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Redes organizacionais e
setor mais relevante do ambiente total.
Há setores da organização que transacionam com seto-
res ambientais nos quais o nível de certeza quanto às in-
Estado amplo* formações que obtém é alto. Outros transacionam com
setores ambientais nos quais o nível de certeza quanto
às informações é mais baixo.
Decorre disso que há casos de empresas que operam em
ambientes onde há uma certa homogeneidade no nível
de certeza quanto às informações advindas de seus vá-
rios setores. Dessa forma, seguindo o modelo de Law-
Fernando Cláudio Prestes Motta
rence e Lorsh, é possível que mercado, tecnologia e ciên-
Professor titular no Departamento de Administração cia possam ser semelhantemente estáveis ou ainda se-
Geral e Recursos Humanos da EAESPIFGV.
melhantemente dinâmicos. Por sua vez, é possível que
haja uma situação diversa, em que varie o nível de cer-
teza entre os setores ambientais e, portanto, haja dis-
paridade em seu dinamismo ou estabilidade.
De qualquer forma, a acreditar no que Perrow parece Aldrich salienta que uma rede de organizações assume
sugerir, "as descobertas não são muito diferentes da- o máximo de estabilidade" quando as relações entre as
quelas que a análise convencional pode prever com me- organizações são de caráter múltiplo, mais do que vol-
nor esforço". 11 Na realidade, os modos de coordena- tadas para um único propósito, cada relação dual é al-
ção atuais ainda são responsáveis pelo êxito da maior tamente estável, e as relações instáveis têm pouco, se têm
parte das organizações, mesmo quando se trata de mo- algum, efeito sobre as outras relações (... ) Uma rede na
dos de coordenação informal, sem que seus administra- qual as relações inter-organizacionais são relativamente
dores precisem recorrer a um instrumental muito ela- independentes através de pares de organizações e, por
borado como o oferecido pela análise de redes sociais. definição, um sistema de acoplamento frouxo, e há mui-
Apesar disso, a análise de redes sociais ~ as técnicas tas razões para se esperar que a maioria das redes caia
quantitativas a ela associadas parecem ser, de fato, mui- nessa categoria".16
to ulilizadas nos Estados Unidos. Para Marcus, a aná-
lise das redes sociais aplicada às organizações é o estu- Essa noção de acoplamento frouxo é utilizada por Karl
do das conexões entre elas, dada uma organização fo- Weick, quando estuda as instituições educacionais e, de
cal. Dessa forma, é possível a observação da freqüên- certa forma, está na base de toda a teoria organizacio-
cia das comunicações entre elas, bem como da influên- nal convencional contemporânea. Entretanto, a teoria
cia exercida pela organização focal sobre as demais, e assume que redes montadas na dependência apenas de
das várias correlações entre variáveis de interesse. A am- ligações frouxas tendem a apresentar uma fragilidade
plitude pretendida pela análise leva também a compa- grande, o que, em certos casos, significa que relações
rações entre unidades, organizações e sociedades diver- informais não podem prescindir de relações formais.
sas, em termos de uma configuração total assumida. 12
É importante observar que a análise permite evidenciar o grande problema que se coloca para as redes organi-
a distribuição desigual de poder no interior da rede, o zacionais é o de sua coordenação. Há redes nas quais
domínio de algumas organizações sobre outras, através se dá uma coordenação horizontal, outras em que se dá
do controle de informações e recursos, ou ainda o fato uma coordenação vertical e outras, ainda, em que a
de as organizações dominantes definirem canais de co- coordenação é diagonal ou multidirecional. Através da
municação, transferirem recursos e estabelecerem pa- coordenação, é exercido o controle e ocorre a distribui-
drões de ação para outras unidades constitucionais da ção de recursos.
rede. Para Stern, a unidade de análise é a totalidade da
rede, a partir da hipótese de que as relações entre os ato- Nos casos em que a coordenação é horizontal, ocorre
res são passíveis de representação por uma série de la- uma baixa autoridade e dominação, o que significa re-
ços. lação mais igualitária e maior autonomia para os agen-
tes. Entretanto, por força de interesses próprios, tal au-
A rede constitui-se, portanto, das unidades organiza- tonomia pode ser trocada por recursos. A coordenação
cionais e das ligações que existem entre elas. Para Stern, horizontal é caracterizada pela negociação, na ausên-
as características estruturais correntes são tão respon- cia de um árbitro para distribuir o fluxo de recursos e
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Redes organizacionais
informações como ocorre na coordenação vertical, o ções gerais de produção (CGP), comportam-se como
que pode levar a custos mais altos nas transações. tais, ou seja, como unidades de produção última
(UPU).18
As várias organizações que constituem uma rede não
precisam necessariamente estabelecer ou manter rela- "Assim, as UPU e as CGP distinguem-se porque o com-
ções simétricas, embora as relações bilaterais impliquem portamento que caracteriza as primeiras é exclusiva-
maior estabilidade do conjunto. Tal estabilidade pode mente de UPU e o das segundas é simultaneamente de
ser observada em termos de consistência interna e pos- UPU e de CGP".19
sibilidade de crescimento, da mesma forma que na re-
lação com as intervenções externas e na capacidade de Existem diversos tipos de condições gerais de produção.
resposta às demandas ambientais. Há aquelas que dão conta da existência e da reprodu-
ção física do proletariado, como a infra-estrutura sa-
De acordo com Aldrich, "desconsiderando-se o efeito nitária, os hospitais, as creches, etc. Há aquelas que tra-
das intervenções externas, a estabilidade interna de uma tam da realização social da relação entre dominantes e
rede depende de quatro fatores: duplicação e multipli- dominados, como a preparação e a reciclagem da for-
cidade nas relações entre duas organizações ou conjun- ça de trabalho, a repressão, o policiamento, etc. Há
tos de ações; a probabilidade de falência de uma liga- aquelas que garantem a existência física das empresas,
ção e o impacto que a falência de uma ligação tem na como as redes de produção e distribuição de energia e
probabilidade da falência de outras" .17 as redes de transporte. Há aquelas que tratam do pros-
seguimento do processo de trabalho, como a veiculação,
Há uma hierarquia entre as organizações que consti- centralização e armazenamento de informação, e a in-
tuem uma rede. Há aquelas que são dominantes ou que formática é a principal condição geral de produção desse
têm um status mais elevado. São essas organizações que, tipo, bem como as universidades, os laboratórios e os
em larga medida, controlam o fluxo de comunicações centros de pesquisa. Há aquelas que se voltam para a
e as fontes de recursos, principalmente mediante liga- existência física de um mercado para os produtos, uma
ções estreitas ou firmes. Assim, tanto a integração ver- vez que todos aqueles produtos, cujo consumo não é di-
tical quanto a integração horizontal são formas de ga- reto, implicam a construção e a manutenção de insta-
rantir uma posição privilegiada nessa hierarquia. lações. Há, ainda, as condições gerais de produção que
asseguram a existência social de um mercado para os
produtos, das quais as mais importantes são os organis-
3. ESTADO AMPLO mos de redistribuição de rendimentos voltados para um
certo tipo de consumo, como a poupança, a publicida-
No capitalismo não há antagonismo entre concorrên- de, etc.20
cia e integração. As organizações capitalistas são simul-
taneamente concorrenciais e integradas. A inter-relação Ainda para João Bernardo, enquanto as unidades de
das unidades econômicas caracteriza esse sistema eco- produção última, particularizadas e que consubstan-
nômico desde suas origens, passando por todas as fa- ciam mesmo a particularização final do processo geral
ses de sua existência, de modo que se pode afirmar que de produção supõem uma propriedade de forma parti-
o desenvolvimento do capitalismo é o desenvolvimen- cular, as condições gerais de produção, de função inte-
to dessa inter-relação, nos termos da análise feita por gradora, pressupõem a forma de propriedade co-
João Bernardo, na qual me baseio nesse tópico. mum.U
"A dominância das condições gerais ou das unidades
O capitalismo sempre pressupõe uma pluralidade de or- últimas, em cada forma de realização do capitalismo,
ganizações econômicas reciprocamente relacionadas. determina o tipo generalizado de propriedade e, se a do-
Tal inter-relacionamento tem sua base definida em ter- minância das condições gerais de produção for muito
mos das condições gerais de produção. João Bernardo acentuada, a generalização da forma de propriedade de-
procura deixar claro que, ao se referir às condições ge- las decorrente tornar-se-á altamente expansiva e todas
rais de produção, não entende produção num sentido as unidades de produção última ficarão sujeitas ao sis-
técnico, mas sim num sentido social, isto é, a produção tema da propriedade comum. Se os gestores aparecem
é vista como uma relação social complexa e contradi- como agentes sociais da propriedade comum, é porque
tória, que se materializa na tecnologia. Dessa forma, as decorrem das condições gerais de produção" .22
condições gerais de produção não se limitam ao que, em
geral, se chama infra-estrutura, mas constituem a base Essa análise torna claro que as condições gerais de pro-
do funcionamento total das unidades econômicas em re- dução definem o campo de existência dos tecnoburocra-
lações recíprocas. tas em primeira instância, bem como esclarece o con-
ceito de "monopólio do Estado capitalista" , aplicado
Da mesma forma, chama a atenção para o fato de que a formações como a soviética, na quais, como afirma
cada condição geral de produção depende de outras con- Marc Paillet, "a revolução tecnoburocrática modificou
dições gerais de produção. Assim, as organizações que o circuito e a repartição da mais-valia, uma vez produ-
constituem condições gerais de produção são passíveis zida. Ela deu novos senhores à indústria. Ela não tocou
de apresentar um duplo aspecto. Como base do inter-re- as modalidades de produção. Assim, a condição ope-
lacionamento das unidades econômicas, revelam seu rária foi mantida em seu nível mais essencial, que é o mo-
comportamento de condições gerais de produção (CGP) do pelo qual os proletários buscam sua subsistência:
e, enquanto empresas, que decorrem de outras condi- vendendo sua força de trabalho contra um salário. A
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Redes organizacionais
o que esse tipo de análise indica é que as classes sociais executivo e judiciário, forma esta a que João Bernar-
não existem senão em luta e que mesmo duas classes ca- do chama Estado Restrito, que foi a instituição respon-
pitalistas não fogem à regra, ou seja, a aliança burgue- sável pela coordenação ou ainda pela articulação das ~i-
sia-tecnoburocracia oculta um movimento histórico em versas unidades econômicas em épocas em que elas am-
que a trajetória ascendente da segunda implica a traje- da podiam ser tidas como relativamente isoladas. As-
tória descendente da primeira, bem como mostra a di- sim, quanto mais fragmentado fosse o funcionamento
versidade dos campos de origem da tecnoburocracia, das várias empresas, maior a importância da instituição
que se desenvolve a partir das unidades de produção úl- articuladora, isto é, do Estado Restrito.
tima e das condições gerais de produção, e em cada um
desses tipos de unidades econômicas, a partir de aspec- As funções do Estado Restrito são de coordenação das
tos variados de suas múltiplas articulações. diversas unidades econômicas num processo integrado.
Já foi dito que o campo da existência da tecnoburocra-
Segundo João Bernardo, é ainda importante ter em cia se define como resultante do funcionamento das uni-
mente, para a compreensão da diversidade dos campos dades econômicas em relação com o processo econômi-
de origem da tecnoburocracia, a que chama classe dos co global. Assim, o Estado Restrito, em sua função
gestores, que a divisão investimentos estatais e investi- coordenadora, constitui um dos campos de existência
mentos particulares não se sobrepõe necessariamente à dessa tecnoburocracia. É bem verdade que ele pode su-
divisão condições gerais de produção e unidades de pro- bordinar-se aos interesses sociais da burguesia, na me-
dução última. As primeiras têm sido um campo privi- dida em que essa seja a classe dirigente no sistema capi-
legiado dos investimentos estatais, mas também há in- talista global, mas, de qualquer forma, a execução de
vestimentos particulares nesse setor. Pode, assim, ocor- suas funções está em mãos dos tecnoburocratas.
rer que o aparelho tradicional de Estado confira aos bur-
gueses, que se encarregam das condições gerais de pro- Quando, porém, definimos o Estado como o aparelho
dução, alguns de seus poderes de soberania, como por de poder das classes dominantes, ele ultrapassa em mui-
exemplo, a aquisição dos terrenos necessários à sua ins- to os limites do Estado Restrito. A extorsão da mais-va-
talação. Também são numerosos os casos em que o Es- lia apóia-se, desde os períodos iniciais do sistema capi-
tado e não apenas os burgueses detém unidades de pro- talista, num outro aparelho de poder a que João Ber-
dução última. nardo chama Estado Amplo, que, na realidade, é tão
amplo quanto o são as classes dominantes.
Nos estágios iniciais do capitalismo, o isolamento das
unidades econômicas era maior, dada a baixa integra- Deve-se considerar que no interior da empresa o capi-
ção do processo econômico global, o que fazia com que talista é legislador. Trata-se de um quarto poder que os
os campos de existência dos gestores fossem mais dis- teóricos dos três poderes clássicos desconsideram. Es-
persos. Isto não significa que não existissem enquanto. se poder refere-se à organização da mão-de-obra, à im-
classe, mas sim que não se comportavam enquanto clas- posição da disciplina fabril e precisa ser considerado,
se unificada. João Bernardo vê o período mais impor- quando se pensa mais amplamente a questão do Esta-
tante do início dessa unificação como provavelmente o do.
dos anos 1914a 1918. A partir de sua unificação, a di-
versidade de seus campos de origem passa a constituir Todos os mecanismos que, no interior das unidades eco-
um fator decisivo de ampliação de sua área de poder .28 nômicas, garantem às classes dominantes a extorsão da
Tal fato toma-se mais imediatamente compreensível mais-valia, constituem o Estado Amplo. Dessa forma,
quando consideramos a questão da complexidade das as classes sociais ocupadas com o funcionamento des-
formas de Estado. se Estado Amplo são exatamente aquelas cujo campo
de existência está em cada unidade econômica, seja ela
As diversas formas de Estado que o Ocidente conheceu uma unidade de produção última, seja ela uma condi-
tenderam para o Estado regulador, modalidade intrin- ção geral de produção. No momento atual do capita-
secamente relacionada com o estágio do capitalismo, a lismo internacional, as funções do Estado Restrito são
que geralmente chamam capitalista monopolista de Es- executadas por tecnoburocratas, enquanto as funções
tado, quando alguns dos processos e setores mais es- do Estado Amplo podem tanto estar a cargo da tecno-
tratégicos para a vida social, como a automação, a ener- burocracia quanto da burguesia. Todavia, quanto mais
gia nuclear, a comunicação de massa, a informática, etc, a economia se integra e mais se unifica a classe tecno-
localizam-se nos grandes oligopólios ou no próprio Es- burocrática, mais importante se torna sua participação
tado, fazendo com que o controle social esteja cada vez no Estado Amplo.u
mais nas mãos da tecnoburocracia privada ou públi- As lutas operárias têm sido dirigidas contra o Estado
ca.29 De um modo geral, quanto mais forte o poder
Amplo. A resposta a essa luta tem sido a integração de
dessa tecnoburocracia, maior a importância dada à for-
novas instituições ao Estado Amplo, como os grandes
mação do consenso, o que leva Negri a pensar que quan-
sindicatos ou os partidos políticos ditos de vanguarda,
to menor consenso, menos controle; que quanto menos
que têm um papel disciplinador e organizador da força
controle, menor legitimidade; e que quanto menos le-
de trabalho, reproduzindo amplamente o capitalismo,
gitimidade, menor poder para os dirigentes e maior po- muito mais que constituindo uma ameaça de ruptura.
der para a sociedade deverá haver.w
Enquanto o Estado Restrito se define sempre em fun-
Entretanto, estamos habituados a pensar no Estado de ção dos problemas internos das classes dominantes, or-
uma forma única, geralmente como poder legislativo, ganizando-se de forma centralizada na ditadura ou dis-
10
Revista de Administraç40 de Empresa,
persa na democracia, segundo as formas de acumula- pe a precisão dos limites do Estado Restrito, fundin-
ção do capital, o Estado Amplo define-se na relação en- do-se os tecnoburocratas do Estado Restrito com os das
tre classes dominantes e dominadas. Assim, no proces- condições gerais de produção e das unidades de produ-
so econômico global, Estado Amplo e Estado Restrito ção última.
estão inter-relacionados, como um dos aspectos da re-
lação entre a extorsão da mais-valia e sua distribuição . De modo geral, quanto mais o Estado Restrito se demo-
João Bernardo chama a atenção, contudo, para o fato cratiza em termos de sufrágio, mais seus órgãos coop-
de não haver nenhuma conjugação preferencial de da- tados pelo Estado Amplo se autonomizam, destacan-
das formas organizacionais do Estado Restrito com da- do-se de seus setores mais tradicionais. Dá-se, portan-
das formas organizacionais do Estado Amplo. Assim, to, como analisa João Bernardo, um esvaziamento de
enquanto o primeiro pode apresentar-se democrático, poderes do Estado Restrito, resultante da limitação de
o segundo pode ser altamente repressivo, num modelo sua capacidade de ação e da cisão de suas instituições.
de acumulação dispersa de capital. De modo inverso, O processo econômico global passa, assim, a ser hege-
o Estado Restrito pode ser ditatorial e o Estado Amplo monicamente coordenado pelo Estado Amplo, que ar-
relativamente permissivo. Finalmente, tanto o Estado ticula os tecnoburocratas das grandes empresas, os tec-
Restrito como o Amplo podem ser, respectivamente, de- noburocratas dos sindicatos que gerem a força de tra-
mocrático e relativamente permissivo; ou ditatorial e re- balho e os tecnoburocratas dos setores que o Estado
pressivo. Amplo coopta do Estado Restrito. Trata-se de um siste-
ma de poder que corresponde à hegemonia do Estado
As relações entre Estado Restrito e Estado Amplo, em Amplo com relação ao Estado Restritov e que, pelo
termos de capitalismo internacional, obedecem a algu- menos tendencialmente, parece indicar a hegemonia tec-
mas etapas históricas. Assim, o século XIX foi uma épo- noburocrática.
ca em que as unidades econômicas funcionaram em um
grau elevado de participação, o Estado Amplo apresen- Esse processo tem no desenvolvimento das empresas
tando-se muito fragmentado e o Estado Restrito multinacionais um elemento decisivo, já que os apare-
assumindo uma grande importância. Trata-se de uma lhos de poder nelas consubstanciados não encontram
fase em que os campos de existência da tecnoburocra- correspondência nos organismos do Estado Restrito,
cia não se encontravam unificados e o Estado Restrito onde as fronteiras nacionais constituem um elemento
era local exclusivo das classes dominantes, que tinham fundamental.v o que significa que o Estado Amplo de-
não só o monopólio do sufrágio quanto o da elegibi- ve ser pensado em termos da internacionalização da eco-
lidade. nomia.
11
Rede,o~núQdOnaü
vado de centralização na acumulação de capital. O Es- Entretanto, o que aqui foi dito é fruto de uma especu-
tado Restrito pode, por essa razão, parecer muito for- lação sobre dois referenciais teóricos diversos, basea-
te. Entretanto, o que de fato ocorre é a autonomização da em um conhecimento ainda muito incipiente da aná-
das instituições econômicas e administrativas no inte- lise de redes sociais aplicada às organizações e que uma
rior do Estado Restrito, num esvaziamento de seu po- pesquisa de maior fôlego poderá confirmar, desenvol-
der. Essas instituições destacam-se do Estado Restrito, ver ou refutar.
articulando-se às grandes empresas nacionais e multi-
nacionais que compõem o Estado Amplo. Portanto,
nesses países, a forma assumida pela hegemonia do Es-
tado Amplo é a de uma articulação entre instituições saí-
das do Estado Restrito, as grandes empresas, principal-
mente as multinacionais e, em vários casos, também os
sindicatos burocratizados.
*O autor agradece a Maria Ester de Freitas e Allain
Abstraindo-se, porém, dessas configurações assumidas Joly, cujos trabalhos finais da disciplina Desenvolvi-
pela hegemonia do Estado Amplo enquanto fenômeno mentos da Teoria das Organizações, por ele administra-
mundial, é preciso considerar que nas etapas descritas da, foram sumamente importantes para este artigo.
desse processo as lutas operárias vão se reorientando,
dirigindo-se progressivamente contra o Estado Amplo.
Isto pode levar à crise do populismo e daqueles parti-
dos marxistas-Ieninistas cujos dirigentes se orientam pa-
ra a reorganização do Estado Restrito.
10 Ver Nelson, Reed. O uso da análise de redes sociais no es- 24Makhaishi, Jan Waclaw. Le socialisme des intellectuels.
tudo das estruturas organizacionais. Revista de Administra- Paris, Seuil, 1979., p. 16 e 17.
ção de Empresas, Rio de Janeiro, Fundação Getulio Vargas,
24 (2): 150, out-dez. 1984. 25 Ver Bernardo, João. Gestores, Estado e capitalismo de Es-
tado, op. cito p. 89 e 90.
II Perrow, Charles. Complex organizations: a criticai essay.
ed Illinois, Scott Foresman, 1979.p. 226; e ver para as demais 26 Bernardo, João. A autonomia nas lutas operárias. In: Bru-
considerações do parágrafo, do mesmo autor, La théorie des no, Lúcia & Saccardo, Cleusa, og. Organização, trabalho e
organisations dans une société d'organisations. In: Francine, tecnologia. São Paulo, Atlas, 1986. p. 104-105.
Séguin-Bernard & Chanlat, Jean-François. L 'analyse des or-
ganisations, uneanthologiesociologique. t. 1:Lesthéoriesde 27 Burnham James, The managerial revolution. Bloorning-
I'organisation. St. Jean-sur Richelieu, Prefontaine, 1983. ton, Indiana University Press, 1960. p. 70.
p.461-71.
28 Ver Bernardo, João. Gestores, Estado e capitalismo de Es-
12 Ver Marcus, Philip M. Redes sociais e organizações com- tado. op. cito p. 91-92.
plexas. Revista Brasileirade Administração da Educação, Por-
29 Ver Lenoir, Ives. La technocratie française. Paris, Pau-
to Alegre, 2 (2): 84-5, julldez. 1984.
vert,1977.
13 Ver Stern, Robert. The development of an interorganiza-
tional control network: the case of Intercolegiate Athletics. 30 Ver Negri, Antonio. La classe ouvriere contre I'État. Pa-
In: Administrative ScienceQuarterly, lthaca, Cornell Univer- ris Galilée, 1978.p. 286; ver também Motta, Fernando C. Pres-
sity, v. 24, june 1979. tes. Organização epoder: empresa, Estado e escola. São Pau-
lo, Atlas, 1976. p. 135.
14 Ver Marcus, Philip. op. cito p. 88.
31 Ver Bernardo, João. Gestores, Estado e capitalismo de Es-
21 Ver Bernardo, João. Marx crüico de Marx. Porto, Afron- 36 Id. ibid. p. 95.
tamento, 1977; v.3, p. 125.
37 Tragtenberg, Maurício. Burocracia e ideologia. São Pau-
22 Id. ibid. p. 125. lo, Ática, 1974. p 89.
•
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- Av. Presidente Wilson, 228-A
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Brasília - CLS 104, Bloco A, loja 37
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Redes organizacioTlllis