O ARTIGO CIENTÍFICO
características atuais e previsões para seu futuro
Fernando Paganella Pires1
RESUMO
A comunicação científica sofre mudanças e se adapta a novas tecnologias desde que foi
formalizada no século XVII, data de publicação dos primeiro periódicos científicos. Os artigos
científicos, partículas fundamentais para este tipo de comunicação, ainda são a forma
preferencial de troca entre pesquisadores por serem ferramentas ágeis, econômicas e de
fácil divulgação. Em vista disso, o comportamento de cientistas quanto a periódicos eletrôni-
cos é bastante próximo do uso de periódicos impressos, o que resulta na subutilização das
possibilidades que os meios digitais podem oferecer. Estas ferramentas são: a criação de
novos métodos de avaliação por pares, como comentários abertos e públicos para cada tex-
to; difusão automatizada de informações, como através do uso sistemático de DOIs; e a
fragmentação do conteúdo, como, por exemplo, com o uso de Structured Digital Abstracts.
1 INTRODUÇÃO
1
Artigo apresentado como requisito parcial de avaliação na disciplina BIB03226 – Comunicação científica no
campo da informação ministrada pela professora doutora Sônia Elisa Caregnato para a turma do segundo se-
mestre de 2009 do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail para conta-
to: FernandoP187@gmail.com
meio digital ainda não exploradas pelos editores e cientistas que desejam publicar suas
experiências.
Para se fazer a análise, na primeira parte, dados sobre a história da comunica-
ção científica foram buscados e discutidos a fim de se compreender a importância e a estru-
tura do artigo acadêmico. Apesar de constantes revisões formais quanto a questões de pa-
dronização, este tipo de texto mantém uma estrutura fixa até hoje, procurando oferecer
nele mesmo um pequeno panorama do avanço científico de determinada área: há uma revi-
são da literatura para embasamento, a apresentação de dados de pesquisa nova, a análise
destes dados e uma conclusão que sistematiza aquele conhecimento para os outros cientis-
tas. Trata-se, portanto, de um texto quase completamente linear, por vezes permeado de
figuras ilustrativas, quadros e tabelas, complementares aos sentidos das palavras. Mesmo
sendo esta uma formatação adequada para a publicação em papel, deixa-se de se utilizar
características importantes do meio digital, como os hiperlinks e a hipermídia, que podem
oferecer uma gama completamente nova de abordagens e possibilidades para a construção
do conteúdo. São questionados aqui, portanto, a maturidade dos escritores e dos leitores de
artigos acadêmicos em relação ao uso das tecnologias digitais de escrita e leitura desestrutu-
rada, não-linear.
Este questionamento está disposto na segunda parte do presente artigo, onde
são discutidas pesquisas já realizadas sobre o uso de periódicos acadêmicos — digitais e im-
pressos — e outras fontes on-line. Através da análise dos resultados são definidos os com-
portamentos dos pesquisadores e leitores em relação à comunicação científica dita formal, e
quão sintonizados eles estão quanto às modificações tecnológicas possíveis para tais estru-
turas. Isto é, nesta seção, é apresentada uma discussão sobre a preferência por periódicos
científicos ou outras fontes de informação, além de uma apresentação de dados sobre o uso
de periódicos digitais e impressos. Não é abordado neste artigo, contudo, a visão dos edito-
res de periódicos, mesmo ela tendo grande relevância. Os cientistas autores de artigos ge-
ralmente se adequam às políticas editoriais vigentes, o que exige sua discussão profunda
através de pesquisas rigorosas, o que foi impossível fazer no espaço deste artigo.
Já a abordagem sobre as características inovadoras e disponíveis — porém
subutilizadas — do texto digital aparecem na terceira seção deste texto. Foram analisados
artigos das áreas STM, ou “científica, tecnológica e médica”, na sigla em inglês, onde há a
maior necessidade de tais mudanças. São apresentadas as tecnologias utilizadas e discutidas
suas aplicações hoje em dia, além de se fazer um questionamento sobre o uso destas novas
metodologias pelos escritores e leitores.
A complementação da metodologia de artigos científicos através da tecnolo-
gia — como ocorre em outras instâncias da comunicação científica —, desta forma, é uma
preocupação legítima de cientistas da informação, uma vez que estes devem se ater em ofe-
recer a informação mais clara possível aos usuários, além de fomentar políticas de intercâm-
bio facilitado das mesmas. Nos textos estudados, foi identificada uma preocupação interna
dos pesquisadores das áreas STM sobre o assunto: os estudiosos destas novas metodologias
já estão ligados às áreas STM e, portanto, conhecem as necessidades e prioridades destes
campos a fundo. Contudo, o conhecimento específico do profissional da informação, como o
background sobre fontes e tecnologias informacionais, é importante e, assim, é identificada
uma possibilidade de convergência nos estudos.
o que nos faz questionar qual o próximo passo de aproximação da técnica que se dará.
O texto acadêmico é estruturado e linear a fim de se facilitar a comunicação,
garantindo que o autor seja reconhecido como tendo prioridade em relação àquela desco-
berta e possibilitando a análise e a crítica por seus pares. Também é importante que sejam
2
DE SOLLA PRICE, D. Terminal librarians and the ultimate invention. In: ANTHONY, L. J. (ed.). EURIM 4: a Euro-
pean conference on innovation in primary publication: impact on producers and users. London: Aslib, 1980. p.
103-106.
3
HOUGHTON, B. Scientific periodicals: their historical development, characteristics and control. Hamden, CT:
Linnet, 1975.
reconhecidos e bem compreendidos os dados utilizados e os embasamentos teóricos feitos
pelo autor, a fim de solidificar a posição daquele texto dentro da Academia moderna. Perce-
be-se, então, que estas estruturas são baseadas nas necessidades dos contemporâneos do
autor e das disponibilidades técnicas e tecnológicas presentes.
Hoje, contudo, muito é utilizado o meio digital para a propagação do texto a-
cadêmico, mas nem por isso ele se adequou a essa nova tecnologia — notável através da
expansão da quantidade de repositórios digitais e revistas com conteúdo on-line. É válido
perguntar, portanto, a que ponto os pesquisadores estão interessados nas modificações es-
truturais possíveis pelas novas tecnologias.
4
No original: “The low usage of HTML files, in spite of reference facilitated by hyperlinks, suggest that re-
searchers retain their traditional reading habits, though utilizing electronics tools.”
to de círculo virtuoso (PACKER; MENEGHINI, 2006), que afirma que os periódicos mais im-
portantes e respeitados também são os que mais recebem originais para avaliação. Outra
característica marcante encontrada por Schauder (1994) foi o valor dado à revisão por pares
— 78% deles julga importante este processo, o que demonstra a necessidade da avaliação e
da crítica das pesquisas — e, apenas para confirmar a percepção da importância da comuni-
cação, 95% dos respondentes afirmaram que o texto de outros autores era um fator impor-
tante para o seu próprio trabalho.
Schauder descobre em 1994, fato corroborado com as descobertas de Kurata
e colaboradores (2007), que a vasta maioria dos pesquisadores imprimia o artigo eletrônico
em papel para lê-lo, comportamento que permanece até hoje, através da transposição dire-
ta do texto que foi composto para ser publicado em um arquivo PDF. Este fator está direta-
mente ligado às qualidades do texto acadêmico moderno, que apesar do uso incipiente de
hiperlinks, ainda é bastante linear.
Percebe-se, desta forma, que os pesquisadores — como produtores e consu-
midores de artigos científicos — ainda estão atrelados às características do texto impresso,
que o conhecimento científico é produzido para ser lido linearmente, em papel ou na tela, já
que ambas as tecnologias são utilizadas de modo muito semelhante. Uma hipótese para jus-
tificar esta preferência talvez seja o fato de que o papel exige pouco conhecimento técnico
de manuseio: o uso das tecnologias sugeridas na próxima seção talvez ainda exija um estudo
e prática para seu domínio, o que pode dificultar a independência do autor.
5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES
ABSTRACT
Scientific communication suffers changes and adaptations caused by new Technologies since
it has been formalized on the 17th century, time of publication of the first scholarly journals.
Scientific articles, elementary particles for this communication, are still the main form of
exchange between researchers because they are fast, cheaper and more easily divulged. On
that account, researchers’ behavior when related to electronic journals is quite similar to the
one related to printed journals. This same behavior is not adequate to the possibilities of the
electronic media such as innovation of peer reviewing systems, automated diffusion of in-
formation and content fragmentation (community comments and notes, DOI links and Struc-
tured Digital Abstracts, respectively).
REFERÊNCIAS
KURATA et al. Electronic journals and their unbundled functions in scholarly communication:
views and utilization by scientific, technological and medical researchers in Japan.
Information Processing and Management, v. 43, 2007, p. 1402–1415.
DOI:10.1016/j.ipm.2006.01.006. Received 20 June 2005; accepted 13 Jan. 2006; available
online 6 Mar. 2006. Disponível em: <www.sciencedirect.com>.
PACKER, Abel L.; MENEGHINI, Rogério. Visibilidade da produção científica. In: POBLACIÓN,
Dinah Aguiar; WITTER, Geraldina Porto; SILVA, José Fernando Modesto da (Org.).
Comunicação e produção científica: contexto, indicadores e avaliação. São Paulo: Agellara,
2006. cap. 9, p. 237-259.
STUMPF, Ida Regina Chitto. Passado e futuro das revistas científicas. Ciência da Informação,
v. 25, n. 3, 1996. 6 f. Parte deste trabalho foi extraída da tese intitulada Revistas
Universitárias: projetos inacabados, apresentada à ECA/USP, em 1994, para obtenção do
título de doutor. Disponível em:
<http://revista.ibict.br/ciinf/index.php/ciinf/article/view/463>. Acesso em: 24 out. 2009.