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UMA DEMONSTRAÇÃO ELEGANTE DE

𝑛 𝑛
QUE ℝ NÃO É HOMEOMORFO A ℝ ∖ 0

ARTHUR CAVALCANTE CUNHA

CUNHA, A. C.; SILVA, W. F.;


DE MORAIS FILHO, D. C. (Orientador)
Universidade Federal de Campina Grande

arthur@dme.ufcg.edu.br; weslley@dme.ufcg.edu.br ; daniel@dme.ufcg.edu.br


𝑛
Definição: Dois subconjuntos X e Y do ℝ são homeomorfos quando existe uma bijeção
−1
contínua 𝑓: 𝑋 ⟶ 𝑌, com inversa 𝑓 : 𝑌 ⟶ 𝑋 também contínua. Uma função 𝑓 desse tipo
chama-se um homeomorfismo entre os conjuntos X e Y.

Conjuntos homeomorfos são indistinguíveis do ponto de vista da Topologia e uma importância


principal desse conceito é que os homeomorfismos preservam os chamados invariantes
topológicos.
Por importância desse conceito, uma das perguntas principais da Topologia é “Dados dois
conjuntos, eles são ou não homeomorfos?”

Vejamos alguns resultados que serão necessários em nossa demonstração:


𝑛 𝑛 −1
Lema 1: Se 𝜑: 𝑋 ⊂ ℝ ⟶ ℝ é um homeomorfismo, então 𝜑 𝐾 ⊂ 𝑋 é compacto sempre
𝑛
que 𝐾 ⊂ ℝ é compacto. Em outras palavras, a imagem inversa pela 𝜑 de qualquer compacto é
ainda um compacto.
𝑛 𝑛
Lema 2: Seja 𝜑: 𝑋 ⊂ ℝ ⟶ ℝ uma função com a seguinte propriedade: para todo compacto
𝑛 −1
𝐾 ⊂ ℝ , o conjunto 𝜑 𝐾 é compacto. Então, lim 𝜑(𝑥) = ∞, onde ∙ é a norma
𝑥 →∞
euclidiana usual.
𝑛 𝑛
Lema 3: Suponha 𝜑: 𝑋 ⊂ ℝ \{0} ⟶ ℝ cumprindo a hipótese do lema 2. Então,
lim 𝜑(𝑥) = ∞, onde ∙ é a norma euclidiana usual.
𝑥→0
𝑛 𝑛
Teorema: ℝ não é homeomorfo a ℝ \{0}.
𝑛 𝑛
Demonstração: Suponha, por contradição, que exista um homeomorfismo 𝜑: ℝ \{0} ⟶ ℝ .
−1 𝑛 𝑛
Logo, pelo lema 1, podemos concluir que 𝜑 𝐾 ⊂ ℝ \{0} é compacto sempre que 𝐾 ⊂ ℝ
for compacto.
𝑛
Considere agora a esfera unitária 𝑆 = 𝑥 ∈ ℝ / 𝑥 = 1 . Temos 𝜑 𝑆 compacto e,
portanto, limitado. Logo, existe 𝜌 > 0 tal que para 𝜔 ∈ 𝜑(𝑆) tem-se 𝜔 ≤ 𝜌.

Por outro lado, pelos lemas 2 e 3, temos lim 𝜑(𝑥) = ∞ e lim 𝜑(𝑥) = ∞. Assim,
𝑥 →∞ 𝑥→0
𝑛 𝑛
devem existir 𝑦 ∈ ℝ \{0} tal que 𝑦 > 1 com 𝜑(𝑦) > 𝜌 e 𝑧 ∈ ℝ \{0} tal que 𝑧 < 1
com 𝜑(𝑧) > 𝜌.

𝑛
Considerando 𝐴 = 𝑥 ∈ ℝ / 𝑥 > 𝜌 , temos 𝐴 conexo por caminhos e portanto existe uma
𝑛
curva contínua 𝛾: 0,1 ⟶ ℝ satisfazendo 𝛾 0 = 𝜑 𝑧 , 𝛾 1 = 𝜑 𝑦 e
𝛾(𝑡) > 𝜌, ∀ 𝑡 ∈ 0,1 .

−1 𝑛
Definindo a curva 𝛽 = 𝜑 𝜊 𝛾: 0,1 ⟶ ℝ \{0}, segue que 𝛽 é contínua e, além disso,
𝛽(0) = 𝑧 < 1 e 𝛽(1) = 𝑦 > 1.

Pelo teorema do valor intermediário, deve existir 𝑡0 ∈ 0,1 tal que


−1 −1
𝛽(𝑡0 ) = 𝜑 (𝛾 𝑡0 ) = 1, donde 𝜑 𝛾 𝑡0 ∈ 𝑆. Assim, 𝛾 𝑡0 ∈ 𝜑 𝑆 e daí
𝛾(𝑡0 ) ≤ 𝜌,
o que é um absurdo!!
Referências:
[1] LIMA , E. L. Espaços Métricos. 2. ed. Rio de Janeiro: IMPA, 1983. Projeto Euclides.
[2] MUNKRES, J. R. Topología. 2. ed. Madrid: Prentice Hall, 2002.
𝑛 𝑛
[3] RIBEIRO, T. C. ℝ não é homeomorfo a ℝ − 0 : uma prova elementar. Matemática Universitária, Rio de Janeiro, n. 37, p. 33-34, 2004.

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