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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA

ESCOLA DE CIÊNCIAS DA VIDA

CURSO DE PSICOLOGIA

DISCIPLINA DE PSICOLOGIA JURÍDICA

Ana Luiza Farias Ferreira

Jussara Aparecida dos Santos

Maressa Saldanha

Mariellem Marchiolli

SÍNTESE: JUSTIÇA RESTAURATIVA: A OPORTUNIDADE DE UMA JUSTIÇA


PARTICIPATIVA E TRANSFORMADORA

Curitiba

2018
O Direito trabalha com três modalidades de operação: Justiças
Distributivas, Retributivas e Restaurativas. Dessa forma, é possível que o
aparato jurídico acompanhe as necessidades da população, com o objetivo de
atendê-las da melhor forma possível. O conceito de justiça nunca foi um
consenso, sendo trabalhado sob diversos pontos de vista desde a antiguidade
até a atualidade. Um jurista romano, Ulpiano, afirma que “a justiça é a vontade
constante e perpétua de dar a cada um o que é seu”, o que permite o
relacionamento em comunidade. Portanto, diferentes modalidades sugiram
para que essas demandas pudessem ser atendidas.
A justiça distributiva foi utilizada na Grécia Antiga, quando as honras
obtidas por um cidadão eram distribuída entre todos da comunidade,
considerando todos como iguais. O infrator seria o problemático que precisa de
auxílio, cuja culpa pelo ato não é totalmente sua. Nesse caso, a vítima não é
considerada como uma preocupação para o direito. O objetivo é a adaptação
do infrator à sociedade.
A justiça retributiva considera que as coisas deveriam ser igualadas,
sem que os sujeitos sejam necessariamente considerados em uma relação
igualitária. É oposta à justiça distributiva, com caráter objetivo na medição dos
danos e na punição necessária, que devem ser proporcionais. Para essa
modalidade, a vítima e a sociedade se beneficiam da punição do infrator, que a
merece por preferir cometer uma infração.
A justiça restaurativa visa à resolução de algum conflito entre ambas as
partes, a vítima e o autor do delito. Para a justiça restaurativa, o objetivo não é
penalizar o autor do crime ou infração, e sim corrigir a injustiça cometida. Ela
age por meio da reintegração social, e permite que a vítima possa ser restituída
de alguma forma pelo dano causado. Além disso, para essa modalidade de
justiça, é necessário que o infrator perceba e compreenda o dano que seu ato
provocou, reabilitando-o dessa maneira.
Ao contrário de outras práticas de justiça, que esperam a obtenção de
prazer e dor para a vítima e o condenado, respectivamente, em dissociação
com o sistema social, a justiça restaurativa busca fazer correspondência entre
o pronunciamento judicial e o sentimento de justiça. Assim, uma nova visão de
crime é desenvolvida, em que o infrator é responsável por seu ato e deve
reparar o que fez, com a colaboração da vítima para que a reparação aconteça.
Essa forma de resolução de conflitos teve origem nas tribos indígenas, e
no fim da década de 1980 foi implantada na Nova Zelândia em casos de atos
infracionais de adolescentes. Nos anos seguintes, outros países do Ocidente
começaram um movimento nesta direção, e em 2002 a prática foi
recomendada pela ONU.
No Brasil, a justiça restaurativa começou a ser implementada em 1998,
pois o sistema em vigor não se mostrava eficaz no controle de criminalidade.
Desde então, diversos projetos em diferentes cidades brasileiras têm sido
implantados, derivados do projeto Promovendo Práticas Restaurativas no
Sistema de Justiça Brasileiro.
Sob o olhar da justiça restaurativa, a questão que deveria guiar o
processo é: o que podemos fazer para corrigir a situação? A situação não
deveria apenas ser retribuída, sequer restituída, mas transformada. Assim, o
arrependimento do infrator pode ser reconhecido, assim como a possibilidade
de reabilitação, que recentemente tem surgido como um aspecto importante na
visão das vítimas. Mesmo que a justiça restaurativa não possa ser aplicada a
todos os casos, ela deveria ser considerada como alternativa em alguns casos
onde ela seja possível.
O modelo restaurativo proporciona o diálogo entre as partes, dando a
oportunidade de ambas entenderem uma a outra. Assim, contribui para que os
indivíduos se responsabilizem por seus conflitos e aprendam a pacificá-los
quando isso for viável. Os valores da justiça restaurativa (participação, respeito,
honestidade, humildade, interconexão, responsabilidade, empoderamento e
esperança) levam ao círculo restaurativo.
O processo restaurativo deve ocorrer de forma consensual, em que
ambas as partes concordem com essa forma de resolução de conflito. No
círculo restaurativo, as partes se encontram, com um mediador para facilitar o
diálogo, para que soluções para o problema possam ser construídas em um
ambiente seguro. Seu objetivo é responsabilizar as partes, e prevenir futuros
conflitos.
No caso prático apresentado pelo artigo, se relata uma situação onde
uma menina que ao sofrer bullying na escola, agride violentamente o colega
que a apelida de forma pejorativa, correndo o risco de ser processada pela
agressão, e passar por uma revitimização secundária. Para o autor, a Justiça
Restaurativa, nesse e em outros casos tem consequências positivas como
promover o entendimento das causas, e evitar recaídas em situações
semelhantes, lidar diretamente com o dano, aproximar vítimas e ofensores
possibilitando que relações sejam restauradas e construídas, evita a
jurisdicionalização, promove envolvimento da família e agentes públicos, além
de romper com ciclos de violência
O estudo conclui que a Justiça Restaurativa, ao contrário da Justiça
Retribuitiva, permite que ocorra uma relação entre a sentença judicial e o
sentimento de justiça em só dos envolvidos. Essa forma de justiça criaria ainda
oportunidades para que os envolvidos entendam qual a causa do conflito,
promove a inclusão e a responsabilidade social, tornando os sujeitos
responsáveis ativos nesse processo. Ao promover valores como “participação,
respeito, honestidade, humildade, interconexão, responsabilidade,
empoderamento e esperança a justiça restaurativa rompe ciclo de violência,
restaura laços sociais, compensa danos e gera compromissos futuros.
O autor finaliza afirmando que a Justiça restaurativa deve ser
desenvolvida como um sistema paralelo, sendo não somente uma alternativa
às varas cíveis e criminais, mas também uma forma de lutar contra a ineficácia
dos processos judiciais que julgam grandes quantidades sem qualidade.

REFERÊNCIAS

BELLEGARDE, M. T.; CAMILO, C. E. N. Justiça Restaurativa: A oportunidade


de uma justiça participativa e transformadora. VII Jornada de Iniciação
Científica. Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2011.

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