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EMPODERAMENTO NEGRO

NAS HISTÓRIAS
INFANTIS
Nota:
Optamos, neste material, por usar a nomen-
clatura negra/negro, em vez de preta/preto e
afro-brasileira/afro-brasileiro. Elegemos a
terminologia mais disseminada, apesar de
reconhecermos a importância da discussão
sobre a semântica que cada uma dessas
abordagens traz.
CONSCIÊNCIA NEGRA É EDUCAÇÃO DO OLHAR...
É TER ESPÍRITO ABERTO E SENSO CRÍTICO
NAS LEITURAS DO MUNDO ...
Rosa Margarida
Somos um país de maioria negra e de origem diversas. No entanto, é
predominante a escolha por um padrão de representação branco e pelo
imaginário de origem europeia nas histórias infantis. Este e-book traz
reflexões e dicas de livros que possam contribuir para a mudança deste
quadro.

Nós dividimos os livros aqui sugeridos em três temas: Autoestima - Lendas e


Mitos - e Reflexão histórica e social. E ainda acrescentamos um bônus
surpresa.

Lembre-se de que há muitos outros livros disponíveis no mercado. Use a


orientação temática dada aqui para compor seu próprio acervo.

Boa leitura!
AUTOESTIMA
(Livros que tratam de maneira direta
sobre o corpo negro - especificamente,
o cabelo crespo - com um ponto de vista
de afirmação e beleza)

POR QUE?
Uma boa autoestima é essencial para o desenvolvimento da criança.
Assim, não dá para ela achar que seu cabelo crespo é feio, ruim ou infe-
rior. Estes livros também são para todxs, pois precisamos construir uma
cultura geral que veja e valorize a beleza negra.
Em um poema ilustrado, uma voz narradora fala a uma
menininha para ser feliz com seu crespo, porque,
afinal, ele é de rainha. As ilustrações mostram
variados tipos de crespo, junto a um texto leve e fluido,
que pode ser lido já com as crianças bem pequenas. A
afirmação cheia de orgulho - "Pixaim, sim" - e o uso
MEU CRESPO do coletivo - “Nosso crespo é de rainha” - deixam
claro para essa criança que ela pode (e deve) se

É DE RAINHA reconhecer e acolher nos tantos belos crespos por aí.

Editora: Boitempo (Selo: Boitatá)


Texto: Bell Hooks
Ilustrações: Chris Raschka
Betina é uma menina muito risonha. E que tem uma amizade leve
e verdadeira com sua avó. Antes de partir para outro plano, a avó
ensina a menina a trançar cabelos, com a condição de que a neta
venha a ajudar muitas outras pessoas a se sentirem bem com sua

BETINA
aparência. E é o que ela faz. É bonito de se ver também a honra
dada aos mais velhos, aos ancestrais, ao conhecimento passado
de geração a geração. Livro com um pouco mais de texto, bom
para crianças um pouco maiores.
Editora: Mazza Edições
Texto: Nilma Lido Gomes
Ilustrações: Denise Nascimento
LENDAS E MITOS
(Por um imaginário mais amplo: lendas
e mitos da tradição oral da África)
FIQUE ATENTX
As histórias ditas “africanas” são realmente
colhidas da tradição oral do continente ou
são simplesmente inspiradas nos contos
orais? Ou será que são ficções de autoria
individual que apenas se passam no cenário
africano?

Todas essas vertentes têm seu valor, é


preciso apenas saber diferenciá-las.

Para este e-book, escolhemos livros com histórias recolhidas


da tradição oral, e que mostram a origem da recolha.
OMO OBA
HISTÓRIAS DE PRINCESAS
Editora: Mazza Edições
Texto: Kiusam de Oliveira
Ilustrações: Josias Marinho As personagens destes contos são princesas iorubas. Na
apresentação, a autora diz que, por se tratar de um reconto,
vai reforçar certas características capazes de ajudar no
empoderamento de meninas. Logo reconhecemos muitas
dessas princesas, que estão em nossa religiosidade,
imaginário e cultura, como Iemanjá e Oxum. Elas são
retratadas ainda crianças, com ênfase nos atributos de
cada uma. Impossível não se reconhecer e se encantar!
DUULA
A MULHER
CANIBAL
Este tão intrigante conto foi adaptado da tradição oral do
povo somali. Lá conhecemos Duula, uma mulher-monstro
que vive no deserto! Um dia, um casal de irmãos se perde de
sua família e são capturados por Duula. O mais incrível Editora: DCL
dessa história é sua semelhança com contos tradicionais de Texto: Rogério Andrade Barbosa
outras terras. Há cenas extraordinariamente parecidas com Ilustrações: Graça Lima
João e Maria, Chapeuzinho Vermelho e até mesmo com a
Bíblia. Com certeza as crianças vão reconhecer essas cenas
comuns!
Esse conto vem do povo axânti, de Gana. Há muito tempo,
todas as histórias ficavam trancadas em um baú pelo Deus do
Céu. E o velho Anansi, graças aos conselhos de sua esposa,
Aso, consegue trazer as histórias para a Terra. O livro vem
com umas páginas extras informativas no final. Lá podemos
conhecer mais sobre o povo axânti, os griots (contador de
histórias tradicional) e os contos da África negra.

ANANSI
´
Editora: Companhia das Letras
Texto: Conto axânti recontado por Kaleki
Ilustrações: Jean-Claude Gotting O VELHO SABIO
REFLEXAO ´
˜ HISTORICA (Livros que tematizam a trajetória negra de
migração forçada e escravização, o preconceito

E SOCIAL
atual e os reflexos sociais atuais de todo esse
processo histórico)

QUANDO A ESCRAVA
ESPERANÇA GARCIA
Conhecemos a história real de Esperança Garcia, uma
ESCREVEU UMA CARTA escrava que escreveu uma carta para o governador
denunciando os maus tratos que recebia. Ela é uma
voz de mulher, mãe e escrava, que teve coragem de
lutar por direitos mínimos, em um tempo em que
pessoas negras eram animalizadas e coisificadas. É
Editora: Pallas um livro com alguns trechos mais duros de ler, mas
Texto: Sonia Rosa acima de tudo com muita beleza e emoção, que nos faz
Ilustrações: Luciana Justiniani Hees
refletir, para podermos fazer diferente hoje.
A MENINA QUE Editora: Voo (Selo Vooinho)
Texto: Fernanda Paraguasu

ABRAÇA O VENTO
Ilustrações: Suryara Bernardi

Marsene é uma menina refugiada no Brasil, vinda da República


Democrática do Congo. Em seu país há muitas riquezas e muita
guerra por causa disso. Ela foge com sua mãe, mas seu pai
acaba ficando lá. Apesar dos desafios, o livro apresenta sua
vida de forma leve. Mesmo sua enorme saudade do pai, apesar
de triste, vira poesia: a menina inventa uma brincadeira de
abraçar o vento, enquanto o pai não está. E é de suspirar ler
essa parte do livro.
A COR DE
Editora: Rocco
Texto e Ilustrações: Alexandre Rampazo
CORALINE
Um amigo de Coraline lhe pede emprestado um lápis “cor de
pele” e a menina começa a refletir. E se fosse pele de marciano?
Ou pele de peixinhos dourados? Há tantos tons de pele... No fim
das contas, Coraline olha para ela mesma. E, apesar de seu amigo
ter pele clara, sua pele é diferente. A percepção sobre como o
racismo está enraizado em concepções automáticas como essa
(cor de pele = rosado ou bege) pode ser um bom ponto de partida
para discussões.
BONUSˆ LIVROS SOBRE QUALQUER COISA

(mas não menos importante)


São bem importantes também livros com protagonismo negro que não
necessariamente falem de “questões negras” (como as que citamos, de
autoestima, lendas e mitos, e reflexão social). São livros que trazem histórias
dos mais diversos tipos, pois a representatividade negra precisa estar em todos
os temas do humano. Assim, selecionamos duas dicas em torno do tema da
escrita, leitura e imaginação. Com representatividade negra, é claro!

Livro lindíssimo, com ilustrações de


se ter na parede. Uma mãe conta para Cadu vive sonhando acordado e
um filho como ela foi uma das criando mundos. Ele queria ser

LETRAS DE
primeiras de seu povoado a aprender
a ler. Sua vontade de ler vinha do CADU E O inventor quando crescesse. Sua
imaginação o salvava inclusive de
desejo de entender as cartas de amor MUNDO QUE
CARVÃO
momentos difíceis, como a morte do
que sua irmã recebia. Com isso, ela avô. Mas será que ele virou inventor?
promove um movimento de NÃO ERA Em que profissão e espaço somos
letramento em todo o povoado. livres para criar o que quisermos?
Conseguem adivinhar?

Editora: Pulo do Gato Editora: Pólen Livros


Texto: Irene Vasco Texto: Lúcio Goldfarb
Ilustrações: Juan Palomino Ilustrações: Pedro Menezes
Boas leituras e reflexões,
cheias de afeto, para todxs!

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