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Para Freud a transferência é uma expectativa libidinal que se dirige aos outros de um
modo específico. Sua tese é de que as pessoas, em condições específicas, repetem tendências e
arranjos em seu modo de amar. Repetem o que ele chama de clichê, uma impressão registrada das
experiências amorosas de alguém.
Em um primeiro momento, a teoria freudiana da transferência traz luz a uma série de
fenômenos da clínica psicanalítica – e do campo dialético em que se situa – que permaneciam
não formulados. Permite uma nova leitura do problema da hipnose e da sugestão, além de
pronunciar-se sobre embaraçosos acontecimentos na clínica. Por exemplo, dois eixos que se
repetiam com intensidade em sua clínica e na de seus colegas: os fracassos de entrada em
tratamento e os enamoramentos.
A transferência é concebida, portanto, ao mesmo tempo como aquilo que anima e move
o tratamento (a mola propulsora) e como aquilo que serve para atravancar seu movimento. A tese
da transferência em x (1914) e y () afirma-se em plena continuidade com as teoria com sobre a
libido, o recalcamento e a resistência. Por essa linha é que Freud sustenta que a psicose - e à época
as neuroses narcísicas - não era passível de tratamento. Nelas a introversão da libido ao Eu seria
impeditivo de um investimento libidinal objetal, isto é: a construção de uma neurose de
transferência.
A resistência, por sua vez, pode ser lida em conformidade com a força de resistência que
as defesas sintomáticas exercem a serviço do recalcamento. Os pacientes resistiriam ao
tratamento, enodando o psicanalista no enredo transferencial, pois o sentido [direção] do
tratamento acercar-se-ia do recalcado.
Lacan dirige-se ao tema da transferência em grande medida tomado pelo modo como seu
manejo avançou em determinadas psicanálises pós-freudianas. Gostaríamos aqui de destacar três
aportes fundamentais que ele trouxe à esse campo para depois introduzir a proposição do desejo
do analista. 1. Sobre o que opera o tratamento e sobre sua direção [fala-linguagem/repetição] 2.
Da disparidade subjetiva na clínica analítica 3. Do sujeito suposto saber.
Ironicamente, Lacan retomará o tema da resistência em sua relação com a transferência
para colocá-la do lado dos psicanalistas. Em primeiro lugar, a resistência estaria posta com relação
à teoria freudiana. Os psicanalistas não entendiam ou evitavam com todas as forças reconhecer o
inconsciente como formulado por Freud. Lacan insistirá, sem moderação nesse tema. Não
Interessa-nos o fato de que os limites estabelecidos para a práxis analítica - que antes de
mais nada são limites teóricos -, como é o caso do tratamento da psicose e da análise da
transferência [contratransferência], são desenhados no momento mesmo em que a transferência
e o desejo do analista são trazidos à cena.
para o caps vale pensar em que o desejo determina o campo ético da APS. ou seja, o campo de
sua práxis e de seus manejos técnicos
desejo do psicanalista
as leituras mais diversas se equivocam por não partir do fundamental: não há objeto do desejo.
Ora, se Lacan provoca-nos falando dos desejos de tais e tais analistas, o operador que é sua
criação - o desejo do analista - toma outro sentido. Antes, deveremos entender o desejo do
analista como uma função.
Lacan