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XIV A IMPORTANCIA DO PAI NO_ DESTINO DO INDIViDUO * PREFACIO A SEGUNDA EDICAO AO final deste pequeno enseio, escrito hi dedessete anos, es tavam as palavras: “Esperamos que a experiéncla dos anos yindouros abra maiores clarabdias neste campo ainda obscuro, sobre o qual pude projetar uma luz apenas fugidia, e descubra mais sobre a atuagao secrota do demdnio que comanda 0 des: tino”. As experiéncias dos anos subseqtlentes mudaram € apro- fundaram realmente multas coisas: algumas dolas apareceram sob outra Iuz e eu constatei que as raizes da psique © do des e quo, n&o complexo materno pereebi claramente quais eram suas causas fundas; por que néo apenas o pai, mas também a mBe era jortante para o destino da crianca. 'Nio porque tivessem este ‘humano ou pzeconcelto, mas porque séo casual- por dizer, as pessoas que transmitem & alma infan- pela primefra vez, aquelas leis misteriosas ¢ poderosas que ‘tigam ¢ formam no apenas as familias, mas sobretudo 0s joves € a humanidade como um todo, Nao leis inventadas pelo ito do homem, mas as leis e forcas da natureza, entre as is 0 homem cafinha como num fio de navalha, Deixo este escrito ser republicado sem alteragdes. Nada hé hele de errado, apenas é simples © singelo demais. Os versos do HORACTO que, naquela época, coloquei ao final fazem referéncia hs taz6es basicas profundas, obscuras até entio: “Sabe 0 Génio companheiro, que dirige o astro natal deus da natureza humana e'mortal que, numa 86 eabeca, - (Osea Compleas, V1 293 exibe um semblante mutdvel, ao mesmo tempo claro e escuro”.? Ksnacht, dezembro de 1926. PREFACIO A TERCEIRA EDICAO Este ensaio foi escrito hé quarenta anos e, desta ver, nil quero reimprimilo em sua forma original. Muitas coisas mib daram e vejo-me obrigado a fazer vérizs corregdes e acréscimoh ao texto primitivo. A descoberta do inconsciente coletivo fol responsivel pelo surgimento de novos problemas na teoria do} loxos, Antigamente a personalidade se manifestava, por jue era uma précondicao igica hereditaria e inata q ‘que inibem o : tas da vida do uma das situagdes humanas normais é, por assim dizer, previ fe impressa nessa estrutura herdada, uma ver que jé ocorrel Imeras yezes em nossos antepassados. Ao mesmo tempo, estrutura traz consigo uma tendéncia inata , assim, a natureza conflitiva do complexo, texto antigo de acordo com essas descober: wa dos conhecimentos de hoje. Outubro de 1948, ©. G. Jung A importancia do pai no destino do individuo es Ducunt volentem fata, nok c sobretudo, com 0 pai, ser ao urna nerose future. ato, o canal infantil DOE Oost (‘cor melo do qual revive contetdos ¢ Is'nd multe esquecidos. Sempre do voltamos para tris diante de rije uma cecepgao muito ameagir Go ‘uma decisio muito importante, ento 2 (ora resolver a tareia ui de volta © toma tos, 08 sistemas ‘afetivo da erianga com os pais ia maior importancia para 0 cont © relacionament ia por onde © procura uma a Se 0 decepcionado for um neu tris e se apega @ relacionamentos infantis Tie oe de todo © aos quais também o normal esté preso POF coreg uma corrente: 0 Telacionamento com o pai e a mie. ada mostra esta regressfio com maior sobressat- dos_trab cado especial, (Isto nao quer dizer que o pai tem. se féneia na moldagem do desti féncia dele 6 de natureza especial © daquela da mée).? ‘A importéncia do pai na 1 encontramos também em campo bem jieamento diversa jdagem da alma infantil, nés a srente, isto 6, no cam estudo da «As pesquisas mais recentes mostram ja predominante do carter do pai numa familia, mul: tas vezes por centenas de anos. Parece que as mies nfo tém ‘esse papel. Se isto é verdade no campo da hereditariedade, entio devemos esperar o mesmo das influéncias psicoldgicas que ema- nam do pai. O problema foi examinado e aprofundado nas pes- (quisas de minha aluna, Dra, E. PORST, sobre a semelhanga fami: iar no tipo de reagdo.® FURST procedeu a testes de associagio ‘em 100 pessoas pertencentes a 24 familias. ‘86 foram trabalhados ¢ publicados até agora os resultados Te ferentes a nove familias com 37 pessoas (todas sem formagio académica). Mas os mimeros jé permitem algumas conclus6es notaveis. AS associagSes foram classificadas segundo o esquema ‘que simplifiquel e modifi erenca de cada grupo de quali: quel, © entilo foi c dade de uma pessoa com o grupo correspondente de outra Des: Soa, Disso resultaram médias numéricas da diferenga no tipo de reagdo, © regultado € 0 seguinte: Homens sem parentesco diferem entre si em tomo de 5,9 ‘Mulheres sem parentesco diferem entre si em tomo de 60 omens com parentesco diferem entre si em torno de 4,1 ‘Mulheres com parenteseo diferem entre si em torno de 3.8, Parentes, e sobretudo mulheres sparentadas, tém, portanto, janea no tipo de reagdo. Este fato confirma que fa atitude psicolégica dos parentes difere bem pouco. Examinan do as diversas atitudes de parentesco, tivemos o seguinte: A iferenca média do marido e da mulher chega a 4,7. 0 valor dispersivo desse ntimero médio 6, no entanto, 3,7, 0 que muito, significando que o mimero médio 4,7 é composto de niimeros bem heterogéneos: hé casamentos com maior e outros com menor semelhanca no tipo de reagao, No global, estéo mais proximos pais ¢ jilhos, por um lado, e, de outro, mées ¢ jithas. ‘A diferenca de pais ¢ filhos chega a 3. fa diferenca de mes e filhas chega a 3,0. Com exeegio de alguns casos de casais (onde a diferenca caiu para 1,4) estes sho os mimeros menores. FURST apresenta um caso em que diferenca entre a mie de 45 anos e a filha Ge 16 anos chegou apenas a 0,5. Mas foi também neste caso que a mae ea filha tinham uma diferenca de 11,8 com relagio ao ai pal era grosso, esttipido e beberrio; ian Science. Devito a estas circunstan- ; mfe e filha apresentavam um tipo de reagéo cheio de pre fados de valores*, 0 que na minha experléncia tem importén- tia semidtica no diagndstico de uma relagdo conflitiva com 0 jeto. © tipo com predicades de valores manifesta uma exces- iva intensidade de sentimentos e, com isso, revela um esforgo, fnadmitido mas nem por iss0 menos transparente, de despertar um sentimento reciproco no experimentador. No material de PURST, este ponto de vista concorda com o fato de que 0 niimero de predicados de valores aumenta com a idade da pes: soa examinada ‘A semelhanca do tipo de reago dos descendentes com 0 dos pais dé o que pensar, O experimento de associagio nada mais, Edo que um pequeno segmento da vida psicoldgica de uma pes- soa e 2 vida cotidiana é, fundamentalmente, um experimento de fassociacdo ampliado e muito variado, pois, em principio, reas mos ¢é e 14 como realmente somos. Por mais dbvia que seia esta verdade, precisa de explicagio e certa restrigio, Tomemos © caso da mie de 45 anos com sua filha de 16 anos; o tipo, cheio de predicados de valores, da mae é, sem duivida, resultado de toda uma vida de esperancas ¢ desejos frustrados. Nao é de surpreender que tenha um tipo ligado a predicados de valores. ‘Mas a filha de 16 anos nem comecou a viver a vida ainda; no mie © como se tivesse passado Tinhs 0 comportamento de sua mie ‘com a mée, O comportamento amento com o marido. Mas a filha nfo era casada com este homem (seu pal) e néo tina, pois, necessidade de apresentar este comportamento, Ela. sim Plesmnonto o assumiu a parlir das influéncias circunstanciais ©, Gepois, tentaré adaptar-se ao mundo sob a influencia desse pro- dlema familiar. Da mesma forma como um casamento fracassa- do no presta, também nfo presia o comportamento dele resul- tonte para adaptarse na vida futura, a moga deveré superar 0s obstaculos de sea ambiente familiar; ‘se nfo o conseguir, suewm- bird ao destino para o qual_seu comportamento.a_ nredispoe.— 6 casada, mas re por infindaveis @, neste sentid somo Ha evidentemente, para este destino, virias possibilidades. © tentar encobrir 0 probloma familiar ¢ a absorgio do afeio 297 oy negative do carater dos pais pode, sem bem no intimo da pessoa, sob a fo1 que ela mesma néo entende, Ou crescimento pode e: no qual ele no cal destino apds outro faca cdo infantil ¢ inadep infantil de adaptagio 6 0 re mento ate E uma espécle de contégio como sabemos, no por verdades logicas, mas por afetos e suas manifestacdes corporais,” No tempo da formacio mais inténsa, isto €, do pri todas as carncteristicas es tamente no Molde dos pais ja se desenvolveram; pois, 's ensina a experiéncia, os primeiros sinais do futuro e io dos pais e a autonomia individual ovorrem, via de regra, antes do quinto ano. Gostaria de apresentar @ seguir, a base de al nte, a fonte da perturbagig. Caso i. Uma senhora de 55 anos, bem oi Pobremente mas com esmero, traja Preta, cabelo penteado com capricho, afetadas, no ou de um comer Sentou-se, porém, como a esposa separada de. u comum, enrubescendo e baixando os olhos quando 0 Possivel as palavras da paciente): seu ps 1m_ho- , un poueo compulento e de aspecto imponente. Era felia no casamento com a mie dela, pols a mie 0 adorava, Era inteligente, um mestre em oficios e tinha um comporta: mento digno, Havia apenas dois filhos: a paciente ¢ uma irm® mais velha, A imi era a favorita da mie e a paclente a favorita do pai. Quando ela tin! iente que sua mile pre feria a irmé, Si iva. © respeito pelo fale cido era novo casamento. Preservou sua memoria “como um culto zeligioso” e ensinou is [ilhas 2 fazerem 0 mesmo, 7G, VIGOUROUK xT JUQUELIER, Ze Conlasioe mentee, cp, Vi 298 qual se sentia bastante atraida, ma: © relaclonamento deu em fo tveram thos eos fines Go” prielro. ma : fmorroram do uma Goenga inecsiogs, ApOs quatro anor do casu morte de um alague. For 18 anos. permasoces o tana. Ns aoe 48 aco Coen RIGS de urou uma agéncia eu: um camponés com apro- casouse com 0 pi ‘que aparece 7% ximadamente 60 anos, divorclado por duas vezes devido & sua porversidade, A pacionte sabia disso antos do casa sstaria apenas de sublinhar que fez do que viver uma paterno e, tardia da scxualidade a e que ainda deseja agradar Caso 2. Um homem de 34 anos, de baixa estatura, com apa- réncia inteligente ¢ be bescia, Viera a tratamento por causa de muito irritadigo, cansavase faci ti is nervosos, ficava profundamente de ter pensado varias vezes em suicidio. 0, ele me enviou um relatérto rmethor, uma historia de sua : como prepatagio. de sin visita, Sua histéria co Rrogeve assim “Meu pal em um bomen forie-¢ bem alfo", sta tro despertou minha curtondode, Vie oa pon e If esas “Quando cu tinha 18 anos, ui rapaz alto, de” 19 anos, Ievousme para o mato e abusou moralmente ée. mi waciente induziram-me As frealientes lacunas na bistérla do ps a obter uma anamnese mais exata do homem e que resultou no 299 Antes de vir para tratai seguinte: O paciente era o mais novo de trés irméos. O pal, homem alto e ruivo, fora soldado da guarda sufga do papa; mais tarde viera a ser policial. Era um soldado severo ¢ rabu- gento; educou seus filhos com disciplina militar; comandava; nio 0s chamava pelo nome, mas apitava. Passou a juventude em Roma; e de suas aventuras daquela época restoudhe uma cujas ‘consegiiénclas se manifestavam ainda na velhice. de falar de suas aventuras na juventude, Seu filho mais velho (bem mais velho do que 0 paciente dele: homem alto, forte, cabelos ruivos. A mAe era mulher 50- frida, prematuramente envelhecida. E> morreu aos 40 anos, quando 0 paciet conservou uma lembranga tena e bel tinha apenas vito. Ele de sua mie, Na escola, era sempre o bode explatério e objeto de zom- aria dos colegas. © paciente achava que era devido a seu dialeto diferente. su sob as ordens de um mestre severo e brabo; ¢ ali agilentou dois anos. As condigées eram as piores Possiveis, de. tal forma que os outros aprendizes logo iam em- bora. Aos quinze anos, aconteceu 0 fato citado e mais algumas equenas extravagincias homosexuals, Ai o destino o arrastou para a Franga, L4 conheceu um franeés do sul, grande fanfarrio © campeiio sexul. Ele 0 levou a um bordel; 0 paciente foi de md vontade porque se envergonhava do ot impotente. Depois veio a Paris, onde seu produg&o exata do inhada por pena dela. O imo levowo vérias vezes ao bordel, mas sempre era impotente, baixo e ajudava. sur Certa feita, o irmio pediu que The desse heranga, em torno de 6,000 francos. 0 paciente aconselhou-se primeiro com 0 outro Mas 0 paciente deu o Ginheiro e © irmfo o esbanjou rapidamente. O irmio que desa- conselhara 2 doaglo também caiu no conto com 500 frances. Pergunteithe por que dera tio generosamente o dinheiro, sem qualquer garantia. Respondeu-me: porque ele pediu. Néo éstava chateado por causa do dint daria outros 6.000 francos se 0 tivesse, O irmio mais velho decaiu completamente © a es posa conseguiu 0 divércio, (© paciente voltou & Suica e ficou um ano sem emprego fixo, las vezes pessando até fome. Nesta época conheceu uma familia e a visitava com freqiiéneia, O marido pertencia a uma seita es- tranha, era hipéerita e descurava da famflia, A mulher era mais velha, doente, fraca e, por cima, estava grivida, Havia seis fi 300 todos vivendo na maior pobreza. O paciente criou grande io por esta mulher e dividia com ela 0 pouco que tinha, we contava os pro! certa de morrer no Ele prometeu (ainda quo nada possufsse) cuidar das criangas ¢ criéos. A mulher realmente faleceu no parto, mas © juizado de drfios interferiu e deixowlhe apenas uma crianga, Tinha agora uma crianga mas no tinha familia e, naturalmente, nio conseguia criéia sozinho, Ponsou, entio, em casarse, Mas como nunea tivesse tido paixio por qualquer moga, ficou em estado de perplexidade. Ocorrewthe enti. que seu irm&o mais velho estava divor- eiado ¢ que ele poderia casar com a exmulher dele, Escrevewlhe sobre sua intengio, Ela era 17 anos mais velha do que ele, mas no se opunha aos planos dele. Convidowo a vir a Paris @ con- vorsar sobre 0 assunto, Na véspera da viagem, quis o destino que ele pisasse num prego e ndo pode Ir. Quando a ferida sarou, foi a Paris e encontrou sua cunheda, agora sua noiva, menos nova e bonita do que imaginava, Assim mesmo, 0 casamiento se Tealizou e, trés meses depois, por iniciativa da’ mulher, ocorreu © primeiro coito. Ele prdprio nfo o havia desejado. Criaram a cerianga juntos, cle & sua mancira suiga e ela a maneira fran- cesa, pois era ‘francesa, Aos nove anos a crianga fugiu de casa © morreu atropelada por um ciclista. O paciente sentiu-se entido muito sé e abstido em casa, Prop6s & sua mulher adotarem uma menina 0 quo provocou nela ume reagiio de chime. Foi nesta, época que se apaixonou pela primeira vez por uma moca joven; simultaneamente comegou a neurose com depressio profunda € exaustio nervosa; e sua vida em casa tornowse um inferno. Minha sugestio que se separasse da mulher fol rejeitada sob pretexto de que nfo poderia assumir a responsabilidade de tornar infeliz a velha senhora, Preferiu obviamente continuar sendo ator pois as recordacdes de sua juventude pare- ciamhe mais valiosas do que qualquer slegria do presente, ‘Também este paciente girou a vida toda no cireulo mégico a constelagao familiar. O fator mais forte e fatfdico foi o rela- cionamento com 0 pal. A coloracio masoquistahomossexual esti ‘bem evidente em tudo 0 que fazia. Até o infeliz casamento foi determinado pelo pai, pois o paciente casou-se com a exmulher do irmlo mais velho, 0 que significa easarse com sua me, AO mesmo tempo, sua mulher foi a mie substituta daguela que me , 20 que luta pela individualidade, o campo estreito gio, contra a vontade do pai. O pai simplesmente nfo concordou com sua escola, ainda que nada de especial tivesse contra seu merido, Apds 0 ‘casamento ela levou o pai para sua casa, Se- igencla media, gundo a paci algo natural, pois nenbum dos irmios se ‘és erianeas apzesentou para, um blasfemador ompodernido e que 0 pai e 0 cer poueo a0 pai dela. A pac ‘bobagem”. Mas rar iss © preferia ver seu marido si pai, Nas intimeras brigas, fava sempre o partide do pai Nada tinha 9 objetar a seu marido e este tinh razio em seus protestos, mas era preciso ajudar 0 pal. © examo do semanas antes, Cedo, pareceu a ola ter procedido mal contra o pal, por se ™ abandonados ter easado contra 2 vontade dele e, multas vezes, epds uma bri ‘completamente. as pessoas pararem. de Umm potico antes de ler esses fore o principal responsivel pelos de colapso, Ela Schein ae fle jé estava morto animosidsde fol demals para o marido e convenoou a mulher & encontrar um outro lugar para o pal morar. La ele morou por dois anos. Neste periodo os esposos viveram em paz. felizes. ins ap6s, ponsou muito sobre tudo isso e admirouse por ee Se ene ee ee, tne aa a que morter tio de repente, Durante suas medi devia doizar 0 pai morar sozinho, pois era, apesar de tudo, seu s palavras que ouvira de seu pai: pai. E, finalmente, apesar dos protestos do marido, reassumiu igueles_que_caju_da_carroca_do_demén © pai de volta porque, como dizia, ela amava, no fundo, mais 0 kas mado (ein oa pel do que o marido, Mal voltoa para a casa, voltaram também © pai blasfermara de mane et do a Serpe ic sar se realmente havia vida 1s brigay iata.ia sepeniine: smente! 90 Gen uno infer, Fok durant eras onfecaras Apés esta narrativa, @ paciente irrompeu numa série de la mentagdes: deveria divorciar-se do marido. Jé o teria felto se nao fossem as criancas. Cometera uma grave Injustica, um grave pecado, a0 casarse com um homem contra a vontade do pai. Deveria ter aceito o homem que o pat lhe propusera. Este teria, sem diivida, obedecido ao pai e, assim, tudo teria fieado bom. ‘Ah! o marido nem de longe era tao bom junto ‘a0 pai consoguia tudo, junto ao marido nao. The dava tudo © que ela queria, Gostaria de morrer para estar junto com o pai. ‘A histéria da paciente fol a seguinte: Era a mais nova de cinco irmios e sempre fol 2 predileta do pai, O pai The dava, Quando terminou suas lamentegées, perguntel por que yeu: -sse_alguma sara o marido que o pai havia proposto. estar certa que ‘A mile morreu rela. © pai, um pequeno camponés de uma gleba bem pobre, havia 7% fe oedo. Aos 24 anos casou-se com o homem de sua elel- assumido’ como empregado um rapaz sem eta nem beira, a0 302 303 mais nova. O rapaz desenvolveuse fel possfvel: era to bobo que néo aprendeu a ler e escrover, nom a falar direito. Era um imbecil completo. Quando chegou'& idade varonfl, comecaram a surgir uileeras em seu pescoco; algumas delas se rompiam e escorria pus fazendo que esta oriatura suja e fela se tornasse realmente vel. Sua inteligéncia nfo crescia com a idade, Permaneceu thador do campo sem salario definido. A este rapaz queria o pai dar swa fitha predileia em casa- mento, ‘A moga, felizmente, no se dispOs 2 obedecer, mas agora lamentava 0 fato, pois aquele idiota teria sido bem mais obe- diente a seu pai do que o marido. ¥ preciso acentuar que a paciente, bem como o paciente do easo anterior, nfo era nenhuma imbecil. Ambos possufam inteligéncia normal, apenes que os antolhos da constelagio fami- liar nfo Thes permitiam uséla adequadamente. Isto se mostra claramente na hist i fol quostionada, Nao importava em absoluto se ele era briguen- to e beberrio, causa dbvia de todas as brigas e discussées, Seu marido, sim, deveria curvarse a este espantalho e ela propria chegou'a lamentar que seu pai no tenha conseguido destruir completamente sua felicidade, Por isso ela agora tentava des- trufla, através de sua neurose que forgava sobre ela o desejo de morrer, podendo entao ir para o inferno, onde, nota dene, 36 se encontrava o pal. Se alguém estiver disposto a ver uma forga demoniaca do destino em ago pode vila nestas Iigubres e¢ silenciosas tragé- dias que acontecem lenta e dolorosamente nas almas doentes de nossos neurdticos. Alguns libertam-se passo a passo, lutando constantemente contra os poderes invisiveis, das garras do de- ménlo que empurra os incautos de um destino cruel para outro; novamente engolidos pelos antigos meandros da neurose. Nem mesmo podemos dizer que estas infelizes pessoas sejam neur6- ticas ou “degeneradas”, Quando nés, normais, examinamos nossa vida, peroebemos que uma mio poderosa nos guia, sem errar, para nosso destino; © nem sempre esta milo € bondosa.* Muitas 304 vvezes & chamamos milo de Deus ou milo do diabo e express ‘mos com isso, correta ¢ inconscientemente, um fator psicol6gico muito importante: a forga que modela s vida da_psique. tem caréter_ de personalidade autonome, Em todo caso, ¢ sentida assim, de modo que no linguajar comum, bem como nos tem pos antigos, a fonte de semelhantes destinos pareca ser um de- monio, um bom ou mau espirito, A personificagao dessa coacio é atribu 20 pai, de modo que FREUD é de o} “qivinas” tém sua raz na imagem do pai. # dificil negar que elas derivem da imagem do pai, mas o que clas tém a ver con- cretamente com a imagem do pai 6 outra coisa, A imagem do pai possul um poder extraordindrio, Hla influencia a vida psi ‘quica de crianca de maneira tio forte que convém perguntar se podemos atribuir tal forga magica a um simples ser humano. Obviamente ele a possul, mas a questéo 6 se ela realmente é sua propriedade. O homem “possui” muitas coisas que ele nunca, adquiriu, mas herdou dos antepassados. Nao nasceu tabula rasa, ‘apenas nasceu inconsciente. ‘Traz consigo sistemas organizados e que estio prontos a funcionar numa forma especificamente humana; e isto cle deve a milhdes de anos de desenvolvimento Ihumano, Da mesma forma como os instintos dos passaros de migragio e construgio do ninho nunea foram aprendidos ou adquiridos individualmente, também o homem traz do bergo 0 plano bésico de sua natureza, nfo apenas de sua natureza indi vidual, mas de sua naturoza’ coletiva. Estes sistemas herdados em primeiro lugar, todas as figuras correspondem as situagdes humanas que existiram desde os pri- mordios: juventude ¢ velhice, nascimento e morte, filhos e filhas, pais e mies, acasalamontos etc. apenas a consciéneia individual experiment estas coisas pela primeira vez, mes nfo o sistema corporal e o inconsciente, Para eles sé interessa 0 funcionamento habitual dos instintos que J4 foram préformados de longa data. “Ah, voc’ foi em tempos idos minha irmi ou minha mulher”, assim GOETHE traduz em palavras o sentiment apreensivo de muitos. Denominei este modelo instintivo, congénito © preexistente, | ou respeotivamente o “pattern of behaviour”, de arquétipo. Esta { € a imagem, carregada com o inamismo, que nao podemos atri ‘uir a um ser humano individual. Se este poder estivesse real- mente em nossas miios, ou sujelto 2 nossa vontade, ficariamos tio esmagados pela responsabilidade que ninguém, em si cons- cignela, ainda ousaria ter filhos. Mas 0 poder do arquétipo nio 6 contzolado por nds; nds é que estamos & disposicao dele num grau que nom suspeitamos. H4 muitos que resistem ine fluéncia e compulsio, mas também h4 muitos que se identifi. 305 cam com o arquétipo, como, por exemplo, com a patris potestill ido preso e fascinado por ela e exerce @ mesma i fluénela sobre outros sem estar conseiente do que © perigo esta exatamente nesta id arquétipo; néo apenas exerce uma a erlanca por meio da sugesifio, mas c ineonsciéneia na crianga, de modo que ela sucum! de fora nfo podendo concomitantemente fazer oposicao de deni tro. Quanto mais o pai se identificar com 0 arquétipo, tanto inresponsivel @ até mesmo psiedtico ele ser Em nosso caso, tratase quaso de uma “folie & dot ‘a influéncla A intengo do pai ¢ mais do que evidente. Queria casar sui esta horrivel pseudocriatura para manté-la consigo @ la para sempre, O que o pai fez é um grosseiro exi- \uer manifestacio de independéncia emocional de thas com erotismo camuflado ¢ tirania sentimental, que tutelam seus filhos forgando-os @ deter. minada profisstio e a um casamento “conveniente”; as mes que, J no bergo, excitam seus filhos com exagerado carinho, que os transformam depois em bonecos escravos e, ao final, estragam a vida amorosa deles por cliimes: todos eles, em principio, agem. ido e grosseiro camponts, Eles nfio stbem 0 nio Sabem que, sucumbindo a cumpulsio, hos, tornando-os escravos dos pais e do fardio vivendo por longo tempo estes jé tenham falecido, “Nao apenas ‘0 pai era_um tanto enérgico eo garoto (o filho mais velho) tinha medo dele. A mae compensava a Gureza do pai com o carinho ‘Tinha grande cliime do pai, e nfo suportava velo fazendo earl nho na mie. 306 ceca eeenna eterna tee ‘Tomei 0 geroto & parte © perguntei sobre seus sonhos. So- hava muitas vezes com uma cobra que queria morde1 rosto, Gritava, entio, e a mée tinha que sair do quarto vizinho wa acalmélo. fe quene mate fn 1s vezes sonhava que coisas horriveis es- novia grandes cobras preias ou ho ons tats que se a sake da'or que molhava a catia Chamava a fe magro, Toda manba ficava nu eta, ppavoroso estivesse e 0 trangililizava, acontecia no quarto vizinho. Tam: pretendia ao chamar sua pai. Procedia. assim fie. Até aqui, aisputando 0 amor também de © garoto era simplesmente da mie. quanto 0 ‘Agora, porém, acresee 0 fato que a mie no quarto vizinho. Neste © estd, porlanto, numa relagio com 0 Pp: da mie, Isto s¢ deve a0 seu se sente feminino com rela¢ neste caso, um substitut sonho, e também de outra pressio at fexeitagio reprimida, incapacidade de express ture que vise compensar a int No pretendo ocupar-me, neste dos sonhos, mas no posso deixar de bra prea e do homem preto. Esses fantasmas fameacam tanto 0 proprio sonhador quanto a mie. “Preto” sfgni- 307 fica “escuro”, o inconsefente, © sonhi mento mieftino esta ameacado 6 representado pelo motivo mitol6; tras palavras, 0 pai 6 alguém ameagador, Esta constatagio cor: responde & tendéncia da crianga de permanecer inconsciente & 4jo de permanecer infantil. O ai isto €, 8 parte que “ve”, go em perigo da cor Este pequeno-exemplo mostra o que ocorre na psique de uma crianga de oito anos que entrou numa relagéo de depen déncia dos pais, pi Pr ‘uni © dragéomée ¢ que te poder da escur: terapéutico, uma vez que da expressiio adequada ao dinarismo ‘quo subjez’ ao ombaragamento I. © mito nfo deve ser explicado causalmente como conseqiiéneis de um complexo pes- soal de pai, mas deve ser entendi um desi entre a influéncias nfo so normalmente relacionadas a0 308 is © sua possivel do pai existe o ipo do pal e neste te est 0 segredo do poder paterno, 8 exemplo da forca ao péssaro a mk grar. Esta forga nfo é produzida por ele, mas provém dos antepass Certamente nio passou despereebldo ao leltor que o papel Tepresentado pela imagem do pai noste caso é ambiguo. A amea- ga que ele representa tem duplo aspecto, Por um lado, pode fazer com que o garoto, por medo do pai, safa dessa identi: ficagio com a as pode também acontecer at se agarre ainda mais mie. Surge entio wma situa icamente neurdtica: quer © nao quer, diz sim @ no a0 mesmo tempo. ste duplo aspecto da imagem do arquétipo em geral: capaz de efeit © atua sobre a c porta para com J6, isto é, de modo amt igrio das pessoas, como no livro de J6, Nao podemos dizer com toda a certeza que o arquéti se comporta assim, pois hd cortas experiéncias que di © contrério. Mas no parecem ser a Tegra, Exemplo Rogou a Javé que a deixasse mor- rer pois era preferivel do que contintiar suportando esta: vergo. nha. Foi injuriads das do pal por causa por Deus, Também cavar a sepullura de seu ger dou uma empregada ao quarto nupelal para constater o falecimento, Mas dessa vez o papel de Asmodeu ter- minou, pois Tobias estava vivo.? 309 eu ‘presenga, precisa. sor € Seltarmos que ove ‘pena , XV Soe Sin ama INTRODUCAO oat meta ae A. “A PSICANALISE” DE W. M. KRANEFELDT * fe 86 eoncorda quando ‘ito grau.® Asmodeu representa o 25: ‘anguético paterno, pois este € o genio e demo ypanhelro. . pronto, Farfamos a © responsabilisissemos pelo poder ‘amplificador, cedem do pal herdado.

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