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Germinal

"Germinal" refere-se ao processo de gestação e maturação de movimentos


grevistas e de uma atitude mais ofensiva por parte dos trabalhadores das minas de
carvão do século XIX na França em relação à exploração de seus patrões; nesse período
alguns países passavam a integrar o seleto conjunto de nações industrializadas ao lado
da pioneira Inglaterra, entre os quais a França, palco das ações descritas no romance e
representadas no filme.
Vilipendiado, roubado, esgotado, trabalhando em condições totalmente
impróprias, inseguro, sujeito a acidentes que podem ceifar-lhe a vida ou decepar-lhe um
braço ou uma perna, assim nos é mostrado o proletariado francês nas telas. Inserido na
escuridão das minas de carvão, sujo, cumprindo jornadas de 14, 15 ou 16 horas,
recebendo salários baixíssimos e tendo que ver sua família toda se encaminhar para o
mesmo tipo de trabalho e péssimas condições, pouco resta aos trabalhadores senão a
luta contra aqueles que os oprimem.
A obra literária é do período que marca o surgimento da Internacional
Comunista, por isso há menções a Marx e Engels e também ao anarquismo (um dos
personagens centrais da trama assume o discurso dos pensadores que propuseram o
anarquismo até as últimas conseqüências, mesmo tendo em vista as desgraças que isso
poderia causar naquele contexto específico). Um trabalho paralelo envolvendo a leitura
de trechos selecionados do livro sendo monitorado pelos professores da área de
literatura, acompanhado por uma passagem em filosofia pelas obras dos intelectuais que
abordaram os temas das lutas de classes e uma elucidativa aula sobre as condições em
que se desenvolveu o movimento trabalhista ao longo do século XIX na Europa por
parte do professor de história fariam com que a compreensão do filme e,
conseqüentemente, do fenômeno da confrontação entre patrões e empregados fosse
melhor assimilada pelos estudantes.
A história do filme gira em torno de uma família, que se encontra nas
mencionadas condições de miséria e penúria listadas nos parágrafos anteriores, o chefe
dessa família, vivido pelo grandalhão Gerárd Depárdieu (considerado um dos melhores
atores franceses de todos os tempos, que também trabalhou em outros importantes
filmes com temática histórica como "Danton - o processo da revolução" e "1492 - A
Conquista do Paraíso") se vê então obrigado a tomar providências e para isso é
estimulado pela chegada de um novo operário, que já possui vivência em termos de
criação e fomentação de movimentos reivindicatórios. O primeiro passo dessa dupla
passa a ser, então, criar condições de sobrevivência para os trabalhadores tendo-se em
vista que uma greve poderia se prolongar por um longo período de tempo, por isso,
criam uma caixa de resistência, com a qual todos os operários deveriam contribuir. A
diminuição dos salários e o pouco caso dos patrões em relação à segurança e a saúde
dos trabalhadores aumenta ainda mais as tensões.
Paralelamente a história dos trabalhadores podemos acompanhar a burguesia e
seu cotidiano de brioches, grandes refeições, luxuosas residências e total descaso em
relação ao mundo que existe além dos seus portões. O contraste também é proposital,
tem por objetivo acirrar os ânimos de quem assiste e fazer com que as pessoas tomem
partido (obviamente dos trabalhadores), por isso, deve-se destacar quando se trabalhar
esse filme, a questão ideológica. Como obra que procurou ser fiel aos acontecimentos
do período em que foi escrita, a perspectiva para os operários não é das melhores.
Émile Zola
A vida

Émile Zola nasceu na capital francesa. Filho do engenheiro François Zola e sua
esposa Émilie Aubert, cresceu em Aix-en-Provence, onde estudou no Collège Bourbon
(atualmente conhecido como Collège Mignet) e, aos dezoito anos, retorna a Paris para
estudar no Lycée Saint-Louis. Devido às complicações financeiras por que passou após
a morte do pai, Zola é levado a trabalhar em uma série de escritórios, ocupando cargos
de pouca influência.
Inicia-se no ramo jornalístico escrevendo colunas para os jornais Cartier de
Villemessant's e Controversial. Suas colunas não poupavam críticas severas a Napoleão
III - (...) meu trabalho torna-se a imagem de um reinado partido, de um estranho período
de loucura e vergonha humanas - e à Igreja - A civilização jamais alcançará a perfeição
até que a última pedra da última igreja caia sobre o último padre.
A obra de caráter autobiográfico La Confession de Claude (1865), um dos
primeiros trabalhos publicados por Zola, atraiu atenção negativa da crítica
especializada. O ainda mais criticado Thérèse Raquin, romance lançado no ano
seguinte, apresentou uma abordagem inovadora em sua concepção: inspirado pelos
estudos científicos da época, Zola propõe não um simples romance, mas uma análise
científica pormenorizada do ser humano, da moral e da sociedade. Thérèse Raquin
tornou-se, portanto, marco inicial de um novo movimento literário, oriundo da análise
científica e experimental do ser humano: o Naturalismo.
Em vida, Zola também demonstrou elevado engajamento político. Certamente,
seu trabalho de maior influência política foi a carta aberta intitulada J'acccuse (Acuso),
destinada ao então-presidente da França Félix Faure. A carta, publicada na primeira
página do jornal parisiense L'Aurore em 13 de janeiro de 1898, acusou o governo
francês de anti-semitismo por julgar e condenar precipitadamente o capitão Alfred
Dreyfus, judeu e oficial do exército francês, por traição em 1894.
Émile Zola faleceu em 29 de setembro de 1902 em sua casa em Paris devido à
inalação de uma quantidade letal de monóxido de carbono proveniente de uma lareira
defeituosa; alguns estudiosos, em razão das misteriosas circunstâncias do ocorrido, não
descartam a hipótese de homicídio.

A obra

Émile Zola foi o idealizador e principal expoente do naturalismo na literatura.


Seu texto conhecido como O romance experimental (1880) é o manifesto literário do
movimento.
Thérèse Raquin, seu primeiro romance com larga repercussão, apresenta
inúmeras inovações que permitem classificá-lo como primeira obra naturalista. Pela
primeira vez, Zola combina algumas das teorias mais polêmicas de sua época, tais como
darwinismo, evolucionismo e determinismo científico, compondo o primeiro romance
de tese já escrito ("um grande estudo fisiológico e psicológico", segundo ele próprio).
Inspirado pela colossal obra A Comédia Humana (constituída por 89 romances,
novelas e contos) de Honoré de Balzac, um dos mestres da literatura francesa, Zola
iniciou, em 1871, seu grande projeto: a série Os Rougon-Macquart (Les Rougon-
Macquart) à qual deu o subtítulo de história natural e social de uma família sob o
segundo império, composta por 20 romances de cunho naturalista, escritas entre 1871 e
1893. No prefácio de A Fortuna dos Rougon (La Fortune des Rougon, 1871), primeiro
volume da saga dos Rougon-Macquart, Zola justifica:
Eu desejo explicar como uma família [os Rougon-Macquart], um grupo reduzido
de seres humanos, conduz a si mesma dentro de um determinado sistema social (...)
dando origem a dez ou vinte membros, que, embora possam parecer, à primeira vista,
profundamente divergentes uns dos outros, são, como a análise demonstra, mais
intimamente ligados por meio da afinidade. Hereditariedade, como a gravidade, tem
suas leis.
Entre os principais romances de Os Rougon-Macquart estão: O Ventre de Paris
(Le Ventre de Paris, 1873), A Terra (La Terre, 1887), Nana (1880) e Germinal (1885).
Em sua obra (especialmente em Rougon-Macquart), Zola tentou empregar o método
científico vigente em seu tempo, apresentando a influência da hereditariedade e do meio
na formação da personalidade individual (determinismo científico). Tal rigor científico
aliado a sua habilidade de criar textos documentais, confere veracidade a seus romances.
Zola escreveu uma segunda série intitulada As três cidades, sobre problemas religiosos
e sociais. Atraído pelas teorias socialistas e depois evoluindo para uma visão messiânica
do destino humano, escreveu uma terceira série, Os quatro evangelhos, que ficou
incompleta, com a sua morte.
Apesar da qualidade literária de seus escritos e de sua obstinação, nunca integrou
a Academia Francesa de Letras. Sua candidatura foi apresentada 24 vezes.

Germinal

Amplamente considerada a obra máxima de Émile Zola, Germinal (1885) elevou


a estética e a descrição naturalistas a um novo patamar de realismo e crueza. O romance
é minucioso ao descrever as condições de vida subumanas de uma comunidade de
trabalhadores de uma mina de carvão na França. Após ter contato com idéias socialistas
que circulavam pela classe operária européia, os mineradores retratados na obra
revoltam-se contra a opressão e organizam uma greve geral, exigindo condições de vida
e trabalho mais favoráveis. A manifestação é reprimida e neutralizada, entretanto
permanece viva a esperança de luta e conquista.
Para compor Germinal, o autor passou dois meses trabalhando como mineiro na
extração de carvão. Viveu com os mineiros, comeu e bebeu nas mesmas tavernas para
se familiarizar com o meio. Sentiu na carne o trabalho sacrificado, a dificuldade em
empurrar um vagonete cheio de carvão, o problema do calor e a umidade dentro da
mina, o trabalho insano que era necessário para escavar o carvão, a promiscuidade das
moradias, o baixo salário e a fome. Além do mais, acompanhou de perto a greve dos
mineiros.

J'accuse (Acuso)
J'accuse, famoso artigo escrito por Émile Zola
Em 1898, Zola tomou parte no aceso debate público relativo ao caso Dreyfus,
publicando artigos em jornais e revistas onde tornou claro aquilo que mais tarde se viria
a provar definitivamente: a inocência de Dreyfus. O seu famoso artigo J'accuse (Acuso),
com o subtítulo Carta a Félix Faure, Presidente da República, publicado no jornal
literário L'Aurore, era tão incisivo que levou à revisão do processo, dando uma nova
dinâmica ao processo que terminaria anos depois do assassinato de Zola, com a
reabilitação do oficial Alfred Dreyfus em 1906, injustamente acusado de traição.
Após a publicação de J'accuse, Zola foi processado por difamação e condenado a
um ano de prisão. Ao saber da condenação, Zola partiu para o exílio na Inglaterra. Após
o seu regresso, quando já não corria o risco de ser preso dada a evolução positiva do
processo, publicou, no "La Vérité en marche", vários artigos sobre o caso.
Zola também tentou difamar as aparições da Virgem Maria em Lourdes. Mas
chegando a Lourdes em 1892, assistiu a duas curas instantâneas, que relatará em sua
novela, intitulada «Lourdes», sustentando, contudo, que «as duas pessoas que
experimentaram o milagre morreram pouco depois e que, portanto, a suposta cura teria
sido breve e sobretudo ilusória». Porém, uma das duas mulheres curadas não se rendeu
e continuou protestando nos jornais, dizendo que estava tão viva e saudável como o
autor.
A 29 de Setembro de 1902, morreu misteriosamente em seu apartamento da rue
de Bruxelles. A causa da morte: inalação de uma quantidade letal de monóxido de
carbono proveniente de uma chaminé defeituosa. Muitos estudiosos não descartam a
possibilidade de Zola ter sido assassinado por inimigos políticos, entretanto, nada foi
provado.
Foi enterrado no cemitério de Montmartre em Paris. As suas cinzas foram
transferidas para o Panthéon a 4 de Junho de 1908, dois anos depois de Dreyfus ter sido
reabilitado. No trajeto, um fanático nacionalista e anti-semita, Gregori, dispara contra o
comandante Alfred Dreyfus e o fere no braço.

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