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Introdução:
Direito das Coisas é o conjunto das normas que regulam as relações jurídicas entre
os homens, em face às coisas corpóreas, capazes de satisfazer às suas necessidades e
suscetíveis de apropriação. No Direito das Coisas estudaremos o que,
modernamente, denominamos Direitos Reais. Os Direitos Reais, juntamente com os
Direitos Pessoais estão inseridos na categoria dos Direitos Patrimoniais.
Os Direitos Reais estão protegidos por ações reais (actiones in rem) que se intentam,
não contra uma pessoa determinada (devedor),como sucede no Direito Pessoal, mas
contra quem quer que tenha turbado a sua utilização (erga omnes). Os Direitos Reais
outorgam ao titular a faculdade de seqüela, isto é, de perseguir a coisa nas mãos de
quem quer que a detenha e dão ao titular a faculdade de preferência, ou seja, o poder
de afastar todos aqueles que reclamem a coisa com base ou em Direito Pessoal ou
em Direito Real posterior ao dele.
O Direito Real pode ser classificado, quer tendo em vista o objeto sobre que recai,
quer tendo em vista a sua finalidade.
Quanto ao objeto:
Direito de Propriedade;
Quanto a finalidade:
Segundo o já referido artigo 674 do Código Civil, são Direitos Reais: propriedade,
efiteuse, servidões, usufruto, uso, habitação, rendas expressamente constituídas
sobre imóveis, penhor, anticrese e hipoteca.
Os dois elementos são indispensáveis para que se caracterize a posse, pois se faltar o
corpus, inexiste relação de fato entre a pessoa e a coisa; e, se faltar o animus, não
existe posse, mas mera detenção.
A lei protege todo aquele que age sobre a coisa como se fosse o proprietário,
explorando-a, dando-lhe o destino para que economicamente foi feita. Em geral,
quem assim atua é o proprietário, de modo que, protegendo o possuidor, quase
sempre o legislador está protegendo o proprietário.
Ihering reconhece tal inconveniente. Mas explica que esse é o preço que se paga, em
alguns casos, para facilitar o proprietário, protegendo-lhe a posse.
O Código Civil adotou a teoria de Ihering no artigo 485 que, caracterizando a pessoa
do possuidor, fornece os elementos para extrair-se o conceito legal de posse:
“Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno, ou não, de
algum dos poderes inerentes ao domínio, ou propriedade.”
Quanto a natureza jurídica da posse, sustenta Savigny que a posse é ao mesmo
tempo um direito e um fato. Considerada em si mesma é um fato; considerada nos
efeitos que gera, isto é, usucapião e interditos, ela se apresenta como um direito.
Entretanto não são poucos os juristas que negam à posse a natureza de um direito.
Aliás, não se pode considerar a posse Direito Real, porque ela não figura na
enumeração do artigo 674 do Código Civil e segundo Silvio Rodrigues aquela regra
é taxativa e não exemplificativa, tratando-se aí de numerus clausus.
Diz-se indireta a posse quando o seu titular, afastando de si por sua própria vontade
a detenção da coisa, continua a exercê-la imediatamente após haver transferido a
outrem a posse direta.
2. Composse:
A composse no Direito moderno não se alterou muito. O nosso Código Civil, por
exemplo, em seu artigo 488 afirma: “Se duas ou mais pessoas possuírem coisa
indivisa ou estiverem no gozo do mesmo direito, poderá cada uma exercer sobre o
objeto comum atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros
compossuidores.”
A posse é clandestina quando alguém ocupa coisa de outro às escondidas, sem ser
percebido, ocultando seu comportamento E CONHECE A PESSOA QUE ESTÁ
LESANDO. RETIRADA AFORÇA COM AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE
POSSSE.. A rigor, este caso não pode ser caracterizado como posse, pois se opõe à
conceituação de exteriorização de domínio, onde a publicidade se faz mister para sua
existência.
Desde a época dos romanos (possessio bonae fidei e possessio malae fidei), esta
classificação é feita sob um ângulo subjetivo do possuidor, a fim de se examinar a
sua posição psicológica em face da relação jurídica.
O nosso Código Civil atual, por exemplo, em seu artigo 490, prescreve: “É de boa fé
a posse, se o possuidor ignora o vício ou o obstáculo que lhe impede a aquisição da
coisa, ou do direito possuído”; e em seu parágrafo único: “O possuidor com justo
título tem por si a presunção de boa fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei
expressamente não admite esta presunção FRUTO DE ERRO DESCULPAVEL”.
Do disposto, vemos que será a posse de má fé quando o possuidor a exercer a
despeito de estar ciente de que esta é clandestina, precária, violenta, ou encontra
qualquer outro obstáculo jurídico à sua legitimidade e mesmo assim age.
Vemos ainda que o legislador presume posse de boa fé quando o possuidor tem o
título hábil para conferir ou transmitir direito à posse, como a convenção, a sucessão,
ou a ocupação segundo Clóvis Beviláquia. Tal presunção, entretanto, admite prova
em contrário, cabendo o ônus da prova à parte reclamante.
Para tal aplicação faz-se necessário identificarmos o instante da cessação da boa fé.
Segundo o artigo 491 do nosso Código Civil: “A posse de boa fé só perde este
caráter, no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o
possuidor não ignora que possui indevidamente”. Portanto a posse de boa fé se
transforma em posse de má fé ao tomar o possuidor conhecimento do vício que
infirma sua posse, tendo a parte adversa o ônus de demonstrar as circunstâncias
externas capazes de provar tal questionamento.
Cabe ressaltar aqui que a jurisprudência dominante entende que, havendo dúvida
quanto à época em que a posse se tornou viciosa, o melhor critério é fixá-la a partir
da data da propositura da ação, quando os efeitos de corrente da sentença acolhida
retroagem a esta data.
Quanto ao animus, vimos que Savigny entendia que era o animus domini (intenção
de ser proprietário), e Ihering entendia que era a simples consciência de ter a coisa
consigo (affectio tenendi). Modernamente, os romanistas acreditam que essas duas
correntes não levaram em conta a evolução do Direito Romano. Assim, analisando
através do Direito Clássico, temos que o animus é visto como a intenção de
assenhorar-se completamente da coisa, tendo sobre ela poder de fato exclusivo e
independente (animus possidendi); e o possessio naturalis (a simples detenção) não
exige esta intenção, bastando apenas o elemento físico (o corpus). Já no Direito Pós-
Clássico o animus passa a ser para a posse o elemento preponderante, e no Direito
Justinianeu, prevalece o animus domini.
Embora, em regra, seja o próprio possuidor que inicie por si a posse, esta também
pode ser adquirida por meio de representantes, existindo então o corpus por outrem,
que detém a coisa em lugar do que tem o animus de possuí-la. No início o pater
familias adquiria a posse por meio do filho ou do escravo, que aparecem como
instrumentos de sua vontade, mais tarde, a posse pôde ser adquirida por meio de um
procurador, depois por terceiro (corpore alieno) e finalmente, por meio de qualquer
estranho (per liberam personam), desde que houvesse a ratificação da pessoa em
favor de quem a posse era iniciada.
É importante salientar que o detentor não pode transformar a detenção em posse sob
a alegação de que passou a ter o animus possidendi, pois, no Direito Romano
vigorava a regra de que a ninguém é dado, por si, mudar a causa de sua posse.
O Código Civil no seu artigo 493 dispõe sobre os modos de aquisição de posse nos
seguintes casos:
O Código Civil atualmente prevê a perda da posse das coisas em algumas situações,
de acordo com o seu artigo 520:
Pelo abandono.
Pela tradição.
Pela posse de outrem, ainda contra a vontade do possuidor, se este não foi
manutenido, ou reintegrado em tempo competente.
V. Os Efeitos da Posse
Os efeitos da posse são as conseqüências jurídicas por ela produzidas. São eles:
a proteção possessória;
o usucapião.
1. Proteção possessória:
De todos os efeitos da posse, o mais importante é a proteção possessória. A proteção
possessória consiste no consentimento de meios de defesa da situação de fato, que
aparenta ser uma exteriorização do domínio. Para facilitar a defesa de seu domínio, a
lei confere ao proprietário proteção, desde que prove que está ou estava na posse da
coisa, e que fora esbulhado ou esteja sendo perturbado. Este não precisa recorrer ao
juízo petitório, basta-lhe o ingresso em juízo possessório. Normalmente, o juízo
possessório não ajuda alegar o domínio; já no juízo petitório, a questão de posse é
secundária.
nunciação de obra nova: impede que nova obra em prédio vizinho prejudique o
confinante;
b) interdito utrubi
a) interdito unde ui
a.a) ui cotidiana
Em caso de violência comum. Válida para coisa imóvel incluindo todas as coisas
imóveis nela presente. Os requisitos para valer-se deste interdito eram:
Em caso de violência extraordinária. Para valer-se deste interdito era necessário que
tivesse havido uis armata (ação violenta por homens armados).
b) interdito de precário
Caso o possuidor tenha agido de boa fé, a lei determina que ele não responde pela
perda ou deterioração da coisa a menos que tenha sido culpado. Entretanto, o
possuidor de má fé responde pela perda ou deterioração da coisa em todos os casos,
mesmo que decorrentes do fortuito ou força maior, só se eximindo com a prova de
que se teriam dado do mesmo modo, ainda que a coisa estivesse em mãos do
reivindicante.
O usucapião:
VI. Conclusão:
De acordo com o exposto neste trabalho, percebemos que a posse deriva de idéias
primitivas extraídas do Direito Romano e que este direito influenciou decisivamente
nossos legisladores na elaboração do Código Civil Brasileiro, base da relação do
direito entre particulares.
Como vimos, a questão da posse, apesar de ser um tema antigo, ainda hoje é de
grande importância, principalmente no Brasil, um dos poucos países que não
realizou a reforma agrária. Diariamente, temos notícia de manifestações dos sem-
terra e da política agrária do atual governo. Mais recentemente, acompanhamos com
especial atenção à marcha dos sem-terra em Brasília, que avivou ainda mais a
discussão da posse da terra e trouxe a tona a dificuldade na realização desta reforma
devido a leis ainda ineficientes.
Torna-se necessário salientar que toda legislação a respeito da posse atende a uma
preocupação de interesse social , e não apenas ao intuito de proteger a pessoa do
possuidor. É importante destacarmos também que a propriedade, segundo o artigo 5º
inciso XXXIII da nossa Constituição Federal, atenderá a sua função social. Aí está a
base de toda a reforma agrária, afinal não podemos esquecer dos milhares de
hectares de terras improdutivas que existem de norte a sul do país, propriedades
rurais que não atendem a sua função social como podemos constatar no artigo 186
desta mesma Constituição, o qual enumera os requisitos para a observância desta
função.
Portanto, o que se pode constatar é que tanto a sociedade como o Poder Público
devem ajudar nesta luta do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra - MST, de
forma a tornar as leis eficientes e vigentes. A questão é provar que, em um país que
possui a extensão e a vocação agrícola como o Brasil, é, no mínimo, incoerente
manter inutilizadas terras que poderiam alimentar milhares de pessoas, evitando
assim o êxodo rural para as grandes cidades já tão repletas de problemas e
diminuindo consideravelmente o número de desempregados, viabilizando, deste
modo, o desenvolvimento nacional.