça ao pé,
A culpa enfim não é minha,
A culpa é tua, não é?

Se não fosse descuidada,


Não te causaria séca:
Seria tão asseada
Como qualquer outra boneca.

Todos somos assim feitos:


Nos outros de quem falamos,
Quase sempre censuramos
Os nossos próprios defeitos.

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