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CULTURA ORGANIZACIONAL
GRANDES TEMAS EM DEBATE*
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processo de aprendizagem, para lidar com os válida. Os pressupostos tendem a tornar -se
problemas de adaptação externa e integração inconscientes e inquestionáveis.
interna. Uma vez que os pressupostos tenham
funcionado bem o suficiente para serem con- c) Ritos, rituais e cerimônias: são exemplos
siderados válidos, eles são ensinados aos de- de atividades planejadas que têm con -
mais 'membros da organização como a ma - seqüências práticas e expressivas, tornando a
neira certa de se perceber, pensar e sentir em cultura mais tangível e coesa. Exemplos des-
relação àqueles problemas. sas atividades constituem grande parte do que
é desenvolvido pelos Departamentos de Re-
ALGUNSELEMENTOSDACULTURA curso s Hu ma no s, co mo no s caso s d e ad -
ORGANIZACIONAL missão, promoção, integração, demissão etc.
A descrição dos elementos que constituem d) Estórias e mitos: enquanto as estórias são
a cultura organizacional, a forma como eles narrativas de eventos ocorridos que informam
funcionam e, ainda, as mudanças que eles pro- sobre a organização, os mitos referem-se a
vocam no comportamento são maneiras de estórias consistentes com os valores organi-
dar ao assunto um tratamento mais concreto zacionais, porém sem sustentação nos fatos.
e de mais fácil identificação. Nesse sentido, é Ambos elementos preenchem funções específi-
bastante comum encontrarmos a cultura sendo cas, tais como: mapas, símbolos, scripts etc.
conceituada a partir dos - seus próprios ele-
mentos. e) Tabus: demarcam as áreas de proibições,
Verificamos que, no todo ou em parte, esses orientando o comportamento com ênfase no
elementos fornecem uma interpretação para não-permitido. A literatura consultada não dá
os membros da organização, onde a passagem maior atenção ao assunto, preferindo deter-se
dos significados se dá como uma coisa aceita. em casos de tragédias organizacionais e suge-
A linguagem é funcionalizada, restando a rindo formas de se lidar com elas.
aceitação do que é oferecido como é ofere -
cido. De certa forma, isso sugere a presença f) Heróis: personagens que incorporam os
de um componente hipnótico, através do qual valores e condensam a força da organização.
as mensagens e comportamentos convenien- Fala-se dos heróis natos e dos criados. E
tes são objeto de aplauso e adesão, levando à comum as organizações chamadas culturas
naturalização do seu conteúdo e à transmissão fortes exibirem os seus heróis natos, como:
espontânea aos demais membros. Tanto a Tom Watson, da IBM; John Rockefeller, da
adesão como a reprodução demonstram não Standard Oil; Henry Ford, da Ford, entre
a liberdade dos indivíduos de os aceitar ou outros.
não, mas a eficiência do controle embutido.
Os elementos mais freqüentemente citados g) Normas: as regras que defendem o com-
são: portamento que é esperado, aceito e san -
cionado pelo grupo, podendo estar escritas
a) Valores: definições a respeito do que é im- ou não.
portante para se atingir o sucesso. Observa-se
que, em geral, as empresas definem alguns h) Processo de comunicação: inclui uma rede
poucos valores, que resistem ao teste do de relações e papéis informais que compor -
tempo, os quais são constantemente enfati - tam padres, fofoqueiros, conspiradores, con-
zados. Ainda que elas tendam a personalizar tadores de estórias etc. Ele desenvolve funções
os seus valores, podemos verificar que eles importantes como a de transformar o corri -
guardam algumas características comuns: queiro em algo brilhante, podendo ser usado
importância do consumidor, padrão de de - na administração da cultura. 7. SCHEIN, Edgard. "How Cul-
sempenho excelente, qualidade e inovação, ture Forms, Develops and
importância da motivação intrínseca etc. DESENVOLVIMENTO,MANUTENÇÃOE Changes". Op. cit.
IDENTIFICAÇÃODACULTURA 8. DYER JR., W. G. "The Cycle
b) Crenças e pressupostos: geralmente usa- of Cultural Evolution in Organi-
dos como sinônimos para expressar aquilo que Esses aspectos estão diretamente relaciona- zations. In: KILMANN, R. et alii.
é tido como verdade na organização. Quando dos ao que os autores entendem por cultura. Op. cit.
um grupo ou organização resolve seus proble- Escolhemos as proposições de Schein' e Dyer 9. SATHE, Vijay. "How to De-
mas coletivos, esse processo inclui alguma Jr. 8 sobre o desenvolvimento e manutenção, e cipher and Change Corporate
visão d e mu nd o , algu m map a co gnitivo , as análises de Vijay Sathe 9 e Deal e Kennedyl° Culture" in KILMANN, R. et alii.
algu mas hip ó teses so b r e a r ealid ad e e a Op. cit.
sobre a identificação cultural.
natureza humana. Se o sucesso ocorre, aquela Schein propõe um modelo dinâmico para 10. DEAL, T. & KENNEDY, A.
visão de mund o p assa a ser co nsid er ada a análise da formação da Cultura. Considera Op cit.
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algumas definições que as organizações fazem de novos produtos, integração vertical, ex-
para manejar os seus ambientes interno e ex- pansão geográfica, aquisições, fusões etc. Sur-
terno, e que incluem: gem subculturas, crises de identidade, perda
de objetivos-chave, valores e pressupostos.
a) senso de missão, razão de ser de sua exis-
Oportunidade para mudança cultural.
tência;
b) alguns objetivos concretos derivados da 3. Maturidade, com a estabilidade de merca-
missão; dos, falta de motivação para mudança. A cul-
c) sentido de realização através de estruturas tura torna-se restritiva às inovações, passando
e processos; a ser valorizada como uma fonte de auto-es-
d) sentido de acompanhamento; e tima e defesa, preserva a glória do passado.
e) sentido de reparo. Nesta fase, também pode ocorrer uma opção
de transformação, via mudança cultural, ou
Para que essas definições funcionem, todo uma opção de destruição, onde ocorre mu-
grupo deve ter: dança cultural nos níveis básicos, através da
substituição massiva de pessoas-chave.
1. linguagem comum e categorias conceituais
compartilhadas; Em Dyer Jr. encontramos um modelo de
2. algum modo de definir suas fronteiras e evolução cultural que considera, basicamente,
selecionar seus membros; o processo de resolução de crises e o papel
das lideranças. Esse modelo é definido a par-
3. alguma forma de alocar autoridade e status; tir de seis etapas:
4. normas para lidar com as relações inter-
pessoais e íntimas; a) se a crise percebida coloca em questio-
5. critérios de recompensas e punições; e namento as habilidades e práticas das lide-
6. alguma forma de lidar com o não-adminis- ranças atuais;
trável. b) se a percepção é acompanhada de uma
ruptura nos padrões simbólicos, crenças e
Trabalhando com a hipótese segundo a pressupostos;
qual a cultura é transmitida basicamente a
c) se as novas lideranças emergem com um
partir dos mecanismos de redução de an-
siedade/dor e de reforço/recompensa, Schein conjunto de novos pressupostos para resolver
acredita que a pergunta sobre se "toda organi- a crise;
d) existência de conflitos entre proponentes
zação tem uma cultura" pode ser respondida da antiga e nova liderança;
em termos de oportunidade ou não para que e) se a crise é resolvida e se os novos lideres
a aprendizagem entre os seus membros são apontados como os responsáveis, estes,
ocorra. Ou, ainda, a cultura é diretamente pro- então, estabelecem-se como a nova elite cul-
porcional à estabilidade do grupo, ao tempo tural;
que ele tem de convivência e à intensidade f) a cultura da nova liderança é sustentada
da aprendizagem gerada.
Quanto ao desenvolvimento cultural, está pela introdução de novos modelos, até que o
relacionado com o estágio de desenvolvimento ciclo recomece em a).
da própria organização. Usando a noção de Vijay Sathe compartilha as idéias de Schein
ciclo de vida, Schein atribui a seguinte cor- sobre os níveis de definição da cultura e como
respondência: esta se forma, comentando que uma melhor
1. Fase de crescimento compreensão se dá quando se examinam os
a) Nascimento e estágios iniciais de organi- aspectos de conteúdo (pressupostos dos fun-
zação, onde existe a dominação do fundador dadores e lideres seguintes, bem como as ex-
ou da familia dominante. A cultura é uma periências atuais de resolução de problemas
competência distinta e fonte de identificação, e aprendizagem) e força (quão importantes
uma espécie de cimento que mantém os mem- são os pressupostos, quão largamente são
bros unidos. E dada uma forte ênfase à so- compartilhados e a clareza de que alguns são
cialização como uma evidência compartilhada. mais importantes que outros).
b) Sucessão. A organização se torna um Para decifrar a cultura, Sathe propõe:
campo de batalha entre os conservadores e os
1. inferir o seu conteúdo (as falas, as manei-
progressistas. Sucessores potenciais são julga-
dos de acordo com a sua capacidade de mu- ras de fazer as coisas, os sentimentos com-
dar alguns elementos da cultura presente. partilhados);
2. atentar para as qualificações e status dos
2. Fase intermediária, com o desenvolvimento investigadores (vantagens e desvantagens da
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observação dos antigos e recém-admitidos na cultura apática — nem pessoas, nem per-
organização); formance;
3. estimar a força da cultura, observando a cultura cuidadosa - pessoas;
proporção em que seus membros comparti- cultura exigente — performance;
lham manifestações, tais como: atributos cultura integrativa — pessoas e performance.
físicos, slogans, práticas, expressões de sen-
d) R.Donnely" observa a relação com o uso
timentos etc. do planejamento.
Já Deal e Kennedy sugerem dois tipos de cultura excelente: usa planejamento;
análise: externa e interna. Na primeira: cultura fuzzy: mudança constante — des-
a) observa-se o ambiente físico que sugere continuidade negativa;
quão orgulhosa uma organização é de si cultura awful: crises constantes.
própria; 11.HANDY, Charles. Como
CARÁTER ÚNICO Compreender as Organizações.
b) lê-se o que a companhia fala sobre si e sua
Rio de Janeiro, Zahar, 1978; e
cultura; É possível que duas ou mais organizações HANDY, Charles. Deuses da
c) testa-se como a companhia recebe os tenham a mesma cultura? Administração. S.Paulo,
Vértice, 1987. Veja também:
estranhos; Jay Barney" analisa a questão da pers- HARRISON, R. "Understanding
d) entrevistam-se pessoas a respeito da pectiva da influência da cultura na perform- Your Organization's Charac-
história da companhia, como foi o seu começo, ance. Se a cultura pode ser entendida como ter". Harvard Business Review,
mai/jun, 1972; e HARRISSON,
que tipo de pessoas trabalha ali, quem vai uma fonte de vantagem competitiva, então R. "How to Describe Your Or-
avante, a que se atribui o sucesso. ela deve ser: a)passível de avaliação quantita- ganization". Harvard Business
tiva; b) ser rara; e, c) ser imitável, apenas im- Review, set/out. 1972.
O asp ecto in te rno en vo lve e n ten de r perfeitamente. Caso ela possa ser imitada per-
questões como: o sistema de carreiras; quanto 12. DEAL, T. & KENNEDY, A.
feitamente, a vantagem estaria eliminada em Op.cit.
tempo, principalmente na administração pouco tempo.
média, as pessoas ficam num determinado 13. SETHIA, N. & VON GLI-
Outra é a opinião de Joanne Martin e seus NOW, M.A. "Arriving at Four
cargo; qual o conteúdo dos discursos e memo- colaboradores" para quem o assunto é para- Cultures by Managing the Re-
randos; as anedotas e estórias que circulam doxal. Considerando que a cultura se expressa ward System". In: KILMANN,
na rede cultural. Aqui também podem ser de- através de manifestações particulares, eles R. et alii. Op cit.
tectados alguns males culturais — foco no analisaram o caso das estórias organizado-
curto prazo, explosões emocionais, fragmen- 14. DONNELY, R. "The Inter-
nais e perceberam que em muitas delas exis- relationship of Planning With
tação e inconsistências etc. tia uma grande semelhança de conteúdo. Corporate Culture on Creation
of Shared Values". Managerial
ALGUMAS TIPOLOGIAS Já Akin e Hopelain 17 desenvolveram uma Planning, 32, mai-jun. 1984.
análise partindo da existência de uma cultura
a) Charles Handy e Roger Harrisonn, consi- 15. BARNEY, Jay. "Organiza-
de produtividade, cujos elementos são tional Cultures: Can it be a
deram a distribuição de poder dentro das comuns, independente do tipo de organização Source of Sustained Competi-
organizações. onde ela exista. Os autores pesquisaram três tive Advantage?" Academy of
Manangement Review, 11(6),
cultura de poder (pequenas empresas — organizações bastante distintas em termos de 1986.
centralização); tecnologia, natureza da atividade, localização,
cultura de papéis (organizações exces- tamanho, qualificações exigidas etc., e con- 16. MARTIN, Joanne et alii.
cluíram que o tipo de cultura era notadamente "The Uniqueness Paradox in
sivamente bucrocratizadas); Organizational Stories". Ad-
cultura de tarefa (ênfase na competência e similar. ministrative Science Ouarterly,
perícia); 28(3), set. 1983.
cultura de pessoa (centrada nos indivíduos). MÚLTIPLAS CULTURAS
17. AKIN, G. & HOPELAIN, D.
"Finding the Culture of
b) Deal e Kennedy12 avaliam a relação risco Pode uma organização ter mais de uma Productivity". Organizational
do investimento e a velocidade do feed-back cultura? Dynamics, 14, Winter, 1986.
do mercado. Para Kilmann e equipe", os administra- 18. KILMANN, R. et alii. "Five
cultura macho (alto risco/rápido feed-back); dores que partilham o pressuposto X, de Mc- Steps in Understanding and
cultura trabalho duro /diverte muito (baixo Gregor, tendem a admitir a existência de ape- Changing Culture". In: KIL-
risco /rápido feed-back); nas uma cultura — a de cima para baixo — MANN, R. et alii. Op.cit.
cultura apostar sua companhia (alto risco/ ao contrário dos que endossam o pressuposto 19. LOUIS, Meryl. "Sourcing
lento feed-back); Y, onde várias culturas ou subculturas são Workplace Cultures: Why,
When and How". In: KILMANN,
cultura processo (baixo risco/lento feed-back). admissíveis numa organização. R. et alii. Op. cit.; e, também,
Meryl Louis" assume que existem poten- LOUIS, Meryl. "An Investiga-
c) Sethia e Von Glinow13 enfatizam a preocu- cialmente várias culturas nos locais de tor's Guide to Workplace Gul-
pação por pessoas ou por performance (inspi- trabalho. Deve-se considerar as raízes, ou lu- ture''. In: FROST, P. et alii.
Organizational Culture, Cali-
rados no Grid Gerencial), manejando o sistema gares onde primeiramente os entendimentos fórnia, Sage, 1985.
de recompensas. são compartilhados e a extensão que a pene-
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F1
: >
" N64 ~
M I M M I E L A I ~ -
AM M INE
20.Vide: DAVIS, Tim. "Man-
aging Culture at the Bottom".
In: KILMANN, R. et alii. Gain-
ing Control of the: Corporate
Culture. Op.cit.; WALKER, C.R.
I
& GUEST, R.H. The Man on
the Assembly Line. Cambridge,
4 . m / « E M I L
Harvard Press, 1952; AMSA,
P. "Organizational Culture and
1, imo:
Work Group Behaviour: an
Empirical Study". Journal of
Management Studies, 23(3),
mai. 1986; NICHOLSON, N. &
JOHNS, G. "The Absence Cul-
ture and the Psychological
Contract - Who's in Control of
Absence?" Academy of Man- tração desses entendimentos atinge. É neces- tin e sua equipe22, para quem os estudos
agement Review, 10(3), 1985; sário verificar não apenas os conteúdos, o organizacionais sobre a criação da cultura
e KILMANN, R. "Five Steps for grupo e o relacionamento entre eles, mas tam- oferecem uma promessa sedutora para os
Closing Culture-Gaps". In: KIL-
MANN, R. et alii. Gaining Con-
bém pensar na difusão e extensão dos conteú- fundadores, qual seja, a de que eles podem
trol of the Corporate Culture. dos, na homogeneidade e consistência dos criar uma cultura à sua imagem, valores,
Op.cit. entendimentos e na estabilidade deles no pressupostos e visão de mundo. A pers -
tempo. pectiva pessoal pode ser transformada
21.Vide: SCHEIN, E. "Coming
to a New Awareness of Organ- num legado compartilhado que sobrevi -
izational Culture". Sloan A QUESTÃO DA CONTRACULTURA verá à sua morte ou à sua saída da organi-
Manangement Review, Winter, zação.
1984; SCHEIN, E. "The Role of Não assumindo o termo "contracultura",
the Founder in Creating Organ- Para esses estudiosos o resultado de pes-
izational Culture". Organiza- mas resistências à cultura dominante, algu- quisas relacionadas com o assunto sugerem
tional Dynamics, Summer, mas poucas referências foram encontradas. que esses pressupostos têm sido erroneamente
1983; e SCHEIN, E. "How Cul- A maior parte delas prende-se a diagnósticos
ture Forms, Develops and colocados. Tal supersimplificação encobre o
Changes". Op. cit. Outros au- e a recomendações conetivas para as situações conflito interno e a diferenciação,
tores: ANZIZU, J.M. de. "Cul- detectadas. Algumas pesquisas foram realiza- características de organizações complexas
tura Organizativa: su Inciden- das enfatizando a problemática do absen-
cia en el Funcionamiento y De- como as atuais — eles admitem a existência
sarrolo de Ia Empresa". Alta Di- teísmo ou ausência nos locais de trabalho 20. de múltiplas culturas.
recion, (120), 1985; PETTI- Será apenas uma coincidência a falta de Ainda que reconhecendo o papel do fun-
GREW, A. "On Studying Organ- pesquisas sobre o assunto, como no caso dos dador, o crédito a ele atribuído tem sido su-
izational Cultures". Administra- tabus?
tive Science Ouarterly, 24, dec. perestimado. Deve-se considerar a saliência
1979. do papel de lider, que faz com que ele figure
A INFLUÊNCIA DOS FUNDADORES como destaque na memória das pessoas, o
22.MARTIN, J. et alii. "Found-
ers and Elusiveness of a Cul- A importância dos fundadores no estabele- que tende a causar suposições de responsa-
tural Legacy". In: FROST, P. et bilidades; além disso, os fatores contextuais
alii. Op cit.; e, também: cimento da cultura é um dos poucos temas
MEYERSON,D. & MARTIN, J.
também têm sua importância na influência
sobre o qual há consenso de opiniões, bem do conteúdo que é compartilhado. Nesse
"Cultural Change: an Integra-
como uma grande semelhança nos argumen-
tion of Three Different Views". sentido, o fundador é também fundido num
Journal of Management Stud- tos de diversos pesquisadores 21. sistema moldado por forças que estão além
ies, 24(6), nov, 1987. Uma opinião contrária é a de Joanne Mar- de seu controle individual.
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introdução - cultura macho (alto risco e rápido truindo modelos teóricos-práticos que natu-
feedback); ralizam seus valores, interesses e lógica.
crescimento - apostar na sua companhia (alto É, pois, com base nesses pressupostos que
risco e lento feedback); entendemos o debate dos diversos pesquisa-
maturidade - trabalho duro/diverte muito dores a respeito da relação entre cultura e
(baixo risco e rápido feedback); e performance. Supomos que grande parte da
declínio - cultura processo (baixo risco e lento pesquisa gerada foi motivada pela crença
feedback). segundo a qual a cultura cria impactos positi-
A junção de todas essas características é vos (na visão gerencial) na organização; que
feita através do Contingency Model of Strategic a cultura é manejável no sentido de produzir
Planning, que, a exemplo do BCG, consiste a otimização de resultados. Entendemos, como
numa matriz 2x2 e tipifica a partir das taxas evidência dessa crença, a quantidade de best-
de crescimento do mercado e participação sellers e a proliferação de empresas e pacotes
da firma no mercado. O resultado é a com- de consultoria especializados no assunto.
patibilidade entre o estágio da organização e Alguns autores não crêem que exista uma
as culturas correspondentes mais adequadas influência da cultura no desempenho da or-
a cada fase. ganização; no entanto, em termos de ex -
Também o trabalho de Schwartz e Davis pressão quantitativa, é maior a produção dos
25. SCHWARTZ, H. & DAVIS,
apresenta detalhes sobre a combinação da que defendem a posição contrária, incluindo-
S. "Matching Corporate Cul- estratégia e da cultura. se os autores de best-sellers mencionados an-
ture and Business Strategy". teriormente.
Organizational Dynamics, A CULTURA CAUSA IMPACTO NA As pesquisas realizadas por George Gor-
Summer, 1981. PERFORMANCE? don26, envolvendo mais de 50.000 respostas
26. GORDON, G. "The Interre- de executivos de empresas estáveis, dinâmi-
lationship of Corporate Culture Enquanto conhecimento humano, as Teo-
to Industry Sector and Corpo- cas e financeiras, concluíram que, sendo a cul-
rate Performance". In: KIL- rias das Organizações e da Administração têm tura definida pelos administradores a partir
MANN, R. et alii. Gaining Con- se pautado por uma produção viesada, as- de uma visão estratégica em consonância com
trol of the Corporate Culture. sumindo a perspectiva das gerências, repro- o seu meio ambiente, ela é, sem dúvida, uma
Op.cit.
duzindo a sua ideologia produtivista e cons variável que gera forte impacto no desem-
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questões e um dos mais regularmente cita- Uma das implicações dessa pesquisa é que
dos. Interessado na interação de valores or- as organizações transnacionais podem prever
ganizacionais e nacionais, ele realizou uma determinados problemas de ordem cultural
ampla pesquisa, envolvendo 40 países, local, e a eles responder antecipadamente com
durante quase quinze anos. Dela resultou a o desenho de estruturas de controle, explici-
tas ou não, de forma a conquistar a aceitação
identificação de quatro dimensões de valores e a lealdade mais facilmente. Significa também
que, segundo ele, explicam cerca de 50% das um maior domínio sobre possíveis reivindi-
diferenças entre os padrões de valores re - cações dos grupos internos, maior previsibili-
lacionados com o trabalho. dade do tipo de satisfações que podem ofere-
Vejamos as dimensões: cer para abafar essas reivindicações, ou
mesmo evitar que elas aflorem.
a) Distância de poder: extensão na qual a so-
ciedade aceita o fato de que o poder é dis- CONCLUSÕES
tribuído desigualmente nas organizações e na
própria sociedade, onde existem privilégios e Procuramos dar uma visão geral sobre onde
a autoridade pessoal absoluta é aceita. o debate a respeito da cultura organizacional
b) Evitar incertezas: extensão na qual a so- tem se concentrado, usando basicamente a
ciedade se sente ameaçada por situações in- produção acadêmica norte-americana, por
uma questão de acesso.
certas e ambíguas. As sociedades apresentam O contato com diferentes abordagens re-
diferentes coeficientes de aversão ao risco. forçou o nosso pressuposto, segundo o qual a
cultura exerce funções de controle extrema-
c) Individualismo versus coletivismo: a ma- mente sofisticadas. E são essas funções, que
neira como o indivíduo está ligado à estrutura preenchem de uma maneira soft, que têm tor-
social; se esse laço é mais rígido ou mais nado o assunto tão atraente para os teóricos e
flexível, no sentido de oferecer oportunidades os práticos da administração.
para a exibição de comportamentos individua-
listas. Basicamente, a idéia do nós em con- O desenvolvimento e a sedimentação de
traposição ao eu. uma cultura organizacional "forte e coesa"
busca restaurar perdas psicológicas nos in-
d) Masculino versus feminino: extensão na divíduos que nela trabalham, repondo um
qual a sociedade privilegia a realização, he- quadro de valores, crenças e pressupostos, ori-
roísmo, determinação pessoal e sucesso ma- entador de um comportamento coletivo con-
terial, em oposição à preferência por relaciona- veniente aos seus objetivos.
mentos, modéstia, cuidado com os outros, A maneira sutil como uma organização cul-
qualidade de vida etc. tural "forte/excelente" se une em torno de
formas específicas de pensar e agir, criando
Considerando que as organizações desen- de si uma imagem positiva e onipotente, con-
volvem suas próprias culturas e sistemas pre- forma o indivíduo às normas estabelecidas,
dominantes de valores, Hofstede admite que
conquistando-lhe a adesão e lealdade na sua
as subsidiárias estrangeiras de empresas
multinacionais acabam por desenvolver uma reprodução. E nessa conquista do afetivo que
cultura híbrida. No caso de multinacionais ela marca sua diferença enquanto forma de
bem integradas, com uma cultura forte, pode- controle. E por admiração e por amor, muitos
se verificar uma grande similaridade entre os "sacrifícios" são justificados, até porque se
seus membros: "ele é um típico homem Shell torna honra fazer parte dessa organização.
Nesse sentido o hino da IBM32 é bem ilustra-
mesmo que seja japonês".
tivo:
Isolando as dimensões distância de poder
e evitar incertezas, o pesquisador apresenta EVER ONWARD - EVER ONWARD
uma classificação dos diversos países de
acordo com índices "alto" e "baixo" para cada That's the spirít that brought us farnel
dimensão, formando uma matriz. Para cada We're big, but bigger we will be
quadrante é sugerido um modelo específico We can't fail for ali can see
de controle, compatível com o que está im- That to serve humanity has been our aim
plicito na mente das pessoas sobre o que elas Our products are now known in every zone
acreditam que uma organização possa ser. Our reputation sparkles like a gem
As dimensões individualismo x coleti- We've fought our way through and new
vismo e masculino x feminino também clas- Fields we're sure to conquer too
32. Citado em DEAL, T. & KEN- sificam os países pesquisados. O pressuposto Forever onward IBM ". ❑
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