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Revista Mundo
Mundo Sindical
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Sindical
REVISTA MUNDO
Editorial Índice
Olá amigos, Justiça para contestar valores, o que pode sair mais
Mais uma vez, o sindicalismo brasileiro é coloca- caro para o empregador. O alerta, feito em entrevista 1 Nossa capa: HOMOLOGAÇÃO
do contra a parede. A exemplo do que ocorreu na exclusiva à revista Mundo Sindical, é de Francisco Sindicalização assegura Revista Mundo
agora novamente, no Supremo Tribunal Federal, Universidade Federal do Ceará e procurador regional
diz Procurador Regional do Trabalho
frustram-se expectativas de rápida reconquista da do trabalho. Como saída para assegurar direitos, ele de Lima
sustentabilidade das entidades sindicais, único meio aponta a importância da sindicalização. POR 6 A 3, STF ENTERRA POR 6 A 3, STF ENTERRA
de continuarem com condições de levar adiante Outra reportagem especial, com entrevista exclusiva CONTRIBUIÇÃO SINDICAL CONTRIBUIÇÃO SINDICAL Págs. 8 e 9
sua missão histórica e constitucional de ser ponto de Guilherme Guimarães Feliciano, presidente da
de equilíbrio nas relações entre capital e trabalho. Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do 4 ARMADILHAS DA HOMOLOGAÇÃO SEM O SINDICATO
Contrariando expectativas em torno do julgamento da Trabalho (Anamatra), trata das divergências entre “Trabalhador é o primeiro e
mais prejudicado;
Ação Direta de Inconstitucionalidade 5794 e das ou- governo, Ministério do Trabalho, Ministério Público do Cabe aos sindicatos orientar
tras 18 de mesmo teor a ela apensadas, que pediam o Trabalho e Justiça do Trabalho sobre pontos polêmi- e conscientizar”
restabelecimento da contribuição sindical compulsó- cos da reforma trabalhista. Para Feliciano, a reforma Procurador Gérson Marques
ria, a maioria dos ministros da Corte (placar de 6 a 3) trouxe em si “o espírito de mitigar, de mediocrizar, de 8 STF deixa sindicatos à
não seguiu a tese do relator Edson Fachin. Em seu diminuir o papel da Justiça do Trabalho nas relações deriva
voto, Fachin considerou inconstitucionais os itens da entre capital e trabalho”. Tese do relator, ministro
Edson Fachin,
reforma trabalhista que transformou a contribuição Leia ainda nesta edição outras quatro reporta- foi derrotada
em facultativa e retirou uma das principais fontes gens muito importantes – sobre o manifesto por 6 a 3 no STF
de custeio do setor. Mas foi seguido apenas por Dias das centrais sindicais, com as 22 propostas da
10 Reforma divide a Justiça do Trabalho
Toffoli e Rosa Weber. O resultado cria insegurança e “Agenda Prioritária da Classe Trabalhadora” frente Lei 13.467/17 trouxe em si
deixa antever um futuro difícil para o sistema sindical às eleições de outubro; sobre a Adin 5766, pela “o espírito de mitigar, de
mediocrizar, de diminuir
brasileiro, que tinha na contribuição anual compul- gratuidade em causas trabalhistas, que teve o jul- o papel da Justiça do
sória mais de 80% de sua fonte de custeio. “Agora gamento suspenso no STF por pedido de vista do Trabalho”, diz Guilherme
é preciso respirar fundo. É preciso preparo, cautela e ministro Luiz Fux; sobre a validade ou não da re- Guimarães Feliciano
força para os desafios que se avizinham”, diz o advo- forma para contratos de trabalho fechados antes
12 Justiça do Trabalho é fundamental diz CSB
gado Cesar Augusto de Mello. de sua entrada em vigar, em novembro passado;
Nesta edição, trazemos reportagem especial sobre e sobre a forte mobilização dos sindicatos nos 13 Sete Centrais lançam manifesto
outro lamentável equívoco da reforma trabalhista, últimos meses, como resposta à crise.
14 Contratos: jogo inacabado
que revogou dois parágrafos do artigo 477 da CLT - Por fim, você tem ainda três páginas de notas de
aqueles que estabeleciam que o acerto de contas nosso Giro Sindical, sobre assuntos de interesse 15 Ação pela gratuidade em causas trabalhistas
está parada no STF
entre patrão e empregado devia ser feito no sindicato dos trabalhadores.
da categoria. Ao eliminar a homologação da CLT,
a reforma trabalhista deixa o trabalhador sem pro- Boa leitura! Pedido de vista do
minístro Luiz Fux adia o
teção, mas também permite agora que ele entre na Sandra Campos - Editora-Chefe
Expediente
julgamento; não há prazo
para retomada
Mobilização é resposta
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A Revista Mundo Sindical é uma publicação do Instituto Nacional de Desenvolvimento e Valorização do Ser Humano dos sindicatos à crise
Os exemplares são distribuídos gratuitamente, não podendo ser vendidos sob nenhuma hipótese. Cartilha e Maio Lilás
As reportagens e artigos não podem ser reproduzidos para nenhum fim sem a autorização prévia dos seus autores. pregam importância
Fotos - Manoel Paulo da filiação
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Jornalista Responsável - Manoel Paulo - MTB 48.639-SP Editoração, Projeto Gráfico e Finalização - Carlos André Silva
Redação - Manoel Paulo e Carlos Dias
17 Giro Sindical
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ARMADILHAS DA
HOMOLOGAÇÃO
SEM O SINDICATO
Foto: Shutterstock
A regra é clara (diz o bordão repetido por um ex-árbi- RH para fazer o acerto de contas no sindicato. A vanta-
tro de futebol), e o Dicionário Aurélio não deixa dúvi- gem, no entanto, não era só do trabalhador. A homo-
das sobre o significado do verbo homologar: “aprovar, logação era boa para as duas partes porque colocava
confirmar por autoridade judicial ou administrativa; uma pedra em cima de verbas e valores. Ela tinha algo,
reconhecer oficialmente, reconhecer como legítimo.” sacramentado na súmula 330 do TST, chamado, em
Ao revogar dois parágrafos do artigo 477 da CLT, que termos jurídicos, de eficácia liberatória. Trocando em
estabeleciam que o acerto de contas entre patrão e miúdos, não era possível reclamar na Justiça depois.
empregado devia ser feito no sindicato da categoria, a Ao eliminar a homologação da CLT, a reforma traba-
reforma trabalhista extinguiu na prática a homologa- lhista permite agora que o empregado entre na Justi-
ção, pois não há mais uma autoridade administrativa ça depois para contestar valores, o que pode sair mais
(como o sindicato) que aprove e confirme os valores da caro para o empregador. “A desburocratização preten-
rescisão. Agora, ela é feita na empresa diretamente, o dida pelas empresas causou mais insegurança jurídica
que apavora o funcionário. Sem a assistência sindical, do que ensejava o artigo 477 e seus dois parágrafos da
ele não tem como saber se foi ou não ludibriado. CLT, além de permitir no Judiciário ações anulatórias
A questão, porém, é ainda mais grave do que parece. de rescisões, em que o empregado alegue ter sofrido
Quando a reforma trabalhista entrou em vigor, em no- coação ou ter sido induzido a erro, entre outras”, afir-
vembro passado, muitas empresas – as honestas e as ma Francisco Gérson Marques de Lima, professor de
nem tanto – festejaram o fim da chamada homologa- direito na Universidade Federal do Ceará e procurador
ção no sindicato da categoria, que conferia na ponta do regional do trabalho. Em entrevista exclusiva à revista
lápis se a firma estava de fato pagando tudo que era Mundo Sindical (a seguir), ele explica as diversas polê-
direito do colaborador desligado. Afinal, era uma amo- micas criadas pela nova legislação e também propõe
lação burocrática e custosa ter de deslocar alguém do saídas. A sindicalização, para ele, é a mais importante.
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ilicitudes imediatas, cometidas rescisão contratual continuarão rescisão contratual caiu, porque
contra os trabalhadores. Se não válidos, pois as ações judiciais sua razão de ser era a presença
houver nenhuma ação judicial são os meios próprios de se anu- do sindicato ou de autoridades
nem questionamento sobre a larem atos jurídicos. As fragi- públicas nesse ato. Permaneceu
conduta das empresas, logica- lidades da nova modelagem de a quitação simples do Código Ci-
mente os direitos vilipendiados rescisão contratual precisam ser vil, sendo, portanto, questioná-
e a forma como tenha ocorrido a expostas. A eficácia liberatória na vel, revogável, retratável.
“
má-fé contra ele? Ele vai ter como direitos. pode atrair prejuízos aos trabalha-
contratar alguém para conferir as dores. E, quem sabe, até ações re-
contas e um advogado para ques- gressivas contra os patronos que
tionar a quitação na Justiça? É preciso que tenham agido com irresponsabili-
Gérson Marques – Os sindicatos dade ou incúria. É preciso que haja
saíram combalidos da refor- haja mudança uma mudança na cultura do de-
ma trabalhista, mas continuam
na cultura do mandismo, mas para isso é impor-
”
existindo e devem reagir. Cabe tante a qualificação do advogado.
a eles se reaproximar da base, demandismo Se o trabalhador perder na ação
orientar os trabalhadores e fa- judicial, terá de pagar a sucum-
zer sua defesa, inclusive judi- bência ao empregador vitorioso.
cialmente. É preciso orientar e Mundo Sindical – Por mais que Se a tendência do empregado será
conscientizar os trabalhadores o Código Civil estabeleça que as a resignação ou não, dependerá do
sobre seus direitos e as medi- despesas competem ao devedor, nível dos advogados trabalhistas e
das de que dispõem para com- no caso a empresa, o empregado das escolhas a serem feitas pelos
bater as violações. Isto é in- não corre riscos? Vale nesse caso sindicatos, os quais não podem
cumbência dos sindicatos. E os o eventual pagamento de honorá- se amofinar com esses desafios.
advogados precisam mudar o rios de sucumbência (o pagamen- Em todos os ramos do Judiciário
perfil tradicional da cultura do to de custos para quem ganhar) existe sucumbência e, mesmo as-
acordo e reaprender a manejar caso o empregado perca a causa sim, há muitas demandas. Então,
os instrumentos processuais. de contestação da homologação? os trabalhadores continuarão a
Principalmente aos advogados A tendência não é a de o emprega- promover as ações na Justiça do
de sindicatos cabe se qualifica- do se resignar por medo de ação Trabalho, mas, obviamente, com
rem melhor na sistemática pro- sair mais cara? cuidados redobrados. Acredito que
cessual que se encontra posta Gérson Marques – Com a reforma a jurisprudência dará a melhor in-
pela reforma. Por outro lado, os trabalhista, os riscos nas deman- terpretação às novas regras pro-
trabalhadores devem também das aventureiras aumentaram. cessuais, de forma a assegurar o
procurar o sindicato da cate- Isso exige maior responsabilidade direito de ação.
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“
empresas e sindicatos poderiam por razões de política sindical. alienação política e de inconsci-
negociar para fazer as rescisões? ência trabalhista. Muitos sindica-
É possível fazer isso sem onerar o tos foram criados e existem sem
trabalhador?
Gérson Marques – A melhor
Modelo sindical a necessária representatividade
e sem o compromisso de defe-
maneira de regular o procedi- pede mudança sa da categoria, ao que se junta
mento rescisório é por meio de o sistema totalmente privado de
ampla e mais
”
acordos e convenções coletivas prestação de contas aos repre-
de trabalho, nos quais fiquem sentados. O modelo dos anos 40
expressas cláusulas sobre lo- responsável precisa, de fato, ser revisto. Mas
cal da rescisão, documentos a não apenas o sistema de custeio,
serem apresentados, sanções pois o sindicalismo precisa de
por descumprimento e paga- Mundo Sindical – O fim da contri- uma mudança mais ampla, mais
mento do serviço sindical. Essa buição sindical é visto por muitos responsável e dialogada. Depois
perspectiva obrigacional das como uma forma de sufocar os de quase oitenta anos de existên-
cláusulas coletivas é amparado sindicatos. O senhor concorda? cia, o modelo de financiamento
pela prevalência do negociado Como um sindicato enfraquecido sindical não deveria ter sido mo-
sobre o legislado, princípio ao pode defender o trabalhador, a dificado do dia para a noite, sem
qual se alia o primado da liber- maioria não sindicalizada? prazo de adequação pelos sindi-
dade sindical, que assegura aos Gérson Marques – A contribuição catos e sem o estabelecimento
sindicatos e empresas a regu- obrigatória não é o ideal para um de uma via alternativa. Mas isso
lamentação de temas de inte- sindicalismo livre e combativo, é matéria de conveniência políti-
resse comum. Os custos com a porque tende a criar acomodação, ca, que o legislador, infelizmen-
rescisão não devem onerar mais a distanciar os sindicatos da base te, não quis observar. Agora, os
ainda os trabalhadores, em face e a levar os trabalhadores a um sindicatos precisam voltar para
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as bases da categoria, resgatar Mundo Sindical – Que outras recebeu valores ou que teve de
a credibilidade dos trabalhado- consequências jurídicas o fim da devolvê-los). Sem a presença
res e serem criativos na forma de homologação no sindicato pode do sindicato, a ignorância [no
atuação. O fortalecimento sindi- acarretar para o trabalhador? sentido de falta de informação]
cal renascerá assim, de maneira, Gérson Marques – Há muita do trabalhador poderá levá-lo a
aliás, muito mais consistente e preocupação com as renúncias assinar documentos indevida-
legítima. É hora, ainda, de muita a direitos, os riscos da cha- mente, até mesmo porque pode
responsabilidade nas negocia- mada “quitação geral” (o que sofrer constrangimentos pelos
ções coletivas. Não podem ser impede o trabalhador de re- RHs. Para se desconstituir a
motivadas pela intenção de con- clamar na Justiça outras ver- validade de um documento as-
seguir fontes de custeio. No geral, bas, além das já quitadas), a sinado, é necessário prova e um
se o trabalhador estiver satisfeito indução a erro nos cálculos e bom argumento jurídico. Então,
com seu sindicato, será mais fácil o pagamento fictício (sobretu- esse quadro de rescisão sem
haver contribuição sindical, inde- do porque deixa o trabalhador assistência sindical dificulta a
pendentemente da filiação. sem meios de provar que não vida dos trabalhadores.
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Autorização individual ou
autorização coletiva para
desconto da contribuição
sindical é agora a grande
questão, que poderá ser
levada à Justiça - até ao STF
Agora o debate que se inicia é para saber se a au- tanto, também tem poderes para aprovar a contri-
torização para o desconto e recolhimento da con- buição.
tribuição sindical poderá ser efetivada por meio in- Esse debate ainda será judicializado e novamente
dividual ou coletivo - assembleia de trabalhadores os tribunais deverão decidir. E conforme o enfoque
- com efeito para a toda categoria, associados ou novamente o debate poderá ser levado ao STF. Essa
não aos sindicatos. decisão acaba por dificultar a vida dos sindicatos
A maioria dos empregadores entende que essa au- atuantes, pois lhes retira verba destinada ao custeio
torização deva ser individual e os sindicatos lutam de estrutura que sustenta o equilíbrio das relações
pela autorização assemblear sob o argumento que coletivas de trabalho, mais especificamente as ne-
ela tem poderes de decisão para toda a categoria gociações coletivas, donde se originam as normas
como ocorre na aprovação de acordos coletivos de coletivas que contém cláusulas representando di-
trabalho e convenções coletivas de trabalho e, por- reitos e conquistas da classe trabalhadora.
REFORMA DIVIDE A
JUSTIÇA DO TRABALHO
E m vigor há sete meses, de-
pois de aprovada no Con-
gresso, sem consenso e
sem debate com todas as partes
envolvidas, a reforma trabalhista
(Lei 13.467/17) permanece cer-
cada de dúvidas e controvérsias,
muito longe de obter consensos
na Justiça. Não bastassem diver-
gências na Justiça do Trabalho,
no Ministério Público do Trabalho,
no Ministério do Trabalho e mes-
mo no Supremo Tribunal Federal,
é a própria Justiça do Trabalho
como um todo que está dividida. chegaram até a 107ª Conferência à autonomia do Poder Judiciário
Guilherme Guimarães Feliciano, Internacional do Trabalho, pro- Trabalhista e à dignidade da auto-
presidente da Associação Nacio- movida pela OIT no início de junho, ridade judiciária”.
nal dos Magistrados da Justiça em Genebra. Em carta aberta, a Para João Nery Campanario, ad-
do Trabalho, afirma que, além Anamatra denuncia que, “além vogado da Força Sindical e da
de estar “repleto de inconstitu- de frequentes ataques, inclusive CNTM (Confederação Nacional
cionalidades”, o texto da reforma no âmbito parlamentar e pela mí- dos Trabalhadores Metalúrgicos)
trouxe em si “o espírito de miti- dia”, há até mesmo “ameaças de “o racha na Justiça do Trabalho
gar, de mediocrizar, de diminuir o extinção da Justiça do Trabalho em relação à reforma trabalhista
papel da Justiça do Trabalho nas caso não se aplique o novo texto se deve ao fato de grande par-
relações entre capital e trabalho” de forma literal”. te dos juízes, desembargadores
(confira entrevista na página 11) O ex-presidente do Tribunal Supe- e ministros da área entenderem
Há profundas divergências em rior do Trabalho (TST) Ives Gandra que ela foi reduzida a um patamar
relação a pontos fundamentais, Martins Filho chegou a ser decla- civilizatório mínimo fixado pela
como validade ou não da lei para rado persona non grata à magis- Ordem Jurídica Trabalhista”.
contratos anteriores à mudan- tratura trabalhista por causa de Para esses setores, incluindo o
ça, gratuidade da Justiça, fim da declaração publicada pela “Folha MPT, “a reforma correspondeu à
contribuição sindical obrigatória de S.Paulo”. Nela, ele disse que perspectiva de um grande des-
e trabalho intermitente. O Con- “se esses magistrados continu- monte do direito do trabalho,
gresso lavou as mãos e deixou arem se opondo à modernização pois muda os pilares, os princí-
caducar a Medida Provisória 808 das leis trabalhistas, eu temo pela pios do direito do trabalho, flexi-
(com remendos à reforma). É um Justiça do Trabalho. De hoje para bilizando regras de contratos de
cenário nebuloso. Nem empresas amanhã, podem acabar com [a trabalho e dificultando o aces-
nem trabalhadores têm seguran- Justiça do Trabalho]”. Em moção so à Justiça do Trabalho”, diz
ça jurídica. Em 24/5, o Ministério de repúdio, os juízes do Trabalho Campanário. Eles reconhecem
do Trabalho fixou, por meio de aprovaram nota afirmando que na nova CLT “mais de 50 lesões
portaria, novas regras para a con- “a reforma trabalhista trouxe vi- graves de direitos”, incluindo
tratação de autônomos e trabalho sível precarização das relações “terceirização ampla e irrestrita,
intermitente, mas causou mais de trabalho”. eliminação de prévia negociação
confusão - mudanças que não es- Na “Carta de Belo Horizonte”, di- coletiva com o sindicato e a pre-
tão na reforma só podem vir por vulgada durante o 19º Conamat valência do negociado sobre o
meio de lei ou de nova MP. (Congresso Nacional dos Magis- legislado”. No entanto, conclui o
As denúncias de que magistrados trados da Justiça do Trabalho), advogado, para “outros setores,
e magistradas brasileiros estão realizado na capital mineira, ju- capitaneados pelo ministro Ives
sofrendo pressões para acatar a ízas e juízes “reafirmam a abso- Gandra, a reforma corresponde
reforma trabalhista, com prejuí- luta necessidade de respeito à a um avanço e à modernização
zos a sua independência judicial, independência da Magistratura, das relações capital/trabalho”.
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Primeiro tempo
No dia 15 de maio, o Ministério do lário, a regra valeria para todos, bunais” decidir sobre a aplicação
Trabalho publicou no Diário Ofi- para quem já estava contratado e da legislação aos contratos anti-
cial um extenso parecer produzi- para quem foi contratado depois. gos. Traduzindo: se a lei não es-
do pela Advocacia Geral da União No mesmo dia, a Associação Na- clarece algo, será a Justiça, não o
(AGU), afirmando que a reforma cional dos Magistrados da Justiça governo, que vai dizer o que vale e
trabalhista se aplica a todos os do Trabalho (Anamatra) desafiou o que não vale.
contratos em vigor, mesmo os que e disse que a portaria do governo O parecer da AGU, de fato, não
tiveram início antes da lei, acres- não mudaria a atuação do Judici- tem força de lei, mas é uma orien-
centando que ela vale “de forma ário. Em nota oficial, a entidade tação para os fiscais do Ministério
geral, abrangente e imediata”. defendeu “a independência técni- do Trabalho, que têm poder de
Trocando em miúdos, se a nova ca de todos os juízes do trabalho, multar quem não cumprir a lei.
lei tivesse acabado com o 13º sa- cabendo à jurisprudência dos tri- Mas que lei?
Segundo tempo
No dia 21 de junho, pouco mais de anterior, pois as mudanças não jurídico do Sindicato dos Comer-
um mês depois, o pleno do TST devem afetar “situações pretéritas ciários de São Paulo. “Elas serão
aprovou uma instrução normativa ou consolidadas sob a égide da lei discutidas, caso a caso, nos julga-
que simplesmente desconsiderou revogada”. Para a Justiça, o com- mentos nos primeiro e segundo
o parecer da AGU. Assim como o binado não é caro e não se mudam graus, bem como nos recursos
documento do Executivo, o do TST as regras do jogo no intervalo, in- sobre os temas que chegarem ao
não tem força de lei, mas serve de terpreta o TST. TST”, acrescenta “As questões de
orientação para os juízes da Justi- Mas e o que não está na Justiça? A direito material, tais como férias,
ça do Trabalho – e ela é diferente AGU diz que vale a nova lei sempre, teletrabalho, reparação por dano
da que foi dada aos fiscais do mi- mas a instrução normativa dá uma extrapatrimonial e trabalho inter-
nistério. O TST decidiu que a nova orientação oposta. “As questões mitente, entre outros, vão depen-
lei trabalhista não vale para ações de direito material não foram alvo der da ‘construção jurisprudencial’
judiciais abertas antes da vigência da instrução normativa”, afirma o a partir de julgamentos de casos
da reforma. Nesse caso, vale a lei advogado Robson Rios, assessor concretos”, explica.
Prorrogação
O governo diz que manda, mas que contrariam a lei, o que para da, e o trabalhador é a bola. O
a Justiça do Trabalho diz que o governo gera insegurança ju- pior é que o direito do trabalha-
quem manda é ela. Na prática, rídica. Em resumo: governo e dor pode terminar nos pênaltis.
juízes já vêm tomando decisões Justiça entraram numa dividi- É um jogo inacabado.
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AÇÃO PELA
GRATUIDADE
EM CAUSAS
TRABALHISTAS
ESTÁ PARADA
NO STF
A A reforma trabalhista, em
vigor desde 11/11/2017,
tem gerado indagações e
insegurança jurídica em várias áre-
o relator dessa ADI, ministro Luís
Roberto Barroso, que não viu pro-
blemas de inconstitucionalidade
nas restrições ao acesso à Justiça
Para alguns especialistas, a mu-
dança é mesmo inconstitucional.
Para outros, é uma forma de ini-
bir aqueles que por ventura en-
as - sindicatos, Justiça do Trabalho do Trabalho trazidas pela reforma tram na justiça para ganhar algo,
e entre trabalhadores. Uma das trabalhista. Apenas sugeriu cri- mesmo que sua alegação seja im-
mais graves envolve a questão da térios para impor limites a paga- procedente. É o que Francisco Gé-
gratuidade em causas trabalhistas. mentos a advogados e peritos. Já o rson Marques de Lima, professor
Com as mudanças trazidas pela Lei ministro Edson Fachin considerou de direito na Universidade Federal
13.467/17, o trabalhador que per- procedente a ADI apresentada pela do Ceará e procurador regional do
der uma causa na Justiça do Traba- Procuradoria-Geral da República e trabalho, qualifica de “demandas
lho deverá arcar com os honorários rejeitou as mudanças feitas pela aventureiras”, ou “cultura do de-
advocatícios da outra parte. reforma, por “impõem restrições mandismo”.
A questão da gratuidade para o tra- inconstitucionais às garantias fun- Algumas dessas “ações aventu-
balhador que for à Justiça, além de damentais de assistência jurídica reiras” já foram derrotadas na
questões envolvendo correção de integral e gratuita”. O julgamento Justiça do Trabalho. Um dos ca-
depósitos e limites a indenizações, foi interrompido por um pedido de sos que chamou mais atenção foi
deu origem a três Ações Diretas de vista do ministro Luiz Fux, para ter o de um vendedor que entrou com
Inconstitucionalidade no Supremo mais tempo para analisar a ques- um processo contra uma conces-
Tribunal Federal – a 5766, apresen- tão. Até 22 de junho não havia data sionária de caminhões no Mato
tada pela Procuradoria-Geral da marcada para a ADI voltar à pauta Grosso, pedindo uma indenização
República, e as outras duas (5867 do Supremo. Já em 21/6, o Pleno milionária. Entre outras alega-
e 5870) apresentadas pela Associa- do Tribunal Superior do Trabalho ções, citava o cancelamento de
ção Nacional dos Magistrados da (TST) firmou entendimento de que uma viagem prometida pela con-
Justiça do Trabalho (Anamatra). empregados derrotados na Justiça cessionária como prêmio para os
A única que está sendo analisada do Trabalho só terão de pagar as melhores funcionários. Perdeu a
até agora é a ADI 5766, a da gra- custas do processo se as ações co- ação e foi condenado a pagar R$
tuidade. A votação teve inicio em meçaram a tramitar após a refor- 750 mil em honorários para o ad-
maio. O primeiro a se pronunciar foi ma entrar em vigor. vogado do ex-empregador.
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MOBILIZAÇÃO É RESPOSTA
DOS SINDICATOS À CRISE
O s primeiros sete meses
de vigência da reforma
trabalhista foram mar-
cados por uma intensa mobili-
milhões, 90% menos em compa-
ração com o mesmo mês do ano
passado. Isso levou diversas en-
tidades a fazer cortes drásticos,
líbrio entre receitas e despesas,
mas não é nada fácil”, disse ao
jornal O Estado de S. Paulo Ge-
nival Leite, presidente do Sindi-
zaçãode todo o mundo sindical, como demissão de funcionários, cato dos Empregados em Em-
gravemente ferido pelo fim da fechamento de escritórios, venda presas de Prestação de Serviços
obrigatoriedade da contribuição de bens e aluguel de imóveis pró- a Terceiros (Sindeepres), que
sindical – de longe a mais impor- prios, entre outras medidas. fechou três dos catorze andares
tante fonte de receita da maior “A reforma trabalhista pegou da sua sede, no centro de São
parte das agremiações. Em mais todo mundo de surpresa. No ano Paulo. Eles serão alugados ou
de meio ano, os efeitos foram de- passado, recebemos R$ 6,7 mi- vendidos. Ao mesmo tempo, os
vastadores. lhões de contribuição. Este ano, sindicatos arregaçaram as man-
Segundo dados do próprio Minis- esse valor passou para R$ 1,2 gas e saíram em busca de novos
tério do Trabalho, a arrecadação milhão, pois poucos trabalhado- associados, que estivessem dis-
dos sindicatos caiu 88%. Somen- res contribuíram. Ainda assim, postos a se sindicalizar e contri-
te em abril, o valor foi de R$ 102,5 conseguimos chegar a um equi- buir voluntariamente.
Giro Sindical
Força Sindical
Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de
São Paulo e Mogi das Cruzes e da CNTM (Confederação Na-
cional dos Trabalhadores Metalúrgicos), que exercia o car-
go de vice-presidente da Força Sindical, assumiu em 5 de
junho de 2018 a presidência da central. Paulo Pereira da
Silva, o Paulinho da Força, licenciou-se para dedicar-
-se às atividades partidárias e à campanha eleitoral
de 2018. A indicação de Miguel Torres foi aprovada
por unanimidade.
Desemprego Desalento
A taxa de desemprego ficou em Esse é o termo usado pelo IBGE para classifi-
12,9% no trimestre encerrado car pessoas que desistiram de procurar tra-
em abril, ante os 13,1% do tri- balho, porque não encontram vaga
mestre terminado em março e ou não têm qualificação. Esse
os 12,2% no trimestre móvel até grupo bateu recorde no 1º tri-
janeiro. A taxa de 12,9% equiva- mestre e chegou a 4,6 milhões
le a 13,413 milhões de deso- de brasileiros. Eles se somam
cupados, revelando demora na aos desempregados – que conti-
recuperação do mercado de nuam a procurar vaga – e aos que
trabalho. Em um trimestre, o querem trabalhar mais. Resultado:
total de brasileiros ocupados falta emprego para 27,7 milhões de
caiu 1,1%, o que significa pessoas. A falta de confiança dos
que 969 mil trabalhadores empresários para investir e gerar
perderam o emprego nesse emprego explica os números desa-
período. Os números foram nimadores. É o reflexo de uma eco-
divulgados pelo IBGE em 29 de nomia que se recupera em ritmo mais
maio. (Fonte: O Estado de S.Paulo) lento do que o esperado. (Fonte: O Globo)
Giro Sindical
“Lista suja”
O governo brasileiro terá até o mês de novembro para
encaminhar à Comissão de Peritos da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) explicações sobre a
reforma trabalhista, respondendo à denúncia de que
a Lei 13.467/2017 fere a Convenção 98, que trata do
direito de negociação coletiva e de organização sin-
dical dos trabalhadores. A diretriz consta do relatório
da Comissão, divulgado em 7 de junho, na 107ª Con-
ferência Internacional do Trabalho, em Genebra. Pela
conclusão dos peritos, o Brasil permanece na “lista suja”
dos 24 países que afrontam as normas trabalhistas internacio-
nais, ao lado de nações como Bali, Guatemala e Bangladesh. (Fonte: Anamatra)
Fiscalização 1 Fiscalização 2
O ministro do Trabalho, Helton Yomura, participou no fi- As ações de Inspeção do Trabalho no Brasil alcança-
nal de maio na sede do TRT da 2ª Região, em São Paulo, ram, nos últimos 12 meses, 29.116.685 trabalhado-
da entrega de 145 veículos novos ao Ministério do Tra- res, identificaram 179.800 irregularidade em Saúde
balho. Serão usados para reforço das ações de fiscali- e Segurança no Trabalho e inseriram 151.848 apren-
zação das 27 superintendências regionais. A aquisição dizes e pessoas com deficiência (PcDs). Além das
dos automóveis veio de acordo entre o TST, MPT e MTE. inspeções, os auditores-fiscais atuaram no combate
Possibilitou o uso de R$ 8,8 milhões oriundos de autua- ao trabalho escravo, que, em 2017, possibilitou o res-
ção em uma rede de supermercado no Estado. Com os gate de 556 trabalhadores em condições análogas à
recursos foram adquiridos 105 veículos Etios Hatch e de escravo. Com as ações, 797 trabalhadores foram
40 Corolas Gli Upper da fabricante Toyota. formalizados.
Mundo Sindical
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Giro Sindical
Cidadania
Em reunião realizada em 20/6, na sede do
Conselho Federal de Engenharia e Agrono-
mia (Confea), em São Paulo, o Comitê Na-
cional do Movimento de Combate à Corrup-
ção Eleitoral (MCCE) debateu as eleições de
outubro e mecanismos de monitoramento
dos gastos de dinheiro público pelos parti-
dos. No encontro, com a presença da vice-
-presidente da Anamatra, Noemia Porto, os participantes destacaram a importância das
prestações de contas auditadas e transparentes. No que se refere às disputas políticas,
debateu-se o desequilíbrio que notícias falsas podem trazer, impossibilitando um debate
consciente e honesto sobre “as propostas de candidatos e de partidos sobre temas que
interferem na cidadania, inclusive a cidadania para o trabalho”.
Homenagem Motofrete
Pelo 3º ano consecutivo, a Assembleia Legislativa de Empresas de aplicativos no mo-
SP homenageou em 15/7 trabalhadores da categoria tofrete ainda incentivam moto-
química. A iniciativa foi do deputado Fernando Teixeira ciclistas profissionais a aumen-
Ferreira (PT-SP), autor da Lei 16.364/2017, que institui tarem a velocidade para ganhar
o Dia Estadual do Trabalhador da Indústria Química prêmios, o que é proibido pela
em 21 de julho. Os homenageados deste ano foram os Lei Federal 12.436. Para ser pre- miado, o mo-
presidentes do Sindicato dos Químicos do ABC, Rai- tociclista precisa fazer diversas entregas, acelerar
mundo Suzart, e da Assoc. dos Aposentados e Pen- mais, mesmo em dias de chuva. A lei é clara, mas
sionistas Químicos do ABC, Milton Nunes de Brito; e as empresas insistem em desobedecer e colocar
o ex-integrante em risco a integridade física dos profissionais. Exis-
da Comissão de tem motofretistas que, ao se acidentarem, foram
Fábrica da BASF abandonados e sequer tiveram assistência. O Arti-
Demarchi, José go 2º da referida lei estipula ao empregador ou ao
Cícero da Silva tomador de serviço multa de até R$ 3.000,00 pela
(in memoriam). infração. (Fonte: SindimotoSP)
ANO 4 • JUL.18
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