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Edição Edimbugo
1775.
DOS ERROS E DA VERDADE
NOTAS DO TRADUTOR
Como toda e qualquer obra de cunho filosófico, ela não pode ser
lida apenas uma vez, mas várias vezes. E, cada leitura, novos
entendimentos surgirão e partes mal compreendidas com apenas uma
leitura se tornam fáceis com a repetição da leitura. No início, as ideias
parecem confusas e meio que um jogo de palavras perdidas que não
fazem muito sentido, porém, à medida que o leitor atento avança, as
ideias vão se delineando e todo o conjunto do pensamento do Teósofo de
Amboise passa a fazer mais sentido.
INTRODUÇÃO
Sem dúvida que para uma tal empresa, é-me necessário mais do
que recursos ordinários. Porém, sem explicar-me sobre quais emprego,
bastará dizer que eles têm a mesma natureza do homem, que eles
sempre foram conhecidos por alguns dentre eles desde a origem das
coisas, e que eles nunca serão retirados totalmente de cima da Terra,
enquanto houver Seres Pensantes.
consigo mesma do que com todas as outras Seitas. Porque, apesar dos
esforços que fazem os Chefes dessas diferentes Seitas todos os dias para
se formar uma Doutrina estável sobre os pontos mais importantes, e
para conciliar as opiniões particulares, eles não conseguem nunca
chegar a isso. Porque não oferecendo nada de fixo a seus Discípulos,
não somente eles não os persuadem, mas os expõem mesmo a desafiar
qualquer Ciência, por ter apenas conhecido imaginações e vícios.
Porque, enfim, os Instituidores e Observadores mostram sem cessar ao
descoberto que eles não possuem nem regra, nem a prova da verdade. O
Leitor concluirá, digo eu, que se os princípios dos quais eu trato são o
único fundamento da verdade é por tê-los esquecido, que todos esses
erros devoram a Terra e que, assim, é preciso que se os tenha
geralmente desconhecido, uma vez que a ignorância e a incerteza sejam
neles universais.
No entanto, ainda que a Luz seja feita para todos os olhos, é mais
certo que nem todos os olhos sejam feitos para resistir ao seu esplendor .
É por isso que o pequeno número de homens depositários das verdades
que anuncio está voltado à prudência e à discrição pelos engajamentos
mais formais.
CAPÍTULO I
DA VERDADE
DO BEM E DO MAL
terra, desta voz interior e uniforme que força, por assim dizer, todos os
povos a adotar e que mesmo no meio de suas aberrações, faz sentir ao
homem que ele possui um destino bem superior aos objetos com os
quais se ocupa; ao passo que esses observadores continuam a cegar-se,
trataram por hábitos os sentimentos mais naturais; atribuíram à
organização e às leis mecânicas o pensamento e todas as faculdades do
homem; daí pretenderam que, em razão de suas fraquezas, os grandes
eventos físicos tinham, em todos os tempos, produzido nele todo o temor
e o pavor; experimentando sobre sua débil individualidade à
superioridade de elementos e Seres dos quais ele está cercado, tinha
imaginado que uma certa potência indefinida governava e agitava, à
revelia, a Natureza; de onde ele tirou uma sequência de princípios
quiméricos de subordinação e ordem, punições e recompensas, que a
educação e o exemplo haviam perpetuado, mas com diferenças
consideráveis, relativas às circunstâncias e ao clima.
existe ao mesmo tempo que ele, e não pode jamais destruí-la, mesmo
perturbando e atrapalhando a sua realização.
Mas se este busca o apoio para além da lei que lhe é própria, sua
alegria se torna, primeiramente, inquieta e tímida; ele só goza dela
quando se aproxima de seu júbilo, dividindo-se em momentos entre o
Mal que o arrasta e o Bem que ele abandonou, ele experimenta o efeito
das duas leis opostas, e aprende com o mal-estar que disso resulta, que
não existe unidade para ele, porque ele se apartou de sua lei. Em breve,
é natural que esse júbilo incerto se fortifica, e mesmo o domina
inteiramente; porém, longe de ser mais uma e mais verdadeira, ela
produz nas faculdades do homem uma desordem muito deplorável, que
a ação do Mal sendo estéril e limitada, os transportes daquele que a ela
se entrega só fazem com que seja induzido a um vazio e a um
abatimento inevitável.
negar sua disformidade. Ora, se este Mal não vier do Bom Princípio,
como ele fez então para ter nascimento?
A ORIGEM DO MAL
Ora, ele não sofre porque está afastado do Bom Princípio; pois, é
somente a partir do instante que eles se separaram, que os Seres se
tornaram infelizes. Os sofrimentos do Mal Princípio só podem ser uma
punição, porque a justiça, sendo universal, deve agir sobre ele, como ela
age sobre o homem; todavia, se ele sofre uma punição é, pois,
livremente que ele se descartou da Lei que devia perpetuar a sua
felicidade; é, pois, voluntariamente que ele se tornou mal . É o que nos
engaja a dizer que se o Autor do Mal tivesse feito um uso legítimo de sua
liberdade, ele nunca teria sido separado do Bom Princípio, e o Mal
estaria ainda por nascer; pela mesma razão, se ele pudesse empregar
sua VONTADE para sua vantagem, e dirigi-la para o Bom Princípio, ele
cessaria de ser mau, e o Mal não existiria mais.