Tema I
A organização dos Poderes. O princípio da separação dos Poderes. O controle recíproco entre os poderes. A
organização dos Poderes nos Estados e nos Municípios.
Notas de Aula1
Parlamentarismo Presidencialismo
Colaboração entre os poderes (vinculação do
Separação de poderes
Executivo ao parlamento)
2
A existência do impeachment não consiste em responsabilidade política: o presidente será deposto por
impeachment quando violar a ordem jurídica, e não por mera quebra de confiança. É claro que o
impeachment tem conteúdo político, mas não é exclusivamente motivado politicamente.
3
Tanto o controle externo realizado com auxílio do Tribunal de Contas quanto a CPI são manifestações desta
fiscalização.
I - aos tribunais:
a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos internos, com
observância das normas de processo e das garantias processuais das partes,
dispondo sobre a competência e o funcionamento dos respectivos órgãos
jurisdicionais e administrativos;
b) organizar suas secretarias e serviços auxiliares e os dos juízos que lhes forem
vinculados, velando pelo exercício da atividade correicional respectiva;
c) prover, na forma prevista nesta Constituição, os cargos de juiz de carreira da
respectiva jurisdição;
d) propor a criação de novas varas judiciárias;
e) prover, por concurso público de provas, ou de provas e títulos, obedecido o
disposto no art. 169, parágrafo único, os cargos necessários à administração da
Justiça, exceto os de confiança assim definidos em lei;
f) conceder licença, férias e outros afastamentos a seus membros e aos juízes e
servidores que lhes forem imediatamente vinculados;
II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de
Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no art. 169:
a) a alteração do número de membros dos tribunais inferiores;
b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços auxiliares e
dos juízos que lhes forem vinculados, bem como a fixação do subsídio de seus
membros e dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores, onde houver; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)
c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores;
d) a alteração da organização e da divisão judiciárias;
III - aos Tribunais de Justiça julgar os juízes estaduais e do Distrito Federal e
Territórios, bem como os membros do Ministério Público, nos crimes comuns e de
responsabilidade, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral.”
Quanto à divisão dos poderes, os Estados, tal como a União, contam com a
tripartição, enquanto os Municípios são bipartites, não contando com Poder Judiciário. O
DF, por seu turno, poderia suscitar dúvidas, eis que há ali Poder Judiciário instalado, mas
este é mantido pela União, pelo que não há natureza municipal deste Poder Judiciário
distrital – as leis que disciplinam o Judiciário distrital são federais.
O poder constituinte derivado decorrente não é ilimitado como o originário. Seus
limites são: os princípios constitucionais sensíveis, do artigo 34, VII, da CRFB, que quando
violados ensejam a intervenção federal; os princípios constitucionais estabelecidos, aqueles
que a CRFB impôs diretamente aos Estados; e os princípios constitucionais extensíveis, que
são aqueles que a CRFB impôs à União, mas que devem ser estendidos, por simetria, aos
Estados.
“Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:
(...)
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais,
compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento
do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.(Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 29, de 2000).”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Veja a ementa da ADI 3.367, que tratou da criação do Conselho Nacional de Justiça:
Questão 2
Resposta à Questão 2
1) Sim, as normas apontadas foram de fato violadas, eis que estabeleceu controle
externo alheio ao que a CRFB estipula, afrontando a separação de poderes.
2) Poder político, segundo Nagib Slaibi Filho, é o “conjunto de órgãos políticos de
um determinado nível federativo, que, ligados pela irmandade da similaridade das
funções, exercitam atividade estatal específica.”. Vê-se que há íntima correlação
com a separação territorial dos poderes, outra faceta deste princípio. Em última
instância, é a capacidade que cada ente da federação tem de se organizar.
3) A maior relevância deste princípio, em última análise, é a proteção do indivíduo,
evitando a concentração de poder em um único órgão ou pessoa. Por isso, a
alegação deste princípio contra os direitos individuais não pode ser suscitada (o que
ocorre bastante em teses defensivas do Estado, por exemplo, como na contestação
de pretensões de efetivação de direitos fundamentais, como a saúde).
4) A diferença entre a função jurisdicional e a administrativa assenta na
definitividade daquela, ausente nesta. Segundo Nagib, mais do que isso, o que
diferencia uma da outra é a substitutividade que se impõe na esfera jurisdicional,
ausente da administrativa, em que uma das partes é também a que decide.
5) Sim, porque cada poder exerce funções atípicas, que premiam o sistema de freios
e contrapesos.
Tema II
Notas de Aula4
1. Simetria constitucional
Este dispositivo fala sobre territórios, que são autarquias territoriais, e não em geral,
pelo que somente ali é que a lei sobre matéria tributária tem iniciativa privativa do
Presidente da República. Afora o caso dos territórios, a iniciativa de matéria tributária não é
privativa do Presidente, tampouco do governador, por simetria.
Outro caso de simetria no âmbito do Poder Legislativo é a CPI: as regras que regem
a CPI federal devem ser reprisadas na seara estadual e municipal.
O regramento acerca do Tribunal de Contas da União deve ser espelho dos TCEs,
bem como dos TCMs remanescentes.
A reeleição dos membros das mesas diretoras das casas legislativas também deve ser
simetricamente estabelecida na esfera unicameral estadual.
A CRFB permite que certos cargos de direção e presidência passem pelo crivo do
Senado Federal, por meio da sabatina – tais como os Ministros do STF ou o Presidente do
Bacen. O rol está no artigo 52, III, da CRFB, e não é taxativo, como se vê:
“Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:
4
Aula ministrada pelo professor João Mendes Rodrigues, em 9/4/2010.
(...)
III - aprovar previamente, por voto secreto, após argüição pública, a escolha de:
a) Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição;
b) Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo Presidente da
República;
c) Governador de Território;
d) Presidente e diretores do banco central;
e) Procurador-Geral da República;
f) titulares de outros cargos que a lei determinar;
(...)”
O STF entende que esta sabatina só pode ser criada por lei para outros cargos que
pertinam a entidades de direito público, ou seja, fora daqueles casos ali expressos, apenas
em autarquias e fundações públicas – e não de estatais, nem mesmo que preste serviço
público. A sabatina também deve ser simetricamente estabelecida nos níveis inferiores.
5
Esta admissão de emenda antes da manifestação dos interessados é inovação do STF, neste caso, pois a
perda do objeto era a regra, até então, em casos em que a lai alvejada fosse revogada.
A norma da Constituição Estadual que reprisa norma da CRFB que não era de
simetria obrigatória é denominada norma de imitação, mera opção do constituinte derivado
decorrente por copiar a norma da CRFB, que não era de reprise obrigatória.
será processado e julgado pelo Senado Federal. O Senado e não mais a Câmara dos
Deputados formulara a acusação (juízo de pronuncia) e proferira o julgamento.
C.F./88, artigo 51, I; art. 52; artigo 86, PAR. 1., II, PAR.2., (MS no 21.564-DF). A
lei estabelecera as normas DE processo e julgamento. C.F., art. 85, par. único.
Essas normas ESTAO na Lei n. 1.079, de 1.950, que foi recepcionada, em grande
PARTE, pela CF/88 (MS n. 21.564-DF). IV. - o "impeachment" e o "due process of
law": a aplicabilidade deste no processo de "impeachment", observadas as
disposições especificas inscritas na Constituição e na lei e a natureza do processo,
ou o cunho político do Juízo. C.F., art. 85, parag. único. Lei n. 1.079, de 1950,
recepcionada, em grande parte, pela CF/88 (MS n. 21.564-DF). V. - Alegação de
cerceamento de defesa em razão de não ter sido inquirida testemunha arrolada.
Inocorrencia, dado que a testemunha acabou sendo ouvida e o seu depoimento
pode ser utilizado por ocasiao da contrariedade ao libelo. Lei N. 1079/50, art. 58.
Alegação no sentido de que foram postas nos autos milhares de contas telefonicas,
as vesperas do prazo final da defesa, o que exigiria grande esforco para a sua
analise. Os fatos, no particular, não se apresentam incontroversos, na medida em
que não seria possivel a verificação do grau de dificuldade para exame de
documentos por parte da defesa no tempo que dispos. VI. - Impedimento e
suspeição de Senadores: inocorrencia. O Senado, posto investido da função de
julgar o Presi dente da Republica, não se transforma, as inteiras, num tribunal
judiciario submetido as rigidas regras a que estao sujeitos os órgãos do Poder
Judiciario, ja que o Senado e um órgão político. Quando a Câmara Legislativa - o
Senado Federal - se investe de "função judicialiforme", a fim de processar e julgar
a acusação, ela se submete, e certo, a regras juridicas, regras, entretanto, proprias,
que o legislador previamente fixou e que compoem o processo político-penal.
Regras de impedimento: artigo 36 da Lei n. 1.079, de 1.950. Impossibilidade de
aplicação subsidiaria, no ponto, dos motivos de impedimento e suspeição do Cod.
de Processo Penal, art. 252. Interpretação do artigo 36 em consonancia com o
artigo 63, ambos da Lei 1.079/50. Impossibilidade de emprestar-se interpretação
extensiva ou compreensiva ao art. 36, para fazer compreendido, nas suas alineas
"a" e "b", o alegado impedimento dos Senadores. VII. - Mandado de Segurança
indeferido.”
específica, fazendo ressalva expressa apenas das hipóteses tratadas nos artigos 198,
§ 2º (Sistema Único de Saúde) e 212 (para manutenção e desenvolvimento do
ensino). 6. De qualquer maneira, mesmo que não se considere violada a norma do
art. 168, inciso IV, da C.F., ao menos a do art. 165, inciso III, resta inobservada.
Assim, também, a relativa à autonomia dos Municípios, quanto à aplicação de suas
rendas. 7. Ação Direta julgada procedente, declarando-se a inconstitucionalidade
do parágrafo único do art. 227 da Constituição do Estado de Pernambuco.”
É cediço que não pode ser criado tribunal de contas municipal, mas podem ser
criados tribunais das contas municipais, ou seja, nada impede que o Estado crie Tribunal de
Contas Estadual dedicado a contas de um só ou determinado número de Municípios,
tribunal este que será auxiliar do Legislativo municipal (ou municipais, se dedicado a mais
de um Município), mas é órgão vinculado ao Legislativo estadual.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
Tema III
O Poder Legislativo I. O sistema bicameral. O Senado Federal. A Câmara dos Deputados. Competências.
Notas de Aula6
1. Poder Legislativo
O Poder Legislativo é aquele a quem foi assinada a tarefa de criar, alterar ou revogar
leis. A função legislativa se presta a traçar a vontade geral do Estado, representada na lei.
Montesquieu foi quem primeiro identificou que, além da mera divisão das funções
de poder, era necessária a criação de órgãos para o exercício típico destas funções. Da
divisão funcional do poder veio também o sistema de freios e contrapesos, em que cada
poder fiscaliza os demais, e por eles é fiscalizado.
A separação das funções é ideia antiga, já mencionada no Código de Hamurabi,
mais antigo dos diplomas legais de que se tem notícia. No direito comparado, a ideia de
separação de poderes é a visão funcional do poder, pois como se sabe este é uno e
indivisível, que precisa apenas da criação de órgãos para, dividindo a competência do
exercício do poder em centros, torná-lo eficiente e operável.
O Poder Legislativo, no direito comparado, pode ser unicameral ou bicameral. O
sistema bicameral, que é o que foi adotado em nosso país, teve origem nos Estados Unidos,
que criou tal sistema para refletir a vontade do povo, mas também dos Estados, na produção
legislativa. Esta solução se deu para não permitir que os Estados com maior população
tivessem maior representatividade, se fosse computada a vontade do povo, somente. A
igualdade na representação dos Estados é o primeiro objetivo deste sistema.
Mesmo que pareça um sistema legislativo próprio de Estados federais, há Estados
unitários que adotam o bicameralismo, tal como o Reino Unido. No parlamento deste
estado, há duas casas, a Câmara Alta, Câmara dos Lordes; e a Câmara Baixa, Câmara dos
Comuns. Neste bicameralismo, não se representam os Estados, porque estes não existem:
há a representatividade de segmentos sociais.
O Estado federal tem três características essenciais: a descentralização política,
representada na repartição de competências entre os entes; a auto-organização dos Estados
por meio de constituições próprias; e a participação das vontades regionais na formação
da vontade nacional – e daqui vem o bicameralismo, no qual os senadores representam
estas vontades regionais.
Existe ainda uma espécie de bicameralismo técnico, no qual a segunda câmara se
presta somente a trazer auxílio técnico à primeira, no desempenho por esta da função
legislativa. Na Áustria, este é o modelo.
medido por critério estritamente populacional. São Paulo é o único que conta com setenta
deputados, por ser o mais populoso do país.
Já o Senado é composto em igualdade numérica: nosso bicameralismo é do modelo
clássico, de equilíbrio, em que todos os Estados tem exatamente a mesma representação –
três senadores – somando o total de oitenta e um senadores, três para cada Estado da
federação.
Os deputados tem mandato de quatro anos, e os senadores de oito. Aqui se faz
mister trazer o conceito de legislatura: trata-se do período de quatro anos durante o qual se
realizam as atividades legislativas. Assim, os deputados exercem mandato por uma
legislatura, enquanto os senadores exercem-no por duas. A cada quatro anos, a Câmara se
renova, e o Senado renova um terço ou dois terços de seus quadros, alternadamente.
Há, em cada casa, a Mesa Diretora, e, nas reuniões conjuntas, há a Mesa Diretora
do Congresso, composta por membros das duas casas, que preenchem as posições de forma
alternada: se o presidente da Mesa do Congresso for o Presidente do Senado, o primeiro
vice será o primeiro vice da Câmara – e vice-versa. A cada legislatura, há duas
composições, cada uma por dois anos.
Vige, no bicameralismo, o princípio da unidade de legislatura: não há
interpenetração entre os períodos, sendo estes estanques: terminado um, tem início outro. O
artigo 57 da CRFB trata da ordem da legislatura:
inciso com a aprovação da maioria absoluta de cada uma das Casas do Congresso
Nacional. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 50, de 2006)
§ 7º Na sessão legislativa extraordinária, o Congresso Nacional somente deliberará
sobre a matéria para a qual foi convocado, ressalvada a hipótese do § 8º deste
artigo, vedado o pagamento de parcela indenizatória, em razão da convocação.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 50, de 2006)
§ 8º Havendo medidas provisórias em vigor na data de convocação extraordinária
do Congresso Nacional, serão elas automaticamente incluídas na pauta da
convocação.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001).”
pois resta à casa revisora a aprovação ou rejeição do projeto a si remetido, com ou sem
emenda parlamentar, que é atividade acessória à propositura do projeto.
Promovidas as emendas ou não, o projeto retorna à casa iniciadora, que manterá a
redação proposta na emenda ou não. Concordando, remete o texto final ao Presidente da
República; discordando, manda o texto inicialmente traçado por si – e daí se vê a vantagem
da casa revisora, neste processo.
Quando o projeto é de iniciativa do Presidente da República, ele o remete à Câmara
dos Deputados, e por isto esta é sempre a casa iniciadora destes projetos de iniciativa do
Presidente. Dali em diante, segue o rito dos projetos ordinariamente iniciados pela Câmara,
com prevalência de sua opinião sobre o texto, em relação ao texto emendado pelo Senado.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
a) Sim. Se a Câmara, casa iniciadora, aderiu ao substitutivo, nada obsta seu envio
desde logo ao Presidente da República. Mesmo se tratando de emenda
substitutiva, este procedimento é o correto, não se desenhando como um novo
projeto remetido pelo Senado. Veja o dispositivo mencionado:
“Art. 65. O projeto de lei aprovado por uma Casa será revisto pela outra, em um só
turno de discussão e votação, e enviado à sanção ou promulgação, se a Casa
revisora o aprovar, ou arquivado, se o rejeitar.
Parágrafo único. Sendo o projeto emendado, voltará à Casa iniciadora.”
Questão 3
Resposta à Questão 3
a) Não: o STF é assente em dispor que contra atos de falta de decoro parlamentar
não se opõe a unidade da legislatura.
b) Não há que se observar contraditório neste momento, eis que a sindicância é
procedimento prévio, unilateral, que escapa às regras processuais.
c) Consiste no sistema em que o Poder Legislativo é dividido em duas casas, uma
representativa do povo, e outra representativa dos Estados-Membros.
NÉRI DA SILVEIRA, ocasião em que esta Suprema Corte, tendo presente situação
virtualmente idêntica à que ora se registra neste processo ("Caso Talvane Neto"),
rejeitou a tese de que a Casa legislativa não pode decretar a cassação de mandato
de qualquer de seus membros, por falta de decoro parlamentar, se o fato motivador
dessa deliberação houver ocorrido na legislatura anterior.
Essa decisão, emanada do Plenário do Supremo Tribunal Federal, acha-se
consubstanciada em acórdão assim ementado:
"Mandado de segurança. 2. Ato da Mesa da Câmara dos Deputados, confirmado
pela Comissão de Constituição e Justiça e Redação da referida Casa legislativa,
sobre a cassação do mandato do impetrante, por comportamento incompatível com
o decoro parlamentar. 3. Pretende-se a extinção do procedimento de perda do
mandato. Sustenta-se que a cassação do mandato, para nova legislatura, fica
restrita à hipótese de, no curso dessa legislatura, se verificarem condutas, dela
contemporâneas, capituláveis como atentatórias do decoro parlamentar. 4. Não
configurada a relevância dos fundamentos da impetração. Liminar indeferida. 5.
Parecer da Procuradoria-Geral da República pela prejudicialidade do mandado de
segurança, em face da perda de objeto; no mérito, pela denegação da ordem. 6.
Tese invocada, acerca da inexistência de contemporaneidade entre o fato típico e a
competência da atual legislatura, que se rejeita. 7. Não há reexaminar, em mandado
de segurança, fatos e provas (...). 9. Mandado de segurança indeferido." (grifei)
Cabe destacar, neste ponto, que o princípio da unidade de legislatura - que faz
cessar, a partir de cada novo quadriênio, todos os assuntos iniciados no período
imediatamente anterior, dissolvendo-se, desse modo, todos os vínculos com a
legislatura precedente (JOSÉ AFONSO DA SILVA, "Princípios do Processo de
Formação das Leis no Direito Constitucional", p. 38/39, item n. 14, 1964, RT) -
rege, essencialmente, o processo de elaboração legislativa, tanto que, encerrado o
período quadrienal a que se refere o art. 44, parágrafo único, da Constituição
Federal, dar-se-á, na Câmara dos Deputados, o arquivamento das proposições
legislativas, com a só exceção de alguns projetos taxativamente relacionados na
norma regimental (Regimento Interno da Câmara dos Deputados, art. 105).
É por essa razão que o eminente Professor JOSÉ AFONSO DA SILVA, ao tratar do
postulado da unidade de legislatura, examina-o dentre os princípios que informam
o processo constitucional de formação das leis.
De outro lado, e ao contrário da limitação de ordem temporal imposta à atividade
investigatória das Comissões Parlamentares de Inquérito - cujo âmbito de atuação
não pode ultrapassar a legislatura em que instauradas (HC 71.193/SP, Rel. Min.
SEPÚLVEDA PERTENCE - MS 22.858/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO) -,
cumpre rememorar que o Supremo Tribunal Federal, como precedentemente
assinalado, já firmou orientação no sentido de que o princípio da unidade de
legislatura não se reveste de efeito preclusivo, em tema de cassação de mandato
legislativo, por falta de decoro parlamentar, ainda que por fatos ocorridos em
legislatura anterior (MS 23.388/DF, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA, Pleno).
Isso significa, portanto, que o princípio da unidade de legislatura não representa
obstáculo constitucional a que as Casas legislativas venham, ainda que por fatos
anteriores à legislatura em curso, a instaurar - contra quem já era titular de
mandato na legislatura precedente - procedimento de caráter político-
-administrativo, destinado a viabilizar a decretação da perda do mandato, por fato
atentatório ao decoro parlamentar, cometido entre a prática do ato contrário ao
decoro parlamentar, de um lado, e o exercício do mandato legislativo, de outro,
mesmo que o ato ofensivo à dignidade institucional do mandato (e, também, à
honorabilidade do Parlamento), tenha ocorrido na legislatura imediatamente
anterior, praticado por quem, naquele momento, já era integrante do Poder
Legislativo, tal como expressamente o reconheceu o Plenário do Supremo Tribunal
Federal, no precedente mencionado.
Cumpre identificar, neste ponto, a "ratio" subjacente a esse entendimento que
resultou do julgamento plenário do
MS 23.388/DF, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA: é que a ordem jurídica não pode
permanecer indiferente a condutas de membros do Congresso Nacional - ou de
quaisquer outras autoridades da República - que hajam eventualmente incidido em
censuráveis desvios éticos, no desempenho da elevada função de representação
política do Povo brasileiro.
Foi por tal motivo que o Plenário desta Suprema Corte, atento aos altíssimos
valores que informam e condicionam todas as atividades governamentais - não
importando o domínio institucional em que elas tenham lugar -, veio a proferir o
seu dictum, reconhecendo a possibilidade jurídico-constitucional de qualquer das
Casas do Congresso Nacional adotar medidas destinadas a reprimir, com a
cassação do mandato de seus próprios membros, fatos atentatórios à dignidade do
ofício legislativo e lesivos ao decoro parlamentar, mesmo que ocorridos no curso
de anterior legislatura, desde que, já então, o infrator ostentasse a condição de
membro do Parlamento.
Sabemos todos que o cidadão tem o direito de exigir que o Estado seja dirigido por
administradores íntegros, por legisladores probos e por juízes incorruptíveis, que
desempenhem as suas funções com total respeito aos postulados ético-jurídicos que
condicionam o exercício legítimo da atividade pública. O direito ao governo
honesto - nunca é demasiado reconhecê-lo - traduz uma prerrogativa insuprimível
da cidadania.
O sistema democrático e o modelo republicano não admitem, nem podem tolerar a
existência de regimes de governo sem a correspondente noção de fiscalização e de
responsabilidade.
Nenhum membro de qualquer instituição da República está acima da Constituição,
nem pode pretender-se excluído da crítica social ou do alcance da fiscalização da
coletividade.
A imputação, a qualquer membro do Congresso Nacional, de atos que importem
em transgressão ao decoro parlamentar revela-se fato que assume, perante o corpo
de cidadãos, a maior gravidade, a exigir, por isso mesmo, por efeito de imposição
ética emanada de um dos dogmas essenciais da República, a plena apuração e o
esclarecimento da verdade, tanto mais se se considerar que o Parlamento recebeu,
dos cidadãos, não só o poder de representação política e a competência para
legislar, mas, também, o mandato para fiscalizar os órgãos e agentes dos demais
Poderes.
Qualquer ato de ofensa ao decoro parlamentar culmina por atingir, injustamente, a
própria respeitabilidade institucional do Poder Legislativo, residindo, nesse ponto,
a legitimidade ético-jurídica do procedimento constitucional de cassação do
mandato parlamentar, em ordem a excluir, da comunhão dos legisladores, aquele -
qualquer que seja - que se haja mostrado indigno do desempenho da magna função
de representar o Povo, de formular a legislação da República e de controlar as
instâncias governamentais do poder.
Não se poderá jamais ignorar que o princípio republicano consagra o dogma de
que todos os agentes públicos - legisladores, magistrados, e administradores - são
responsáveis perante a lei e a Constituição, devendo expor-se, plenamente, às
conseqüências que derivem de eventuais comportamentos ilícitos.
Cumpre insistir na asserção de que a prática de atos atentatórios ao decoro
parlamentar, mais do que ferir a dignidade individual do próprio titular do mandato
legislativo, projeta-se, de maneira altamente lesiva, contra a honorabilidade, a
respeitabilidade, o prestígio e a integridade político-institucional do Parlamento,
vulnerando, de modo extremamente grave, valores constitucionais que atribuem,
ao Poder Legislativo, a sua indisputável e eminente condição de órgão da própria
soberania nacional.
É por essa razão que o eminente Professor MIGUEL REALE ("Decoro
Parlamentar e Cassação de Mandato Eletivo", in Revista de Direito Público, vol.
X/89), ao versar o tema em questão, adverte que o ato indecoroso do parlamentar
importa em falta de respeito à própria dignidade institucional do Poder Legislativo:
"O 'status' do deputado, em relação ao qual o ato deve ser medido (e será comedido
ou decoroso em razão dessa medida) implica, por conseguinte, não só o respeito do
parlamentar a si próprio, como ao órgão ao qual pertence (...).
No fundo, falta de decoro parlamentar é falta de decência no comportamento
pessoal, capaz de desmerecer a Casa dos representantes (incontinência de conduta,
embriaguez, etc) e falta de respeito à dignidade do Poder Legislativo, de modo a
expô-lo a críticas infundadas, injustas e irremediáveis, de forma inconveniente."
Não é por outro motivo que PINTO FERREIRA ("Comentários à Constituição
Brasileira", vol. 3/28, 1992, Saraiva), em magistério lapidar sobre a matéria,
assinala:
"Outro motivo mencionado pela Constituição do País para a perda do mandato de
deputado ou senador é o procedimento reputado incompatível com o decoro
parlamentar. É, então, um poder discricionário que tem a Câmara de expulsar os
seus membros, quando sua conduta venha a ferir a própria honorabilidade da
Assembléia. Conquanto o deputado ou senador tenha todas as condições para
continuar em seu cargo, a própria Câmara ajuíza que ele é indesejável ou
intolerável, surgindo a cassação como uma medida disciplinar.
.......................................................
(...) A desqualificação do parlamentar não impede que ele venha a candidatar-se
novamente. Eventualmente pode reeleger-se. Mas sobra, ainda, à Câmara, o
exercício do seu poder para cassar novamente o mandato do dito membro." (grifei)
A submissão de todos à supremacia da Constituição e aos princípios que derivam
da ética republicana representa o fator essencial de preservação da ordem
democrática, por cuja integridade devemos todos velar, enquanto legisladores,
enquanto magistrados ou enquanto membros do Poder Executivo.
Não foi por outro motivo que o Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao analisar
a extensão do princípio da moralidade - que domina e abrange todas as instâncias
de poder -, proclamou que esse postulado, enquanto valor constitucional revestido
de caráter ético--jurídico, condiciona a legitimidade e a validade de quaisquer atos
estatais:
"A atividade estatal, qualquer que seja o domínio institucional de sua incidência,
está necessariamente subordinada à observância de parâmetros ético-jurídicos que
se refletem na consagração constitucional do princípio da moralidade
administrativa. Esse postulado fundamental, que rege a atuação do Poder Público,
confere substância e dá expressão a uma pauta de valores éticos sobre os quais se
funda a ordem positiva do Estado.
O princípio constitucional da moralidade administrativa, ao impor limitações ao
exercício do poder estatal, legitima o controle jurisdicional de todos os atos do
Poder Público que transgridam os valores éticos que devem pautar o
comportamento dos agentes e órgãos governamentais."
(ADI 2.661/MA, Rel. Min. CELSO DE MELLO - Pleno)
Impõe-se uma última observação a propósito do princípio da unidade de
legislatura.
No caso ora em exame, embora tratando-se de fato ocorrido na legislatura anterior,
ele só deixou de ser apurado, em virtude da extinção anômala do respectivo
procedimento, por efeito da livre e unilateral declaração de vontade emanada do
próprio impetrante, que renunciou ao mandato de que, então, era titular.
Daí o fato de a nova Mesa da Câmara dos Deputados haver deliberado, em
03/02/2003, sobre a necessidade de abertura de novo procedimento, em ordem a
legitimar, em função de novas investigações, a regular instauração, em momento
oportuno, do processo de cassação de mandato, por alegada falta de decoro
parlamentar, que teria sido cometida pelo ora impetrante.
Veja-se que, no precedente referido (MS 23.388/DF, Rel. Min. NÉRI DA
SILVEIRA, Pleno), o fato - também praticado em legislatura anterior (16/12/98) -
veio a ser objeto de procedimento de cassação de mandato, instaurado no último
mês de determinada legislatura (janeiro/99), que teve prosseguimento e conclusão
Tema IV
O Poder Legislativo II. Organização das Casas Legislativas. Imunidade parlamentar. Comissões
permanentes e temporárias.
Notas de Aula7
7
Aula ministrada pelo professor Humberto Peña de Moraes, em 12/4/2010.
A regra das decisões parlamentares é que cada casa decida seu turno, havendo
excepcionais reuniões conjuntas, para matérias específicas.
Os mandatos dos Deputados, de quatro anos, correspondem a uma legislatura.
Senadores tem mandato de oito anos, correspondentes a duas legislaturas. O número de
senadores representantes dos Estados é igualitário, independentemente da grandeza
populacional de cada Estado.
As casas se organizam por regimentos internos. O STF não admite sua intervenção
sobre matérias interna corporis, previstas nos regimentos, a não ser quando for para tutelar
direitos alheios alvejados pela norma regimental. O STF sequer admite sua atuação para
interpretar os regimentos, eis que esta interpretação incumbe aos membros das casas.
Repita-se, porém: se há lesão a direito subjetivo alheio, o STF pode ser instado a avaliar a
questão. O MS 24.356 do STF é importante:
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Não: a imunidade é uma garantia da função. Estando alheado da função, mesmo não
perdendo o cargo, não conta com imunidade alguma.
Veja:
Questão 2
Resposta à Questão 2
“Inq 1588 QO. Relator Min. CELSO DE MELLO. Julgamento: 12/12/2002. Órgão
Julgador: Tribunal Pleno. Publicação: 27/10/2006.
E M E N T A: IMUNIDADE PARLAMENTAR EM SENTIDO MATERIAL
(INVIOLABILIDADE) - SUPERVENIÊNCIA DA EC Nº 35/2001 - ÂMBITO DE
INCIDÊNCIA - NECESSIDADE DE QUE OS "DELITOS DE OPINIÃO"
TENHAM SIDO COMETIDOS NO EXERCÍCIO DO MANDATO
LEGISLATIVO OU EM RAZÃO DELE -INDISPENSABILIDADE DA
EXISTÊNCIA DESSE NEXO DE IMPLICAÇÃO RECÍPROCA - EXISTÊNCIA,
NA ESPÉCIE, DESSE VÍNCULO CAUSAL - PROPOSTA DE CONCESSÃO,
DE OFÍCIO, DA ORDEM DE "HABEAS CORPUS" ACOLHIDA. - A garantia
constitucional da imunidade parlamentar em sentido material (CF, art. 53, "caput")
- que representa um instrumento vital destinado a viabilizar o exercício
independente do mandato representativo - somente protege o membro do
Congresso Nacional, qualquer que seja o âmbito espacial ("locus") em que este
exerça a liberdade de opinião (ainda que fora do recinto da própria Casa
legislativa), nas hipóteses específicas em que as suas manifestações guardem
conexão com o desempenho da função legislativa (prática "in officio") ou tenham
sido proferidas em razão dela (prática "propter officium"), eis que a superveniente
promulgação da EC 35/2001 não ampliou, em sede penal, a abrangência tutelar da
cláusula da inviolabilidade. - A prerrogativa indisponível da imunidade material -
que constitui garantia inerente ao desempenho da função parlamentar (não
traduzindo, por isso mesmo, qualquer privilégio de ordem pessoal) - não se estende
a palavras, nem a manifestações do congressista, que se revelem estranhas ao
exercício do mandato legislativo. - A cláusula constitucional da inviolabilidade
(CF, art. 53, "caput"), para legitimamente proteger o parlamentar, supõe a
existência do necessário nexo de implicação recíproca entre as declarações
moralmente ofensivas, de um lado, e a prática inerente ao ofício congressional, de
outro. Doutrina. Precedentes. - A situação registrada nos presentes autos -
manifestação proferida em razão do mandato parlamentar ("propter officium")
-indica ser legítima a invocação, em favor do congressista denunciado, da garantia
constitucional da imunidade parlamentar em sentido material. Ordem de "habeas
corpus" concedida de ofício.”
Questão 3
Resposta à Questão 3
a) Não: os atos são mantidos, pois à época havia competência para tanto, bem como
havia atribuição perfeita do MP. Não há nenhuma nulidade. Sendo assim, a
ratificação não é necessária.
b) Não: a competência seria do plenário da respectiva casa.
c) A EC incrementou a imunização, trazendo o alcance desta sobre quaisquer
manifestações.
d) Não: a persecução se instaura, podendo apenas ser sustada pela respectiva casa,
mas já estará em curso. A licença tinha natureza de ato político, condição objetiva
de procedibilidade da persecução, fosse exigida.
e) Só há prescrição se há possibilidade de persecução, pois assim há inércia a ser
punida. Antes da EC, como não era possível a persecução sem a licença, não corria
a prescrição; hoje, corre este prazo, porque a persecução é possível – suspendendo-
se juntamente com a suspensão do processo que a casa eventualmente realizar.
Veja:
Tema V
Notas de Aula8
8
Aula ministrada pelo professor Arcênio Brauner Junior, em 13/4/2010.
A CPI tem os mesmos poderes de investigação de uma autoridade judicial, mas não
os poderes de implementação de decisões, ou seja, não tem jamais a coercitividade
jurisdicional. Por isso, não pode comandar cautelares, constranger liberdades, e demais atos
que são dados à reserva de jurisdição.
No plano infraconstitucional, a Lei 1.579/52 trata da CPI, regulamentando, em
linhas gerais, o processamento da CPI. Esta Lei foi recepcionada apenas parcialmente pela
CRFB. A Lei 10.001/00 traça outra regra importantíssima: a CPI tem prioridade na
tramitação, quando de sua conclusão, seja no MP, seja em órgãos administrativos em que se
possa implementar comandos da CPI. Esta prioridade se deve ao próprio fato de que a CPI
somente investiga, e não executa medidas quaisquer contra os investigados – por isso
precisando dos órgãos alheios para responsabilizar autoridades públicas, eis que somente
com a autoexecutoriedade da administração pública ou a persecução pelo MP é que haverá
a responsabilização concreta pelos atos apurados na CPI. Veja os artigos 2º e 3º desta lei:
Sendo a CPI uma decorrência direta das funções do Poder Legislativo, tendo ela
base constitucional e legal, seria possível o seu controle jurisdicional, ou haveria violação à
separação de poderes?
Outro elemento necessário da CPI é o prazo certo, que é de cento e vinte dias.
Ocorre que este prazo é prorrogável, indefinidamente, quantas vezes forem necessárias, a
critério de necessidade, sendo que o STF limita esta prorrogação apenas a uma legislatura,
ou seja, quatro anos, em atenção ao princípio da independência das legislaturas. Veja o HC
71.231:
Finda a CPI, esta remete ao MP o relatório final ,ou os autos, ou ainda um relatório
alternativo.
inclusive interrompendo seu depoimento para que ele não responda a perguntas que o
prejudicarão, é imponível.
Mas repare que o depoimento sem advogado não é anulável: a CPI é um
procedimento administrativo, e se o depoente escolhe falar sem advogado lhe assistindo,
nada há que obste ou invalide este proceder. Se a presença do advogado é exigida pelo
depoente, e é-lhe negado este direito, aí sim há nulidade.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
Tema VI
O Processo Legislativo. As diversas etapas que compõem o rito parlamentar. Controle judicial do processo
legislativo.
Notas de Aula9
1. Processo legislativo
VII - resoluções.
Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração
e consolidação das leis.”
podem, não sendo obrigatória esta repetição. É por isso que há Estados que contam com MP
estadual, e outros não. O rol do artigo 59 da CRFB não é impositivo aos Estados, mas
Saliente-se: é impositivo o modelo de atos, se forem adotados, não podendo o constituinte
estadual inovar em relação aos tipos normativos. Entenda: não é obrigatória a adoção dos
atos normativos ali previstos, mas se for adotar algum, o modelo federal tem que ser
necessariamente observado, tanto o ato quanto o procedimento legislativo para sua
formação.
É claro que, sendo o Legislativo estadual unicameral, as adaptações rituais devem
ser feitas, pois do contrário não seria jamais tido por regular um processo estadual, eis que
não há como se repetir exatamente o rito legislativo de um poder bicameral em uma seara
com uma só casa legislativa.
1.1. Principiologia
arquivados, não podendo continuar seu processo na próxima legislatura. Se for interessante
manter aquele projeto em curso, produzir aquela norma, à nova legislatura, é preciso que
haja uma nova iniciativa sobre aquele projeto, um novo início, como se novo fosse.
Não se confunda o arquivamento dos projetos com arquivamento de Medidas
Provisórias10: estas não são projetos, são atos normativos prontos, e por isso em nada são
perturbadas pela mudança de legislatura.
O processo legislativo ordinário tem três fases internas: a fase introdutória, a fase
constitutiva e a fase complementar. A fase introdutória é a de iniciativa do projeto;
constitutiva, consiste na discussão, votação e sanção ou veto; a complementar, conta com a
promulgação e publicação.
10
Em tema correlato, vale mencionar que a existência de projeto de MP por ser votado, hoje, tem o condão de
trancar a pauta unicamente de leis ordinárias e outras MPs. Não tranca a pauta para todo e qualquer ato
normativo, mas só estes. Este entendimento, capitaneado por Michel Temer, se baseia no fato de que as MPs
não poderia, impedir a tramitação de atos normativos que a ela não sejam análogos, como emendas ou leis
complementares. Como tem status de lei ordinária, impede o curso de leis ordinárias e de outras MPs.
Passando à fase constitutiva, a qual, como dito, abrange discussão, votação, sanção
e veto. Na seara federal, o projeto passa por um sistema bicameral, partindo da casa
iniciadora, passando à revisora, e retornando à iniciadora, afinal. Partamos de um exemplo
em que se inicia na Câmara dos Deputados. Este projeto, ali iniciado, passará
necessariamente por duas comissões: a Comissão de Constituição e Justiça e Redação, na
Câmara, e por uma comissão temática, dentre as que estão arroladas no artigo 32 do
Regimento Interno da Câmara (dispositivo que, muito extenso, segue transcrito apenas em
seus incisos, dispensando-se as alíneas):
contar com a maioria absoluta dos membros de qualquer das casas subscrevendo-o, e não
mais apenas um terço. Veja:
“Art. 67. A matéria constante de projeto de lei rejeitado somente poderá constituir
objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa, mediante proposta da maioria
absoluta dos membros de qualquer das Casas do Congresso Nacional.”
Sendo aprovado na Câmara, o projeto vai ao Senado. Nesta casa revisora, passará
também por duas comissões, a Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania, e por uma
das comissões temáticas, do artigo 72 do Regimento Interno do Senado:
remetido à Casa Revisora (SF), na qual foi aprovado substitutivo, seguindo-se sua
volta à Câmara (CF, artigo 65, par. único). A aprovação de substitutivo pelo Senado
não equivale à rejeição do projeto, visto que "emenda substitutiva é a apresentada a
parte de outra proposição, denominando-se substitutivo quando a alterar,
substancial ou formalmente, em seu conjunto" (§ 4º do artigo 118 do RI-CD);
substitutivo, pois, nada mais é do que uma ampla emenda ao projeto inicial 3. A
rejeição do substitutivo pela Câmara, aprovando apenas alguns dispositivos dele
destacados (artigo 190 do RI-CD), implica a remessa do projeto à sanção
presidencial, e não na sua devolução ao Senado, porque já concluído o processo
legislativo; caso contrário, dar-se-ia interminável repetição de idas e vindas de uma
Casa Legislativa para outra, o que tornaria sem fim o processo legislativo. Medida
cautelar indeferida.”
Retornando o projeto, com emendas, à casa iniciadora, esta pode acolher tais
emendas ou recusá-las. Se as recusa, prevalecerá o seu posicionamento: esta é a prevalência
de opinião da casa iniciadora, em projetos de lei ordinária ou complementar. Como se disse,
nos projetos de emendas constitucionais não há esta prevalência, o que resulta na
necessidade de que se componha uma vontade consoante, através da ida e vinda do projeto
de uma casa a outra, até que se aperfeiçoe um consenso12.
Aprovado o projeto no Senado, sem emendas, passa-se à fase de autógrafo. Este
consiste na formulação de um esboço final da norma, a conformação do projeto de lei em
lei efetiva, tal como virá ao ordenamento, quando finalmente publicada. É a concretização
das votações.
Neste ponto, o projeto é enviado ao Presidente da República, que terá prazo de
quinze dias para vetar ou sancionar expressamente. Corrido o prazo in albis, considera-se
que houve sanção tácita. Não há veto tácito: ele deve ser sempre expresso, de forma que
haja identificação de sua natureza, jurídica ou política – o que significa que o veto deve ser
sempre motivado. Veto jurídico é o que se baseia em inconstitucionalidade; veto político, o
que se fundamente na discricionariedade que assiste ao Presidente.
O veto é sempre supressivo, jamais aditivo. Sempre representa a retirada de artigos,
parágrafos, incisos ou alíneas, e nunca poderá haver veto parcial somente de expressões ou
palavras.
Havendo veto, este será apreciado pelo Legislativo, pelas duas casas em conjunto,
em uma sessão conjunta instalada com quorum de maioria absoluta, que exarará um
decreto legislativo. Esta apreciação deve ocorrer em trinta dias desde o veto, e se não se
realizar, será trancada a pauta do Congresso, apenas para sessões conjuntas das casas (e não
para sessões de cada casa em separado).
Havendo a sanção, passa-se à fase complementar.
12
Vale ressaltar que as emendas de redação, mesmo em projeto de emenda constitucional, não precisam de
acolhimento ou rejeição pela casa iniciadora – são automaticamente incorporadas.
vice-presidente do Senado, também em quarenta e oito horas. Vale dizer que, nesta
dinâmica, somente o vice-presidente do Senado é imputado por sua inércia, se assim se
quedar: ele responderá, quando da omissão, por crime de responsabilidade.
Uma vez promulgado, o projeto passa a existir como ato normativo pronto. A norma
surge a partir da promulgação, e a partir desta já pode este ato ser alvejado por controle de
constitucionalidade concentrado, abstrato, porque não depende da eficácia da norma, este
controle repressivo do ato normativo primário, mas apenas de sua existência13.
A publicação, portanto, não é condição para a existência da norma: é apenas
condição de eficácia desta, que já existe desde a promulgação.
Este processo sumário é idêntico ao ordinário, como se anteviu, mas com prazo de
tramitação máximo, de quarenta e cinco dias em cada casa, e mais dez dias para apreciação
das emendas parlamentares promovidas pela casa revisora.
Somados os prazos, chega-se a um total de cento e vinte dias: quarenta e cinco em
cada casa, mais dez de apreciação de emendas, mais quinze para a sanção ou veto, e mais
cinco de percurso interno do projeto.
Desrespeitados os prazos, há o trancamento da pauta da casa que procedeu no
atraso. Contudo, este trancamento não obsta os projetos de conversão de MPs, nem os
projetos de códigos.
1.3. Esquemas gráficos
13
Logo após a promulgação, então, pode haver ADI contra o ato promulgado, por exemplo, mas não será
possível uma ADC, por carência lógica de um elemento desta ação: a prova de relevante controvérsia
jurisprudencial sobre a constitucionalidade do ato normativo, interesse de agir especial, pois se sequer está
eficaz, não pode, naturalisticamente, ter havido controvérsia no Judiciário acerca de sua validade.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
a) Não: não há que existir este retorno à casa revisora, pois a casa iniciadora
prevalece, na análise das emendas parlamentares.
b) Sim, este é o instrumento cabível, por violação ao devido processo legislativo
constitucional, e a ordem deve ser concedida, in casu.
“INFORMATIVO Nº 320
Reforma Constitucional - Controle Jurisdicional (Transcrições).
MS 24.645-MC-DF* RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO.
EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. CONTROLE JURISDICIONAL DO
PROCESSO PARLAMENTAR DE REFORMA CONSTITUCIONAL E DE
ELABORAÇÃO DAS LEIS. LEGITIMIDADE ATIVA DOS MEMBROS DO
PODER LEGISLATIVO. A QUESTÃO DAS LIMITAÇÕES JURÍDICAS AO
PODER DE REFORMA CONSTITUCIONAL OUTORGADO AO CONGRESSO
NACIONAL. A NATUREZA JURÍDICA DO PREÂMBULO DA
CONSTITUIÇÃO. OBRIGAÇÃO PROCESSUAL DE FUNDAMENTAR,
ADEQUADAMENTE, A ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO CONSTITUCIONAL.
MEDIDA LIMINAR INDEFERIDA. DECISÃO: Trata-se de mandado de
segurança, com pedido de medida liminar, que, impetrado por quatro (4)
Deputados Federais, tem por objetivo fazer cessar a tramitação, "na Câmara dos
Deputados, da PEC nº 41/2003, que trata da Reforma Tributária" (fls. 22).
Sustenta-se, na presente sede mandamental, que a PEC nº 41/2003, quer em sua
versão original, quer naquela resultante da aprovação, em primeiro turno, pelo
Plenário da Câmara dos Deputados, da Emenda Aglutinativa nº 27/2003 (fls.
29/44), modificativa do Substitutivo adotado pela Comissão Especial (fls. 45/54),
ofendeu, em vários de seus dispositivos, o princípio da Federação (CF, art. 60, § 4º,
I), transgrediu "as diretrizes interpretativas do preâmbulo da Constituição" e
desrespeitou os objetivos fundamentais da República, tais como enunciados no art.
3º da Carta Política. Os ora impetrantes postulam, nesta fase introdutória do
processo mandamental, a suspensão cautelar da "tramitação da PEC nº 41/2003,
que se encontra submetida ao Plenário da Câmara dos Deputados" (fls. 22). Impõe-
se verificar, preliminarmente, no caso ora em exame, se os ora impetrantes - que
são membros da Câmara dos Deputados - possuem, ou não, qualidade para agir,
em sede jurisdicional, com a finalidade de questionar a validade jurídico-
constitucional de determinada proposta de emenda (PEC nº 41/2003), por eles
contestada em face da Constituição da República. A jurisprudência que o Supremo
Tribunal Federal firmou na análise dessa particular questão revela entendimento
afirmativo, consolidado em orientação que atribui, aos Deputados Federais e aos
Senadores da República - e apenas a estes (MS 23.334/RJ, Rel. Min. CELSO DE
MELLO), com a conseqüente exclusão de terceiros estranhos à instituição
parlamentar (RTJ 139/783, Rel. Min. OCTAVIO GALLOTTI) - legitimação para
fazer instaurar o pertinente processo judicial: "O processo de formação das leis ou
de elaboração de emendas à Constituição revela-se suscetível decontrole incidental
ou difuso pelo Poder Judiciário, sempre que, havendo possibilidade de lesão à
ordem jurídico-constitucional, a impugnação vier a ser suscitada por membro do
próprio Congresso Nacional, pois, nesse domínio, somente ao parlamentar - que
dispõe do direito público subjetivo à correta observância das cláusulas que
compõem o devido processo legislativo - assiste legitimidade ativa 'ad causam'
para provocar a fiscalização jurisdicional. - A jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal firmou-se no sentido de recusar, a terceiros que não ostentem a condição
de parlamentar, qualquer legitimidade que lhes atribua a prerrogativa de
questionar, 'incidenter tantum', em sede mandamental, a validade jurídico-
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
Tema VII
Espécies normativas. Emendas Constitucionais. Lei Complementar. Lei Ordinária. Lei Delegada. Medida
Provisória. Decreto Legislativo. Resolução.
Notas de Aula14
1. Espécies normativas
14
Aula ministrada pelo professor José Carlos Vasconcellos dos Reis, em 14/4/2010.
“(...)
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei;
(...)”
Há ainda a reserva legal, que é mais restrita do que esta legalidade ampla, e que
ocorre quando a CRFB reserva alguma matéria para ser tratada especificamente em
determinada espécie normativa, como lei ordinária ou complementar. Quando a CRFB não
o fizer, entende-se que qualquer das espécies primárias do seu artigo 59 atende à legalidade.
Passemos, doravante, à analise das espécies normativas primárias mais importantes.
que não é reservada a si, ou seja, se a lei complementar foi adotada para uma norma por
opção do legislador, e não por uma imposição constitucional, a lei ordinária poderá revogar
esta matéria – trata-se de lei formalmente complementar, mas materialmente ordinária.
O CTN traz algumas normas nesta condição: grande parte de sua matéria é
revogável por lei ordinária, porque é matéria apenas formalmente tratada em lei
complementar, não sendo materialmente reservada à lei complementar.
A chave para esta questão não está na análise de qual tipo normativo está tratando
da matéria, mas sim qual espécie é exigida pela CRFB para aquela matéria. A CLT, por
exemplo, lei ordinária pré-constitucional, traz temas que não são passíveis de reforma por
lei ordinária, porque a CRFB impõe que sejam tratados, a partir dela, por meio de lei
complementar.
3. Emenda constitucional
“(...)
LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável
duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(...)”
15
Manoel Gonçalves entende ser cabível esta dupla revisão, em posição completamente isolada.
“Art. 3º. A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da
promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do
Congresso Nacional, em sessão unicameral.”
4. Medidas provisórias
Veja que o dispositivo foi completamente alterado pela EC 32/01, que melhorou
bastante o regramento das MPs.
A nossa MP foi importada do direito italiano, mas por lá este instituto é mais
corretamente empregado, eis que está num sistema parlamentarista. Lá, quem edita a MP é
o Primeiro Ministro, e por ser este passível de ser deposto por quebra de confiança do
parlamento, ele tem muito mais zelo pelo teor de suas MPs. No Brasil, a MP é do
Presidente, que não é destituído por mera quebra de confiança – permitindo uma certa
irresponsabilidade na edição de MPs.
Além desta importação indevida do instrumento, o seu tratamento na CRFB é muito
lacunoso, gerando enormes problemáticas. As matérias que podem ser tratadas por meio de
MP, por exemplo gerou enorme polêmica, antes da EC 32/01. A possibilidade de reedição
das MPs foi outro ponto controverso – e a reedição foi praxe em nosso país, por muito
tempo.
A EC 32/01 resolveu bastantes destes problemas. Estabeleceu o âmbito material da
incidência das MPs, como se vê no § 1º;
É por isso que há MPs que, editadas no regime anterior, são mantidas vigentes até
hoje. Como exemplo, a MP 2.220/01.
Os §§ 3º, 4º, 6º, 7º e 10 do artigo 62 da CRFB são os que trazem as vedações mais
importantes. O prazo de vigência da MP, hoje, é fatal. Mesmo por isso, como forma de
compelir o Congresso a votar a matéria, antes que a MP perca sua eficácia, prevê a CRFB o
trancamento da pauta para votação de outras normas, antes que a MP seja votada. Hoje, a
MP tranca a pauta apenas para leis ordinárias e outras MPs, em matérias que são também
dadas à MP. Veja o MS 27.931, noticiado no informativo 572 do STF:
5. Decreto legislativo
Assim, esse tipo normativo é específico para tratar das matérias ali arroladas. Bom
exemplo é a regulamentação da questão intertemporal quando há a rejeição de uma MP,
como dito.
6. Resolução
Outro ato exclusivo do parlamento, consiste no ato normativo exarado por cada casa
do Congresso, de forma isolada, e não em conjunto como o decreto legislativo. Os artigos
51 e 52 da CRFB são a sede das matérias tratáveis por resolução:
inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das
demais sanções judiciais cabíveis.”
O inciso X deste artigo 52, supra, tem sido bastante comentado, porque ali se
menciona que é competência do Senado suspender a execução, no todo ou em parte, de lei
declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal. Esta
resolução senatorial tem sido apontada como mera formalidade, para corrente moderna,
capitaneada por Gilmar Mendes, pois as decisões do STF já teriam o condão de afastar a
eficácia da norma encontrada inconstitucional por si só.
7. Lei delegada
“Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que
deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional.
§ 1º - Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do
Congresso Nacional, os de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do
Senado Federal, a matéria reservada à lei complementar, nem a legislação sobre:
I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia
de seus membros;
II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais;
III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.
§ 2º - A delegação ao Presidente da República terá a forma de resolução do
Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício.
§ 3º - Se a resolução determinar a apreciação do projeto pelo Congresso Nacional,
este a fará em votação única, vedada qualquer emenda.”
Esta modalidade tem muito pouca aplicação prática, ante a maior agilidade da MP.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
O artigo 150, § 6º, da CRFB, precisa ser observado. A CE não é sede para concessão
de isenções, anistias e correlatos, e sim lei específica e dedicada.
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
b) Sim, conforme ADI 295, desde que não seja norma de efeitos concretos, na
casuística – o que não ocorre no caso concreto, podendo haver a ADI. Veja:
c) Dependerá de quem a CE eleger para tanto. A única vedação é que seja dada esta
legitimidade a uma só autoridade. Em regra, seguem, as CEs, a CRFB, por
simetria.
d) Não há a perda de objeto da ADI, desde que a petição inicial seja aditada, para
alvejar a lei convertida. A rejeição da MP ou a sua alteração substancial, quando
da conversão em lei, importam, estas sim, em perda do objeto. Veja a ADI
2.391:
“ADI 2391 / SC - SANTA CATARINA. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. Relatora Min. ELLEN GRACIE. Julgamento:
16/08/2006. Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Publicação: DJ 16-03-2007.
Ementa: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 51 E
PARÁGRAFOS DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SANTA CATARINA.
ADOÇÃO DE MEDIDA PROVISÓRIA POR ESTADO-MEMBRO.
POSSIBILIDADE. ARTIGOS 62 E 84, XXVI DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
EMENDA CONSTITUCIONAL 32, DE 11.09.01, QUE ALTEROU
SUBSTANCIALMENTE A REDAÇÃO DO ART. 62. REVOGAÇÃO PARCIAL
DO PRECEITO IMPUGNADO POR INCOMPATIBILIDADE COM O NOVO
TEXTO CONSTITUCIONAL. SUBSISTÊNCIA DO NÚCLEO ESSENCIAL DO
COMANDO EXAMINADO, PRESENTE EM SEU CAPUT.
Notas de Aula17
1. Tribunal de Contas
A Corte de Contas tem sua história remontando a 1826, no Brasil. Desde esta época
imperial já se pretendia a criação de órgão autônomo para controle das contas de outros
poderes, pois o controle de contas, à época, se dava unicamente por fiscalização interna.
Em 1891, a primeira Constituição republicana brasileira trouxe este órgão ao
ordenamento, por influência de Rui Barbosa. Em 1893, passou a existir de fato.
As Constituições ditatoriais, de 1937, 1967 e 1969, reduziram drasticamente as
atribuições originais dos Tribunais de Contas, mas em 1988 esta Corte atingiu seu ápice
histórico em termos de amplitude de atribuições.
Uma questão ainda persiste sem pacificação, porém: a natureza jurídica desta Corte.
Para a doutrina administrativista, se trata de um órgão do Poder Legislativo. Para os
Constitucionalistas, contudo, se trata de um órgão independente e autônomo, que não faz
parte da estrutura de nenhum dos poderes da federação. Vige, de fato, sob uma relação de
coordenação com o Legislativo, mas a ele não se subordina, muito menos o integra
estruturalmente.
17
Aula ministrada pela professora Flávia Bahia Martins, em 19/4/2010.
“Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o
auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:
I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da República, mediante
parecer prévio que deverá ser elaborado em sessenta dias a contar de seu
recebimento;
II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens
e valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e
sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles
que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo
ao erário público;
III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a
qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações
instituídas e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as nomeações para cargo de
provimento em comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas
e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o fundamento
legal do ato concessório;
IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal,
de Comissão técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil,
financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades administrativas
dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entidades referidas no
inciso II;
V - fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais de cujo capital
social a União participe, de forma direta ou indireta, nos termos do tratado
constitutivo;
VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União mediante
convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito
Federal ou a Município;
VII - prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional, por qualquer de
suas Casas, ou por qualquer das respectivas Comissões, sobre a fiscalização
contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados de
auditorias e inspeções realizadas;
VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou
irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras
cominações, multa proporcional ao dano causado ao erário;
IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias
ao exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;
X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a decisão
à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal;
XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos apurados.
Veja que o sistema de fiscalização interno não é em nada prejudicado pelo sistema
de controle do Tribunal de Contas. Coexistem ambas, em todas as funções do poder estatal.
Veja o artigo 74 da CRFB
“Art. 73. O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros, tem sede
no Distrito Federal, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o território
nacional, exercendo, no que couber, as atribuições previstas no art. 96.
§ 1º - Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão nomeados dentre
brasileiros que satisfaçam os seguintes requisitos:
I - mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade;
II - idoneidade moral e reputação ilibada;
III - notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou de
administração pública;
IV - mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva atividade profissional
que exija os conhecimentos mencionados no inciso anterior.
§ 2º - Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão escolhidos:
I - um terço pelo Presidente da República, com aprovação do Senado Federal,
sendo dois alternadamente dentre auditores e membros do Ministério Público junto
ao Tribunal, indicados em lista tríplice pelo Tribunal, segundo os critérios de
antigüidade e merecimento;
II - dois terços pelo Congresso Nacional.
§ 3° Os Ministros do Tribunal de Contas da União terão as mesmas garantias,
prerrogativas, impedimentos, vencimentos e vantagens dos Ministros do Superior
Tribunal de Justiça, aplicando-se-lhes, quanto à aposentadoria e pensão, as normas
constantes do art. 40. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
§ 4º - O auditor, quando em substituição a Ministro, terá as mesmas garantias e
impedimentos do titular e, quando no exercício das demais atribuições da
judicatura, as de juiz de Tribunal Regional Federal.”
A administração pública conta com cinco anos para rever seus atos, e, quando se
tratar de concessão de aposentadoria, esta revisão pode ser feita, dentro destes cinco anos
desde a concessão, sem observância de contraditório ou ampla defesa. Passados estes cinco
anos, contudo, a administração deverá observar estas garantias, se pretender rever este ato
de concessão inicial.
De acordo com o artigo 54 da Lei 9.784/99, diz o STF, o TCU pode garantir ampla
defesa e contraditório, caso verifique a irregularidade do ato de concessão de benefício após
o prazo de cinco anos de que a administração dispõe.
A LC 105/01 estabelece que o Poder Legislativo pode, por ato próprio, quebrar o
sigilo de dados bancários – o que faz por meio da CPI. Contudo, não pode o Tribunal de
Contas fazê-lo, eis que a mencionada LC não lhe conferiu esta atribuição.
A súmula 347 do STF é também muito relevante:
“Súmula 347: O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode
apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público.”
Ali se permite o controle preventivo e repressivo de constitucionalidade pelo
Tribunal de Contas. Esta súmula tem sido alvejada por críticas, especialmente de Gilmar
Mendes. Consiste, esta forma preventiva de atuação, na recomendação, pela Corte de
Contas à autoridade em escrutínio, que esta não preste as suas contas com base em
determinada lei, porque o TCU reputa tal lei inconstitucional, e se prestar conforme esta as
contas serão rejeitadas. A forma repressiva de controle, que tem sido mais criticada ainda,
consiste na utilização da inconstitucionalidade de uma lei como fundamento para a rejeição
de determinadas contas, apresentadas com fulcro em tal lei.
A crítica de Gilmar é que, à época da edição da súmula, não havia meios suficientes
de controle concentrado de normas, sequer existindo a Representação de
Inconstitucionalidade em esfera estadual, e sendo restrito o rol de legitimados ativos para o
controle federal – somente o PGR o era. Por isso se justificava esta modalidade de controle
no Tribunal de Contas, mas esta prerrogativa hoje não persistiria, pois o STF deveria
concentrar a análise de normas em abstrato (bem como o Judiciário estadual, nas normas de
sua competência).
Não tendo sido revogada, ainda, esta súmula, aplica-se seu teor, contrariando a
crítica acima exposta.
Quanto ao princípio da simetria, como dito, os Tribunais de Contas Estaduais são
limitados ao espelho do TCU. Não pode haver exasperação de atribuições dadas ao TCU,
sendo estas o limite do TCE. O princípio da simetria deve ser respeitado, em vista do artigo
75 da CRFB:
Os conselheiros dos TCMs que ainda existem, do Rio de Janeiro e São Paulo, serão
julgados no foro que a organização judiciária estadual dispuser, eis que para eles não há
foro constitucionalmente previsto.
A Constituição estadual não pode outorgar à Assembléia Legislativa a competência
para julgar as próprias contas, e as do Executivo e Judiciário.
Por fim, no MS 25.092, o STF decidiu que as contas das empresas públicas e
sociedades de economia mista devem também ser julgadas pela Corte de Contas:
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
“INFORMATIVO Nº 65.
Conselheiro e Idade
No mesmo julgamento, acolheu-se a argüição de inconstitucionalidade do art. 48, I,
§ 1o da Constituição de RO, com a redação da EC 3/92, que fixou — quanto ao
requisito etário para nomeação de Conselheiro ao Tribunal de Contas do Estado —,
tão-só, a idade mínima de trinta e cinco anos. O Tribunal entendeu que a regra do
art. 73, § 1o , I da CF ( "Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão
nomeados dentre brasileiros que satisfaçam os seguintes requisitos: I - mais de
trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade.") constitui preceito de
observância compulsória pelos Estados à vista do que dispõe o art. 75 da CF ("As
normas estabelecidas nesta Seção aplicam-se, no que couber, à organização,
composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados ..."). ADIn 793-
RO, rel. Min. Carlos Velloso, 03.4.97.”
Questão 2
Resposta à Questão 2
“INFORMATIVO Nº 553
Cabe observar que a Constituição assegura que nem mesmo a lei poderá excluir da
apreciação do poder Judiciário qualquer lesão ou ameaça a direito, princípio que não deixa
margem de dúvida quanto à possibilidade de o Judiciário rever as decisões do Tribunal de
Contas.
Tema IX
Notas de Aula18
18
Aula ministrada pela professora Flávia Bahia Martins, em 19/4/2010.
“Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:
(...)
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
(...)”
vários momentos distintos, desde a “república do café com leite”, no início do século XX, à
república ditatorial da década de sessenta. Em 1988, foi inaugurada uma nova república,
com bases democráticas mais sólidas, lastreada pelo sufrágio universal, e pela afirmação
formal dos direitos e garantias fundamentais. De acordo com a CRFB, podemos dizer quer
o princípio republicano é defendido expressa ou implicitamente como princípio
fundamental, preceito fundamental, princípio constitucional sensível, e, segundo José
Afonso da Silva, ainda é uma limitação material implícita ao poder reformador, tendo em
vista que o povo confirmou, no plebiscito de 1993, a opção por esta forma de governo,
petrificando-a.
“Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da
Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo
Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos
crimes de responsabilidade.
§ 1º - O Presidente ficará suspenso de suas funções:
I - nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime pelo
Supremo Tribunal Federal;
II - nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pelo Senado
Federal.
§ 2º - Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não estiver
concluído, cessará o afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular
prosseguimento do processo.
§ 3º - Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o
Presidente da República não estará sujeito a prisão.
§ 4º - O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser
responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.”
Quanto à imunidade processual, esta está no artigo 86, caput, da CRFB, supra. Esta
imunidade significa que o próprio povo deve fazer um juízo de admissibilidade da acusação
contra o Presidente, juízo este que é feito pela Câmara dos Deputados, a casa do povo no
Congresso. É preciso a reunião de trezentos e quarenta e dois votos dos deputados para que
o Presidente possa ser processado por crime, e, mesmo que haja esta admissibilidade, o
STF ainda pode não admitir a denúncia, por motivos técnicos. Há, portanto, uma
admissibilidade política na Câmara, que deve ser obrigatoriamente observada pelo Senado,
e há uma admissibilidade jurídica, feita no STF.
A prerrogativa de foro do Presidente se limita aos crimes comuns e de
responsabilidade. Questões trabalhistas, de família, tributárias, etc, nada disso pertine a este
foro ou a esta questão das imunidades.
Na forma do artigo 86, caput, da CRFB, portanto, a Câmara dos Deputados realiza o
juízo de admissibilidade das acusações criminais e políticas contra o Presidente,
considerando-se aprovadas tais acusações quando votadas positivamente por ao menos
dois terços dos votos favoráveis dos deputados. Não há prerrogativa de foro para
julgamento do Presidente para questões que não se refiram a crime comum ou a crime de
responsabilidade.
A denúncia criminal contra o Presidente é apresentada pelo PGR, e, se for queixa, a
própria vítima do crime de ação penal privada. Nos crimes de responsabilidade, porém,
qualquer cidadão (tecnicamente considerado, ou seja, aquele em pleno gozo dos direitos
políticos) é legitimado para tal persecução perante a Câmara, na forma do artigo 14 da Lei
1.079/50:
“Art. 14. É permitido a qualquer cidadão denunciar o Presidente da República ou
Ministro de Estado, por crime de responsabilidade, perante a Câmara dos
Deputados.”
Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como Presidente
o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação, que somente será
proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, com
inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das
demais sanções judiciais cabíveis.”
este teor é que se refere a responsabilidade criminal. Neste sentido, entende-se que o
Presidente não será julgado por crimes comuns que não sejam associados a suas funções
presidenciais. Por estes, associados à função – crimes contra a administração pública, em
regra –, será sim julgado, e o foro é o STF. De acordo com este parágrafo, podemos
concluir que o STF não tem competência para julgar o Presidente por crimes cometidos
antes de sua diplomação, tampouco por crimes não correlatos à função presidencial, ainda
que cometidos durante o mandato. A contrário senso, o STF poderá julgar o Presidente por
crimes contra a administração pública, eis que correlatos à atividade – é a cláusula de
irresponsabilidade relativa do Presidente.
“Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o
interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara
Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta
Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos:
(...)
X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça; (Renumerado do
inciso VIII, pela Emenda Constitucional nº 1, de 1992)
(...)”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Ocorre que a ofensa deve ser à figura do Presidente, e não ao cidadão que ocupa a
presidência, em seus bens privados. In casu, pode-se considerar que há, de fato, um
atentado ao chefe do Executivo, pelo que a medida foi correta. Se se interpretar que a
ofensa nada tem a ver com o cunho político da pessoa, aí então esta intervenção seria
indevida, e a segurança concedida.
No MS 23.766, o STF entendeu que de acordo com o artigo 84, XIII, da CRFB,
supra, combinado com o artigo 142 da CRFB, o Presidente agiu bem ao encaminhar as
forças armadas para a defesa de sua residência, tendo em vista que a ordem pública teria
sido afetada com a ameaça à residência do Presidente, e por isso a segurança deve ser
denegada.
“Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com
base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da
República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais
e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
§ 1º - Lei complementar estabelecerá as normas gerais a serem adotadas na
organização, no preparo e no emprego das Forças Armadas.
§ 2º - Não caberá "habeas-corpus" em relação a punições disciplinares militares.
§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-se-
lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições: (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
I - as patentes, com prerrogativas, direitos e deveres a elas inerentes, são conferidas
pelo Presidente da República e asseguradas em plenitude aos oficiais da ativa, da
reserva ou reformados, sendo-lhes privativos os títulos e postos militares e,
juntamente com os demais membros, o uso dos uniformes das Forças Armadas;
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
II - o militar em atividade que tomar posse em cargo ou emprego público civil
permanente será transferido para a reserva, nos termos da lei; (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
III - O militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar posse em cargo, emprego ou
função pública civil temporária, não eletiva, ainda que da administração indireta,
ficará agregado ao respectivo quadro e somente poderá, enquanto permanecer
nessa situação, ser promovido por antigüidade, contando-se-lhe o tempo de serviço
apenas para aquela promoção e transferência para a reserva, sendo depois de dois
anos de afastamento, contínuos ou não, transferido para a reserva, nos termos da
lei; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
IV - ao militar são proibidas a sindicalização e a greve; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 18, de 1998)
V - o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a partidos políticos;
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
Questão 2
Resposta à Questão 2
Nas ADIS 425, 978 e 1.022, abaixo transcritas, o STF decidiu que como
governadores e prefeitos não exercem as mesmas atividades do Presidente da República,
tendo em vista que são chefes de Governo, mas não são chefes de Estado – função esta
exclusiva do Presidente –, o princípio da simetria não se aplica. Ademais, o princípio
republicano determina a responsabilidade dos governantes, e essas cláusulas de
irresponsabilidade devem ser analisadas de forma restrita.
Com isso, o STF decidiu que o artigo 86, §§ 3º e 4º, da CRFB, são exclusivos do
Presidente. Quanto à imunidade formal processual, nada impede que seja estendida ao
chefe de governo estadual e municipal.
membro, ainda que em norma constante de sua propria Constituição, não dispõe de
competência para outorgar ao Governador a prerrogativa extraordinária da
imunidade a prisão em flagrante, a prisão preventiva e a prisão temporaria, pois a
disciplinação dessas modalidades de prisão cautelar submete-se, com
exclusividade, ao poder normativo da União Federal, por efeito de expressa reserva
constitucional de competência definida pela Carta da Republica. - A norma
constante da Constituição estadual - que impede a prisão do Governador de Estado
antes de sua condenação penal definitiva - não se reveste de validade jurídica e,
consequentemente, não pode subsistir em face de sua evidente incompatibilidade
com o texto da Constituição Federal. PRERROGATIVAS INERENTES AO
PRESIDENTE DA REPUBLICA ENQUANTO CHEFE DE ESTADO. - Os
Estados-membros não podem reproduzir em suas proprias Constituições o
conteudo normativo dos preceitos inscritos no art. 86, PAR.3. e 4., da Carta
Federal, pois as prerrogativas contempladas nesses preceitos da Lei Fundamental -
por serem unicamente compativeis com a condição institucional de Chefe de
Estado - são apenas extensiveis ao Presidente da Republica.”
“ADI 1022 / RJ - RIO DE JANEIRO. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. Relator Min. ILMAR GALVÃO. Relator p/
Acórdão: Min. CELSO DE MELLO. Julgamento: 19/10/1995. Órgão Julgador:
TRIBUNAL PLENO. Publicação: DJ 17-11-1995.
E M E N T A: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE -
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - OUTORGA DE
PRERROGATIVAS DE CARÁTER PROCESSUAL PENAL AO
GOVERNADOR DO ESTADO - IMUNIDADE A PRISÃO CAUTELAR E A
QUALQUER PROCESSO PENAL POR DELITOS ESTRANHOS A FUNÇÃO
GOVERNAMENTAL - INADMISSIBILIDADE - OFENSA AO PRINCÍPIO
REPUBLICANO - USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DA
UNIÃO - PRERROGATIVAS INERENTES AO PRESIDENTE DA REPUBLICA
ENQUANTO CHEFE DE ESTADO (CF/88, ART. 86, par. 3. E 4.) - AÇÃO
DIRETA PROCEDENTE. PRINCÍPIO REPUBLICANO E
RESPONSABILIDADE DOS GOVERNANTES. - A responsabilidade dos
governantes tipifica-se como uma das pedras angulares essenciais a configuração
mesma da ideia republicana. A consagração do princípio da responsabilidade do
Chefe do Poder Executivo, além de refletir uma conquista basica do regime
democratico, constitui consequencia necessaria da forma republicana de governo
adotada pela Constituição Federal. O princípio republicano exprime, a partir da
ideia central que lhe e subjacente, o dogma de que todos os agentes publicos - os
Governadores de Estado e do Distrito Federal, em particular - são igualmente
responsaveis perante a lei. RESPONSABILIDADE PENAL DO GOVERNADOR
DO ESTADO. - Os Governadores de Estado - que dispoem de prerrogativa de foro
ratione muneris perante o Superior Tribunal de Justiça (CF, art. 105, I, a) - estao
permanentemente sujeitos, uma vez obtida a necessaria licenca da respectiva
Assembléia Legislativa (RE 153.968-BA, Rel. Min. ILMAR GALVAO; RE
159.230-PB, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE), a processo penal
condenatório, ainda que as infrações penais a eles imputadas sejam estranhas ao
exercício das funções governamentais. - A imunidade do Chefe de Estado a
persecução penal deriva de cláusula constitucional exorbitante do direito comum e,
por traduzir consequencia derrogatória do postulado republicano, só pode ser
outorgada pela propria Constituição Federal. Precedentes: RTJ 144/136, Rel. Min.
SEPÚLVEDA PERTENCE; RTJ 146/467, Rel. Min. CELSO DE MELLO. Analise
do direito comparado e da Carta Politica brasileira de 1937. IMUNIDADE A
PRISÃO CAUTELAR - PRERROGATIVA DO PRESIDENTE DA REPUBLICA -
IMPOSSIBILIDADE DE SUA EXTENSAO, MEDIANTE NORMA DA
CONSTITUIÇÃO ESTADUAL, AO GOVERNADOR DO ESTADO. - O Estado-
membro, ainda que em norma constante de sua propria Constituição, não dispõe de
competência para outorgar ao Governador a prerrogativa extraordinária da
Quanto à prerrogativa de foro, o STF entende que incumbe ao Estado membro, por
sua autonomia, decidir qual é o foro competente para julgamento do crime de
responsabilidade daquelas autoridades.
Tema X
O Poder Judiciário I. A estrutura judiciária. A autogestão dos Tribunais. O Supremo Tribunal Federal. O
Superior Tribunal de Justiça. Competências. Recurso Extraordinário. Recurso Especial. Súmula Vinculante.
Repercussão geral.
Notas de Aula19
1. Poder Judiciário
Por conceito, o Judiciário é o conjunto de órgãos do Estado que tem por dedicados a
exercer a função jurisdicional, função que consiste na solução de lides, no caso concreto
(em que pese a teoria revisionista entender que há juridição mesmo sem lide, como na
voluntária).
Lide é a pretensão resistida. A solução coercitiva destes conflitos de interesse
qualificados é monopólio do Estado, que, em regra, presta tal solução por meio do
Judiciário. Há alguns casos que a lei encaminha a solução a outros métodos, os subsitutivos
jurisdicionais, como a arbitragem; ou outros poderes, como quando encaminha ao
Congresso a competência para julgar o Presidente da República.
Interesses indisponíveis só podem ser compostos pelo Judiciário, eis que é este o
maquinário constitucionalmente erigido para tanto.
O Judiciário também desempenha atividades administrativas, não jurisdicionais,
necessárias à sua própria gestão: realiza concursos, organiza seus quadros, realiza
licitações, etc. E tem também função legislativa, quando elabora seus atos normativos, tal
como o regimento interno.
A característica fundamental da função jurisdicional é a sua definitividade: o
Judiciário cria normas concretas e individualizadas para solucionar lides, concretizando
normas que eram genéricas e abstratas. Esta definitividade inexiste na atividade
19
Aula ministrada pelo professor Ricardo Coimbra da Silva Starling Barcellos, em 15/4/2010.
antigüidade e a outra metade por eleição pelo tribunal pleno; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
XII a atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo vedado férias coletivas nos
juízos e tribunais de segundo grau, funcionando, nos dias em que não houver
expediente forense normal, juízes em plantão permanente; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
XIII o número de juízes na unidade jurisdicional será proporcional à efetiva
demanda judicial e à respectiva população; (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 45, de 2004)
XIV os servidores receberão delegação para a prática de atos de administração e
atos de mero expediente sem caráter decisório; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
XV a distribuição de processos será imediata, em todos os graus de jurisdição.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)”
“Art. 94. Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais
dos Estados, e do Distrito Federal e Territórios será composto de membros, do
Ministério Público, com mais de dez anos de carreira, e de advogados de notório
saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade
profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das
respectivas classes.
Parágrafo único. Recebidas as indicações, o tribunal formará lista tríplice,
enviando-a ao Poder Executivo, que, nos vinte dias subseqüentes, escolherá um de
seus integrantes para nomeação.”
sentença. O máximo que o CNJ pode fazer, em punições a juizes, é impor a aposentadoria
compulsória, com proventos proporcionais.
A inamovibilidade determina que o juiz não poderá ser removido senão pelo
interesse público, a fim de que esta mudança de lotação não seja um fator desestabilizante
da função que desempenha.
Irredutibilidade de vencimentos é garantia dedicada a proteger o juiz de pressões
políticas, em prol da independência funcional.
O artigo supra contempla restrições aos juizes, em prol da ética e moralidade, além
de impor a dedicação ao cargo.
A independência administrativa, por seu lado, consiste na capacidade de auto
administração e auto gestão, com a escolha de seus membros de comando sendo feita no
próprio âmbito do Judiciário – com algumas exceções, como os Ministros do STF.
Por fim, vale dizer que o diploma que regulamenta a organização do Judiciário é a
Lei Orgânica da Magistratura Nacional, lei de iniciativa do STF. Hoje, esta norma é a Lei
Complementar 35/79.
Acerca da autonomia administrativa, a questão em voga, hoje, está no limite da
atuação do CNJ: até que ponto pode este órgão interferir na autonomia do Judiciário
Estadual?
O CNJ pretende exatamente esta interferência, traçando metodologia administrativa
linear, uniforme, em todos os órgãos do Judiciário estadual do Brasil. Mas é na definição do
limite desta inserção que tem havido discussões. Bom exemplo foi a limitação de cargos de
juiz auxiliar da presidência a dois, pois em tribunais complexos como o do Rio de Janeiro,
este número é irrazoável, pois ao menos cinco são necessários – pelo que a resolução
impondo dois seria afrontosa à razoabilidade (tendo sido adaptada ao caso concreto,
portanto, reconhecendo o CNJ a necessidade de cinco juizes auxiliares no TJ/RJ).
O que se vê, com isso, é que a autonomia administrativa tem sido realmente
mitigadas pelo CNJ, mas, desde que as medidas sejam razoáveis, esta intervenção do CNJ é
correta e bem vinda.
Os tribunais tem autonomia financeira: realizam proposta de orçamento, que deve
estar adstrita à responsabilidade fiscal. Além da fonte orçamentária, as custas e
emolumentos judiciais pertencem ao Judiciário, destinadas a fundo especial que deve ser
investido na estrutura física e logística do Poder (mas não na remuneração de servidores).
Assim, a súmula vinculante tem lugar quando houver divergência asseverada nos
tribunais, de forma a gerar multiplicação desnecessária de processos alçando o STF, em
matéria que este já pacificou seu entendimento. Com a súmula, o processo deixa de alçar o
STF, senão em reclamação, quando desobedecido o comando sumulado.
A vinculação aos precedentes tem sido a orientação maior do STF e do STJ. O CNJ,
inclusive, tem resolução indicando que é critério objetivo de merecimento, para promoção,
a observância, pelos juízos inferiores, das súmulas dos tribunais superiores – havendo quem
critique esta posição, por ser violação da independência funcional.
Acerca da repercussão geral, requisito de qualidade da controvérsia que se quer
levar ao STF, é também meio de reduzir o acesso ao STF, reservando a esta Corte apenas o
que for relevante em espectro superior aos interesses daqueles envolvidos no processo em
questão. É preciso que a questão extrapole os limites subjetivos daquele processo.
O STJ tem por principal atribuição a uniformização de leis federais, o que promove
por meio do recurso especial – assim como o CNJ uniformiza a administração judiciária.
O recurso especial exige prequestionamento, pois é recurso de fundamentação
vinculada, não sendo possível analisar nenhuma matéria fática de forma inédita. O
cabimento do recurso especial é dedicado ao enfrentamento da matéria de violação a lei
federal, e não da análise e avaliação de provas. Veja a súmula 7 do STJ?
“Súmula 7, STJ: A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso
especial.”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
“(...)
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito;
(...)”
Questão 2
Resposta à Questão 2
O Judiciário não deve se imiscuir, como regra geral, nas políticas públicas. Todavia,
há algumas políticas que a CRFB impõe que seja realizadas, e nestes casos a
discricionariedade da administração não contempla, ao administrador, a opção de não
implementar tal política. Para impor esta atuação, o Judiciário poderá, sim, ser acionado, e
é de sua competÊncia zelar pela efetividade constitucional.
Veja o Agravo de Instrumento 677.274, do STF, constante do informativo 520:
“AI 677274 / SP - SÃO PAULO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. Relator Min.
CELSO DE MELLO. Julgamento:18/09/2008. Publicação: 01/10/2008.
EMENTA: CRIANÇA DE ATÉ CINCO ANOS DE IDADE. ATENDIMENTO EM
CRECHE E EM PRÉ-ESCOLA. EDUCAÇÃO INFANTIL. DIREITO
ASSEGURADO PELO PRÓPRIO TEXTO CONSTITUCIONAL (CF, ART. 208,
IV, NA REDAÇÃO DADA PELA EC Nº 53/2006). COMPREENSÃO GLOBAL
DO DIREITO
CONSTITUCIONAL À EDUCAÇÃO. DEVER JURÍDICO CUJA EXECUÇÃO
SE IMPÕE AO PODER PÚBLICO, NOTADAMENTE AO MUNICÍPIO (CF,
ART. 211, § 2º). AGRAVO IMPROVIDO.
- A educação infantil representa prerrogativa constitucional indisponível, que,
deferida às crianças, a estas assegura, para efeito de seu desenvolvimento integral,
e como primeira etapa do processo de educação básica, o atendimento em creche e
o acesso à pré-escola (CF, art. 208, IV).
- Essa prerrogativa jurídica, em conseqüência, impõe, ao Estado, por efeito da alta
significação social de que se reveste a educação infantil, a obrigação
constitucional de criar condições objetivas que possibilitem, de maneira concreta,
em favor das “crianças até 5 (cinco) anos de idade” (CF, art. 208, IV), o
efetivo acesso e atendimento em creches e unidades de pré-escola, sob
pena de configurar-se inaceitável omissão governamental, apta a frustrar,
injustamente, por inércia, o integral adimplemento, pelo Poder Público, de
prestação estatal que lhe impôs o próprio texto da Constituição Federal.
- A educação infantil, por qualificar-se como direito fundamental de toda criança,
não se expõe, em seu processo de concretização, a avaliações meramente
discricionárias da Administração Pública, nem se subordina a razões de puro
pragmatismo governamental.
- Os Municípios – que atuarão, prioritariamente, no ensino fundamental e na
educação infantil (CF, art. 211, § 2º) – não poderão demitir-se do mandato
constitucional, juridicamente vinculante, que lhes foi outorgado pelo art. 208, IV,
da Lei Fundamental da República, e que representa fator de limitação
da discricionariedade político- -administrativa dos entes municipais, cujas
opções, tratando-se do atendimento das crianças em creche (CF, art. 208, IV), não
podem ser exercidas de modo a comprometer, com apoio em juízo de simples
Questão 3
Resposta à Questão 3
Tema XI
O Poder Judiciário II. Tribunais dos Estados - justiça itinerante. Justiça Eleitoral. Justiça Militar. Justiça do
Trabalho. EC/45. Conselho da Magistratura.
Notas de Aula20
1. Justiça do Eleitoral
2. Justiça Militar
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Veja o julgado:
Questão 2
Resposta à Questão 2
“Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto
direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
(...)
§ 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes
consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da
República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito
ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se
já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.
(...)”
Questão 3
Resposta à Questão 3
Tema XII
Notas de Aula21
O poder de polícia desempenhado pelo Senado, bem como o exercido pelo juiz em
audiência, são atividades administrativas, atípicas, destes poderes.
As decisões judiciais são, em regra, pautadas na legalidade, em sentido amplo –
legislação positiva e principiológica. Contudo, a lei admite casos em que a legalidade
poderá ser posta de lado em prol da equidade, como fundamento da sentença. Como
exemplo, veja o artigo 1.109 do CPC:
“Art. 1.109. O juiz decidirá o pedido no prazo de 10 (dez) dias; não é, porém,
obrigado a observar critério de legalidade estrita, podendo adotar em cada caso a
solução que reputar mais conveniente ou oportuna.”
21
Aula ministrada pelo professor Nagib Slaibi Filho, em 16/4/2010.
Mas veja que a legalidade é ampla quando se segure a norma, qualquer que seja –
legal ou não. A legalidade só é estrita quando a previsão é expressamente consignada em
lei. Veja os artigos 126 e 127 do CPC:
“Art. 127. O juiz só decidirá por eqüidade nos casos previstos em lei.”
Repare-se que não só o juiz, o Judiciário, está conformado a esta dinâmica, havendo
imposição da legalidade a todas as entidades que desempenham atividades essenciais à
justiça – MP, Defensorias e advocacia pública em geral – estão atados à legalidade, só que
apenas à ampla: a legalidade estrita não os tolhe os atos.
A denúncia de um promotor de justiça, por exemplo, tem natureza jurídica de ato
administrativo, e nada mais. Assim também o são os atos das demais entidades de acesso à
justiça.
A sentença judicial que extingue o processo sem resolução do mérito, na forma do
bem conhecido artigo 267 do CPC, é um ato meramente administrativo. Não há carga
decisória, e não há coisa julgada material.
A atividade do advogado privado, por óbvio, é igualmente privada. Contudo, é
múnus público, que depende de autorização do Poder Público, e é regida pela OAB.
O maior préstimo das entidades de acesso à justiça – não se está falando das suas
atribuições específica, mas sim de sua finalidade última – é garantir a justeza da prestação
jurisdicional, com a devida imparcialidade judicial.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
“INFORMATIVO Nº 381
Assistência Judiciária e Intimação Pessoal. HC – 83523.
A Turma iniciou julgamento de questão de ordem em habeas corpus na qual se
discute quem deve ser pessoalmente intimado de julgamento, realizado perante o
STF, de recurso interposto por defensor público estadual: este ou a Defensoria
Pública da União. No caso concreto, não obstante a expedição, pela Secretaria
deste Tribunal, de mandado de intimação dirigido ao Defensor Público Geral da
União, dando-lhe ciência do acórdão que indeferira o writ, a Procuradoria de
Assistência Judiciária do Estado de São Paulo solicitara que a citada intimação
fosse feita à representante daquele órgão em Brasília, com a restituição do prazo
recursal. O Min. Carlos Britto, relator, proferiu voto no sentido de indeferir a
petição da impetrante, no que foi acompanhado pelo Min. Cezar Peluso. Asseverou
estar correto o procedimento realizado pela Secretaria, tendo em conta que
amparado em decisão da Presidência do STF no Processo Administrativo 317.732
(de 12.11.2003) e na petição avulsa no AI 503261/AM (DJU de 27.10.2004).
Ademais, considerou que a atuação da Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo,
no exercício da assistência judiciária, só se justificaria na ausência do órgão
constitucional incumbido da defesa dos necessitados, qual seja, aDefensoria
Pública da União (LC 80/94, arts. 22 e 23), que já se encontra organizada e
desempenhando regularmente suas atividades. Assim, faltaria a tal Procuradoria
amparo legal para atuação no STF, em sede recursal. Em divergência, o Min.
Marco Aurélio, salientando a possibilidade de a defensoria estadual impetrar
habeas corpus e fazer sustentação oral nesta Corte, deferiu a petição, por entender
que o procurador do Estado que está atuando no processo deve ser intimado
pessoalmente da decisão. Após, pediu vista dos autos o Min. Sepúlveda Pertence.”
“Informativo nº 0190
Período: 3 a 7 de novembro de 2003. Corte Especial.
QUESTÃO DE ORDEM. DEFENSORIA PÚBLICA. ATOS DECISÓRIOS. STJ.
INTIMAÇÃO.
c) Hoje, não há dúvida de que sim, na forma do artigo 4º, VII, da LC 80/94:
(...)
VII – promover ação civil pública e todas as espécies de ações capazes de propiciar
a adequada tutela dos direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos
quando o resultado da demanda puder beneficiar grupo de pessoas
hipossuficientes; (Redação dada pela Lei Complementar nº 132, de 2009).
(...)”
Veja a jurisprudência:
“INFORMATIVO Nº 346.
Lei ainda constitucional - CPP, art. 68 (Transcrições) AI 482332/SP* RELATOR:
MIN. CELSO DE MELLO EMENTA: MINISTÉRIO PÚBLICO. AÇÃO
CIVIL "EX DELICTO". LEGITIMIDADE. CÓDIGO DE
PROCESSOPENAL, ART. 68. NORMA AINDA CONSTITUCIONAL.
ESTÁGIO INTERMEDIÁRIO - DE CARÁTER TRANSITÓRIO - ENTRE A
SITUAÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE E O ESTADO DE
“Informativo nº 0193.
Período: 24 a 28 de novembro de 2003. Segunda Turma.
AÇÃO CIVIL EX DELICTO. LEGITIMIDADE. MP.
A jurisprudência já se assentou no sentido de que, apesar de a CF/1988 ter afastado
das atribuições doMinistério Público a defesa dos hipossuficientes, pois a
incumbiu às Defensorias Públicas, há apenas inconstitucionalidade progressiva do
art. 68 do CPP enquanto não criada e organizada a Defensoria no respectivo
Estado. Assim, o MP detém legitimidade para promover, como substituto
processual de necessitados, a ação civil por danos resultantes de crime, isso no
Estado de São Paulo, pois lá ainda não foi implementada a Defensoria Pública.
Precedente citado: EREsp 232.279-SP, DJ 4/8/2003. REsp 475.010-SP, Rel. Min.
Franciulli Netto, julgado em 25/11/2003.”
Tema XIII
Conselho Nacional de Justiça. Controle dos atos. Competência. Regime Jurídico da Magistratura.
Nacionalização da justiça.
Notas de Aula22
Criado pela EC 45/04, que o inseriu no artigo 92, I-A, da CRFB, o CNJ é órgão
nacional do Judiciário, que substituiu o Conselho Nacional da Magistratura na
regulamentação administrativa do Poder Judiciário. Suas atribuições e competências estão
no artigo 103-B. Veja os dispositivos:
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
“INFORMATIVO Nº 516
ADC e Vedação ao Nepotismo - 3
O Tribunal julgou procedente pedido formulado em ação declaratória de
constitucionalidade proposta pela Associação dos Magistrados do Brasil - AMB
para declarar a constitucionalidade da Resolução 7/2005, do Conselho Nacional de
Justiça – CNJ — que veda o exercício de cargos, empregos e funções por parentes,
cônjuges e companheiros de magistrados e de servidores investidos em cargos de
direção e assessoramento, no âmbito do Poder Judiciário —, e emprestar
interpretação conforme a Constituição a fim de deduzir a função de chefia do
substantivo “direção”, constante dos incisos II, III, IV e V do art. 2º da aludida
norma — v. Informativo 416. Inicialmente, o Tribunal acolheu questão de ordem
suscitada pelo Min. Marco Aurélio no sentido de fazer constar a rejeição da
preliminar de inadequação da ação declaratória, por ele sustentada, no julgamento
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
Tema XIV
Organização Judiciária do Estado do Rio de Janeiro. Organização administrativa. Competência dos Órgãos
Judiciais de 1ª e 2ª instâncias.
Notas de Aula23
A CRFB remete o tratamento do assunto aos Estados, no artigo 125. Assim, a norma
que primeiro preceitua sobre a organização judiciária estadual é a Constituição Estadual.
23
Aula ministrada pelo professor José Carlos Vasconcellos dos Reis, em 14/4/2010.
Casos Concretos
Questão 1
Por iniciativa do TJRJ, foi editada a Lei nº 2432/95, a qual deu a seguinte redação
aos §§ 1º e 2º do art. 18 do CODJERJ:
Contra tal norma, o Conselho Federal da OAB propõe ADIn. Entende o Conselho
que tal matéria, por dizer respeito à organização e ao funcionamento do Poder Judiciário,
acha-se sujeita, por efeito da reserva constitucional, ao domínio normativo de Lei
Complementar. Aponta a afronta tanto ao art. 93 da Constituição da República, quanto ao
art. 102 da Lei Complementar 35/79. Não poderia, portanto, o CODJERJ dispor sobre o
franqueamento da eleição, indistintamente, aos membros efetivos do Órgão Especial.
Em sede de informações, a Assembléia Legislativa alega que o art. 93 da Constituição não
exige que a matéria relativa à forma e às condições de provimento dos cargos de direção
dos Tribunais de Justiça dos Estados esteja incluída no chamado "Estatuto da
Magistratura" (como o fazia expressamente a Constituição anterior - verbis: "art. 115, I -
eleger seus Presidentes e demais titulares de sua direção, observando o disposto na Lei
Orgânica da Magistratura Nacional" - com a redação dada pela E.C. 01/69). Se a
Constituição de 1988 não dispôs explicitamente sobre a cláusula limitativa que existia na
Carta de 69, é porque se entendeu ser prerrogativa autônoma dos Tribunais o poder de
eleger os seus órgãos dirigentes.
É razoável a tese da ALERJ? Qual é o entendimento prevalente no STF?
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
“Súmula 131, TJ/RJ: Ações de impugnação a atos disciplinares militares. Art. 125,
par. 4º, da Constituição Federal. Norma constitucional dependente de lei
infraconstitucional para sua regulamentação. Competência das Varas Fazendárias.
‘Enquanto não editada a legislação infraconstitucional de que trata o art. 125, par.
4º, da Constituição Federal, a competência para julgar as ações contra atos
disciplinares militares continua sendo dos Juízes Fazendários’.”