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Revista Mundo

EDIÇÃO 14 - JULHO 2018

Sindicalização assegura direitos,


diz Procurador Regional do Trabalho
Francisco Gérson Marques de Lima
Págs. 4 a 7

POR 6 A 3, STF ENTERRA


CONTRIBUIÇÃO SINDICAL Págs. 8 e 9
ANO 4 • JUL.18
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Mundo Sindical
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Sindical
REVISTA MUNDO

Editorial Índice
Olá amigos, Justiça para contestar valores, o que pode sair mais
Mais uma vez, o sindicalismo brasileiro é coloca- caro para o empregador. O alerta, feito em entrevista 1 Nossa capa: HOMOLOGAÇÃO
do contra a parede. A exemplo do que ocorreu na exclusiva à revista Mundo Sindical, é de Francisco Sindicalização assegura Revista Mundo

direitos, diz Procurador


aprovação da reforma trabalhista, no Congresso, Gérson Marques de Lima, professor de direito na
EDIÇÃO 14 - JULHO 2018

Regional do Trabalho Sindicalização assegura direitos,

agora novamente, no Supremo Tribunal Federal, Universidade Federal do Ceará e procurador regional
diz Procurador Regional do Trabalho

Francisco Gérson Marques


Francisco Gérson Marques de Lima
Págs. 4 a 7

frustram-se expectativas de rápida reconquista da do trabalho. Como saída para assegurar direitos, ele de Lima
sustentabilidade das entidades sindicais, único meio aponta a importância da sindicalização. POR 6 A 3, STF ENTERRA POR 6 A 3, STF ENTERRA

de continuarem com condições de levar adiante Outra reportagem especial, com entrevista exclusiva CONTRIBUIÇÃO SINDICAL CONTRIBUIÇÃO SINDICAL Págs. 8 e 9

sua missão histórica e constitucional de ser ponto de Guilherme Guimarães Feliciano, presidente da
de equilíbrio nas relações entre capital e trabalho. Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do 4 ARMADILHAS DA HOMOLOGAÇÃO SEM O SINDICATO
Contrariando expectativas em torno do julgamento da Trabalho (Anamatra), trata das divergências entre “Trabalhador é o primeiro e
mais prejudicado;
Ação Direta de Inconstitucionalidade 5794 e das ou- governo, Ministério do Trabalho, Ministério Público do Cabe aos sindicatos orientar
tras 18 de mesmo teor a ela apensadas, que pediam o Trabalho e Justiça do Trabalho sobre pontos polêmi- e conscientizar”
restabelecimento da contribuição sindical compulsó- cos da reforma trabalhista. Para Feliciano, a reforma Procurador Gérson Marques
ria, a maioria dos ministros da Corte (placar de 6 a 3) trouxe em si “o espírito de mitigar, de mediocrizar, de 8 STF deixa sindicatos à
não seguiu a tese do relator Edson Fachin. Em seu diminuir o papel da Justiça do Trabalho nas relações deriva
voto, Fachin considerou inconstitucionais os itens da entre capital e trabalho”. Tese do relator, ministro
Edson Fachin,
reforma trabalhista que transformou a contribuição Leia ainda nesta edição outras quatro reporta- foi derrotada
em facultativa e retirou uma das principais fontes gens muito importantes – sobre o manifesto por 6 a 3 no STF
de custeio do setor. Mas foi seguido apenas por Dias das centrais sindicais, com as 22 propostas da
10 Reforma divide a Justiça do Trabalho
Toffoli e Rosa Weber. O resultado cria insegurança e “Agenda Prioritária da Classe Trabalhadora” frente Lei 13.467/17 trouxe em si
deixa antever um futuro difícil para o sistema sindical às eleições de outubro; sobre a Adin 5766, pela “o espírito de mitigar, de
mediocrizar, de diminuir
brasileiro, que tinha na contribuição anual compul- gratuidade em causas trabalhistas, que teve o jul- o papel da Justiça do
sória mais de 80% de sua fonte de custeio. “Agora gamento suspenso no STF por pedido de vista do Trabalho”, diz Guilherme
é preciso respirar fundo. É preciso preparo, cautela e ministro Luiz Fux; sobre a validade ou não da re- Guimarães Feliciano
força para os desafios que se avizinham”, diz o advo- forma para contratos de trabalho fechados antes
12 Justiça do Trabalho é fundamental diz CSB
gado Cesar Augusto de Mello. de sua entrada em vigar, em novembro passado;
Nesta edição, trazemos reportagem especial sobre e sobre a forte mobilização dos sindicatos nos 13 Sete Centrais lançam manifesto
outro lamentável equívoco da reforma trabalhista, últimos meses, como resposta à crise.
14 Contratos: jogo inacabado
que revogou dois parágrafos do artigo 477 da CLT - Por fim, você tem ainda três páginas de notas de
aqueles que estabeleciam que o acerto de contas nosso Giro Sindical, sobre assuntos de interesse 15 Ação pela gratuidade em causas trabalhistas
está parada no STF
entre patrão e empregado devia ser feito no sindicato dos trabalhadores.
da categoria. Ao eliminar a homologação da CLT,
a reforma trabalhista deixa o trabalhador sem pro- Boa leitura! Pedido de vista do
minístro Luiz Fux adia o
teção, mas também permite agora que ele entre na Sandra Campos - Editora-Chefe

Expediente
julgamento; não há prazo
para retomada

Mobilização é resposta
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A Revista Mundo Sindical é uma publicação do Instituto Nacional de Desenvolvimento e Valorização do Ser Humano dos sindicatos à crise

Os exemplares são distribuídos gratuitamente, não podendo ser vendidos sob nenhuma hipótese. Cartilha e Maio Lilás
As reportagens e artigos não podem ser reproduzidos para nenhum fim sem a autorização prévia dos seus autores. pregam importância
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Jornalista Responsável - Manoel Paulo - MTB 48.639-SP Editoração, Projeto Gráfico e Finalização - Carlos André Silva
Redação - Manoel Paulo e Carlos Dias
17 Giro Sindical
Instituto Nacional de Desenvolvimento e Valorização do Ser Humano
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ARMADILHAS DA
HOMOLOGAÇÃO
SEM O SINDICATO

Foto: Shutterstock
A regra é clara (diz o bordão repetido por um ex-árbi- RH para fazer o acerto de contas no sindicato. A vanta-
tro de futebol), e o Dicionário Aurélio não deixa dúvi- gem, no entanto, não era só do trabalhador. A homo-
das sobre o significado do verbo homologar: “aprovar, logação era boa para as duas partes porque colocava
confirmar por autoridade judicial ou administrativa; uma pedra em cima de verbas e valores. Ela tinha algo,
reconhecer oficialmente, reconhecer como legítimo.” sacramentado na súmula 330 do TST, chamado, em
Ao revogar dois parágrafos do artigo 477 da CLT, que termos jurídicos, de eficácia liberatória. Trocando em
estabeleciam que o acerto de contas entre patrão e miúdos, não era possível reclamar na Justiça depois.
empregado devia ser feito no sindicato da categoria, a Ao eliminar a homologação da CLT, a reforma traba-
reforma trabalhista extinguiu na prática a homologa- lhista permite agora que o empregado entre na Justi-
ção, pois não há mais uma autoridade administrativa ça depois para contestar valores, o que pode sair mais
(como o sindicato) que aprove e confirme os valores da caro para o empregador. “A desburocratização preten-
rescisão. Agora, ela é feita na empresa diretamente, o dida pelas empresas causou mais insegurança jurídica
que apavora o funcionário. Sem a assistência sindical, do que ensejava o artigo 477 e seus dois parágrafos da
ele não tem como saber se foi ou não ludibriado. CLT, além de permitir no Judiciário ações anulatórias
A questão, porém, é ainda mais grave do que parece. de rescisões, em que o empregado alegue ter sofrido
Quando a reforma trabalhista entrou em vigor, em no- coação ou ter sido induzido a erro, entre outras”, afir-
vembro passado, muitas empresas – as honestas e as ma Francisco Gérson Marques de Lima, professor de
nem tanto – festejaram o fim da chamada homologa- direito na Universidade Federal do Ceará e procurador
ção no sindicato da categoria, que conferia na ponta do regional do trabalho. Em entrevista exclusiva à revista
lápis se a firma estava de fato pagando tudo que era Mundo Sindical (a seguir), ele explica as diversas polê-
direito do colaborador desligado. Afinal, era uma amo- micas criadas pela nova legislação e também propõe
lação burocrática e custosa ter de deslocar alguém do saídas. A sindicalização, para ele, é a mais importante.

TRABALHADOR É O PRIMEIRO E MAIS PREJUDICADO


Mundo Sindical – Quando se fala dos sob lesão, erro, coação ou ig-
em homologação após a reforma, norância podem ser anulados ju-
o que se ouve sempre é o prejuí- dicialmente. A renúncia a direitos
zo aos trabalhadores, que podem irrenunciáveis não tem validade
ser facilmente enganados. O se- alguma. Logo, se o empregado
nhor, no entanto, afirma em artigo der quitação na rescisão, mas,
que as empresas também podem depois, perceber que foi levado
sair perdendo. Qual dos dois pra- a erro, ou a deu sob ignorância,
tos dessa balança, afinal, é o mais ou que o ato gerou renúncia a di-
afetado pela nova legislação? reitos, poderá tornar a quitação
Francisco Gérson Marques de sem efeito e anulá-la. A falta de
Lima – O trabalhador é o primei- conhecimento do trabalhador e a
ro e mais prejudicado pela nova renúncia, por exemplo, não são
sistemática da rescisão contratu- difíceis de ser provadas. A inse-
al, que alija o sindicato de uma de gurança que a reforma traba-
suas atribuições históricas e põe lhista trouxe às empresas, neste
o trabalhador à mercê dos RHs. particular, dependerá da atuação
Todavia, segundo estabelece a dos sindicatos e de seus advoga-
legislação civil, os atos cometi- dos, a quem cabe combater as Francisco Gérson Marques de Lima

Mundo Sindical
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ilicitudes imediatas, cometidas rescisão contratual continuarão rescisão contratual caiu, porque
contra os trabalhadores. Se não válidos, pois as ações judiciais sua razão de ser era a presença
houver nenhuma ação judicial são os meios próprios de se anu- do sindicato ou de autoridades
nem questionamento sobre a larem atos jurídicos. As fragi- públicas nesse ato. Permaneceu
conduta das empresas, logica- lidades da nova modelagem de a quitação simples do Código Ci-
mente os direitos vilipendiados rescisão contratual precisam ser vil, sendo, portanto, questioná-
e a forma como tenha ocorrido a expostas. A eficácia liberatória na vel, revogável, retratável.

CABE AOS SINDICATOS ORIENTAR E CONSCIENTIZAR


Mundo Sindical – Mas como o em- goria para obter informações e atenção dos advogados porque a
pregado vai saber se houve erro ou e esclarecimentos sobre seus sucumbência nas ações judiciais


má-fé contra ele? Ele vai ter como direitos. pode atrair prejuízos aos trabalha-
contratar alguém para conferir as dores. E, quem sabe, até ações re-
contas e um advogado para ques- gressivas contra os patronos que
tionar a quitação na Justiça? É preciso que tenham agido com irresponsabili-
Gérson Marques – Os sindicatos dade ou incúria. É preciso que haja
saíram combalidos da refor- haja mudança uma mudança na cultura do de-
ma trabalhista, mas continuam
na cultura do mandismo, mas para isso é impor-


existindo e devem reagir. Cabe tante a qualificação do advogado.
a eles se reaproximar da base, demandismo Se o trabalhador perder na ação
orientar os trabalhadores e fa- judicial, terá de pagar a sucum-
zer sua defesa, inclusive judi- bência ao empregador vitorioso.
cialmente. É preciso orientar e Mundo Sindical – Por mais que Se a tendência do empregado será
conscientizar os trabalhadores o Código Civil estabeleça que as a resignação ou não, dependerá do
sobre seus direitos e as medi- despesas competem ao devedor, nível dos advogados trabalhistas e
das de que dispõem para com- no caso a empresa, o empregado das escolhas a serem feitas pelos
bater as violações. Isto é in- não corre riscos? Vale nesse caso sindicatos, os quais não podem
cumbência dos sindicatos. E os o eventual pagamento de honorá- se amofinar com esses desafios.
advogados precisam mudar o rios de sucumbência (o pagamen- Em todos os ramos do Judiciário
perfil tradicional da cultura do to de custos para quem ganhar) existe sucumbência e, mesmo as-
acordo e reaprender a manejar caso o empregado perca a causa sim, há muitas demandas. Então,
os instrumentos processuais. de contestação da homologação? os trabalhadores continuarão a
Principalmente aos advogados A tendência não é a de o emprega- promover as ações na Justiça do
de sindicatos cabe se qualifica- do se resignar por medo de ação Trabalho, mas, obviamente, com
rem melhor na sistemática pro- sair mais cara? cuidados redobrados. Acredito que
cessual que se encontra posta Gérson Marques – Com a reforma a jurisprudência dará a melhor in-
pela reforma. Por outro lado, os trabalhista, os riscos nas deman- terpretação às novas regras pro-
trabalhadores devem também das aventureiras aumentaram. cessuais, de forma a assegurar o
procurar o sindicato da cate- Isso exige maior responsabilidade direito de ação.

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É IMPORTANTE DIÁLOGO ENTRE SINDICATOS E JUÍZES


Mundo Sindical – O senhor já tem
notícia da ocorrência de homolo-
gações no Judiciário de acordos
extrajudiciais em rescisões con-
tratuais? Que tipos de resultados
práticos a mudança está trazendo?
Gérson Marques – Os pedidos de
homologação de acordos no Ju-
diciário estão ocorrendo em todo
o país, em volume muito variável
e resultados incertos. Já escutei
de magistrados notícias de mau
uso desse instrumento proces-
sual pelas empresas, como a
indicação de advogados aos tra-
balhadores, situações de dese-
quilíbrio no acordo, direitos re-
nunciados pelos empregados etc.
Logicamente, cabe ao juiz negar quando desconfiam da prática e comparecer à audiência, inclu-
a homologação nessas situações de alguns ilícitos. Em face do di- sive constituindo advogado para
e, quando houver comporta- minuto quadro de procuradores, assistir o trabalhador. É impor-
mento inadequado do advogado, o MPT raramente comparece às tante que o sindicalismo conver-
representar à OAB (Ordem dos audiências, mas normalmente se com os juízes sobre a possibi-
Advogados do Brasil). Em muitos acompanha o procedimento pela lidade de informações recíprocas
casos, os juízes estão notificando via eletrônica, requerendo e opi- e em que situações a intervenção
o Ministério Público do Trabalho nando nos autos. Pela legisla- das entidades sindicais se daria
(MPT) para acompanhar tais pro- ção, é facultado aos sindicatos nos procedimentos de homolo-
cedimentos judiciais, sobretudo acompanhar tais procedimentos gação de acordos extrajudiciais.

CUSTO COM RESCISÃO NÃO DEVE ONERAR TRABALHADOR


Mundo Sindical – De que forma de sua incapacidade financeira e estado de inércia, a um quadro de


empresas e sindicatos poderiam por razões de política sindical. alienação política e de inconsci-
negociar para fazer as rescisões? ência trabalhista. Muitos sindica-
É possível fazer isso sem onerar o tos foram criados e existem sem
trabalhador?
Gérson Marques – A melhor
Modelo sindical a necessária representatividade
e sem o compromisso de defe-
maneira de regular o procedi- pede mudança sa da categoria, ao que se junta
mento rescisório é por meio de o sistema totalmente privado de
ampla e mais


acordos e convenções coletivas prestação de contas aos repre-
de trabalho, nos quais fiquem sentados. O modelo dos anos 40
expressas cláusulas sobre lo- responsável precisa, de fato, ser revisto. Mas
cal da rescisão, documentos a não apenas o sistema de custeio,
serem apresentados, sanções pois o sindicalismo precisa de
por descumprimento e paga- Mundo Sindical – O fim da contri- uma mudança mais ampla, mais
mento do serviço sindical. Essa buição sindical é visto por muitos responsável e dialogada. Depois
perspectiva obrigacional das como uma forma de sufocar os de quase oitenta anos de existên-
cláusulas coletivas é amparado sindicatos. O senhor concorda? cia, o modelo de financiamento
pela prevalência do negociado Como um sindicato enfraquecido sindical não deveria ter sido mo-
sobre o legislado, princípio ao pode defender o trabalhador, a dificado do dia para a noite, sem
qual se alia o primado da liber- maioria não sindicalizada? prazo de adequação pelos sindi-
dade sindical, que assegura aos Gérson Marques – A contribuição catos e sem o estabelecimento
sindicatos e empresas a regu- obrigatória não é o ideal para um de uma via alternativa. Mas isso
lamentação de temas de inte- sindicalismo livre e combativo, é matéria de conveniência políti-
resse comum. Os custos com a porque tende a criar acomodação, ca, que o legislador, infelizmen-
rescisão não devem onerar mais a distanciar os sindicatos da base te, não quis observar. Agora, os
ainda os trabalhadores, em face e a levar os trabalhadores a um sindicatos precisam voltar para
Mundo Sindical
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as bases da categoria, resgatar Mundo Sindical – Que outras recebeu valores ou que teve de
a credibilidade dos trabalhado- consequências jurídicas o fim da devolvê-los). Sem a presença
res e serem criativos na forma de homologação no sindicato pode do sindicato, a ignorância [no
atuação. O fortalecimento sindi- acarretar para o trabalhador? sentido de falta de informação]
cal renascerá assim, de maneira, Gérson Marques – Há muita do trabalhador poderá levá-lo a
aliás, muito mais consistente e preocupação com as renúncias assinar documentos indevida-
legítima. É hora, ainda, de muita a direitos, os riscos da cha- mente, até mesmo porque pode
responsabilidade nas negocia- mada “quitação geral” (o que sofrer constrangimentos pelos
ções coletivas. Não podem ser impede o trabalhador de re- RHs. Para se desconstituir a
motivadas pela intenção de con- clamar na Justiça outras ver- validade de um documento as-
seguir fontes de custeio. No geral, bas, além das já quitadas), a sinado, é necessário prova e um
se o trabalhador estiver satisfeito indução a erro nos cálculos e bom argumento jurídico. Então,
com seu sindicato, será mais fácil o pagamento fictício (sobretu- esse quadro de rescisão sem
haver contribuição sindical, inde- do porque deixa o trabalhador assistência sindical dificulta a
pendentemente da filiação. sem meios de provar que não vida dos trabalhadores.

HAVERÁ LONGO PROCESSO DE INTERPRETAÇÃO DA REFORMA


Mundo Sindical – Temos visto de- saibam como fazê-lo. Sem nego- chegando ao TST, a corte pacifi-
cisões de juízes do trabalho decla- ciação coletiva, é difícil obrigar a cará a matéria, muito provavel-
rando nulas rescisões feitas sem a empresa a promover as resci- mente editando súmula a res-
supervisão do sindicato. Onde isso sões com a assistência dos sin- peito. Mas isso leva tempo e há
pode parar? Isso só pode ser feito dicatos, porque não se tem mais um procedimento complexo para
se a homologação estiver estipu- embasamento legal para isso. À edição de súmulas, estabelecido
lada em convenção? Ou é possível medida que os processos forem pela reforma trabalhista.
que esse tipo de decisão de juízes
leve o TST a editar uma súmula
estabelecendo que a quitação seja
feita no sindicato?
Gérson Marques – A reforma
trabalhista está sob amadureci-
mento e vai passar por um longo
processo de interpretação pelos
juízes e tribunais. É possível que
surjam algumas interpretações
mais sociais do que legais; ou-
tras, realmente ilegais; e, mui-
tas, fruto de um equilíbrio jurídi-
co-social. Só o tempo dirá. Mas,
para a construção da jurispru-
dência, é preciso que os advo-
gados provoquem o Judiciário e

O QUE FAZER? CONSELHO


Mundo Sindical – Se desconfiar o trabalhador venha a desco- Mundo Sindical – Que conselho
que foi enganado na homologa- brir que foi enganado, que a o senhor daria para um traba-
ção, o que o trabalhador deve rescisão implicou em lesão lhador neste momento tão in-
fazer? (desequilíbrio entre créditos e certo?
Gérson Marques – Primeira- dívidas) ou que assinou docu- Gérson Marques – Tenho uma
mente, evitar assinar docu- mento de forma equivocada, recomendação aos trabalhado-
mentos sem ter plena certeza não tenha receio em revogar a res: filiem-se ao seu sindicato
dos títulos e valores que lhe quitação, bastando encaminhar e auxiliem-no a ser forte, por-
sejam apresentados. Sempre carta revogatória endereçada que só ele poderá defendê-los
que possível, deve procurar ao empregador ou por meio de dos maus empregadores. Não
o sindicato e obter informa- mecanismos eletrônicos de co- deixem para procurar o sindica-
ções, esclarecimentos. Caso municação. Na dúvida, procure to apenas na rescisão, porque
seja dada a quitação e, depois, um advogado. pode ser tarde demais.

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Foto: Carlos Moura/SCO/STF


STF DEIXA
SINDICATOS
À DERIVA
P or um placar de 6 a 3, o
Supremo Tribunal Federal
enterrou de vez, em 29 de
junho, as esperanças de os sindi-
De nada ou muito pouco valeram
os argumentos a favor da contri-
buição compulsória apresentados
pelos advogados das entidades
ministros que consideraram im-
procedentes as 19 Adins levadas
ao Supremo.
Em seu voto a favor da contribui-
catos terem de volta a contribuição sindicais – Edson Martins Areias, ção compulsória, Edson Fachin
sindical anual compulsória. Repre- Robson Maia Lima, Luís Antonio C. disse que o sindicalismo brasilei-
sentava mais de 80% de suas fon- de Melo, José E Loguércio, Marcos ro está historicamente assentado
tes de financiamento e foi tornada A. Alves Penido, Luis Antônio Al- em três pilares: unicidade sindi-
facultativa pela reforma trabalhis- meida Cortizo, Magnus H. de Me- cal, representatividade e custeio.
ta (Lei 13.467/17), que entrou em deiros Farkatt, Marcos Preter Sil- Sem fonte de custeio, um desses
vigor em 11/11/2017. Foi um duro va, Maurício G. Palhares Zockun, pilares, a casa cai, emendou Rosa
golpe no sindicalismo e “uma nova Luiz F. Buais Andrade e Fábio L. Weber. “A inexistência de fonte de
ordem” parece ter chegado (veja Zanão. Entre seus argumentos fi- custeio obrigatória inviabiliza a
pág. 9). A decisão derruba pelo me- guraram: a natureza tributária da atuação do próprio regime sindical
nos 15 mil ações que questionam o contribuição sindical compulsória previsto na Constituição” e os sin-
fim do imposto no país. (somente poderia ter sido trans- dicatos ficam sem recursos para
Todas as 19 ações que deram en- formada em facultativa por meio cumprir suas obrigações consti-
trada no STF sobre o tema foram de Lei Complementar aprovada tucionais, enfatizou o relator. Ele
julgadas em bloco – a Ação Direta por 2/3 da Câmara e Senado); a também comprovou, com inúme-
de Inconstitucionalidade 5794 e a falta de estudos prévios do impac- ras citações, a natureza tributária
outras 18 a ela apensadas. Foram to financeiro da mudança; falta da contribuição. Rosa Weber disse
apresentadas por centrais, fede- de criação de fonte alternativa de que não se pode mexer em par-
rações e confederações. Pediam a custeio; falta de período de transi- tes do sistema sindical (custeio),
inconstitucionalidade dos artigos ção; e tentativa de desmantelar a sem remodelar o todo. “Debilitar
da reforma que mexeram na con- estrutura sindical do país. os sindicatos é debilitar as nego-
tribuição. Apenas uma Ação De- Em defesa da constitucionalidade ciações.” Ela rebateu argumento
claratória de Constitucionalidade, da Lei 13.467/17 e da facultativida- de Luiz Fux e Roberto Barroso de
apresentada pela Associação Bra- de da contribuição subiram à tri- que a contribuição compulsória
sileira de Emissoras de Rádio e TV buna a advogada-geral da União, permitiu o surgimento de 11.326
(Abert) defendia a facultatividade Grace Mendonça, falando em sindicatos de trabalhadores e
da contribuição. nome da Presidência da Repúbli- 5.186 patronais, muito acima dos
Aceitaram as Adins e votaram a ca, Gustavo Binenbojm, que falou no máximo 200 encontrados em
favor da manutenção da contri- em nome da Abert, e Vilma Toshie outros países. “O Brasil é um país
buição sindical compulsória os Kutomi, que falou em nome do Ins- de dimensões continentais.” Dias
ministros Edson Fachin (relator), tituto para Desenvolvimento do Va- Toffoli lembrou que não houve um
Dias Toffoli e Rosa Weber. Contra rejo. Grace Mendonça escudou-se período de transição para a facul-
as Adins, a favor da contribuição na tese de que a contribuição não tatividade da contribuição. “Sub-
facultativa votaram Luiz Fux, Ale- foi extinta, mas transformada em traiu-se uma fonte de custeio sem
xandre de Moraes, Luís Roberto facultativa e que existem outras fontes alternativa”, disse, deixando
Barroso, Gilmar Mendes, Marco fontes de custeio dos sindicatos, explícito que a contribuição vem do
Aurélio Mello e Carmen Lúcia, como a contribuição confederati- trabalhador, não do Estado.
presidente do STF. Ricardo Lewa- va. Binenbojm insistiu no caráter Assista aos vídeos do julgamento
ndowski e Celso de Mello não par- não-tributário da contribuição, a no STF em https://www.youtube.
ticiparam do julgamento. principal tese adotada pelos seis com/user/STF.
Mundo Sindical
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Desaparelhamento dos sindicatos terá


reflexos nos direitos dos trabalhadores
Por Cesar Augusto de Mello*
O STF decidiu que foram constitucionais e que não a precarização dos acordos e convenções coletivas de
contrariaram a Constituição Federal as alterações trabalho. Não só isso, mas a terceirização e a dificul-
promovidas pela Lei número 13.467/2017 (refor- dade legal para suscitar dissídios coletivos são fatores
ma trabalhista), no que se refere a tornar facultati- que conspiram nesse sentido.
va a contribuição sindical que era obrigatoriamente Com a decisão do STF, não há mais nada o que fazer
descontada do salário dos trabalhadores no mês de com relação a esses artigos objeto da ação 5794. Ago-
março e recolhida no mês de abril de cada ano. Essa ra, definitivamente, ou até que outra lei venha tratar
contribuição representa 1/30 do salário de março, ou do assunto, a contribuição sindical deixa de ser obri-
seja, um trabalhador que recebe R$ 1.500 por mês era gatória e passa a ser facultativa. Só será recolhida aos
obrigado a pagar R$ 50 por ano ao seu sindicato - R$ cofres sindicais se o trabalhador autorizar.
4,30 por mês. Da decisão do STF não cabe recurso para instâncias
A falta desse valor anual aos cofres sindicais repre- superiores, pois a última instância do Judiciário bra-
sentará grande desaparelhamento da maioria das en- sileiro é o próprio STF que põe fim definitivamente à
tidades, com drásticas consequências nos direitos dos questão da constitucionalidade das alterações que
trabalhadores. Isso se perceberá em médio prazo com mencionamos.

Autorização individual ou
autorização coletiva para
desconto da contribuição
sindical é agora a grande
questão, que poderá ser
levada à Justiça - até ao STF
Agora o debate que se inicia é para saber se a au- tanto, também tem poderes para aprovar a contri-
torização para o desconto e recolhimento da con- buição.
tribuição sindical poderá ser efetivada por meio in- Esse debate ainda será judicializado e novamente
dividual ou coletivo - assembleia de trabalhadores os tribunais deverão decidir. E conforme o enfoque
- com efeito para a toda categoria, associados ou novamente o debate poderá ser levado ao STF. Essa
não aos sindicatos. decisão acaba por dificultar a vida dos sindicatos
A maioria dos empregadores entende que essa au- atuantes, pois lhes retira verba destinada ao custeio
torização deva ser individual e os sindicatos lutam de estrutura que sustenta o equilíbrio das relações
pela autorização assemblear sob o argumento que coletivas de trabalho, mais especificamente as ne-
ela tem poderes de decisão para toda a categoria gociações coletivas, donde se originam as normas
como ocorre na aprovação de acordos coletivos de coletivas que contém cláusulas representando di-
trabalho e convenções coletivas de trabalho e, por- reitos e conquistas da classe trabalhadora.

O momento é de cautela e de união da classe trabalhadora


Agora é preciso respirar fundo e agir com a razão
e não por impulso. O momento é de união da clas- *Cesar Augusto de
se trabalhadora para consecução de projetos du- Mello é presidente da
radouros e da lavra do seio sindical. Os objetivos Comissão Especial de
deverão ser definidos e duradouros. Não há mais o Direito Sindical da OAB-
atrelamento sindical ao estado e uma nova ordem -SP e assessor jurídico
parece ter chegado. É preciso preparo, cautela e de entidades sindicais
força para os desafios que se avizinham.
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REFORMA DIVIDE A
JUSTIÇA DO TRABALHO
E m vigor há sete meses, de-
pois de aprovada no Con-
gresso, sem consenso e
sem debate com todas as partes
envolvidas, a reforma trabalhista
(Lei 13.467/17) permanece cer-
cada de dúvidas e controvérsias,
muito longe de obter consensos
na Justiça. Não bastassem diver-
gências na Justiça do Trabalho,
no Ministério Público do Trabalho,
no Ministério do Trabalho e mes-
mo no Supremo Tribunal Federal,
é a própria Justiça do Trabalho
como um todo que está dividida. chegaram até a 107ª Conferência à autonomia do Poder Judiciário
Guilherme Guimarães Feliciano, Internacional do Trabalho, pro- Trabalhista e à dignidade da auto-
presidente da Associação Nacio- movida pela OIT no início de junho, ridade judiciária”.
nal dos Magistrados da Justiça em Genebra. Em carta aberta, a Para João Nery Campanario, ad-
do Trabalho, afirma que, além Anamatra denuncia que, “além vogado da Força Sindical e da
de estar “repleto de inconstitu- de frequentes ataques, inclusive CNTM (Confederação Nacional
cionalidades”, o texto da reforma no âmbito parlamentar e pela mí- dos Trabalhadores Metalúrgicos)
trouxe em si “o espírito de miti- dia”, há até mesmo “ameaças de “o racha na Justiça do Trabalho
gar, de mediocrizar, de diminuir o extinção da Justiça do Trabalho em relação à reforma trabalhista
papel da Justiça do Trabalho nas caso não se aplique o novo texto se deve ao fato de grande par-
relações entre capital e trabalho” de forma literal”. te dos juízes, desembargadores
(confira entrevista na página 11) O ex-presidente do Tribunal Supe- e ministros da área entenderem
Há profundas divergências em rior do Trabalho (TST) Ives Gandra que ela foi reduzida a um patamar
relação a pontos fundamentais, Martins Filho chegou a ser decla- civilizatório mínimo fixado pela
como validade ou não da lei para rado persona non grata à magis- Ordem Jurídica Trabalhista”.
contratos anteriores à mudan- tratura trabalhista por causa de Para esses setores, incluindo o
ça, gratuidade da Justiça, fim da declaração publicada pela “Folha MPT, “a reforma correspondeu à
contribuição sindical obrigatória de S.Paulo”. Nela, ele disse que perspectiva de um grande des-
e trabalho intermitente. O Con- “se esses magistrados continu- monte do direito do trabalho,
gresso lavou as mãos e deixou arem se opondo à modernização pois muda os pilares, os princí-
caducar a Medida Provisória 808 das leis trabalhistas, eu temo pela pios do direito do trabalho, flexi-
(com remendos à reforma). É um Justiça do Trabalho. De hoje para bilizando regras de contratos de
cenário nebuloso. Nem empresas amanhã, podem acabar com [a trabalho e dificultando o aces-
nem trabalhadores têm seguran- Justiça do Trabalho]”. Em moção so à Justiça do Trabalho”, diz
ça jurídica. Em 24/5, o Ministério de repúdio, os juízes do Trabalho Campanário. Eles reconhecem
do Trabalho fixou, por meio de aprovaram nota afirmando que na nova CLT “mais de 50 lesões
portaria, novas regras para a con- “a reforma trabalhista trouxe vi- graves de direitos”, incluindo
tratação de autônomos e trabalho sível precarização das relações “terceirização ampla e irrestrita,
intermitente, mas causou mais de trabalho”. eliminação de prévia negociação
confusão - mudanças que não es- Na “Carta de Belo Horizonte”, di- coletiva com o sindicato e a pre-
tão na reforma só podem vir por vulgada durante o 19º Conamat valência do negociado sobre o
meio de lei ou de nova MP. (Congresso Nacional dos Magis- legislado”. No entanto, conclui o
As denúncias de que magistrados trados da Justiça do Trabalho), advogado, para “outros setores,
e magistradas brasileiros estão realizado na capital mineira, ju- capitaneados pelo ministro Ives
sofrendo pressões para acatar a ízas e juízes “reafirmam a abso- Gandra, a reforma corresponde
reforma trabalhista, com prejuí- luta necessidade de respeito à a um avanço e à modernização
zos a sua independência judicial, independência da Magistratura, das relações capital/trabalho”.
Mundo Sindical
11

“Enfraquecer ou extinguir Justiça do


Trabalho é atentado à Constituição”
O Dr. Guilherme Guimarães Feli- caixa e não foi amadurecida jun- legislação hoje em vigor, aplica-se
ciano, presidente da Associação tamente com a sociedade civil. O somente à Justiça do Trabalho.
Nacional dos Magistrados da Jus- resultado foi um texto legislativo Há ainda a própria idéia de que o
tiça do Trabalho (Anamatra), aler- lacunoso, atécnico, repleto de in- negociado pode prevalecer sobre
ta que o texto da Lei 13.467/2017, constitucionalidades. Então, mais o legislado em hipóteses que vão
além de estar “repleto de incons- do que o habitual, trouxe e ainda muito além da autorização consti-
titucionalidades”, trouxe em si “o trará muitas dúvidas, muitas con- tucional constante do artigo 7º da
espírito de mitigar, de mediocri- tradições que trarão, como têm nossa Carta Maior, o que padece
zar, de diminuir o papel da Justiça trazido, interpretações diferentes de inconstitucionalidade quando,
do Trabalho nas relações entre ca- e muitas vezes até colidentes en- por exemplo, a lei diz que em ne-
pital e trabalho”. Confira a entre- tre juízes e tribunais. Mas, esse é gociação coletiva será possível de-
vista concedida à Mundo Sindical. o papel da Justiça e, neste caso, a finir enquadramento de grau de in-
Justiça do Trabalho, com o devido salubridade ou ainda prorrogação
Mundo Sindical - Como o Sr. anali- tempo, irá construir um horizonte de jornada em ambiente insalubre.
sa as divergências, contra e a favor de uniformidade e consenso. Essa previsão pretende excluir
da reforma trabalhista, na Justiça
do Trabalho/TST?
Guilherme Guimarães Feliciano
- Como se sabe, o Direito não se
resume nos textos. A partir dos
textos e da interpretação desses
textos é que os juízes identificam
a norma jurídica apta em cada
caso. Isso explica a razão pela
qual, mesmo diante de um texto
de lei sancionado, os juízes mui-
tas vezes divergem quanto à sua
correta interpretação. Até porque
a lei deve ser interpretada não
isoladamente, mas no contexto
do sistema jurídico onde foi edi-
tada. E, neste caso particular, a Dr. Guilherme Guimarães Feliciano, presidente da Anamatra
lei da reforma trabalhista precisa
ser compreendida no contexto do MS - O que a suposta tentativa de qualquer atuação da Justiça do
seu sistema normativo, que inclui enfraquecer a Justiça do Trabalho Trabalho em situações como es-
a Constituição da República de representa para o trabalhador? sas. É preciso dizer que isso não
1988, os tratados e convenções Feliciano - É fato que o texto, além acontecerá exatamente porque
internacionais de que o Brasil é da reforma trabalhista, trouxe em essas previsões, que vão além
parte e que têm vigência no terri- si o espírito de mitigar, de medio- da possibilidade constitucional,
tório nacional e toda a legislação crizar, de diminuir o papel da Jus- são inconstitucionais. Caberá ao
trabalhista e civil que está posta tiça do Trabalho nas relações entre juiz do Trabalho, inclusive em 1º
e também compõe esse sistema capital e trabalho. Isso aparece em e 2º graus, valendo-se do con-
normativo. Somente à vista de diversas passagens, algumas mais trole difuso de constitucionalida-
todos esses referenciais pode-se explícitas do que outras. Posso ci- de, afastar esta alternativa legal
efetivamente extrair a norma jurí- tar como exemplo o artigo 8º, que de regulação de questões como
dica a partir do texto. Essa é a ra- no seu novo parágrafo 3º passa a essas por negociação coletiva e
zão pela qual, não raramente, leis reger a atividade da Justiça do Tra- aplicar efetivamente a lei ou os
postas desafiam interpretações balho pelo princípio da intervenção regulamentos administrativos
diversas entre juízes e até mes- mínima no que diz respeito aos que decorrem da lei – no caso de
mo entre tribunais. O fato é que, acordos e convenções coletivas insalubridade e periculosidade,
no caso da reforma trabalhista, de trabalho. É um princípio iné- as normas que provêm do artigo
esta lei foi discutida a toque de dito no Direito nacional que, pela 200 da CLT.
ANO 4 • JUL.18
12
Não por acaso, paralelamente a estejam atentas para isso. das autoridades judiciárias que,
isso, nós vemos em alguns mo- A Justiça do Trabalho é o ramo em um país marcado por uma
mentos mais uma vez circular a do Judiciário constitucional- cultura de descumprimento da
cantilena da extinção da Justiça mente destacado e funcional- legislação trabalhista – e as es-
do Trabalho. Se historicamen- mente talhado para a solução tatísticas demonstram isso –,
te essa extinção não foi lograda, dos conflitos entre capital e tra- precisam ter um quadro judicial
apesar de tentada, por exemplo, balho a partir da perspectiva do preparado para a análise des-
ao tempo da reforma do Poder estado social e da preservação sas questões, dilemas e litígios,
Judiciário, entre 2003 e 2004, dos direitos sociais fundamen- com a sensibilidade e a prepa-
agora isso, de alguma maneira, tais. A perda desta magistratura ração necessárias para este
é perseguido a partir do sufoca- e, portanto, desta funcionalida- efeito. Eu não tenho dúvidas de
mento, da asfixia – o que inclui de do Estado significará - além que enfraquecer a Justiça do
essa mediocrização do papel da da perda de quadros especiali- Trabalho, ou mesmo extingui-la
Justiça do Trabalho, por um lado, zados e que se prestam à solu- como já se ouve em alguns ni-
e também da supressão dos re- ção desses conflitos - também chos do segmento político, é um
cursos orçamentários que já hou- o enfraquecimento da própria atentado à Constituição é à pró-
ve em 2016 e possivelmente será proteção social, que não se re- pria ideia de estado social que
tentada mais uma vez. É preciso sume às leis que são ditadas se integrou, em 1988, ao conte-
que a classe trabalhadora e as pelo Parlamento. Na realidade, údo normativo do estado demo-
suas entidades representativas também depende da existência crático de direito.

Justiça do Trabalho é fundamental, diz CSB


A divisão no Tribunal Superior
do Trabalho não é novidade. A
Justiça do Trabalho sempre foi
eclética e com diferentes inter-
pretações. Entretanto, na maio-
ria dos casos, ela funciona como
o mecanismo mais progressista
e mais avançado na defesa dos
direitos coletivos. E este ponto é
fundamental na proteção dos tra-
balhadores, na relação capital-
-trabalho”, afirma Antonio Neto
(foto), presidente da Central dos
Sindicatos Brasileiros (CSB).
“Desta forma, esta divisão plu-
ral é natural, e cabe a nós, cada
vez mais, não exigir sensibilidade o Brasil. Já dizia Henri Domini- gação de ser um mecanismo de
ou interpretação política do TST, que Lacordaire que “entre o fra- suposta competitividade, é con-
mas, sim, estar atentos para que co e o forte, entre o rico e pobre, denar o país à miséria”
o Tribunal analise de forma téc- entre o patrão e o empregado, é A reforma trabalhista foi certei-
nica a aplicação da Constituição, a lei que liberta e a liberdade que ra em sua tentativa de aniquilar
dos tratados e convenções inter- escraviza”. Essa máxima repre- a sobrevivência das entidades
nacionais e, sobretudo, que não senta muito este momento que sindicais e enfraquecer a re-
sucumba à pressão do setor em- vivemos. presentação dos trabalhadores.
presarial e da mídia, nas tenta- A falta de direitos e a precariza- Fica mais evidente para toda a
tivas que ambas fazem de abolir ção do mercado de trabalho, dos sociedade que a consolidação do
direitos trabalhistas, inviabilizar empregos, da renda e dos salá- desmonte dos direitos trabalhis-
as negociações coletivas e a re- rios aniquilam a economia brasi- tas e sociais só acontecerá com
presentação dos trabalhadores. leira. A redução da massa sala- o fechamento dos sindicatos. Na
O enfraquecimento da Justiça do rial é extremamente prejudicial época da ditadura civil-militar,
Trabalho é preocupante para to- para a economia, o crescimento foi pela força. Agora a intenção é
dos os segmentos da sociedade, do país e a geração de empregos. sufocar financeiramente as enti-
em especial para o trabalhador, Defender o achatamento salarial dades”. Resistiremos novamente
para o movimento sindical e para e o corte de direitos, sob a ale- contra este duro golpe.”

Mundo Sindical
13

Por um novo Brasil


SETE CENTRAIS LANÇAM MANIFESTO
Dirigentes de sete centrais sindi- go ou produzir intolerância, pois mulheres”. Afirma ainda que “as
cais (quadro) lançaram em 6 de nessa situação podemos ser con- mudanças na legislação traba-
junho um longo manifesto com duzidos a tragédias econômicas, lhista criam um novo ambiente
o que consideram importante sociais e políticas, contexto no institucional que fragiliza o sis-
neste momento para “recolocar qual todos perdem.” tema de relações de trabalho e a
o País na trajetória do desenvol- O manifesto enfatiza que “pro- negociação coletiva, ataca os sin-
vimento”. Entre as 22 propostas fundas transformações econômi- dicatos, favorece a insegurança e
da “Agenda Prioritária da Classe cas alteram o sistema produtivo, a precarização dos trabalhadores
Trabalhadora”, pedem geração o papel das empresas, a dinâmi- e potencializa os conflitos tra-
de emprego de qualidade, cres- ca do comércio mundial, a função balhistas”. Para as centrais, “as
cimento dos salários, combate à dos Estados e a soberania das eleições de 2018 são uma opor-
informalidade, à precarização e à nações” e que, nesse contexto, tunidade para recolocar o País
insegurança no trabalho. além de degradação ambiental, em outra trajetória de desenvol-
“Lutamos para que a liberdade, “o mundo do trabalho e os traba- vimento econômico, social e am-
a democracia e a soberania se- lhadores são atingidos - de forma biental”.
jam, cada vez mais, fundamentos mais grave os pobres e precari- Confira em nosso portal Mun-
do projeto de Nação a ser imple- zados”. do Sindical as 22 propostas para
mentado no Brasil. As Centrais Em relação à economia brasilei- uma agenda socioeconômica de
Sindicais consideram as eleições ra, alerta que “a grave recessão transformação, orientada pelo
livres e democráticas em 2018 recente reduziu o PIB per capita combate a todas formas de de-
primordiais para a construção em -4,3% e -4,2% (2015/16)” e sigualdade, pela promoção do
de compromissos com a futu- que “hoje são quase 14 milhões emprego de qualidade, pela li-
ra agenda de desenvolvimento de desempregados e outros 14 berdade, democracia, soberania
do País, para a qual o mundo do milhões de subocupados”. Alem nacional e justiça social.
trabalho deve ter centralidade disso, chama a atenção para o
estratégica.” Alertam que o ca- corte nos gastos sociais, que (http://www.mundosindical.com.
minho é longo e difícil. “As adver- “reduz ainda mais a proteção so- br/web/emanager/documentos/
sidades do presente e as incerte- cial, amplia a pobreza e a misé- upload_/AgendaPrioritariada-
zas do futuro não devem provocar ria e intensifica o sofrimento de ClasseTrabalhadora2018_ilovep-
a interdição do debate e do diálo- milhões de crianças, homens e df_compressed.pdf)

Vagner Freitas Paulo Pereira da Silva Antonio Neto Adilson Araújo


Presidente da CUT Ex-presidente da Presidente da CSB Presidente da CTB
Força Sindical

Edson Carneiro Índio José Calixto Ramos Ricardo Patah


Presidente da Presidente da NCST Presidente da UGT
Intersindical

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CONTRATOS: JOGO INACABADO


A regra deveria ser clara,
como diz certo comen-
tarista de futebol, mas
quando se trata da reforma traba-
alcance, criadas por buracos dei-
xados (propositalmente ou não,
nunca se saberá) no texto escri-
to e aprovado pelo Congresso.
cada apenas aos novos contratos,
assinados após a vigência da lei,
ou a todos? Para responder a
essa pergunta, deixada no ar pelo
lhista ela não é. Mais de meio ano A maior delas é tão grande que Legislativo, os poderes Executivo
após a entrada em vigor da nova afeta a nova CLT como um todo e e Judiciário entraram em campo
legislação, persiste uma série de pode ser resumida numa pergun- para disputar essa bola. E o jogo
dúvidas e polêmicas sobre o seu ta: a nova legislação deve ser apli- ainda não acabou.

Primeiro tempo
No dia 15 de maio, o Ministério do lário, a regra valeria para todos, bunais” decidir sobre a aplicação
Trabalho publicou no Diário Ofi- para quem já estava contratado e da legislação aos contratos anti-
cial um extenso parecer produzi- para quem foi contratado depois. gos. Traduzindo: se a lei não es-
do pela Advocacia Geral da União No mesmo dia, a Associação Na- clarece algo, será a Justiça, não o
(AGU), afirmando que a reforma cional dos Magistrados da Justiça governo, que vai dizer o que vale e
trabalhista se aplica a todos os do Trabalho (Anamatra) desafiou o que não vale.
contratos em vigor, mesmo os que e disse que a portaria do governo O parecer da AGU, de fato, não
tiveram início antes da lei, acres- não mudaria a atuação do Judici- tem força de lei, mas é uma orien-
centando que ela vale “de forma ário. Em nota oficial, a entidade tação para os fiscais do Ministério
geral, abrangente e imediata”. defendeu “a independência técni- do Trabalho, que têm poder de
Trocando em miúdos, se a nova ca de todos os juízes do trabalho, multar quem não cumprir a lei.
lei tivesse acabado com o 13º sa- cabendo à jurisprudência dos tri- Mas que lei?

Segundo tempo
No dia 21 de junho, pouco mais de anterior, pois as mudanças não jurídico do Sindicato dos Comer-
um mês depois, o pleno do TST devem afetar “situações pretéritas ciários de São Paulo. “Elas serão
aprovou uma instrução normativa ou consolidadas sob a égide da lei discutidas, caso a caso, nos julga-
que simplesmente desconsiderou revogada”. Para a Justiça, o com- mentos nos primeiro e segundo
o parecer da AGU. Assim como o binado não é caro e não se mudam graus, bem como nos recursos
documento do Executivo, o do TST as regras do jogo no intervalo, in- sobre os temas que chegarem ao
não tem força de lei, mas serve de terpreta o TST. TST”, acrescenta “As questões de
orientação para os juízes da Justi- Mas e o que não está na Justiça? A direito material, tais como férias,
ça do Trabalho – e ela é diferente AGU diz que vale a nova lei sempre, teletrabalho, reparação por dano
da que foi dada aos fiscais do mi- mas a instrução normativa dá uma extrapatrimonial e trabalho inter-
nistério. O TST decidiu que a nova orientação oposta. “As questões mitente, entre outros, vão depen-
lei trabalhista não vale para ações de direito material não foram alvo der da ‘construção jurisprudencial’
judiciais abertas antes da vigência da instrução normativa”, afirma o a partir de julgamentos de casos
da reforma. Nesse caso, vale a lei advogado Robson Rios, assessor concretos”, explica.

Prorrogação
O governo diz que manda, mas que contrariam a lei, o que para da, e o trabalhador é a bola. O
a Justiça do Trabalho diz que o governo gera insegurança ju- pior é que o direito do trabalha-
quem manda é ela. Na prática, rídica. Em resumo: governo e dor pode terminar nos pênaltis.
juízes já vêm tomando decisões Justiça entraram numa dividi- É um jogo inacabado.
Mundo Sindical
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AÇÃO PELA
GRATUIDADE
EM CAUSAS
TRABALHISTAS
ESTÁ PARADA
NO STF

A A reforma trabalhista, em
vigor desde 11/11/2017,
tem gerado indagações e
insegurança jurídica em várias áre-
o relator dessa ADI, ministro Luís
Roberto Barroso, que não viu pro-
blemas de inconstitucionalidade
nas restrições ao acesso à Justiça
Para alguns especialistas, a mu-
dança é mesmo inconstitucional.
Para outros, é uma forma de ini-
bir aqueles que por ventura en-
as - sindicatos, Justiça do Trabalho do Trabalho trazidas pela reforma tram na justiça para ganhar algo,
e entre trabalhadores. Uma das trabalhista. Apenas sugeriu cri- mesmo que sua alegação seja im-
mais graves envolve a questão da térios para impor limites a paga- procedente. É o que Francisco Gé-
gratuidade em causas trabalhistas. mentos a advogados e peritos. Já o rson Marques de Lima, professor
Com as mudanças trazidas pela Lei ministro Edson Fachin considerou de direito na Universidade Federal
13.467/17, o trabalhador que per- procedente a ADI apresentada pela do Ceará e procurador regional do
der uma causa na Justiça do Traba- Procuradoria-Geral da República e trabalho, qualifica de “demandas
lho deverá arcar com os honorários rejeitou as mudanças feitas pela aventureiras”, ou “cultura do de-
advocatícios da outra parte. reforma, por “impõem restrições mandismo”.
A questão da gratuidade para o tra- inconstitucionais às garantias fun- Algumas dessas “ações aventu-
balhador que for à Justiça, além de damentais de assistência jurídica reiras” já foram derrotadas na
questões envolvendo correção de integral e gratuita”. O julgamento Justiça do Trabalho. Um dos ca-
depósitos e limites a indenizações, foi interrompido por um pedido de sos que chamou mais atenção foi
deu origem a três Ações Diretas de vista do ministro Luiz Fux, para ter o de um vendedor que entrou com
Inconstitucionalidade no Supremo mais tempo para analisar a ques- um processo contra uma conces-
Tribunal Federal – a 5766, apresen- tão. Até 22 de junho não havia data sionária de caminhões no Mato
tada pela Procuradoria-Geral da marcada para a ADI voltar à pauta Grosso, pedindo uma indenização
República, e as outras duas (5867 do Supremo. Já em 21/6, o Pleno milionária. Entre outras alega-
e 5870) apresentadas pela Associa- do Tribunal Superior do Trabalho ções, citava o cancelamento de
ção Nacional dos Magistrados da (TST) firmou entendimento de que uma viagem prometida pela con-
Justiça do Trabalho (Anamatra). empregados derrotados na Justiça cessionária como prêmio para os
A única que está sendo analisada do Trabalho só terão de pagar as melhores funcionários. Perdeu a
até agora é a ADI 5766, a da gra- custas do processo se as ações co- ação e foi condenado a pagar R$
tuidade. A votação teve inicio em meçaram a tramitar após a refor- 750 mil em honorários para o ad-
maio. O primeiro a se pronunciar foi ma entrar em vigor. vogado do ex-empregador.

CAI O NÚMERO DE AÇÕES NA JUSTIÇA DO TRABALHO


As consequências das mudan- po de pessoas que entrava com que realmente têm seus direitos
ças na gratuidade já são senti- ações baseadas em alegações violados pelo empregador. Hoje,
das no menor número de ações sem nenhuma relação à violação estão com medo de entrar com
na Justiça do Trabalho. De acor- de direitos trabalhistas. Essas uma ação, perder e ainda ter que
do com o TST, a queda foi de pessoas, com medo de perder pagar honorários advocatícios e
40,8% após a entrada em vigor a ação, com certeza não mais peritos. Alberto Pavi Ribeiro, re-
da Lei 13.467/17. Esta diminui- recorrem à Justiça do Trabalho. presentando a Anamatra, disse
ção pode ser vista por dois ân- Mas há outro ângulo, que é o dos no STF que “os juízes estão per-
gulos. O primeiro envolve o gru- trabalhadores mais humildes e plexos com a situação”.

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MOBILIZAÇÃO É RESPOSTA
DOS SINDICATOS À CRISE
O s primeiros sete meses
de vigência da reforma
trabalhista foram mar-
cados por uma intensa mobili-
milhões, 90% menos em compa-
ração com o mesmo mês do ano
passado. Isso levou diversas en-
tidades a fazer cortes drásticos,
líbrio entre receitas e despesas,
mas não é nada fácil”, disse ao
jornal O Estado de S. Paulo Ge-
nival Leite, presidente do Sindi-
zaçãode todo o mundo sindical, como demissão de funcionários, cato dos Empregados em Em-
gravemente ferido pelo fim da fechamento de escritórios, venda presas de Prestação de Serviços
obrigatoriedade da contribuição de bens e aluguel de imóveis pró- a Terceiros (Sindeepres), que
sindical – de longe a mais impor- prios, entre outras medidas. fechou três dos catorze andares
tante fonte de receita da maior “A reforma trabalhista pegou da sua sede, no centro de São
parte das agremiações. Em mais todo mundo de surpresa. No ano Paulo. Eles serão alugados ou
de meio ano, os efeitos foram de- passado, recebemos R$ 6,7 mi- vendidos. Ao mesmo tempo, os
vastadores. lhões de contribuição. Este ano, sindicatos arregaçaram as man-
Segundo dados do próprio Minis- esse valor passou para R$ 1,2 gas e saíram em busca de novos
tério do Trabalho, a arrecadação milhão, pois poucos trabalhado- associados, que estivessem dis-
dos sindicatos caiu 88%. Somen- res contribuíram. Ainda assim, postos a se sindicalizar e contri-
te em abril, o valor foi de R$ 102,5 conseguimos chegar a um equi- buir voluntariamente.

Cartilha e Maio Lilás pregam importância da filiação


Isso exigiu um esforço extra de de diversas atividades em todo das numa tecelagem e queima-
persuasão para convencer tra- o país, como debates e exposi- das vivas em um incêndio em 8 de
balhadores geralmente descon- ções. Na abertura, em Brasília, março de 1857 – é por causa de-
fiados, mesmo sem nunca terem houve uma mesa-redonda com las também que se comemora o
colocado os pés em um sindicato. o tema “Liberdade Sindical e Re- Dia Internacional da Mulher. Elas
Para isso, sindicalistas saíram a faziam na hora um tecido lilás.
campo e se aproximaram mais da Mesmo com a reação do sin-
categoria para mostrar que esta- dicalismo, é preciso reco-
vam ali para trabalhar por eles. nhecer que o golpe foi baixo.
Uma das iniciativas para ajudar a “A supressão do caráter tri-
criar uma maior conscientização butário das contribuições sin-
sobre a importância dos sindica- dicais ocorreu da noite para o
tos veio do Ministério Público do dia, e não com um período de
Trabalho (MPT) do Espírito Santo transição”, critica Guilherme
com o lançamento de uma carti- Guimarães Feliciano, presi-
lha sobre sindicalismo. Em qua- dente da Anamatra (Associação
drinhos, a publicação é didática, Nacional dos Magistrados da
tem linguagem clara e resume Justiça do Trabalho). “Feita des-
muito bem a história dos sindi- se modo, a modificação do cará-
catos e sua importância no Bra- ter dessas contribuições serviu
sil e no mundo, com o objetivo tão somente para enfraquecer
de mostrar a importância da as entidades sindicais.” Feliciano,
filiação. porém, não defende a obrigato-
Essa edição em Quadrinhos foi riedade da contribuição. Para ele,
lançada junto com a campa- é preciso “caminhar para um novo
nha do MPT nacional intitulada modelo sindical, de sindicatos
Maio Lilás. O objetivo da iniciativa fortes, legítimos, representativos”
foi aproveitar anualmente esse forma Trabalhista”. Criado no e “de modo dialogado, com todo
mês para marcar a luta dos sin- ano passado, o Maio Lilás é uma o tempo necessário, com o come-
dicatos e sua importância na de- homenagem a um grupo de 129 dimento devido, e sem nenhuma
fesa dos trabalhadores por meio mulheres de Nova York, tranca- pressa, nenhum açodamento”.
Mundo Sindical
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Giro Sindical
Força Sindical
Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de
São Paulo e Mogi das Cruzes e da CNTM (Confederação Na-
cional dos Trabalhadores Metalúrgicos), que exercia o car-
go de vice-presidente da Força Sindical, assumiu em 5 de
junho de 2018 a presidência da central. Paulo Pereira da
Silva, o Paulinho da Força, licenciou-se para dedicar-
-se às atividades partidárias e à campanha eleitoral
de 2018. A indicação de Miguel Torres foi aprovada
por unanimidade.

Desemprego Desalento
A taxa de desemprego ficou em Esse é o termo usado pelo IBGE para classifi-
12,9% no trimestre encerrado car pessoas que desistiram de procurar tra-
em abril, ante os 13,1% do tri- balho, porque não encontram vaga
mestre terminado em março e ou não têm qualificação. Esse
os 12,2% no trimestre móvel até grupo bateu recorde no 1º tri-
janeiro. A taxa de 12,9% equiva- mestre e chegou a 4,6 milhões
le a 13,413 milhões de deso- de brasileiros. Eles se somam
cupados, revelando demora na aos desempregados – que conti-
recuperação do mercado de nuam a procurar vaga – e aos que
trabalho. Em um trimestre, o querem trabalhar mais. Resultado:
total de brasileiros ocupados falta emprego para 27,7 milhões de
caiu 1,1%, o que significa pessoas. A falta de confiança dos
que 969 mil trabalhadores empresários para investir e gerar
perderam o emprego nesse emprego explica os números desa-
período. Os números foram nimadores. É o reflexo de uma eco-
divulgados pelo IBGE em 29 de nomia que se recupera em ritmo mais
maio. (Fonte: O Estado de S.Paulo) lento do que o esperado. (Fonte: O Globo)

Gestantes Mentira, não


A Confederação Nacional dos Traba- “Espertinhos” que se cuidem! Re-
lhadores Metalúrgicos (CNTM) proto- forma Trabalhista estabelece mais
colou em 25 de abril de 2018, no STF, rigor do Judiciário para quem men-
em Brasília, uma Ação Direta de In- tir em juízo. No início de maio, duas
constitucionalidade (Adin) com pedido testemunhas de uma ação traba-
de liminar. A Adin pede a impugnação lhista foram presas em flagran-
da nova redação dada ao Art. 394-A, te por mentirem diante de um juiz
II, da CLT, pela Lei 13.467/2017 (Re- durante audiência na Justiça do
forma Trabalhista), que representa Trabalho de Campo Largo, Região
flagrante retrocesso aos direitos Metropolitana de Curitiba. A deci-
dos trabalhadores, sobretudo são do juiz Marlo Augusto Melek
aos das mulheres gestantes e foi considerada surpreendente. Ele
lactantes. Esse dispositivo da aguardou a chegada da polícia para
Reforma Trabalhista impõe às conduzir os presos e seguir com a
trabalhadoras gestantes e lac- audiência - e aplicou na hora uma
tantes trabalharem em locais multa no valor de R$ 5 mil.
insalubres. (Fonte: CNTM) (Fonte: tribunapr.com.br)
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Giro Sindical
“Lista suja”
O governo brasileiro terá até o mês de novembro para
encaminhar à Comissão de Peritos da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) explicações sobre a
reforma trabalhista, respondendo à denúncia de que
a Lei 13.467/2017 fere a Convenção 98, que trata do
direito de negociação coletiva e de organização sin-
dical dos trabalhadores. A diretriz consta do relatório
da Comissão, divulgado em 7 de junho, na 107ª Con-
ferência Internacional do Trabalho, em Genebra. Pela
conclusão dos peritos, o Brasil permanece na “lista suja”
dos 24 países que afrontam as normas trabalhistas internacio-
nais, ao lado de nações como Bali, Guatemala e Bangladesh. (Fonte: Anamatra)

Receita cai 80% Domésticas


No 1° trimestre, as entidades sin- A gaúcha Tânia Maria Ri-
dicais perderam 80% de suas receitas e beiro, doméstica há 20
arrecadaram R$ 34,6 milhões. Em igual anos, já tem no celular o
período de 2017, os sindicatos haviam rece- aplicativo Laudelina. Fruto
bido R$ 170 milhões, segundo o Ministério do Tra- de parceria entre a Themis - Gênero, Justiça e Di-
balho. De acordo com o Dieese, a queda se dá pela reitos Humanos e a Fenatrad (Federação Nacional
“reforma” trabalhista e o fim da obrigatoriedade do das Trabalhadoras Domésticas), o app inclui ma-
imposto sindical”. O diretor técnico do Dieese, Cle- nual sobre direitos trabalhistas; calculadoras de
mente Ganz Lúcio, afirma que a contribuição sindi- salário, benefícios e rescisão contratual; lista de
cal é a coluna vertebral do movimento. Para Ganz instituições de proteção de diferentes cidades; e
Lúcio, “isso é visto na Organização Internacional do rede de contatos de trabalhadoras de uma região.
Trabalho (OIT) como uma medida antissindical” O nome homenageia Laudelina de Campos Melo,
(Fonte: fetquim.org.br) ativista do movimento negro.

Fiscalização 1 Fiscalização 2
O ministro do Trabalho, Helton Yomura, participou no fi- As ações de Inspeção do Trabalho no Brasil alcança-
nal de maio na sede do TRT da 2ª Região, em São Paulo, ram, nos últimos 12 meses, 29.116.685 trabalhado-
da entrega de 145 veículos novos ao Ministério do Tra- res, identificaram 179.800 irregularidade em Saúde
balho. Serão usados para reforço das ações de fiscali- e Segurança no Trabalho e inseriram 151.848 apren-
zação das 27 superintendências regionais. A aquisição dizes e pessoas com deficiência (PcDs). Além das
dos automóveis veio de acordo entre o TST, MPT e MTE. inspeções, os auditores-fiscais atuaram no combate
Possibilitou o uso de R$ 8,8 milhões oriundos de autua- ao trabalho escravo, que, em 2017, possibilitou o res-
ção em uma rede de supermercado no Estado. Com os gate de 556 trabalhadores em condições análogas à
recursos foram adquiridos 105 veículos Etios Hatch e de escravo. Com as ações, 797 trabalhadores foram
40 Corolas Gli Upper da fabricante Toyota. formalizados.

Mundo Sindical
19

Giro Sindical
Cidadania
Em reunião realizada em 20/6, na sede do
Conselho Federal de Engenharia e Agrono-
mia (Confea), em São Paulo, o Comitê Na-
cional do Movimento de Combate à Corrup-
ção Eleitoral (MCCE) debateu as eleições de
outubro e mecanismos de monitoramento
dos gastos de dinheiro público pelos parti-
dos. No encontro, com a presença da vice-
-presidente da Anamatra, Noemia Porto, os participantes destacaram a importância das
prestações de contas auditadas e transparentes. No que se refere às disputas políticas,
debateu-se o desequilíbrio que notícias falsas podem trazer, impossibilitando um debate
consciente e honesto sobre “as propostas de candidatos e de partidos sobre temas que
interferem na cidadania, inclusive a cidadania para o trabalho”.

Construção civil Com o tema geral “Va-


Os canteiros de obras do mos tornar isso possí-
Grande ABC (integrado por vel”, foi realizado entre
sete municípios da região 17 e 20 de junho, em
metropolitana de São Paulo) Liverpool, na Inglater-
encerraram abril com cria- ra, o 5º Congresso Global da UNI. Foram debatidas
ção a de 443 postos de trabalho. Comparado a estratégias e projetos com o objetivo de motivar e
igual mês no ano passado, quando o saldo – dife- desenvolver os sindicatos e suas influências em
rença entre número de admissões e demissões – todo mundo. Participam 523 organizações sin-
foi de 67 funcionários, o ritmo de contratação está dicais, 607 delegados e 349 observadores. A UNI
seis vezes maior. Para se ter uma ideia, em 2017, o Global Union, com sede em Nyon, na Suíça, re-
saldo ficou negativo em 3.173 postos, o equivalen- presenta mais de 20 milhões de trabalhadores de
te a nove dispensas por dia. Os dados foram divul- mais de 900 sindicatos no setor de habilidades e
gados pelo SindusCon-SP. serviços que é o que mais cresce no mundo.

Homenagem Motofrete
Pelo 3º ano consecutivo, a Assembleia Legislativa de Empresas de aplicativos no mo-
SP homenageou em 15/7 trabalhadores da categoria tofrete ainda incentivam moto-
química. A iniciativa foi do deputado Fernando Teixeira ciclistas profissionais a aumen-
Ferreira (PT-SP), autor da Lei 16.364/2017, que institui tarem a velocidade para ganhar
o Dia Estadual do Trabalhador da Indústria Química prêmios, o que é proibido pela
em 21 de julho. Os homenageados deste ano foram os Lei Federal 12.436. Para ser pre- miado, o mo-
presidentes do Sindicato dos Químicos do ABC, Rai- tociclista precisa fazer diversas entregas, acelerar
mundo Suzart, e da Assoc. dos Aposentados e Pen- mais, mesmo em dias de chuva. A lei é clara, mas
sionistas Químicos do ABC, Milton Nunes de Brito; e as empresas insistem em desobedecer e colocar
o ex-integrante em risco a integridade física dos profissionais. Exis-
da Comissão de tem motofretistas que, ao se acidentarem, foram
Fábrica da BASF abandonados e sequer tiveram assistência. O Arti-
Demarchi, José go 2º da referida lei estipula ao empregador ou ao
Cícero da Silva tomador de serviço multa de até R$ 3.000,00 pela
(in memoriam). infração. (Fonte: SindimotoSP)
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