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GRAMMATICA
COMPILADO POR
JO-A-O PLIBEIR.O
3? edição
Inteiramente refundida e muito augraeiitada
DA EDIÇÃO
«
4
ABRANDAMENTO — ACADEMIA
do abrandamento do c e </ antes Ab.s,olllto.— Vide AUativo e
doe, 2, jií se notava no latim da Grão. É tiimbem epitheto que se
edade média : cruce e crusse ; no tem dado ao verbo ser e até aos
latim clássico aprosodia era ave- intransitivos (como dormir, mor-
riguadamente eruke; do valor rer, etc.). Quando se consideram
forte do e temos um exemplo em tempos e modos verbaes, absoluto
calandra, n/Undrum (kilindrum). é opposto a relativo ou condi-
Pelo abrandamento etfectuado cional.
no latim barbaro e decadente Absoluto (ablativo). — Lo-
explicam-se as transformações cução tomada da syntaxe latina
do e em ch, x (murcho, de inur- e que foi durante muito tempo
cidus), doe em z (dez. de decem), applicada aos adjunctos adver-
• etc. A i'ocaíi««cãtf (Vide esta pa- blaes constituídos por um par-
lavra) pode ser considerada a ticipio dopreterito, v.gr.: Accla-
foi-mamais intensa do abranda- mado imperador. Augusto começou
mento. A consoante dissolve-se a estabelecer a paz,
em vogai : couce, calcem. || O
abrandamento, como os demais Abstraeto (substantivo).—O
X)henomenos de decomposição que representa ser não existente
lilionetica, refere-se á lei geral materialmente: gloria, desejo.
denominada: lei domenor esforço, (Verbo). Applicado exclusiva-
principio que foi a base de todas mente ao verbo ser: verbo sub-
' !is investigações da pliilologia stantivo, abstraeto, existencial,
moderna. O organismo i)rocurou etc. |j As palavras que se tornam
sempre reduzir todos os proces- substanticadas valem por nomes
sos de actividade humana ao es- abstractos : o mo-rrer, o amanhã.
íorço minimo possível ; é essa Academia.—Nome, em espe-
« 'preguiça ou economia das forças cial, consagrado a sociedades li-
naturaes o agente das múltiplas terárias escientificas que, quando
modificações na linguagem. Por selectas e importantes, dão aucto-
motivo idêntico, c natural que ridade ds suas opiniões. «Em
da mesma forma qne os sons ex- Portugal têm-se tornado mais
perimentaram mudanças quanto dlstinctas por seus traballios
á qualidade, também as solfres- literários — a Academia Ileal
sem quanto lí intensidade ; é,pois, da Historia Portugueza, a Arca-
probabilissimo que primitiva- dia Vlysnponense, a Academia
mente os homens falassem mais Ileal das Sciencias e a iVwra Arca-
alto emais forte do que actual- dia ou Acauemia de Bellas Letras.
mente; a principio, o vocábulo Antes d'estas houve muitas ou-
deveria ser intensivo, como ain- tras — a dos Ge?ierosos,
da o é o grito e o são todas as fundada no reinado de D.
manifestações de voz dos ani- João IV; contava em IGGl, 40
maes inferiores, e dos proprios membros. Esta academia teve
selvagens que não sabem con- por seu fundador D. Antonio
versar em segredo. Alvares da Cunha. Academia do»
5
ACADEMIA - ACCENTO
Singulares, contava 27 socios em leira, fundada em 1890, sob o
1003 ; pai-ece fôra, seu luiidadot modelo dii Academia 1'ranceza.
Pedro Duarte Ferrão; terminou DVlia fazem parte os nossos
em 1005. Academia dm Con- mais notáveis escriiitores.
ferências Discretas e JCriulitas,
que vinha a ser a dos Generosos Accento.— Convém distin-
i-enovada; a InstanUtM/i, a dos guir o accento oi\ accentuaçuo tô-
Solitários, a dos Ocrultos, a dos nica dos accentosgrapIncos,com-
Anonyrms,-^. dos Applicados ; uma mummente denominados e com-
alluvião em summa de írivolas prehendidos sob o titulo geral
academias que inundava o paiis, de notações lexicas(VideA7itof .
resultado da educação pedante (■ O accento consiste na elevação
do estado de atrazo em que es- ou intensidade maior na pro-
tavam as sciencias na Peninsula, nuncia de uma syllaba nas pa-
até á fundação da Academia Real lavras. A syllaba que recebe o
da Historia Portugueza, fundada accento, diz-se accentuada, tô-
pelo conde da Ericeira o decla- nica ou predominante. As syl-
rflda official em 1720. A Arcadia labas ou sons que não recebem
Ulyssiponense foi inaugurada em o accento, dizem-se atonos. Ua
1750 e findou em 1770 pela dis- mesma sorte que na lingua gre-
persão de muitos dos seus socios. ga, o accento pode ter tres po-
Cada um d'elles adoptára um sições diversas. I)'alii a classi-
nome de pastor ; assim ; Antonio ficação das palavras em oxytonas,
Diniz da Cruz e Silva foi Elpino paroxytonas e proparozytonas. As
Nonacriense; Pedro Antonio Cor- l)rimeiras têm o accento na ulti-
reia Garção, Corydon Erimatheo; ma syllaba, v. gr.: camarão, des-
Francisco José Freire, Cândido leal. As segundas têm o accento
Lusitano; Domingos dos Reis na penúltima; firmeza, delgado,
Quita, Alcino Micenio, etc. A livro. As terceiras têm o accento
Academia Real das Sciencias, fun- na ante-penultima : sympathico,
dada em 1780 pelo Conde de La- jHillido, delicia. A denominação
íões, e a que pertenceram muitas de harytonoH é api>licada aos vo-
notabilidades literarias e scien- cábulos das duas primeiras
tificas. A Nova Arcadia, a mesma classes sobreditas. As denomina-
Arcadia Ulyssiponense, procuran- ções antigas eram de agudas
do renascer em 17U0, celebrou as para as oxytonas ; graves para as
suas sessões com </ titulo de paroxytonas ; esdriuulas ou da-
Academia de Bellas Letras, mas ctylicas para as vozes proparoxy-
pouco viveu ;extinguiu-sediante tonas. II Muitas palavras ainda
das aggressões de Bocage.» No hoje são de accento incerto :
]5rasii colonial tivemos varias fdclope, e cictópe; «íbilo e siiilo ;
academias de existênciaprecaria, escapula e escapjíla e outras que
qiiasi todas dedicadas ao culto um uso mais freqüente não che-
das boas letras. Hoje, a de maior gou a fi.xar. || Os gregos sempre
auctoridade é a Academia lirasi- marcavam os accentos das pala-
G
ACCENTO ACCESSORIOS
vras. Os romanos, iiorém, parece tidade não representa o tom pro-
que nunca usaram signaes de s^odico ; apenas consigna o tempo
accentuação, senão em manu- gasto na pronuncia. Por isto, em
scriptos de luxo, que infeliz- relação á quantidade, as syllabas
mente se perderam. Nas vellias dividem-se em longas e breves
inscripçõesiatinas os signaes que C^xú^Quantidade). O accento pôde
por vezes occorrem, i:)arecem ser duplo, quando recae sobre
antes ornamento; no emianto, se duas syllabas de uma só palavra;
conliecemos a accentuação dos é o que se observa nos vocábulos
romanos, é porque conhecemos a compostos : pállidaménte, contra-
accentuação eólia, que seguia as corrênte. O accento também se
mesmas regras, e temos ainda as nota quando uma palavra é pro-
regras que se encontram em nunciada no meio da plirase com
Prisciano e Quintiliano. Na his- emphase e maior intensidade do
tória da língua portugueza ana- que as outras, o que é muito fre-
lysa-se a seguinte lei phonetica : qüente nos discursos e nos tre-
O accento latino foi conservado nas chos lidos ou declamados,princi-
palavras que passaram, para a palmente na poesia e eloquencia.
lingua portugueza. Exemplos : Neste caso o accento diz-se ora-
Arhorem, arvora ; rubius, ruivo ; cional. Por um gallioismo mo-
articulus, artelho ; decimus, di- dernamente usado, a palavra ac-
zimo ; eleemosyna, esmola; auri- cento também exprime a maneira
cula, orelha; potionem, peçonha: peculiar da prosodia provinciana
parabola, palavra; avuneulus,^^» ; ou estrangeira (Vide Sotaque).
acucula, agulha. Esta lei foi ob-
servada na maioria ou quasi to- Acces.sorios. — « As pala-
talidade do vocabulario, e é tão vras que servem de accessorios
importante que é notada com facilmente so resolvem em ora-
igual valor nas linguas romanas ções incidentes. Nos exemplos
que, como se sabe, se filiam ao seguintes se verifica esta regra :
latim. Comtudo, existem casos Lisboa, cidade de mármore e de
de palavras cujo accento foi des- granito, rainha do Oceano, tu és
viado sob o impulso de circum- a mais formosa entre as cidades
stancias e leis secundarias que do mundo. A brisa, que varre os
examinaremos ao tratarmos da teus outeiros, é pura como o céo
deslocação do accento. (Vide azul, que se espelha no teu am-
Desíocação). || No uso vulgar não plo porto, iíevielhante a um grande
é raro fazer-se confusão entre os mar.— A nação, esmagada pelos
dous conceitos de accento e quan- reis, tinha muito tempo gemido de-
tidade. A distincção theorica é bai.w da sua miséria. Nestes
apezar d'isto facil, pois que a exemplos se observa: 1? que os
quantidade não consiste na ele- accessorios vêm ordinariamente
vação do som, mas na demora separados por virgula; 2? que se
maior ou menor com que pro- collocam de modo que facilmen-
nunciamos as syllabas. A quan- te se percebe a que palavra se
7
ACCESSORIOS - - ACCIDENTE
appõem e por que relação; 3?que homem que é rico ;—o rico homem
podem servir de accessorios: — —significa o homem rico sobre
substantivos continuados ; ora- que versa a questão. O jwbre
ções incidentes, explicativas ou homem e o homem pohre apresen-
restrictivas; adjectivos qualifica- tam a mesma dilferença, mas lia
tivos; e participiüS que não con- casos em que pohre, collocado
stituam alfruma circumstancia antes do substantivo, toma uma
oracional; 4? que os accessorios outra significação, porque ha
podem ter complementos e estes adjectivos que mudam de signi-
ainda outros complementos; f)? ficação, conforme o logar que
finalmente que os accessorios do occupam na plirase ou no dis-
pronome tu se cliamnm—«ocíiíí- curso ; por exemplo: homem
vos—e são antecedidos da inter- grande, t. 6—cori^ulento, alto ;
jeiçãoó, clara ou occulta. Quan- grande honum — pelo caracter,
do o pronome est.í occulto, serve pelo gênio, pelas acções; mulher
a interjeição de dar a qualquer pohre — que não é rica; pohre
nome a determinação de 2Í pes- mulher — infeliz, digna de lasti-
soa, e por isso taes accessorios ma ; negocias certos — seguros,
sempre vêm unidos ao verbo na lucrativos : certos negocios — al-
2^^ pessoa, como neste exemplo: guns, uns tantos. Outros, sem
— Céos, ouvi nossos rogos— vale o mudar de accepção, têm uma
mesmo que dizer ;—ó céos, significação mais extensaoumais
ouvinossosrogos. Quando os acces- restricta, conforme precedem ou
sorios não vêm expressos por seguem o substantivo ; assim
orações incidentes, jiodem ser —os desgraçados habitantes d'a-
considerados como incidentes im- quella cidade—quer dizer que os
plícitas,. por isso que se podem taes habitantes são todos desgra-
resolver em orações do relativo çados, ou ao menos que os con-
que; exemplo: as ultimas laç/rimas sideram a todos como taes, em
do orcalho, pérolas congeladas quanto que—os habitantes desgra-
(incidente implicita), ou—que são çados — S() faz allusão áquelles
pérolas congeladas (incidente ex- que o são, sem dar a entender
plicita), tremiam seintillando nas que o sejam todos. Emfim ha
pontinhas das flor es. (Escoii. 17) adjectivos cuja collocação antes
ou depois do substantivo, é uma
Accideiitaes.— «Dizem- pura questão de gosto e de eu-
se as qualidades exjftessas pelos phonia, porque a significação do
adjectivos qualificativos e susce- substantivo não fica por isso
ptíveis de existirem ou não no diversamente modificada. Kão
objecto designado. Quando o qua- devemos esquecer que em poesia
lificativo é accidental, toma um são admittidas inversões que a
sentido geral ou particular,.con- prosa não pode tolerar». (Escoi^.
forme estiver collcicado antes ou ib.)
depois do substantivo; assim— o Accitlente.—Termo equiva-
homem rico — quer dizer todo o lente ao de jlexão, modernamen-
8
ACCIDENTE — ACCUSATIVO
te preferido áquolle pelos gram- da vogai final m do accusa-
maticos. V. Plexão. Os antigos tivo é normal, como a queda
grammalicos classificavam entre do « característico de grande
os aeeidentes das palavras os ca- numero de nominativos ; por
sos e as questões de significação, isso (í que vemos no latim bar-
coneordancia, referencia, espe- baro tllo, por illum; Antonio ou
cie e quantas ... Antoniu, por Antonius; o mesmo
ensurdecimento das letras fi-
Accxisativo.—Um dos cdsos naes se nota nos verbos e em to-
da declinação latina e um dos das as ilexões; fllaro, fllaru,
poucos que conservou a sua força fllamm e fllarunt, etc. D'ahi se
syntactica primitiva, na pas- infere com a maior plausibilida-
sagem do latim para o portuguez. de que a forma medieval servo-
O accusativo da flexíío latina não pode representar tanto o ablati-
foi no portuguez substituído vo originário nervo, como o acc.
pelo uso da preposição (1), como gerrum, em vista da degene-
seria natural pela queda das tie- ração freqüente das letras fi-
xôos e pelo desenvolvimento das naes, muito communsem lingua
locuções analyticas. Assim, em que nunca tinha o accento na
portugupz, o caso-objecto da ultima sjilaba. Só o exame de
mesma fôrma que o caso-sujeito uma circumstancia poderia re-
(nominativo) dispensam ouso de solver a indecisão, e seria pro-
partículas e determinam-se pelo curar demonstrar nos casos de
sentido ou pela collocação, ordi- imparisyllabismo, istoé, nas cir-
nariamente depois do verbo : cumstancias em que existe gran-
Cortaram os bateís a curta via de dilíerença extensiva entre o
Das aguas do Neptuno. acc. e o abi ativo, se o phenome-
Camões, Ims. I, 73. no se produz e de que modo. De
II Existe a opinião, que conta facto, se nos nomes não neutros
muitos adeptos, de que o caso a dilferença entre os dous casos
etj-mologico dos nomes portu- em questão é apenas de uma le-
gueses foi oahlativo. Parece antes tra (arborem e arhore), o mesmo
que íoi o accusativo o caso não se dá com os imparisyllabos
mais provável, segundo os do- neutros (teminix e tempore). Nes-
cumentos que os factos forne- tas ultimas occurrencias, sem-
cem a seu favor. Desde logo pre, a etymología do accusativo
convém estabelecer que a queda se torna irrsubstítuivel: tempo,
do acc. ; corpo, do acc.
(1) Excepcionalmente em uma eorpiií; lado, do iicc. latus;
oceurreiicia se emprega a preposi- peito, do acc. pectua. É evidente
ção: Pedro ama a Liiiza, em no- que peito, lado, tempo, não podem
mes jiroprios ou equivalentes e provir A&peetore, latere, tempore^
ainda em poucos casos em que o
verbo por idiotismo pede preposi- ablativos que no portuguez dei-
ção : começar de, pegar de, travar xariam forçosamente vestígios
tie, etc. do incremento, como" succede
9-
ACCUSATIVO - ADAPTAÇÃO
reg^ularmente quando os nomes tendencia, movimento paraqual-
não silo neutros : su-vore (ar- quer ponto. Ascender (subir
borem ou arhore), lehre (leptirevi para. . . ) ad-Tertir, ad-moentar.
ou lepore). |j Os vesti,iiios de Tem as assimilações seguintes:
formas acousativas do portu- ac — accesso, acolamação ; ad—
guez encontram-se ainda nos addicionar, additar : af—atllgu-
pronomes me, te, se, 110,1, vou, rar-se. afflrmar ; ay —aggravar
nos termos o, a (illum, am), al — allegar ; an — anniquilar;
accusativos de elle, ella (ille, usa-se em geral a orthographia
íWnj, usados com syntaxe latina, do 11 simples ; aniquilar; a^y—
quando tSm funcção de prono- appHcar, apparecer ; ar—arran-
mes : vi-a (viãiülam). Suppõem jar, arreceiar-se ; as— assentar,
alguns que lia vestigio da ftexão assistir ; at—attender, attraliir.
nidoaccusativo na nasalisação de ]l A orthographia contemporâ-
certas syllabas : pente {pecten), nea nem sempre adopta a gemi-
mancha (maculam)Namaio- nação, e esorove-se usualmente:
ria absoluta de taes exemplos afi<jurnr-se, aniquilar, abandonar,
bem se vê que a nasal éuma pro- avenida (fr.). Xote-se o prefixo
lação da letra inicial m ou n: aã sem assimilação em muitos
mni-n-to, mi-in, ma-n-clia, etc. vocábulos; ad-nlar, ad-versario,
Também não escasseiam pliilo- a-valancfie{fr., deai;al, advallem),
logos que façam vir a termina- ad-herir, ad-ornr. Note-se adefor-
çiío (■?;» de alguns determinati- mação do typo ad em endereço (se
\os: alí/uem, quem, iiin(/nem, da veio de addre.ise, fr.). Camillo 0.
fiexüo do accusativo latino ali- Branco empregava adressa em
quem, quemeneqvem. Aplionetica logar de endereço e adereço. Galli-
não se oppõe a •♦'stas derivações, cismo desnecessário.
senão em um «(5 ponto, na desvia- Adafíio.—O mesmo que sen-
ção tio accento ; nUqttem, alguém. tença, rifão, anexim, provérbio.
No emtanto a Ilexão do accusati- Sentença breve e aguda, de ordi-
vo não explica o sentido da ilexão nário moral e ás vezes pouco
em portugueza, que sempre ex-
prime pessoa humana, e que ó austera. Há grande repositorio
evidentemente a forma tirms, por de riquezas vocabulares, con-
Jwmo, tão freqüentemente con- strucções archaicas e classicas
fundidas. D'este modo as origens nos provérbios populares : Ande
mais prováveis sãoí' aHe'unun, eu quente, ria-se a gente. Coma
nec-unum, qu''unuK. (1) do pão e beba do garrafão. Quem
lhe doe o dento vae a casa do
Atl, a.— Prefi.xo latino de lar- barbeiro. Azeite, vinho, amigo,
guissimo uso. Denota direcção, o mais antigo. Mulher sem egre-
ja nunca al eu veja.
(1) Cointudo, quem pode referir-
se a cousas, no snigular ou no plural, Adaptação. — Nome geral'
como se póile vêr nos antigos es- empregado para designar vários
priptores. factos da linguagem, especial-
10
ADAPTAÇÃO - - ADJECTIVO
mente consagrados á assimilação remos dos determinativos. Qita-
(Vide). A adaptação também se i.iKiCATivos são vocábulos que
diz da prosodia e da orthogra- descrevem e mostram como são
pliia de nomes alheios que pas- os seres: rio lar f/o douto ;
saram á linjrua: ohoé de haut-ho- mulher formosissima; pedra ícr-
is; o termo de brasão, bUm, natu- de. Os (lualificativos subdividem-
ralmente tomado do fr. bleu ou se em dois grupos: A. llESTlü-
<lo allemão hlau ; fanfreluche, t. CTlvos. São os que exprimem
francez, do italiano tanfrelucci ; qualidade fortuita ou accidental
todos estes sottreram modifica- dos seres; homem instruido;\\wr:Q
ções para se adaptarem lí Índole volumoso. Essas qualidades ex-
prosodica da linpua. O jilieno- pressas não são inseparáveis das
meno contrario também se obser- cousas. Um homem pode não ser
va, V. gr.: em imbroglio. instruído, etc. B. Explicativos.
Aíldição.—Nome geral dado São os que expriniem qualidade
lis figuras prothese, cpenthese e inseparavel e inherenteaosseres:
epithese ou paraíjoge, pelas quaes homem mortal; Toc\vàdura; atra
os vocábulos recebem accresci- noite, etc. São qualidades essas
mos de sons ou letras. Não só immanentes aos seres a que foram
na phonetica, mas na morpholo- applicadas. O adjectivo pcjde ser
gia existem elementos addicio- expresso do tres maneiras: a)
naes (jue ampliam e desenvolvem Por um vocábulo : termellio, con-
os themas. Ex.: mar-iT-imo, leg- tente. b) Por mais de um vocá-
iT-imo ( lidimo ), grand-i-o«o, bulo ou liOCDÇÃO ADJECTIVA.
vapor-z-inho Da mesma sorte, V. g.: homem de senso (sensato);
existem contracções ou suppres- animal de quatro pés (quadrú-
sões, como amizade (amizidade), pede); numero ãe ouro (áureo),
virtuoso (virtutoso), volumoso (vo- etc. c) Por uma proposição ou
luminoso), etc., em parte man- clausula que se chama ritoro-
tidas pela tradição latina. Algu- siçÃo AD.TECTivA (qualificativa,
mas d'essas contracções são ado- entende-se). A proposição adje-
ptadas por euplionia, por evitar ctiva sempre modifica o substan-
o ecbo e repetição de syllabas, tivo : A casa que o rei habita =
como em idolatria, itoridololatria. habitada pelo rei. As estrellas
que se podem ra-= visíveis. Os
Adjectivo.— Classe de pala- qualificativos são susceptíveis de
vras que não tem definição jier- grão ou de flexãomodificadora do
feita, porque abrange duas cate- sentido. (V^. Oráo, üomparatico
gorias muito disfinctas de idéas: e Superlativo). O estylo das lín-
a dos qualificativos e a Cío^determi- guas fixa de certo modo a ordem
nativos. A definição usual é: ad- dos qualificativos em expressões
jectivo é a palavra que qualifica que não podem sofrrer transpo-
ou determina os seres. Aqui tra- sição, sem offensa do sentido.
taremos apenas dos qualificati- Por ex.: causa primeira e pri-
vos ; no logar conveniente trata- meira causa; amor proprio, pro-
11
ADJECTIVO - - ADJUNCTOS
prio amor ; bom Iiomem e lio- stantivoscom os suflixos al, aneo,
mem bom ; novos liomens e oso, imo : materi-aX, tempoT-s.Víao,
liomens novos, etc. A ordom ou ão, c/iiíc-oso, rírtu-oso,marit-\mo.
•collocaçãotonia-se ahi um factor As etimologias dos qualificativos
semântico de importaiicia no- participam de todos os contin-
tável. Hauma theoria na sciencia gentes que, formaram o léxico
í da linguagem que dá o qualífica- vernáculo. Os qualificativos da
\ tivo e logo o verbo como as duas technica scientifica, em geral,
) classes primitivas de palavras na procedem do grego. || Chamam-se
f acquisiçiío da facuUbule de falar, •cerbaes os adjectivos originados
í A hypotliese esteia-se na obser- de verbo : pedinte, consercador,
vação plausível de que os attri- amante, endinheirado, escriptor,
^ butos c exterioridades dos seres falador, etc. j| De adjectivos for-
são as impressões que deviam maram-se preposições e advér-
! mais cedo despertar a attenção bios que neste caso se usam in-
t<lo homem. Não obstante, não ha variáveis (quando com tal uso);
um só facto positivo que verifique excepto, segundo, conforme,
a conjectura ; antes parece que salvo, suYiposto, etc. ; certo
nãoexistiam no principio classes, (fala certo), largo (cortar largo),
ou categorias de vocábulos, e prompto, etc. || Concordaiícia.
Sayce sustenta com bons argu- Nos adjectivos compostos é o
mentos que o vocábulo primi- segundo que se modifica : escola
tivo, longe de limitado a uma \sii\no-americana; escola-medico-
categoria, tinha o sentido incom- cirunjica.
prehensivel e extenso da phrase.
Um vocábulo encerrava um juizo Adjmictos. — Chamam-se
■e condensava em si mais ou adjiinctos, na analyse lógica, os
menos o valor que encerram vocábulos ou grupo de vocábulos
hoje algumas interjeiçôes. Dos que limitam o substantivo e o
■qualificatitos é que ordinaria- verbo. Dividem-se em attribu-
mente por desviação se derivam tivos e adrerbiaes. 1. Adjuncto at-
substantivos { derivação impró- Jributico é o vocábulo, locução ou
pria): empregado, cégo, eleitor, phrase que limita o substantivo.
votante, pobre, frio, futuro, pas- Ex.: Homem virtuoso. Cr/i dia.
sado, bailado, metralhadora, na- Luiz, rei de França. O homem,
morado, etc. Os qualificativos que pratica o bem. Toda a parte
fornecem ao vocak^ilario sub- griphada reiiresenta adjunctos
stantivos, com os snftixos iça, attributivos. 2. Adjunctos adver-
ida, encia, eta, ão, uãe : /jísí-iça, biaes são os que modificam o
pobr-ev.ií, eorpulen-ciâ, riqti-eza, verbo e o adjectivo. Muito for-
yrat-idão, qiiiet-\xde.De adjecti vos moso. Saiu tarde. Saiu ás 5
passam a pronomes (este, aquelle, horas. Dito isto, retirou-se. J/miío,
meu, etc.) os determinativos de tarde, ás 5 horas, dito isto, expri-
qualquer especie. || Por outra mem circumstancias, e são ad-
parte,derivam-se também de sub- junctos adverbiaes (Vide Ana-
12
ADJUNCTOS — ADVENTICIAS
lyse). II E adjuncto adrerhial ou desfavor nas citações alheias,,
do verbo, iidjectivo ou pbrase quando a palavra ou trechci é in-
attributiva, qualquer palavra, terrompido por um parenthesis.
phrase ou clausnla que os modi- com ponto admirativo. Ex: «Se-
fique. Consequentemente, os Deus não existisse, seria preciso-
adjunctos adverbiaes podem ser invental-o (!), disse-O Voltaire.»
—de tempo, logar, ordem, affir- II Dobram-se esses signaes ecom-
mação, negação, duvida, ex- binam-se com os interrogativos-
clusão, conclusão, designação, que sempre precedem ; 11 — ?!
quantidade, companhia, fim ; e
—um advérbio ou uma clausula Aílveiiticias (letrax).—Cha-
adverbial. um substantivo ou mam-seletrasadventicias os sons,
palavra substantivada precedida de ordinário interpelados, que
de lireposição, o objectocognato, se encontram nas palavras e que
um substantivo acompanhado não se explicam puramente pela
do adjuncto attributivo e em- etymologia ; v. gr., o r da ultima
pregado absolutamente, o parti- syllaba de registro (derivado dos
cipio absoluto com ou sem ad- dous elementos res gestm). A for-
vérbios, uma palavra com pre- ma etymologica deve ser regii,to,
posição occulta. Podem ser ad- que também é usada. Em geral,
junctos ntlrihutinúit — um ad- as letras adventicias explicam-
jectivo ou participio, um nome se pela tradição de erros ortho-
apposto ou clausula em apposi- graphicos e prosodicos, quando
ção, um substantivo (ou palavra não pela euphonia(amor-2-inho).
substantivada) precedido de pre- O 7i, por exemplOj por erro or-
posição, uina clausula adjectiva tliographico, foi usado em ho-
ou relativa. (por o), por analogia fácil com o
latim lioe ou com o grego ho ;
Admiração. — Signal de nos antigos tempos, o A era or-
pontuação usado para exprimiro thographia usual no inicio dos
sentimento de espanto, pasmo, monosyllabos: lio,hum, Ae, etc.
assombro, piedade ou com-, A nasal freqüentemente 6 letra
miseração. Esta notação (1) ó ad ve n ticia; TOiwí, por mi (1 at. nizVií,
moderna na arte de escrever, e vide Aerusatiro). O r como le-
nos primeiros tempos figurou- tra de reforço muitas vezes ap-
se antes e depois do trecho ex- parece fortalecendo syllabas : es-
clamativo e vocativo. Hoje é trella, por eStella, de stella. (e tal-
usada no fim da plirase : «Clie- vez da forma astrelluin, ãim, de
gae parto, Estacio; que eu vos astrum). Outras vezes o r desap-
abrace. Sois um lieróe 1 » .T. de parece, como em rasto e rastro,
Alencar, Minas dePratn,yi, 50. rosto e rastro. Um exemplo se-
Em geral, essa notação acom- guro do r adventicio encontra-
panha as vozes interjec ti vas; Olá! se em mastro; a forma masto
Kciu! oh ! 7iu! hein ! || Jluitas ve- ainda se nota no derivado 7)ias-
zes exprime reprovação, ironia taréo (e não mastraréo). Quanto-
13
t
20
ALPIIABETO AMBOS
XVI. B'ahi por diante, appare- distingue-se do P (r grego) por
ceram reformadores. Foi ado- uma cauda que se encontra aliás
ptada a cedilha do c jiara ex- em inscripções gregas muito an-
primir o valor sibilante brando; tigas. Tácito di;í {Ann. 11, 14):
creou-se o typo U para repre- u Forma est litteriu latinis qxmveter-
sentar o som vofral, exi)resso pelo rimis yraicorum. » || Nem tudo
V, como em DEVS. Também quanto escrevemos e expressado
creoii-se o signa 1 J para repre- pelo alphabeto. Também empre-
sentar o valor consouantal do gamos symbolos nos números ;
antigo I, que se usava, v. fjr., em 8, 35, LXVI, etc.
IVLIVS (.Iirlius). Foram, toda- Alteraiite. — Denominação
via, poucas as reformas que con- dada pelo grammatieo Júlio Ri-
seguiram definitivamente esta- beiro ií consoiinte, mas que não
belecer-se. E,ainda hoje, o alpha- leva melhoria á antiga.
beto o summamente defeituoso, Ain, aii, ainb.—Prefixo la-
não só i)orque possue vários si- tino que se encontra no léxico
gnaes para idêntico som (cdsa,
kasa, Icero, quero), como também d'aquella lingua, mas que não
possue um só signal para sons se tornou fecundo para as lín-
differentes (s,nabi(i; (r=iz, casa) guas um
modernas. Denota direcção
etc. As dillieuldades e defeitos liara e outro lado, ao redor,
do alpliabcto, na escripta, são para ambas as parles. Corre-
de iiequena monta, quando os sponde nos
ao grego A,\ri'iii, e nota-se
termos : amh-ire, ir para um
comparamos com as dillieulda-
des e defeitos de qualquer sys- lado e outro, d'ahi ambiente,
tema ortliographico.» —A palavra ambif/no, amjiutar, ambição^ am-
alphabeto tira sua origem do bulante.
nome das duas letras gregas Aiiibiguitla<le.—V. Amphí-
alpha (a) o hetn (h); também <5- holoyia..
denominado (íicéou nhc. O alpha- Ambos.—Significa os dous,e
beto latino não deriva directa- é uma forma e só ha outros
mente do alphabeto phenicio, vestígios em noster e vester (pri-
mas dos !ilt)habetos em uso na miiivamente=nósdois, vós dois).
Grande Grécia, especialmente Ambos indica os dois num com-
em Cumes. Como o demonstrou posto ou companhia que não
cabalmente Otfr.Müller, a prova excede aquelle numero : ambas
de que foi tirado immediata- as mãos, «as mãos ambas e talyez
mente do grego, se encontra na ambas das mãos ou ambas das
adopção cio ãigamma K jnira duas mãos ou as mãos ambas e
exprimir o som usual do F, duas, o que tudo são expressões
caracter que os etruscos não pos- lógicas e como taes não merece.m
suíam. O alphabeto romano ó o apodo de incorrectas. E não só
quasí idêntico ao chalcidio: JI em portuguez, como o demons-
corresponde ao symbolo do es- trou Manoel de Mello (Notas lexi-
pirito rude, ao koppa, d o li eologicas), Bluteau Dicaionario
21
AMBOS AMPHIBOLQGIA
da Academia portuguezii acredi-' tino é amh, am, v. gr.; ambição,
tam a expressão ambos de douê am-putar, etc. Note-se ampAz em
usada por Bernardim. Ribeiro amphora (vaso que tem duas
(M. e moça: começaram assim azas). A i^alavra ampMguri é
também amhos de doim. ..) e L. franceza, factícia e, ao que pa-
de Camões nos Lusíadas: «D(! rece, da giria de estudantes.
amhos de duus a fronte coroada.))
Moraes diz que é locução viciosa. Anipliiboloj^ia. —Vicio do
Veja-se a minha Selecta Classica. estylo que consiste em coorde-
nar a plirase de modo que se
Americanismo. — Nome preste a mais de uma interpre-
consagrado a expressões oriundiis tação. Exemplos; dei^orando o
da America. O maior numero se tigre, o leão etc., onde o sujeito é
originou dotupi-guarani.queserá indeterminado e pode ser tifji-e
estudado no artigo hrasileirismo. onleão, sem injuriada syntaxe.
Das outras linguas americanas Leia-se o capitulo sobre Ambi-
derivam, ao que parece, os ter- güidade na Gramm. do auctor
mos seguintes: alpaca, animal (3? anno, 12'' edição), onde se
dos Andes, xianno; cacique, de analj-sam vários exemplos. So-
origem caraiba, chefe de tribu ; bro o assumpto escreve A. Netto
ca(/uteli0uc, orthographia fran- no seu Escoliaste portuguez, Lis-
ceza de calmtchuc, nome da boa, 1884; «Neste exemplo; «Hei-
gomma elastica, or. da Guyana ; tor Achilles chama a desafio»,
canibal, de caniba, nome de nenliuma das palavras é ambí-
uma tribu ferocissima' das Anti- gua, nem equivoca, mas é ampld-
Ihas, hoje extincta; chocolate, bologieo o sentido; porque, ainda
palavra mexicana, composta de quando regularmente se pozesse
choco, cacáo, 'e lattl, agua; coca, o sujeito antes do verbo, os iioe-
arbusto peruviano; colihri, pa- tas invertem muitas vezes esta
lavra caraiba, beija-ílôr; (juaiu>, ordem, e d'aquella phrase se
de huano, da 1. quirhua ;/w«í'(7o, pode entender que Heitor pro-
cast. huracan, nome do espirito voca Achilles, ou este áquelle.
maligno entre os caraibps; inca, Concorre muito para as amphi-
titulo dos reis indigenas do bologías o máo emprego ou a
Perii, lingua quichua ; condor, má collocação já dos pronomes
do quichua kunUir; pampas, pessoaes, já dos adjectivos pos-
planícies; tomaliawk, anna oífen- sessivos. Neste outro exemplo—o
siva dos índios da America do guerreiro amou sempre aquelleami-
Norte. go no meio da sua adversidade —
não nos diz o possessivo sua,
Ainplii. — Prefixo grego. Si- se foi na adversidade do guer-
gnifica «de ambos os lados)). reiro, ou na do amigo, que elle
Amphibio, que vive de dous mo- sempre amou. O adjectivo pos-
d.os. Amphiboloyia, que tem dous sessivo emiiregado no exemplo,
sentidos. O correspondente la- l)cde referir-se a um dos dois
32
AMPHIBOLOGIA — ANALOGIA
termos da oração, e é isto que Cção sj'ntactica já começada por
occasiona a ampliibologia nas outra de nexo dilferente. Por ve-
phrases citadas. Comtudo, seria zes a anacoluthia, quando usada
fácil conhecer a quem se refere o discretamente, constitue uma das
possessivo, se este fosse empre- bellezas da lingua, e foi sempre
gado sempre na composição in- utilizada pelos clássicos. Leia-se
dicando o substantivo, como o exemplo de Camões :
cousa pertencente ao sujeito do Ea que cair não pude neste engano
verbo da mesma oração ; v. g.: (Que é grande dos amantes a ce-
estando o imperador Aureliano na gueira)
guerra contra a rainha Zenohia, Encheram-me com grandes abon-
mandou que ninguém entrasse de danças
noite na süa tenda. Ora, o impe- O peito de desejos e esperanças.
Lus. V, est. 54.
rador, a rainha e todos os mi-
litares que sob o commando de Em geral, na anacoluthia, a
Aureliano a guerreavam, tinham mudança mais freqüente é a
suas tendas, mas, assentado que do sujeito que inicia a phrase :
o possessivo se ha de referir ao •xQuem ha de ser pastoral do seu
sujeito da oração, como no povo, cumpre-Me ser limpo e
exemplo dado que determina a afastado de todo o vicio.» João
tenda do sujeito ninguém, clara de Babiíos—Panegyricos, 9. (Vide
fica a prohibição do imperador. João Ribeiro, Qramm. do3?anno,
D'este modo evitar-se-ia um pg. 241-243, e a annotação de
vicio ou defeito que pode ajun- Silva líamos, que inclue grande
tar-se a todos os que se oppõem numero de exemplos dos clás-
á clareza. Assim concluiremos sicos.
que se a amphibologia não pro- Analogia.—Principio pelo
vém da deficiencia das regras qual a linguagem tende a uni-
grammaticaes, provém da inten- formizar-se, generalizando as
ção dobre de quem fala. Esta suas regras e submettendo
especie de sophisma era também quaesquer factos á sorte com-
de um grande reçurso para os mum de outros congeneres. O
oráculos. » principio de analogia c tão exten-
sivo e intenso que os neo-gram-
Alia.—Prefixo. Denota afas- matieos
tamento para traz, renovação, cam todas allemães por elle expli-
etc. E.x:.: anahaiMsta, que se ba- phonetic^s as excepções ás leis
das línguas. A ana-
ptisa duas vezes ; anachronico, logia, trabalho popular e espon-
de tempo atrazado; anatomia, tâneo (1), é muitas vezes falsa e
corte por diversas partes, atra-
véz. O termo aná, como simples
palavra, é usado como abrevia- (1) A analogia na linguagem in-
tura no formulário medico. fantil constitue toda a generaliza-
çfio ou rjraminatlca : eu se esqueço,
Aiiacoluthia. — É a inter- ])or me esqueceu, do typo verbal
rupção 0 mudança de constru s'esqueccr (esquecer-se), etc.
23
ANAL03IA
desarrazoada, por apoiar-so em bios, etc. A analogia explica em
bases illusorias. Taes são os so- todas as linguas as derivações
lecismos entreto, por entretenho, fora das leis normaes da plione-
mantí, por mantice, etc., muito tica. Assim, a forma meridional
communs entre os homens rús- faria suppôr a existencia de me-
ticos 6 ignorantes. Não obstante, ridião, que nunca existiu de fa-
forçoso é confessar que as lín- cto ; mas o adjectivo meridional
guas romanas devem ií analogia foi derivado sobre a analogia de
quasi toda a originalidade dos septentrional, que é um descen-
respectivos systemas grammati- dente de septentrião. A termina-
caes. Examinaremos os elíeitos ção Avo, normal em oitavo, foi
da analogia nos diversos domí- base sufllciente para as creações
nios da linguagem. Accento. — analógicas, anti-etymologicas
A analogia tornou oxytonos to- doz'avos, quim'avos, etc. A de-
dos os verbos no infinito: amar sinencia eu em meu (rneus) gene-
amare ; dever, ãehere; sentir, ralizou-se em teu (tuus), seu
sentire. Submetteu a essa unifor- {mus). A analogia procede dis-
midade os verbos da terceira cricionariamente e por isso cria
conjugação, que no latim eram Hexôes que estão em antago-
proparoxytonos: fazer, faeére, nismo com o valor semântico
por fácere; caber, capére, por do vocábulo. Assim, do tj-pó
mpere, etc. Fi.exão de gbnero. freire, a analogia formou/reira,
—A analogia considerou mascu- por soror; de varão, varoa, por
linos todos os nomes da segun- femea, mulher; padre, padro-
da declinação : servus, incluindo eira, etc. Por ahi se vê que im-
os que eram femininos em latim, portância exerce a analogia na
populua, choupo, laiirus, louro. constituição da lingua. A analo-
Considerou femininos os nomes gia prende-se á faculdade de
da lirimeira declinação, 7wra, imitação, que é a base do caracter
hora, e submetteu ao mesmo e do progresso humano, nas ar-
principio, no sec. XVI, muitos tes, na religião, na linguagem,
dos nomes gregos que ti- nas instituições e em todas as
nham a terminação a: planeta, suas creações. O latim omnea (de
feminino em Camões ; a clima, liomines) foi primitivamente do
(l$arro§). Fmxão de numbuo.— plural; a analogia creou o sin-
Deu o plural s a todos os nomes, gular omnis. Em portuguez, a jia-
mesmo áquelles quep não pos- lavra pomba (palumbam) serviu
suíam, como os neutros, que de modelo á Ilexão masculina
desappareceram ou reverteram pombo, que não existia. Bru-
para outras declinações. Con- gmann, o neo-grammatico, diz
STRUCÇÃO. — Submetteu o dis- ser a analogia ultima ratio plti-
curso á construcção analytica, lologüt^. II O que foi ahi dito a
por necessidade de clareza ; ge- respeito das formações organicas
neralizou o emprego de prepo- e naturaes da lingua, também
sições ; regulou o uso de advér- se applica ás formações eruditas.
2á
ANALOGIA - -■ ANTROPOS
literariiis e scicntificas, pi-omovi- no, ante-cedcnte. Contém esse
(las por siibios e osoriplorcs (|iie )ir(ífix() os termos anterior, antíyo,
devem respoitar u iiuUilc o cnru- do me.smo radical. Não se deve
ctor cias línguas (e iiilclizmeiile confundir com o prefixo grego
não tem sido a legni) na creação anti, que não é das palavras la-
de palavras novas ou na adopção tinas : anticipar, que seria me-
de outras extranhas. Com razão, lhor díicviycr antecipar. (1)
censurou Kuy Barbosa, o gran-
de clássico contemporâneo, na Anti.—1'refi xo grego. Denota
redacção do CodUjo civil a ado- opiiosição: anti-calholico, anti-
pção da francezia iimolvalilidade euphonico. Esse i)relixo não deve
em vez da nossa exjiressão pro- ser combinado senão com elemen-
insolvencia. E que dizer dos tos gregos, para evitar compostos
neologismos scienlificos arbitra- liybridos ; no emtanto, actual-
ria e ineyitamente formados do mente é de constante uso formar
grego e do lalim, sem o conhe- hybridismos, como anti-social,
cimento d'essas línguas e das anti-patriotico, etc. Kestes casos
leis de derivação que nellas se melhor crthographia será ante-
observam'; social, ante-patriütico.
Analy.se.—Vide Proposições. Antitliese. — Permufa eu-
phonica, de existencia contestá-
Aiiexiin. — Vide Adnyio. O vel. Fazel-o, \)qv fazer-o ; tol-o,
anexim d'este se distingue, em nol-o disse, por vos-o, ele. Não é
que é incompleto e é muitas ve- assas plausível nos limites da
zes mera locução ; nir á halha, phonetica a transformação s em
nietter-se em camisa de onze tara». l. Parece, pois, que o l eupho-
Aiioilialia. — Designa qual- nico é a parte que persistiu do
quer irregularidade ou excepção artigo Io, Ia : eil-o estiipor eia-lo;
ás regras da grammatica. Ano- fazcl-o, x>ov fazer-lo. A euphonía,
malia é especialmente a excepção com etfeito, consisliu na queda
única ou em numero de jioucas do r e s, mas não em transfor-
que não parecem ter explicação mação de s em l, hypothese inad-
plausível. Por exemplo : ades- missível, sem exemplos que a
locação do accento em. hâjulus, apoiem.
que produziu háliij ; datha, que Antonynios. — Palavras re-
produziu dadica. É anomalia im- ]n'eseutantes de idéas oppostas
portante o uso do infinito pes- (bonito, feio). (Pacheco Júnior).
soal, quando se compara com a
syntaxe das outras línguas lati- Antroi)o.s (homem). — Ele-
nas, mas é elegancia e belleza mento de composição grega: an-
própria do nosso idioma. tropologia, sciencia do homem;
Ante. — Prefixo latino. De- (1) A i)rinieira grapliia é um erro
nota anterioridade, tempo pas- provavelmente deviJo A analogia
sado : ante-classico, ante-diluvia- de parllcipar.
25.
ANTROPOS APHERJ5SE
misantropa, que odeia o homem, oca iniciaes estáno facto muito
dc misein, odiai' ; pldlantropla, friíquente do esquecimento ety-
amor do homem. mologico e seguinte confusão
d'aquellas letras com os artigos
Aplierese.—Metaphismo ou ainda vigentes. O povo diz não
figura do dicção que consiste na raro: um Jicial ãè justiça, por
subtracção de elementos iniciaos suppôr que o o de official é um
do vocábulo. Exemplos com- elemento separavel, um artigo.
muns são: inda, por ainãa ; pos, Só por analogo critério se acha
por após; traz, por atraz; té, por a solução razoavel das perdas,
até. Vejam-se os seguintes, na amiudadas do o e a iniciaes.
degeneração do latim : a — Exemplos: bodega, hotica, em vez.
npvtJiecam, botioa ; s — sj^asmum, de ahodega, ahotica (latim ajw-
pasmo; e — cpiscopum, bispo (do tlicca) ; hitacula, em vez de ahi-
grego). A aplierese já se notava taaida (habilaculano latim), apos-
no latim com bastante frequen- tema, em \'ez de apostema. Em re-
cia, V. gr. ; latus, por tlatus (de lação ao artigo masculino, regis-
tollo);natus, por(/«íifws, enarrare,tremos ; a forma bispo, talvez obis-
por (jnarrare (c\).i-gnarus, i-ijnu-po, comoaiiida o é no castelhano,
ro), etc. No portuguez, a aplie- do latim episcopus ; a forma an-
rese é susceptível de e.xplicação, tiga e masculina cajom, em vez.
co^nforme uma ve/ escrevemos : de occajom, derivada de occasio-
" As pessoas que estudam a gram- nem, e outras contestáveis, como
matica histórica das línguas ro- relogio (horologíum), etc. A outra,
manas, é familiar o exemplo face doproblema, naturalmente,
curioso da aplierese no vocá- contempla e especula sobre o
bulo francez aiupeKsade, em por- caso dos artigos archaizados :
tiigue-/ atiítpeçada. Esse vocábulo Io, Ia, etc. O vocábulo eiva, em,
veio do italiano landa spetzata meu conceito, soffreu trans-
(lança quebrada). Os francezes formação analoga ás já mencio-
transcreveram-o sem duvida pela nadas. Eiva, ao que me parece,
forma lanspessaãe ; mais tarde, a deriva de lahem (1), e é fôrma di-
ignorancia popular, suppondo vergente em relação a laivo : eiva
alli a existencia de um artigo de corrupção, laivo de cor-
(Tanspessade) produziu a queda rupção. A forma antiga deveria,
do l e creou a forma, hoje única, ser leiva, mas como já existia o
ampessaãe. Oousa , semelhante homonymo leiva, de gleha, eíTe-
aconteceu em nossa língua, po- ctiiou-se a desapparição da letra,
rém com mais inesperada com- inicial quo se confundia com o
plicação. No sentido da evolu- artigo (Teiva). O vocábulo onça,
ção histórica, o portuguez conta com osigníficadodeanimal, tam-
duas sortes de artigos: Io, Ia e
o, a. Os últimos sobrevieram (1) Deve-,se adniittir o especinieu
aos primeiros. Para mim, a me- IdhUim, similar a rabiam, de ra-
lhor explicação da apherese do bicvi.
56
APHERESE — APOSTROPIIO
bem passou pela mesmcatransfor- cias, desapparecerarii os casos ;
maçrio. Veio do italiano Íwííza (íyra- este facto importantissimo ori-
•íemlat.) e, devendo ser transcri- ginou a necessidade da constru-
pto na fórniaíonfíí,perdeu o l ini- cção analytica que caracteriza as
cial (Vonça), por se suppOr erro- linguas provindas do latim. A
neamente que fosse o artigo.» apocope ou queda de terminação,
no latim, e.Kplica-se geralmente
Apo.—Prefixo prego. Signi- pela linguagem barbara dos in-
fica; longe, em distancia. vasores do occidente, mesclados
longe da terra. Aphelio, longe do de populações e dialectos diver-
sol. Denota também intensidade: sos; em segundo logar, no latim,
■apoplexia, que fere profunda, a ultima syllaba era sempre
falminantemente. Nota-se em atona, e por isso sujeita a perdas
^apologia, apocalypse, aphorismo, irreparáveis ; finalmente, a dis-
■ apostolo, apóstata, etc. O latino ciplina, a tradição, a força con-
correspondente é ab,que também servadora da literatura latina
denota afastamento. tinham perdido o melhor de sua
iníluencia sobre as populações
Apocope.— Metaplasmo ou medievaes, e entravam no pe-
figvira de dicção, que consiste na ríodo de dissolução.
■subtracção de letras finaes. SSo
exemplos usuaes as formas con-■ Apostroplio.— Notação ou
tractas,9r«o, cem, mvi, recem, são. signal usado na orthographia
Por ella se elimina o s, anti- para indicar a suppressão de sons
euphonico, em vamos-nos, ,e anti- ou letras. Usa-se em vários
gamente se supprimia o s de l/ies: casos : 1? Na suppressão do e da
■ lhe fez, por lhes fez ; e ainda hoje preposição di: ã'Almeida,d'então,
será impossivel dizer; lhes o disse, etc. Os antigos escreviam Dal-
se se não quer diziír á maneira meida, dcntão, etc., e ainda hoje
antiga Ui o disse (quando lhe é do se escreve ; desde (d'esde), dentro
plural). Também era freqüente (d'entro), e ainda nos cognomes
supiirimir o n final da syllaba v. gr., Doria (d'Oria). A ortho-
atona ; image, calige, etc. Ainda graphia ainda é arbitraria em :
hoje se di7. nume, por numen, e deste, d'este, d'aquelle,d'isso, d'elle,
■ lume, \ioílumen, e também volume. que tambam se esc/evem disso,
Na passagem do latim para o daquelle, etc. 2? E usado em
portuguez realizou-se a apocope menor gnío, na suppressão de
■em numerosos vocábulos : dizer, letras iniciaes m6<\vA%-.esp'rança,
dicer-e / vieram, venerun-í; p'ra, etc.; com a preposição em,
mesa, mensa-m. A apocope c o apostroplio, sendo usado, só é
um phenomeno commum cm admissivel no logar da letra
todas as linguas romanas. Foi suppressa ; 'nisto, 'neste, etc.
sobretudo freqüente nas íiexões Comtudo, usa-se excentrica-
verbaes e nominaes ; pela fljw- mente depois da suppressão :
■ cope, desapparecendo as desinen- n'este, n'esse.
27
APPELLATIVO — ARABE
Appellativo. — Vide Sub- arabes no seu regimen de tole-
stantivo. rância nada impozeram, quanto
Apposição.—Cliama-se ap- ao pensamento, aos vencidos, e
posição á coiistrucçilo de phrase eram admiradores e cultores da
que tem a mesma successílo e sciencia grega e Occidental. A
relação da precedente. Ex.: Cey- maior parte dos nomes de ori-
lilo, ilha pertencente aos inylezes ; gem arabica conhecem-se pela
César, o mais hábil dos generaes... presença do artigo al afüxo: al-
etc. A apposição aílecta uma feniin, almirante, etc. Cumpre no-
construcção syntactica especial tar que, por meio do arabe, nos
nadenominaçãodas cousas e dos vieram muito."! termos de diver-
logares : cidade de Lisboa —ci- sas etymologias, por elles ado-
dade Lisboa; o dia de sabbadn=o ptados. Do grego, v. gr.: quilate,
dia sabbado ; o mev. ãe Maio — keration ; abenus, ébenos ; adar-
o mez Maio, etc. O uso nem me, drachuê ; alambique, ambix;
sempre exige a preposição ; por alcaparra, kápparis ; triaga, the-
isso diz-se iiuomiscuamente : o riaké. persa; azul, lazur ;
anno de 77, e o anno 100, o anno julepo, íjulap (agua de rosas) ;
mil ; o rio Amazonas e o rio das xeque, chah (rei); caravana, kar-
Amazonas, etc. Em João de wan; limão, laimum. Ha exem-
Barros, com os nomes proprios, plos, como veremos depois, de
quasi sempre havia a exclusão palavras latinas que, depois do
da partícula : a cidade Évora acclimadas no arabe, voltaram
(III, 1, C). Vide Complementos. ao dominio romano. Factos yram-
Alguns grammaticos, Delbaiuf e maticaes — Adelo ; a tórma pri-
Roersch entre outros,distinguem mitiva é femin. como no cast.
a apposição do complemento appo- adela. O advérbio avondo, do
sitieo ; esta ultima expressão de- Cancioneiro, se se liga ao cast.
signa o caso em que existe em- adunia, parece vir do arabe (ad-
prego da preposição de. domya, a gente, o mundo). Al-
mocreve, de nlmocâri), e é o part.
Árabe (língua). — Língua da do verbo cara, alugar. Em elixir,
família semitica, que directa- de al-acstr, o elemento el denota
mente injluiu na lingua verna- a inllueucia da Córma romanica
cula por effeito da invasão arabe el, provavelmente ; é exemplo
que occupoH a península ibérica único. 0.mlã i a phrase insch'
do século VIU ao spculo XV. A allãh, se Deus quizer. Ar-ruh,
inlluição do arabe manifestada numerai, significa a quarta parte
nas instituições, nos usos, naci- (do quintal). Tomin, de thomn. a
vilisação, não destruiu a Índole oitava parte. O artigo arabe cd
latina da lingua portugueza, desapparece em algumas fôrmas:
apezar do dominio de sete sécu- ceifa, rez, tenith, etc., e assimila-
los ; limitou-se o seu influxo ao se em varias palavras com as for-
vocabulario, do qual a maior mas ar, as, az, v. gr. : az-zeite,
parte se arcliaizou. Demais, os as-sucar, ar-roba, ar-rais, as-sude,
38
ARABE
oto. Sobre fórmíis divergeiiles, comprehensivol, o mesmo verbo
escrevemos nos Estudos pldlolo- produziu o substantivo garrafa,
gicos (na 1? edição) as seguintes eno italiano carafa. Como a fôr-
notas ; ma portugueza é mais vizinha do
arabe, o mais certo é que de lá
«As vezes encontramos varia- proviesse directamente. Onde,
porém, é indiscutível a forma
ções divergentes apenas em com- italiana é em lazuli (lápis azule-
posição. O narcotico conliecido jo) : a fôrma vernacula é azul, de
por hachi appareoe no composto lazur (persa). A língua france-
assassino = hachachi, bebedor de za também influiu jior intermé-
hachi. Outro aspecto de summa dio das suas transcripções.Assim,,
importancia é a determinação
da proveniencia neo-latina. Nós kafur, que já havia entre nós,
produziu alcanfor, pelo francez,
temos duas formas./aj-ro c jarra; • trouxe-nos
jarron é a única fói-ma hospanho- esse exemploainda camphora. E
não é o único. O-
la de âjarra. Por sua vez o ter- cognome pessoal e nome de-
mo hesjíanliol notou-se no por- planta Í'a6re/7a«(tabr6gue) é uma.
tuguez, adquirindo, como sem-
pre, uma pequena variação de variação divergente com alfava-
sentido. O vocábulo koÚi, que ca, ambos derivados do corre-
prefixado com o artigo al produ- spondente arabe/«aiae. Depois de-
ziu no jjortuguez álcool, também assignalar a infiuencia neo-lati-
apparece como no dialecto ara- na, convém citar um caso raro,
gonez, na íórma alcofór. Xote-se onde se manifesta a influencia
que kolh significa suhtil, o por ingleza. Eeh chah produziu no-
conseguinte, analogicamente, o liortuguez xaque (matte) e esca-
espirito ou essencia.—A jialavra ques; uma terceira variação é pu-
sei/d, senhor, ainda nos dá pelo ramente anglo-saxonia, check ou
castelhano o nome do Cid, o xeque, introduzida pelas relações-
campeador. Ainda, nota-se cla- commerciaes, sobretudo do Ori-
ramente a influencia hespanho- ente. As vezes as variações mul-
la na palavra capacho, derivada tivergentes são apenas certas mo-
do arabe gafas (gaiola). A forma dificações de pouca importancia
verdadeiramente portugueza e ideologica. ^í/araz, o cavalleiro,
cabaço, que a este respeito pare- e alferes, são uma e mesma cou-
ce que seguiu a infiuencia do la- sa, o primeiro sendo a fôrma
tim medieval cahacius. Outra arabe em totía a pureza. Do no-
forma divergente mais contracta me geographico Bagdad formou-
é cahaz. Não só do hespanhol, se adulteradamente o adjectivo
mas até entre nós seute-se a in- JaMííy!«'rec>,para designar um te-
íiuencia italiana. O verbo garaf, cido de soda ; d'ahi, muito pro-
que significa sugar, beber, soprar, vavelmente, vasquim, uasquino,
produziu o themade alearaviz(ío\- vestes analogas aos colletes que-
le). Por uma analogia facilmente outr'ora eram sempre de seda ou.
t
29
AKABE
■velUido (1). O vocábulo muübn quartel d'esse século, com a re-
-(crente no Islam) appavece no novação romantica da literatu-
portugiiez sob as Unas formas ra franceza. As formas propria-
niusulmano e a antijí^a munlemo, mente scientificas também são
maisproxima do l}'po fundamen- numerosas, eapontaremos as que
tal. Itima ou ruma, no sentido de são de maior importancia. Mora-
amontoamento (arrumar, arri- bitin designou uma tribu arabe
mar) tem como variação paralis- no Occidente ; depois o rresmo
ia que indica uma idca vocábulo indicou uma moeda :
■semelhante, e derivam do ara- maravedins e maraxedis. O nome
be rasma. Passemos á analyse da tribu.na historia, é almoravi-
das formas que tC'm um lado de das. Mlxk era o nome de um ani-
introducção erudita ou scientifl- mal : almiscar. A medicina in-
•ca. Em primeiro logar, notemos troduziu as formas moacho e
que o romantismo, niio da pri- moscada (iioz). Xouk produzia
meira phase allemã de Lessing, em lingua vernacula azouyue. A
mas da de Staiíl e Hugo, intro- sciencia creou azoto. Si/?'produ-
duziu grande numero de termos ziu a fôrma mais vizinha cí/rffl e
•do Oriente, que, em parte, vie- posteriormente cifrão. Pelas tra-
ram juntar-se aos já existentes ducções latinas das mathemati-
de longa data em nossa lingua. cas arabes, recebemos zero (ze-
São d'essa procedencia : Mzir — phirus), da mesma origem. Al-
já existia com as formas i>opu- kuaresmi, nome de um mathe-
lares ak/uazil, ahasü. Fakir — matico oriental, deii ah/ariumo, e
existente nas fôrmas populares scientificamente o termo techni-
faquino e alfaqui. Kanújar —• co algorithmia. Zindjafr pro-
que S8 encontra nas producções duziu no dominio popular o ter-
poéticas orientaes, tinha a forma mo azinJtavre. A pliarmacia fran-
alfange. Al-ma (água) — Pelo ceza Introduziu cinábrio. Audj
século XVI, das descobertas creou em portuguez auge. Pela
africanas, havia almadia (canôa). astronomia apuides (apheUa e pe-
Mais antigo almagerje (tanque). rihelia). A.i-sent produziu dous
Albatroz—nome de ave marinha vocábulos scientiticos da astro-
formado analogicamente de qa- nomia, azimuth e zenith. Antes
dus, maohina de transportar de concluir, devemos fazer um
agua ; no antigo portuguez, nl- exame mais propriamente' se-
catruz. Emir— chi^fe ; já se en- mântico dos elementos léxicos
contrava esse thema em almiran- portuguezes formados ainda so-
te e miraholim. Separamos esses bre o typo arabe. O adjectivo
vocábulos por isso que a sua in- fouveiro (côr de cabello) deve ser
troducção ou, pelo menos, maior o arabe liohdra. Mas hobara, por
■generalização, data do primeiro sua vez, segundo Engelmann, é
o latim avis tarda (hesp. abetar-
(1) Vasqnlm é mais provável- da, betarda). A assim ser, teria-
raente orig.do basco. mos um dos rarissimos casos da
30
ARABE — ARCIIAISMOS
etymologia latina atravez <1o ara- preservação nos antigos do-
be em palavra não soientitica. O cumentos literários. Muitas ve-
substantivo raz (cabeça) entra zes, dos arcliaismos restam vestí-
com artigo em arrais (chefe). gios como petrificados em certas
Sem artigo, na fôrma rez, signi- locuções, adagios, etc., e na
fica o gado. Podemos, pois, attri- composição dos vocábulos. Assim
buir lí influencia arabe os modos o verbo jeitar, lançar Cí^. jeterJ
de dizer : tantas cabeças de gal- jií lioje não existe; mas encon-
linlias, etc. O adjectivo mal for- tramol-o no composto rejeitar. As
mado olhizarco ó um pleonasmo causas do archaismo são ínnume-
inútil. Zarcã ]ii é por si só a mu- raveis. Notemos as principaes :
Uier de olhos azues. Notemos, em a) Desapparição de cousas, cos-
conclusão, um c«so em que a in- tumes, factos, civilisações, in-
trusão do elemento liespanhol e stituições : Uso de Montipilher
francez c simultanea. Djuha pro- (vestosdoutoraes), zevron(seiim),
duziu aljuba (roupa), não obstan- unjjros, taldi (jarceras, orpelados,
te conservarmos a fôrma liespa- termos de vestuário e modas:
nliola, quee sem artigo, juba. (1) alí/uasil, jofjraes, etc. bj Exis-
Arehaisiuo.s.—Palavras ou tencia de fôrmas synonymicas,
quaesquer factos grammaticaes eruditas ou não: sei/re desappa-
que existiram e desappareceram receu diante de século; leixar,
da língua. Os arcliaismos natu- ant(í deixar; irameter, ante. entve-
ralmente dosapparecem com a metter; lez, anie lado; frol, «nte
eliminação das rousas. institui- llôr ; esciiecer, ante es(juccer, etc.
ções e factos que jií não e.xistem cj Existência de homonymos ou
ou se transformaram. Jlas o des- palavras de igual soido, e que
uso pôde ser apparente e origi- podiam confundir-se: chantar
nar-se apenas da negligencia e (plantar) e cantar; ca (porque) e
desattenção dos escriptores que ca (aqui) ; sirtentes (cantos) e
não cultivam a lingua antiga. serventes, etc. d) A tendencia
.Tulgam-se (como jil se têm jul- que muitas palavras soífrem de
gado) obsoletas expressões que se tornarem de sentido obsceno
não desappareceram. Os verda- ou pejorativo: enxeco (penden-
deiros arcliaismos nunca resur- cia), drudo (amante), etc. e) A
gem, e a existencia de pre- inevitável necessidade dos neo-
tendidos arcliaismos temporários logismos combinada com a limi-
explica-se pela permanencia tação necessária da memória. O
ignorada do archaismo em qual- homem do povo, segundo Tursli,
quer província ou região geogra- não tem lí sua disposição mais-
pbica da lingua, ou pela sua de dois mil vocábulos, f) O pro-
gresso humano, em geral, é uma.
(1) João Ribeiro — Est. Phil., causa de archaismo syntactico.
47-51'. (l í edição). Foi o livro reini- O homem contemporâneo tem
presso eni edição corrigida eni 19013. as faculdades de analyse assas
.). Santos, etMtor. desenvolvidas. As construcções-
31
ARCIIAISMOS
syntheticas puramente emotivas cançar (raramente de uso); agu-
tendem a desapparecer. Para ça, pressa; alças, impostos; alfa-
estudar-se a lingna archai- raz, cavallo ligeiro; alt/n, alguma
ca, o Toniance portuguez, não cousa (ainda de uso); amistar,
existe mellior que o Cancio- ter amizade; amorriado, doente;
neiro da Vaticana, riquissima antanho, no anno anterior, anno
collecção de 1205 canções dos já passado (talvez de uso);«/)wr,
trovadores da escola proven- accusar; ar, também; astroso,
çal portugueza. Nas ultimas can- feliz; avilar, tornar vil; azes,
ções nota-se um variado vocabu- tiancos, alas (ainda de uso); ha-
lário de termos obscenos, que landrão, sobretudo; heneito, ben-
servem para estudar a tendencia to; hesonha, necessidade; hisalho,
pejorativa que foram ganhando enfeites; caoncar, porque; cada
muitos dos vocábulos originaria- que, Cíida vez que; cajon, msí cc-
mente decentes. Muitos docu- casião; cama«/íO, quam magnus.;
mentosde linguagem, fóradalite- cano, velho, encanecido; cas,
ratura, se encontram nos antigos casa (cf. fr. cJiez); certão, ceito
foraes, actos públicos, juridicos, (fr. certain) ; chiis, mais (plus),
no latim barbaro ou no por- usado na expressão nem chus
tuguez antigo. Os arc7iaiíimoii silo nem hus; eitola, cythara; co-
de diversas naturezas. lia ar- chom, porco; coitar, fazer mal;
chaismos ortho(jraphicos : he, por cor, coração; criança, criação;
huin, por vm; athe, t/ieor, ley, degredo, decreto; de cham, de
por até, teor, lei, etc. Os archais- prompto; de pram, id ; de suso,
moK de (le.xão, como os femininos de cima; de juso,. de baixo;
fíonimua, cidadoa, por commum, de vegadas, por vezes; dona
cidadã; as He.xões de pessoa, ama- d'algo, senhora nobre (ch.
des, por amaes, etc., dizem-se fidalgo) ; duldar, duvidar; ecJiar,
morphologicos. Ha archaismos deixar; eiri, hontem; em\iara-
syntacticos, de construcção, como mento, amparo; ementar, pensar;
— viajar a Deus misericórdia endurar, solfrer (talvez, raro, de
(Barres); começar escrever, por uso); enfiger, fingir: tnganhar,
começar a ou de escrever, etc. Ha enganar; entram£nte, entretanto;
finalmente archaismos semânticos, er, o mesmo que ar; escatima,
que são os mais numerosos, e defeito ; est, lat., v. ser; faceiro,
que consistem apenas no obsole- soberbo, atrevido (de uso no'
tismo de significado,dos nomes; Brasil, mas com o sentido de
arreio, no sentido de enfeite. Eis casquilho) •, falagueiro, fagueiro;
um catalogo summario de ar- fera far, fazer (Canc. Vat.); fey,
chaismos de todo o genero: feito (O. da Vat.) ; folengar, fol-
ahondo, excessivamente; acaecer, gar; fudud'an cul; fudud'an
acontecer; adniffe, pandeiro; a dia ; genela, coitíL ■, greu, grado,
carom, defronte; adur, difTicil- vontade ; guarecer, melhorar (fr.
mente; accorrer, acudir (ainda guérir) ; liu, onde ; i, ahi ; ladi-
de uso); adduzer, trazer; affanar. nJíO, astuto; leixar, deixar ; lidi-
ARCIIAISMOS ARTIGO
ce, alegria ; loaãor, lisongeador ; Artij>'o.— Especie de deter-
lunes, sfgiHiita-fehii; maçar, ape- minativo commum ás línguas
gar {Ííímhem marjucr); malado, romanas ; no port. o, a; no it.
servo ; maltreito, doente; mulou- e cast. Io. Ia ; no fr. Ic, Ia ; com
ria, doença; martes, lerya-1'eira; outras formas, el commum ao
mai/son. cíisn; mençonha, mentira; portuguez e castelhano, ü no
mocelinha, niocinlia; murzelo, côr italiano. Ktyvioloyia. — Do la-
de amora; nembrar, lembrar; tim illum; formas inter-
nulla, nenhuma ; ohridar, olvi- mediárias antigas Io, Ia ; ortho-
dar ; o(jaiio, este anno; oy, hoje; graphia antiga ho, ha. A etymo-
oiyte, lionten-.; padre, pae; logia foi durante muito tempo
porém; pindecoste, pentecostes; controvertida ; sustentaram-se
pobra, póvoa, aldeia; 2>reK, perto; principalmente duas opiniões :
2)rcsttimeir(), ultimo;í)rrt/íífar, sa- uma, (pie deriva o artigo do gre-
tyrisar; prez, prêmio; raiicuiias, go ho, origem inadmissível em
aggravos; recaudo, acautelado; vista da influencia limitada do
ren, cousa ; rWomem, fidalgo ; grego que, salvo o caso de for-
sazãa, occasifio (ainda, ravo, usa- mas eruditas, só operou, em re-
do) ; sojornar, ficar ; sanhudo, gra, por iutermedio do latim. A
feroz ; strolomya, astronomia ; segunda opinião faz derivar o,
talan, talante, vontade ; torto, a, do latim hoc, hae; mas essa
damno (raro, usado); tostt-., logo; origem suggerida i)ela orthogra-
u, onde ; vagando, vadio ; xelido, phia archaica não se coaduna
bello ; verto (verbo), i-ifão ; -.re, com os especimens romanicos
te. galleg.; y. alli. Não ó dcCeito e (inclusive portuguezes) Io, Ia,
antes é qualidade que se deve nem tem o apoioda phonelica.(l)
pro/,ar o esforço ou diligencia Os vocábulos elle, Io, o, con-
com que alguns dos escriptores stituem os vestígios da declina-
modernos buscam resussitar as ção de üle, lat. N. llle, üla, il-
formas archaicas que pela bcl- lud—elle, ella, ello (arch.) e el
leza, conveniência ou necessi- (arch.). I). llli — lhe, ant. li.
dade merecem revividas e de Acc. Illum — o, ant. Io. lUam—
novo lançadas na torrente da a. ant. Ia. O genitivo do plural
linguagem commum. Assim o illonim produziu no francez leur,
fizeram no século XIX Castilho, no italiano loro, no castelhano
■Camillo 6 ainda hoje Kuy Barbo- antigo lure.i, mas não deixou, que
:sa, sempre com excellente êxito. se saibam, vestígios no portu-
guez. O artigo agglutina-se com
Arcliê (supremacia). — Ele- algumas partículas, tomando os
mento de composição grega. Fiír- seguintes aspectos : de -(- o, a —
ma sufHxa ; archia. Arcltanjo, do, da ; em -f- o, a — 710, ná ;
.anjo principal ; arcebispo, bispo
principal ; monarcliia, governo (1) A quéila do c linal tem sem-
•de um ; heptarchia, sete gover- pre compensação 011 natalidade :
.nos, sete chefes. nem, nec ; sim> sic.
33
ARTIGO
per o, a — pelo, pela ; d -)- o, no século XIV usado com o sen-
a — H. Já não se usam as com- tido etymologico no sentido de
binações enlho, enlo, de em-lo ; ellas (lat. illas)
polo, (le por o ; colo, collo, de com- mouro. . . cerca Ias adiei
0 ; dei, de de-el ; ó, de n -(- o. As (Canção do Figueiral).
combinações ó,poi' ao, e polo, por 2. O uso pronominal do arti-
p)or o, pelo, têm numerosos ex- go como complemento objectivo
emplos nos documentos clássi- não é um facto excepcional, mas
cos ; as demais sito próprias do orgânico e de todos os tempos da
ronUinee ou povUiguez antigo. || 1 Íngua.
Leia-se quanto escrevi sobre os se me los ey
usos syntacticos, emprego e (Cano. Vatic. n. 233].
omissão do artigo na Grnmm. 3. A preposição em contracta
port. 12? edição. Aqui apenas com o, deu no, o que se explica
apontaremos coucisamente al- pelafórma intermediáriacujo
guns factos.mais na índole d'es- som flnal se prolongou até a vo-
te livro. O artigo el só se empre- gai seguinte, como se prova com
ga hoje na expressão : el-liei, a forma do século XIXI do can-
que se tornou tradicional. As cioneiro dê D. Diniz, pag. 142 :
formas antigas Io, Zrt, .etc., dei- e vay lavar camisas
xaram vestigios nas expressões : en o alto.
dizel-o, ãizer-lo, nol-o disse, nos- 4. A coiitracção da preposi-
lo disse ; eil-a, eis-la, etc. Duran- ção a com o escrevia-se 6 como
te muitos séculos, atravéz da nas canções antigas; a contra-
cultura clássica, permaneceram cção a Ia produz freqüentemente
quando jiospostas ao adjectivo al (Pero Meogo)
todos : tododos dias, todaslas vezes, hides morrer al mar.
etc., e ainda se usam na lingua- Na mesma época também oc-
gem popular. O artigo Io ainda corre alamar, porque marera fe-
é vigente no provérbio — quem minino o ainda o é em preia-mar
muito Io quer, muito Io perde — (plena mar). || 5. Sobre o arítá'"
talvez por iniluencia do caste- partitivo qual existe no portu-
Ihann. II O accento de ille, illa, guez, fale o joven pbilologo Ma-
já se adiava desviado desde o la- rio Barreto ; «Não se pôde ne-
tim, pois, conforme demonstra- gar que ha na nossa lingua por-
ram Benloew e G. Paris, os co- tugueza alguns êxemplos em que
micos na prosodia swpprimiam a preposição de que acompanha
o i inicial. No portuguez deu-se o complemento directo, tem um
o agglutinaÇão do artigo em va- sentido partitivo : — Nunca di-
rias palavras. Em Uste, por ex- gas: D'esta arjua não heberei,
emplo, e.xiste a composição Ves- d'este pão não comerei (adagio);
te. A palavra primitiva era este. quero d'aquella cerveja; prefiro
O mesmo succedeu em lossueste d'este vinho. Não é só na lingua-
(Dicc. Moraes) por ossueste, etc. gem popular que se usa assim
yiàn Prothese. \\ 1. O artigo era d'este de partitivo. Encontra-
DICC. GKAMM. 3
t
34
ARTIGO
mol-0 também ra jiliviise dos es- «Perdidas e tracilhadas
criptores . Exemplifiquemos ; «As tuas ovelhas vejo :
iiComeriís rfo leite, ouvii-iís do» "jyellas morrem de cançadas,
coutos, e partinls quando qui- «E tu tens morto o desejo
zerdes.» (Franc. Ilodrifrues Lo- «De acudires ás coitadas.»
bo— O j>iistor peregrino, pag20). (Jdeiii).
«Adiando as virgens néscias que Eis ahi d'elles, d'ella», locuções
se llie apagavam as lampadas, Iiartitivas, servindo até de sujei-
chegaram-se iis prudentes a pe- to, sem embargo da preposição,
dir que lhe quizessem dar do como no francez : du hon pain
oleo que'traziam prevenido.» (P. me sujfit, de l'eaii vaut mieux que
Ant. Vieira— Serm. T. 4?, pag. du viu. No francez o u.io do arti-
204, col. lí). "... e lá vílo co- go partitivo é extenso e rigorosa-
mendo todos do bacalhau por es- mente obrigatorio. No Italiano c
sas estradas até Elvas, onde o egualmente amplo o seu empre-
molham, para que nSo 1'alte no go, mas não com tão extremado
pêso.» (Idem — lirte de furtar, rigor : daiemi dei pane ( fr. don-
cap. VII, i)ag. 24). ^ nez-moi du jxiin). As linguas
portugueza e hestianhola (1) re-
«Foi-se fechar no mais alto jeitam a appiicação absoluta do
Da torre de Valderey : artigo partitivo, tanto assim, que
— N<ão quero comer do pão. se recolhem como dignos de no-
Nem do vinho beberei.» ta os casos em que elle apparece.
(Garrett — Ilimianceiro, tV vol. Cumpre, peloconseguinte, usal-o
pag. 152). com muita cautela para não
resvalar no gallicismo.» { Mario
«Trazem das ílôres vermelhas, Barreto.)
Das brancas para a enfeitar ;
Tam lindas íiôres como ella (1) Dizem oa grammaticos que
Não nas poderam achar.» nfio deve um substantivo no plural
(Idem, Ibideni, pag. 1G3). ser a<^om])anliado de dois adjecti-
vos no singular, ])orque é o adjecti-
«Ouvirei cantar os gallos vo o que concorda com o substanti-
«N'aldeia, e ladrar os c2es, vo, e não o substantivo com o ad-
«E jazerei entre os pães ; jectivo. Não se deve dizer : — as
«Verei berrar-entre os valles idades viril e madura, as litteratu-
ras (jrcya e latina, us reinos vegetal
«Os novilhos pelas mães ; c mineral, Jiias — a idade viril e <í
uD'elles berrarão do fato, madura ; a liíteraíura grega e a
«Porque mór pena me dêm, latina, o reino vegetal e o mineral,
«Chorarei meu desbarato, —Eiicoiitram-se, porém, exemplos,
«Eu não sei porque me mato, e de bons escriptores, em contra-
«Mato-me não sei por quem.» rio : «Gloriava-se este de mui ver-
sado nas linguas grega, liebraica,
(Bernardim Ribeiro— Egloga syriaca, clialdaica e outras uuii-
Jll, pags. 298-317 das Obras, ed. tas.» (P.Man. Hernardes — Nova
lisljonen.se de 1852). Horesla, liv. IV, pag. 384.) «... as
35
ARYANA ASIATICISMOS
Aryaiia. — Família ile lín- os idiomas europeus do sul e
guas, a mais conliecida. que occidente. Aqui daremos um ca-
comprelieiule o gi-cíio, o latim, o talogo breve de asiaticismos de
sanskríto, o allemão, oslavo, etc. varias origens: Avatar—do sans-
y\úe Indo-européas (línguas). Do kríto, transformação. Incarna-
mesmo sentido é a palavra indo- ção de Viknu ; literalmente : a
germanicas. creada e usada pe- descida. Hoje é termo literário.
los allemães. O latim, d'oiide se Babel—do syríaco. Confusão. Se-
originou o portuguez, prende-se gundo outros, templo de Bel. Pa-
ao ramn italicuà-A. familiaaryana. puzes—do persa pa-pzíc/t, que co-
bre os pés, pa. Calçado oriental.
Asiaticisnío.s. — Kxpressão Bambu—termo indn. Canna.^a-
consagrada aos vocábulos que se nana— de origem hindu. Boiizo
originam de línguas asialicas. —do japonez. Sacerdote. Lama
Na língua portugueza lia vários —do thibetano, Ihama, o supe-
díalecto.s falados na Asia. em rior. Budlia—sanskríto, o sábio.
Maciío, Gôa, Ce.vlão, etc., e Pagode — do persa : b}it, ídolo,
d'elles o único (jue tem do- khodda, casa. Templo. Oanga—
cumentos de interesse literário supplicio da China. I)'ahi pro-
& o Indo-portuguez (Vide esta pa- virão: canga? cangalha? etc.
lavra). Das linguas Isemilicas, Schali— Cío persa, cliali, rei. D'ahi
hebraico e arabe, (rataremos em cheque, xeque-mate (Vide Arabe).
logares especiaes, em vista da Padichá—dep«(?, protector, cJiah,
ímportancia que possuem e da rei. Turbante—veste. I'Y)rma di-
inlluencía que exerceram sobre vergente : ttilipa ; ambos origina-
dos de dulbend, jiersa, especie de
graças litterarias da época, eni nos- chalé para envolver a cabeça.
sos dias consideradas aleijões con- Outta percha—do malaio getali,
tagiosos das escolas italiana e lies- gomma, e Pertjah, nome malaio
panliola.» (Caniirio—O judeu, vol. da ilha de Sumatra: gomma de
II, ])arte teri^eira, ea]). III, i)ag. Sumatra. Derivado moderno :
28.) «... foi Fernando Luiz procu- gomma-jríííto (hybrído). Junco—
rar sua vida na Allenianha, como (fr. jiingle), no sanskríto
professor das linymís frauceza, deserto. Planícíe onde abundam
hesiianiiola, italiana e i)ortugue-
za.» (id.'—A caveira da martpr, caníços. ,/ulepo—do persa golapa,
prefacio, pag. 2.) «...pagou Nel.sou de gu({roaa,), ab ou ãp (agua).
com a existencia a esplendida ba- Kaolin—do chinez. Argílla. Ca-
talha de Trafalgar, gaidia sobre as ravana— do persaAríí-Mare, bando
esquadras liespanhola e frauceza de viajores. Derivado : Caravan-
nnidas...» (José Feliciano de Cas- çará, de liaruan o, serai ou sarai,
tillio — Livraria classica, Noticia palacio, casa ; estalagem para as
da vida.e obras de Bocíkjc, tomo 2?,
pag. 147.) Não se condenine, ])0Í8, caravanas. Kermes—palavra ara-
a nossa plirase : As liutjaas portu- be derivada do sanskríto karmi,
gueza e lies|)anhola rejeitam... verme. Khan — palavra tartara.
(Nota de Mario Barreto.) Príncipe. Vandi—assucar.Arabe,
t
36
ASIATICISMOS
derivado do sanskrito khaiiãa, sidente, separado, P/iarisaico,
pedaço (erysUl), ]/ khad, rom- etc. Punck — do persa, cinco.
per, quebrar, Khedica — persa ; Mesm. |/ gr. pente, persa panj,
significa senhirr. Titulo que se lat. quinque. Cinco ingredientes
dava ao vice-rei do I3gj'plo. Cos- que formam uma bebida do ori-
saco—da lingua dos l^irghis. Ca- ente. E orthographia ingleza.
valleiro da Ukrania. Limão—A& liajah — t, da índia. Príncipe.
laimvn, persa. Derivados : li- Sandalia—áo persa mndalak, cal-
moeiro, limonada, etc. Laea—de çado, Saraça—úa, índia, cober-
lak, persa, sanskrito la'ksha, re- tor, Satrapa—termo persa, co-
sina. Azul — do persa lazur, nhecido desde a antigüidade
azul. A forma primitiva deveria grega e romana. Governador, Es-
ser lazul; o ? desappareceu talvez carlate—do persa serkelnt, rubro,
por ser supposto artigo : (Vide Escarlatina, Ghale — do arabe
Apherese. Derivado; lapU-lazuUi, schal, inglez shaicl; usado no
do italiano, mineral, lazulite; oriente. Serralho—de sarai, casa,
no lat. barbaro lazurium. Múmia palacio. Persa. Cf. caravan-
■—do persa muni, cêra, substan- ç.ara. HpaM—do iiersa sipahi, ca-
cia balsamica. Derivado : mumi- valleiro. Tambor, do persa. Arabe
■ficar, etc. iVacar—persa nakar, tonhur, atambor nos ant. do-
usado também pelos arabes. Na- cumentos. Scheler opina pela
carado, etc. Naplita—ãa chal- origem romanica de tap, táb,
daico nepltet, betume. JVapkta- bater, ferir. • Sandalo—do sans-
lina. iVarí/Me—persa, cachimbo krito tchandana, arvore. GJiá—
turco. Orang-utang—termo ma- do chinez tehã. O nomeromanico
laio. Orang-utan, homem do thé provém da prov. Te, emporio
matto. Horda—do mongol ordu, da exportação d'esse producto.
tribu errante. Paraíso—do zend Derivado: chaleira. Veda—t. sans-
pairi, ao redor, daeza, baluarte, krito : sciencia. Vedas, livros
cerca. Introduzido por Xeno- sagrados da líidia. Ha muitos
phonte no grego sob a forma Pa- outros nomes locaes da Asia que
radeisos e utilizado pelos tradu- entraram no portuguez desi-
ctores da biblia para designar o gnando vários produotos da in-
Eden dos hebreus. Palanque— dustria : madapolão, madrasto, ca-
do pâli, e sanslvrito paryanka, chemira, nankin, etc., nomes de
leiteira. Paria—Ao tamul pare- cidades e logares. Da linguacon-
yers. Mesm."j/sansk. íjara, grego cani, os portuguezes tomaram o
para, per : exclusão, trans- termo eorj, numerai que signi-
gressão. Classe proscripta de fica vinte, e ainda foi usado com
homens. Percalina — do persa tal sentido pelos primeiros es-
parkala, tecido fino. Patehuli — criptores : uma corja de seda (20
do hindustani elley, follia peças..,), üorja, hoje tomou a
úp. patchey, planta odorifera. Pha- accepção pejorativae designa nu-
riseu—do syriaco pliariseJi, dis- mero indefinido.
ASPIRAÇÃO ATÉ
Aspiração.—Xil lingua por- que terminam em consoante
tiigueza não lia propriamente an- soifrem a assimilação: Ai) — ae,
piraçMo ou letra aspirada. Com- af, al, at — accu.sar, alfadigar,
tudo, como as vogaes iniciaes não allegar, attender. Ob—oc, af, om
podem ser pronunciadas sem — occidente, offerecer, etc. Pjjm
uma ligeira aspiração do ar; as- -■pel—pellucido. In—il, im—iXle-
tro, arjua, talvez por essa razão (jal, immerecido, etc. Além dos
se explique a abundancia e vocábulos compostos, nota-se a
abuso do !t inicial na lingua an- assimilação entre consoantes de
tiga {ho, ha, lie, liu, huni) banido syllabas próximas: chócho, por
na orthographia de hoje. socho. de suctus; o plebeismo
cachacJia, por cachaça, etc. A pro-
Assimilação. — É o pheno- l>osito de cada prefixo, damos
meno ciuacterizado pela trans- neste livro as assimilações re-
formação de sons por atlracção spectivas.
ou synipathia de outros, no
mesmo vocábulo. Assim, o rf de Astcrisco. — Pequeno si-
ad transformou-se em t, na pa- gnal orl hograpliico, a imagem de
lavra attender (ad-tendcre, atten- estrelli), usado na iinprensa para
dere), em s, na palavra (ad chamar a uma annolação ou in-
satis, as-satis), etc. X assimilação dicar lacuna no texto óieste caso
tem diversos gráos de intensi- em|)regam-se vários asteriscos
dade. 1? Accommodação. —Ape- seguidamente). Nos livros de
nas os sons se modificam para philologia romanica, com o aste-
facilitar a pronuncia: no latim risco indica-se o vocábulo hypo-
bis, -pardeis; bellum, \wt:dcellum; tlietico, a forma intermediária
em portuguez, Jbroreymo. por Ilie- latina cuja existencia necessaria
runymo, etc. 2? Attracção. — Xo- não está documentada.
ta-se em varias palavras a ten- Asyiideticas.—Proposições
dencia para uniformar as vogaes: coordenadas
e-nt-e-ado, por anteado (antena- simplesmente, por juxtaposiçSo
isto c, não liga-
tus), m-e-r-e-neorio por melancó- das por conjunccões connectivas.
lico; o iilebeismo salvayem, por (P. J.)
selvagem, etc. O plienomeno con-
trario, a repulsão, que consiste Até. — Preposição. Póde-se
na adopção de vogaes disseme- empregar unida á lireposição a
Ihantes, é igualmente^muito ob- ou isolada: Ate' ao meio dia; até
servado : hoveda, por bovada (abo- meio caminho. Até noite ; até ã
bada); Jilagrana, por filigrana; noite. Quando ha determinação
bêbado, xw bebedo, etc. Assijni- do limite, supprime-se a prepo-
lação propriamente dita. Pode sição (i,e c o que se vê dos exem-
ser de duas especies. Progressiva, plos : até cem homens ; até vinte
quando se ojiéra de detraz para mil réis ; rtííí Lisboa. Sem deter-
diante; regressiva, no caso con- minação: até ao céo, até á flo-
trario. Quasi todos os prefixos resta. Moraes queria que no uso
(
:!8
ATÉ AU, AO
das duas preposições houvesse re- Aos elementos modificadores
dundância. !t Arcli : atá, alua, chamam os grammaticos adjim-
atem. !| A cerca do uso synta- ctos attrihutixos (Vide Adjunctos).
cticü de ate, escreve-me o illus- (P. J.)
trado pliilologo Firmino Costa: Attrilmto. — E a parte do
«Os clássicos antigos cpiasi luiuca predicado separada' do \erbo,
usavam da preposição a depois (juando este é o verbo ser: Pedro
da preposição até. Moraes, em c preguiçoso. Kelativamente ao
seu «Kpitome daCíramm. Porl.» attributo, o facto mais uotaveJéo
publicado com o Diccionario (4? da attracção que existe entre
edição, pag. XIX), considera elle e o verbo, de modo que, con-
erro juntar a a, até. Entretanto é tra as regras da lógica, o verbo
lioje muito arbitrario em alguns deixa de concordar com o su-
escriptorcs o >iso da iireposição a jeito para accommodar-se ás va-
depois da preposição até, como riações do attributo : t^Vio cinco
se vô em Latino Coelho (Vasco horas (por, é cinco horas); tudo
da Gama, l? P'') : até ã viagem são flores (por, tudo é flores). Esse
portentosa do immortal Vasco facto prova (jue o attributo o
da Gama (63): até o (iolfo Ará- inseparavel do verbo, é parte
bico (Oii); até o Cabo Verde ou integrante d'elle, e ambos con-
no Cabo das Palmas (112); até os stituem o predicado ; ama ; ama
extremos confins da Europaocci- =é amante. || A concordância do
dental (133) ; até ao grande reino attributo é matéria de muita
de Melli (110).>. consideração, e parec(í que ella
Atona (syllaba). —É a em sempre se fez com a palavra que
que não recae o accento tonico. está posposta ao verbo. Confron-
Na formação do portuguez tem-se os exemplos : Mil cruza-
deu-se no vocabulario a queda dos^» minlui renda. A minha
da vogai atona latina, que já não xmúa. são mil cruzados. Tudo são
soava na linguagem popular de flores. í^lôres é tudo (e não—são
Roma. tudo). Apezar d'isto a concor-
dância não se faz nos exemplos
Atraz. — Preposição. Pócle em que a singularidade do su-
estar posposta: diasaíraz, annos jeito é a idéa principal : "Elle,
atraz, dei.xar atraz (ultrapassar). por si só era mil soldados» ( e
Acompanha-se de de: atra/, da não—eram). Exemplo idêntico
porta. Xa lórma traz emprega-se se encontra no Kscoliaste: «Na
sem outra preposição. conversação não era (o P«. Vi-
eira) um homem, era muitos ho-
Attracção. — Vide Assimi- mens .»
lação.
Ali, Ao.—Diphthongo latino
Attrilmtiva (relação).— E a e portuguez. O latino de ordiná-
que e.\iste entre o nome e o ad- rio persiste : claustro, claustrum.
jectivo ou um seu equivalente. No emtanto, nos exemplos do
39
AU, AO — BALLÔ
maior aiitiguidade nota-se a per- a differença no emprego entre
mula au—ou, e mesmo ha fun- ser e estar (posto ás vezes seja
dada conjectura de que era esta elle indiíferente), a variação de
a pronuncia latina approxima- sentido do verbo ser, conlorme a
damentp. Mouro, mauriini ; i)ou- preposição que rege o comple-
sar, pausare. A lorma oi confun- mento <)ueo modifica, as varias
de-se francamente com nu : significações do verbo estar, ha-
oiro, ouro, aurmii; thesoiro, tlie- ver, etc., e bem assim o emprego
souro. thesaurum. O diptithongo sjMitactico deoutros verbos, como
portuguez ati iiode provir da caber, sair, começar, dar, crer,
queda da consoante média: mão, etc.» (P. J.)
malum; vão, taduni, etc. O grupo
no emtanto pode ficar desfeito B
em hiato pela accentuação :
saiide, salutem. A graphia ao
nunca é permittida no principio, lí.—Sôa sempre b. Confunde-
nem no meio dos vocábulos. Es- se com V em algumas palavras :
crevem-se oi e ou, mas em Por- vodas, bodas; covarde, cobarde ; al-
tugal a prosodia oi é muito mais boroço, alvoroço ; hadameco, vada-
commum que no Brasil. meco; escarabelho, escaravelho;
bespa, vespa. || Xa ortliographia
Ausineiitativos. — Vide só se dobra em muito |ioucas
Oráo. Alguns poucos augmen- palavras : abbade, abbadia, abbá,
tativos só existem como taes e sabbado; e não succedea n, mas
não têm positivo : chorão, co- a Jíí .• ambiguo, lamber. || Deriva
milão (-ona), estirão. do latim b : bobo, balbum; taboa,
tabulam; cebo ou sebo, cibum.
Autos (si mesmo). — Ele- Pôde, por abrandamento, resul-
mento de composição grega. tar de p : caput, cabo ; capere,
Autographo, escripta do proprio. caber. Acaso resulta de f pela
Autonomia, lei, governo de si analogia/—i!=íi; ábrego,a//*io««.
mesmo. Automato, o que se move
por si. Autópsia, acto do vêr por líaiiio (andar). — Elemento
si mesmo, verificação. grego de composição. Fôrmas
usuaes hata, betes. Exemplos:
Au.xiliares.—«Assim se cha- diabetes, que corre atravez, ex-
mam os verbos formadores dos creção ; moléstia ; acrobata. (]ue
tempos compostos, da voz pas- anda sobre as extremidades
siva, dos verbos frequentativos e (akron); hyperbaton, que vae para
periphrasticos. São verbos rela- cima, inversão.
cionaes. Podemosdividil-os, con-
forme .se combinam com parti- liallõ (lançar, pôr).— Ele-
cipios, infinitos ou com infinito mento grego de composição. Pa-
e participio. Os auxiliares repre- rabola{para, ao lado, balló, eu lan-
sentam notável amostra do pro- ço), comparação. Problema (pro,
cesso analytico. Cumpre estudar para diante, balló, hinço ou po-
40
BALI.Ô BARBARISMO
nho), coiisa que se propõe, pro- baro que no portuguez mais
posição. Symbolo. Hyperhole. Em- predomina, pelo abuso dos jor-
blema. Balista, etc. Palavra (de luilistas o dosmáos escriptores, é
paraholam). indubitavelmente o Irancez. O
elemento francez nos primeiros
líarbarisiiio.— Cliamiim-se tempos, antes da disciplina clas-
barbarismos os vicios.de coii- sica, Ibi de influxo bastante pro-
strucção e os vocábulos inuieis, fundo e extenso em lodo o léxico
tirados de lingiia estrangeira, portuguez. Como pondera Diez,
em geral tudo quanto pckie em- a comitiva do conde de Borgo-
paiiar a pureza da linguagem. nha e a aristocracia franceza que
Propriamente, a intluencia das o acompanhou deu talvez o im-
linguas e.xiranhas é normal ; e pulso original d'aquelle inüuxo,
só o abuso ou capricho dos es- como sempre succede normal-
criptores pode , occasionar bar- mente, pois a linguagem da corte
harismos. Taes são, por exemplo, é sempre imitada no resto do
os france/.isnu)s, como : enor- paiz. liasta o exame superficial
guellir-se, eclosão, fazer (jior e.\- dos cancioneiros, para notar-se
clamar), etc., que têm sido de desde logo como o léxico de em-
uso de alguns escriptores impu- préstimo francez era abundante.
ros. Os barbarismos são di; duas Eis alguns especimens de galli-
ordens: léxicos e syntarMcos. Os cismos no século XIII, colhidos
léxicos referem-se ao uso dos vo- no Cane. da Vaticana : cliançon,
cábulos; os si/ntacticos, -iio uso canção ; diapel, elmo ; fontana,
das phra.ses. E maior crime o fonte; jograron; meison, casa ;
barbarismoquo o solecismo,itotquc mençonha. mentira : mesnada,
este é vicio de construcção, erro hoste {menée) ; ranciiras, aggra-
de ignorancia, negligencia ou vos ; rango, classe ; sojornar^,
descuido; mas aquelle é quasi ficar. E muitíssimos outros. É
sempre propositalmente com- obvio, no emtaTito, que muitos
mettido, e ás vezes sob a côr de d'esses gallicismos possam ser
excellencia ou garridice de es- explicados por etymologias por-
tylo. !No latim, barharismo era a tuguezas ; outros ha, porém,
expressão consagrada aos termos como chançon. (jue não encon-
que provinliam dos barbaros, tram outra naturalidade senão
raças e iiovos subjugados pelos na língua franceza. As duas
romanos; taes eram os termos phases mais notáveis de latinismo
gurdus, battualia, camisia, cere- foram a dò século XV e XVI, e
visia, etc. Direito de cidade, as do século XVIII-XIX. A pri-
entre os romanos, tinham,porém, meira confunde-sé com a época
os hellenismos, productos de ci- do grande movimento clássico,
vilisação adiantada, «eram larga- com o jicriodo áureo da litera-
mente usados no latim clássico, tura portugueza; foi indubita-
pelos melhores escriiJtores, ma- velmente a mais fecunda, por
xime na poesia. |1 O factor bar- isso que renovou, disciplinou e
41
BARIiARISMO
fixou ii língua. A segunda, iiiau- Entra todos com o dedo era.9 notado
guradii pela Escola ArcatUca luis Lindos nio(;os de Arzilla eni galhar-
fins Uo século passado, pouco dia.
produziu relativamente, e o ef- R o de Heniardes :
feito dos latinismos da Arcadia
l)ouco mais do que na lingua- Seitas tlespedeni ; Aovhão voltando
gem poética se fizeram sentir. llapiilas cáeni (jne as recebe em
Odorico Mendes, espirito de sangue...
arcade, ainda que do tempo do
romantismo, nas suas Iraducções No periodo da 1'henix renas-
de Homero e de V^irgilio, usou cida são frequenlissimas as lo-
de latinismos que nunca se popu- cuções congêneres, e os proprios
larizaram. K.xemplos tirados do arcades que restauraram a pu-
canto I, da Eneida: egresso, reza classica não desprezaram de
exul, sevo, hellipiijante, luxar, im- todo esses vicios de conslrucçâo.
mano, prono, grandevo, os Knne- Jluitos lalinismos foram intro-
das, cancello, nutriz, otuisto, diro, duzidos por escriptores de pe-
genito (subst.), alifugo, excluso, quena auctoridade, e por isso
tnrrigera, lueo, hellipoteiite, nado dei.xaram de licar inteiramente
(filho), ostro, fluctiroso, sopito, consagrados : acume, engenho ;
■tlíurificar, porta-juhilo, crinito, confecto, íicabado ; dealbado, bran-
excidico, seteno. Muitas d'essas queado; derelicto, desamparado ;
formas são rejuvenescidas do extar, por subsistir; exterrecer,
uso arcadico,e outras de creação causar terror; fedo, por torpe:
do poeta. As traducções de Ho- incapillato, calvo: iiiiipta, soltei-
mero estão eivadas de latinis- ra: invitar, convidar; inusitado,
mos e liellenismos ; a força syn- desusado (Camões, Lus. íl, 107);
tlietica das linguas classicas não lactar, dar leite ; limacro, banho;
poderia tolerar, de outra ma- ludo, brinco (Gaspar de Bar-
neira, a trailucção homeome- reiros. Odor. Mendes); poto, be-
trica. Os latinismos syntacticos bida; temulento, ebrio; tepor,
foram assas freqüentes, por mornidão ; tribulo, abrolhos ;
Abuso de invenções, no [leriodo vencrabundo, venerando (P. Fer.
clássico; contra o e.xcesso de tal Alma matr.) E ainda muitíssi-
innovação clamava .Toão de Bar- mos outros que vêm catalogados
res na sua Orammatica, porém nas Iteflex. de Cândido Lust. I,
a,o que parece inutilmente ou 58. Do (lue se refere especial-
com pouco proveito. No periodo mente aos modernos gallicismos
do gongorismo, os liyperbatwns ou locuções e vocábulos de ori-
tornaram-se liabituaes, ma.\ime gem fraticeza, trataremos no lo-
na poesia, não raras vez.es illegi- gar competente. As outras lín-
vel, d'aquella época. E conhe- guas pouco iniluiram, e em geral
cido e citado <'m todas as gram- não podem ser taxados de vicios
maticas o trecho de uma oitava e.sses empréstimos naturaes que
de Mousinlio de Quevedo : significam, mais ou menos, o
C
42
BARBARISMO HIB^ORMES
gráo das relações internacionaes liata.—Vide Baino.
de caracter literário, político ou
commercial. Comtudo, só escri- líete.s. — ( el. grego ). Vide
ptores de pulso e de grande Baino.
tento, podem com alguma au-
ctoridiule naturalizar vocábulos liiblíoii (livro).— Elemento
peregrinos quando convenham grego de composição. Ern hihlio-
ou pareçam necessários. (iraphia, descri[)ção de livros ;
hihliotheca, estante de livros. Bi-
Iíai*<»s (peso, gravidade).— blia, o livro por excellencia.
Klemento grego de composição.
líarometro, medida de peso ou Iíir<>riiies.— São assim cha-
densidade. Haryton», tom grave. mados os adjectivos (lue t,6m
duas terminações, usadas con-
líarytoiio. — Denominação forme o genero do substantivo a
dada aos vocábulos não o.\yto- que se referem. Ex. : bom, fem.
nos, isto é, ,aos graves (paroxyto- boa; íormoHO, for moxa ; meu, mi-
tios) e aos esdruxulos {i)roparú- nlia ; nenhum, nenhuma. Os ad-
xi/toiiüs). Todas as palavras, pois, jectivos que só possuem uma
que não têm o accento na ulti- terminação para ambos os gene-
ma syllaba são harutonas, v. gr.: ros, são ditos uniformes, v. gr.:
fp,lülo, peito, cidade, herético, etc. fatal, cruel, etc. Antigamente os
E expressão grega, formada de nomes em ez eram uniformes.
hanm, grave, e tonos, tom. Dizia-se a terra portugaez, uma
mulherfrancei, etc. Facto que se
líasco. —liiscainlio,vasco, tuh- verifica ainda hoje nas forma-
conço; denominação dada aos ções adverbiaes : portuguezmente
povos do norte da Hespanha e e não portufjuezamente. Esse facto
sul da França, pelo littoral e re- era o resultado da acção <lo la-
gião i)yrenaica, os quaes falam a tim, em que as formas em ensis
lingua euskara ou o basco. A in- (portucalensis) também eram uni-
fluencia do euskara na lingua formes. Vice-xersa, adjectivos
hespanhola é muito limitada, ao raros que foram biformes torna-
que parece; mas a lingua ainda ram-se uniformes actualmenie ;
não estií bastante estudada para commum, commua, 6 hoje de uma
que haja verdade absoluta em única terminação (commum) i)ara
tal affirmação. Quando tratar- os dons generos. A razão está na
mos dos putroiiymicos, falaremos idéa pejorativa ou diversa que
da liypothese de Larramendt adquiriu o feminino. O mesmo
sobre a origem basouense d'a- succede.a coalhada, etc.
quellas formações. Em Hespa- No latim, como havia tres gene-
nlia, ondü. as criadas de servir ros. era possível o adjectivo tri-
são bascas em maioria, corre o forme. No portuguez ha vestígios
vocábulo euskara cemata (ama) de triformes nos determinativos.
conhecido de todas as crianças. São triformes alguns nomes de
43.
UIFORMES - - BR.
natureza biforme : motor, moto- duas conchas ; hUjorna, de hicornu,
ra, que ainda tem a forma mo- duas pontas ; viez, hifax, duas
triz. Enredaífor, ôra, eira, etc. faces, por meio do fr. hiais ; hi-
(masc.) ífem.) (neutro) lião ou bilhão, em logar de bimi-
este esta isto Ihão; cexgo, de büoculus, vesojo,
iste ista istiíd cast. A forma latina bix, que vem
elle ella ello (arch.) de ãvis com a forma ui, abran-
itlc illa illií.d dada de ií,^ acha-se em Ki-fieiiti
aquelle aquella aquillo (2 X 10).—pj de notar-se nas lín-
hoc-ille hoc-Ula hoc-illud guas romanas a existencia de
todo toda tudo um prefixo pejoratico, he, bü, be
totam (accus.) toiain totuvi.
ou outra f(')rma similar. Sua ety-
As formas neutras esso, enta, mologia não está averiguada,
aquesto, aquisto, etc. desappare- mas é evidente, sobretudo no
ceram. Outro facto que dá ao francez, o grande numero de ter-
portuguez uma fôrma llexiona- mos pejorativos que começam
vel a mais, é a desinencia «« de por a(iuella syllaba, como pon-
alfruns adjectivos, que só se ap- dera DarmstaHter. (1)
plicam ao ser personalizado ;
outrem otitro outra lí.j.—Es te grupo consonantal,
alguém ahjitm (dyuvuf, algo em geral, persiste sem assimila-
quem qu e ção, ao contrario do italiano fog-
ninguevi '}ienhuni nenhuma. ye.lto): objecção, de nbjectionem;
Quem refere-se também a cou- abjurar, d&ahjurare. No emtanto,
sas. nota-se a perda da primeira con-
soante ou assimilação nos vocá-
liis.—Elemento de , prefixa- bulos já assim vincííjs do latim
ção que significa duas vezes: puro—sugqerir, Hvgyestrio, ou nos
hüemanal, duas vezes por sema- populares: sujeito, por subjeito.
na. O uso não está fixo, porquanto A forma archaica sojnrno, de go-
bisannual, bimensal (também hi- jornar, é devida ao francez, senão
mestral) devendo significar duas ao italiano.
vezes por anno e por mez, ex-
primem no emtanto os i)eriodos Bola, bole (elemento grego).
de dousannos, dousmeze.»;. Essa Vide Bailo.
contradic^ão não c geral. Com- líoilH (boi). — Elemento grego
põe-se com elementos latinos e de composição. Bucólica, pas-
gregos. Exemi)los gregos b£- toral. Hecatombe, cem bois (sa-
ganio, que se casou duas vezes : crifício).
hi-nxydo, hinomio. Exemplos lati-
nos; biennio (áe annus), biceps líi*. — Este grupo, em geral,
(de capvt, cabeça), bipede. bi- conserva-se intacto : libra, de li-
sexto, bimano. Ila algumas for- bram ; cobra, de colubrami. A per-
mas que üffereccm interesse inuta b=v occasiona o gruim vr,
pelo estado de deformação em
que se -Ach-íim: balança, de Inlanx, (J) Les muts nouveati-v.
44
BR. — BRASILEIRISMOS
ai.enas observado lui coiitracção de degenerações ou differen-
Oos valores aloiios; livrar, tle U- ciações paroiaes e geographicas
Vrare; lavrar, de laVrare. O da língua. Que esse dialecto,
Srupo portngiiez br origina-se porém, tenha foros de lingua )
de br latino, como foi vislo literaria eculta é o quedetodose
acima, oiule pr: obrar, ile op'ta- tornainadmissivel, poisqueadia- i
re ; cabra, áeeapram ; cobrir, de lectação brasileira não é suHicien- l
copWire. Rara vez br estando por temente caracterizada e intensa. J
vr, Qv represeiila/Ialino : abrego, Em toda a i)arte, as províncias e
de afric.us. Pôde lambem origi- os domínios de qualquer lingua
nar-se da contracção beri, como caracterizam-se por modos espe-
em brilhar, b'riUare, ãe beryllare. ciaes divergentes que não de-
stroém a unidade da lingua fun-
lírasileiri.sinos. —É a ex- damental. Quando o dialecto se
pressão que damos a toda a casta desvia consideravelmente da lín-
de divergências notadas entre a gua mãe, pode tornar-se literá-
linguagem portugueza vernacula rio e culto. Foi o que succedeu
e a falada geralmente no Brasil. ao gallego, ao catalão moder-
Não se encobre porém aqui o namente, (^ na idade média á
intuito de exculi)ar com a ex- todas as lingiias romanas que se
\n(ifiíião brasileiri/tmo a viciosa in- emanciparam do latim barbaro. \
ferioridade dos (jue escrevem A emancipação do dialecto bra- /
mal ou pregam muito de indus- sileíro, se não é de todo inexeíjuí- r
tria as excellencias d'esse lin- vel (em remoto futuro) é segu- V
guajar fora de todas as normas rdmente, pelo menos, prematura.-/
grammaticaes (1). Divergências A lingua, classica não constitue
lia, e ninguém põe duvida, entre óbice d(í especie alguma para os
os modos de expressão porlu- brasileiros — a não ser a exi-
guezese brasileiros. Ila quem d6 gencia, que se dfl em todas as
ao conjuncto d'essas divergen- línguas literarias, de estudo e do
ciaso valor dedialecto.Oconceilo bom gosto (1). No decurso das
de dialecto não tem, c verdade, linhas seguintes não se tratará
limites bem assignalados e, como especialmente da influencia do,
diz Witney, ha dialectos em tupi, abaneêm, guarani, nem do-
todas as classes sociaes e no
seio da própria família. A no- (IJ A de dialecto brasi-
ção de dialecto, pois, poderia, leiro teve varias i>hases de erítica
sem grande inconveniente, ser (lisdissão e |)(ileinica, com Alencar,
applicada a qualquer systema Castiliio (.losé), lí. Caetano, S.
Paraniuis. C. de Laet, Ararii)eJu- v
níor, Teixeira de Mello, Barreiros, ;
(l)]í taiiil)eni essa a u|iiniüo ilo etc. Até hoje, tem semjire preJonii-
grande veriiaculista e eserii)tor Ruy nado o elemento clássico, com as
liarbo.sa na sua recente Replica ás deviilas concessões aíis (pie tudo i
defezns da redacção dn (J. civil querem, e desejam a licença de j
(tòaí). falar e escrever aseutalaute. '
45
KRASILEIKISMOS
africano, ou du outros quaesqucr mo, italianizado, germanizado,
influxos produzidos na linfrua, e ainda não está definido. Dei-
que serão estudados nos lofrares xando de parte a apreciação
indicados (ntígrtt, Uipi, ciyano, geral, no que respeita á língua,
etc.). Apenas faremos a analyso a dialectação do creolo, sob mo-
da linguagem que foi creação e dificações secundarias, maniem-
producto do mestiçamento civi- se boje em dia, por todo o paiz,
lizado das raças e povos funda- eni estado de quasi equilíbrio.
mentaes. A possibilidade e fata- Os caracteres plionologícos são
lidade da dialectação creola ou os que na maioria distinguem a
mestiça resultou da vida nova linguagem popular da erudita ou
dos europeus coloniaes, ou dos escripta. A divergencia maior é
que adoptaram a vida e os usos a da prosodia; sons breves quasi
dos europeus. Diversos factores os não po.ssuimos; conservamos
collaboraram para isso : o clima, a accentuação da lingua portu-
a presença de tres raças (a port. gueza. mas generalizando-aquasi
e a africana) e a outra ini- para todas as syllabas iniciaes
miga (a tupi), os ciganos, os das palavras. As próprias iiarti-
hespanhóes, o typo mestiço ou culas encliticas [me, te, se, o, a,
creolo resultante do caldea- etc.), soam como se fossem ac-
mento, as novas necessidades, centuadas ; e esse defeito pro-
novas perspectivas, novas cousas sodico é o que nos inhabilita a
e novas industrias. Datam os regular, por euphonia, a collo-
primeiros estabelecimentos de cação dos pronomes e ainda de
ensino dos meiados do século outras partes do discurso. Na
XVI. D'abi em diante a coloni- direcçãn do Norte xtara o fSul, cres-
sação e o fundo crescente da cem em intensidade os sons inarti-
immigração portugueza adianta- culados ou Doyaes, emquanto decres-
ram o mestiçamento da raça, cem em ríbrações os sons articula-
quando desde cedo as nece.ssida- dos ou consoantes. Mas esta
des industriaes impozeram o observação não é regra, e apenas
trafico de africanos. No século parece confirmada na y)rosodia
actual a crise do proletariado sertaneja e não do littoral do
europeu, occasionando diversas sul. Em verdade, no 'norte do
correntes de despovoamento e l)aiz, os sons vogaes são surdos :
emigração do .solo, procurando diz-se—eãsa,tumar, hutar, canúa,
por acclimação mais fácil, a zona (jui, pésar, o a intensidade
sub-tropical e temperada, tende maxima torna-se etVectiva no Sul
a produzir no Brasil dois typos (S. Paulo), dizendo-se : cãsa,
ethnicos differentes; o nortista, hótar, quê, pésar, etc. De outra
fiel ás tradições, mais liomo- parte, algumas consoantes, como
geneo e mais proximo do brasi- o 6 e o r, são fortíssimas, carrega-
leiro do typo colonial; o sulütn, das, nas regiões septentrionaes do
perdendo o caracter nacional lírasil. Esta lei pôde reduzir-se
na incohesão do cosmopolitis- ao'principio mais geral de que o
40
BRASILEIRISMOS
Korte, menos impulsionado por mais notáveis : maleitas trans-
elementos estninhos, conserva formou-se em malditas, sezões, fe-
mais (ielmente a phonologia rei- bres (Cearií), se bem que etymo-
nicola. ao menos no que respeita loglcamente se reporte a mala-
lis vo^aes ; mas nem Isso c regra ptus, malato. Xo terreno proprio
de valor. A demora e o esfor(;o da morphologia, a colheita é
com que os nortistas muito igualmente instructiva e abun-
mesclados com Índios pronun- dante. A flexão nominal soffreu
ciam o r. rr, derivam talvez das algumas dífferenciações bem no-
difíiculdades que o indigena teve tadas no S()lo americano. Em
a superar naturalmente, por relação ao yenero: fardamento
isso que o tupi só possue o r tomou a terminação feminina
forle analogo ao r portuguez fardamenta; o inverso deu-se em
entre vogaes. Phenomeno idên- (jatimonho (Pernambuco), por ga-
tico e de igual explicação é a timanha (2). E, entre o povo,
permuta do Ih em l, onde se en- são tidos e usados como mas-
trev6 a influencia indigena: aleio, culinos os termos: trama, tapa,
niuUr. .. em vez de alheio^ mu- etc. Quando a palavra é susce-
lher, eXK.\ os indígenas não conhe- ptível de duas flexões generlcas,
ciam o som l. Ajnntemos ainda como lenho e lenha, a fôrma femi-
o abrandamento do ã em e, como nina, por mais vulgar, é a prefe-
em Portugal nos preteritos dos rida, em regra geral, na dia-
verbos da primeira forma: jante- lectaçfio brasileira: lenha, lenho;
mos, almocemos. . . por jantámos, madeira, madeiro : horta, horto;
almoçámos, etc. Convém não es- ceva, cevo : saia, saio; gorra,
quecer que muitas das Tórmas, gorro : boda, bodo ; fructa, fru-
\ V. gr., rejume, faiar (fadar), são cto. Os masculinos são quasí
V quinlientistas, vernaculas, e da- desconhecidos do povo. Al-
í tam da colonisação primitiva. gumas vezes o fi>minino é
'■ Os phenomenos de svibtracção, creado conforme o typo mas-
sobretudo de syucope, têm culino, como carneira (ovelha),
exemplos numerosos: maginar, de carneiro. Semelhante in-
(clássico); lazão ; baião (dança), versão ojierou-se na America
bahiano, etc.; sami.xuga, birro, hespanhola, entre os Colombia-
(asslmil. de hilro). São vicios nos, que formaram ovejo de
todos de origem popular, que oveja e potranco (i?) de potranca.
não jioderiam passar ií língua
llteraria. A essas mutilações
phonicas organicas juntam-se as (1) «Vae-te para as oonfiindas...»
modificações produzidas pela (profuiiilas). Sylvio Homero—Con-
analogia de formas idênticas. tos Populares.
Tal é o haréra, por analogia com (2) Sylvio Homero — Contos.
haver, e as confunãas (\), por se- Leiani-!ie os vocabulários de 15.
melhança de profundas. A ana- iloliau e de Macedo Soares.
logia morphlca tem exemplos (3) Ciiervo.—Apuiit. 187.
47
BRASILEIRISMOS
Os chilenos e os peruanos modi- cem-passos.ii Significa roça. Pen-
ficaram o genevo d(> muitíssimas daoosta — üahia e Sergipe;
palavras (1). A llcxão numé- panno da Costa, chalé grosseiro
rica, cm geral, é conservada in- usado pelas mulheres africanas.
tacta. Apenas os pluraes de sut- Vira-virando—expressão de em-
fixo ão, procuram a tendencia jihase indicada pelo gerundio.
sympatliica do plural em Corre correndo, etc. (São Paulo—
cuja classe entra o maior nu- Júlio R.). Guadimá — Norte ;
mero de palavras da mesma or- touro bravio. Etymologia in-
dem ; o mesmo ha em Portuííal, certa (1). Sirrir (verbo)—exem-
mas em relaçãoaopluralãfs. Para plo curioso da aggluti nação de
a ílexão ãos, õts, ães, S(5 existindo pronome e verbo (se-)-rir); de
regras etymologicas, eruditas e modo que conjugam analogica-
sem alcance para o instincto po- mente: eu sirro, tu serres, elle
pular, as mesmas confusões de- serre, eu serrí, não sirra, não sir-
vem apparecer onde quer que ram, etc, (Norte.) Cafuz—mes-
se fale o jiortuguez. Não ob- tiço de Índio e africano ; no Pará
stante, nas mesmas palavras tem a forma mais laia : Carafuso.
pluralizadas do estylo clássico, Marruií, marniaz — Norte ; hoi
o singular é mais constante: ce-
roula. cócega. etc., e quasi todas marruá ; em algumas bandas en-
as outras d'essa natureza. A contra-se a forma monrvy (apud
S. Roméro, Contos). Cangapc —
morphologia ganhou na sua formado de Camba-pé; portu-
acclimação americana; além dos guuz ; popularissimo. CalabcScjue
sufflxos uêra e rama, de origem — formado de cala.bocca ; signi-
abaneÊm (Vide Elem. hipi),
conhecemos especimens de trans- fica ; cacête (casse-tête) ; cf. cala-
formação ou de creação empha- brote. Os phenomenos de jux-
tica; sirva de exemplo o au- ta-pói3Íção léxica entre elementos
gmentativo/«ínanaz (Cearíí), e a discordes de origem (hybridos),
queda ou contracção por apo- tornaram-se extensivos de ma-
cope: temero por temerário. A\- neira bastante sensivel, até nas
guns compostos do elemento tradições poéticas conservadas
mestiço offerecem interesse de pelo povo. O l)r. S}'lvio Roméro
analyse : Cabo-branco—mãos do colligiu uma especie de villan-
quadrúpede ; usado na expressão : cête (C.pop. 1,270) em que os ver-
Cavallo cnboK-branens. (K. G. S.). sos do portuguez creolo termi-
(Vide Coruja e B. Rohan. QlossJ. nam por estribilho africano:
Cem-passo—Ceaní.«Possuo dous