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13.

CHAVETAS E ESTRIAS E OUTRAS UNIÕES COM O CUBO

13.1. CHAVETAS

As chavetas são elementos móveis que permitem a fixação do cubo

de uma engrenagem ou polia, por exemplo, ao eixo com o objetivo

específico de permitir ao conjunto (cubo-roda) transmitir

potência.

13.1.1. TIPOS DE CHAVETAS

As chavetas podem ser planas ou paralelas, inclinadas com ou sem

cabeça e meia lua ou meia cana, do tipo normal e ainda, as

denominadas finas. Estas são ilustradas nas Figuras 13.1 e 13.2.

O modo de fixar as chavetas pode ser por parafusos ou encaixe

sob pressão.

Figura 13.1 – Tipos de chavetas e respectivas Normas ABNT e DIN.

Figura 13.2 – Foto dos diversos tipos de chavetas, (cortesia da

Ind. Mec. Mesalex Ltda).

13.1.2. MATERIAIS UTILIZADOS NA CONFECÇÃO

Os materiais empregados nas chavetas são em geral, aços do tipo

ABNT 1020, 1035 ou 1045 com dureza mínima de 10 Rc, ainda, aços

ligados do tipo ABNT 2330 ou 8630, tratados termicamente para

uma dureza de (40 a 50 Rc) ou mesmo aços inoxidáveis do tipo

AISI 304, 316 e 320.

13.1.3. TENSÕES ATUANTES NAS CHAVETAS

1
A função básica da chaveta é permitir a união do eixo ou árvore

ao cubo tal como é observado na Figura 13.3.

Figura 13.3 – Força atuante na chaveta em decorrência do torque

atuante no eixo.

Como conseqüência do torque aplicado ao eixo, surge uma força

(F) de valor:

[F =(2.T/D)] (13.1), que irá solicitar a chaveta de duas formas


de acordo com a Figura 13.4.

Figura 13.4 – Efeito da força atuante na chaveta. Em (A) efeito

de compressão, em (B) o efeito é de cisalhamento.

A compressão ou esmagamento ocorre segundo as áreas das secções

normais à força (F) atuante à esquerda e à direita da chaveta. A

menor área em questão possui valor: [L.(h-t/)].

Por outro lado, o cisalhamento se dá na secção [b.L], que é

tangencial à força (F) atuante e cuja tendência é de cortar a

chaveta ao meio.

Face ao exposto, surgem duas tensões atuantes na chaveta, de

compressão e de cisalhamento. Estas tensões, em chavetas planas

ou paralelas, são calculadas como indicado:


2. T
2. T
Compressão: F D 2. T , ou σat 
σat    L . D .(h  t)
L .(h  t) L .(h  t) L . D .(h  t)

(13.2).

2
2. T
2. T
Cisalhamento: F 2. T , ou τat  (13.3).
τat   D  L. b.D
L.b L.b L.b.D

A etapa posterior será comparar as tensões atuantes com as

respectivas tensões admissíveis.

Quando se tratar de chavetas inclinadas, de acordo com a Figura

13.5, uma parcela do torque aplicado ao eixo, será consumido por

atrito.

Figura 13.5 – Detalhe da chaveta inclinada e parcela do torque

absorvido por atrito.

Como se observa na Figura 12.5 (A), a chaveta é montada sob ação

da força (P) que força a chaveta a se alojar entre o cubo e o

eixo. Como conseqüência, a parte inferior do eixo, visualizada

em (13.5 – B), é que tem contato íntimo com o cubo e como

resultado tem-se uma distribuição de pressões nesta região.

A componente normal (N) relaciona-se com a força de montagem

(P), como segue:


P P P
N    (3,23). P (13.4), onde:
tgρ  tg(α  ρ) 2. tgρ  tgα 2. μ  tgα

=ângulo de atrito; =coeficiente de atrito e tg=, (,

normalmente =0,15);

=ângulo de inclinação da chaveta, (normalmente, tg=0,01);

(2.+tg=0,31) (13.5).

Por sua vez, a força de montagem, P(b.h).cadm (13.6).

A parcela do torque consumido por atrito pode ser determinado em

função da Figura 13.5 (C e D):


2 μ.N
Tatr  ( .μ . N . d)  (d h)  μ . h . N  0,64.μ . N . d  0,5.μ . N .(d h)  1,14.μ . N . d  0,5.μ . N . h
π 2

3
ou ainda: Tatr  μ . N .(1,14.d  0,5. h) (13.7), onde: N  (0,5). b . L . σc . adm

(13.8).

Em função das expressões anteriores e considerando (=0,15),

resulta:
Tatr  (0,15).((0,5).b . L . σc . adm).(1,14.d  0,5.h)  (0,075). b . L . σc . adm .(1,14.d  0,5.h)

Ou ainda : Tatr  (0,075). b . L . σc . adm .(1,14.d  0,5. h) (13.9).

Para chavetas meia lua, o torque devido o atrito vale:


Tatr  (0,55). b . h . d . σc . adm (13.10), e [N(b.L).cadm] (13.11).

13.1.4. TENSÕES ADMISSÍVEIS

As tensões admissíveis como regra geral, são tomadas em

função de:
σe τe
σ adm  (13.12), ou τadm  (13.13).
FS FS

Em ambos os casos, o valor do fator de segurança (FS) varia de:

(1,5 a 2,5), onde:

FS = 1,5 é adotado para solicitações estáticas;

FS = 2,5 é indicado para solicitações que envolvem cargas

alternadas ou variáveis.

Como a maioria dos eixos e árvores estão sujeitos à cargas


variáveis, é comum o emprego de (FS=2,5). Levando-se em conta

que a tensão de escoamento na compressão normalmente é 20% maior

àquela obtida na tração, pode-se dizer que [cadm(0,5).e].

Por outro lado, de acordo com as considerações do Capítulo 2,

(Item 2.3), tem-se:

=(0,6 a 0,8).. Para fins de cálculo, será adotado o valor


médio: =(0,7)..

13.1.5. EFEITO DA CONCENTRAÇÃO DE TENSÕES NOS EIXOS

Na Figura 13.6 observam-se casos para determinação dos

coeficientes de concentrações de tensões. A ilustração de (B) é

preferida por acarretar menos concentração de tensões no eixo.

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Figura 13.6 - (A e B) Chavetas com rasgos retangulares. (C)- Chaveta meia lua. (D) - Colar com

montagem sob pressão.


(Kf) para eixos com rasgos de chavetas
RASGO MATERIAL MATERIAL
TIPO RECOZIDO
FLEXÃO TORÇÃO FLEXÃO TORÇÃO
(A)-vivo 1,6 1,3 2,0 1,6
(B)-arred. 1,3 1,3 1,6 1,6

Tabela 13.1 – Valores do coeficiente (Kf), utilizáveis em eixos

com rasgos de chaveta.

Os colares, (Figura 13.6,D) possuem os seguintes valores de (Kf):

(colares com =14 mm)e eixo laminado a frio, (Kf)=1,9;

(idem), para eixo tratado térmicamente, (Kf)=2,6;

(colares com =178 mm), e eixo bruto de forjamento, (Kf)=3,0.

13.1.6. DIMENSÕES DOS CUBOS

Em geral adotam-se para comprimento do cubo um valor que varia

entre: (1,25 a 2,0).D.

Onde (D) é o diâmetro do eixo.

13.1.7. DIMENSÕES DAS CHAVETAS

As chavetas possuem dimensões padronizadas de normas

específicas. Suas dimensões são assim designadas: largura

(b), a altura (h), e o comprimento (L). O segmento da

altura alojada no eixo é (t).

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Figura 13.7 – Ilustração das dimensões das chavetas e

respectivas normas.

Figura 13.8 – Ilustração das dimensões das chavetas e

respectivas normas.

A Tabela 13.2, apresenta as dimensões das chavetas paralelas e

inclinadas e ainda, meia lua. Enquanto a Tabela 13.3, refere-se

as chavetas tangenciais.
Chavetas paralelas e inclinadas Chavetas meia lua
Diâmetro do Dimensões da chaveta Diâmetro do
Dimensões da chaveta (mm)
eixo (mm) eixo
de (mm)
até b h t t1 de (mm)
até b h l D2 t t1
10 12 4 4 2,5 0,2 3 4 1 1,4 3,82 4 0,9 0,1
12 17 5 5 3 0,2 4 5 1,5 1,4 3,82 4 0,9 0,1
17 22 6 6 3,5 0,2 4 5 1,5 2,6 6,76 7 2,1 0,1
22 30 8 7 4 0,2 5 7 2 2,6 6,76 7 1,8 0,1
30 38 10 8 4,5 0,2 5 7 2 3,7 9,66 10 2,9 0,1
38 44 12 8 4,5 0,2 5 7 2 5 12,65 13 4,2 0,1
44 50 14 9 5 0,2 7 9 2,5 3,7 9,66 10 2,9 0,1
50 58 16 10 5 0,2 9 13 3 3,7 9,66 10 2,5 0,1
58 68 18 11 6 0,3 9 13 3 5 12,65 13 3,8 0,1
68 78 20 12 6 0,3 9 13 3 6,5 15,72 16 5,3 0,1
78 92 24 14 7 0,3 9 13 3 7,5 18,57 19 6,3 0,1
92 110 28 16 8 0,3 13 17 4 5 12,65 13 3,8 0,2
110 130 32 18 9 0,3 13 17 4 6,5 15,72 16 5,3 0,2
130 150 36 20 10 0,3 13 17 4 7,5 18,57 19 6,3 0,2
150 170 40 22 11 0,3 13 17 4 9 21,63 22 7,8 0,2

6
170 200 45 25 13 0,3 17 22 5 6,5 15,72 16 4,9 0,2
200 230 50 28 14 0,3 17 22 5 7,5 18,57 19 5,9 0,2
230 260 55 30 15 0,3 17 22 5 9 21,63 22 7,4 0,2
260 290 60 32 16 0,4 17 22 5 10 24,49 25 8,4 0,2
290 330 70 36 18 0,4 22 28 6 9 21,63 22 7,4 0,2
330 380 80 40 20 0,4 22 28 6 10 24,49 25 8,4 0,2
380 440 90 45 23 0,4 22 28 6 11 27,35 28 9,4 0,2
440 500 110 50 25 0,4 22 28 6 13 31,43 32 11,4 0,2
- - - - - - 28 38 8 11 27,35 28 9,5 0,2
- - - - - - 28 38 8 13 31,43 32 11,5 0,2
- - - - - - 28 38 8 15 37,15 38 13,5 0,2
- - - - - - 28 38 8 16 43,08 45 14,5 0,2
- - - - - - 28 38 8 17 50,83 55 15,5 0,2
- - - - - - 38 48 10 16 43,08 45 14 0,2
- - - - - - 38 48 10 17 50,83 55 15 0,2
- - - - - - 38 48 10 19 59,13 65 17 0,2
- - - - - - 38 48 10 24 73,32 80 22 0,2
- - - - - - 48 58 12 19 59,13 65 16,5 0,2
- - - - - - 48 58 12 24 73,32 80 21,5 0,2
Chavetas paralelas, segundo Figura 12.7-A.
Chavetas meia lua, segundo Figura 12.7-B.
Nas inclinadas, (t1 = 0) e inclinação = 1:100

Tabela 13.2 – Extrato das Normas DIN referentes as dimensões das

chavetas referenciadas.
Dimensões do eixo e chaveta (mm)
D t b r a
100 10 30 2 3
110 11 33 2 3
120 12 36 2 3
130 13 39 2 3
140 14 42 2 3
150 15 45 2 3
160 16 48 2 3
170 17 51 2 3
180 18 54 2 3
190 19 57 2 3
200 20 60 2 3
210 21 63 2 3
220 22 66 2 3
230 23 69 3 4
240 24 72 3 4
250 25 75 3 4

7
260 26 78 3 4
270 27 81 3 4
280 28 84 3 4
290 29 87 3 4
300 30 90 3 4
320 32 96 3 4
340 34 102 3 4
360 36 108 3 4
380 38 114 4 5
400 40 120 4 5
420 42 126 4 5
440 44 132 4 5
460 46 138 4 5
480 48 144 5 6
500 50 150 5 6
Chavetas tangencias, segundo Figura 12.8-A.

Tabela 13.3 – Extrato das Normas DIN referentes as dimensões das

chavetas referenciadas.

A Figura 13.8.(B), apresenta detalhes construtivos das chavetas

inclinadas com cabeça.

13.1.8. DIMENSIONANDO A CHAVETA

Realizar o dimensionamento de uma chaveta em geral , corresponde

a determinar o valor do seu comprimento. No entanto, seu

comprimento é igual ao comprimento do cubo, portanto, na maioria

dos casos o que se faz é uma verificação para determinar se a

utilização de uma só chaveta é suficiente.

É conveniente se observar também que o dimensionamento mais

crítico ocorre para a tensão de compressão, ver exemplo.

Exemplo 1: Uma árvore de diâmetro (50,0mm), gira a (500rpm) e

recebe através de uma polia uma potência de (20kW). Do projeto

sabe-se que o comprimento do cubo é de (75,0mm). Verificar se é

possível utilizar uma chaveta paralela com: (b=14mm, h=9mm e

t=5mm) e executada em aço (ABNT 1025 LQ, e=220 MPa).

Resolução:

8
a) Tensões admissíveis do material da chaveta:

cadm(0,5).e=0,5x220=110 MPa. ou (N/mm2)


(0,7).220
τadm   62 MPa . ou (N/mm2)
2,5
20
b) Torque atuante: T  9740.[ ]  389,6(N . m) , ou T390.000 (N.mm).
500
2 x390.000 3900
c) Tensão de compressão: σat  
L .50.(9  5) L
2 x390.000 1114 ,3
d) Tensão cisalhante: τat  
L .50.14 L

e) Comprimentos mínimos, da compressão, tem-se: 110=(3900/L) ou

L=3900/11036,0 mm.

Do cisalhamento, obtém-se: 62=(1114,3/L) ou L=1114,3/6218,0 mm.

f) Conclusão: a chaveta dimensionada por compressão possui o


dobro do comprimento quando comparada ao dimensionamento por

cisalhamento, no entanto, o valor adotado para o comprimento é

igual ao do cubo (75,0 mm), logo é possível usar uma só chaveta


3900
e a tensão atuante na compressão será: σat   52,0(MPa) .
75

g) Admitindo-se que a chaveta seja inclinada de dimensões: (b=14

mm, h=9 mm e t=5 mm), determinar a parcela do torque consumida


por atrito. Tatr  (0,075). b . L . σc . adm .(1,14.d  0,5. h)  7103,25. L (N.mm)

Caso se adote (L=75 mm), Tatr=532743,8 (N.mm), que supera o torque

atuante.

A força de montagem é: P=(0,31).N=(0,31).(0,5.14.75.110)18 (kN)

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