Você está na página 1de 22
‘mundo modemo. As propostas inovadoras de territério e de dester~ ritorializagso na filosofia de Deleuze e Guattari, apesar das restri- ‘ges que fazemos & sua fundamentagZo pés-estruturalista e as vezes excessiva abrangéncia de suas conceituagdes, podem trazer algumas pistas para a articulagao dessas novas leituras. 3= Territério e Desterritorializagao em Deleuze e Guattari! (..) construimos um conceito de que gosto mui ritorializay barbara para dar conta de uma nogéo com preten: odedester- (..) precisamos as vezes inventar uma palavra A nogao com pretensdo nova é que ndo hd territério sem um vetor de saida do territério, e ndo hd saida do territério, ow smo tempo, um esforgo “ar em outra parte. ‘abécédaire de Gilles Deleuze”, filmado em 1988 por Claire Parnet,) lar em desterritorializagdo leva obrigatoriamente & obra dos filésofos franceses Gilles Deleuze e Félix Guattari Como afirma Deleuze nesta citagio introduté: alavra bérbal cesso com “pretensio nova”, a entrada e saida do territério, Embora tenhamos diividas se foram eles, efetivamente, o: eles pre- para identifiear um pro~ agradeso a imprescinelvel cantribuigto, So & es" do termo, é ato que a maior énfase ao territério como pro- ssfazer-se, foi dada pot sear paternidades, mas de reco- we e Guattari sentido onto-epistemo- no os princips anos 1970, até a vasta concepsio natural, sociolégica e filosética de terrtérioem Mil Platés © O que Ba Filosofia, nos anos 1980-0. # necessério destacar a forte vineulaglo da obra dos autores coma Geografia, pineipalmente (mas néo apenas) através do con- ceito de desterstorializagaot, Devemos antes de tudo pensar a ter- nitoializagio e a desterritorializagso como processos concomitan= "tes, fundamentais para compreender as préticas humanas. Nao sio Jeuze e Guattari esto entre os grandes “teéricos europeus pos (p. 86). Embors ogo, desterti- ca do pen uum processo de 1a de um territério at sae politica obras O Anti /dj; publicagao original: 1972), Dialo is (Deleuze e Guat: lizagbes na 2 Deleuze, em poucos, contudo, os mal-entendidos na tradugdo dos sentidos em que a expressao é utilizada. Nosso objetivo primeiro 6, assim, elu- cidar um pouco mais a concepedo de des-re-territorializagio tal es do grande potencial que ela nos reserva para novas exploragdes no campo da Geografia. O caminho que iremos trilhar para o entendimento desta noo passa primel- ro por uma breve abordagem da filosofia deleuze-guattariana em sua relagiio com a Geogra ¢, enfim, pela concepydo de desterritorializagao propriamente dita (Canto em seu sentido absoluto quanto relativo). como eles nos apresentam, segue depois pela nogio de territério, 3.1. Conceitos para a Geografia? A relagio entre Deleuze-Guattari e a Geografia pode ser vista em duas perspectivas: a primeira, através da presenga de questdes cu de uma abordagem geografica na sua propria obra, mesmo que sem alusdes explicitas ao discurso dos gedgrafos; a segunda, pelo discurso geogréfico que faz uso da filosofia de Deleuze e Guattari. * Comeparemos pela segunda abordagem: 0 olhar geografico sobre a obra destes autores. Cabe lembrar, de saida, 0 quanto é didlogo da Geografia com a obra destes f tura anglo-saxOnica, que é fundamentalmente onde eles se encon- fos. Mesmo na litera~ tram presentes, 0 dicionario de maior referéncia (Johnston et al., 196, especialmente as pp. 301-308). ir 2000) e trabalhos mareantes, tides por seus autores como parti Thando um pensamento “pés-moderno”, em especial os de Harve (1992{1989}) e Soja (1993{1989)), trazem uma leitura de autore: pés-estruturalistas, como Foucault, e destacam sua contribuigi: para o didlogo com a Geografia, mas pouca ou nenhuma referéneit fazem as obras de Deleuze e Guattari, Apenas O Anti-Edipo é cits do por Harvey e nenhuma citagao dos autores ¢ feita por Soja®. (© mesmo crivo dialético histérico-materialista com que & autores leram Foucault poderia, com as reconhecidas limitagoe: ser utilizado para a leitura de Deleuze e Guattari. Apesar da sérias divergéncias com o materialismo dialético, é possvel traga varios pontos de’conexdo entre o marxismo e 0 chamado pés estruturalismo, Para Hardt (1993), por exemplo, o pés-estruture lismo no deve ser avaliado pelas oposigdes que cria, pois o que e propée so “nuangas e alternativas”, sendo da sua natureza nos colocar em oposigao binéria ou contraditéria com outras formas pensamento, ‘Uma das melhores revelagdes da profunda perspectiva socie critica de Félix Guattari encontra-se no intenso didlogo travad como Partido dos Trabalhadores brasileiro, reproduzido princips ‘mente na obra escrita com Suely Rolnik nos anos 1980 (Guattari ‘Th tinea referéncia a Deleuze e Guattari nesse diciondrio ocorre no vert: te “rizoma”, escrito por Nigel Thrift. Gostariamos de ressaltar que, dil rentemente, 0 dicionario francés de Geografia Dictionnaire de 1a Géogr troduziu os verbetes “Deleu: (de nossa autoria), phie et de Vespace (Lévy e Lussault, 2003) pontuais a Deleuze e res, ora em citagdes répidas, com destaque aper) para esta, reproduzida de forma idéntica nas duas obras: “Henri Lefebr ssugere que o poder sobrevive pela produgio do espaco; Michel Foucat ssugere que o poder sobrevive pelo espago disciplinar, Gilles Deleuze e Fa ‘Guattari sugerem que, para reproduzir 0 controle social, o Estado de reproduzir o controle espacial. O queeu espero sugerir € que o expag0' ‘corpo humano ¢ talvez 0 local maiseritico para observar a produgéc reprodugio do poder” (1996:114 e 2000:361) Hm & Rolnik, 1986), bem como em sua obra Revoluedo Molecular: Pulsa- icas do Desejo (Guattari, 1987). Apesar de ter uma pers- ante critica em relagdo a Deleuze, Jameson (1999) é entético no reconhecimento de suas ligagSes com 0 marxismo: Penso que Deleuze esté sozinho entre os grandes pensadores do ‘assim chamado pés-estruturalismo, tendo concedido a Marx um Papel absolutamente fundamental na sua filosofia — ao desco- brir neste encontro com Marz o evento mais energizante de seus tiltimos trabathos (p. 15). Para Patton (2000), “embora eles néio fossem marxistas em nenhum sentido doutrinal, uma temética anticapitalista impregna todas os seus escritos(..). Deleuze afirma sua simpatia por Marx e descreve o capitalismo como um fantastico sistema de fabricagio de grande riqueza e de grande sofrimento” (p, 6). Esta ligagio com ‘omarxismo fica clara nas préprias palavras de Deleuze: Creio que Félix Guattari e eu, talvez de maneiras diferentes, continuamos ambos marzistas. E que ndo acreditamos numa filosofia politica que ndo seja centrada na andlise do capitalis- ‘mo e de seu desenvolvimento. O que mais nos interessa em Marz é a anilise do capitalismo como sistema imanente que ndo para de expandir seus préprios limites, reencontrando-os sempre numa escala ampliada, porque o limite é 0 préprio. Capitat (Deleuze, 1992:212), Embora autores como Antonio Negri proponham uma “reno- vacio” do marxismo a partir da filosofia de Deleuze e Guattari, Patton destaca suas profundas divergéncias: Apesar de sua adogao de aspectos da teoria social e econémica de Marz, existem pontos significativos nos quais Deleuze e Guattari abandonam as visdes marzistas tradicionais. Eles ‘rejeitam a filosofia marzista da histéria em favor de uma tipo- Hm B

Você também pode gostar