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que costuma acometer pacientes que apresentam persistentemente níveis sanguíneos elevados
de ácido úrico.
Neste texto explicaremos iremos abordar as seguintes questões sobre ácido úrico e gota:
O ácido úrico é uma substância produzida no fígado, derivada do metabolismo da purina, um tipo
de proteína presente nos alimento que ingerimos. Quanto mais purina ingerimos, mais ácido úrico é
produzido pelo nosso organismo.
Durante a evolução das espécies, o ser humano perdeu a capacidade de produzir uma enzima
chamada uricase, que transforma o ácido úrico em alantoína, uma substância muito mais solúvel no
sangue. Como resultado, os humanos apresentam níveis de ácido úrico muito mais altos do que a
maioria dos outros mamíferos. Os nossos níveis de ácido úrico sanguíneo só não atingem níveis
tóxicos porque a maioria de nós consegue eliminar o excesso através dos rins. Nas mulheres em
idade reprodutiva, os níveis costumam ser um pouco mais baixos devido a influência do estrogênio,
que potencializa a eliminação do ácido úrico pelos rins.
Apesar do bom trabalho dos rins, ainda assim os nossos níveis sanguíneos habituais de ácido úrico
estão muito próximos do limite de solubilidade, fazendo com que pequenos aumentos na sua
concentração causem precipitação (cristalização) deste nos tecidos. O ácido úrico é mais solúvel
em temperaturas acima de 37ºC, que é a temperatura do sangue. Todavia, nas nossas articulações
a temperatura é mais baixa, chegando a 32ºC em algumas delas, o que favorece a deposição de
cristais nestes locais (toque no seu joelho e compare a temperatura deste com as das coxas ou
pernas). O ácido úrico se deposita nos tecidos na forma de urato de sódio.
Quando ocorre deposição de cristais de ácido úrico (urato de sódio) nas articulações, estes
provocam uma intensa reação inflamatória levando a uma artrite (inflamação das articulações)
muito dolorosa que recebe o nome de gota.
Resumindo: O ácido úrico mantém-se dissolvido no sangue até níveis próximos de 7,0 mg/dl. A
partir deste valor, quanto mais elevada for sua concentração, maior é a chance de cristalização e
deposição nos tecidos, principalmente nas articulações, que são as regiões de menor temperatura
do corpo. Caso a concentração sanguínea de ácido úrico continue se elevando, a cristalização pode
passar a ocorrer mesmo em tecidos mais quentes, como a pele. É importante destacar, porém, que
são necessários alguns anos de ácido úrico elevado para se desenvolver a doença gota.
A elevação do ácido úrico sanguíneo, chamado de hiperuricemia, não causa sintomas. Na verdade,
mais de 2/3 das pessoas com ácido úrico elevado nem sequer desconfiam do fato. O fato de causar
sintomas não significa, entretanto, que níveis elevados de ácido úrico não possam levar a
complicações. As duas mais comuns são as crises gota e as pedras de ácido úrico nos rins.
Algumas pessoas com histórico de gota referem descamação das mãos e pés quando os níveis de
ácido úrico estão elevados. Na verdade, não existe nenhuma comprovação de tal relação.
Descamação das mãos e pés é geralmente causada por ressecamento da pele e não por ácido úrico
elevado.
Sintomas da gota
A manifestação clínica da gota é a artrite, ou seja, inflamação de uma articulação, caracterizada
por dor, vermelhidão, inchaço e calor local (Para saber mais sobre artrite, leia: ARTRITE e
ARTROSE | Sintomas e diferenças).
A gota é classicamente uma monoartrite, ou seja, uma artrite que atinge apenas uma articulação
em cada crise. As articulações mais acometidas são as dos pés, principalmente o primeiro dedo do
pé (dedão do pé) e joelhos.
A artrite da gota é tão dolorosa que algumas pessoas não conseguem nem cobrir os pés, pois só o
contato do cobertor com a área inflamada já causa uma fortíssima dor. Podem haver calafrios e
febre, simulando um quadro infeccioso.
Reparem na foto acima de uma artrite gotosa do primeiro dedo, com edema e vermelhidão do
mesmo.
O ataque de gota dura alguns dias e depois desaparece espontaneamente. O intervalo entre a
primeira e segunda crises pode durar até dois anos. Se não tratada, as crises de gota começam a
ficar mais frequentes e intensas, podendo acometer mais de uma articulação por vez.
Ao longo dos anos a gota não tratada leva a formação de tofos nas articulações, causados por
deposição crônica de cristais de urato. Os tofos podem ser únicos ou múltiplos, levando a
deformidades como nas fotos abaixo e ao lado. Essa fase da gota é chamada de gota tofácea.
O excesso de ácido úrico também pode levar à formação de cálculos renais de ácido úrico. Existe
também o risco de deposição de urato e formação de tofos nos rins, causando insuficiência renal
crônica (leia: CÁLCULO RENAL (PEDRAS nos RINS) e VOCÊ SABE O QUE É CREATININA?)
Como já explicado, a gota é causada por prolongados níveis elevados de ácido úrico sanguíneo.
Porém, nem todo mundo que tem ácido úrico alto, desenvolve gota. Algumas pessoas mantém-se
anos com níveis de ácido úrico maiores que 7 mg/dl e nunca apresentam artrite gotosa ou doença
renal. O porquê disto, ninguém sabe.
A gota é muito mais comum em homens e ocorre entre 35 e 45 anos. Nas mulheres costuma ocorrer
somente após a menopausa.
Carnes: bacon, porco, vitela, cabrito, carneiro, miúdos (fígado, coração, rim, língua).
Peixes e frutos do mar: salmão, sardinha, truta, bacalhau, ovas de peixe, caviar, marisco,
ostra, camarão.
Aves: peru e ganso.
Bebidas alcoólicas.
Leite, chá, café, chocolate, queijo amarelo magro, ovo cozido, cereais como pão, macarrão,
fubá, batata, arroz branco, milho, mandioca, sagu, vegetais (couve, repolho, alface, acelga
e agrião), frutos secos, doces e frutas (mesmo as ácidas)
O diagnóstico da gota é feito quando há um quadro clínico típico associado a níveis elevados de
ácido úrico. Quando há dúvida sobre a causa da artrite, o médico geralmente punciona o líquido da
articulação inflamada, procurando pelos depósitos de cristais de urato.
Durante a crise de gota o tratamento é feito com anti-inflamatórios comuns (AINE) (leia: AÇÃO E
EFEITOS COLATERAIS DOS ANTI-INFLAMATÓRIOS ) e/ou colchicina.
Nos pacientes que não toleram AINE ou colchicina, uma opção é o uso de corticoides, potentes
anti-inflamatórios de origem esteroidal (leia: PREDNISONA E CORTICOIDES | Indicações e efeitos
colaterais).
A aspirina (ácido acetilsalicílico) deve ser evitada sempre que possível, pois a mesma, apesar de
ter efeito anti-inflamatório, reduz a excreção de ácido úrico pelos rins (leia: ASPIRINA | AAS |
Indicações e efeitos colaterais).
Uma vez cessada a crise de gota, o tratamento se volta para a diminuição dos níveis de ácido úrico.
A droga mais usada para este objetivo é o alopurinol. É importante ressaltar que não se deve
começar o alopurinol durante as crises, pois há risco de piora do quadro. O alopurinol durante as
crises só é aceitável se o paciente já fazia uso crônico dele antes do início da crise.
Sugere-se manter a colchicina para evitar novas crises enquanto os níveis de ácido úrico ainda não
tiverem sido reduzidos pelo alopurinol. Podem ser necessários alguns meses de tratamento até se
atingir valores desejáveis.
Uma outra opção para baixar os níveis de ácido úrico é a probenecida, um medicamento que
aumenta a sua eliminação pelos rins. A probenecida não deve ser usada em pacientes com histórico
de cálculo renal por ácido úrico.
Desde 2008 existe uma novo mediamento chamado Febuxostat, que serve de alternativa para os
pacientes que não podem tomar nem alopurinol nem probenecida. O Febuxostat ainda não está
disponível no Brasil.
Como a maioria dos pacientes com ácido úrico elevado não desenvolve crises de gota ou cálculo
renal, o consenso atual indica não usar alopurinol nestes casos. Só se começa tratamento com
remédios se houver um primeiro episódio de crise de gota, cálculo renal, ou se os níveis de ácido
úrico estiverem acima de 13 mg/dl no homem e 10 mg/dl na mulher.
Nos pacientes com hiperuricemia assintomática indica-se apenas uma alteração da dieta, visando
evitar alimentos ricos em purinas.