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O Princípio da Entidade e sua aplicabilidade em empresas

familiares.1

Lilian Francisco Rocha2

Frederico Mendes 3

Resumo

Os Princípios Fundamentais de Contabilidade por constituírem toda a teoria que fundamenta a Contábeis
contabilidade têm o Princípio da Entidade como uma das principais normas para a execução
das práticas contábeis de qualquer empresa. O objetivo do presente trabalho é demonstrar o
nível de aplicabilidade do Princípio da Entidade em empresas familiares, para isso foram atingir a esse objetivo
aplicados 53 questionários em empresas familiares de Taguatinga (DF) compostos de aplicou-se
questões objetivas sobre os dados gerais, conhecimento do Princípio da Entidade e as práticas
de gestão das empresas. Foi possível identificar que a maioria das empresas dizem conhecer o da empresa
Princípio da Entidade apesar de não o aplicarem na prática, o que ficou visível nas respostas , onde foi
pois os sócios utilizam a conta corrente da empresa para compra de bens particulares, fazem
apesar
retiradas informais sem o devido reembolso à empresa, além de utilizarem o ambiente
de dizerem conhecer o
familiar para a realização dos negócios da empresa. principio da entidade não fazem
aplicação do mesmo.
Estas empresas adotam
práticas que indicam que as
mesmas desconhecem o real
conceito do que venha a ser o
Palavras-Chaves referido princípio,
e

Princípios Fundamentais de Contabilidade , Princípio da Entidade, Empresa Familiar. seus


contábeis
p
e
e
r
f

1
Trabalho desenvolvido no curso de Graduação de Ciências Contábeis da UCB.
2
Bacharelando em Ciências Contábeis do 2º semestre de 2005 da UCB.
3
Professor Orientador: Msc. Frederico Mendes.
2

1. INTRODUÇÃO

À medida que as necessidades de controle foram surgindo, a contabilidade foi criando


instrumentos para o registro de todos os fatos que afetam o patrimônio de uma entidade.
Diante disso, os primeiros contadores tiveram de fazer algumas opções e adotar regras que
facilitassem a compreensão dos fatos contábeis, conhecidas como Princípios Contábeis, que
essas regras
hoje formam o arcabouço teórico que sustenta toda a contabilidade.
Marion (1998 p. 26) atribui o Princípio Contábil da Entidade como sendo um dos
pilares da teoria contábil.
[...] a contabilidade repousa, basicamente, em dois pilares da teoria contábil: a
entidade contábil e a continuidade da empresa. Desse primeiro conceito deduz-se
que a contabilidade é mantida para a entidade como pessoa distinta dos sócios. A
contabilidade é realizada para a entidade, devendo o contador fazer um esforço para
não misturar as movimentações da entidade com as dos proprietários. Pessoas físicas
e jurídicas não devem ser confundidas.
Vendrame (1998 p.21) ao tratar do Princípio da Entidade diz que “o patrimônio da
entidade não se confunde com o de seus sócios ou acionistas, ou proprietário individual”.
Devido a esse entendimento a escrituração patrimonial de uma empresa tem que ser ¶
D
completamente dissociada da escrituração do patrimônio de seus proprietários.
O presente trabalho se propõe a fornecer elementos que possibilitem fornecer resposta
ao seguinte problema: O Princípio da Entidade é respeitado em empresas familiares?
O principal objetivo desta pesquisa é demonstrar o nível de aplicabilidade do Princípio
da Entidade nas empresas familiares. E a pesquisa é classificada como: básica, qualitativa,
exploratória e tem como procedimento técnico o levantamento bibliográfico.
A hipótese de que a maioria das empresas da pesquisa de campo não conhece o que
venha a ser o Princípio da Entidade é levantada neste trabalho e espera-se que a mesma seja
confrontada com os resultados obtidos, sendo aceita ou não.
Este artigo foi desenvolvido com base nas seguintes seções: primeiramente, a
conceituação da contabilidade e dos seus princípios fundamentais, seguidas também da
descrição de empresas familiares e a aplicação do Princípio da Entidade nas mesmas.
Finalizando, a pesquisa de campo foi feita através da aplicação de questionário a empresas
familiares de Taguatinga (DF).

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Contabilidade

Segundo Iudícibus (1997 p.28), o objetivo da contabilidade e dos relatórios dela


emanados aos seus diversos usuários é:
Fornecer informação econômica relevante para que cada usuário possa tomar suas
decisões e realizar seus julgamentos com segurança. Isto exige um conhecimento do
modelo decisório do usuário e, de forma mais simples, é preciso perguntar ao
mesmo quais as informações que julga relevantes ou as metas que deseja maximizar,
a fim de delinearmos o conjunto de informações pertinentes. Embora um conjunto
básico de informações financeiras consubstanciadas nos relatórios periódicos
principais deva satisfazer as necessidades básicas de um bom número de usuários, a
3

contabilidade ainda deve ter flexibilidade para fornecer conjuntos diferenciados para
usuários ou decisões especiais.
Portanto, a necessidade de geração de informações adequadas a cada tipo de usuário
torna a contabilidade uma ciência capaz de satisfazer as necessidades de informações úteis e
tempestivas, e para que isto ocorra, necessita-se estar atualizada e atenta à observância de suas
normas, técnicas e princípios.

2.2 Princípios Fundamentais de Contabilidade

Os Princípios Contábeis são o ponto de partida para a compreensão da própria Ciência


Contábil, são eles que fundamentam os conceitos, a teoria e a prática desta ciência. No Brasil
eles são regulamentados através da Resolução do Conselho Federal de Contabilidade - CFC
n° 750 de 29/12/93 que em seu artigo 2º, assim os define:
“Os Princípios Fundamentais de contabilidade representam a essência das doutrinas e
teorias relativas à ciência da Contabilidade, consoante o entendimento nos universos
científico e profissional de nosso País”.
"Os Princípios Fundamentais de Contabilidade são:
- O da Entidade;
- O da Continuidade;
- O da Oportunidade;
- O do Registro pelo valor original;
- O da Atualização monetária;
- O da Competência; e
- O da Prudência”.
Segundo Sá (2000), os Princípios Fundamentais de Contabilidade visam a grandes
objetivos, ou seja, são feitos para que seja passível alcançar a uniformidade terminológica, a
imagem mais próxima da fidelidade demonstrativa do patrimônio e ainda servem de base para
a normalização contábil. Sendo que a uniformidade desses termos visa a facilitar o
entendimento entre os contabilistas (que executam a tarefa); os auditores (que revisam a
tarefa); os peritos (que opinam sobre a tarefa) e terceiros (que utilizam os informes e
opiniões). Ou seja, o uso adequado desses termos torna mais fiéis as expressões e o
entendimento entre todos os usuários.

2.3 Princípio da Entidade

Dentre os princípios contábeis citados na seção anterior, este trabalho tem como foco o
Princípio da Entidade e a sua importância para as empresas, pois possibilita a segregação
entre os patrimônios da empresa e de seus sócios.
O Princípio da Entidade trata basicamente da relação entre a empresa (ou entidade) e o
seu dono, em outras palavras, da separação que a Contabilidade faz entre o patrimônio da
companhia e o patrimônio dos proprietários. Portanto, a escrituração das contas do
proprietário deve ser feita separadamente das contas da empresa, a fim de que os registros
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contábeis sejam os mais claros e corretos possíveis no que diz respeito à situação financeira
da companhia.
Conforme o CFC (2000, p. 30):
O Princípio da Entidade reconhece o patrimônio como um objeto da Contabilidade e
afirma a autonomia patrimonial, a necessidade da diferenciação de um patrimônio
particular no universo dos patrimônios existentes, independentemente de pertencer a
uma pessoa, um conjunto de pessoas, uma sociedade ou instituição de qualquer
natureza ou finalidade, com ou sem fins lucrativos. Por conseqüência, nesta acepção,
o patrimônio não se confunde com aqueles dos seus sócios ou proprietários, no caso
de sociedade ou instituição.
Para Iudícibus (1997), o Princípio da Entidade deve revestir-se do atributo de
autonomia em relação a todos os outros Patrimônios existentes, pertencendo a uma entidade,
essa autonomia, considera o fato de que o patrimônio de uma entidade jamais pode confundir-
se com aqueles dos seus sócios ou proprietários.
Franco (1997, p. 196) afirma que:
[....] a função contábil só pode ser exercida no pressuposto de que a Entidade cujo
patrimônio a Contabilidade estuda e controla tem existência identificada e efetiva,
distinta e independente das pessoas físicas ou jurídicas que a compõem, podendo
subsistir mesmo após o desaparecimento destas. Assim, o patrimônio da Entidade
não se confunde, sob qualquer aspecto, com a riqueza patrimonial de seus titulares,
nem sofre os reflexos das variações nela verificadas.
De acordo com Iudícibus (1997), o Princípio da Entidade e o Princípio da
Continuidade, assim chamados na Resolução CFC 750/93, também podem ser denominados
como Postulados ambientais, pois representam as premissas ou constatações básicas, não
sujeitas a verificação, que formam o arcabouço sobre o qual repousa o desenvolvimento
subseqüente da teoria da contabilidade.
Ao referir ao Postulado da Entidade Iudícibus (1997, p.47), destaca que:
O importante no postulado da entidade é reconhecer que os critérios de mensuração
da contabilidade devem realizar um esforço para, na alocação de recursos escassos e
na realização tanto de seus consumos como das utilidades auferidas, separar o que
pertence a entidade dos interesses residuais dos donos do capital.

2.4 Empresa Familiar

Como o Princípio da Entidade trata da separação entre os patrimônios da empresa e


dos sócios, torna-se relevante explorar a sua aplicabilidade em um tipo de empresa em que a
relação familiar é significativa, ultrapassando as barreiras da gestão dos negócios e
envolvendo a relação de sangue existente entre os sócios, que são as empresas familiares.
Segundo Martinelli (2005) existem diversos conceitos de empresa familiar, levando-se
em conta os tipos de empresas, tamanho, estágio no ciclo de vida dentre outras características.
Oliveira (1999) considera que a origem de uma empresa familiar se dá antes mesmo da
abertura da empresa, pois o empreendedor geralmente já tem uma visão do negócio, e o inicia
com apoio e auxílio de membros da família.
Albi (1994 apud Martinelli 2005) considera a empresa familiar como “uma unidade
econômica de produção, cuja função é a criação de riquezas mediante a produção de bens e
serviços, sob a direção, responsabilidade e controle do empresário que a criou”.
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Uma das características da gestão de empresa familiar para Martinelli (2005) é que
nessas empresas “os interesses da família proprietária influem de maneira decisiva na tomada
de decisões e na forma de dirigir a empresa. Como garantia dessa influência, alguns membros
do grupo familiar sentem-se envolvidos, como gestores, na direção da empresa”.
Para Albi (1994 apud Martinelli 2005), a principal característica que diferencia as
empresas familiares é que “em uma empresa familiar os proprietários do capital e os
acionistas são as mesmas pessoas. A função do proprietário consiste em estabelecer os
objetivos básicos que a empresa tem que alcançar, assumindo o risco pelo patrimônio da
empresa”.
Muler e Carlin (2005) ressaltam que muitas vezes a empresa familiar tem em seu
empreendedor ou gestor a figura do chefe de família e não se preocupa com a
profissionalização ou com as necessidades de manutenção da atividade empresarial. Essas
empresas, no entanto, poderão sofrer sérias conseqüências de continuidade caso seu
empreendedor não vincule o profissionalismo à cultura organizacional.
Ao tratar das empresas familiares, Otávio (2005) esclarece que as empresas possuídas
e administradas por famílias constituem uma forma organizacional peculiar, cujo caráter
especial tem conseqüências positivas e negativas. O autor destaca como conseqüências
positivas a probabilidade dos cônjuges e irmãos de entender as preferências explícitas e as
forças e fraquezas ocultas uns dos outros. Mais importante, o empenho, até mesmo a ponto do
auto sacrifício, pode ser solicitado em nome do bem estar geral da família. Entretanto o autor
destaca que esta mesma intimidade também pode trabalhar contra o profissionalismo do
comportamento empresarial. Pois, antigas histórias e dinâmicas familiares podem gerar
conflitos nos relacionamentos de negócios, além de ser mais difícil exercer autoridade com os
parentes, o que torna os papéis na família e na empresa confusos.

2.5 Princípio da Entidade em Empresa Familiar

Vale a pena tratar neste artigo, após a conceituação do Princípio da Entidade e de


empresa familiar nas seções anteriores, estes dois conceitos de forma conjunta, com o objetivo
de avaliar a sua observância e impactos gerados no patrimônio das entidades.
Ao tratar do Princípio da Entidade na empresa familiar, Müller e Carlin (2005)
destacam que:
A consciência de que o que separa a família de sua empresa é uma linha imaginária
e tênue que pode determinar o sucesso empresarial. É perfeitamente possível que a
empresa familiar venha a ser um empreendimento de sucesso, desde que exista um
equilíbrio entre a realização profissional e a dependência financeira. A
Contabilidade chama isso de “Princípio da Entidade”. A falta de respeito a esse
princípio tem sido causa determinante para antecipação da liquidação de empresas,
em situações bastante desfavoráveis. Vale repensar tal princípio como fonte de
segurança e de controle organizacional, o que pode valer o respeito do mercado e a
credibilidade das demonstrações contábeis e da empresa como um todo.
Conforme Figueiredo (2005):
O patrimônio da empresa não deve ser misturado ao patrimônio dos seus donos.
Assim quando o proprietário retira dinheiro do caixa da empresa para fazer alguma
despesa pessoal, isto é, que não será para benefício da empresa, ele retirou um bem
da companhia e, portanto, a Contabilidade irá abrir uma conta débitos do
proprietário, por exemplo, a qual terá os saldos das dívidas que este tem para com a
empresa. Por outro lado quando o dinheiro é retirado pelo dono, porém é usado em
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alguma atividade para o benefício da companhia e existe um documento como uma


nota fiscal, por exemplo, provando que a despesa foi para uso da companhia, o
proprietário não precisará reembolsar a empresa.
Portanto, a escrituração das contas do proprietário deve ser feita separadamente das
contas da empresa, a fim de que os registros contábeis sejam os mais claros e corretos
possíveis no que diz respeito à situação financeira da companhia.
No que concerne a contabilidade em empresas de gestão familiar, Floriani (2005) diz
que tanto as grandes como as pequenas empresas, o contador possui desafios diferenciados
quando operando numa empresa de origem e gestão familiar. Nestas organizações, os
controles patrimoniais e contábeis em geral, se confundem ao permitir que haja uma fusão
entre interesses dos membros da família com aqueles que dizem respeito apenas à empresa.
Não é raro encontrar o profissional de contabilidade cuidando dos interesses
empresariais e particulares de seus participantes familiares, manipulando (às vezes,
perigosamente e de maneira arriscada) informações para atender a ambos os
interesses os quais, pelas próprias normas contábeis, não poderiam, em hipótese
alguma, serem mesclados (FLORIANI, 2005).

3. PESQUISA DE CAMPO:

3.1 Descrição da amostra

Visando demonstrar o nível de aplicabilidade do Princípio da Entidade nas empresas


familiares, efetuou-se uma pesquisa de campo através da aplicação de questionário
diretamente aos proprietários das empresas. A amostra utilizada foi de 53 (cinqüenta e três)
questionários respondidos por empresas localizadas na cidade de Taguatinga –DF.
A identificação das empresas da amostra como “Empresa Familiar” foi possível dada
a contribuição de alguns contadores atuantes no mercado de Taguatinga – DF que exercem as
funções de contabilidade nas referidas empresas e que conhecem a composição societária das
mesmas. Também, foi facilitado o acesso a estas empresas.
O questionário compõe-se de questões objetivas e de múltipla-escolha que foram
divididas em três blocos:
a) Dados gerais das empresas entrevistadas;
b) Princípio da Entidade – conhecimento pela empresa
c) Práticas de gestão da empresa

3.2 Resultados obtidos

3.2.1 Características da amostra

Os gráficos a seguir evidenciam as características principais da amostra pesquisada,


extraídas
das perguntas feitas no bloco de dados gerais do questionário (apêndice A):
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a) A amostra é composta de 38% de empresas com mais de 10 anos


Gráfico 1: Tempo de atuação no mercado

6%
ate 1 ano

38% 28%
1 a 5 anos

6 a 10 anos

mais de 10
anos
28%
Fonte: a autora

b) Quanto ao faturamento, pode-se notar no gráfico abaixo que mais da metade


apresentam faturamento acima de R$ 100 mil.
Gráfico 2: Faturamento da empresa

24%
33%

25%
18%

até R$ 50 mil de R$ 51 a R$ 100 mil


de R$ 101 a R$ 150 mil acima de R$ 150 mil

Fonte: a autora
8

c) Das empresas pesquisadas 17% não possuem empregados contratados, enquanto


que 39% possuem até 5.
Gráfico 3: Quantidade de empregados da empresa

6%
17%

21%

17%
39%

nenhum até 05 06 a 10 acima de 10 terceirização

Fonte: a autora

3.2.2 Caracterização das empresas familiares

O objetivo principal deste artigo é demonstrar o nível de aplicabilidade do Princípio da


Entidade em empresas familiares, com isso faz-se necessária à verificação se as empresas da
pesquisa são consideradas empresas familiares.
O gráfico a seguir demonstra o grau de parentesco existente entre os sócios das
empresas pesquisadas com destaque para o fato de que em todas elas os sócios têm grau de
parentesco, sendo que em 48% delas os sócios são esposo e esposa.

6%
13%
4%
48%

6%

23%
esposo(a) irmaos(as) cunhados
primos pais/filhos tio/sobrinho

Gráfico 4: Grau de parentesco dos proprietários


Fonte: a autora
9

3.2.3 Apresentação dos resultados relevantes

Dando seqüência ao objetivo a ser alcançado neste trabalho, na amostra das 53


empresas familiares foi detectado que das 38 (72%) das empresas responderam que conhecem
o Princípio da Entidade. Porém, o que se pretende é analisar o nível de aplicabilidade do
referido princípio e não somente o seu conhecimento ou não pelas empresas.
Com isso, através das respostas obtidas nos questionários foi possível elencar as
principais constatações de que apesar da maioria das empresas conhecerem o Princípio da
Entidade não o aplica na prática, em virtude de:
• 83% dos sócios utilizam a conta corrente da empresa para aquisição de bens
particulares;
• 51% fazem as suas retiradas informalmente, sendo que deste total 70% não
reembolsa a empresa;
• 70% das empresas as despesas englobam gastos particulares dos sócios;
• 64% dos sócios utilizam bens das empresas, na sua maioria veículos e não
reembolsa a empresa por esta utilização;
• 71% das empresas não controlam os gastos de interesse dos sócios.

3.2.4 O cruzamento entre as respostas dos questionários

Os dados descritos anteriormente demonstram a aceitação da hipótese levantada


anteriormente de que o Princípio da Entidade não é obedecido nas empresas familiares, pois
fica evidente a utilização da empresa pelos sócios para interesses particulares e vice-versa,
sem o devido registro na contabilidade da entidade.
Diante do cruzamento efetuado entre as respostas dadas chegou-se aos seguintes
resultados da amostra analisada:

a) Tempo de atuação no mercado x Faturamento x Conhecimento do Princípio da


Entidade
38 empresas 15 (40%) 8
Conhecem o Mais de 10 acima de R$
Princípio da anos de 150 mil de
Entidade atuação faturamento

b) Tempo de atuação no mercado x faturamento x Grau de parentesco dos sócios


26 empresas 10 (39%) 9
Sócios são Mais de 10 acima de R$
esposo e anos de 100 mil de
esposa atuação faturamento
10

c) Utilização da conta corrente da empresa pelo sócio x Retiradas informais x


Conhecimento do Princípio da Entidade: empresas dizem conhecer o Princípio da
Entidade mas incoerente nas respostas.
38 empresas 31 (82%) 16
Utilização Conta
Conhecem o Corrente da
Retiradas
Princípio da empresa para
Informais
Entidade interesses
particulares

d) Local da empresa/residência dos sócios x Conhecimento do Princípio da Entidade:


empresas dizem conhecer o Princípio da Entidade mas incoerente nas respostas.
38 empresas 9 (24%)
Utilização a
Conhecem o
residência dos
Princípio da
sócios como local
Entidade
da empresa

Concluindo, as empresas que dizem conhecer o Princípio da Entidade são de grande


porte (faturamento acima de R$ 100 mil) e com longo tempo de atuação no mercado (acima
de 10 anos). Porém, algumas respostas demonstram uma certa incoerência entre esta
afirmativa, pois estas empresas adotam práticas que indicam que as mesmas desconhecem o
real conceito do que venha a ser o referido princípio, pois utilizam a conta corrente da
empresa para compra de bens particulares, fazem retiradas informais sem o devido reembolso
à empresa, além de utilizarem o ambiente familiar para a realização de seus negócios.

4. Considerações finais

Tendo em vista que o Princípio da Entidade consiste em dar embasamento às práticas


contábeis das empresas, na movimentação do patrimônio, Iudícibus et. al (2003, p.47)
observam que “ O cerne do Princípio da Entidade está na autonomia do patrimônio a ela
pertencente. .... A autonomia tem por corolário o fato de que o patrimônio de uma Entidade
jamais pode confundir-se com aqueles dos seus sócios ou proprietários.”
Com base no estudo feito sobre o nível de aplicabilidade do Princípio da Entidade nas
empresas familiares, pode percebe-se que o referido princípio, embora, seja conhecido pelos
gestores das empresas, não é praticado.
As respostas revelam que os proprietários utilizam-se da conta corrente da empresa
para adquirir bens particulares, fazem retiradas do caixa informalmente sem reembolsar a
empresa e muitas delas funcionam no mesmo local da residência dos sócios não havendo
distinção entre despesas pessoais e as que referem somente a empresa. Portanto, conclui-se
que o Princípio da Entidade embora seja de conhecimento da maioria das empresas familiares,
não é obedecido pelas mesmas.
O fato das empresas familiares terem em seu empreendedor ou gestor a figura do chefe
de família, muitas vezes leva o empreendedor a não se preocupar com o profissionalismo,
acarretando assim, na quebra do Princípio da Entidade e conseqüentemente, pondo em dúvida
a real situação financeira da companhia.
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5) Referências
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