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OBEAS DE JOÃO EIBEIRO

Propriedades da LIVRARIA FRANCISCO ALVES

Histobia do Bkasil, para Gymnasios e Escolas Nor-


ijiaes, 1 vol. cart 4$000
Historia do Bkasil, para Escolas Primarias, 1 vol ISOOO
Auctobes Contemporâneos. Selecta dos auctores do sé-
culo XIX, adoptada pelo Governo para os exames
das línguas franceza, ingleza e allemã 3$000
Grammatica Portugueza, da infancia, curso primário
(1? anno) 1 vol. cart 1$000
Grammatica Portugueza elementar, curso médio (2?
anno) 1 vol 3$00(>
Grammatica Portugueza, curso superior (3? anno)
^ 3$000
« Nenhuma conheço, em lingua portugueza, de
tam alta valia.»
Cândido de Figueirêdo.
Díccionario Grammatical, 1 vol. 4$000
Historia do Brasil (edição do Centenário) 1 vol 38000

Selecta Classica — Periodo archaico, periodo clássico;


quinhentistaseseiscentistas; comannotaçõesphilolo-
gicas 6 grammaticaes — 1 vol 4$000
«É a melhor Selecta, em lingua portugueza.»
José Verissinw.
Historia Antiga (Oriente e Grécia) 1 vol. cart SSOOO
DICCIONARID<^

GRAMMATICA

COMPILADO POR

JO-A-O PLIBEIR.O

3? edição
Inteiramente refundida e muito augraeiitada

LIVEAEIA FRANCISCO ALVES


134, Rua do Ouvidor, 134—Rio de Janeiro
Rua de S. Bento, 45—S. Paulo
Rua da Bahia — Bello ELorizoute
z í-
19^6^ b
PROLOGO

DA EDIÇÃO

Em desempenho do encargo que me fizeram os editores F.


Alves & Cí, de melhorar e ampliar o Diecionario Qrammatical, sem
prejuízo do plano primitivamente adoptftdo, esforcei-me para que
esta terceira edição fosse em tudo superior ás primeiras, quanto á
fôrma e á substancia, íí disposição e á excellencia das matérias.
Foi primitivamente o Diceionario Qrammatical organizado
para corresponder á necessidade que havia de reduzir em um s<5
corpo, na ordem alphabetica, por mais fácil, as matérias comple-
mentares do estudo da lingua portugueza, segundo as exigencias
dos novos programmas de ensino. Naquelle tempo era ainda recente
entre nós ou pouco generalizado, o methodo do estudo historico e
comparativo; os livros que no genero do Diecionario Qrammatical
existiam e ainda correm, eram deficientes, antiquados e, para falar
verdade, de muito pouco valor, taes, por exemplo: o Diccionario de
Alexandre Passos, o de Felisberto de Carvalho e, sem duvida o
melhor de todos, o EacoliaHe portugmz. Eram todos de lamentava!
atrazo quanto ás questões da grammatica comparativa, que pare-
ciam desconhecer completamente, ainda que resgatassem, em raros
casos, aquella falha por outros méritos e qualidades.
Resolvi não seguir a tradição d'aquelles livros, ao meu parecer,
improprios ; mas, sem desacreditar as doutrinas antigas aproveitá-
veis, ajuntei outras novas ou alumiei-as á luz com que se examinam
hoje os factos da linguagem.
VI PROLOGO
Não reduzi tudo it pJionetica, como fazem agora os que substi-
tuem o estudo literário da lingua por uma fúnebre autópsia dos ele-
mentos quasi inertes da linguagem e nisto cifram toda a sciencia
grammatical. O estudo rigoroso da phonetica e da etymologia, ainda
imperfeito na lingua portugueza, por isso mesmo se deve evitar
em trabalhos de synthese mais modesta e mais pratica. Ao contra-
rio, dei ampla e maior importancia aos grandes factos da evolução
syiitactica e literaria do que á evolução organica e medieval da
lingua.
Desde a edição primitiva que é este trabalho uma compilação
em que, f(5ra raros casos, só o mérito da escolha e a disposição das
matérias pertencem ao auílor, que aliiís nada mais reclama para si.
Reuni o que me pareceu mellior; .systematizei opiniões di-
versas, expuz as que eram divergentes, ou contradictorias, resal-
vando o meu juizo pessoal, que freqüentes vezes não c o mesmo
das auctoridades que invoquei. Opusculos, estudos, publica-
ções avulsas e até inéditas, difficeis de rehaver, aqui acharam
transcripção, condensação ou resumo. Questões especiaes foram
tambémdesenvolvidascomo asque se referem á linguagem doBrasil
(como attestam os vocab. d'este Dice.: Brasileirismo, Neifro, Tu-
pi-guarani, etc.), as ditliculdades grammaticaes ainda e sempre dis-
cutidas (v. Infinito, Pessoal, Negação, Se, Haver, Pronome, Que,
etc.), as incertezas e a reforma cada vez mais necessaria da orthogra-
phia (v. Ortlioyraphia), os peregrinismos, barbarismos e mormente
gallieismos. Nada do que era essencial oit'indispensável, escapou lí
pesquizaeao exame por vezes incompleto, porém, ao que sup-
ponho, satisfatório para os leitores mais modestos e numerosos
d'este livro. Aquém queira fazer justiça e julgar com imparciali-
dade, basta cotejar esta terceira edição com as anteriores, e qual-
querd'ellas com as dos livros congeneres, escriptos na nossa lingua.
Nas etymologias e transformações phoneticas, em geral, prefe-
rimos as f()rmas mediatas e remotas do latim, evitando o la^y ri ntho de
PROLOGO VII
lormas medievaes e barbaras, hespanholas ou romaiiicas, que quasi
todas sãolatinizações do proprio romance, quando não são vocábulos
hypotheticos ; é uma preferencia provisoria até quando se constitua
a giammatica histórica da nossa lingua.
Também era proposito feito não desenvolver além da medida
as questões aqui tratadas. Convinha antes de tudo conservar o
formato, o preço do livro, e não alterar nas linhas geraes o plano
primitivo; reduzindo a composição typographicaa corpo menor e
disposta em duas columnas, conseguiu-se quasi duplicar a matéria
sem prejuízo das condições que tornavam este livro estimado do
publico.
cm 1 5 unesp 10 11 12
DICCIONARIO GRAMATICAL

A nacula, hoje masculina ; era,


porém, feminina; «Por uma
A.—Letra latina. Represonta o A lí O de lealdade n, disse D.
f!om laryngeo mais puro ila liu- Duarte, L. Com. pag. 5. || Usa-se
giia. Tem os valores á (pit, pae, de li por aa, quando'se dá a
sal, miio) em todos os monosyl- contracção da preposição com o
labos (excepto no artigo a, e nas artigo fem i nino—não se devendo,
palavras na, ãa, mas) e syllabas por conseguinte, empregar o ac-
accentuadas ; tem o valor (2 nas cento quando não ha cotitracçãe
syllabas atonas (mola, vela) e (a roda, lí roda do quarto ; vol-
quando precede toou n: mfino, tar a casa ; voltar á casa onde
cama. Tem ainda o valor nasal: morava). José de Alencar queria
campo, lã, irmã. O a tenue ou que sempre se empregasse o
fechado elide-se na leitura em accento ; neste caso o accento
concurrenciacom outras vogaes deixaria de ser prosodico para
atonas, mas não é de regra essa ser aponas orthographioo e in-
•elisão. Em geral a o accen- dicar a natureza da palavra a
tuado não se elidem : a hora, a quando preposição. Parece que
outra (excepto: outr'ora, esfou- foi João de Barros o primeiro
tra). II Corresponde ao latim a .■ que adojitou a contracção ã por
Jaham, fava. Pode derivar de aa (1540).
outras vogaes quando _atonas : A.—Prefixo vernáculo, que se
Tejo (TagusJ, fome (fumes), ou lióde referir a ad latino, usado
em diplithongo. Janeiro {Ja- Iior jirothese no começo de vá-
nuarius). O « com íj* notação de rios verbos e nomes ; de emprego
agudo,quando não denota formas extensissimo nos primeiros pe-
■estranhas (jaearanãá,paraná), de ríodos da língua; alemhrar, alem-
ordinário representa uma con- hrança, avoar, alevantar, amontra.
tracção da letra antiga gemi- A protliese do a também se ex-
nada, como se vê em mí, do maa plica pela apposição do artigo
(mala, adj.), pá, de paa, e á, feminino a (alampada, alagoa,
ile aa. A expressão A J3 C, ver- etc.)
2
A, AN . liLATIVO
A, an.—Prefixo gi'(!go ; expri- Em alguns casos tem valor ad-
me privação, negação : atheii, verbial (absolver) ; em outros,
sem Deus. A forma an usa-se corresponde á uma preposição
antes ile vogai o de A (que repre- com seu complemento (absti-
senta a aspiração rude da proso- nente).
dia grega): an-onymo, sem nome; A, aii; a 111, ão.—São formas
an-archia, sem governo. Nota-se nasaes do a, cuja ortliographia
em a-tylo, a-mnistia, an-ecdota, ainda é incerta. Prefere-se ã a
a-hysmo, a-patlda. Kão se per- an para indicar a variação femi-
cebe, poredeito de transposição, nina (irmã, louça, sã), e an para
em diamante f^ir-damantem^que os femininos que o são de natu-
não se doma).E h^-bridismo todo reza; (manlian,lan, maçan);mas
o composto do prefixo a com vo- não é uso nem regra assentada.
cábulos que não sejam gregos, Afórma rtj)íprefere-se a ão, quan-
como ; achrütão. No emtanto já do não ■ accentuada (amaram,
está consagrado pelo uso o liy- amarão, são, deram). O uso geral
bridisnío anormal, por innormal. em certas palavras dá preferen-
O corrèspondente latino d'esse cia a an (cans, afan, ademan,
prefixo é IX e iis vezes dks. iman) ; em outras, a S ou an
A.—Prefixo teutonico, que de- (manhã e manhan,. sã e san).
signa quietação; no inglez aside, Quanto ás variações ffo e am, é
ahack, etc. Em portuguez passou, certo (lue, sendo agudas, só se
ao menos em dous vocábulos ; escrevem na forma ão: cão e
abordo (em) ahoard; encliorar, nunca jámais cam ; comtudo, em
de anhore. monosyüabos que andam juntos-
Al), abs e a.—Prefixo latino, a outros, podem soar e podem
que varias vezes se confunde com ser escriptos com a fôrma an ou
ad. Marca afastamento, separa- am : Sani João, samjoanneira ;
ção, ponto de partidn : ah-usar, gran cruz, por grão cruz. || Note-
ir além do uso ; ah-horreeer, ter se que gran ou grão não tem ge-
horror excessivo ; ah-jurar, sair nero : gran cidade ou grão cida-
do juramento. Nota-se em abun- de, é tudo um e o mesmo,
dar, abolir, absolvição, etc. A for- Ablativo.—Caso da declina-
ma ABS é mais rara : ahstracto, ção latina que exprime diversas
abscesso, etc. A f()rma a tem relações de origem, de afasta-
exemplos freqüentes: amanuense, mento, separação, etc. A lingua
aversão, avorar, etc. São dignas portugueza não tomou a ílexão
de nota as fôrmas alteradas,como de casos nos nomes, mas conser-
escuso (abs-consum), ausente (abs- va vestígios de certas fôrmas la-
enten). Em um só caso a letra a tinas. Taes são os vestígios, al-
desapparece, e é em v-antagem, guns archaicos : agora, hae-
derivado de ab-ante, avante. O liora: logo, loco; aramá, hora
correspondente no grego é o pre- mala (arch.) ; com-migo, cum-
fixo apo : ajwr/êo, longe da terra. me-cum ; com-tigo, cwn-te-cum;
3
ABLATIVO — ABRANDAMENTO
com-nosco, cum-nos-cum; com- onde seria escusada a liypothese
vosco, cmn-vos-cwn; com-sigo, de partículas occultas.
mm-se-cum; hontem, Jiac-noete
(ad-noctem) ; ora, hora ; como, Abraiirtaineiito.—Lei geral
quo-moão ; toda-via, tota-viee ; da decomposição do latim. Ex-
car, quare (qua re), || Exis- prime o iihenomeno do enfra-
tem igualmente formas eru- quecimenlo dos valores phone-
ditas ou xiopulares, plebeis- ticos das i)alavras; esse enfraque-
mos tirados do ablativo ; cimento opera-se dentro dos li-
cumquihus (dinheiro), qui-pro- mites assignalados pela natureza
quo, hwíillis ( in diebiis illis), e I)hysiologica dos sons, isto é, só
em primo, gecunãó, etc. Corre a existem transformações taes en-
opinião muito vulgar e dissemi- tre sons ou letras homorganicas
nada de que o ablativo é o caso ou resultantes do mesmo orgão
etymologico, isto é, o caso d'on- do apparelho vocal. Assim é que
de se originam os nomes portu- as gutturaes fortes se transfor-
guezes, doutrina assás contestá- mam em gutturaes brandas : c
vel como veremos na palavra An- transforma-se em í/.' cattus, gato;
fMsaííeodopresentelivro. [j Como oraculum, orago. (í mesmo valor
a lingua portugueza 6 puramen- qu em (j: conseguir, de consequire
te analytica, as tlexões dos casos (consequi); aguia, de aqtiüam. A
foram substituídas pela colloca- labial forte transforma-se na
ção ou pelo emprego de i>reposi- branda h: apothecam, bodega, bo-
ções Já indicado no latim culto. tica; cepulam, cebola. Ou ainda
Não obstante, existem usos de o h na mais branda v : amahat,
caso ablativo, cuja sj'ntaxe dis- amava ; debere, dever. A dental
pensa o emprego da preposição. forte t transforma-se na dental
É o que se observa na i)roposi- branda ã, v. gr. : capüulum, ca-
ção dita absoluta: Eleito César, bido ; (fitatem, edade; cioitatem
terminou com elle a republica. cidade ; ás vezes, o abrandamen-
Nas circumstancias de duração e to tão longe vae que chega á si-
de espaço: Disse outro dia que bilação, como Já se nota no
não voltará. Ficou a semana pas- latim barbaro : gratiam, graça
sada em casa. Andou tres léguas (grazia). Como o/e o v também
sem parar. De uso idêntico, são são dentaes, ha permutas fre-
os ablativos expressos pelos qüentes : transmcare, trasfegar.
advérbios em mente: claramente A lei do abrandamento resume-
(com intenção claríi^, boamente se no seguinte aphorismo da
(com boa intenção), etc. Esta phonologia : todo o som forte tende
syntaxe é a do ablativo latino, a mudar-se em som fraco. As ve-
e é costume explical-a dizendo zes succede a queda ou desaji-
que a preposição está occulta; parição, e não poucas, o reforço
interpretaÇíão errônea, pois o va- compensativo e a emphase que
lor synthetico de taes locuções reivindicam a conservação das
deriva directamente do latim, letras edos sons. || O phenomeno

«
4
ABRANDAMENTO — ACADEMIA
do abrandamento do c e </ antes Ab.s,olllto.— Vide AUativo e
doe, 2, jií se notava no latim da Grão. É tiimbem epitheto que se
edade média : cruce e crusse ; no tem dado ao verbo ser e até aos
latim clássico aprosodia era ave- intransitivos (como dormir, mor-
riguadamente eruke; do valor rer, etc.). Quando se consideram
forte do e temos um exemplo em tempos e modos verbaes, absoluto
calandra, n/Undrum (kilindrum). é opposto a relativo ou condi-
Pelo abrandamento etfectuado cional.
no latim barbaro e decadente Absoluto (ablativo). — Lo-
explicam-se as transformações cução tomada da syntaxe latina
do e em ch, x (murcho, de inur- e que foi durante muito tempo
cidus), doe em z (dez. de decem), applicada aos adjunctos adver-
• etc. A i'ocaíi««cãtf (Vide esta pa- blaes constituídos por um par-
lavra) pode ser considerada a ticipio dopreterito, v.gr.: Accla-
foi-mamais intensa do abranda- mado imperador. Augusto começou
mento. A consoante dissolve-se a estabelecer a paz,
em vogai : couce, calcem. || O
abrandamento, como os demais Abstraeto (substantivo).—O
X)henomenos de decomposição que representa ser não existente
lilionetica, refere-se á lei geral materialmente: gloria, desejo.
denominada: lei domenor esforço, (Verbo). Applicado exclusiva-
principio que foi a base de todas mente ao verbo ser: verbo sub-
' !is investigações da pliilologia stantivo, abstraeto, existencial,
moderna. O organismo i)rocurou etc. |j As palavras que se tornam
sempre reduzir todos os proces- substanticadas valem por nomes
sos de actividade humana ao es- abstractos : o mo-rrer, o amanhã.
íorço minimo possível ; é essa Academia.—Nome, em espe-
« 'preguiça ou economia das forças cial, consagrado a sociedades li-
naturaes o agente das múltiplas terárias escientificas que, quando
modificações na linguagem. Por selectas e importantes, dão aucto-
motivo idêntico, c natural que ridade ds suas opiniões. «Em
da mesma forma qne os sons ex- Portugal têm-se tornado mais
perimentaram mudanças quanto dlstinctas por seus traballios
á qualidade, também as solfres- literários — a Academia Ileal
sem quanto lí intensidade ; é,pois, da Historia Portugueza, a Arca-
probabilissimo que primitiva- dia Vlysnponense, a Academia
mente os homens falassem mais Ileal das Sciencias e a iVwra Arca-
alto emais forte do que actual- dia ou Acauemia de Bellas Letras.
mente; a principio, o vocábulo Antes d'estas houve muitas ou-
deveria ser intensivo, como ain- tras — a dos Ge?ierosos,
da o é o grito e o são todas as fundada no reinado de D.
manifestações de voz dos ani- João IV; contava em IGGl, 40
maes inferiores, e dos proprios membros. Esta academia teve
selvagens que não sabem con- por seu fundador D. Antonio
versar em segredo. Alvares da Cunha. Academia do»
5
ACADEMIA - ACCENTO
Singulares, contava 27 socios em leira, fundada em 1890, sob o
1003 ; pai-ece fôra, seu luiidadot modelo dii Academia 1'ranceza.
Pedro Duarte Ferrão; terminou DVlia fazem parte os nossos
em 1005. Academia dm Con- mais notáveis escriiitores.
ferências Discretas e JCriulitas,
que vinha a ser a dos Generosos Accento.— Convém distin-
i-enovada; a InstanUtM/i, a dos guir o accento oi\ accentuaçuo tô-
Solitários, a dos Ocrultos, a dos nica dos accentosgrapIncos,com-
Anonyrms,-^. dos Applicados ; uma mummente denominados e com-
alluvião em summa de írivolas prehendidos sob o titulo geral
academias que inundava o paiis, de notações lexicas(VideA7itof .
resultado da educação pedante (■ O accento consiste na elevação
do estado de atrazo em que es- ou intensidade maior na pro-
tavam as sciencias na Peninsula, nuncia de uma syllaba nas pa-
até á fundação da Academia Real lavras. A syllaba que recebe o
da Historia Portugueza, fundada accento, diz-se accentuada, tô-
pelo conde da Ericeira o decla- nica ou predominante. As syl-
rflda official em 1720. A Arcadia labas ou sons que não recebem
Ulyssiponense foi inaugurada em o accento, dizem-se atonos. Ua
1750 e findou em 1770 pela dis- mesma sorte que na lingua gre-
persão de muitos dos seus socios. ga, o accento pode ter tres po-
Cada um d'elles adoptára um sições diversas. I)'alii a classi-
nome de pastor ; assim ; Antonio ficação das palavras em oxytonas,
Diniz da Cruz e Silva foi Elpino paroxytonas e proparozytonas. As
Nonacriense; Pedro Antonio Cor- l)rimeiras têm o accento na ulti-
reia Garção, Corydon Erimatheo; ma syllaba, v. gr.: camarão, des-
Francisco José Freire, Cândido leal. As segundas têm o accento
Lusitano; Domingos dos Reis na penúltima; firmeza, delgado,
Quita, Alcino Micenio, etc. A livro. As terceiras têm o accento
Academia Real das Sciencias, fun- na ante-penultima : sympathico,
dada em 1780 pelo Conde de La- jHillido, delicia. A denominação
íões, e a que pertenceram muitas de harytonoH é api>licada aos vo-
notabilidades literarias e scien- cábulos das duas primeiras
tificas. A Nova Arcadia, a mesma classes sobreditas. As denomina-
Arcadia Ulyssiponense, procuran- ções antigas eram de agudas
do renascer em 17U0, celebrou as para as oxytonas ; graves para as
suas sessões com </ titulo de paroxytonas ; esdriuulas ou da-
Academia de Bellas Letras, mas ctylicas para as vozes proparoxy-
pouco viveu ;extinguiu-sediante tonas. II Muitas palavras ainda
das aggressões de Bocage.» No hoje são de accento incerto :
]5rasii colonial tivemos varias fdclope, e cictópe; «íbilo e siiilo ;
academias de existênciaprecaria, escapula e escapjíla e outras que
qiiasi todas dedicadas ao culto um uso mais freqüente não che-
das boas letras. Hoje, a de maior gou a fi.xar. || Os gregos sempre
auctoridade é a Academia lirasi- marcavam os accentos das pala-
G
ACCENTO ACCESSORIOS
vras. Os romanos, iiorém, parece tidade não representa o tom pro-
que nunca usaram signaes de s^odico ; apenas consigna o tempo
accentuação, senão em manu- gasto na pronuncia. Por isto, em
scriptos de luxo, que infeliz- relação á quantidade, as syllabas
mente se perderam. Nas vellias dividem-se em longas e breves
inscripçõesiatinas os signaes que C^xú^Quantidade). O accento pôde
por vezes occorrem, i:)arecem ser duplo, quando recae sobre
antes ornamento; no emianto, se duas syllabas de uma só palavra;
conliecemos a accentuação dos é o que se observa nos vocábulos
romanos, é porque conhecemos a compostos : pállidaménte, contra-
accentuação eólia, que seguia as corrênte. O accento também se
mesmas regras, e temos ainda as nota quando uma palavra é pro-
regras que se encontram em nunciada no meio da plirase com
Prisciano e Quintiliano. Na his- emphase e maior intensidade do
tória da língua portugueza ana- que as outras, o que é muito fre-
lysa-se a seguinte lei phonetica : qüente nos discursos e nos tre-
O accento latino foi conservado nas chos lidos ou declamados,princi-
palavras que passaram, para a palmente na poesia e eloquencia.
lingua portugueza. Exemplos : Neste caso o accento diz-se ora-
Arhorem, arvora ; rubius, ruivo ; cional. Por um gallioismo mo-
articulus, artelho ; decimus, di- dernamente usado, a palavra ac-
zimo ; eleemosyna, esmola; auri- cento também exprime a maneira
cula, orelha; potionem, peçonha: peculiar da prosodia provinciana
parabola, palavra; avuneulus,^^» ; ou estrangeira (Vide Sotaque).
acucula, agulha. Esta lei foi ob-
servada na maioria ou quasi to- Acces.sorios. — « As pala-
talidade do vocabulario, e é tão vras que servem de accessorios
importante que é notada com facilmente so resolvem em ora-
igual valor nas linguas romanas ções incidentes. Nos exemplos
que, como se sabe, se filiam ao seguintes se verifica esta regra :
latim. Comtudo, existem casos Lisboa, cidade de mármore e de
de palavras cujo accento foi des- granito, rainha do Oceano, tu és
viado sob o impulso de circum- a mais formosa entre as cidades
stancias e leis secundarias que do mundo. A brisa, que varre os
examinaremos ao tratarmos da teus outeiros, é pura como o céo
deslocação do accento. (Vide azul, que se espelha no teu am-
Desíocação). || No uso vulgar não plo porto, iíevielhante a um grande
é raro fazer-se confusão entre os mar.— A nação, esmagada pelos
dous conceitos de accento e quan- reis, tinha muito tempo gemido de-
tidade. A distincção theorica é bai.w da sua miséria. Nestes
apezar d'isto facil, pois que a exemplos se observa: 1? que os
quantidade não consiste na ele- accessorios vêm ordinariamente
vação do som, mas na demora separados por virgula; 2? que se
maior ou menor com que pro- collocam de modo que facilmen-
nunciamos as syllabas. A quan- te se percebe a que palavra se
7
ACCESSORIOS - - ACCIDENTE
appõem e por que relação; 3?que homem que é rico ;—o rico homem
podem servir de accessorios: — —significa o homem rico sobre
substantivos continuados ; ora- que versa a questão. O jwbre
ções incidentes, explicativas ou homem e o homem pohre apresen-
restrictivas; adjectivos qualifica- tam a mesma dilferença, mas lia
tivos; e participiüS que não con- casos em que pohre, collocado
stituam alfruma circumstancia antes do substantivo, toma uma
oracional; 4? que os accessorios outra significação, porque ha
podem ter complementos e estes adjectivos que mudam de signi-
ainda outros complementos; f)? ficação, conforme o logar que
finalmente que os accessorios do occupam na plirase ou no dis-
pronome tu se cliamnm—«ocíiíí- curso ; por exemplo: homem
vos—e são antecedidos da inter- grande, t. 6—cori^ulento, alto ;
jeiçãoó, clara ou occulta. Quan- grande honum — pelo caracter,
do o pronome est.í occulto, serve pelo gênio, pelas acções; mulher
a interjeição de dar a qualquer pohre — que não é rica; pohre
nome a determinação de 2Í pes- mulher — infeliz, digna de lasti-
soa, e por isso taes accessorios ma ; negocias certos — seguros,
sempre vêm unidos ao verbo na lucrativos : certos negocios — al-
2^^ pessoa, como neste exemplo: guns, uns tantos. Outros, sem
— Céos, ouvi nossos rogos— vale o mudar de accepção, têm uma
mesmo que dizer ;—ó céos, significação mais extensaoumais
ouvinossosrogos. Quando os acces- restricta, conforme precedem ou
sorios não vêm expressos por seguem o substantivo ; assim
orações incidentes, jiodem ser —os desgraçados habitantes d'a-
considerados como incidentes im- quella cidade—quer dizer que os
plícitas,. por isso que se podem taes habitantes são todos desgra-
resolver em orações do relativo çados, ou ao menos que os con-
que; exemplo: as ultimas laç/rimas sideram a todos como taes, em
do orcalho, pérolas congeladas quanto que—os habitantes desgra-
(incidente implicita), ou—que são çados — S() faz allusão áquelles
pérolas congeladas (incidente ex- que o são, sem dar a entender
plicita), tremiam seintillando nas que o sejam todos. Emfim ha
pontinhas das flor es. (Escoii. 17) adjectivos cuja collocação antes
ou depois do substantivo, é uma
Accideiitaes.— «Dizem- pura questão de gosto e de eu-
se as qualidades exjftessas pelos phonia, porque a significação do
adjectivos qualificativos e susce- substantivo não fica por isso
ptíveis de existirem ou não no diversamente modificada. Kão
objecto designado. Quando o qua- devemos esquecer que em poesia
lificativo é accidental, toma um são admittidas inversões que a
sentido geral ou particular,.con- prosa não pode tolerar». (Escoi^.
forme estiver collcicado antes ou ib.)
depois do substantivo; assim— o Accitlente.—Termo equiva-
homem rico — quer dizer todo o lente ao de jlexão, modernamen-
8
ACCIDENTE — ACCUSATIVO
te preferido áquolle pelos gram- da vogai final m do accusa-
maticos. V. Plexão. Os antigos tivo é normal, como a queda
grammalicos classificavam entre do « característico de grande
os aeeidentes das palavras os ca- numero de nominativos ; por
sos e as questões de significação, isso (í que vemos no latim bar-
coneordancia, referencia, espe- baro tllo, por illum; Antonio ou
cie e quantas ... Antoniu, por Antonius; o mesmo
ensurdecimento das letras fi-
Accxisativo.—Um dos cdsos naes se nota nos verbos e em to-
da declinação latina e um dos das as ilexões; fllaro, fllaru,
poucos que conservou a sua força fllamm e fllarunt, etc. D'ahi se
syntactica primitiva, na pas- infere com a maior plausibilida-
sagem do latim para o portuguez. de que a forma medieval servo-
O accusativo da flexíío latina não pode representar tanto o ablati-
foi no portuguez substituído vo originário nervo, como o acc.
pelo uso da preposição (1), como gerrum, em vista da degene-
seria natural pela queda das tie- ração freqüente das letras fi-
xôos e pelo desenvolvimento das naes, muito communsem lingua
locuções analyticas. Assim, em que nunca tinha o accento na
portugupz, o caso-objecto da ultima sjilaba. Só o exame de
mesma fôrma que o caso-sujeito uma circumstancia poderia re-
(nominativo) dispensam ouso de solver a indecisão, e seria pro-
partículas e determinam-se pelo curar demonstrar nos casos de
sentido ou pela collocação, ordi- imparisyllabismo, istoé, nas cir-
nariamente depois do verbo : cumstancias em que existe gran-
Cortaram os bateís a curta via de dilíerença extensiva entre o
Das aguas do Neptuno. acc. e o abi ativo, se o phenome-
Camões, Ims. I, 73. no se produz e de que modo. De
II Existe a opinião, que conta facto, se nos nomes não neutros
muitos adeptos, de que o caso a dilferença entre os dous casos
etj-mologico dos nomes portu- em questão é apenas de uma le-
gueses foi oahlativo. Parece antes tra (arborem e arhore), o mesmo
que íoi o accusativo o caso não se dá com os imparisyllabos
mais provável, segundo os do- neutros (teminix e tempore). Nes-
cumentos que os factos forne- tas ultimas occurrencias, sem-
cem a seu favor. Desde logo pre, a etymología do accusativo
convém estabelecer que a queda se torna irrsubstítuivel: tempo,
do acc. ; corpo, do acc.
(1) Excepcionalmente em uma eorpiií; lado, do iicc. latus;
oceurreiicia se emprega a preposi- peito, do acc. pectua. É evidente
ção: Pedro ama a Liiiza, em no- que peito, lado, tempo, não podem
mes jiroprios ou equivalentes e provir A&peetore, latere, tempore^
ainda em poucos casos em que o
verbo por idiotismo pede preposi- ablativos que no portuguez dei-
ção : começar de, pegar de, travar xariam forçosamente vestígios
tie, etc. do incremento, como" succede
9-
ACCUSATIVO - ADAPTAÇÃO
reg^ularmente quando os nomes tendencia, movimento paraqual-
não silo neutros : su-vore (ar- quer ponto. Ascender (subir
borem ou arhore), lehre (leptirevi para. . . ) ad-Tertir, ad-moentar.
ou lepore). |j Os vesti,iiios de Tem as assimilações seguintes:
formas acousativas do portu- ac — accesso, acolamação ; ad—
guez encontram-se ainda nos addicionar, additar : af—atllgu-
pronomes me, te, se, 110,1, vou, rar-se. afflrmar ; ay —aggravar
nos termos o, a (illum, am), al — allegar ; an — anniquilar;
accusativos de elle, ella (ille, usa-se em geral a orthographia
íWnj, usados com syntaxe latina, do 11 simples ; aniquilar; a^y—
quando tSm funcção de prono- appHcar, apparecer ; ar—arran-
mes : vi-a (viãiülam). Suppõem jar, arreceiar-se ; as— assentar,
alguns que lia vestigio da ftexão assistir ; at—attender, attraliir.
nidoaccusativo na nasalisação de ]l A orthographia contemporâ-
certas syllabas : pente {pecten), nea nem sempre adopta a gemi-
mancha (maculam)Namaio- nação, e esorove-se usualmente:
ria absoluta de taes exemplos afi<jurnr-se, aniquilar, abandonar,
bem se vê que a nasal éuma pro- avenida (fr.). Xote-se o prefixo
lação da letra inicial m ou n: aã sem assimilação em muitos
mni-n-to, mi-in, ma-n-clia, etc. vocábulos; ad-nlar, ad-versario,
Também não escasseiam pliilo- a-valancfie{fr., deai;al, advallem),
logos que façam vir a termina- ad-herir, ad-ornr. Note-se adefor-
çiío (■?;» de alguns determinati- mação do typo ad em endereço (se
\os: alí/uem, quem, iiin(/nem, da veio de addre.ise, fr.). Camillo 0.
fiexüo do accusativo latino ali- Branco empregava adressa em
quem, quemeneqvem. Aplionetica logar de endereço e adereço. Galli-
não se oppõe a •♦'stas derivações, cismo desnecessário.
senão em um «(5 ponto, na desvia- Adafíio.—O mesmo que sen-
ção tio accento ; nUqttem, alguém. tença, rifão, anexim, provérbio.
No emtanto a Ilexão do accusati- Sentença breve e aguda, de ordi-
vo não explica o sentido da ilexão nário moral e ás vezes pouco
em portugueza, que sempre ex-
prime pessoa humana, e que ó austera. Há grande repositorio
evidentemente a forma tirms, por de riquezas vocabulares, con-
Jwmo, tão freqüentemente con- strucções archaicas e classicas
fundidas. D'este modo as origens nos provérbios populares : Ande
mais prováveis sãoí' aHe'unun, eu quente, ria-se a gente. Coma
nec-unum, qu''unuK. (1) do pão e beba do garrafão. Quem
lhe doe o dento vae a casa do
Atl, a.— Prefi.xo latino de lar- barbeiro. Azeite, vinho, amigo,
guissimo uso. Denota direcção, o mais antigo. Mulher sem egre-
ja nunca al eu veja.
(1) Cointudo, quem pode referir-
se a cousas, no snigular ou no plural, Adaptação. — Nome geral'
como se póile vêr nos antigos es- empregado para designar vários
priptores. factos da linguagem, especial-
10
ADAPTAÇÃO - - ADJECTIVO
mente consagrados á assimilação remos dos determinativos. Qita-
(Vide). A adaptação também se i.iKiCATivos são vocábulos que
diz da prosodia e da orthogra- descrevem e mostram como são
pliia de nomes alheios que pas- os seres: rio lar f/o douto ;
saram á linjrua: ohoé de haut-ho- mulher formosissima; pedra ícr-
is; o termo de brasão, bUm, natu- de. Os (lualificativos subdividem-
ralmente tomado do fr. bleu ou se em dois grupos: A. llESTlü-
<lo allemão hlau ; fanfreluche, t. CTlvos. São os que exprimem
francez, do italiano tanfrelucci ; qualidade fortuita ou accidental
todos estes sottreram modifica- dos seres; homem instruido;\\wr:Q
ções para se adaptarem lí Índole volumoso. Essas qualidades ex-
prosodica da linpua. O jilieno- pressas não são inseparáveis das
meno contrario também se obser- cousas. Um homem pode não ser
va, V. gr.: em imbroglio. instruído, etc. B. Explicativos.
Aíldição.—Nome geral dado São os que expriniem qualidade
lis figuras prothese, cpenthese e inseparavel e inherenteaosseres:
epithese ou paraíjoge, pelas quaes homem mortal; Toc\vàdura; atra
os vocábulos recebem accresci- noite, etc. São qualidades essas
mos de sons ou letras. Não só immanentes aos seres a que foram
na phonetica, mas na morpholo- applicadas. O adjectivo pcjde ser
gia existem elementos addicio- expresso do tres maneiras: a)
naes (jue ampliam e desenvolvem Por um vocábulo : termellio, con-
os themas. Ex.: mar-iT-imo, leg- tente. b) Por mais de um vocá-
iT-imo ( lidimo ), grand-i-o«o, bulo ou liOCDÇÃO ADJECTIVA.
vapor-z-inho Da mesma sorte, V. g.: homem de senso (sensato);
existem contracções ou suppres- animal de quatro pés (quadrú-
sões, como amizade (amizidade), pede); numero ãe ouro (áureo),
virtuoso (virtutoso), volumoso (vo- etc. c) Por uma proposição ou
luminoso), etc., em parte man- clausula que se chama ritoro-
tidas pela tradição latina. Algu- siçÃo AD.TECTivA (qualificativa,
mas d'essas contracções são ado- entende-se). A proposição adje-
ptadas por euplionia, por evitar ctiva sempre modifica o substan-
o ecbo e repetição de syllabas, tivo : A casa que o rei habita =
como em idolatria, itoridololatria. habitada pelo rei. As estrellas
que se podem ra-= visíveis. Os
Adjectivo.— Classe de pala- qualificativos são susceptíveis de
vras que não tem definição jier- grão ou de flexãomodificadora do
feita, porque abrange duas cate- sentido. (V^. Oráo, üomparatico
gorias muito disfinctas de idéas: e Superlativo). O estylo das lín-
a dos qualificativos e a Cío^determi- guas fixa de certo modo a ordem
nativos. A definição usual é: ad- dos qualificativos em expressões
jectivo é a palavra que qualifica que não podem sofrrer transpo-
ou determina os seres. Aqui tra- sição, sem offensa do sentido.
taremos apenas dos qualificati- Por ex.: causa primeira e pri-
vos ; no logar conveniente trata- meira causa; amor proprio, pro-
11
ADJECTIVO - - ADJUNCTOS
prio amor ; bom Iiomem e lio- stantivoscom os suflixos al, aneo,
mem bom ; novos liomens e oso, imo : materi-aX, tempoT-s.Víao,
liomens novos, etc. A ordom ou ão, c/iiíc-oso, rírtu-oso,marit-\mo.
•collocaçãotonia-se ahi um factor As etimologias dos qualificativos
semântico de importaiicia no- participam de todos os contin-
tável. Hauma theoria na sciencia gentes que, formaram o léxico
í da linguagem que dá o qualífica- vernáculo. Os qualificativos da
\ tivo e logo o verbo como as duas technica scientifica, em geral,
) classes primitivas de palavras na procedem do grego. || Chamam-se
f acquisiçiío da facuUbule de falar, •cerbaes os adjectivos originados
í A hypotliese esteia-se na obser- de verbo : pedinte, consercador,
vação plausível de que os attri- amante, endinheirado, escriptor,
^ butos c exterioridades dos seres falador, etc. j| De adjectivos for-
são as impressões que deviam maram-se preposições e advér-
! mais cedo despertar a attenção bios que neste caso se usam in-
t<lo homem. Não obstante, não ha variáveis (quando com tal uso);
um só facto positivo que verifique excepto, segundo, conforme,
a conjectura ; antes parece que salvo, suYiposto, etc. ; certo
nãoexistiam no principio classes, (fala certo), largo (cortar largo),
ou categorias de vocábulos, e prompto, etc. || Concordaiícia.
Sayce sustenta com bons argu- Nos adjectivos compostos é o
mentos que o vocábulo primi- segundo que se modifica : escola
tivo, longe de limitado a uma \sii\no-americana; escola-medico-
categoria, tinha o sentido incom- cirunjica.
prehensivel e extenso da phrase.
Um vocábulo encerrava um juizo Adjmictos. — Chamam-se
■e condensava em si mais ou adjiinctos, na analyse lógica, os
menos o valor que encerram vocábulos ou grupo de vocábulos
hoje algumas interjeiçôes. Dos que limitam o substantivo e o
■qualificatitos é que ordinaria- verbo. Dividem-se em attribu-
mente por desviação se derivam tivos e adrerbiaes. 1. Adjuncto at-
substantivos { derivação impró- Jributico é o vocábulo, locução ou
pria): empregado, cégo, eleitor, phrase que limita o substantivo.
votante, pobre, frio, futuro, pas- Ex.: Homem virtuoso. Cr/i dia.
sado, bailado, metralhadora, na- Luiz, rei de França. O homem,
morado, etc. Os qualificativos que pratica o bem. Toda a parte
fornecem ao vocak^ilario sub- griphada reiiresenta adjunctos
stantivos, com os snftixos iça, attributivos. 2. Adjunctos adver-
ida, encia, eta, ão, uãe : /jísí-iça, biaes são os que modificam o
pobr-ev.ií, eorpulen-ciâ, riqti-eza, verbo e o adjectivo. Muito for-
yrat-idão, qiiiet-\xde.De adjecti vos moso. Saiu tarde. Saiu ás 5
passam a pronomes (este, aquelle, horas. Dito isto, retirou-se. J/miío,
meu, etc.) os determinativos de tarde, ás 5 horas, dito isto, expri-
qualquer especie. || Por outra mem circumstancias, e são ad-
parte,derivam-se também de sub- junctos adverbiaes (Vide Ana-
12
ADJUNCTOS — ADVENTICIAS
lyse). II E adjuncto adrerhial ou desfavor nas citações alheias,,
do verbo, iidjectivo ou pbrase quando a palavra ou trechci é in-
attributiva, qualquer palavra, terrompido por um parenthesis.
phrase ou clausnla que os modi- com ponto admirativo. Ex: «Se-
fique. Consequentemente, os Deus não existisse, seria preciso-
adjunctos adverbiaes podem ser invental-o (!), disse-O Voltaire.»
—de tempo, logar, ordem, affir- II Dobram-se esses signaes ecom-
mação, negação, duvida, ex- binam-se com os interrogativos-
clusão, conclusão, designação, que sempre precedem ; 11 — ?!
quantidade, companhia, fim ; e
—um advérbio ou uma clausula Aílveiiticias (letrax).—Cha-
adverbial. um substantivo ou mam-seletrasadventicias os sons,
palavra substantivada precedida de ordinário interpelados, que
de lireposição, o objectocognato, se encontram nas palavras e que
um substantivo acompanhado não se explicam puramente pela
do adjuncto attributivo e em- etymologia ; v. gr., o r da ultima
pregado absolutamente, o parti- syllaba de registro (derivado dos
cipio absoluto com ou sem ad- dous elementos res gestm). A for-
vérbios, uma palavra com pre- ma etymologica deve ser regii,to,
posição occulta. Podem ser ad- que também é usada. Em geral,
junctos ntlrihutinúit — um ad- as letras adventicias explicam-
jectivo ou participio, um nome se pela tradição de erros ortho-
apposto ou clausula em apposi- graphicos e prosodicos, quando
ção, um substantivo (ou palavra não pela euphonia(amor-2-inho).
substantivada) precedido de pre- O 7i, por exemplOj por erro or-
posição, uina clausula adjectiva tliographico, foi usado em ho-
ou relativa. (por o), por analogia fácil com o
latim lioe ou com o grego ho ;
Admiração. — Signal de nos antigos tempos, o A era or-
pontuação usado para exprimiro thographia usual no inicio dos
sentimento de espanto, pasmo, monosyllabos: lio,hum, Ae, etc.
assombro, piedade ou com-, A nasal freqüentemente 6 letra
miseração. Esta notação (1) ó ad ve n ticia; TOiwí, por mi (1 at. nizVií,
moderna na arte de escrever, e vide Aerusatiro). O r como le-
nos primeiros tempos figurou- tra de reforço muitas vezes ap-
se antes e depois do trecho ex- parece fortalecendo syllabas : es-
clamativo e vocativo. Hoje é trella, por eStella, de stella. (e tal-
usada no fim da plirase : «Clie- vez da forma astrelluin, ãim, de
gae parto, Estacio; que eu vos astrum). Outras vezes o r desap-
abrace. Sois um lieróe 1 » .T. de parece, como em rasto e rastro,
Alencar, Minas dePratn,yi, 50. rosto e rastro. Um exemplo se-
Em geral, essa notação acom- guro do r adventicio encontra-
panha as vozes interjec ti vas; Olá! se em mastro; a forma masto
Kciu! oh ! 7iu! hein ! || Jluitas ve- ainda se nota no derivado 7)ias-
zes exprime reprovação, ironia taréo (e não mastraréo). Quanto-
13

ao uso do li, é de notar-se que explicadas como tendo feito


muitas vezes o ervo orthogra- parte do verdadeiro etymo, até
phico procede do latim; v. gr., então desconhecido. E veritica-
posVaimus, em vez de 2wstumu» se ahi que a hypothese dos sons
(superlativo deptfsí^. Sobre este interpelados provinha apenas de
assumpto escreveu ha jjouco o se ter tomado como, real uma
illustrado professor Dr. Fausto etymologia errada.» É certo que
Barreto: «Não me detendo em se vae dando razão de ser ety-
signalar a deplorável confusão moiogica aos sons de que me
que, na linguagem de alguns estou oceupando, mas difíicü,
auotores e, o que ó mais grave, senão impossível, senl explanal-
na própria terminologia dida- os em todos os casos. «Une
ctica de vários compêndios, grammaire parfaite. pondera
reina no tocante ao emprego dos Victor Henry, serait celle qui
termos som e letra, direi com ne contiendrait plus aucune
franqueza o que me suggeriu exception. La linguistique n'en
seu criterioso discorrer sobre a est pa.s encore lil; mais elle se
derivação histórica da palavra raiiproche de plus en plus du
«strella e sobre o valor das cha- but, sans i)ouvoir se flatter de
madas letras aíhenticias. Enten- jamais Tatteindre.» As leis da
de o notável grammatico F. phonologia histórica, como as
Baudry que adventicias são leis naturaes, não têm o valor das
Jis letras que, em certas formas, leis mathematicas; não expri-
não têm origem etymoiogica, mem, segundo observa M. Ben-
nem valor como reforço. São fey, senão tendencias desenvol-
accrescimos o mais das vezes vidas da linguagem, lísquaes não
feitos para facilidade da pronun- raro se oppôem ou substituem
ciação. Entra assim a theoria outras tendencias. Se o r de char-
das letras adventicias no prin- tre, que se costumava derivar de
cipio do menor esforço. E como charta, era considerado som fo-
taes letras apparecem no prin- rasteiro, deixou de o ser em face
cipio, no miúo o no fim do vocá- da verdadeira analyse etymoio-
bulo, occorrem : agghitinação ini- gica; se o r do registro, o r de ci-
cial ou prothese, inserção me- (jarra, o h de Jmmbro, o d de gen-
diana ou eiienthese e agglutina- drc e outros piionemas em con-
ção final ou paragoge. Àos en- dições taes jii têm historia feita
tendidos, eu proporia^ se tivesse nas linguas respectivas ; outros
íiuctoridade, a denominação de sons surgem no vocábulo, sem
phoncmaa aãventicios, em vez de que se lhes tenha até hoje po-
letras adventicias. Penso, com o dido dar razão genetica plausí-
meu illustre collega, que, me- vel. Lembro-lhe a idca de se
diante os progressos da moderna adoptar a divisão dos sons voca-
sciencia da linguagem, as taes bulares em plumemas orgânicos
letras que se afiguravam «ac- ou etymolngicos e jjliane7jias inor-
crescidas ao vocábulo vão sendo yanicos ou adventicias, cabendo a
14
ADVENTICIAS
primeira denominação aos sons no dizer de F. Diez, freqüente c
que forem susceptíveis de ex- em todas as Hnguas romanas a
planação liistorioo-comparativa; permuta entre os sons linguaes
e a segunda, aos (jue não o forem. l, n, r, a qual permuta larga-
Tal divisão, parece-me, convém mente se observa no domínio
á coisa, ao menos sob coiidl- indo-europeu (]>op2í). Sabe-.«e
cionalidade provisória, ou até que no latim popular desappare-
que pelo microscopio da ana- ceram diversas palavras por di-
lyse glottolofrica seja dada a ul- versas causas. O não offerecerem
tima palavra sobre sons que, em certos vocábulos bastante resis-
■alguns casos, se me afigura des- tência na lucta pela vida, o facto
envolverem-se espontaneamente de não serem de fôrma consis-
no corpo do vocábulo. Quanto á tente ante os attritos do tempo e
derivação historicadapalavra es- a rudeza negligente da prosodía
trella, me merece sympathia a pojmlar, determinou tal causa
hypothese de ter-se originado da a substituição de palavras de pe-
forma sterula; mas não me con- queno porte por derivados do
venço ainda do facto, poríjue ute- mesmo valor significativo. Os
rula é a mesma forma utella pela vocabulos.y)tfs, c/eiiu,]>olle.r.,
intermedia sterla, como jmerula civix, unyuü, calx, etc., são for-
=puella=puerla. Não creio fir- mas atiradas ao limbo do esque-
memente que a fôrma contracta cimento, não fizeram parte do
stella seja do latim erudito, e ste- léxico popular, sendo substituí-
rula, forma intacta, remota, seja das respectivamente pelas pala-
do latim vulgar : acredito ijue o vras nperantid, yenuculum, jpol-
vocábulo gtclla, encurtado em licark, talparia, ciHtatanus, un-
seus elementos materiaes, mo- gula, calcaneare, etc. Uma das
delado pelo ouvido mais do que princípaes tendencias do latim
stenila, que me parece antes popular edas línguas novi-lati-
formado pela vista, é um dos nas, é rejeitar palavras primiti-
que se empregavam assim na vas, taes como ovis, apis, cicada,
linguagem culta como no lin- acus, substituíndo-as por deri-
guajar da plebe. Ao meu dis- vados, mediante suífixos dimi-
tincto collega peço permissão nutivos: omciila—otida=o\'fi\\\a.-,
para ponderar se não será pos- apicula — apicla — abelha ; eica-
sível derivar-se estrella, preferen- (lula=^cicadla=eicalla — cigarra:
temente, da forma stellula, que acucula=(jíeucla=^&S\\\\và. Ka 1 i n -
ainda hoje se encontra nos dic- guagem portuguezaactual se diz,
cionarios. Como facilmente se por exemplo : ter uma conversi;
vO, tal derivação se conforma nha ; comeu uma sopínha; com-
com os princípios geraes da jilio- prou um bílhetínho de loteria ;
nología histórica. Demais, é ouviu a rezinlia do costume, a
muito commum a metathese dos leiturazínha, etc., conservando-
phonemas liquídos, como se 10 se em taes palavras de forma-
no escripto Uma etymoloijia ; n, ção secundaria a plenitude de
15
ADVENTICIAS — ADVÉRBIO
significaclo cios nomes primiti- que modificam advérbios: a mo-
vos, d'onde provieram. Eis, dificação S(5 é possível quando a
prezado collega, o que rapida- palavra modificada é susceptível
mente me ocoorri! dizer a re- de vários limites. Assim, póde-se
speito de suas idéas contidas no dizer mais tarde, e nunca mais
bello trabalho que se dignou de hoje ou mais liontem, mais não ovi
olferecer ú" minlia apreciação. muito sim, etc. Taes vocábulos
Continue a prestar serviços lí exprimem positivamente uma
causa do ensino. Vá pondo em circumstancia que não tolera
equação os diflicillimos proble- maior ou menor extensão de
mas da glottologia e especial- significado. Vajiios usos. || Os
mente os que se referem á nossa compostos mais ordLnarios são-
formosa lingua iiortugueza, a os que se formam de mente com
qual, «para que diga tudo, só o adjectivo feminino: ligeira-
um mal tem, e é que pelo pouco mente, sabiamente. Casos notá-
que llie querem seus naturaes, a veis : de má, malmente; mal,
trazem mais remendadaquecapa forma archaica contracta de
depedinte.» mala; de portwjuez, franceZy
etc., portufjueímente, pois que
Advérbio.— Classe de pala- esse adjectivo era dos dous ge-
vras ou locuções próprias para ex- iieros antigamente. Os compa-
primir qualquer circumstancia. rativos e superlativos synthe-
Modificam o verbo, o adjectivo e tlcos podem comjiôr-se: superior-
o proprio advérbio ; cliegou tarde;mente, hellissimamente. Por eu-
muito formoso; imdto bem. O ad- phonia, evita-se a composição de
vérbio pôde ser expresso por pa- alguns advérbios: quentemente,.
lavra, por locução ou proposição. rentemente, mas os polysyllabos
Ex. : Palavra adverbial: cliegou são utilizados: decentemente, evi-
tarde. Locução adverbial: chegou dentemente, etc. (1) Ha ainda
fóra de horas. Proposição: chegou outros limites nessas formações,
no tempo em que já não era espe- que são dictados pela euplionia,
rado. A essencia, jiois, do advér- e pelo uso: diz-se maiormente e
bio é expor synthetica ou analy- não se tem dito menormente;
ticamente uma circumstancia. diz-se plenamente, e ninguém
Propriamente, o adjectivo quali- disse cheiamente; primeira, se-
ficativo iiílo é modificavel senãogundamente, são termos encon-
ds certas maneiras: a, qualidade tradiços, ao passo que terceira-
ou o attributo das cousas pode mente, oitavamente se não en-
ser encarada quanto ao modo e contram, e sem razões plausíveis.
quanto á extensão ou intensidade. Camillo C. Branco chegou a de
Por isso ha muitos advérbios
que não podem modificar ad- (1) A composição com o substan-
jectivos, como: aqni, acolá, sim, tivo «ioiíe já se tisava, ainda que
etc.Por isso mesmo, é igualmente raro, no latim. Ilona mcnle è um
restricto o numero de advérbios exemplo de Quintiliano.
10
ADVÉRBIO
rival-os, uma vez ao menos, de hic; aqui, fr. aní.iqui, do lat.Aíc-
substantivo, dizendo: lacrecia- hic. Antigo aquó, existe em aco-
mente{ma.B noestjiocomicoassim lá, em aca-juso e acasuso, ar-
se permitte: asno, asnissimo, chaicos ; jwum (abaixo), susuin
burrissimo, burrlssimameute, (acima). Da fôrma acá, arch.
etc.) (1). l)iz-so malmente, e niio existe o elemento cã. Al-U, de
se ávímAmente, dizendo-se, com- illine ; arch. allá, illae. Arriba,
tudo, boamente. Diz-se tarãe- de ad-ripam (cp. o fr. aval, de
menie quando fora mais logieo, ad-\-callem). Além, do aliunde ;
tardiamente, que é também de aquém, formação analógica de
uso. Com os monosyliabos ainda lioc ( parte ), com idêntica ter-
se repete a anarcliia: sãmcnte minação. Onde, de unde, e os seus
diz-se jiQuco ou quasi nunca, e compostos a-o)i.rfí, d-onde, ad-onde,
é mais freqüente dizer-se vã- etc. Quasi, lat. quasi. Assás, de
mente; om geral, o monosyllabo ad-satis. Pouco, Oí\^pauco. Muito,
não se adapta a essas formações de mtdto. Cerca, de circa. Kada,
adverbiaes, porque ficaria menor do adjectivo nata (scil. 7'es, Vide
que o suilixo, que é accessorio. jSfeijação-) — arch. ren, francez
Pela mesma razão a elias se rien, do subst. rem. Os com-
adaptam as jjalavras longas e postos em mente já foram es-
os superlal ivos: eloquentissima- tudados. Assim, ad-sic. Mal, de
mentf, arrebatadamente, miseri- mole. Bem, de Iene. Notem-se as
cordiosissimamente (que é por formas adjectivas usadas como
si só um liendecasyliabol) II Os ad- advérbios, porexemplo, do latim,
vérbios toleram gráos : 7naiii cedo, alto, caro, barato, serio, etc. Agora,
mais tarde, inain menos, muito liac-liora; hoje,/íyrfíí (hoc die);
peior, pouco alto, tão pouco. logo, loco; hontem, ant. ooyete,
Formam diminutivos : juntinho, hesp.; anoche, de ad-noctem ou
pertinho, de tatjarinlio, cedinho. kanc-noctem, segundo outros,
Formam gráos indefiniveis, ainda Uodie ante; sempre, de íicwipíí'/
não cbissificados pelos gramma- nunca, de nunquain. Compostos
ticos : assim assim, ainda assim. V(írnaculós ; amanhan, depois d'-
II As vezes o advérbio sempre amanhan, outfora, d'ora em di-
quasi não tem sentido, e é mero ante, antes d'hontem, etc. Sim, de
expietivo; « Sem}>re quero ver o sic ; talvez, de tale vice; não, de
resultado! íSsHy7?'í!éum velhacol» non; nunca, de numquam;
II Etymologia. — Aliuires, alii)r- úajam-mqí/is, quiçá, ital. chi sa?
sum; analogicamente, ahjures, de quem sabe V DeòaMu. forma ara-
algo, aliquid. A-ld, ant. Id, lat. be; anieft,passivo do verbo hebrai-
co amara,ser verdadeiro; assim seja
(1) E é muito justificável, porque (1). Os typos adverbiaes do por-
com o advérbio se formam gráos tuguez são de diversás especies:
de substantivos: é mnílo noite;
■é muito mãe, «Não és tão j>ae (1) O vocábulo, porém, foi-uos
-quauto eu uo perdoar aos üUios.» importado pelo latim.
n
ADVÉRBIO — AFFIXOS
<7/1 Originados do latim, de fôrmas diplithongo ae ou ai resultou do
adverbiaes : sempre, semper. h) effeito de varias leis phonoticas.
Originados do latim, de fôrmas Da queda da consoante média:
sidjectivas : forte (fortU). c) De- amais, ama-t-is; de uma solução
rivado remotamente de termina- do hiato, por transposição muito
ção oomiiarativa em ter; iim commum antes da renovação
único exemplo : azinha, agilüer. erudita, notairo, nigairo, adver-
d) Originados de derivação mo- sairo, etc. Na orthograpliiausual,
derna no seio da lingua, por o grupo ae não se usa senão no
analogia : a iniuão, acinte, arch. fim dos vocábulos; pae, cantae,
(a scicnte), nu encurax, arcli. ás etc.; o grupo ai é usual no meio
mhemlas, jularentú, hoijano (lioo ou inicio dos termos: aipo, nai-
anno), aramã, hora mala, ãs ves- pe. Excepcionalmente, usa-se a
xas, etc. Apenas, fôrma reduzida graphia ai na interjeição ai! e
de a malas jionas, cf. a duras não ae.
penas, no castelhano. Em-tão,
in-tum. Formas contractas : Aífixos.—Elementos ou for-
tanto ; çi/a;»-quanto ; recem-va- mas qiu! se aggregam aos vocábu-
centemente ; iHMi-miiito, Aiic.it. los e lhes modificam a significa-
arredo, a retro ; alio, üluc; ende, ção. Os Ai-Fixos dividem-.so em
iníle; adiir, dure; sam-micas, são prefix'os e suffi.tos. Prefi.cos — são
migalhas ;cluís, plus; eras, eras; os elementos que se juntam no
aaprom, fr. ajüomb; de cote, fjiio- começo das palavras ; v. gr., des,
tidie; des-i, desd'hi; cadanho, in : amor — DEsamor; verdade —
gallego, cata anno; enxano, ex iNverdade. Suffi.vos — são os ele-
anno ; de chan, de pran, de \wom- mentos que occorrem depois do
ptu; prés, pressum; ooyte, ad vocábulo principal ; v. gr., oso,
noctem ; j uso, jusum; suso, susum, eiro : amor — amor-oso ; verdade
sursum; ha e a, onde ; y, ahi ; — verdad-«íVo. Os ajjuos são de
festinho, festine ; en cas, in-casa, origens diversas: gregos, latinos,
cliez; acaron, de a cara, etc.(ety- vernáculos e até germânicos.
mologias approximativas). Cada prefixo será estudado no
logar determinado pela ordem
Artversativas . — Preposi- ali)habetica. Tirados os affi.ios, a
ções e conjuncçoes. Vido esta parte restante do vocábulo repre-
ultima palavra. senta a fôrma principal, e é cha-
Ae, al, diphthonjjo. — No la- mada radical ou thema. Existe
tim tinha a forma ai que deu no um caso particular e rarissimo
portuguez regularmente a pro- do inji.vo, em que o elemento
sodia e, e idêntica orthographia addicionado se colloca no meio
no latim barbaro: a:dificare, edi- do vocábulo. Tal é o caso da
ficar. De igual teor é a. permuta tmese: amar-TE^ei, etc.—Pro-
do grego ai: òiana, dieta. Excepto priamente esse caso nãoc deinjixo,
jzatôíor, pagem, de origem italiana visto como te, me, ae, etc-, não
e após franceza. No portuguez o podem sem violência ser classi-
DICC. GKAMM. o
18
AFFIXOS — ALLITERAÇAO
ficados como affixos. || Podem ser juxta-poaição ha a percepção clara
consideradas infixos as letras ad- dos elementos componentes: so-
venticias, o n orthograpliico em: bremesa, semsaboria. Na agglu-
amam-«,'o, dizem-«.'o; as letras tinação, o composto só se revela
intercalares : homem-z-inho. pela analyse etymologica.
Africanisinos. — Numero Afígllitinaiite. — WAs Lin-
copioso de vocábulos africanos guagem,
penetraram na lingua portu-
gueza, especialmente no domínio Agoífos. — Elemento gregO'
do Brasil, por effeito das rela- compositivo de muitos vocábu-
ções estabelecidas com a raça los. Pedagogo (paidos, menino),
negra. Do portuguez existem conductor, mestre de meninos.
mesmo incultos dialectosafricos, Demagogo (demos, povo ), condu-
de que trataremos na palavra ctor do povo. Toma a forma egia
Dialecto. Dos africaniamos que se em strategia (stratos, exercito),
introduziram na linguagem bra- que guia os soldados, etc. Cyne-
sileira, daremos a analyse devida getico (kinos, c3o).
no termo Braaüeirümo, d'este Afíoreuo (falar).—Elemento
diccionario. Fora d'estas influ- grego de composição. Forma vul-
encias normaes, pouca cousa lia gar: agoria. Fantasmagoria, fala,
que averiguadamente proceda da evocação de fantasmas; catego-
África, salvo raros vocábulos co- ria, o que fala contra ; o que está
nhecidos dacivilisação européa: particularizado e examinado, o
zebra, quadrupede ; haohah, ar- attributo. Fôrma egyr: panegy-
vore africana das maiores que rico (pan, todo), fala diante de
existem ; zuavo, nome de tribu todos, discurso publico em as-
kabyla ; soldado francez do regi- sembléa.
mento africano composto de in- Affinlo. — Accento, syllaba,
dígenas da Algeria. rima. Vide Accento, Notações.
Agente.—Denominação hoje Corresponde a oxytono (que em
pouco usada, que se dá uo lingua grega quer dizer a mesma
sujeito do verbo attributivo ou cousa) é a voz tônica predomi-
adjectivo : Júlio estuda. O agente nante.
designa o factor da acçílo ou au- AlffO.s (dôr).—Elemento de
ctor d'ella. Ayente coutrapõe-se composição grega, que apparece
a paciente. com a 1'órjna algia. Exemplos:
Agfflutinação. — Pheno- gastralgia, de gastêr, ventre; ce-
meno que caracteriza o amal- plialalgia, de kepUalé, cabeça;
gama perfeito de dous elementos nostalgia, de nostos, volta.
que compõem um vocábulo. É o Alinéa.—Vide Paragrapho.
que se vG em condedavel (de co-
mes-stahuli), em capencollo (de Alliteração.— « Figura de
rapa em eollo), pundonõr (pun- rhetorica pela qual de pro-
d'onor, point d'lionneur). Na posito se repetem na mesma

ALLITKRAÇÃO ALPHABETO
phrase as mesmas syllabas, de na redacção do Coãigo Ciml bra-
maneira a produzirep muitas sileiro (1903). O adjectivo com-
vezes o mesmo som. E um ver- mum perdeu a forma feminini
dadeiro aUrito de letras que se commua, de antigo uso, e por
cliocam. Primitivamente desti- analogo motivo. Muitas formas
nada a produzira harmonia imi- verbaes, como dar, tomar, vir e
tativa, a alliteração degenerou vir-se, pór e pór-se, vão sotfrendo
em oacoplionia. Muitos auctores, pouco a pouco a acção pejorativa
mas principalmente os poetas, do máo sentido que lhes empres-
têm feito uso d'esta figura de tam e não tinham. Vido Pejo-
máo gosto. Eis aqui alguns rativo.
exemplos; falem cartas, 'caem
òarbas; pobi-ete, alegrete; treme a Alplial>eto.—«Sabe-se que a
terra, ferva a guerra ; vae hem a idéa de representar os sons da
monarcliia, mas sem anarcliia. A linguagem por signaes e especi-
alliteração pode ser de um feli- almente de representar cada som
císsimo effeito, quando produzir por ura signal particular não é
a harmonia imitativa. Muitas muito antiga. De origem egy-
vezes a empregaram os poetas da pciaca, mas transformado pelos
idade média.» Fora do est3-lo phenicios, o alphabeto foi levado
literário, nas creações da lin- para as margens do Mediterrâ-
guagem, a reduplicação syllabar neo. Os gregos, os etruscos e os
constitue um processo de inven- latinos adoptaram-no, com mo-
ção de palavras mais ou menos dificações particulares. As po-
onomatopaicas; murniur, cicio, pulações celticas não tinham"
pipitar, gago, talihitati, caca- alphabeto proprio; as raras in-
rejar, engasgar, zig-zag, lusco- scripçôes gaulezas que existem,
fusco, lusgue-fusQue, traxie-zape, foram escriptas em caracteres
traz-zás, zãs-traz, tic-tac, tutucar, gregos. Os romanos espalharam
papagaio, papagueiar, cacaracã, a sua lingua no Occidente, e
etc. Mas, onde a alliteraçiw é com ella o alphabeto. A forma
mais freqüente ú na formação de d'este assils modificada ficou;
Jíypocoristicos, f(5rmas familiares perdeu-se o cursivo, e o maius-
dos nomes proprios: Zezé, Mimi, culo tomou aspectos diversos, e
Lili, JaíIh, Bébé, Tatá, etc., e só mais tarde, com a invenção
nas palavras do dialecto infantil da typographia, foi usado com
—papá, mama, titi, ntnén, dõvõ, o mesmo aspecto que occorre nas
dinãinho, etc. inscripções. O estudo de taes
variações atra vez da idade média
Allusão.—E a allusão invo- çonstitue o que se chama paleo-
luntária causa constante de ar- graphia. Na época romana, con-
chaismos. Numerosas palavras tavam-se 21 letras: A, B, O, D,
de legitimo uso vão desappare- E, F, G, H, I, K, L, M, N, O,
cendo, como o adjectivo 2)rivada, P, Q, R, S, T, V, Z. Taes e tantos
que Ruy Barbosa não acceitou eram os caracteres até o século.

t
20
ALPIIABETO AMBOS
XVI. B'ahi por diante, appare- distingue-se do P (r grego) por
ceram reformadores. Foi ado- uma cauda que se encontra aliás
ptada a cedilha do c jiara ex- em inscripções gregas muito an-
primir o valor sibilante brando; tigas. Tácito di;í {Ann. 11, 14):
creou-se o typo U para repre- u Forma est litteriu latinis qxmveter-
sentar o som vofral, exi)resso pelo rimis yraicorum. » || Nem tudo
V, como em DEVS. Também quanto escrevemos e expressado
creoii-se o signa 1 J para repre- pelo alphabeto. Também empre-
sentar o valor consouantal do gamos symbolos nos números ;
antigo I, que se usava, v. fjr., em 8, 35, LXVI, etc.
IVLIVS (.Iirlius). Foram, toda- Alteraiite. — Denominação
via, poucas as reformas que con- dada pelo grammatieo Júlio Ri-
seguiram definitivamente esta- beiro ií consoiinte, mas que não
belecer-se. E,ainda hoje, o alpha- leva melhoria á antiga.
beto o summamente defeituoso, Ain, aii, ainb.—Prefixo la-
não só i)orque possue vários si- tino que se encontra no léxico
gnaes para idêntico som (cdsa,
kasa, Icero, quero), como também d'aquella lingua, mas que não
possue um só signal para sons se tornou fecundo para as lín-
differentes (s,nabi(i; (r=iz, casa) guas um
modernas. Denota direcção
etc. As dillieuldades e defeitos liara e outro lado, ao redor,
do alpliabcto, na escripta, são para ambas as parles. Corre-
de iiequena monta, quando os sponde nos
ao grego A,\ri'iii, e nota-se
termos : amh-ire, ir para um
comparamos com as dillieulda-
des e defeitos de qualquer sys- lado e outro, d'ahi ambiente,
tema ortliographico.» —A palavra ambif/no, amjiutar, ambição^ am-
alphabeto tira sua origem do bulante.
nome das duas letras gregas Aiiibiguitla<le.—V. Amphí-
alpha (a) o hetn (h); também <5- holoyia..
denominado (íicéou nhc. O alpha- Ambos.—Significa os dous,e
beto latino não deriva directa- é uma forma e só ha outros
mente do alphabeto phenicio, vestígios em noster e vester (pri-
mas dos !ilt)habetos em uso na miiivamente=nósdois, vós dois).
Grande Grécia, especialmente Ambos indica os dois num com-
em Cumes. Como o demonstrou posto ou companhia que não
cabalmente Otfr.Müller, a prova excede aquelle numero : ambas
de que foi tirado immediata- as mãos, «as mãos ambas e talyez
mente do grego, se encontra na ambas das mãos ou ambas das
adopção cio ãigamma K jnira duas mãos ou as mãos ambas e
exprimir o som usual do F, duas, o que tudo são expressões
caracter que os etruscos não pos- lógicas e como taes não merece.m
suíam. O alphabeto romano ó o apodo de incorrectas. E não só
quasí idêntico ao chalcidio: JI em portuguez, como o demons-
corresponde ao symbolo do es- trou Manoel de Mello (Notas lexi-
pirito rude, ao koppa, d o li eologicas), Bluteau Dicaionario
21
AMBOS AMPHIBOLQGIA
da Academia portuguezii acredi-' tino é amh, am, v. gr.; ambição,
tam a expressão ambos de douê am-putar, etc. Note-se ampAz em
usada por Bernardim. Ribeiro amphora (vaso que tem duas
(M. e moça: começaram assim azas). A i^alavra ampMguri é
também amhos de doim. ..) e L. franceza, factícia e, ao que pa-
de Camões nos Lusíadas: «D(! rece, da giria de estudantes.
amhos de duus a fronte coroada.))
Moraes diz que é locução viciosa. Anipliiboloj^ia. —Vicio do
Veja-se a minha Selecta Classica. estylo que consiste em coorde-
nar a plirase de modo que se
Americanismo. — Nome preste a mais de uma interpre-
consagrado a expressões oriundiis tação. Exemplos; dei^orando o
da America. O maior numero se tigre, o leão etc., onde o sujeito é
originou dotupi-guarani.queserá indeterminado e pode ser tifji-e
estudado no artigo hrasileirismo. onleão, sem injuriada syntaxe.
Das outras linguas americanas Leia-se o capitulo sobre Ambi-
derivam, ao que parece, os ter- güidade na Gramm. do auctor
mos seguintes: alpaca, animal (3? anno, 12'' edição), onde se
dos Andes, xianno; cacique, de analj-sam vários exemplos. So-
origem caraiba, chefe de tribu ; bro o assumpto escreve A. Netto
ca(/uteli0uc, orthographia fran- no seu Escoliaste portuguez, Lis-
ceza de calmtchuc, nome da boa, 1884; «Neste exemplo; «Hei-
gomma elastica, or. da Guyana ; tor Achilles chama a desafio»,
canibal, de caniba, nome de nenliuma das palavras é ambí-
uma tribu ferocissima' das Anti- gua, nem equivoca, mas é ampld-
Ihas, hoje extincta; chocolate, bologieo o sentido; porque, ainda
palavra mexicana, composta de quando regularmente se pozesse
choco, cacáo, 'e lattl, agua; coca, o sujeito antes do verbo, os iioe-
arbusto peruviano; colihri, pa- tas invertem muitas vezes esta
lavra caraiba, beija-ílôr; (juaiu>, ordem, e d'aquella phrase se
de huano, da 1. quirhua ;/w«í'(7o, pode entender que Heitor pro-
cast. huracan, nome do espirito voca Achilles, ou este áquelle.
maligno entre os caraibps; inca, Concorre muito para as amphi-
titulo dos reis indigenas do bologías o máo emprego ou a
Perii, lingua quichua ; condor, má collocação já dos pronomes
do quichua kunUir; pampas, pessoaes, já dos adjectivos pos-
planícies; tomaliawk, anna oífen- sessivos. Neste outro exemplo—o
siva dos índios da America do guerreiro amou sempre aquelleami-
Norte. go no meio da sua adversidade —
não nos diz o possessivo sua,
Ainplii. — Prefixo grego. Si- se foi na adversidade do guer-
gnifica «de ambos os lados)). reiro, ou na do amigo, que elle
Amphibio, que vive de dous mo- sempre amou. O adjectivo pos-
d.os. Amphiboloyia, que tem dous sessivo emiiregado no exemplo,
sentidos. O correspondente la- l)cde referir-se a um dos dois
32
AMPHIBOLOGIA — ANALOGIA
termos da oração, e é isto que Cção sj'ntactica já começada por
occasiona a ampliibologia nas outra de nexo dilferente. Por ve-
phrases citadas. Comtudo, seria zes a anacoluthia, quando usada
fácil conhecer a quem se refere o discretamente, constitue uma das
possessivo, se este fosse empre- bellezas da lingua, e foi sempre
gado sempre na composição in- utilizada pelos clássicos. Leia-se
dicando o substantivo, como o exemplo de Camões :
cousa pertencente ao sujeito do Ea que cair não pude neste engano
verbo da mesma oração ; v. g.: (Que é grande dos amantes a ce-
estando o imperador Aureliano na gueira)
guerra contra a rainha Zenohia, Encheram-me com grandes abon-
mandou que ninguém entrasse de danças
noite na süa tenda. Ora, o impe- O peito de desejos e esperanças.
Lus. V, est. 54.
rador, a rainha e todos os mi-
litares que sob o commando de Em geral, na anacoluthia, a
Aureliano a guerreavam, tinham mudança mais freqüente é a
suas tendas, mas, assentado que do sujeito que inicia a phrase :
o possessivo se ha de referir ao •xQuem ha de ser pastoral do seu
sujeito da oração, como no povo, cumpre-Me ser limpo e
exemplo dado que determina a afastado de todo o vicio.» João
tenda do sujeito ninguém, clara de Babiíos—Panegyricos, 9. (Vide
fica a prohibição do imperador. João Ribeiro, Qramm. do3?anno,
D'este modo evitar-se-ia um pg. 241-243, e a annotação de
vicio ou defeito que pode ajun- Silva líamos, que inclue grande
tar-se a todos os que se oppõem numero de exemplos dos clás-
á clareza. Assim concluiremos sicos.
que se a amphibologia não pro- Analogia.—Principio pelo
vém da deficiencia das regras qual a linguagem tende a uni-
grammaticaes, provém da inten- formizar-se, generalizando as
ção dobre de quem fala. Esta suas regras e submettendo
especie de sophisma era também quaesquer factos á sorte com-
de um grande reçurso para os mum de outros congeneres. O
oráculos. » principio de analogia c tão exten-
sivo e intenso que os neo-gram-
Alia.—Prefixo. Denota afas- matieos
tamento para traz, renovação, cam todas allemães por elle expli-
etc. E.x:.: anahaiMsta, que se ba- phonetic^s as excepções ás leis
das línguas. A ana-
ptisa duas vezes ; anachronico, logia, trabalho popular e espon-
de tempo atrazado; anatomia, tâneo (1), é muitas vezes falsa e
corte por diversas partes, atra-
véz. O termo aná, como simples
palavra, é usado como abrevia- (1) A analogia na linguagem in-
tura no formulário medico. fantil constitue toda a generaliza-
çfio ou rjraminatlca : eu se esqueço,
Aiiacoluthia. — É a inter- ])or me esqueceu, do typo verbal
rupção 0 mudança de constru s'esqueccr (esquecer-se), etc.
23
ANAL03IA
desarrazoada, por apoiar-so em bios, etc. A analogia explica em
bases illusorias. Taes são os so- todas as linguas as derivações
lecismos entreto, por entretenho, fora das leis normaes da plione-
mantí, por mantice, etc., muito tica. Assim, a forma meridional
communs entre os homens rús- faria suppôr a existencia de me-
ticos 6 ignorantes. Não obstante, ridião, que nunca existiu de fa-
forçoso é confessar que as lín- cto ; mas o adjectivo meridional
guas romanas devem ií analogia foi derivado sobre a analogia de
quasi toda a originalidade dos septentrional, que é um descen-
respectivos systemas grammati- dente de septentrião. A termina-
caes. Examinaremos os elíeitos ção Avo, normal em oitavo, foi
da analogia nos diversos domí- base sufllciente para as creações
nios da linguagem. Accento. — analógicas, anti-etymologicas
A analogia tornou oxytonos to- doz'avos, quim'avos, etc. A de-
dos os verbos no infinito: amar sinencia eu em meu (rneus) gene-
amare ; dever, ãehere; sentir, ralizou-se em teu (tuus), seu
sentire. Submetteu a essa unifor- {mus). A analogia procede dis-
midade os verbos da terceira cricionariamente e por isso cria
conjugação, que no latim eram Hexôes que estão em antago-
proparoxytonos: fazer, faeére, nismo com o valor semântico
por fácere; caber, capére, por do vocábulo. Assim, do tj-pó
mpere, etc. Fi.exão de gbnero. freire, a analogia formou/reira,
—A analogia considerou mascu- por soror; de varão, varoa, por
linos todos os nomes da segun- femea, mulher; padre, padro-
da declinação : servus, incluindo eira, etc. Por ahi se vê que im-
os que eram femininos em latim, portância exerce a analogia na
populua, choupo, laiirus, louro. constituição da lingua. A analo-
Considerou femininos os nomes gia prende-se á faculdade de
da lirimeira declinação, 7wra, imitação, que é a base do caracter
hora, e submetteu ao mesmo e do progresso humano, nas ar-
principio, no sec. XVI, muitos tes, na religião, na linguagem,
dos nomes gregos que ti- nas instituições e em todas as
nham a terminação a: planeta, suas creações. O latim omnea (de
feminino em Camões ; a clima, liomines) foi primitivamente do
(l$arro§). Fmxão de numbuo.— plural; a analogia creou o sin-
Deu o plural s a todos os nomes, gular omnis. Em portuguez, a jia-
mesmo áquelles quep não pos- lavra pomba (palumbam) serviu
suíam, como os neutros, que de modelo á Ilexão masculina
desappareceram ou reverteram pombo, que não existia. Bru-
para outras declinações. Con- gmann, o neo-grammatico, diz
STRUCÇÃO. — Submetteu o dis- ser a analogia ultima ratio plti-
curso á construcção analytica, lologüt^. II O que foi ahi dito a
por necessidade de clareza ; ge- respeito das formações organicas
neralizou o emprego de prepo- e naturaes da lingua, também
sições ; regulou o uso de advér- se applica ás formações eruditas.

ANALOGIA - -■ ANTROPOS
literariiis e scicntificas, pi-omovi- no, ante-cedcnte. Contém esse
(las por siibios e osoriplorcs (|iie )ir(ífix() os termos anterior, antíyo,
devem respoitar u iiuUilc o cnru- do me.smo radical. Não se deve
ctor cias línguas (e iiilclizmeiile confundir com o prefixo grego
não tem sido a legni) na creação anti, que não é das palavras la-
de palavras novas ou na adopção tinas : anticipar, que seria me-
de outras extranhas. Com razão, lhor díicviycr antecipar. (1)
censurou Kuy Barbosa, o gran-
de clássico contemporâneo, na Anti.—1'refi xo grego. Denota
redacção do CodUjo civil a ado- opiiosição: anti-calholico, anti-
pção da francezia iimolvalilidade euphonico. Esse i)relixo não deve
em vez da nossa exjiressão pro- ser combinado senão com elemen-
insolvencia. E que dizer dos tos gregos, para evitar compostos
neologismos scienlificos arbitra- liybridos ; no emtanto, actual-
ria e ineyitamente formados do mente é de constante uso formar
grego e do lalim, sem o conhe- hybridismos, como anti-social,
cimento d'essas línguas e das anti-patriotico, etc. Kestes casos
leis de derivação que nellas se melhor crthographia será ante-
observam'; social, ante-patriütico.
Analy.se.—Vide Proposições. Antitliese. — Permufa eu-
phonica, de existencia contestá-
Aiiexiin. — Vide Adnyio. O vel. Fazel-o, \)qv fazer-o ; tol-o,
anexim d'este se distingue, em nol-o disse, por vos-o, ele. Não é
que é incompleto e é muitas ve- assas plausível nos limites da
zes mera locução ; nir á halha, phonetica a transformação s em
nietter-se em camisa de onze tara». l. Parece, pois, que o l eupho-
Aiioilialia. — Designa qual- nico é a parte que persistiu do
quer irregularidade ou excepção artigo Io, Ia : eil-o estiipor eia-lo;
ás regras da grammatica. Ano- fazcl-o, x>ov fazer-lo. A euphonía,
malia é especialmente a excepção com etfeito, consisliu na queda
única ou em numero de jioucas do r e s, mas não em transfor-
que não parecem ter explicação mação de s em l, hypothese inad-
plausível. Por exemplo : ades- missível, sem exemplos que a
locação do accento em. hâjulus, apoiem.
que produziu háliij ; datha, que Antonynios. — Palavras re-
produziu dadica. É anomalia im- ]n'eseutantes de idéas oppostas
portante o uso do infinito pes- (bonito, feio). (Pacheco Júnior).
soal, quando se compara com a
syntaxe das outras línguas lati- Antroi)o.s (homem). — Ele-
nas, mas é elegancia e belleza mento de composição grega: an-
própria do nosso idioma. tropologia, sciencia do homem;
Ante. — Prefixo latino. De- (1) A i)rinieira grapliia é um erro
nota anterioridade, tempo pas- provavelmente deviJo A analogia
sado : ante-classico, ante-diluvia- de parllcipar.
25.
ANTROPOS APHERJ5SE
misantropa, que odeia o homem, oca iniciaes estáno facto muito
dc misein, odiai' ; pldlantropla, friíquente do esquecimento ety-
amor do homem. mologico e seguinte confusão
d'aquellas letras com os artigos
Aplierese.—Metaphismo ou ainda vigentes. O povo diz não
figura do dicção que consiste na raro: um Jicial ãè justiça, por
subtracção de elementos iniciaos suppôr que o o de official é um
do vocábulo. Exemplos com- elemento separavel, um artigo.
muns são: inda, por ainãa ; pos, Só por analogo critério se acha
por após; traz, por atraz; té, por a solução razoavel das perdas,
até. Vejam-se os seguintes, na amiudadas do o e a iniciaes.
degeneração do latim : a — Exemplos: bodega, hotica, em vez.
npvtJiecam, botioa ; s — sj^asmum, de ahodega, ahotica (latim ajw-
pasmo; e — cpiscopum, bispo (do tlicca) ; hitacula, em vez de ahi-
grego). A aplierese já se notava taaida (habilaculano latim), apos-
no latim com bastante frequen- tema, em \'ez de apostema. Em re-
cia, V. gr. ; latus, por tlatus (de lação ao artigo masculino, regis-
tollo);natus, por(/«íifws, enarrare,tremos ; a forma bispo, talvez obis-
por (jnarrare (c\).i-gnarus, i-ijnu-po, comoaiiida o é no castelhano,
ro), etc. No portuguez, a aplie- do latim episcopus ; a forma an-
rese é susceptível de e.xplicação, tiga e masculina cajom, em vez.
co^nforme uma ve/ escrevemos : de occajom, derivada de occasio-
" As pessoas que estudam a gram- nem, e outras contestáveis, como
matica histórica das línguas ro- relogio (horologíum), etc. A outra,
manas, é familiar o exemplo face doproblema, naturalmente,
curioso da aplierese no vocá- contempla e especula sobre o
bulo francez aiupeKsade, em por- caso dos artigos archaizados :
tiigue-/ atiítpeçada. Esse vocábulo Io, Ia, etc. O vocábulo eiva, em,
veio do italiano landa spetzata meu conceito, soffreu trans-
(lança quebrada). Os francezes formação analoga ás já mencio-
transcreveram-o sem duvida pela nadas. Eiva, ao que me parece,
forma lanspessaãe ; mais tarde, a deriva de lahem (1), e é fôrma di-
ignorancia popular, suppondo vergente em relação a laivo : eiva
alli a existencia de um artigo de corrupção, laivo de cor-
(Tanspessade) produziu a queda rupção. A forma antiga deveria,
do l e creou a forma, hoje única, ser leiva, mas como já existia o
ampessaãe. Oousa , semelhante homonymo leiva, de gleha, eíTe-
aconteceu em nossa língua, po- ctiiou-se a desapparição da letra,
rém com mais inesperada com- inicial quo se confundia com o
plicação. No sentido da evolu- artigo (Teiva). O vocábulo onça,
ção histórica, o portuguez conta com osigníficadodeanimal, tam-
duas sortes de artigos: Io, Ia e
o, a. Os últimos sobrevieram (1) Deve-,se adniittir o especinieu
aos primeiros. Para mim, a me- IdhUim, similar a rabiam, de ra-
lhor explicação da apherese do bicvi.
56
APHERESE — APOSTROPIIO
bem passou pela mesmcatransfor- cias, desapparecerarii os casos ;
maçrio. Veio do italiano Íwííza (íyra- este facto importantissimo ori-
•íemlat.) e, devendo ser transcri- ginou a necessidade da constru-
pto na fórniaíonfíí,perdeu o l ini- cção analytica que caracteriza as
cial (Vonça), por se suppOr erro- linguas provindas do latim. A
neamente que fosse o artigo.» apocope ou queda de terminação,
no latim, e.Kplica-se geralmente
Apo.—Prefixo prego. Signi- pela linguagem barbara dos in-
fica; longe, em distancia. vasores do occidente, mesclados
longe da terra. Aphelio, longe do de populações e dialectos diver-
sol. Denota também intensidade: sos; em segundo logar, no latim,
■apoplexia, que fere profunda, a ultima syllaba era sempre
falminantemente. Nota-se em atona, e por isso sujeita a perdas
^apologia, apocalypse, aphorismo, irreparáveis ; finalmente, a dis-
■ apostolo, apóstata, etc. O latino ciplina, a tradição, a força con-
correspondente é ab,que também servadora da literatura latina
denota afastamento. tinham perdido o melhor de sua
iníluencia sobre as populações
Apocope.— Metaplasmo ou medievaes, e entravam no pe-
figvira de dicção, que consiste na ríodo de dissolução.
■subtracção de letras finaes. SSo
exemplos usuaes as formas con-■ Apostroplio.— Notação ou
tractas,9r«o, cem, mvi, recem, são. signal usado na orthographia
Por ella se elimina o s, anti- para indicar a suppressão de sons
euphonico, em vamos-nos, ,e anti- ou letras. Usa-se em vários
gamente se supprimia o s de l/ies: casos : 1? Na suppressão do e da
■ lhe fez, por lhes fez ; e ainda hoje preposição di: ã'Almeida,d'então,
será impossivel dizer; lhes o disse, etc. Os antigos escreviam Dal-
se se não quer diziír á maneira meida, dcntão, etc., e ainda hoje
antiga Ui o disse (quando lhe é do se escreve ; desde (d'esde), dentro
plural). Também era freqüente (d'entro), e ainda nos cognomes
supiirimir o n final da syllaba v. gr., Doria (d'Oria). A ortho-
atona ; image, calige, etc. Ainda graphia ainda é arbitraria em :
hoje se di7. nume, por numen, e deste, d'este, d'aquelle,d'isso, d'elle,
■ lume, \ioílumen, e também volume. que tambam se esc/evem disso,
Na passagem do latim para o daquelle, etc. 2? E usado em
portuguez realizou-se a apocope menor gnío, na suppressão de
■em numerosos vocábulos : dizer, letras iniciaes m6<\vA%-.esp'rança,
dicer-e / vieram, venerun-í; p'ra, etc.; com a preposição em,
mesa, mensa-m. A apocope c o apostroplio, sendo usado, só é
um phenomeno commum cm admissivel no logar da letra
todas as linguas romanas. Foi suppressa ; 'nisto, 'neste, etc.
sobretudo freqüente nas íiexões Comtudo, usa-se excentrica-
verbaes e nominaes ; pela fljw- mente depois da suppressão :
■ cope, desapparecendo as desinen- n'este, n'esse.
27
APPELLATIVO — ARABE
Appellativo. — Vide Sub- arabes no seu regimen de tole-
stantivo. rância nada impozeram, quanto
Apposição.—Cliama-se ap- ao pensamento, aos vencidos, e
posição á coiistrucçilo de phrase eram admiradores e cultores da
que tem a mesma successílo e sciencia grega e Occidental. A
relação da precedente. Ex.: Cey- maior parte dos nomes de ori-
lilo, ilha pertencente aos inylezes ; gem arabica conhecem-se pela
César, o mais hábil dos generaes... presença do artigo al afüxo: al-
etc. A apposição aílecta uma feniin, almirante, etc. Cumpre no-
construcção syntactica especial tar que, por meio do arabe, nos
nadenominaçãodas cousas e dos vieram muito."! termos de diver-
logares : cidade de Lisboa —ci- sas etymologias, por elles ado-
dade Lisboa; o dia de sabbadn=o ptados. Do grego, v. gr.: quilate,
dia sabbado ; o mev. ãe Maio — keration ; abenus, ébenos ; adar-
o mez Maio, etc. O uso nem me, drachuê ; alambique, ambix;
sempre exige a preposição ; por alcaparra, kápparis ; triaga, the-
isso diz-se iiuomiscuamente : o riaké. persa; azul, lazur ;
anno de 77, e o anno 100, o anno julepo, íjulap (agua de rosas) ;
mil ; o rio Amazonas e o rio das xeque, chah (rei); caravana, kar-
Amazonas, etc. Em João de wan; limão, laimum. Ha exem-
Barros, com os nomes proprios, plos, como veremos depois, de
quasi sempre havia a exclusão palavras latinas que, depois do
da partícula : a cidade Évora acclimadas no arabe, voltaram
(III, 1, C). Vide Complementos. ao dominio romano. Factos yram-
Alguns grammaticos, Delbaiuf e maticaes — Adelo ; a tórma pri-
Roersch entre outros,distinguem mitiva é femin. como no cast.
a apposição do complemento appo- adela. O advérbio avondo, do
sitieo ; esta ultima expressão de- Cancioneiro, se se liga ao cast.
signa o caso em que existe em- adunia, parece vir do arabe (ad-
prego da preposição de. domya, a gente, o mundo). Al-
mocreve, de nlmocâri), e é o part.
Árabe (língua). — Língua da do verbo cara, alugar. Em elixir,
família semitica, que directa- de al-acstr, o elemento el denota
mente injluiu na lingua verna- a inllueucia da Córma romanica
cula por effeito da invasão arabe el, provavelmente ; é exemplo
que occupoH a península ibérica único. 0.mlã i a phrase insch'
do século VIU ao spculo XV. A allãh, se Deus quizer. Ar-ruh,
inlluição do arabe manifestada numerai, significa a quarta parte
nas instituições, nos usos, naci- (do quintal). Tomin, de thomn. a
vilisação, não destruiu a Índole oitava parte. O artigo arabe cd
latina da lingua portugueza, desapparece em algumas fôrmas:
apezar do dominio de sete sécu- ceifa, rez, tenith, etc., e assimila-
los ; limitou-se o seu influxo ao se em varias palavras com as for-
vocabulario, do qual a maior mas ar, as, az, v. gr. : az-zeite,
parte se arcliaizou. Demais, os as-sucar, ar-roba, ar-rais, as-sude,
38
ARABE
oto. Sobre fórmíis divergeiiles, comprehensivol, o mesmo verbo
escrevemos nos Estudos pldlolo- produziu o substantivo garrafa,
gicos (na 1? edição) as seguintes eno italiano carafa. Como a fôr-
notas ; ma portugueza é mais vizinha do
arabe, o mais certo é que de lá
«As vezes encontramos varia- proviesse directamente. Onde,
porém, é indiscutível a forma
ções divergentes apenas em com- italiana é em lazuli (lápis azule-
posição. O narcotico conliecido jo) : a fôrma vernacula é azul, de
por hachi appareoe no composto lazur (persa). A língua france-
assassino = hachachi, bebedor de za também influiu jior intermé-
hachi. Outro aspecto de summa dio das suas transcripções.Assim,,
importancia é a determinação
da proveniencia neo-latina. Nós kafur, que já havia entre nós,
produziu alcanfor, pelo francez,
temos duas formas./aj-ro c jarra; • trouxe-nos
jarron é a única fói-ma hospanho- esse exemploainda camphora. E
não é o único. O-
la de âjarra. Por sua vez o ter- cognome pessoal e nome de-
mo hesjíanliol notou-se no por- planta Í'a6re/7a«(tabr6gue) é uma.
tuguez, adquirindo, como sem-
pre, uma pequena variação de variação divergente com alfava-
sentido. O vocábulo koÚi, que ca, ambos derivados do corre-
prefixado com o artigo al produ- spondente arabe/«aiae. Depois de-
ziu no jjortuguez álcool, também assignalar a infiuencia neo-lati-
apparece como no dialecto ara- na, convém citar um caso raro,
gonez, na íórma alcofór. Xote-se onde se manifesta a influencia
que kolh significa suhtil, o por ingleza. Eeh chah produziu no-
conseguinte, analogicamente, o liortuguez xaque (matte) e esca-
espirito ou essencia.—A jialavra ques; uma terceira variação é pu-
sei/d, senhor, ainda nos dá pelo ramente anglo-saxonia, check ou
castelhano o nome do Cid, o xeque, introduzida pelas relações-
campeador. Ainda, nota-se cla- commerciaes, sobretudo do Ori-
ramente a influencia hespanho- ente. As vezes as variações mul-
la na palavra capacho, derivada tivergentes são apenas certas mo-
do arabe gafas (gaiola). A forma dificações de pouca importancia
verdadeiramente portugueza e ideologica. ^í/araz, o cavalleiro,
cabaço, que a este respeito pare- e alferes, são uma e mesma cou-
ce que seguiu a infiuencia do la- sa, o primeiro sendo a fôrma
tim medieval cahacius. Outra arabe em totía a pureza. Do no-
forma divergente mais contracta me geographico Bagdad formou-
é cahaz. Não só do hespanhol, se adulteradamente o adjectivo
mas até entre nós seute-se a in- JaMííy!«'rec>,para designar um te-
íiuencia italiana. O verbo garaf, cido de soda ; d'ahi, muito pro-
que significa sugar, beber, soprar, vavelmente, vasquim, uasquino,
produziu o themade alearaviz(ío\- vestes analogas aos colletes que-
le). Por uma analogia facilmente outr'ora eram sempre de seda ou.

t
29
AKABE
■velUido (1). O vocábulo muübn quartel d'esse século, com a re-
-(crente no Islam) appavece no novação romantica da literatu-
portugiiez sob as Unas formas ra franceza. As formas propria-
niusulmano e a antijí^a munlemo, mente scientificas também são
maisproxima do l}'po fundamen- numerosas, eapontaremos as que
tal. Itima ou ruma, no sentido de são de maior importancia. Mora-
amontoamento (arrumar, arri- bitin designou uma tribu arabe
mar) tem como variação paralis- no Occidente ; depois o rresmo
ia que indica uma idca vocábulo indicou uma moeda :
■semelhante, e derivam do ara- maravedins e maraxedis. O nome
be rasma. Passemos á analyse da tribu.na historia, é almoravi-
das formas que tC'm um lado de das. Mlxk era o nome de um ani-
introducção erudita ou scientifl- mal : almiscar. A medicina in-
•ca. Em primeiro logar, notemos troduziu as formas moacho e
que o romantismo, niio da pri- moscada (iioz). Xouk produzia
meira phase allemã de Lessing, em lingua vernacula azouyue. A
mas da de Staiíl e Hugo, intro- sciencia creou azoto. Si/?'produ-
duziu grande numero de termos ziu a fôrma mais vizinha cí/rffl e
•do Oriente, que, em parte, vie- posteriormente cifrão. Pelas tra-
ram juntar-se aos já existentes ducções latinas das mathemati-
de longa data em nossa lingua. cas arabes, recebemos zero (ze-
São d'essa procedencia : Mzir — phirus), da mesma origem. Al-
já existia com as formas i>opu- kuaresmi, nome de um mathe-
lares ak/uazil, ahasü. Fakir — matico oriental, deii ah/ariumo, e
existente nas fôrmas populares scientificamente o termo techni-
faquino e alfaqui. Kanújar —• co algorithmia. Zindjafr pro-
que S8 encontra nas producções duziu no dominio popular o ter-
poéticas orientaes, tinha a forma mo azinJtavre. A pliarmacia fran-
alfange. Al-ma (água) — Pelo ceza Introduziu cinábrio. Audj
século XVI, das descobertas creou em portuguez auge. Pela
africanas, havia almadia (canôa). astronomia apuides (apheUa e pe-
Mais antigo almagerje (tanque). rihelia). A.i-sent produziu dous
Albatroz—nome de ave marinha vocábulos scientiticos da astro-
formado analogicamente de qa- nomia, azimuth e zenith. Antes
dus, maohina de transportar de concluir, devemos fazer um
agua ; no antigo portuguez, nl- exame mais propriamente' se-
catruz. Emir— chi^fe ; já se en- mântico dos elementos léxicos
contrava esse thema em almiran- portuguezes formados ainda so-
te e miraholim. Separamos esses bre o typo arabe. O adjectivo
vocábulos por isso que a sua in- fouveiro (côr de cabello) deve ser
troducção ou, pelo menos, maior o arabe liohdra. Mas hobara, por
■generalização, data do primeiro sua vez, segundo Engelmann, é
o latim avis tarda (hesp. abetar-
(1) Vasqnlm é mais provável- da, betarda). A assim ser, teria-
raente orig.do basco. mos um dos rarissimos casos da
30
ARABE — ARCIIAISMOS
etymologia latina atravez <1o ara- preservação nos antigos do-
be em palavra não soientitica. O cumentos literários. Muitas ve-
substantivo raz (cabeça) entra zes, dos arcliaismos restam vestí-
com artigo em arrais (chefe). gios como petrificados em certas
Sem artigo, na fôrma rez, signi- locuções, adagios, etc., e na
fica o gado. Podemos, pois, attri- composição dos vocábulos. Assim
buir lí influencia arabe os modos o verbo jeitar, lançar Cí^. jeterJ
de dizer : tantas cabeças de gal- jií lioje não existe; mas encon-
linlias, etc. O adjectivo mal for- tramol-o no composto rejeitar. As
mado olhizarco ó um pleonasmo causas do archaismo são ínnume-
inútil. Zarcã ]ii é por si só a mu- raveis. Notemos as principaes :
Uier de olhos azues. Notemos, em a) Desapparição de cousas, cos-
conclusão, um c«so em que a in- tumes, factos, civilisações, in-
trusão do elemento liespanhol e stituições : Uso de Montipilher
francez c simultanea. Djuha pro- (vestosdoutoraes), zevron(seiim),
duziu aljuba (roupa), não obstan- unjjros, taldi (jarceras, orpelados,
te conservarmos a fôrma liespa- termos de vestuário e modas:
nliola, quee sem artigo, juba. (1) alí/uasil, jofjraes, etc. bj Exis-
Arehaisiuo.s.—Palavras ou tencia de fôrmas synonymicas,
quaesquer factos grammaticaes eruditas ou não: sei/re desappa-
que existiram e desappareceram receu diante de século; leixar,
da língua. Os arcliaismos natu- ant(í deixar; irameter, ante. entve-
ralmente dosapparecem com a metter; lez, anie lado; frol, «nte
eliminação das rousas. institui- llôr ; esciiecer, ante es(juccer, etc.
ções e factos que jií não e.xistem cj Existência de homonymos ou
ou se transformaram. Jlas o des- palavras de igual soido, e que
uso pôde ser apparente e origi- podiam confundir-se: chantar
nar-se apenas da negligencia e (plantar) e cantar; ca (porque) e
desattenção dos escriptores que ca (aqui) ; sirtentes (cantos) e
não cultivam a lingua antiga. serventes, etc. d) A tendencia
.Tulgam-se (como jil se têm jul- que muitas palavras soífrem de
gado) obsoletas expressões que se tornarem de sentido obsceno
não desappareceram. Os verda- ou pejorativo: enxeco (penden-
deiros arcliaismos nunca resur- cia), drudo (amante), etc. e) A
gem, e a existencia de pre- inevitável necessidade dos neo-
tendidos arcliaismos temporários logismos combinada com a limi-
explica-se pela permanencia tação necessária da memória. O
ignorada do archaismo em qual- homem do povo, segundo Tursli,
quer província ou região geogra- não tem lí sua disposição mais-
pbica da lingua, ou pela sua de dois mil vocábulos, f) O pro-
gresso humano, em geral, é uma.
(1) João Ribeiro — Est. Phil., causa de archaismo syntactico.
47-51'. (l í edição). Foi o livro reini- O homem contemporâneo tem
presso eni edição corrigida eni 19013. as faculdades de analyse assas
.). Santos, etMtor. desenvolvidas. As construcções-
31
ARCIIAISMOS
syntheticas puramente emotivas cançar (raramente de uso); agu-
tendem a desapparecer. Para ça, pressa; alças, impostos; alfa-
estudar-se a lingna archai- raz, cavallo ligeiro; alt/n, alguma
ca, o Toniance portuguez, não cousa (ainda de uso); amistar,
existe mellior que o Cancio- ter amizade; amorriado, doente;
neiro da Vaticana, riquissima antanho, no anno anterior, anno
collecção de 1205 canções dos já passado (talvez de uso);«/)wr,
trovadores da escola proven- accusar; ar, também; astroso,
çal portugueza. Nas ultimas can- feliz; avilar, tornar vil; azes,
ções nota-se um variado vocabu- tiancos, alas (ainda de uso); ha-
lário de termos obscenos, que landrão, sobretudo; heneito, ben-
servem para estudar a tendencia to; hesonha, necessidade; hisalho,
pejorativa que foram ganhando enfeites; caoncar, porque; cada
muitos dos vocábulos originaria- que, Cíida vez que; cajon, msí cc-
mente decentes. Muitos docu- casião; cama«/íO, quam magnus.;
mentosde linguagem, fóradalite- cano, velho, encanecido; cas,
ratura, se encontram nos antigos casa (cf. fr. cJiez); certão, ceito
foraes, actos públicos, juridicos, (fr. certain) ; chiis, mais (plus),
no latim barbaro ou no por- usado na expressão nem chus
tuguez antigo. Os arc7iaiíimoii silo nem hus; eitola, cythara; co-
de diversas naturezas. lia ar- chom, porco; coitar, fazer mal;
chaismos ortho(jraphicos : he, por cor, coração; criança, criação;
huin, por vm; athe, t/ieor, ley, degredo, decreto; de cham, de
por até, teor, lei, etc. Os archais- prompto; de pram, id ; de suso,
moK de (le.xão, como os femininos de cima; de juso,. de baixo;
fíonimua, cidadoa, por commum, de vegadas, por vezes; dona
cidadã; as He.xões de pessoa, ama- d'algo, senhora nobre (ch.
des, por amaes, etc., dizem-se fidalgo) ; duldar, duvidar; ecJiar,
morphologicos. Ha archaismos deixar; eiri, hontem; em\iara-
syntacticos, de construcção, como mento, amparo; ementar, pensar;
— viajar a Deus misericórdia endurar, solfrer (talvez, raro, de
(Barres); começar escrever, por uso); enfiger, fingir: tnganhar,
começar a ou de escrever, etc. Ha enganar; entram£nte, entretanto;
finalmente archaismos semânticos, er, o mesmo que ar; escatima,
que são os mais numerosos, e defeito ; est, lat., v. ser; faceiro,
que consistem apenas no obsole- soberbo, atrevido (de uso no'
tismo de significado,dos nomes; Brasil, mas com o sentido de
arreio, no sentido de enfeite. Eis casquilho) •, falagueiro, fagueiro;
um catalogo summario de ar- fera far, fazer (Canc. Vat.); fey,
chaismos de todo o genero: feito (O. da Vat.) ; folengar, fol-
ahondo, excessivamente; acaecer, gar; fudud'an cul; fudud'an
acontecer; adniffe, pandeiro; a dia ; genela, coitíL ■, greu, grado,
carom, defronte; adur, difTicil- vontade ; guarecer, melhorar (fr.
mente; accorrer, acudir (ainda guérir) ; liu, onde ; i, ahi ; ladi-
de uso); adduzer, trazer; affanar. nJíO, astuto; leixar, deixar ; lidi-
ARCIIAISMOS ARTIGO
ce, alegria ; loaãor, lisongeador ; Artij>'o.— Especie de deter-
lunes, sfgiHiita-fehii; maçar, ape- minativo commum ás línguas
gar {Ííímhem marjucr); malado, romanas ; no port. o, a; no it.
servo ; maltreito, doente; mulou- e cast. Io. Ia ; no fr. Ic, Ia ; com
ria, doença; martes, lerya-1'eira; outras formas, el commum ao
mai/son. cíisn; mençonha, mentira; portuguez e castelhano, ü no
mocelinha, niocinlia; murzelo, côr italiano. Ktyvioloyia. — Do la-
de amora; nembrar, lembrar; tim illum; formas inter-
nulla, nenhuma ; ohridar, olvi- mediárias antigas Io, Ia ; ortho-
dar ; o(jaiio, este anno; oy, hoje; graphia antiga ho, ha. A etymo-
oiyte, lionten-.; padre, pae; logia foi durante muito tempo
porém; pindecoste, pentecostes; controvertida ; sustentaram-se
pobra, póvoa, aldeia; 2>reK, perto; principalmente duas opiniões :
2)rcsttimeir(), ultimo;í)rrt/íífar, sa- uma, (pie deriva o artigo do gre-
tyrisar; prez, prêmio; raiicuiias, go ho, origem inadmissível em
aggravos; recaudo, acautelado; vista da influencia limitada do
ren, cousa ; rWomem, fidalgo ; grego que, salvo o caso de for-
sazãa, occasifio (ainda, ravo, usa- mas eruditas, só operou, em re-
do) ; sojornar, ficar ; sanhudo, gra, por iutermedio do latim. A
feroz ; strolomya, astronomia ; segunda opinião faz derivar o,
talan, talante, vontade ; torto, a, do latim hoc, hae; mas essa
damno (raro, usado); tostt-., logo; origem suggerida i)ela orthogra-
u, onde ; vagando, vadio ; xelido, phia archaica não se coaduna
bello ; verto (verbo), i-ifão ; -.re, com os especimens romanicos
te. galleg.; y. alli. Não ó dcCeito e (inclusive portuguezes) Io, Ia,
antes é qualidade que se deve nem tem o apoioda phonelica.(l)
pro/,ar o esforço ou diligencia Os vocábulos elle, Io, o, con-
com que alguns dos escriptores stituem os vestígios da declina-
modernos buscam resussitar as ção de üle, lat. N. llle, üla, il-
formas archaicas que pela bcl- lud—elle, ella, ello (arch.) e el
leza, conveniência ou necessi- (arch.). I). llli — lhe, ant. li.
dade merecem revividas e de Acc. Illum — o, ant. Io. lUam—
novo lançadas na torrente da a. ant. Ia. O genitivo do plural
linguagem commum. Assim o illonim produziu no francez leur,
fizeram no século XIX Castilho, no italiano loro, no castelhano
■Camillo 6 ainda hoje Kuy Barbo- antigo lure.i, mas não deixou, que
:sa, sempre com excellente êxito. se saibam, vestígios no portu-
guez. O artigo agglutina-se com
Arcliê (supremacia). — Ele- algumas partículas, tomando os
mento de composição grega. Fiír- seguintes aspectos : de -(- o, a —
ma sufHxa ; archia. Arcltanjo, do, da ; em -f- o, a — 710, ná ;
.anjo principal ; arcebispo, bispo
principal ; monarcliia, governo (1) A quéila do c linal tem sem-
•de um ; heptarchia, sete gover- pre compensação 011 natalidade :
.nos, sete chefes. nem, nec ; sim> sic.
33
ARTIGO
per o, a — pelo, pela ; d -)- o, no século XIV usado com o sen-
a — H. Já não se usam as com- tido etymologico no sentido de
binações enlho, enlo, de em-lo ; ellas (lat. illas)
polo, (le por o ; colo, collo, de com- mouro. . . cerca Ias adiei
0 ; dei, de de-el ; ó, de n -(- o. As (Canção do Figueiral).
combinações ó,poi' ao, e polo, por 2. O uso pronominal do arti-
p)or o, pelo, têm numerosos ex- go como complemento objectivo
emplos nos documentos clássi- não é um facto excepcional, mas
cos ; as demais sito próprias do orgânico e de todos os tempos da
ronUinee ou povUiguez antigo. || 1 Íngua.
Leia-se quanto escrevi sobre os se me los ey
usos syntacticos, emprego e (Cano. Vatic. n. 233].
omissão do artigo na Grnmm. 3. A preposição em contracta
port. 12? edição. Aqui apenas com o, deu no, o que se explica
apontaremos coucisamente al- pelafórma intermediáriacujo
guns factos.mais na índole d'es- som flnal se prolongou até a vo-
te livro. O artigo el só se empre- gai seguinte, como se prova com
ga hoje na expressão : el-liei, a forma do século XIXI do can-
que se tornou tradicional. As cioneiro dê D. Diniz, pag. 142 :
formas antigas Io, Zrt, .etc., dei- e vay lavar camisas
xaram vestigios nas expressões : en o alto.
dizel-o, ãizer-lo, nol-o disse, nos- 4. A coiitracção da preposi-
lo disse ; eil-a, eis-la, etc. Duran- ção a com o escrevia-se 6 como
te muitos séculos, atravéz da nas canções antigas; a contra-
cultura clássica, permaneceram cção a Ia produz freqüentemente
quando jiospostas ao adjectivo al (Pero Meogo)
todos : tododos dias, todaslas vezes, hides morrer al mar.
etc., e ainda se usam na lingua- Na mesma época também oc-
gem popular. O artigo Io ainda corre alamar, porque marera fe-
é vigente no provérbio — quem minino o ainda o é em preia-mar
muito Io quer, muito Io perde — (plena mar). || 5. Sobre o arítá'"
talvez por iniluencia do caste- partitivo qual existe no portu-
Ihann. II O accento de ille, illa, guez, fale o joven pbilologo Ma-
já se adiava desviado desde o la- rio Barreto ; «Não se pôde ne-
tim, pois, conforme demonstra- gar que ha na nossa lingua por-
ram Benloew e G. Paris, os co- tugueza alguns êxemplos em que
micos na prosodia swpprimiam a preposição de que acompanha
o i inicial. No portuguez deu-se o complemento directo, tem um
o agglutinaÇão do artigo em va- sentido partitivo : — Nunca di-
rias palavras. Em Uste, por ex- gas: D'esta arjua não heberei,
emplo, e.xiste a composição Ves- d'este pão não comerei (adagio);
te. A palavra primitiva era este. quero d'aquella cerveja; prefiro
O mesmo succedeu em lossueste d'este vinho. Não é só na lingua-
(Dicc. Moraes) por ossueste, etc. gem popular que se usa assim
yiàn Prothese. \\ 1. O artigo era d'este de partitivo. Encontra-
DICC. GKAMM. 3
t
34
ARTIGO
mol-0 também ra jiliviise dos es- «Perdidas e tracilhadas
criptores . Exemplifiquemos ; «As tuas ovelhas vejo :
iiComeriís rfo leite, ouvii-iís do» "jyellas morrem de cançadas,
coutos, e partinls quando qui- «E tu tens morto o desejo
zerdes.» (Franc. Ilodrifrues Lo- «De acudires ás coitadas.»
bo— O j>iistor peregrino, pag20). (Jdeiii).
«Adiando as virgens néscias que Eis ahi d'elles, d'ella», locuções
se llie apagavam as lampadas, Iiartitivas, servindo até de sujei-
chegaram-se iis prudentes a pe- to, sem embargo da preposição,
dir que lhe quizessem dar do como no francez : du hon pain
oleo que'traziam prevenido.» (P. me sujfit, de l'eaii vaut mieux que
Ant. Vieira— Serm. T. 4?, pag. du viu. No francez o u.io do arti-
204, col. lí). "... e lá vílo co- go partitivo é extenso e rigorosa-
mendo todos do bacalhau por es- mente obrigatorio. No Italiano c
sas estradas até Elvas, onde o egualmente amplo o seu empre-
molham, para que nSo 1'alte no go, mas não com tão extremado
pêso.» (Idem — lirte de furtar, rigor : daiemi dei pane ( fr. don-
cap. VII, i)ag. 24). ^ nez-moi du jxiin). As linguas
portugueza e hestianhola (1) re-
«Foi-se fechar no mais alto jeitam a appiicação absoluta do
Da torre de Valderey : artigo partitivo, tanto assim, que
— N<ão quero comer do pão. se recolhem como dignos de no-
Nem do vinho beberei.» ta os casos em que elle apparece.
(Garrett — Ilimianceiro, tV vol. Cumpre, peloconseguinte, usal-o
pag. 152). com muita cautela para não
resvalar no gallicismo.» { Mario
«Trazem das ílôres vermelhas, Barreto.)
Das brancas para a enfeitar ;
Tam lindas íiôres como ella (1) Dizem oa grammaticos que
Não nas poderam achar.» nfio deve um substantivo no plural
(Idem, Ibideni, pag. 1G3). ser a<^om])anliado de dois adjecti-
vos no singular, ])orque é o adjecti-
«Ouvirei cantar os gallos vo o que concorda com o substanti-
«N'aldeia, e ladrar os c2es, vo, e não o substantivo com o ad-
«E jazerei entre os pães ; jectivo. Não se deve dizer : — as
«Verei berrar-entre os valles idades viril e madura, as litteratu-
ras (jrcya e latina, us reinos vegetal
«Os novilhos pelas mães ; c mineral, Jiias — a idade viril e <í
uD'elles berrarão do fato, madura ; a liíteraíura grega e a
«Porque mór pena me dêm, latina, o reino vegetal e o mineral,
«Chorarei meu desbarato, —Eiicoiitram-se, porém, exemplos,
«Eu não sei porque me mato, e de bons escriptores, em contra-
«Mato-me não sei por quem.» rio : «Gloriava-se este de mui ver-
sado nas linguas grega, liebraica,
(Bernardim Ribeiro— Egloga syriaca, clialdaica e outras uuii-
Jll, pags. 298-317 das Obras, ed. tas.» (P.Man. Hernardes — Nova
lisljonen.se de 1852). Horesla, liv. IV, pag. 384.) «... as
35
ARYANA ASIATICISMOS
Aryaiia. — Família ile lín- os idiomas europeus do sul e
guas, a mais conliecida. que occidente. Aqui daremos um ca-
comprelieiule o gi-cíio, o latim, o talogo breve de asiaticismos de
sanskríto, o allemão, oslavo, etc. varias origens: Avatar—do sans-
y\úe Indo-européas (línguas). Do kríto, transformação. Incarna-
mesmo sentido é a palavra indo- ção de Viknu ; literalmente : a
germanicas. creada e usada pe- descida. Hoje é termo literário.
los allemães. O latim, d'oiide se Babel—do syríaco. Confusão. Se-
originou o portuguez, prende-se gundo outros, templo de Bel. Pa-
ao ramn italicuà-A. familiaaryana. puzes—do persa pa-pzíc/t, que co-
bre os pés, pa. Calçado oriental.
Asiaticisnío.s. — Kxpressão Bambu—termo indn. Canna.^a-
consagrada aos vocábulos que se nana— de origem hindu. Boiizo
originam de línguas asialicas. —do japonez. Sacerdote. Lama
Na língua portugueza lia vários —do thibetano, Ihama, o supe-
díalecto.s falados na Asia. em rior. Budlia—sanskríto, o sábio.
Maciío, Gôa, Ce.vlão, etc., e Pagode — do persa : b}it, ídolo,
d'elles o único (jue tem do- khodda, casa. Templo. Oanga—
cumentos de interesse literário supplicio da China. I)'ahi pro-
& o Indo-portuguez (Vide esta pa- virão: canga? cangalha? etc.
lavra). Das linguas Isemilicas, Schali— Cío persa, cliali, rei. D'ahi
hebraico e arabe, (rataremos em cheque, xeque-mate (Vide Arabe).
logares especiaes, em vista da Padichá—dep«(?, protector, cJiah,
ímportancia que possuem e da rei. Turbante—veste. I'Y)rma di-
inlluencía que exerceram sobre vergente : ttilipa ; ambos origina-
dos de dulbend, jiersa, especie de
graças litterarias da época, eni nos- chalé para envolver a cabeça.
sos dias consideradas aleijões con- Outta percha—do malaio getali,
tagiosos das escolas italiana e lies- gomma, e Pertjah, nome malaio
panliola.» (Caniirio—O judeu, vol. da ilha de Sumatra: gomma de
II, ])arte teri^eira, ea]). III, i)ag. Sumatra. Derivado moderno :
28.) «... foi Fernando Luiz procu- gomma-jríííto (hybrído). Junco—
rar sua vida na Allenianha, como (fr. jiingle), no sanskríto
professor das linymís frauceza, deserto. Planícíe onde abundam
hesiianiiola, italiana e i)ortugue-
za.» (id.'—A caveira da martpr, caníços. ,/ulepo—do persa golapa,
prefacio, pag. 2.) «...pagou Nel.sou de gu({roaa,), ab ou ãp (agua).
com a existencia a esplendida ba- Kaolin—do chinez. Argílla. Ca-
talha de Trafalgar, gaidia sobre as ravana— do persaAríí-Mare, bando
esquadras liespanhola e frauceza de viajores. Derivado : Caravan-
nnidas...» (José Feliciano de Cas- çará, de liaruan o, serai ou sarai,
tillio — Livraria classica, Noticia palacio, casa ; estalagem para as
da vida.e obras de Bocíkjc, tomo 2?,
pag. 147.) Não se condenine, ])0Í8, caravanas. Kermes—palavra ara-
a nossa plirase : As liutjaas portu- be derivada do sanskríto karmi,
gueza e lies|)anhola rejeitam... verme. Khan — palavra tartara.
(Nota de Mario Barreto.) Príncipe. Vandi—assucar.Arabe,

t
36
ASIATICISMOS
derivado do sanskrito khaiiãa, sidente, separado, P/iarisaico,
pedaço (erysUl), ]/ khad, rom- etc. Punck — do persa, cinco.
per, quebrar, Khedica — persa ; Mesm. |/ gr. pente, persa panj,
significa senhirr. Titulo que se lat. quinque. Cinco ingredientes
dava ao vice-rei do I3gj'plo. Cos- que formam uma bebida do ori-
saco—da lingua dos l^irghis. Ca- ente. E orthographia ingleza.
valleiro da Ukrania. Limão—A& liajah — t, da índia. Príncipe.
laimvn, persa. Derivados : li- Sandalia—áo persa mndalak, cal-
moeiro, limonada, etc. Laea—de çado, Saraça—úa, índia, cober-
lak, persa, sanskrito la'ksha, re- tor, Satrapa—termo persa, co-
sina. Azul — do persa lazur, nhecido desde a antigüidade
azul. A forma primitiva deveria grega e romana. Governador, Es-
ser lazul; o ? desappareceu talvez carlate—do persa serkelnt, rubro,
por ser supposto artigo : (Vide Escarlatina, Ghale — do arabe
Apherese. Derivado; lapU-lazuUi, schal, inglez shaicl; usado no
do italiano, mineral, lazulite; oriente. Serralho—de sarai, casa,
no lat. barbaro lazurium. Múmia palacio. Persa. Cf. caravan-
■—do persa muni, cêra, substan- ç.ara. HpaM—do iiersa sipahi, ca-
cia balsamica. Derivado : mumi- valleiro. Tambor, do persa. Arabe
■ficar, etc. iVacar—persa nakar, tonhur, atambor nos ant. do-
usado também pelos arabes. Na- cumentos. Scheler opina pela
carado, etc. Naplita—ãa chal- origem romanica de tap, táb,
daico nepltet, betume. JVapkta- bater, ferir. • Sandalo—do sans-
lina. iVarí/Me—persa, cachimbo krito tchandana, arvore. GJiá—
turco. Orang-utang—termo ma- do chinez tehã. O nomeromanico
laio. Orang-utan, homem do thé provém da prov. Te, emporio
matto. Horda—do mongol ordu, da exportação d'esse producto.
tribu errante. Paraíso—do zend Derivado: chaleira. Veda—t. sans-
pairi, ao redor, daeza, baluarte, krito : sciencia. Vedas, livros
cerca. Introduzido por Xeno- sagrados da líidia. Ha muitos
phonte no grego sob a forma Pa- outros nomes locaes da Asia que
radeisos e utilizado pelos tradu- entraram no portuguez desi-
ctores da biblia para designar o gnando vários produotos da in-
Eden dos hebreus. Palanque— dustria : madapolão, madrasto, ca-
do pâli, e sanslvrito paryanka, chemira, nankin, etc., nomes de
leiteira. Paria—Ao tamul pare- cidades e logares. Da linguacon-
yers. Mesm."j/sansk. íjara, grego cani, os portuguezes tomaram o
para, per : exclusão, trans- termo eorj, numerai que signi-
gressão. Classe proscripta de fica vinte, e ainda foi usado com
homens. Percalina — do persa tal sentido pelos primeiros es-
parkala, tecido fino. Patehuli — criptores : uma corja de seda (20
do hindustani elley, follia peças..,), üorja, hoje tomou a
úp. patchey, planta odorifera. Pha- accepção pejorativae designa nu-
riseu—do syriaco pliariseJi, dis- mero indefinido.
ASPIRAÇÃO ATÉ
Aspiração.—Xil lingua por- que terminam em consoante
tiigueza não lia propriamente an- soifrem a assimilação: Ai) — ae,
piraçMo ou letra aspirada. Com- af, al, at — accu.sar, alfadigar,
tudo, como as vogaes iniciaes não allegar, attender. Ob—oc, af, om
podem ser pronunciadas sem — occidente, offerecer, etc. Pjjm
uma ligeira aspiração do ar; as- -■pel—pellucido. In—il, im—iXle-
tro, arjua, talvez por essa razão (jal, immerecido, etc. Além dos
se explique a abundancia e vocábulos compostos, nota-se a
abuso do !t inicial na lingua an- assimilação entre consoantes de
tiga {ho, ha, lie, liu, huni) banido syllabas próximas: chócho, por
na orthographia de hoje. socho. de suctus; o plebeismo
cachacJia, por cachaça, etc. A pro-
Assimilação. — É o pheno- l>osito de cada prefixo, damos
meno ciuacterizado pela trans- neste livro as assimilações re-
formação de sons por atlracção spectivas.
ou synipathia de outros, no
mesmo vocábulo. Assim, o rf de Astcrisco. — Pequeno si-
ad transformou-se em t, na pa- gnal orl hograpliico, a imagem de
lavra attender (ad-tendcre, atten- estrelli), usado na iinprensa para
dere), em s, na palavra (ad chamar a uma annolação ou in-
satis, as-satis), etc. X assimilação dicar lacuna no texto óieste caso
tem diversos gráos de intensi- em|)regam-se vários asteriscos
dade. 1? Accommodação. —Ape- seguidamente). Nos livros de
nas os sons se modificam para philologia romanica, com o aste-
facilitar a pronuncia: no latim risco indica-se o vocábulo hypo-
bis, -pardeis; bellum, \wt:dcellum; tlietico, a forma intermediária
em portuguez, Jbroreymo. por Ilie- latina cuja existencia necessaria
runymo, etc. 2? Attracção. — Xo- não está documentada.
ta-se em varias palavras a ten- Asyiideticas.—Proposições
dencia para uniformar as vogaes: coordenadas
e-nt-e-ado, por anteado (antena- simplesmente, por juxtaposiçSo
isto c, não liga-
tus), m-e-r-e-neorio por melancó- das por conjunccões connectivas.
lico; o iilebeismo salvayem, por (P. J.)
selvagem, etc. O plienomeno con-
trario, a repulsão, que consiste Até. — Preposição. Póde-se
na adopção de vogaes disseme- empregar unida á lireposição a
Ihantes, é igualmente^muito ob- ou isolada: Ate' ao meio dia; até
servado : hoveda, por bovada (abo- meio caminho. Até noite ; até ã
bada); Jilagrana, por filigrana; noite. Quando ha determinação
bêbado, xw bebedo, etc. Assijni- do limite, supprime-se a prepo-
lação propriamente dita. Pode sição (i,e c o que se vê dos exem-
ser de duas especies. Progressiva, plos : até cem homens ; até vinte
quando se ojiéra de detraz para mil réis ; rtííí Lisboa. Sem deter-
diante; regressiva, no caso con- minação: até ao céo, até á flo-
trario. Quasi todos os prefixos resta. Moraes queria que no uso

(
:!8
ATÉ AU, AO
das duas preposições houvesse re- Aos elementos modificadores
dundância. !t Arcli : atá, alua, chamam os grammaticos adjim-
atem. !| A cerca do uso synta- ctos attrihutixos (Vide Adjunctos).
cticü de ate, escreve-me o illus- (P. J.)
trado pliilologo Firmino Costa: Attrilmto. — E a parte do
«Os clássicos antigos cpiasi luiuca predicado separada' do \erbo,
usavam da preposição a depois (juando este é o verbo ser: Pedro
da preposição até. Moraes, em c preguiçoso. Kelativamente ao
seu «Kpitome daCíramm. Porl.» attributo, o facto mais uotaveJéo
publicado com o Diccionario (4? da attracção que existe entre
edição, pag. XIX), considera elle e o verbo, de modo que, con-
erro juntar a a, até. Entretanto é tra as regras da lógica, o verbo
lioje muito arbitrario em alguns deixa de concordar com o su-
escriptorcs o >iso da iireposição a jeito para accommodar-se ás va-
depois da preposição até, como riações do attributo : t^Vio cinco
se vô em Latino Coelho (Vasco horas (por, é cinco horas); tudo
da Gama, l? P'') : até ã viagem são flores (por, tudo é flores). Esse
portentosa do immortal Vasco facto prova (jue o attributo o
da Gama (63): até o (iolfo Ará- inseparavel do verbo, é parte
bico (Oii); até o Cabo Verde ou integrante d'elle, e ambos con-
no Cabo das Palmas (112); até os stituem o predicado ; ama ; ama
extremos confins da Europaocci- =é amante. || A concordância do
dental (133) ; até ao grande reino attributo é matéria de muita
de Melli (110).>. consideração, e parec(í que ella
Atona (syllaba). —É a em sempre se fez com a palavra que
que não recae o accento tonico. está posposta ao verbo. Confron-
Na formação do portuguez tem-se os exemplos : Mil cruza-
deu-se no vocabulario a queda dos^» minlui renda. A minha
da vogai atona latina, que já não xmúa. são mil cruzados. Tudo são
soava na linguagem popular de flores. í^lôres é tudo (e não—são
Roma. tudo). Apezar d'isto a concor-
dância não se faz nos exemplos
Atraz. — Preposição. Pócle em que a singularidade do su-
estar posposta: diasaíraz, annos jeito é a idéa principal : "Elle,
atraz, dei.xar atraz (ultrapassar). por si só era mil soldados» ( e
Acompanha-se de de: atra/, da não—eram). Exemplo idêntico
porta. Xa lórma traz emprega-se se encontra no Kscoliaste: «Na
sem outra preposição. conversação não era (o P«. Vi-
eira) um homem, era muitos ho-
Attracção. — Vide Assimi- mens .»
lação.
Ali, Ao.—Diphthongo latino
Attrilmtiva (relação).— E a e portuguez. O latino de ordiná-
que e.\iste entre o nome e o ad- rio persiste : claustro, claustrum.
jectivo ou um seu equivalente. No emtanto, nos exemplos do
39
AU, AO — BALLÔ
maior aiitiguidade nota-se a per- a differença no emprego entre
mula au—ou, e mesmo ha fun- ser e estar (posto ás vezes seja
dada conjectura de que era esta elle indiíferente), a variação de
a pronuncia latina approxima- sentido do verbo ser, conlorme a
damentp. Mouro, mauriini ; i)ou- preposição que rege o comple-
sar, pausare. A lorma oi confun- mento <)ueo modifica, as varias
de-se francamente com nu : significações do verbo estar, ha-
oiro, ouro, aurmii; thesoiro, tlie- ver, etc., e bem assim o emprego
souro. thesaurum. O diptithongo sjMitactico deoutros verbos, como
portuguez ati iiode provir da caber, sair, começar, dar, crer,
queda da consoante média: mão, etc.» (P. J.)
malum; vão, taduni, etc. O grupo
no emtanto pode ficar desfeito B
em hiato pela accentuação :
saiide, salutem. A graphia ao
nunca é permittida no principio, lí.—Sôa sempre b. Confunde-
nem no meio dos vocábulos. Es- se com V em algumas palavras :
crevem-se oi e ou, mas em Por- vodas, bodas; covarde, cobarde ; al-
tugal a prosodia oi é muito mais boroço, alvoroço ; hadameco, vada-
commum que no Brasil. meco; escarabelho, escaravelho;
bespa, vespa. || Xa ortliographia
Ausineiitativos. — Vide só se dobra em muito |ioucas
Oráo. Alguns poucos augmen- palavras : abbade, abbadia, abbá,
tativos só existem como taes e sabbado; e não succedea n, mas
não têm positivo : chorão, co- a Jíí .• ambiguo, lamber. || Deriva
milão (-ona), estirão. do latim b : bobo, balbum; taboa,
tabulam; cebo ou sebo, cibum.
Autos (si mesmo). — Ele- Pôde, por abrandamento, resul-
mento de composição grega. tar de p : caput, cabo ; capere,
Autographo, escripta do proprio. caber. Acaso resulta de f pela
Autonomia, lei, governo de si analogia/—i!=íi; ábrego,a//*io««.
mesmo. Automato, o que se move
por si. Autópsia, acto do vêr por líaiiio (andar). — Elemento
si mesmo, verificação. grego de composição. Fôrmas
usuaes hata, betes. Exemplos:
Au.xiliares.—«Assim se cha- diabetes, que corre atravez, ex-
mam os verbos formadores dos creção ; moléstia ; acrobata. (]ue
tempos compostos, da voz pas- anda sobre as extremidades
siva, dos verbos frequentativos e (akron); hyperbaton, que vae para
periphrasticos. São verbos rela- cima, inversão.
cionaes. Podemosdividil-os, con-
forme .se combinam com parti- liallõ (lançar, pôr).— Ele-
cipios, infinitos ou com infinito mento grego de composição. Pa-
e participio. Os auxiliares repre- rabola{para, ao lado, balló, eu lan-
sentam notável amostra do pro- ço), comparação. Problema (pro,
cesso analytico. Cumpre estudar para diante, balló, hinço ou po-
40
BALI.Ô BARBARISMO
nho), coiisa que se propõe, pro- baro que no portuguez mais
posição. Symbolo. Hyperhole. Em- predomina, pelo abuso dos jor-
blema. Balista, etc. Palavra (de luilistas o dosmáos escriptores, é
paraholam). indubitavelmente o Irancez. O
elemento francez nos primeiros
líarbarisiiio.— Cliamiim-se tempos, antes da disciplina clas-
barbarismos os vicios.de coii- sica, Ibi de influxo bastante pro-
strucção e os vocábulos inuieis, fundo e extenso em lodo o léxico
tirados de lingiia estrangeira, portuguez. Como pondera Diez,
em geral tudo quanto pckie em- a comitiva do conde de Borgo-
paiiar a pureza da linguagem. nha e a aristocracia franceza que
Propriamente, a intluencia das o acompanhou deu talvez o im-
linguas e.xiranhas é normal ; e pulso original d'aquelle inüuxo,
só o abuso ou capricho dos es- como sempre succede normal-
criptores pode , occasionar bar- mente, pois a linguagem da corte
harismos. Taes são, por exemplo, é sempre imitada no resto do
os france/.isnu)s, como : enor- paiz. liasta o exame superficial
guellir-se, eclosão, fazer (jior e.\- dos cancioneiros, para notar-se
clamar), etc., que têm sido de desde logo como o léxico de em-
uso de alguns escriptores impu- préstimo francez era abundante.
ros. Os barbarismos são di; duas Eis alguns especimens de galli-
ordens: léxicos e syntarMcos. Os cismos no século XIII, colhidos
léxicos referem-se ao uso dos vo- no Cane. da Vaticana : cliançon,
cábulos; os si/ntacticos, -iio uso canção ; diapel, elmo ; fontana,
das phra.ses. E maior crime o fonte; jograron; meison, casa ;
barbarismoquo o solecismo,itotquc mençonha. mentira : mesnada,
este é vicio de construcção, erro hoste {menée) ; ranciiras, aggra-
de ignorancia, negligencia ou vos ; rango, classe ; sojornar^,
descuido; mas aquelle é quasi ficar. E muitíssimos outros. É
sempre propositalmente com- obvio, no emtaTito, que muitos
mettido, e ás vezes sob a côr de d'esses gallicismos possam ser
excellencia ou garridice de es- explicados por etymologias por-
tylo. !No latim, barharismo era a tuguezas ; outros ha, porém,
expressão consagrada aos termos como chançon. (jue não encon-
que provinliam dos barbaros, tram outra naturalidade senão
raças e iiovos subjugados pelos na língua franceza. As duas
romanos; taes eram os termos phases mais notáveis de latinismo
gurdus, battualia, camisia, cere- foram a dò século XV e XVI, e
visia, etc. Direito de cidade, as do século XVIII-XIX. A pri-
entre os romanos, tinham,porém, meira confunde-sé com a época
os hellenismos, productos de ci- do grande movimento clássico,
vilisação adiantada, «eram larga- com o jicriodo áureo da litera-
mente usados no latim clássico, tura portugueza; foi indubita-
pelos melhores escriiJtores, ma- velmente a mais fecunda, por
xime na poesia. |1 O factor bar- isso que renovou, disciplinou e
41
BARIiARISMO
fixou ii língua. A segunda, iiiau- Entra todos com o dedo era.9 notado
guradii pela Escola ArcatUca luis Lindos nio(;os de Arzilla eni galhar-
fins Uo século passado, pouco dia.
produziu relativamente, e o ef- R o de Heniardes :
feito dos latinismos da Arcadia
l)ouco mais do que na lingua- Seitas tlespedeni ; Aovhão voltando
gem poética se fizeram sentir. llapiilas cáeni (jne as recebe em
Odorico Mendes, espirito de sangue...
arcade, ainda que do tempo do
romantismo, nas suas Iraducções No periodo da 1'henix renas-
de Homero e de V^irgilio, usou cida são frequenlissimas as lo-
de latinismos que nunca se popu- cuções congêneres, e os proprios
larizaram. K.xemplos tirados do arcades que restauraram a pu-
canto I, da Eneida: egresso, reza classica não desprezaram de
exul, sevo, hellipiijante, luxar, im- todo esses vicios de conslrucçâo.
mano, prono, grandevo, os Knne- Jluitos lalinismos foram intro-
das, cancello, nutriz, otuisto, diro, duzidos por escriptores de pe-
genito (subst.), alifugo, excluso, quena auctoridade, e por isso
tnrrigera, lueo, hellipoteiite, nado dei.xaram de licar inteiramente
(filho), ostro, fluctiroso, sopito, consagrados : acume, engenho ;
■tlíurificar, porta-juhilo, crinito, confecto, íicabado ; dealbado, bran-
excidico, seteno. Muitas d'essas queado; derelicto, desamparado ;
formas são rejuvenescidas do extar, por subsistir; exterrecer,
uso arcadico,e outras de creação causar terror; fedo, por torpe:
do poeta. As traducções de Ho- incapillato, calvo: iiiiipta, soltei-
mero estão eivadas de latinis- ra: invitar, convidar; inusitado,
mos e liellenismos ; a força syn- desusado (Camões, Lus. íl, 107);
tlietica das linguas classicas não lactar, dar leite ; limacro, banho;
poderia tolerar, de outra ma- ludo, brinco (Gaspar de Bar-
neira, a trailucção homeome- reiros. Odor. Mendes); poto, be-
trica. Os latinismos syntacticos bida; temulento, ebrio; tepor,
foram assas freqüentes, por mornidão ; tribulo, abrolhos ;
Abuso de invenções, no [leriodo vencrabundo, venerando (P. Fer.
clássico; contra o e.xcesso de tal Alma matr.) E ainda muitíssi-
innovação clamava .Toão de Bar- mos outros que vêm catalogados
res na sua Orammatica, porém nas Iteflex. de Cândido Lust. I,
a,o que parece inutilmente ou 58. Do (lue se refere especial-
com pouco proveito. No periodo mente aos modernos gallicismos
do gongorismo, os liyperbatwns ou locuções e vocábulos de ori-
tornaram-se liabituaes, ma.\ime gem fraticeza, trataremos no lo-
na poesia, não raras vez.es illegi- gar competente. As outras lín-
vel, d'aquella época. E conhe- guas pouco iniluiram, e em geral
cido e citado <'m todas as gram- não podem ser taxados de vicios
maticas o trecho de uma oitava e.sses empréstimos naturaes que
de Mousinlio de Quevedo : significam, mais ou menos, o

C
42
BARBARISMO HIB^ORMES
gráo das relações internacionaes liata.—Vide Baino.
de caracter literário, político ou
commercial. Comtudo, só escri- líete.s. — ( el. grego ). Vide
ptores de pulso e de grande Baino.
tento, podem com alguma au-
ctoridiule naturalizar vocábulos liiblíoii (livro).— Elemento
peregrinos quando convenham grego de composição. Ern hihlio-
ou pareçam necessários. (iraphia, descri[)ção de livros ;
hihliotheca, estante de livros. Bi-
Iíai*<»s (peso, gravidade).— blia, o livro por excellencia.
Klemento grego de composição.
líarometro, medida de peso ou Iíir<>riiies.— São assim cha-
densidade. Haryton», tom grave. mados os adjectivos (lue t,6m
duas terminações, usadas con-
líarytoiio. — Denominação forme o genero do substantivo a
dada aos vocábulos não o.\yto- que se referem. Ex. : bom, fem.
nos, isto é, ,aos graves (paroxyto- boa; íormoHO, for moxa ; meu, mi-
tios) e aos esdruxulos {i)roparú- nlia ; nenhum, nenhuma. Os ad-
xi/toiiüs). Todas as palavras, pois, jectivos que só possuem uma
que não têm o accento na ulti- terminação para ambos os gene-
ma syllaba são harutonas, v. gr.: ros, são ditos uniformes, v. gr.:
fp,lülo, peito, cidade, herético, etc. fatal, cruel, etc. Antigamente os
E expressão grega, formada de nomes em ez eram uniformes.
hanm, grave, e tonos, tom. Dizia-se a terra portugaez, uma
mulherfrancei, etc. Facto que se
líasco. —liiscainlio,vasco, tuh- verifica ainda hoje nas forma-
conço; denominação dada aos ções adverbiaes : portuguezmente
povos do norte da Hespanha e e não portufjuezamente. Esse facto
sul da França, pelo littoral e re- era o resultado da acção <lo la-
gião i)yrenaica, os quaes falam a tim, em que as formas em ensis
lingua euskara ou o basco. A in- (portucalensis) também eram uni-
fluencia do euskara na lingua formes. Vice-xersa, adjectivos
hespanhola é muito limitada, ao raros que foram biformes torna-
que parece; mas a lingua ainda ram-se uniformes actualmenie ;
não estií bastante estudada para commum, commua, 6 hoje de uma
que haja verdade absoluta em única terminação (commum) i)ara
tal affirmação. Quando tratar- os dons generos. A razão está na
mos dos putroiiymicos, falaremos idéa pejorativa ou diversa que
da liypothese de Larramendt adquiriu o feminino. O mesmo
sobre a origem basouense d'a- succede.a coalhada, etc.
quellas formações. Em Hespa- No latim, como havia tres gene-
nlia, ondü. as criadas de servir ros. era possível o adjectivo tri-
são bascas em maioria, corre o forme. No portuguez ha vestígios
vocábulo euskara cemata (ama) de triformes nos determinativos.
conhecido de todas as crianças. São triformes alguns nomes de
43.
UIFORMES - - BR.
natureza biforme : motor, moto- duas conchas ; hUjorna, de hicornu,
ra, que ainda tem a forma mo- duas pontas ; viez, hifax, duas
triz. Enredaífor, ôra, eira, etc. faces, por meio do fr. hiais ; hi-
(masc.) ífem.) (neutro) lião ou bilhão, em logar de bimi-
este esta isto Ihão; cexgo, de büoculus, vesojo,
iste ista istiíd cast. A forma latina bix, que vem
elle ella ello (arch.) de ãvis com a forma ui, abran-
itlc illa illií.d dada de ií,^ acha-se em Ki-fieiiti
aquelle aquella aquillo (2 X 10).—pj de notar-se nas lín-
hoc-ille hoc-Ula hoc-illud guas romanas a existencia de
todo toda tudo um prefixo pejoratico, he, bü, be
totam (accus.) toiain totuvi.
ou outra f(')rma similar. Sua ety-
As formas neutras esso, enta, mologia não está averiguada,
aquesto, aquisto, etc. desappare- mas é evidente, sobretudo no
ceram. Outro facto que dá ao francez, o grande numero de ter-
portuguez uma fôrma llexiona- mos pejorativos que começam
vel a mais, é a desinencia «« de por a(iuella syllaba, como pon-
alfruns adjectivos, que só se ap- dera DarmstaHter. (1)
plicam ao ser personalizado ;
outrem otitro outra lí.j.—Es te grupo consonantal,
alguém ahjitm (dyuvuf, algo em geral, persiste sem assimila-
quem qu e ção, ao contrario do italiano fog-
ninguevi '}ienhuni nenhuma. ye.lto): objecção, de nbjectionem;
Quem refere-se também a cou- abjurar, d&ahjurare. No emtanto,
sas. nota-se a perda da primeira con-
soante ou assimilação nos vocá-
liis.—Elemento de , prefixa- bulos já assim vincííjs do latim
ção que significa duas vezes: puro—sugqerir, Hvgyestrio, ou nos
hüemanal, duas vezes por sema- populares: sujeito, por subjeito.
na. O uso não está fixo, porquanto A forma archaica sojnrno, de go-
bisannual, bimensal (também hi- jornar, é devida ao francez, senão
mestral) devendo significar duas ao italiano.
vezes por anno e por mez, ex-
primem no emtanto os i)eriodos Bola, bole (elemento grego).
de dousannos, dousmeze.»;. Essa Vide Bailo.
contradic^ão não c geral. Com- líoilH (boi). — Elemento grego
põe-se com elementos latinos e de composição. Bucólica, pas-
gregos. Exemi)los gregos b£- toral. Hecatombe, cem bois (sa-
ganio, que se casou duas vezes : crifício).
hi-nxydo, hinomio. Exemplos lati-
nos; biennio (áe annus), biceps líi*. — Este grupo, em geral,
(de capvt, cabeça), bipede. bi- conserva-se intacto : libra, de li-
sexto, bimano. Ila algumas for- bram ; cobra, de colubrami. A per-
mas que üffereccm interesse inuta b=v occasiona o gruim vr,
pelo estado de deformação em
que se -Ach-íim: balança, de Inlanx, (J) Les muts nouveati-v.
44
BR. — BRASILEIRISMOS
ai.enas observado lui coiitracção de degenerações ou differen-
Oos valores aloiios; livrar, tle U- ciações paroiaes e geographicas
Vrare; lavrar, de laVrare. O da língua. Que esse dialecto,
Srupo portngiiez br origina-se porém, tenha foros de lingua )
de br latino, como foi vislo literaria eculta é o quedetodose
acima, oiule pr: obrar, ile op'ta- tornainadmissivel, poisqueadia- i
re ; cabra, áeeapram ; cobrir, de lectação brasileira não é suHicien- l
copWire. Rara vez br estando por temente caracterizada e intensa. J
vr, Qv represeiila/Ialino : abrego, Em toda a i)arte, as províncias e
de afric.us. Pôde lambem origi- os domínios de qualquer lingua
nar-se da contracção beri, como caracterizam-se por modos espe-
em brilhar, b'riUare, ãe beryllare. ciaes divergentes que não de-
stroém a unidade da lingua fun-
lírasileiri.sinos. —É a ex- damental. Quando o dialecto se
pressão que damos a toda a casta desvia consideravelmente da lín-
de divergências notadas entre a gua mãe, pode tornar-se literá-
linguagem portugueza vernacula rio e culto. Foi o que succedeu
e a falada geralmente no Brasil. ao gallego, ao catalão moder-
Não se encobre porém aqui o namente, (^ na idade média á
intuito de exculi)ar com a ex- todas as lingiias romanas que se
\n(ifiíião brasileiri/tmo a viciosa in- emanciparam do latim barbaro. \
ferioridade dos (jue escrevem A emancipação do dialecto bra- /
mal ou pregam muito de indus- sileíro, se não é de todo inexeíjuí- r
tria as excellencias d'esse lin- vel (em remoto futuro) é segu- V
guajar fora de todas as normas rdmente, pelo menos, prematura.-/
grammaticaes (1). Divergências A lingua, classica não constitue
lia, e ninguém põe duvida, entre óbice d(í especie alguma para os
os modos de expressão porlu- brasileiros — a não ser a exi-
guezese brasileiros. Ila quem d6 gencia, que se dfl em todas as
ao conjuncto d'essas divergen- línguas literarias, de estudo e do
ciaso valor dedialecto.Oconceilo bom gosto (1). No decurso das
de dialecto não tem, c verdade, linhas seguintes não se tratará
limites bem assignalados e, como especialmente da influencia do,
diz Witney, ha dialectos em tupi, abaneêm, guarani, nem do-
todas as classes sociaes e no
seio da própria família. A no- (IJ A de dialecto brasi-
ção de dialecto, pois, poderia, leiro teve varias i>hases de erítica
sem grande inconveniente, ser (lisdissão e |)(ileinica, com Alencar,
applicada a qualquer systema Castiliio (.losé), lí. Caetano, S.
Paraniuis. C. de Laet, Ararii)eJu- v
níor, Teixeira de Mello, Barreiros, ;
(l)]í taiiil)eni essa a u|iiniüo ilo etc. Até hoje, tem semjire preJonii-
grande veriiaculista e eserii)tor Ruy nado o elemento clássico, com as
liarbo.sa na sua recente Replica ás deviilas concessões aíis (pie tudo i
defezns da redacção dn (J. civil querem, e desejam a licença de j
(tòaí). falar e escrever aseutalaute. '
45
KRASILEIKISMOS
africano, ou du outros quaesqucr mo, italianizado, germanizado,
influxos produzidos na linfrua, e ainda não está definido. Dei-
que serão estudados nos lofrares xando de parte a apreciação
indicados (ntígrtt, Uipi, ciyano, geral, no que respeita á língua,
etc.). Apenas faremos a analyso a dialectação do creolo, sob mo-
da linguagem que foi creação e dificações secundarias, maniem-
producto do mestiçamento civi- se boje em dia, por todo o paiz,
lizado das raças e povos funda- eni estado de quasi equilíbrio.
mentaes. A possibilidade e fata- Os caracteres plionologícos são
lidade da dialectação creola ou os que na maioria distinguem a
mestiça resultou da vida nova linguagem popular da erudita ou
dos europeus coloniaes, ou dos escripta. A divergencia maior é
que adoptaram a vida e os usos a da prosodia; sons breves quasi
dos europeus. Diversos factores os não po.ssuimos; conservamos
collaboraram para isso : o clima, a accentuação da lingua portu-
a presença de tres raças (a port. gueza. mas generalizando-aquasi
e a africana) e a outra ini- para todas as syllabas iniciaes
miga (a tupi), os ciganos, os das palavras. As próprias iiarti-
hespanhóes, o typo mestiço ou culas encliticas [me, te, se, o, a,
creolo resultante do caldea- etc.), soam como se fossem ac-
mento, as novas necessidades, centuadas ; e esse defeito pro-
novas perspectivas, novas cousas sodico é o que nos inhabilita a
e novas industrias. Datam os regular, por euphonia, a collo-
primeiros estabelecimentos de cação dos pronomes e ainda de
ensino dos meiados do século outras partes do discurso. Na
XVI. D'abi em diante a coloni- direcçãn do Norte xtara o fSul, cres-
sação e o fundo crescente da cem em intensidade os sons inarti-
immigração portugueza adianta- culados ou Doyaes, emquanto decres-
ram o mestiçamento da raça, cem em ríbrações os sons articula-
quando desde cedo as nece.ssida- dos ou consoantes. Mas esta
des industriaes impozeram o observação não é regra, e apenas
trafico de africanos. No século parece confirmada na y)rosodia
actual a crise do proletariado sertaneja e não do littoral do
europeu, occasionando diversas sul. Em verdade, no 'norte do
correntes de despovoamento e l)aiz, os sons vogaes são surdos :
emigração do .solo, procurando diz-se—eãsa,tumar, hutar, canúa,
por acclimação mais fácil, a zona (jui, pésar, o a intensidade
sub-tropical e temperada, tende maxima torna-se etVectiva no Sul
a produzir no Brasil dois typos (S. Paulo), dizendo-se : cãsa,
ethnicos differentes; o nortista, hótar, quê, pésar, etc. De outra
fiel ás tradições, mais liomo- parte, algumas consoantes, como
geneo e mais proximo do brasi- o 6 e o r, são fortíssimas, carrega-
leiro do typo colonial; o sulütn, das, nas regiões septentrionaes do
perdendo o caracter nacional lírasil. Esta lei pôde reduzir-se
na incohesão do cosmopolitis- ao'principio mais geral de que o
40
BRASILEIRISMOS
Korte, menos impulsionado por mais notáveis : maleitas trans-
elementos estninhos, conserva formou-se em malditas, sezões, fe-
mais (ielmente a phonologia rei- bres (Cearií), se bem que etymo-
nicola. ao menos no que respeita loglcamente se reporte a mala-
lis vo^aes ; mas nem Isso c regra ptus, malato. Xo terreno proprio
de valor. A demora e o esfor(;o da morphologia, a colheita é
com que os nortistas muito igualmente instructiva e abun-
mesclados com Índios pronun- dante. A flexão nominal soffreu
ciam o r. rr, derivam talvez das algumas dífferenciações bem no-
difíiculdades que o indigena teve tadas no S()lo americano. Em
a superar naturalmente, por relação ao yenero: fardamento
isso que o tupi só possue o r tomou a terminação feminina
forle analogo ao r portuguez fardamenta; o inverso deu-se em
entre vogaes. Phenomeno idên- (jatimonho (Pernambuco), por ga-
tico e de igual explicação é a timanha (2). E, entre o povo,
permuta do Ih em l, onde se en- são tidos e usados como mas-
trev6 a influencia indigena: aleio, culinos os termos: trama, tapa,
niuUr. .. em vez de alheio^ mu- etc. Quando a palavra é susce-
lher, eXK.\ os indígenas não conhe- ptível de duas flexões generlcas,
ciam o som l. Ajnntemos ainda como lenho e lenha, a fôrma femi-
o abrandamento do ã em e, como nina, por mais vulgar, é a prefe-
em Portugal nos preteritos dos rida, em regra geral, na dia-
verbos da primeira forma: jante- lectaçfio brasileira: lenha, lenho;
mos, almocemos. . . por jantámos, madeira, madeiro : horta, horto;
almoçámos, etc. Convém não es- ceva, cevo : saia, saio; gorra,
quecer que muitas das Tórmas, gorro : boda, bodo ; fructa, fru-
\ V. gr., rejume, faiar (fadar), são cto. Os masculinos são quasí
V quinlientistas, vernaculas, e da- desconhecidos do povo. Al-
í tam da colonisação primitiva. gumas vezes o fi>minino é
'■ Os phenomenos de svibtracção, creado conforme o typo mas-
sobretudo de syucope, têm culino, como carneira (ovelha),
exemplos numerosos: maginar, de carneiro. Semelhante in-
(clássico); lazão ; baião (dança), versão ojierou-se na America
bahiano, etc.; sami.xuga, birro, hespanhola, entre os Colombia-
(asslmil. de hilro). São vicios nos, que formaram ovejo de
todos de origem popular, que oveja e potranco (i?) de potranca.
não jioderiam passar ií língua
llteraria. A essas mutilações
phonicas organicas juntam-se as (1) «Vae-te para as oonfiindas...»
modificações produzidas pela (profuiiilas). Sylvio Homero—Con-
analogia de formas idênticas. tos Populares.
Tal é o haréra, por analogia com (2) Sylvio Homero — Contos.
haver, e as confunãas (\), por se- Leiani-!ie os vocabulários de 15.
melhança de profundas. A ana- iloliau e de Macedo Soares.
logia morphlca tem exemplos (3) Ciiervo.—Apuiit. 187.
47
BRASILEIRISMOS
Os chilenos e os peruanos modi- cem-passos.ii Significa roça. Pen-
ficaram o genevo d(> muitíssimas daoosta — üahia e Sergipe;
palavras (1). A llcxão numé- panno da Costa, chalé grosseiro
rica, cm geral, é conservada in- usado pelas mulheres africanas.
tacta. Apenas os pluraes de sut- Vira-virando—expressão de em-
fixo ão, procuram a tendencia jihase indicada pelo gerundio.
sympatliica do plural em Corre correndo, etc. (São Paulo—
cuja classe entra o maior nu- Júlio R.). Guadimá — Norte ;
mero de palavras da mesma or- touro bravio. Etymologia in-
dem ; o mesmo ha em Portuííal, certa (1). Sirrir (verbo)—exem-
mas em relaçãoaopluralãfs. Para plo curioso da aggluti nação de
a ílexão ãos, õts, ães, S(5 existindo pronome e verbo (se-)-rir); de
regras etymologicas, eruditas e modo que conjugam analogica-
sem alcance para o instincto po- mente: eu sirro, tu serres, elle
pular, as mesmas confusões de- serre, eu serrí, não sirra, não sir-
vem apparecer onde quer que ram, etc, (Norte.) Cafuz—mes-
se fale o jiortuguez. Não ob- tiço de Índio e africano ; no Pará
stante, nas mesmas palavras tem a forma mais laia : Carafuso.
pluralizadas do estylo clássico, Marruií, marniaz — Norte ; hoi
o singular é mais constante: ce-
roula. cócega. etc., e quasi todas marruá ; em algumas bandas en-
as outras d'essa natureza. A contra-se a forma monrvy (apud
S. Roméro, Contos). Cangapc —
morphologia ganhou na sua formado de Camba-pé; portu-
acclimação americana; além dos guuz ; popularissimo. CalabcScjue
sufflxos uêra e rama, de origem — formado de cala.bocca ; signi-
abaneÊm (Vide Elem. hipi),
conhecemos especimens de trans- fica ; cacête (casse-tête) ; cf. cala-
formação ou de creação empha- brote. Os phenomenos de jux-
tica; sirva de exemplo o au- ta-pói3Íção léxica entre elementos
gmentativo/«ínanaz (Cearíí), e a discordes de origem (hybridos),
queda ou contracção por apo- tornaram-se extensivos de ma-
cope: temero por temerário. A\- neira bastante sensivel, até nas
guns compostos do elemento tradições poéticas conservadas
mestiço offerecem interesse de pelo povo. O l)r. S}'lvio Roméro
analyse : Cabo-branco—mãos do colligiu uma especie de villan-
quadrúpede ; usado na expressão : cête (C.pop. 1,270) em que os ver-
Cavallo cnboK-branens. (K. G. S.). sos do portuguez creolo termi-
(Vide Coruja e B. Rohan. QlossJ. nam por estribilho africano:
Cem-passo—Ceaní.«Possuo dous

(1) Vide Aiuires líello, Gramm.; {])Ta\ve7. ga-dr-7>iallo, ou (jaão


Z. tloclriguez, Cliileiiímans. Juaii do multo. O povo distingue os ani-
de Arena, Peruduismns,ptc., pags. niaes l)ravi()9 e não (Uiniestieos eoin
iutrod. o ajiposto: do multo. Porco do
malto, (jato do maílo, etc.
48
BRASILEIRISMOS
Você gosta cie mim, vore para tirar o mel do cortiço
Eu g'oslo <le voc6, (Bahia); cigarrar, fumar (Mi-
Se papae C0nse)iti, nas); feitar (clássico ?) fazer (Ba-
Oli ! meu bem, hia) (1); arar, comer vorazmente,
Eu caso com você. adj. arado, esgurido; ciscar, ro-
Alê, Alê, calun(/a ! lar pelo chrio depois de um gol-
Mussunya, imusuncja é! pe; botar-se, sair ; espoletear,
ficar tonto (Júlio U.); entrozar,
A jvixta-posição também effe- gabar-se (Ceará); majjiar, falar
ctuou-se com o tupi-guaraiii (M. Grosso); secundar, respon-
(abaiieõm), sefrundo as quadras der (id.); cascar (um boi), esfolar
coibidas pelo I)r. Couto Maga- (Cearií); i)ipocar (tupi), rebentar;
lhães : campar (obsc.), ensopar-se, to-
Te mandei um passarinho mar intimidade ou liberdade
Patuã miré pupé com... (port.); pererecar, con-
Pintadinlio de amarello torcer-se, áajurereca. rã (Júlio
Iporanga ne iané. llib.); bangular (clássico), andar
errante: encaiporar, ficar infeliz;
Eloutras em que os versos im- cipóar, dar pancadas em geral
pares, semju'e octosjllabos, são com o cipó; desafogar, tirar o
em lingua tupi. Da mescla do mel de assucar do fogo; vaque-
tupi e do portuguez (como lima- jar, perseguir. E o que é de no-
rana, hv<u\c&rana), trataremos tar-se, é a formação reduplica-
no vocab. tupi. O systema pro- tiva por infixos : caracaçar, es-
nominal no Brasil foi alterado parapantar, ãispamparar (caçar,
de diversas fôrmas. O systema espantar, disparar), etc. E outros
verbal sotfreu modificações in- muitos, que de presente não nos
tensas. Algvimas fôrmas arcliai- occorrem. Como se vê, ha nel-
zaram-se. O condicional foi sub- les sempre uma sensação e im-
stituído integralmente pelo im- pressão dominativa, até nos que
perfeito. As formas mnára,fizé- podem empregar-se no sentido
ra, mentira, pozéra e os condicio- abstracto. || Passando ao es-
naes, transformaram-se em ama- tudo das invariaveis, faremos
va, fazia,mentia, punha. Na crea- summariamente algumas obser-
ção original dos verbos creolos, vações. O advérbio, como instru-
nota-se a preponderância atfe- mento da expressão moüal de
ctiva, o caracter .sensacional e acções e de cousas, dissolve-se
impressionável da raça; os seus facilmente em phrases ana-
productos léxicos representam líticas correspondentes. E lam-
cousas concretas, scintillantes e bem um habitualismo do povo
vivas. Examinem-se os verbos,
alguns d'elles bem portuguezes : (1)... Mendenges/fííaiZoò'
Crescer para, aggredir; azular, fu- 1'or mão de yáyá
gir; embeiçar (uma cerca, unil-a Canção colhida por \^. Cabral.
a outra); melar, derrubar uma ar- (Gazrt. JAU., vol.l.)
49
BRASILEIRISMOS
portuguezessatendencia. No ele- comprovação (1). Semelhante cri-
mento mestiço, o processo é na- tica, fundamentadanaignorancia
turalmente fundamental e orgâ- do caracter proprio das línguas
nico, e isso provém da impos- — a instabilidade do Iwmogeneo —
sibilidade de crear-se esponta- não p()de nem poderia produzir
neamente advérbios. Entre as lo- nem merecer etlicacia ou re-
cuções ou expressões adverbiaes speito. Eis algiins fjictos .synta-
analyticas, são dignas de nota: cticos: a preposição em é mais
Quantidade—havia um despotis- extensiva em nosso uso, e fre-
mo de gente ; uma data de somiio qüentes vezes empregamol-a em
(M. Grosso); flôres por cima do vez de a: andar no sol..., andar
tempo...-, quer laranjas? Dê-me ao sol: ficar no sereno..., ficar
umas par d'ellas; uns par d'elles ao sereno; chegar na janella,
(S. Paulo, Júlio R.); par é in- chegar á janella, etc., etc. Este
variável e advérbio. Tempo— uso tem talvez sua razão etymo-
Maria já estava lâ'õelha{\s\,o é, ha- logica. No latim a preposição in
via muito tempo) (1). Atóraestes indicava também o movimento,
especimens, encontram-se exem- e o mesmo se observa, em varias
plos de algumas modificações linguas romanas, sobretudo no
phonicas,brasileiras ou africanas. francez, (juando diz: je vais en
«Este caso é uma cousa de fronte Amerique, etc. (2). Em bom por-
(Matto Grosso) (2). D'onde, por tuguez também se exprime o mo-
onde. Nange,iirir não (nan-geu). vimento com aquelIa preposição:
Segundo afíirma o Sr. Taunay, Deu em ebrio; veio em .soccorro;
existe em Matto Grosso o ad- caiu em graça ou em desgraça;
vérbio afTlrmalivo: Acui, mi! lançou-se em aventuras: res-
(sim). !| As divergências syn- valou em perversidade, etc. «Eu
tactlcas entre o portuguez da que cair não pude neste en-
metropole e o creolo são univer- gano», disse-o Camões. A expres-
salmente reconhecidas. O phra- são do duas acções simultaneas
spar lusitano tem em geral qua- faz-se no portuguez europeu com
lidades mais .syntheticas que o o infinifivo representando a
nosso. A indócil mií vontade acção secundaria, que entre os
com que os portuguezes acoi-
mam de barbaras e viciosas as (1) Ainda (jue tenliam a razão,
producções artísticas da litera- os critieos |)ortHguezes exaggerain
tura americana, bastaria para tal as censuras, e ])or vezes são injus-
tos. Não nos referimos, ja se vê,
aos que nos avaliara sine ira.
(2) O caso de uma preposição ad-
(1) S. líoniero—Coutos populares, quirir o valor e a funeção de outra
I vol. Rio, Alves & C. não é raro nem excepcional. Toda-
via, a reserva é na affirmação ne-
(2)Taunny — Innocencia. S. Ho- cessária. Na i)hra3e wm <pie pése»-
mero, Contos populares, Rio, Al- etc., oemé o aiit. en, endc., e corre-
ves & O. sponde ao actual indmta (tinda(mdc)
DICC. GRAMM. 4
50
BRASILEIRISMOS
brasileiros 6 figurada com o ge- além da referencia j;í citada dos
rundio : Portugal—Saiu a cor- verbos. Algumas vezes per-
rer ; esteve a chorar; veio a rir. sistem palavras vivas no Brasil
—Brasil : Saiu correndo ; es- que já são archaicas no dominio
teve chorando; veio rindo. Os popular, taes são: morganho
portuguezes preferem dizer es- (Pará), idas e venidas (Oeará), re-
tando a dormir, andando a estudar, vellir, visagens, banzeiro, caroavel,
e é mais elegante. No ]$rasil, obrigação (1), cabeção (de camisa)
porém, é mais commum o dizer- e outros que datam dos tempos
se estando dormindo..., o. que coloniaes. O vMhorevellir usa-se
aliás não é erro grammalicál, na forma contracta revir, dizen-
tratando-se ahi do verbo auxi- do-se : Este vaso não réve pelos
liar. A nossa predilecçSo jielos poros. . ., isto é, não transpira o
gerundios é manifesta (acabou liquido conteúdo. Nota-se, em
dizendo...—acabou por dizer). geral, na acclimação de certos
No sul, no interior, usa-se do vocábulos, a ditrerenciação do
verbo emprestar, com a prepo- significado. Faceira—em Por-
siçilo de, no sentido de tÒ7nar tugal é substantivo e indica os
emprestado, correspondente ao musculos da cabeça da rez. No
francez emprunter e ao inglez to Brasil é adjectivo e significa gen-
borrow. Eis o que a esse respeito til, eleijante, etc. Fumo—em Por-
diz o Sr. Taunay: «•—Empres- tugal quer dizer fumaça. Entre
tar de alguém, por tomar empres- nós indica um producto vegetal
tado ou pedir emprestado, é locu- conhecido. Botas—em Portugal
ção muito corrente em todo o eqüivale a í/oííHas. Entre nós, é
sertão de S. Paulo, Minas e o calçado especial para montaria.
Malto Grosso. Venho ter com o Bico—em Portugal, o vocábulo
senhor para emprestar-lhe 20$ tem a accepção brasileira e mais
(isto é, para iiedir-lhe empres- a de ser um termo de carinho e
tados 30$000)... II (1) Esta nova de afTecto : meu rieo senhor. Ar-
accepção do vocábulo não é gal- reiar—em Portugal diz-se «uma
licismo ;—antes é a influencia mulher arreiada». Nós só o ap-
do castelhano da fronteira, onde plicamos ás bestas. Jlaçaroca—
prestar, segundo Cuervo e Aro- em Portugal, espiga de millio e
na, tem significado idêntico. (2) as o\itras accepções. Borracho—.
E talvez o havia no portuguez no Brasil eqüivale a beberrão;
ante-classico. Quanto à lexilogia em Portugal designa o filhote do
do creolo comparada com a do I)0inb0. Janota—o moço elegan-
idioma portuguez, faremos algu- te ou effeminado, em Portugal.
mas observações summarias,
(1) E. Taunay.—Innocenciu, pag. (1) Usado no Ceará como synony-
105—nota. luo de faniilia : Como cstà de saúde
a ohritjação f etc. .Tuv. Galeno.
(2) Cuervo.—Apunt. pag. :i48— Ctinc.
349. (nota).
51
BRASILEIRISMOS —C.
No Brasil (1) designa o corpete e intensas: quasi nenhum ,sys-
(vasquim)do vüstido das mulhe- tema de flexão escapou á dege-
res. Maçapé — no Brasil indica neração inevitável, de sorte que
uma terra própria para a canna os característicos mais salientes
de assucar. Em Portugal, resina. bastariam para uma integração
Ca,seiro—além das accepçôes final e decisiva. No emtanto,
vulgares, em Portugal significa força é confessar, isso não basta
o administrador de uma casa (3). para a constituição e disciplina
Essa lista poderia ser acerescida, de qualquer lingua culta, e a
se se levassem ao caso certas literatura brasileira tão cedo
diflferenças propriamente espe- não deixará de ser um domínio
culativas e exteriores. Os exem- da lingua immortal do Camões._^,
plos são sufficientes para de- —Vide as palavras Negro (elem.),
monstrar que o léxico povtuguez o tupi (elem.), cigano e dialectu.
adquiriu funcções novas, ora
extensivas, ora exclusivas, con- lís.— Este grupo permanece
servando a mesma forma exte- nas palavras eruditas : absurdo,
rior. Essa maneira de diale- ahnurãum. Assimila-se nas f(5r-
etação é a um tempo tão simples mas populares sustancia, escuro,
e tão geral, que se torna effe- (obscurus), escuso (abscoiisusj e
ctiva de província a província, vocaliza-se em u em ausente
de cidade a cidade. Ahi a ijre- (ahsentem) e nos árohaismos aus-
visão é singularmente factível, tinente (ahstinentem), austinado
e, repitamos o dito de Whitney, (ahstinatus).
a dialectação existe até no seio
da família e do lar doméstico. lít. — grupo. Permanece em
Os documentos anteriores e jií suhtil (subtüis), ou assimila-se :
examinados podem fornecer-nos sutil, \)i)r suhtil, G soterrar (suhter-
matéria para algumas conclu- rare).
sões. Vimos que o elemento mes- lív.— grupo. Sempre perma-
tiço accentuou-se por ditferen- nece intacto : obvio, de ohmus.
ciações de tres ordens: phoni-
cas, morphicas e ideologicas,
isto é, separou-se da tradição C
primitiva pelo som, pela fôrma e
pela idéa. Na sobreface e no O. — Tem dous valores c = k,
fundo as alterações foram largas' c = ss, e, combinada com li, os
valores de A; e x. Origina-se do o
(1) Também no Brasil se empre- latino; cuidar, cogitare; custar,
ga lio sentido de elegante. constare, ou de qu : nunca, nun-
(U) No Idioma do hodierno Por- quam. O grupo c/í = a provém
tugal etc., por 1'. da S., encontram- em geral dos grupos pl, el, jl :
se niimeroso.i exeni])los, qne devem cheirar, chuva, chamar (flagra-
ser lidos, e d'onde aprendemos re, pluvia, elamare). |j Na ortho-
muitos factos. graphia é freqüentemente gemi-
52
C. — Cá COPHONIA
nado ; mas deve-se escrever com cem, vivacem, crucem, etc.) foi
um só o : tradição, edição, j^ordi- evitado pela cultura classica/w-
ção. O cJi de origem grega eqüi- gace, atroce, vimce, maxime na
vale a d-; abrandou, porém, em poesia: a palavra precoce, porém,
alguns vocábulos : arcipelago (an- não conseguiu mais tomara for-
tigo) arceãiago, arcehiupo, arei; ma precoz.
j)reMe e chicorea ( == xicoria). É
com mais acerto t>reíerido a Cacos-1'rtpliia. — Modo vi-
em chiliade, cf. küo. O c antes cioso de orthographia. A inclu-
de e e i no latim bárbaro perde o são do h onde não ha.: theor,
valor de k do latim clássico, e athé, cathegoria, systhema, ex^
por isso eiicaminha-se para as huberante, e o mesmo erro lati-
transformações nas sibilantes ».«, no—posthumo/^posÍM/üís, melhor
s e para o valor actual do ce, rí : que podhumun). O emprego vi-
dizimo, decimum ; fazer, facére ; cioso de y onde não cabe: laby-
donzella, dominicellam. A synco- rynto, lyrio, Sylvio. O uso de
pe do c c bastante rara. Existiu letras dobradas inexplicáveis:
a forma arciiaica fais, por fazes mattar, ratto, sollicitar, callar,
(faeis), usada por G. Vicenie, I. innundar, edicção, tradicção. O
139, eSáde Miranda, Egl. 8, se- ph em palavras que o não tem :
gundo Heinhardstffittner. Ila a caphila e alguma outra. São
syncope ainda em deão, antigo estes uns tantos erros da meia
degaiio, decanum. Não houve, ])0- sciencia; os da ign<n-ancia da or-
rém, syncope cm farei (fac?re- thographia, por innumera veis,
habeo), direi, etc., por isso que escapam ou esperam pela caco-
far, dir, representam as formas grapiiia phonetica.
facere, dieere, com o verdadeiro
accento. O exemplo JamVi, jior da Ciieolofjiíi. — Jlodo vicioso
construcção grammatical;
jazeria (C. de Guiné, c. 73) é erro de qualquer esi)ecie na ma-
uma aberração devida á analo- téria (|uando ultrapassa os limi-
gia. O abrandamento moderno tes do descuido ou inadver-
na chiante c/i e a: só é propria- tencia.
mente portuguez, quando jií se
acha jjreparado pelo abranda- Cacoplioiiia.—Vicio de elo-
mento medieval ce, ci: murcho, cução que consiste no soido des-
de murcidu7)i ; iiiche, de pi<vm. agradavel que pode produzir a
Nos mais casos, denuncia a in- concurrencia de vocábulos no
fluencia do elemento francez : discurso. O caeophaton designa
capellum, chapéo ; caput, chefe ; especialmente a formação de vo-
camaram, chambre ; niercantem, cábulo torpe ou desconveniente.
marchante ; camminata, chami- Ex.; «lias no dizer muita graça».
né ; plancam, prancha ; cantor Por extensão, denomiinim caco-
(nomin.), chantre; carrucam, phaton a formação inesperada e
cbarrua. O zetacismo das termi- não intencional de um termo.
nações fugaz, vivaz, cruz (fuga- V. gr.: «Quero amal-a» (amala),
53

etc. É o caleiíibur, nesse caso (1). syncrasia entre a phrase e os


Os casosespeeiaes da cacophonia, ouvidos do mestre. Outra expli-
de que trataremos em separado, cação, não ha. A audição tam-
são a collUão e o echo. Nem sem- bém se resente, como o esto-
pre a conciirrencia de sons mago, de caprichos, lias que
iguaes ou diffi'reiit(>s occasiona tem com elles a euphonia do
o eacojihatmi, que também de- idioma? Segue-se o «se inter-
pende da pausa, do acoento vo- punha eUai>. Novo enleio do meu
cabular e oracional. Defendendo- tympano. Onde se me occultará,
se de falsos cacophatos, que o nesses tres vocábulos, a deshar-
não eram, magistralmente re- monia, que indispõe o censor ?
spondeu aos seus censores Iluy Orelhas finas, também as eu
Barbosa: «Em veJdculo claro (o possuo. Deu-me a natureza de
primeiro do rol) tenho apurado sobra neste sentido o que de
em vão todas as minhas facul- mingua me aquinhoou na vista.
dades auditivas, por atinar com Pois ha semanas que o envido,
a desharmonia ; e não consigo. em busca d'essa incógnita mu-
De quantas pessoas consulto e sical, e cada vez estou pelor.
reconsulto, esperançado em me Naquelle «se interpunha ellai),
auxiliarem, não obtenho melhor onde a aresta odiosa ao meu
resultado. Que mysterio haverá illustre mestre? Debalde separo,
então na cacophonia d'esse en- junto e torno a decompor a sen-
contro, por onde a mim e a tença. Não me diz nada. Será
todas ellasse occulte, só se reve- niis duas syllabas iniciaes, sinter?
lando ao seu inventor ? p]scuto- Parecem-me de todo innocentes.
Ihe o conjuncto; e não acho. Será o terpunJia, ou o unha? Mas
Ponho-me a syllabal-o ; • e não ambas pertencem ao verbo inter-
descubro. Entro a deletreal-o ; e punha, que não é obra minha.
não percebo. Dou-me a escandil- Será o punha ella ? Mas, nesse
o, a recital-o, a declamal-o, a caso, já não poderemos utilizar,
entoal-o; e acho-me na mesma. sem offensa da harmonia, com
Vario-lhe a prosodia, o acoento, aquelle pronome, o imperfeito de
o rhythmo; nada colho. Tenho, 2'>5r e seus compostos ? Punha
portanto, de suppôr uma idio- ella, dispunha ella, compunha ella,
repunha ella, oppunha ella, inter-
punha ella, expunha ella, impunha
(1) Calimbur é a verdadeira or- ella, seriam então plirases con-
tliographia do gallicismo. Garrett dem nadas ? E ainda não fora
escrevia erradamente cuUmlmrgo tudo. A outros verbos, além
(no franeez não tem o y final que d'esse, como empunhar, cunhar,
lhe empre.stam). O melhor, f>orém, alcunhar, testemunhar, estremu-
é evitar essa fraiicezia e adoptar nhar, no presente do indicativo,
com os antigos e com Castilho,
M. de Assis os vocábulos : equívo- igualmente seria defeso o conta-
cos, trocados, trocadilhos, que tra- cto com o ella na construcção in-
duzem excellentemente a idéa. versa. Testemunha ella, alcunha
54
CACOPHONIA—CEDILHA
ella. empunha ella seriam outras phrasp que vocábulo. Levando
tantasdesafiiiações intoleráveisn. mais longe a analyse, ver-se-á
que os elementos primários são
Caracter, caracteres. Ca- o nome e o verbo, que na propo-
racterística. — Synonymo cie sição correspondem a sujeito e
letra, letras ou signos. Oaracte- 2)redicado. Tudo o mais são am-
rütica é a letra ciue tem cnuil- pliações e accessorios. A inter-
qiier funcção no vocábulo ; o s jeição, da mesma maneira que
é a característica cio plural. outros elementos que não são
Cardiiiaes.—Classe dos nu- ção, figurativos como a voz, a intona-
meraes que exprimem ordem : representa a parte symbo-
primeiro, quinto, décimo quarto. íica da linguagem.
Vide Numeraes.
Causai.—Vide Conjuncção,
Casos.—Vide Declinação. Proposição e Analyse.
Castelhano.—Nome exacto Ce.—A geminação do c nem
da lingua actual da Hespanha. sempre se conserva no portugueu
O castelhano, por etfeito da pre- ainda mesmo para os partidarios
ponderância política de Castella, da orthographia etymologica :
supplantou os demais dialectos. froco, Cí6 froccum ; bico, de ôec-
Vide llespanhol. cum. No emtanto, na maioria dos
Cata (sobre, para baixo).— casos a orthograpliia não está
Prefixo grego. Oatarrho, que fixada : saco e sacco ; vaca e «ac-
corre jiara baixo; catastropíie, ca- ca ; pecado e peccado. A gemina-
talogo, catarata, etc. Ai)parece ção produziu o z ; buzina, bue-
em catliedral, cadeira, áecathedra. cinam.
Oatholicismo (halos, inteiro). No
latim ecclesiastico, kata substi- Cedilha. — Notação proso-
tuiu quisque, e se tornou a ori- dica que serve para denotar o
gem do determinativo cada. valor brando do c antes de a,
o, u, : ça, ço, çu. A cedilha repre-
Categoria. — Denominação senta graphicamente a haste in-
tirada da lógica e que exprime ferior da letra z que a precedeu
uma classe do pensamento, um e atropliiou-se. No francez an-
grupo de idcías. As palavras clas- tigo, v. g., ha faczon, depois/a-
sificam-se em nove categorias: çon. A haste do z manuscripto
substantivo, qualificativo, de- tornou-se o signal actual, e o
terminativo, verbo, preposição, nome cedilha, de zediglia, pe-
advérbio, jjronome, conjuncção queno zed, indica claramente a
e interjeição. Algumas d'estas sua origem histórica. Em por-
são reductiveis a outras : o pro- tuguez contemporâneo ciç nunca
nome pode ser considerado deter- principia palavra : sapato e uão
minativo; o advérbio c) locução çapato, como se graphára antiga-
substatitiva ; a interjeição ó mais mente. Esto uso, em verdade, é
CEDILHA CH.
um gallicisino, porque em fran- baccalaureus. Bar—trave (kym-
cez o ç não é nunca inicial. O f rico)—barra, barreira e deri-
em geral representa o abranda- vado embaraço, cast. embarrazo.
mento de ti nos hiatos : diíferen- ]5aiuIj — (pote)—barril, barrica,
ça, ãiffere,ntiam ; feitiço, fatitium, e o gall. barricada. Bass—no
etc. Outras vezes está por ss: lat. barbaro 6cí«,w.<(; radical de
ruço, russum ; moço, mussum, de baixo, abaixar, contra-baixo,
mustum, etc. Nos documentos basso, etc. Beco—^gaelico ; lat.
antigos, a falta de cedilha só barbaro, òecíííi. Bico. beque. Bka-
pode induzir em erro aos inex- CA—do latim barbaro, e tido
perientes. Assim, não se deve como de origem celtica. Braga.
suppôr que houvesse o som gut- Caban—cazinha, kymrico. Ga-
tural em cocobrar(El. de Viterbo), baria, gabinete. Oae —kymrico.
por sossobrar. A razão que fez Gaes. Caimis—gaelico ; no lat.
tomar o z como caracter acces- barb. camisia. Camisa, camisola,
sorio proprio para indicar o etc. Gae—kymrico (perna). Oar-
abrandamento do c, já se acha rote. Jarreta. Lbig—no lat. bar-
indicada no latim barbaro, onde baro, leuca. Légua. Taiícedek"—•
a equivalência c—z é frequen- rad. tarz, erupção. Dartro, por
cia : imenãium. |1 Deve-se dizer metathese. As formas celticas
que muitos distinguem o som ç sempre chegaram latinizadas,
do som s=ss, na prosodia por- como se vê pelas palavras que a
tugueza. literatura registra : leuca, cami-
sia, braça, bassus, etc.
Celtico.—O elemento celtico Cli.—«Este grupo pronuncia-
(3 ainda hoje de analyse obscura, vam-no os nossos maiores tsch,
não só por causa das deteriora- e ainda hoje os da Beira, muito
ções dos nomes locaes onde de- de accòrdo com a pronuncia ge-
veria ser mais intenso, como nuinamente romana. D'onde
pela existencia de sub-ramos em veio a este grupo o som de x ?
que está dividido : o gauiez, o Do abrandamento do c duro la-
gaelico, kymrico, ibérico, etc. tino em » e z na linguagem po-
Eis alguns radicaes celticos: pular ; das palataes tch, dj na
Alp — elevação, montanhas. chiante ch=x. E assim se expli-
Alpes, transalpino, cisalpino, etc. ca a transformação de carruca
O adj. alpestre. Nos textos an- em chama De resto, no
tigos a palavra al2>es é nome com- provençal e limosino, ch soava x
mum para quaesquer monta- (ts tz ss), e o mesmo se dá no ca-
nhas. Amabk (laço) — amarra, talão e basco. Não foi, pois, esse
amarrar, etc, Ans, curva ; lat. abrandamento devido á imita-
barbaro, ama. D'ahi enseada, ção arabe, como querem alguns ;
aza, aãs (azes), etc. Bak ou Bacii mais depressa acceitariamos a
—pequeno, novo, joven. Bacha- opinião de representar o som
rel, vindo do fr., no lat. barba- chiante do cA tradição ibera ou
ro baccalarius, transformado em celtica.» (P. Júnior).
56
CHEIR — CIGANO
Clielr, cheii-os (mão). — Ele- ultramarinas se vão acliar al-
mento gvego de composiçilo. guns nomes, dos quaes o maior é
Cheiropteros, mãos e azas ; nome o de Diogo do Couto. Historia-
scientifico da família cios morce- dores livres e chronistas especí-
gos. Chiromancia (manteia), adi- aes foram João de Bakhos, Nu-
vinhação pelas mãos. Cirurgia nes de LiÃo, Fr. Luiz de Souza
(ergon, obra), litteralmente : ma- e poucos outros.
nobra. ChirograpMa, cMragra, Clirôiio.s (tempo).—Elemen-
epicMrema, etc. to grego de composição. Chrono-
Cliiaiite.—Dá-se este nome metro igual),
(rr.etron, medida), iaochrono
iís consoantes 7 e í, e ao nosso {iaos, anachronico (de ana,
inversão), aynchronico, etc.
som do ch=:x. (P. J.)
Chiiiez. — Língua monosyl- Chylos.—V ide cJiymia.
labica da Asia. Poucos vocábu- Cliyiiiia, chumos, succo. —
los de origem chineza existem Elemento grego de composição.
no portuguez. Vide Asiaticismoa. Vhimica, parenchyma (para, ao
O termo mandarim é portuguez, lado, en, sobre), tecido proprio
derivado de mandar, vernáculo. das glandulas, etc. A formula
São da língua chineza : nankin, chuloa, do mesmo radical cheuõ,
kaolin, setim, hyson, chá. derramar, produziu cJtylo, dia-
Cliiros.—Vide Cheir. chylão, etc.
Cigano.— Sigano e zigano e
Clirôiua, dirómatos (côr). — também se disse egiptano. Povo
Elemento grego de composição. originário da índia, que se disse-
C7í rom a tico, chromol ithoyraph ia minou pela Europa. Os ciganos
(liilws, pedra, graphõ, escrevo). chamam aos estrangeiros gagé
Polychromo (polua, muitos), etc. (no Brazíl, gajão) e a si proprios
rom (i. (í, varão, homem), e em
Clironica». Coronicas. Ca- alguns logares ainté (1). Pelos
ronicas. — Nomes dados iís pri- europeus os ciganos têm vários
meiras historias escríptas da nomes : gÍ2)sy (inglez), tzigano,
nossa literatura. Chamavam-se gitano (hesp.), hoUémien (francez),
Chroniataa os Jiuctores, e era car- jevk (albanez), Pharaó népek (po-
go de confiança o escrever a his- vo de Pharaí) ; magyar) Tri/noç,
toria nacional. O primeiro dos grego^moderno ; Farawni, turco,
nossos chronistas foi Fernão Lo- etc. É ponto liquido que os ci-
pes (1434), um dos maiores. Se- ganos emigraram da índia, sem
guiram-se-lhe muitos outros,
mas de mérito apenas poucos :
Gomes Eanes de Zuraka (I) A expressão )■«»» reporía-se a
(1459), Ruy de PixA (1525), Fr. doma ou domfiit, sanskrito (casta de
Bernardo de Brito (1014). En- músicos , Miklôsicli. Shilr ])arece
ser Sindini, (Iiidu). Cf. Xinculo,
tre os chronistas das possessões ziníjuro.
57
CIGANO CIRCOMSTANCIAL
que 110 emtiinto se possii deter- são conhecidos no interior do
minar a época e local precisos. paiz. Taes, v. gr.: gajão, nome
A lingua é bastante antiga e, de tratamento; querido, ami-
sentlo aryana, parece antes irmã go. Paxaxo, pé largo. Também
do que íillia ou originada do usado no Chile, como se vC do
pâli e dos outros dialectos da IHcc. de chilenismos de Zorobabel
índia. A romani (1. dos ciganos) Rodrigues (voe. Pachaço). Cp. o
tem mesmo fórmas mais primiti- vocábulo notado por Adolpho
vas e archaicas que o sanskrito. Coelho, Pachocha (Congr. de An-
Na Europa existem 13 dialectos thr., sessão de Lisboa). Boliche,
do romani mais ou menos adul- venda, bodega (Rio (Jrande do
terados, conforme as linguas em Sul). O vocábulo é germânico,
cujo meio regional persistem. veio pelo hespanhol da fronteira,
Por effeito de suas emigrações, introduzido provavelmente pelos
os ciganos possuem o léxico ciganos, que o possuem. No sen-
cheio de formas gregas e occi- tido original, significa casa de
dentaes em grande numero, io^Q.Descachelar.—É esseo unloo
vo^es persas e armenicas. Sem exemi)lo em que parece notar-se
poder, por falta de materiaes, o processo de suffixação de ver-
comparar os dialectos europôos bos em lar, proprio do cigano :
com a lingua dos ciganos brasi- descaehelar 6 formado sobre o
leiros, apenas daremos aos que typo ãesqueixur, e é vulgar no
quizerem estudar o assumpto, norte do Brasil : um livro ãesca-
algumas indicações bibliogra- chclado ; um corpo descacJielado ;
phicas segundo a Encyclop. hoccã descacMada ou eaeacJielada,
Brit., vol. X. (1) Os ciganos ex- etc. Devem existir muitos ou-
pulsos de Portugal emigraram tros que não conhecemos.
em grande numero para o IJrasil Circuiiistaiifial, syn. rela-
no século passado. Os termos ção adterhial.—Vide Analyse.
mais vulgares da ciganagem
Si)l)re os ciganos disseminados
(1) Kibliograjiliia. Fr. Muller — na Euroi)a, são obras de consulta
Heitráye zur Kenntniss der liiim. as de Paspati, Ktudes sur les Tchin-
Spr. (1869-72|. Prohe de Limhn si ghiíuiés íCoíist. 1870); oVocalndai-
Liierat. Tigauilor (Dr. Coiistanti- re de VailUuit; Romani Czih, de
nesi;u,l87S).Greliuiaiin. Ilút. Ver- 1'uchiiiayer, Praga, 18121; a de Lie-
such u. d. Zigeuner; Spengler bicb ; Leland, The english gipsies
Dissertalio hisl. jur. do Cíiiganis, (1871!); Smart e Crofton, The dial.of
1839, Bataiüard. Apparit. et Des- t/ie engl. gipsies (1875) sobre os ci-
app. des boltémie.ns, (1844). l'ott gano.s de IIes|>!inlia ; The Zineidi
Die Zigeuner {18iõ)Zigeunerisclies, l)y üorrow (1873, Londres); e sobre
Ascoü, 1805 ; eas duas obras capi- os ciganos portuguezes a memória
taes de Miklosicli, princii)al aucto- de Ad. Coelho, no Congr. de A71-
ridade na matéria; Ueber ilic Jlun- ihropnlogia (Se-^são de Lisboa); so-
darten nnd die Waiulerungen der bre os ciganos do lirasil o livro de
Zigeuner Europa's (1872-78) ISeitr. Mello Moraes Filho, Cancioneiro
zur Kennhiisa der Zig. Mundarlen. dos Ciganos.
58
CL. CLÁSSICOS
Cl. — Grupo latino. Pei-ma- Oriente, Fr. Heitor Pinto, Fr.
nece : classe, ciassem. A permiita Bernardo de Brito, Fr. Luiz de
e reforço cr tGm muitos exem- Sousa, P. João de Lucena, D.
plos archaicos : cravo, por claro ; Francisco Manoel de Mello, os
fror, por flôr; creinencia, por cle- dois Brandões chronistas mores,
mencia ; crelgo, por clérigo : Fr. Manoel da Esperança, I). Ro-
etc. ; ainda hoje lia a fôrma cra- drigo da Cunha, Jacintlio Freire
vo, clavum. O abrandamento c/t, de Andrade, Duarte Ribeiro de
/ (dupla dj) também é archaico : Macedo, P. Antonio Vieira, P.
oliouso, clausum ; chouvir, clau- Bartholomeu do Quental, P. Ma-
dere ; chave, clavem, jamar, por noel Rodrigues Leitão, P. Ma-
chamar, clamare. noel Dernardes, F. Francisco de
Santa Maria, P. Francisco de
Clássicos. — «Assim chama- Sousa, P. Diogo Curado, D. Jo-
dos os escriptores qne, sobresain- sé Barbosa, A. Qarrett, José Go-
do em cabedal de erudição nas mes Monteiro, ^l. Ilerculano, A.
scieucias ou nas letras, por um F. de Castilho, Rebello da Silva
consenso unanime, Rozam de le- e outros sobre que a posteridade
gitima auctoridade. Fixando, po- falaní com merecidos louvores
lindo e aperfeiçoando as formas por certo.» (Kscoliastes). Dos es-
do pátrio idioma, foram nossos criptores do Brasil onde a lin-
mestres os quinhentütaH. Com guagem tantas modificações tem
effeito a literatura classica de soflfrido, poucos de certo logra-
Portugal coincide com o tempo rão a ventura de serem estima-
heroioo ern que os portuguezes dos como clássicos ; já de certo a
sulcavam todos os mares, dila- lograram Gonzaga, Cláudio, B.
tando a fé e o império pelas vas- dn Gama e Souza Caldas. Na
tas regiões da África, Asiae Ame- Sclecta Classica do auctor d'este
rica. Nomearemos alguns dos Diceion. encontrar-se-ão mais am-
clássicos portuguezes mais aba- pliadas e elucidadas em pontos
lizados pelo bem (jue trataram controversos as noticias particula-
os assumptos, ou pela excellen- riís sobre ca<hi um dos clássicos.
cia do seu estylo, quer em prosa, 1? EPOCA.—(Desde 1139 a 1279
quer em verso : João de J5arros, ou desde a fundação da monar-
Damião de Góes, Francisco de cliia até á acclamação de D.
Andrade, Diogo do Couto, Af- Diniz). «Este periodo não olfe-
fonso de Albu(|uerque, Francis- rece mais que ensaios sem im-
co de Sã de Miramla, Luiz de portância e^ algumas canções
Camões, Diogo Bernardes, An- anonymas. Tí apenas um traba-
tonio Ferreira, Francisco Rodri- lho de incubaçãon. kpoo.v.—
gues Lobo, Duarte Nuws de Leão, (De 137!) a l.')00 ou desde a ac-
I). Fr. Amador Arraes, D. Fr. clamação d(' 1). Diniz até á de D.
Marcosde Lisboa, Jorge de Monte João III). D. Diniz faz traduzir
Maior, Gaspar Barreiros, Fernão em portuguez muitas obras es-
Mendes Pinto, Fernão Alvares do trangeiras ; elle mesmo oomi)õe
59
CLAS SICOS
/
algumas poesias. E do seu rei- (...-149:í). Gaiicia de Rezen-
nado que data a literatura por- de. Vida e feitos do rei 1). João
tugiieza : elle funda a Universi- II. Cancioneiro, Miacellanea (tro-
dade de Coimbra ; seu filho, D. vas). Era natural d'Evora (1470-
Pedro, conde de Baroellos, cul- 1554). Duarte Oai.vão. Chro-
tiva igualmente a i)oesia e es- nica de D. Afonso llenriques. Era
creve em prosa o seu Nohiliario. natural d'Evora (1445-. . .) A in-
Neste período, segundo a opi- troducção da imprensa neste
nião geral, é que vivia Vasco de periodo (1470-1474), começando
Lobeira, o auctor do famoso ro- a funccionar primeiramente em
mance de cavallaria—Amadis de Leiria, veio dar um novo impul-
O aula ou Arcadia de Gaula. D. so á nossa literatura. Garcia de
João I dá um grande'impulso ao Rezende publica o seu Cancionei-
idioma portaguez, ordenando ro (151C), collecção das poesias
que todos os actos e documentos dos mais afamados auctores do
públicos sejam redigidos em reino. 3? ErocA.—(De 1500 a
portuguez, jiorque até ahi o eram 1025 ou desde D. João III até
em latim. íío reinado de D. Philippe II). Este periodo pôde-
Duarte proseguiram as letras ser chamado a idade de ouro da
sua marciia ascendente sob a literatura portugueza ; não haja
protecçãoid'estemonarcha, dando duvida em dizer a este respeito ;
elle mesmo bom exemplo com —o século de João III,—como
muitas ijroducções suas, notá- se diz : o século de Pericles, na
veis para aquella época, e fazen- Grécia, o século d'Augusto, em
do escrever em latim a historia Roma. Aos excellentes escripto-
do reino. Ilistoriographia. O pri- res d'este periodo deu-se o nome
meiro historiador portuguez é de quinhentistas, e são considera-
Pernão Lopes, secretario de I). dos como clássicos de primeira
Duarte, que escreveu a chronica ordem, e não só porque poliram
dos Reis, desde o conde D. Hen- o idioma nacional, mas porque
rique até D. Affonso V. Viveu o falaram com toda a pureza.
pelos annos (1380-1459?). Se- Poesia.—(XVI século) Bernar-
guem-se successivamente : Rt7Y DiM Ribeiro . —Mçjlogas—Menina
DE Pina, chronista de D. João e Moça, romance. Era natural do
11, que escreveu as chronioas de Torrão (. . .-1550). Gii, Vicente
muitos reis em estjio sobrio e (o Plauto portuguez)—Poesias
digno. Era natural da Uuarda dramaticaa — Comédias — Tragi-
(1440-1Õ23). Gomes Eannks dk comedias — Autos — Farças. Era
ZuRAKA, grande chronista do natural de BarcellosV (1470-
reino ; escreveu : Feitos de D. I53()). Dr. Franciso de Sá de
João I.— Tomada de Ceuta. An- Miranda (o pae da poesia por-
naes de J>. Affonso V sobre a ex- tugueza) — Sonetos — Epístolas—
pedição d'Afrir,a parte) ; obra Ilymnos — Canções — Elegias —e
que foi concluída por liuy de duas comédias : Os Estrangeiros
Pina. Era natural de Azurara e Os Vélhalpandos. Era natural
GO
CLÁSSICOS
de Coimbra (14üõ-l.")58). Akto- quasi o canto do cysiie da poesia
Nio Fekue []ía—Epístolas— Odes nacional, que parece querer fe-
—Sonetos — Elegias —■ e as comé- necer com elle e já nelle mo-
dias : O Cioso e JIristo, e a tragé- ribunda se mostra. Era natural
dia : *1 Castro, producção admi- do Porto (1540 ...). llistoriogra-
ravel. Era natural de Lisboa phia (1490-1570)—João de Bak-
(1528-100!)). Luiz dk CamOes (o R08, o Tito LÃvio portuguez ; este
priiicipe dos poelas épicos por- escriptor occupa o primeiro logar
tugueses) — Sonetos — Elegias — entre os historiadores. Publicou
Canções— Odcs—Eclogas— Oitavas o Clarimunda, chronica em
—e emíim os Lusíadas, poema tórma de romance. A Asia, o
épico, cujo assumpto é a desco- mais importante dos seus escri-
berta de um novo caminho para ptos, onde estão consignadas as
a índia, cortado por Vasco da façanhas dos portugueses du-
Gama. Era natural de Lisboa rante a de.scoberta e a conquista
(ir)24-ir)80). DiOííO Beiínakdes dos mares e das terras do Ori-
(poeta e guerreiro) — O Lima, ente. Este livro teve a gloria de
contendo—Egloyas—Cartas. Era ser o primeiro que fez conhecer
natural de Ponte da Barca a índia aos europeus. A obra é
(15B. . .-l(i05). Pedro d'Andra- dividida em décadas que foram
de Caminha—7V«2fl«. Era na- continuada.s por Diogo do Couto.
tural do Porto (1520-1.>80). Je- Era natural de Vizeu (1490-
RONYMO Corte Real (poeta e 1570). 1)ami.\o de Góes. —CAro-
guerreiro); dois poemas épicos— nica de D. Manoel—Chronica de
O Segundo Cerco de Diu—Xavfra- 1). João II—Traducção do livro de
yiode Sepulveda—Austriada. Era Cícero—DE Senectute. Era na-
natural d'Evora (1540-1593). tural de Alemquer (1501-1573).
Feunão Ai.vahes do Oriente. Fernão Lopes de Castaniie-
— Lusítania transformada, que da.—Historia do descolrrimento e
alguns suppõem traba'ho de Ca- conquista da índia pelos portu-
mões, o que basta para elogiar a guezes. Era natural de Santarém
obra, mescla de prosa e verso em (...-1559). Affonso de Ai.ru-
que a elegancia corre parelhas Qüekque — Commentaríos de Af-
com a pureza de linguagem. Era fonso d'Albuquerque (seu pae).
natural de Goa (1540?-1595?). Era natural de Alhandra (1500-
Luiz Pereira üuandÍo.—A Ele- 1580). André de Rezende, o
giada, poema épico cujo assum- maior antiquario do século XVI.
pto é a ruina da patria; poeta e Escreveu em latim a obra De
guerreiro, acompanhara D. Se- AntiquitatibusLusitaniai, e deixou
bastião & África, d'onde pôde a Historia das antigüidades da ci-
voltar por meio de resgate, para dade d'Évora. Era natural d'E-
deplorar em canto fúnebre a ba- vora (1498-1573). D. Jeronymo
talha de Alcacerquibir e suas OsoRio. —bispo d,e Silves, o Cí-
conseqüências, mas esse canto cero portuguez. E o auctor da
fúnebre, no juizo de Garrett, & Vida de D. Manoel, obra escripta
01
CLÁSSICOS
em latim. É também o auctor de Fernandes G.\i, vão, arcediago—
Cartas. Era iiatiiral de Lisboa Sermões. Era natural de Lisboa.
(lõOO-lõSO). Fernà Mkndes (1554-1010). Começo do xvii
Pinto.—A Peregrinação. Era na- Secüi.o [Poesia-). — Francisco
tural de Monle-M()r-o-Velho Rodrigues Lono, o Tlieocrito
(1500-108.3). Düartk Nunes dk portuguez — Eglogas — Â prima-
LiÃo, um do.s mais notáveis es- vera, que encerra versos admirá-
criptores—Descripçno do lleiuode veis— O Pastor Peregrino —O l)es-
Portugal—Chronica dos Reis (lí enganado—E em prosa; Corte na
parte)—Origem e Orthographia da Aldeia—iVoííe d'Inverno. O seu
Lingua Portugueza. Era natural estylo é ameno e em algumas de
d'Evora (lõ3. .-1008). Fií. An- suas composições mostra bem
TONIO Rosado—7V'í(teíZy sobre vivo o sentimento da natureza.
a destruição ãe Jerusalem—Lagri- Era natural de Leiria (.. .-1623).
mas de Jeremias. Era natural Vasco Mousinho de Quevedo.
de Jlertola (1 r)T5-lG40). Antonio —Afonso AJricano, poema épico,
DE Castilho.— Commentario do incontestavelmenle o i)rimeiro
cerco de Oca e Vhaxil - Klugio d'el- dos nossos poemas épicos de se-
rei T). João III—Tratado do per- gunda ordem. Era natural de
feito secretario e outras. Era na- Setúbal (15.. .-10...). Gabriel
tural de Thomar (1 :")().■)-1,5!)()). Pereira de C.vstuo.—A TJlysséa,
IIeitok Pinto—Imagem da Vida poema em dez cantos .sobre a
Ghristã. Era natural da Covilhã fundação de Lisboa, attribuida
(.. .-1584) Gauoia de IIokta — a Ulysses. Era luitural de Braga
Colloquios dos simples e drogas. (1571-1032). Francisco de S.v e
Era natural d'Elvas (14Í)...- Menezes.— Malaca conquistada,
15...), Amadok Akiíiiaes, bispo poema épico, cujo heroe é o
de Portalesre—Diálogos, sobre grande Affonso de Albuquer-
todos o—Dialogo sobre o trium- que, conquistador das índias.
pho dos Portuguezes. Era natural Era natural do Porto (.. ..1004).
de Beja (152.. .-1000). Jo.ío de Br.^z Garcia de Mascareniias—
Lucena (padi'e)—Vida de São Viriato Trajano, poema heroico.
Francisco Xavier. Era natural de Era natiiral d'Avô (150()-]050).
Trancoso (1550-1000). Fr. Tiio- Miguel da Sii.veira—ElMacha-
MÉ DE Jesus. — Trabalhos de Je- ben, poema em vinte cantos, em
sus. Era natural do Lisboa (1520- hespanhol, sobre a restauração
1582). Fii. Marcos de Lisiíoa, de Jerusalem. Eia natural de Ce-
Constituições synodaes do bispo do lorico da Beira (1570-1030). F.
Porto. Era natural de Ijisboa Botelho de Moraes e Vascon-
(1511-1591). Dk. Diogo de Paiva CEi.LOS—El Affonso, ó La Fuiula-
d'Andiiade.— Sermões e outras. cion dei lleyno de Portugal,am hes-
Era natural de Coimbra (1528- panliol Nesta quadra
1575). Luik de (íran.U)A, domi- quasi todos os poetas transigi-
nicano—Sermões. Era natural de ram com o dominio estrangeiro,
Granadti (1504-1588). Francisco escrevendo em hespanhol, cujo
-02
CLÁSSICOS
idioma sabiam manejar com fa- enfçenlio do tantos sublimados
cilidade. Iliítoriogrdphia (lõ()!)- talentos que o século xvii nos
1017). Behnardo dbBiuto. Ei-a apresenta. D.ViolantadoCéo —
natural d'Almeij.la (1509-1017)— Santa Kngracia, comedia em ver-
Ohronica de Ciater— Os Elogios dos so, cheia de motaplioras e.xtrava-
lieis— Oeographia antiga da Lusi- fiantes : e algumas outras obras.
tania—Monarchia Lusitana, con- Era natural de Lisboa (KiOl-
tinuada por Aktokio Buandão— U)93). Manoel Seveium de Pa-
continuação da Monarchia Lusi- ria—Discursos politicos—As noti-
tana de B. de Brito. Era natural cias de Portugal—K um bom os-
d'Alcobaça (1Õ84-1037). Diogo criptor; notam-lhe o emprego abu-
DO Couto — O Soldado Pratico e sivo de muitos archiiisinos. Era
11 continuação das Décadas de J. natural de Lisboa (1583-1055).
de Barros. Era natural de Lisboa Diogo Barbosa JIaciiado — Bi-
(1542-1010). Fr. Luiz m: SotisA, bliotheca Lusitana, obra de varia-
dominicano—Chronica de S, Do- da e traballiosa erudição. Era na-
mingos— Vida ãe Fr. liartholomeu tural de liisboa (1082-1773). Fr.
dos Martyres, arcebispo de Hra^a. Manoel da Esperança— Histo-
Era natural de Santarém (l.")55- ria Seraphiea da ordem dos frades
10;í2). Luiz Mendes de Vasoon- menores de S. Francisco, nii provín-
CEI-.I.OS—Sitio de Lisboa—Arte Mi- cia do Portugal. Era natural do
litar. (. ..?...). Fk. Beknahdoda Porto (158...-1070). M. DE Faria
Gnm.—Ohronicad^el-rey D. Sebas- E Sousa — Europa Portugmza,
tião, tom méritos e defeitos...'.'... Gommentarios ás Obras de Ca-
{1530-1.58...'.'). Gaspaii Estaço—• mões e varias outras em prosa e
Varias antigüidades de Portugal. verso. Era natural de Pombeiro
Era natural d'Évora (.. .-l()2()). (1590-1()49). Martim Akfonso de
Jacintiio Freiise d'Andrade — Miranda— Triumphos da so,lutife-
Vida de D. João de Castro, 4? vice- ra Cruz de Christo — Declaração
rei da índia. Era natural de ]5eja do Padre Ko-tso com suas medita-
(1597-1020). Pedro DE Mariz— ções, e a lí e a 2Í parle de uma
Diálogos de varia historia—Histo- obra com o titulo de Tempo de
ria do Milagre de Santarém. Era agora. Era natural de Lisboa
natural da Coimbra(15...-101...). (15...-?). P". Manoel Bbrnardes
E ainda outros que viveram neste —Escriptor mystico, diz o Sr. P.
periodo, que l'oi o do apogeo da Chagas, a doçura do seu estylo
literatura portugueza. 4^? Epoca captiva e encanta ; clássico pri-
—De 1025 o 1750, ou de Philip- moroso, mereceu que Antônio
l)e II a L). José I —Este periodo Vieira não julgasse em perigo o
pode ser qualificado o século do idioma portuguez, em quanto
máo fíosto ; é o - reinado do Oon- vivesse, para lhe zelar a pureza
/jorisino, do escriplor hesi)anhol o padní Manoel Bernardes. lira
Qongora, de Cordova, que intro- natural de Lisboa (1(U4-1710).
duziu este máo estylo na litera- Nas Inovas Florestas, nas Medita-
tura portugueza, inquinando o ções sobre os J^ovissimos do Ho-
03
CLÁSSICOS
mein, na Luz e Calor sabe entre- mos. Era natural de Lisboa
tecer, na teia cio pensamento re- (1008-1097). D. Francisco Ma-
ligioso, delicioso matiz ora his- noei, de Meli.o.—Apologos dia-
torioo, ora anecdotico. ora le- logaes — Epanajihoras—Carta de
gendário, a quedií sempre realce guia ãe casados e outras. Occupa
o seu estylo vivo e pittoresco, este escriptor logar eminente
animado ás vezes com um geito como eximio cultor do seu
chistoso, agradavel sorriso que tempo. Estylo grave. Era natu-
desfranzeesses lábios d'onde ma- ral de Lisboa (1011-1000). A
nava o mel doirado, (jue ia libar estes auctores succederam outros
nas ílôres do myslioismo. Kociia no começo de xviii século, mos-
PiTTA—Historia da America Por- trando um periodo de deplorá-
tugueza, obra que lhe grangeou vel decadencia das letra.s. por-
muitos applausos, e lhe alcançou tuguezas, em que se trocavam as
o diploma de socio da Academia imagens grandiosas, embora em-
Real da Historia e o de fidalgo poladas, pelas ridículas puerili-
da Casa Real ; apczar de se re- dades do trocadilho alambicado
sentir .ds vezes dos defeitos do e grotesco. E no reinado de D.
seu tempo—o gongorismo e a José I que ellas começam a rea-
aflfectação — o livro de Rocha nimar-se. 5Í ÉPOCA.—(Depois de
Pitta é estimado pelo estylo bri- 1749) No reinado de D. José I
lhante, que sempre conserva sem começa a literatura portugueza
cair no exaggero. Era natural da a regenerar-se pela iniciativa da
Bahia (1()ÜÒ-17:í8). 1). Rodrigo sociedíule dos Arcades, que se
DA CuNiiA—Catalogo e Historia fundou em 1730 com o fim de
dos bispos do Porto - - ■ Historia prorogar o gosto da grande
Ecclesiastica ãe liraga e a í'^ par- época e fazer que a lingua pura
te da de Lisboa—'Nobiliario das do século XVI, desembaraçan-
f<tmilias do reino, etc. Era natu- do-se de todos os gallicismos que
ral de Lisboa (1577-104!!). CoK- lhe haviam introduzido, tomasse
DES DA EiUCKIKA (MeNEZES) — aquella graça e doçura e todas as
Historia ãe Tanger, da vida e a- mais qualidades que tanto a
cções d' el-rei D. João 1° — Henri- ornam (1). No reinado de I). Ma-
queida—Historia de Portugal Res- (1) Jl. Saiié falando da lingua
taurado, e ainda outras somenos, portugueza diz ipie ella csl bclle,
1?, (1014-109!)) e 2? (10:i2-10n0). soHore, nombrcnsc, unissant à Ia
Padke Antonio Vieira, consi- doHCeiir et à Ia souplesse de Ia lau-
derado o maior pregador do seu (Jne iltilieinte. Ia gravite et les cou-
tempo, escreveu :—■ Cartas—Vo- leurs dtí Ia latlne.
zes saudosas—Historia do Futu- A Encyclopédie, cujo testemunho
ro — Sermões, obra de todas a énosempre rauito considerado, diz
seu artigo «Portugal»—Ia lunyue
mais notável que deixou este es- de ee p<ii/s, pleine de doaccnr 2^our
criptor eximio e fecundo, e de les díilcatrsses de l\iniour, ne man-
todos os clássicos o mais aucto- que pas d'élévation- dans les sujeis
rizado, apezar dos seus gongoris- héroiques.
C4
CLÁSSICOS
ria 1,0 duque de Lafões funda, 1829). José Anastacio da Cu-
em 1780, a Academia Ileal das nha — Compêndio de mathemati-
Sciencias, que presta incontes- cas. Era natural de Lisboa (1742-
táveis e importantes serviços ás 1787). PiiANCisro Dias Gomes
letras portuguezas, publicando — Varias composições criticas e ou-
um Rrande numero de obras, e tras. Era natural de Lisboa(1745-
fazendo reimprimir outras, fins 179.5). Ui.timos ;\nnos do Sécu-
DO XVIII SBCÜLO. — (poetas) lo xviii E Começo do xix. —
Pedro Antonio Corrhia (Jah- Entre os poetas d'esta época é
çÃo (O Corydon na Sociedade Francisco Manoel do Nasci-
dos Arcades), clássico estimado, mento o mais celebre (Philinto
foi um dos primeiros reforma- Elysio na Sociedade dos Arca-
dores da literatura portnfçueza. des), comi)oz—Oí?«íí — Satyras—
Cognominaram-no o Horacio Epistolas—Traducção das Fahulas
portuguez. Compoz—Odea, Epís- de La Fontaine e dos Martyres
tolas, Sonetos, Satyras e duas de Chateaubriand. Era natural
peças de theatro: o Novo Thea- de Lisboa (17;!4-181!»). Nicolau
tro, e a AssembUa. Era natural Tolentino de Almeida, compoz
de Lisboa (1724-1773). D. An- —Sonetos— Odes— Epistolas — Sa-
tonio DiNIZ da CllUZ E SlI.VA tyras, nas quaes sobresaem a da
(Elpino Nonacriense na Socie- Ouerra e a dos Amantes. Era na-
dade dos Arcades), cognominado tural de Lisboa (1741-1811). An-
o 1'indaro portuguez, compoz — tonio Riiíeiro dos Santos (Elpi-
Odes heróicas ou pindarieas—llys- noDuriense na SociedadedosAr-
sope, poema heroi-comico — So- cades), compoz— Obras poéticas—
netos—Idyllios e uma comedia in- Odes. Era natural de Massarellos
tit\ilada : o Falso líeroisnío. Era (174.5-1818).IIanoél Maria 1?ah-
natural de Lisboa (1731-1799). nosA Du Hocacíe, compoz todos
Domingos dos Rkis Quita com- os generos de poesia — Eleç/ias,
poz—algumas poesias pastoris e Tragédias, Eglogas; mas em que
a 2? tragédia Castro. Era natural mais sobreleva o seu gênio poé-
de Lisboa (1728-1770). P. Dias tico é no Soneto, em (\ue é consi-
Gomes, também um dos refor- derado i]iimitavel. Era natural
madores da lingua portugueza, de Setúbal i'17().")-l 815). José
compoz—Elegias; mas é estima- Agostinho de Macedo, erudi-
do principalmente como critico. to de uma prodigiosa fecundi-
Era natural de Lisboa (17-1.')- dade e critico estimado, com-
179.5). Tiiomaz Antokio Gonza- poz o Oriente, poema épico,
ga—J/arjYía lyras me- cujoassumptoéo mesmo dos Lu-
lodiosas e de inexcedivel mimode síadas—A Meditação—O Newton
fôrma. Era natural do Porto. e muitas outras obras em verso
(1744-1800).(Peosadokes) Felix e |irosa. Quiz ser o Zoilo de Ca-
d'Avei,IjAK Broteuo—Compên- mões, mas com muito máo gos-
dio de Botanica e a Flora Lusita- to. Era natural de lieja (17Gli
na. Era natural do Tojal (1744- 1831). João Haptista n'ALME—
C5
CLÁSSICOS
DA Garret, uma cias illustra- Tratado de Mnemonica, As Es-
ções da literatura portugueza; tréias e muitas outras, além de di-
cabtí-llie a lionra de ter lançado versas traducções de auctores
os fundamenlos do novo theatro latinos, como Ovidio e Virgílio ;
portuguez. Oompoz entre ou- allemães, como Gictlie; inglezes,
tras obras—Camões, poema épico como Sliakespeare; francezes,
—Dona Branca — Adosinda. As como MoliÈre; hesiianhoes, como
tragédias — Merope — Catão — Cervantes. Enriqueceu as pagi-
Philippa de Vilhena—Oil Vicente nas de muitos jornaes com admi-
— Alfageine. — Dramas — Frei ráveis prosas e poesias, entre as
Luiz de Sousa, sua obra i)rima— quaes avultam a Vida de Ana-
Arco de Sant Anna—Sobrinha do creonte, o artigo acerca do Rapto
Marquez — Viagens na minha ter- da Europa, deMoscho, e a poesia
ra, e muitas outras obras em & morte de I). Pedro v. Colligiu
prosa e verso, obras humorísti- muitas poesias admiraveis que
cas, etc. Seu estylo é puro, na- andavam dispersas, num volume
tural, corrente e quasi sempre intitulado O Outomno,a, que o sr.
original. Era natural do Porto Thomaz Ribeiro chamou «uma
(1709-18.54). Alexandre IIer- primavera com fructosn. Era na-
CULAXO.—Ci)mpoz — Historia de tural de Lisboa (1800-1875). L.
Portugal, obra estimadissima, A. Kebeli.o da SiiiVA—illustre
sapientissima e não menos con- escriptor, estadista e orador,
scienciosa—O Monge de Cister, ro- tendo apenas 18 annos iiublicára
mance historico—Eurico, o Pres- o Cosmorama TJterario, Tomada
bytero—A Abobada — O Parodio de Ceuta e desde então uma se-
da Aldeia, diversos opuscuios rie de conscienciosos estudos
muito interessantes e estimados, que lhe deram um nome im-
e as poesias—A Harpa do Crente mortal na historia dapatria. Es-
— Varias. Era natural de Lisboa creveu os romances líáusso p)or
(1810-1878). Visconde de Casti- liomisio, Odio velho não cança,
lho—eminente poeta, uma das Mocidade de 1). João V, sua co-
grandesgiorias de Portugal neste roa de romancista; Ultima cor-
século; contavalC annos quando rida de touros reaes em Salva-
compoz e publicou a sua pri- terra. Casa dos phantasnías, De
meira poesia — Epicedio na sen- noite todos os gatos são pardos.
tida morte de 1). Maria I, a que se Contos e Lendas, diversas Memo-
seguiram duas outras — Afaus- riaít e Compêndios, Pastos da
tissima exaltação de 1). João VI e Egreja, Historia de Portugal nos
o Tejo, e depois a Liberdade, Car- secuUis XVII e XVIIl, Varões
tas de Eclio e Narciso, a Prima- illustres, Elogio Histórica de I).
vera, Xoite do Castello, Ciúmes Pedro r, os dramas Mocidade
do Bardo, Quadros Históricos de de D. João V, tirado do romance
Portugal, A felicidade pela agri- do mesmo nome, o Infante
cultura, Tratado de Metrificação Santo, e muitas outras publica-
portvgueza, T,eitura repentina, ções e artigos com que enriiiue-
DICC. GRAira. 5
66
CLÁSSICOS - -COGNOMES
ceu joniaes por elle mesmo fun- commum esse phenomeno nas
dados. Era além d'isto um exí- linguas primitivas, em que a in-
mio orador parlamentar que tonação é um meio poderoso de
chegava a dominar o auditorio expressividade. No portuguez a
com a sua nobre palavra sempre coalescencia das vogaes tem
colorida e em torrente suavís- exemplos nas contracções: á, por
sima. Era natural de Lisboa aa; ó, antigo, por ao; má, por
(1828-1871)... maa;fé, por/i?«; avô, por amo; ler,
pôr leer etc. Como instrumento
Classificação. — Parte da de expressão, a coalescencia não
grammatíca em que se dispõem tem exemplos nas linguas mo-
as palavras segundo classes ou dernas, anão ser nas interjeições,
grupos. Também denominada como ah! oli! cujo sentido depen-
Taxinomia. V. esta palavra. A de da intonação, e é um jjouoo
classificação no domínio especial ad libitum; conforme o tom, po-
da syntaxe, isto é, da phrase, es- dem indicar varias emoções.
tuda-se na Analyse lógica ( V. Pro-
posições) . Coffuatos. — São termos dos
Claustilas. — São membros quaes um é derivado do outro :
da sentença, quando em con- pedra e pedreiro; choro, chorar,
nexão tão intima, que um de- choramingar; vicio, vicioso, viciar.
pende do outro e até o modifica. Alguns só applicam a denomina-
São tres as clausulas subordina- ção aos derivados de verbos (te-
das— substantiva, adjectiva e ad- nente, doente, replica, demora).
verbial, conforme (em sua relação
com o resto da sentença) eqüiva- Coffuomes. — São os sobre-
lem a um substantivo, adjectivo nomes usados pelas pessoas : Sil-
ou advérbio. A substantiva pôde va, Bastos, Pereira, etc. Etymo-
ser sujeito ou objecto do verbo de logicamente, os cognomes por-
clausula principal, ou ainda ad- tuguezes na maioria represen-
juncto attributívo d'esse sujeito tam nomes de vegetaes e animaes
ou objecto. Começa quasi sem- (Lobo, Carvalho, Oliveira, Pe-
pre pela preposição de ou por pa- reira), ou locaes (Guimarães,
lavra interrogativa, ou ainda pela Dantas, etc.). O cognome forma-
conjuncção que, muitas vezes se do pronome, quando ha deno-
omittidas pelos clássicos, prin- minação de patronymico: Perez
cipalmente com os verbos pare- Ennts, Antunes, Marques, Ilenri-
cer, precisar, etc. (P. Júnior). ques, Rodrigues, Martins, de Pe-
dro, João, Antonio, Marco, Hen-
Gliiiia. — Yide Mesologia. rique, Rodrigo, Martinho, etc.
Os portuguezes e hesjjanhóes
Coalescencia.—Denomina- usam de vários nomes. Os roma-
ção dada á progressão de in- nos livres tinliam apenas tres
tensidade em qualquer valor nomes: o jirenome (proprio), o
phonetico, puro, vogai. É muito nome da familia, gens, e o sobre-
67
COQNOMES -COMMÜNS
nome, que indicava a casa ou noções confundem-se com as
linhagem, v. g.: Marco Tullio cousas que constituem o genero
Ciceio, Publio Virgílio Maro. ou a família. Cavallo é qualquer
Nos primeiros tempos, os roma- animal do genero ; ouro é qual-
nos apenas tinham dons nomes: quer porção d'esse mineral. No
Numa Pompilio, Anco Mareio. emtanto, ha certas noções que
Vide Prenomea. são inseparáveis de um indiví-
duo único : omnípotencía, omní-
Collectivos. — Vide Com- sciencia, noções referentes a
mum (nome). Deus. Entre os nomes communs
ha duas classes dignas de nota :
CoUisão. — Vicio da phrase lí Os collectivos. 2'.' Os abstractos.
que consiste na reproducção e Os abstractos representam noções
frequencia dos mesmos valores de qualidade, acção ou estado.
phoneticos. CoUisão de rr: A E.v.: solidez, lucta, somno, do-
terrúel carreira da guerra. CoUi- ença. Como as artes e as scien-
são de ss (muito mais desagradá- cias representam processos do
vel naprosodia de Portugal); As pensamento ou da actividade,
longas azas azues. CoUisão de II: os seus nomes são abstractos:
Longe, além, a lampada alumia geologia, pintura, gravura, poe-
...etc. São propriamente vicios sia ... Todo o nome abstracto é
de estylo e podem tornar-se, em commum. O abstracto sendo a
certos casos, elementos proprios noção separada (abstracta, tirada
para a pintura das cousas, jjara fóra) do ser, não pckle incluir
a harmonia imitativa e onoma- indivíduo especial, concreto.
topca. O primeiro verso dos Lu- Pc)de-se todavia usar do abstra-
síadas parece a miiitos vicioso, cto pelo concreto : a sciencia al-
por causa da collisão de ss fi- leinã,' pelos sábios allemães; a
naes: As armas e os barões assi- christandade, a juventude, por-
gnalados. Vicios semelhantes são os chrístãos, os moços, etc. (1)
os eehos, cacophatos, equívocos (ca- Os COLLECTIVOS são palavras que
limburs), etc. no singular exprimem uma por-
Collocação (dos pronomes). ção de cousas óu de indivíduos.
— Vide Pronomes. Em geral, O collectivo representa um
também se refere a Ordem, In- ral logico, apenas expresso na
versão (hyperbaton), Construcção, ídéa: multidão (muitos indiví-
Concordância. duos). Os collectivos são indistin-
ctos quando se applicam a qual-
Coinbiiiaçõe.s (de prono- quer grupo de seres. Ex.: multi-
mes).—Vide Pronomes. dão, porção, cliusma, etc. Ha,
collectivos dístinctamente appli-
C01111UU11.S.—Classe de sub- caveis a certos grupos anímaes
stantivos que exprimem idéas e humanos : (Jrupos humanos—
genericas, isto é, que podem
convir a vários indivíduos. Essas (1) Mason—.-1 shortcr Gramm.
08
COMMUNS — COMPLEMENTO
turba, junta (tlieologos) ; con- Comparação. — Vide Me-
gresso (sábios, letrados) ; roda, thodo comparativo.
parlamento, circulo, regimento,
terço, pelotão, divisão, corpo, Comparativos. — Vide
exercito, collegio, familia, ba- Oráo.
talhão, tribu, manga (de arca-
buzeiros), súcia (pejor.), con- Complemento. — A noção
selho, assembléa, mourama de complementos, própria do
(mouros), corja (pejorativo), fra- antigo methodo de analyse, eqüi-
daria, rancho, rapazio, mulhe- vale á actual de ad.jünctos, se-
rio, troço, genteada, gentio, gundo o methodo explicado e
etc. Grupos animaea (e por ironia vulgarizado por Mason. Vide Pro-
ás vezes de seres humanos) : posições. Em alguns casos, o co?n-
aves, bando; insectos, enxame, representa o objecto, com-
myriaãa; bois, boiada, manada ; pletivo, etc. Pôde haver caso
peixes, cardume, cambada; ca- de duplos complementos e de di-
melos, r«cMa, cafila; lobos, aZca- versa regencia com o mesmo
íea ; cabras,; porcos, vara, verbo ? Eis o que acerca d'esta
manada ; ovelhas, rebanho ; cães, questão escreve o illustre phi-
canzoada, matilJia ; burros, hurri- lologo Mario Barreto : «No ca-
cada, traria; cavallos, tropa, pitulo da Regencia formulam as
récua, etc. Grupo de cousas: nossas grammaticas portuguezas
corja (sedas), dinheirama, pala- uma regra que prohibe dar a
vreado, algaravia, gritaria, pape- dois ou mais verbos um comple-
lada, pancadaria, courama, gai- mento commum, se pedem elles
tada. cordoalha e oordame, bra- complementos de natureza dif-
zido, taboada, tourada, vasi- ferente : o filho estima e obede-
lhame, vozeria, velame, massa- ce-lhe : conheço e gosto d'aquella
gada, chusma, chumaço, cachei- mulher , assisti e applaudi o es-
rada, paulada, etc. Cumpre pectaculo. Rodrigues Lobo, Viei-
notar que existe o processo de ra e Oamillo infringiram a regra,
coUectivos por derivação, e são quando escreveram : «Se nisto
innumeraveis os typos d'esse que me ouviste, achas alguma
genero : boiada (de boi), canzoada coisa que te contente, e queres
(de cão), já citados, teclada, voze- ir commigo, pois é já larde, te
ria, gritaria, porcaria, falatorio, iiospedarei na minha cabana, na
laranjal, bananal, olivedo, arvo- qual podes entrar sem temor,
redo. dormir sem perigo e sair sem
saudade.» (Francisco Rodrigues
Coinmum de dois. — Ex- Lobo—O pastor peregrino, pag.
pressão consagrada para desi- 20.) «Muito bom é que vossa ex-
gnar os nomes que indicam, cellencia chame vingança ao
sem variação, os dous sexos e silencio, com que eu recebi, e
generos ; consorte, complice, côn- me conformei como meu castigo.
juge, martyr. (P. Antonio Vieira—Apiid Cal-
69
COMPLKMENTO — COMPOSTOS
das Aiilcte, (hdmm. Nacional, Coiuposto.s. — Os processos
pag. 110.) »ü visconde jiostára de composição no portuguez de-
espias 110 Rocio paraespi-citarem finem-se segundo duas direcções
as pessoas que entraram e saíam preponderantes: Ponri{EB'ixos
do hotel dos Irmãos Unidos. —Formam-se os neologismos de
Esta asneira define satisfacto- palavras precedidas de partículas:
riamente a policia e o visconde. de ver, prever ; de dizer, redizer,
Fossem líí conhecer Constan- contradizer, etc. (Vide Prefixos).
tino entre quatrocentas pessoas, 2? PoK juxT.iPoaiçÃo. — Vocá-
que entram e saem ífaquelle bulos aprincipio independentes,
areoiiago....» (Camillo Castello reunem-se e formam novas pa-
Branco — Vingança, cai). XV, hivras : heija-flór, hem-te-vi, saca-
pag. 152). Todos esses e.xemplos rolhas. As vezes, sobretudo nas
são errados, devem-se corrigir, formações antigas, a ju.xtaposi-
mudando-se a construcção da ção é tão perfeita que só a ana-
phrase, dando-se a cada verbo o lyse revehi as partes componen-
complemento que lhe convém : tes. Tal ó a juxtaposição dos
o filho estima-o e obedece-lhe : tres elementos de punãonor,
coiiheço aquella mulher e gosto pun -f-d'onor, no francez
d'ella ; assisti ao espectaculo e o point d'honneur. Os compostos são
applaudi....; na qual p()des dor- ou originados da própria língua
mir sem perigo e da qual podes (vae-vem) ,ou de linguas estranhas
sair sem saudade...; com que (estibordo, de steuer, leme, e horã),
recebi o meu castigo, e me con- ou jií vieram completamente for-
formei com elle ; as pessoas que mados do latim : solsticio (sol-
entravam no hotel e saíam sticium, de sol e stare). || Elemento
d'elle. O mesmo se observa na latino. No latim éde rigor notar
lingua franceza, onde são incor- que ha duas classes de compos
rectas phrases como a seguinte ; tos, os syntacticos e os asyntacti-
«11 attaqua et a'empara de Ia cos. OsprimeiroscontÊm elemen
ville», porque se diz : «attaquer tos que mantêm entre si a su-
une ville, s'emparer (rune ville.» bordinação grammatical : repu-
Esta regra, idêntica nas duas blica, genitivo reipublien ; jusju-
linguas irmans, não é uma regra randum e jurisjurandi, etc. São
arbitraria, nem artificial. Porque syntacticos pela origem : rosma-
não podemos dizer—eu estimo e quare; ninho, rosmarinus; ardi. car,
oledeço-lhe? com elemento de ac-
cusativo, cireumdar(c\vc\xm, acc.
ãfí circus), etc. Com genitivo:
Ooiiipletivo. — Vide Propo- aciueduclo, aquivductus; arch.
sições. lunes, lunace dies; arch. mer-
coles, mercurii dies, etc. Com
Complexos (proposição, su- o dativo: fideicommisso, fidei-
jeito, etc.) — Vide Proposição commissum; crucifixo, erucifi-
(analyse). xiis. Com o ablativo : hoje, ho-
70
COMPOSTOS
die, Jiuc die. Referir, refert; A) kvestnu., avU-struthio ;
usurpar, usuripare (ripare, ra- pedra-pomes; raba-vento; lobis-
com vestígios de locativo : homem, lobis, lupum; cappa-
•prim.0,primus; pri, loc. de pelle (Elue. Vit.) ; dia-noite,
Com vestígios do instrumental (id.); pimpollio, pampano-o\\\o ;
em a dos elementos circa, intra, sanguesuga ; gallioanto ; mano-
contra, extra, ultra, infra, supra, bra, man, manum ; quartel-mes-
que entram na composição de tre ; beija-ílòr ; madreperola ;
muitos vocábulos : supradito, madresilva ; mordomo, lat. ma-
ultramar, contradicção, etc. O ítomAí (maior da casa) ; ferro-
instrumental por vezes traz a carril ; condestavel, romes stabu-
terminaçilo transformada em fo'; fidalgo, fi ('/iyo, filho) d'algo
contro, intro, retro : retroceder (alguém); artimanha, fartem ma-
introduzir, etc. Convém obser- gicam ?J ; v&vàpáo ■, pernilongo ;
var que a alteraç.ão phoneticade- ponteagudo (ponta): le-perjiiro
stróe as fiexões, e assim a analo- (Eluc. Vit.) ; barbiruiva ; ca-
gía; proconsul, em vez de pro bisbaixo, cabis, caput; manal-
cónsule; o adj. egregius, por e vo, man, ; viandante, vi,
grege ; iimgnis, por Í7i signo ; oh- fementir, fé-/ííteíi ,• logar-
vius, por '>b viain; naufragium, tenente; manietar, atar, ligar;
por nams fragium, etc. São metermentes (Eluc. analogo a
asyntaclicos pela origem latina, animadvertere); terrapleno ; sal-
além de vários outros, os seguin- pimentar ; manter, mana tenere ;
tes: biforme, hiformis; centi- carcomer, car, carne; faz-alvo
mano, centimanus ; equilíbrio, {Eluc.) faz=;face,; olhl-
aguilibrium; m-.v^wMÚmo, magn- negro; vangloria; longa mira,
animus ; mediterrâneo, medi-ter- mirar, v8r ; salvaguarda ; perde-
raneus ; pamipede, pulmi-2yes ; ganha ; belladona ; rico-homem;
funambulo,/M)i«»iiwÍM,'(,-fratrici- malversação; meio-dia; malgra-
da, homicida, etc. (de cedo); edi- do ; gran-vizir ; planalto ; gran-
flcar (mdis, casa) ; os compostos mestre ; gentil-homem ; abetar-
fero (vociferar), gero (tlammi- da, avis tarda ; betafda, id.; pin-,
gero) , vomo (ignivomo ; ignis, ta-rôxo; vinagre, vin'acrem; mor-
(fogo) (l),í'«»«s,raça(primigeno), cego, muremco-.cum, muricêgo;
potens, poderoso (bellipotente, verdegaio, fr. gai, alegre ; turba
bellum, guerra), etc. Vae em se- multa, multua, lat. muito ; sem-
guida uma lista de compostos razão ; semsaboria, catavento ;
assimilados ou não, sem ordem sobremesa, fidalgo ; aguardente;
determinada. Fazemos a analyse rabicurto. B) Nos nomes pro-
sómentedos que não forem im- íjto.* a composição tem muitos
mediatamente comprehensiveis; exemplos, quer tenham fácil
evidencia ou estejam deforma-
(1) Nos verbos ha as partes/ca- dos pela, alteraçao phonetica :
Te, \)ov fiicere ; ri[)are—rapere ; te- Murianna (Maria Aiina), Gil-ia-
rare—ferre, etc. nes (Gil Eannes) ; Santarém
71
COMPOSTOS
(Sanflrene); Tiago (saii-i-IaRo); numero de termos com o verbo
Fonseca (Foii-te seca); Alemte- porter: porte-plume, etc. Essa
jo, Ribatejo, Penafiel, etc. Nos tendencía de limitação também
nom(!S geogiiiphicos cio Brasil se aprecia no portuguez : assim,
não ha outro processo senão o sobre o typo artimanha (artem-
da composição dos elementos magicam) formou-se yatimanha.
tupis : Itaj)uã, pedra redonda ; O elemento hora prestou-se ils
Ara-cajn (abundancia de cajus), formações embora (em boa hora),
etc. C) Das palavras que for- agora (1. hac hora), aramã (ant.
mam a trama frrammatical dei- hora mií). Não é somente sob
xamos de notar os oom))ostos esse aspecto que realça a utili-
como os determinativos e partí- dade d'essa analyse. Por ella
culas : agora (hnc hora), algum ainda recebemos uma comprova-
(algo-um. aliq^wium), ele. A ção de que o accusativo foi o
composição d'esses vocábulos caso latino que generalizou-se e
sení estudada em cada uma serviu de estádio íntermedio íís
das categorias a que pertencem. formas recentes. Com elfeito,
D) Os compostos que se formam assim o testemunha a presenço,"
dé elementos de línguas diffe- do r em morcego (murem coecuma
rentes (como o grego com o e marmota (murem montis). É
latim. V. pliottígrmura) cha- evidente ahi que o r não poderia
mam-see d'eUes tra- provir do caso nominativo mm.
taremos no logar apropriado. E) Ainda opera-se a composição de
«O passo choreographico conhe- vocábulos com inteira inconsci-
cido por Varsoviana (de Varso- encia do significado de certos
via) foi pelo povo assimilado em elementos alíiis existentes na
talua tianna. Foi ainda a analo- lingua ; assim foi queadoptamos
gia quem traduziu claire-voie as formações italianas nwnte-pio,
por claraboia, a palavra hoia não monte-soccorro, esq uecen d o-n os
podendo, pelas leis phonicas da de que monte na lingua italiana
península, ^derivar-se de via designa o estabelecimento ban-
(clara via). K por esse processo cario. Ahí a palavra monte pela
que vemos ser ciiptirima com- transcripção adquiriu em nossa
posta não de capa e rosa, mas língua novo significado. Por um
sim do germânico kupferanche modo inverso é que, sem adian-
(cinza de cobre), segundo Littré. tar significação organicamente
No composto balança romana, decisiva, adoptámos as formas
o segundo eiemento não é o ad- estranhas, comoUnga-lenga (hes-
jectivo que parece, mas sim ro- panhol), •Arc\vA,\ao julavento (giu-
mana, arabe, que significa peso la-vento), belladona, Ji-d-algo, etc.
e contrapeso. Conví^m notar Nesta categoria têm logar os com-
ainda a restricção de vocábulos postos de b, signal orthographi-
aptos para a agglutinação ou co musical, bemol, bequadro, e
juxtaposição. como succedeu ao ainda o castelhano antojos (ojos-
francez, que compoz um sem olhos). Merece especial memória
72
COMPOSTOS
a uístrusíio de especimens léxi- ker (church), mare (égua), ge-
cos france/.es motivados pelo do- refa, etc. O processo originário
mínio da casa de Borgonha nos portuguez manifesta-se perfeita-
primeiros tempos da monarchia mente agglulinante em benzer
lusitana; apontemos guardanapo (bene-dicere), amparar (manu-
(fr. nappe), verdeyaio (ir. gai), parare), mmrdomo (maj o r-d om us),
e mais modernamente charcute- mandobre (a duas mãos), pimpo-
ria (chaircuite). Comqiianto seja Iho (pampano-olho), salitre (sal-
um facto de syntaxe romanica, nitrum), pedrahume (petra alu-
conjecturamos que sobretudo lí men), vinagre (vinum acrem),
influencia franceza devemos os ourives (auri-ficem), ouropel (au-
compostos pronominaes menino ri-pellem), morgado (major-gna-
(meu nino), mossém (arch. meu tus), enteado (ante-iuitus), mal-
senhor), e provavelmente zaado- lograr (mal-lucrar), mascavo (me-
na (mulher livre), segundo as nos-acabado), abetarda (avem
analogias francezas monsitur, ma- tardam), cabisbaixo (caput bas-
danie. Quanto ao dominio das sum), abestruz (avis struthio),
■ línguas neo-latinas, quasi sem- condestavel (comes-stabuli), ros-
pre se p(5de estatuir a i)roceden- nmninho (tos marinus), sassafràz
cia de um ou outro vocábulo (saxi-fraga), lampreia (lampetra
pela simples inspecção. Assim, cf. fr. lamproíe), acompanhar
por exemplo, a preposição stib ant. compengar, cuni-paniare),
se nos assignala pelo hespanhol Jísmto (bis coctus), calamina(\%.
sob a tórma no, como em socapa, gíalla-mina), bismutlio (weiss-
sopapo (debaixo do queixo) (1). muth, branco desmaiado), mala-
Nos compostos italianos,a forma ria (ital. mararia), acebo (aqui-
de svb é soto e encontramol-a em foiium), trevo (trifolium), xo-
sotopor, sotovento, etc. Os produ- frango (ossí fraga) acahrunhar
ctos de formação germanica já (caput-pronare), apear (de a. pé),
têm sido estudados no que re- samhenito (de saco benito), san-
speita ao francez e portanto em íetoio (Sant'Ermo, Erasmo), ma-
geral ás línguas romanas. Apon- riposa (^man y posaV averiguar
temos aquelles em que se deu mai- (verum collare), corucheu (fr.
or agglutinação e deformidade : courechief, toucado), vesgo (biso-
arcabuz, haken butte ; albergue, culus), petipé (fr. petit pied),
heri berga; kermesse, kermiss apaniguar (puiiis-J-aqua),potassa
(liam.); marechal, Mare-Schalk; (pot-ashes), etc. 1| Outra allu-
xerife, Scir gerefa (saxonio). vião de compostos entrou na
Os exemplos bastam para a faoil língua portugueza por intermé-
intelligencia dos que conhecem dio das línguas semíticas, no-
a língua iiigleza, onde ainda se meadamente pelo arabe. Exem-
encontram os mesmos radicaes plos : azar, az lahr, dado de jo-
gar; azarcão, azzirai cür, côr au-
(1) Podem ser fôrmas vernáculas rea; bemjoím, laban Jauin, incen-
dentro dos limites da phonetica. so de Java; masmorra, mats-mora.
73
COMPOSTOS COMPREHENSÃO
cova subterrea; hosaniia, liosah- taire, a orthographia de oi e ai
nâ, salve, Ilcbr.; alleluia, llal- não estava fixada. — Contraãança,
lelu-Iah, louvae a Deus 11. , l)a- mais correcto seria contredança,
tnca, abú-taka, o pao ila janella. A f(5rma primitiva é cnuntry-
E de interesse IGr-se em ^lax dance no inglez, dança do paiz.
Müller a explicação da etymo- — Santafolha, de centifoUum; a
logia de jíjateca. Veio através do forma santa foi devida lí inlluen-
arabe o vocábulo julepo. do persa cia de alguma virtude da planta.
jul-ah (agua de rosas).Os C0mi)0s- —Mono (bugio), der. do femini-
tos mexicanos são numerosissi- no mona, contracção de madona.
mos. Alingua americana deu-nos Designação italiana (Sayce). —
chocolate, úe kalah huntl. [[Agora Anupeçada veio pelo francez ans-
(í tempo de analj-sar uma nova pessade, do italiano landa spez-
concepção dos compostos. As zata. O l caiu naturalmente por
desviações morphicas e phonicas se ter supposto um artigo no
produzidas pela inconsciencia francez. Barba ejambarba.
popular constituem phenomenos A palavra procede de jovübarba.
teratologicos, de que ensaiare- O povo não fez mais do que as-'
mos algumas explicações. Tiago, similal-a a typos ,vernáculos.
nome proprio. A forma conecta Santarém (cidade). K conhecida
seria lafjo, por isso que o t é um a corrupção dos nomes próprios
vestigio do composto Sant'Iago. e as deformações que soffrem.
A ra/.ão da permanencia do t ex- Santarém deriva de Sant'lliren-
plica-se pela existencia do quali- nia, da mesma fórnia que Santi-
ficai ivo abreviado San. (]ueobli- Uiana origina-se de Saneta Ju-
terou a letra final que lhe per- lianna. Malcaisco. Chegamos a um
tencia.— Tamarinão e não tama- caso digno de interesse. No fran-
rinho. Essa sufíixação anormal cez e portuguez operou-se ahi a
explica-se, visto como a palavra inversão dos elementos forma-
é um composto introduzido no tivos; Idbiscus malva, guimau-
occidente. TamaraU-lUndi. —• ve: malva hibiscus, malvaisco.'
Tramontana. A palavra é italica A razão é talvez a de no portu-
e é'o designativo da estrella po- guez o elemento malva por ante-
lar que, para os pilotos genove- rioridado preceder outros com-
zes e venezianos, os primeiros da postos, como malta-maçã, etc. A
edade média, brilhava além da nossa conjectura funda-se em
linha orographica central da Eu- exemplos similares. Pundonor,
ropa. Tramontana extensivamen- composto de pun<Vonor, no fr.
te começou a designar o norte ; point d'lionneur.
d'ahi a expressão ; perder a tra-
montana. A forma portugueza, Coiupreheusão.—Termo de
se existisse, seria traz-montana. lógica. A comprehensão do vo-
— Ohoé é uma maneira ortho- cábulo resulta da extensão, e
griphica de haut bois. Como se está em proporção inversa d'esta.
sabe, no franoez. antes de Vol- Quanto maior fôr a extensão do
74
COMPRKHENSÃO CONCORDÂNCIA
vocábulo, menor é a sua com- curso (1). «Denomina-se concor-
preliensão. Assim, animal ó mais dância a correspondência de
comprehensivo ilo que s«r ,■ flexões, i. é, a maneira de
porque este, mais extenso, appli- relacionar as palavras umas
ca-se a maior numero de cousas. com as outras, segundo as re-
Oanallo 6 mais comprehensivo do gras da syntaxe. Distinguem-se
que animal; Incitatus (nome do diversas concordâncias : a do
cavallo de Caligula) é mais com- verbo com o sujeito, em numero
prehensivo do que eavallo. Astro e V'*^ssoa ; a do adjectivo com o
é um nome obscuro, pouco com- substantivo, a do sujeito com o
prehensivo por ter muita exten- attributo e a do relativo com o
são, isto é. applicar-se a vá- seu antecedente, em genero e
rios seres ; lua é menos extenso numero ; a da resposta com a
6 por consejjuinte de maior com- pergunta e a dos nomes appos-
prehensão. tos ou continuados, em identi-
dade de circumstancias ou rela-
Concaiii.—Linguada índia, ções. Estas relações de concor-
pouco divergente do Maratlia, e dância são indicadas ou pelas
diaiecto do lündi, da famiiia posições, ou pelas terminações
aryana. Hoje está muito mistu- das palavras que as exprimem.
rada de portuguez, do qual Exemplos das diversas concor-
recebeu notoria influencia. Na dâncias : Do VBinio com o sü-
região do concani, a lingua es- JBITO : — o nascimento em todos
criptaé prefeVidamente o portu- é iffual, as obras fazem os homens
guez. ApiilavrapíííreíTO, já notada differentes. Veja Sujeito. Quando
por Thomaz Ribeiro, talvez se o collectivo geral é seguido de
ligue ao pitã (beber), do con- um substantivo no plural que
cani (cf. 1. potare). As palavras determina o sentido, e ao qual
portuguezas adoptadas no con- está ligado pela preposição de,
cani soffreram modificações pro- estando este plural comprehen-
sodicas importantes ; boiílo, dido no singular, como a espe-
boyanva; christão, cristanva; co- cie no genero, o adjectivo e o
lher, colhera ; leilão, leilanva ; verbo concordam com o colle-
tabaco, tabacú. No concani ctivo, e não com o substantivo do
encontram-se vários radicaes plural : exemplo : o exercito dos
do arj-aco occidental : tappy, infiéis foi derrotado ; a junta dos
diminutivo de tappata, bofetada, médicos approvou o relatorio.
tapa cf. Quando o collectivo geral vem
s(), ou seguido de um substan-
Coiiclu-sivas. — Vide Oon-
juncçõen. (1) Sendo olijectd de mais demo-
rada consideração, aconselho ao
Coiicordaucia. — Relação leitor <pie leia o que escrevi na
lógica ou material que existe ultima ed. da Grammalica por-
entre as partes variaveis do dis- tiujwzíi (Curso Superior).
75
CONCORDÂNCIA
tivo no siiifíiilar, o adjectivo e o vós sereis estimado, se fordes in-
verbo podem concordar com o struido. Nós abaixo assignado, di-
collectivo no singular, ou con- rector da alfandega de... etc-
cordar no plural com todos os Quando se emprega vós falando
indivíduos comprehendidos na a uma só pessoa, segue-se a
collecçuo. Exemplos: Jimia con- mesma regra. Exemplos : vós sois-
corrido miíUa yenU que parecia um verdadeiro amigo. Vós ficastes
pobre ou pareciam pobres. Come- abandonada, ilas é raro empre-
çou a quebrantar o povo, com di- gar-se este pronome na conver-
■cersos gramnus, tirando-llie as sação ou no estylo epistolar:
fortunas, para melhor o dominar freqüentemente se usa da ü? pes-
Úmidos e sujeitos. A maior parte soa do singular, se falamos a
d'esta misera gente dorme ou uma só pessoa, e da 3Í do plu-
dormem no chão. Ditosa gente que ral, se a mais de uma, empre-
não e maltratada ou que jião são gando, em vez do sujeito vós, o-
maltratados de ciúmes. E gente sr., a sr?, ossrs., as srí®, v. sí, v.
cega (1), nem a estimo ou os estimo, sí'^, V. ex®, v. ex?"* etc. Sendo o
nem serve ou servem para cousa pronome vós complemento di-
alguma. Quando o collectivo recto, emprega-se usualmente
partitivo do singular c scffuido alguma das variações—o, a, os,
d'um substantivo no plural, ao as,—ou algum dos precedentes
qual está ligado pela preposição tratamentos—o sr., asnr?, etc.;
de, acliando-se o singular com- V. g.; saia para que o não vejam.
prehendido no plural, como a Nós a acompanharemos, minha
parte no todo, o adjectivo e o senhora, ou—nós acompanha-
verbo devem ir ao plural. Exem- remos a lletirem^se antes que
plo ; estavam juntos alli uma infini- os vejam, ou—que as vejam, ou—
dade de homens ; uma multidão de que vejam os snrs., as snr')^, a v.
fogueiras, que de continuo ardiam, a V. ea?"* Sendo comple-
allumiavam a fumaça da polvora. mento terminativo, emprega-se
Concordância do adjectivo alguma das variações—lhe, lhe»
COM o SUBSTANTIVO : — OS passa- — pelos ditos tratamentos, ou
tempos hão de ser raros, honestos e estes, regidos da preposição a ;
tão comedidos que a temperada (2) V. g.: digo-lhe ou digo-lhes com
musica da honestn vida se não des- franqueza... O que lhes digo é
tempere. Mas (luandoospronomes verdade, ou — o que digo aos snrs.,
nós, vós, só representarem uma a V. a V. é verdade. Nos
pessoa, o adjectivo colloca-se no tempos compostos dos verbos,
singular. Exemplos : meu filho, auxiliados pelos irregulares—ter
ou haver, ú o participio invariá-
(1) Povo ignorante, sem couta vel, (juer o verbo esteja na voz
nem respeito. activa, ou seja pronominal ; v.
(2) A regra é appiicavei ao ar- oslivrosque tenho (ou hei) lido;
tigo, e ao ]>articipio quando va- as casas que tu tens (ou has) eoin-
riavel. praão; se ellas houvessem (ou ti-
70
CONCORDÂNCIA
vessem) pensado; se nós nos ti- plo seguinte : os moveis, e nlo as
véssemos (ou nos liüiivcssemos) casas, foram penhorados pelo cre-
lembrado, etc. Jlas, se aos auxi- dor; porque, neste caso, o sub-
liares ter ou haver se seguir o stantivo mais proximo do par-
participio sido, a voz é i)assiva, e ticipio é excluido da affirmação
então o participio perfeito con- pela partícula negativa—não. Se
cordará com o sujeito da oração ; concorrer um substantivo do
V. g.: elle tem sido estimado; ellas plural com outro do singular, o
têm sido muito estimadas. Se con- adjectivo, cm regra, concordará
correrem dois ou mais substan- com o do plural ; exemplo: as
tivos do singular e de genero fazendas e o dinheiro eram muitas.
diirei'ente, o adjectivo concor- Não são nossos 2Mderes e liberdade
dará com elles no plural e na tão limitados. Encontram-se nos
fôrma do genero masculino. clássicos excepções a esta regra ;
E.Kemplos : o marido e a mulher v. g.: era muito o dinheiro e as
ambos são generosos ; um dia e uma fazendas; acaso porciue deva
noite eram ^lassados. Notou o arce- concordar o adjectivo com o sub-
bispo que o manteo e a roupeta que stantivo mais proximo, se na
(o clérigo) trazia, além de rotos, collocação os precede. Nem sem-
estavam no ultimo fio de velhos e pre têm os clássicos observado
gastados. Quando um adjectivo esta regra : é portanto melhor,
se refere a muitos substantivos para satisfazer á euphonia, evi-
do mesmo genero e numero, tar a reunião de substantivos de
concorda em genero, mas vae ao genero e de numero dilTerentes,
plural ; v. g.: pae e filho honra- ou dar !> cada um seu adjectivo
dos ; mãe e filha formosas. Sendo, liarticular ; v. g.: os dinheiros
porém, os substantivos de signi- eram aviUtados e a fazenda muita;
ficação semelhante, o adjectivo ou antes empregar um adjectivo
concorda com o ultimo ; e.xem- uniforme para que este possa
plo : não nas bonanças mas na concordar simultaneamente com
adversidade se conhece o amor e a os dois substantivos : v. g.:
amizade verdadeira, ou a amizade as fazendas e o dinheiro eram im-
e o amor verdadeiro. Se concor- portantes, consideráveis. lÂções,
rerem muitos substantivos do discursos e conferências breves.
plural e de genero dilferente, o Quando os adjectivos ou os par-
adjectivo concordará com o mais ticipios- precedem os substanti-
proximo; exemplo : seus temores vos Majestade, AUeza, Eminência
e esperanças eram vãs, ou eram Excellencia Senhoria, Mercê, etc.,
vãos seus temores e esperanças. concordam com estas palavras em
Paris tem bonitas ruas e passeios; genero e numero, v. g.: sua ou
vimos casas e jtalacios derrubados. vossa Alteza, suas ou vossasAl-
Algumas vezes, comtudo, o ad- tezas ; vossa real Majestade; mas
jectivo ou o participio concorda se os substantivos forem segui-
no plural com o substantivo dos de adjectivos, de pronomes
mais afastado, como no exem- ou de participios, estes concor-
77
CONCORDÂNCIA - - CONDICIONAL
dam em geuero e numero, não adjectivos com o genero e nu-
com estes substantivos, mas mero de seus substantivos, e as
com a pessoa ou as pessoas a terminações dos verbos com o
quem se dá estes titulos; v. g.; numero e pessoa de seus sujei-
vossa AUeza é caritativo, se é a tos.» (Do Escoliaste portuyuez).
um homem que se fala, carita-
tira, se é a uma senhora; tossa Coiicor<liiiite.s. — Dizem-se
Eminência está convencido ; vossa as palavras cuja relação de iden-
Mercê (1) é honrado ou honrada, tidade mostra que as idéas,
segundo o sexo da pessoa a quem expressas por umas, se harmo-
se fala. Com o nome pessoa, o nizam com as que outras signi-
adjectivo e o participio collo- ficam : esta relação c mais ou
cam-se sempre na forma femi- menos evidenciada pelas termi-
nina., qualquer que seja o sexo nações e pelas posições. São con-
a que pertença ; v. g.: este su- cordantes o adjectivo com o sub-
jeito é pessoa minha conhecida; é stantivo ; o verbo e o attributo
pessoa muito estimada essefunccio- com o sujeito; o relativo com o
nario. Concoudakcia do su- seu antecedente ; os àppostos ou
jeito COM O SEU AD,IECTIVO continuados com os nomes a que
ATTiiiiiUTiA-o fora dos casos refe- se appõem, etc.
ridos : — o mão exemplo é conta-
gioso ; toda a affectaç.ão é ridicula; Concordar. — Diz-se em
os bons amigos são raros ; as gran- grammatica todas as vezes que,
des dores são mudas. Co>'COKDAX- compondo ou analysando qual-
CIA 1)0 RELATIVO COM O SEU quer oração, período ou dis-
astecedi:nte —falei com o su- curso, attendemos á disposição
jeito. o qual (sujeito) me disse ser terminativa das palavras varia-
aquellaavoz, que (a qual \'oy.)nós veis, subordinando-as ás regras
aliviamos. Concoudancia da harmônicas da concordância e
BESrOSTA COM A PERGUNTA— da regência. Veja estes artigos.
d'onde vens f de Lisboa; a quem
serves ? a Deus ; com que contas J Concreto, a.—Em opposi-
com a sua clemencia; porque a çãoá palavra abstracto, diz-se con-
estimas f porque é virtuosa. CoN- creta a qualidade considerada
CORDANOIA nos AI"I'()STOS OU num sujeito. A avareza em con-
CONTINUADOS : — a idéa, esse creto, isto é, unida ao sujeito,
verbo creador ; empréstimos, ruina vale tanto como o avarento.
dos Estados ; 8ara, mulher do
Abrahão... ])i/.-se de concor- Condicional.—Modo iiue
dância a synta.\e que ensina a exprime condição dependente
conformar as terminações dos de qualquer clausula. A flexão
do condicional não a possuia o
(H Por abreviatura ou eoirupção latim ; é original das linguas
das (luas palavia.s, dizeiu alguns romanas e produziu-se pela
Vocemccé. agglul inação do verbo haver :
78
CONDICIONAL • -CONJUNCÇÃO
Amar-ia, por amar-hama, amare CON.IUNCTIVA é a conjuncção
liabebat. Os elementos componen- composta de mais de um vocá-
tes aiiidu se desapgregam no caso bulo : ainda que, comtanto que,
da tmese: far-íe-ia.amar-nos-iam. pior conseguinte. A fôrma em
A funcção do condicional pôde mente : conseguintemente, é verda-
ainda ser exercida por dous tem- deira conjuncção. Taxikomia.
pos do indicativo. 1? Pelo mais As conjuncções classificam-se
que perfeito: Eu o applaudira, em dous grupos ou classes :
ainda quando nito merecesse. 2? 1? ciiASSE. Abrange os nexos de
Pelo imperfeito: Eu, em tal coordenação das proposições : e,
caso, escrevia assim. Essa trans- também, ou, nem, o-utrosim, ora,
lação é a mais popular e a que, pois, ou, quer, seja, coma, mas,
portanto, tende a substituir os porém, todavia, já, logo. Subdas-
outros empregos. A translação sificam-se conforme o emprego
do mais que perfeito 6 usual nas e sentido: copulativas : c, t-àxn-
línguas romanas, maxime no bem ; adversativas : mas, porém,
castelhano. O portuguezéaunica todavia ; conclusivas: logo. por
língua quê conserva o emprego conseguinte, ele.; ãisjunctivas:
etymologíco puro do mais que nem,ou, ora. 2? classe. Abrange
l)erfeito. propriamente os nexos de subor-
dinação : condicionaes: se, não,
Coiidicioiiaes.—Vide Con- comtanto que; concessivas: quer,
juncção. embora ; teniporaes: como, (luan-
Conjugração.—Vide Yerho. do, antes que; eausaes : porque,
como, que,etc.; integrantes-, que,
Coiijiiiicção.—Categoria em como, si (Júlio Ribeiro). Cum-
que se classificam as palavras pre notar que as sub-classifica-
que mostram relações existentes ções das conjuncções em conclu-
entre juízos ou proposições; v. g., sivas, eausaes, etc,., são puramen-
entre existir e solTrer pôde haver te enganosas, e escapam á rigoro-
relações varias : Soffro, logo exis- sa delimitação, pois que essas
to ; soffro e existo; solfro, por partículas não possuem rigor de
conseguinte existo ; sotfro, mas sentido, e têm o caracter de ne-
existo ; sotfro, porqxie penso e xos formaes, elementares, sem
existo, etc. Todas as palavras po- conceito fi.xo, sempre dependen-
dem mudar de categoria ; o adje- te do emprego e do arbítrio do
ctivo, V. gr., pobre pode empre- uso, no di seurso.MonriiOL. e ety-
gar-se como substantivo, etc. A MOL.—E, eí/ se, si; mas, ma-
conjuncção e p<)de ter e tem gis; porém, ant. por ende, jyro
etfectivãmente o valor de prepo- iiide; nem, nec; como, de quo-
siçtio nas sentenças irreãuctiteis inodo e cum, ant. port. cume;
(V. Proposições) : dous e dous que, e r/Mí; senão, si, non
são quatro (dous com dous, dous (nísí); ou, ant; i&,jam. São des-
mais dous). Nesse caso é uma viações : quer, de querer ; vel, de
simples preposição. Locüç.\o Tolo; seja, do verbo ««r; ora, do
79
CONJUNCÇÃO — CONSOANTES
substantivo hora ; logo, do lábio inferior. O grupo tam-
subst. loco. São compostas : to- bém representa esse contacto. 3?
davia, tota vice ; embora, in bo- genero.—id (1). 4?genero.—Lin-
na hora; porém, já citada ; e as guaes anteriores sibilantes : z, j,
que se formaram sobre elemen- X e cli brando. 5?' genero.—Lin-
tos modernos : tam-hem, outro- guaes anteriores mudas: l, r, d, t.
sim, por-que, por-quanto, se-não, 6? genero.—lÁnguaes: g, q, k, ch
etc. A conjuncção, fundamen- forte. 7? genero. — Outturaes (2)
talmentç, funcciona como verbo 8? genero. — Consoantes nasaes: m,
e exprime um conceito atrophia- n, duas letras cuja relação éequi-
do. As terminações latinas em valente á de bd, ou segundo a sua
t: et, aut, ait, e as formas ver- formula ; e, segundo a
baes seja, qwr, etc., indicam a expressão do proprio Gerdy, m e
natureza intima d'essa categoria rasão as mesmasôe d produzindo-
de vocábulos. Os archaismos en- se pelo nariz ; tapando-se o nariz,
tre as conjuncções não são mui- a palavra mandar sôa handar. 9?
to abundantes; qua e car, de qua- genero.—Aspiração.II francez.(3)
re ; maçar, maguar, miío grado ; A theoria de Müller é assas difle-
cume, por como ; por onde, peró, rente e baseia-se no duplo facto
per Iwc. A forma agglutinada do ruido (voz baixa) e da intona-
nangeu, nan-geu, nem já eu, é de ção (voz declamada). Na voz alta,
G. Vicente. Reinhardstcettner o caracter das letras modifica-se,
cita a forma téqu-e, por até que ; e o valor e.vplosivo sobreexcede ao
é popular e antiga. fricativo (4). Eis o systema de
Coiijuiietivos. — Vide Be-
terminativos. (1) O 3? genero não tem re])re-
Coiiiiectivo.—Termo pouco sentante no portuguez. Compreheu-
de o f e z liespanhoes.
usual. Palavra de relação entre (2) Gerdy chama linguaes (6?
as proposições. Vide Proposi- genero) as consoantes ordinariaa
ções. conhecidas por gutturaes, e dá o
Consoantes. — As theorias formados nome de (juítiiraes apenas aos sons
sobre a classificação das conso- como oj hespaiiholno fundo da garganta,
e o cit allemão.
antes são em tão grande numero, Nesse .sentido, o ])ortuguez nãopos-
que apenas aqui daremos o re- sue (jnttnrnl alguma.
sumo das mais notáveis. Gerdj', (3) P^sse genero não tem repre-
deixando de parte as consoantes sentante no ))ortuguez.
compostas (grupos, como hl, br, (4) Na voz l)aixa, como diz a
pl, etc.) classifica as articulações onomatojiéa cnxíxítr, os valores pre-
simples nos grupos seguintes : 1? dominantes e mais audiveis são os
genero. — Labiaes. Consoantes X, sons coiitinvns (fricativos) c/i, í,
perfeitas, p e 6. Resultam da oc- quasi ss, V, f. As explosivas Onudas)
não se articulam (p, b, h, <jh).
clusão e separação súbita dos lá- Na voz alta, só o systema das vo-
bios. 2'.' genií ro. — Dento-labiaes : gaes não muda ao ])assar para ade-
®e/. Contacto dos dentes e do ciamação em voz alta.
80
CONSOANTES — CONSTRÜCÇAO
Müller : I. Explosivas (mudas na u com valor de consoante nota-
voz alta)—Momentâneas: b, p, d, se em expressões como uatã —
g, a, k (c, ch, qu). Depois ()'essas guatá fao atá), uêra — guéra
consoantes pronunciadas ó que (Anlianguêra, etc).
se recebe a intonação. II. Friea- Coiisonantisiiio. — Nome
tivas (sempre claras na voz baixa) dado ao conjuncto dos factos re-
—Continuas : s,j, ss, z(ch, x, ch, f, ferentes á phonologia das con-
í)j. As 1 et ras 1 i m i troph es são í/i, 7ih.
Podem-se produzir sem intona- soantes e dos seus grupos. Neste
ção. Os quadros de "Waisse são livro, tratamos analyticamente
mais completos e pouco ditlerem de todas as permutas, abranda-
das duas classificações preceden- mentos, etc., das letras e grupos
tes, e parecem ser uma fusão dos nos logares determinados iiela
planos de Gerdy e de J. Müller. ordem alphabetica. Consonan-
Damol-os em seguida : I. Conso- tismo, ou melhor, consonantisa-
antes instantaneas (mudas, ex- ção, exprime o facto notado,
pi.osivAs) ; ainda que raras vezes, do reforço
máximo de vogai em consoante ;
Denomi-' Fortes Fracas (iloces, taes são os exemplos do u para
nações ou surdas brandas) ®, e do i para j (especialmente
Oraes yasacs
Labiaes p b m do i i^alatal : lliendasem, .Jeru-
Palataes l d 'n salém ; 7/í>;Yírc/iía, jerarchia; e
Gutturaes k gu nh do u=v: coue (caulis) couve:
l(^ar, louar (laudare) louvar, etc.
JV^. B.—Um symbolo pôde cor- É o opposto de pocalisação.
responder a vários signaes alpha-
beticos. Assim, a letra k repre- CoiistrucçSo.— "E a ordem
senta c forte, ch grego e qu (da de collocação das palavras. A
palavra (/!íe»íe). II. Consoantes construcção pôde ser diversa e
prolongadas (continuas) : asyntaxea mesma;e o portuguez
Denomina- Fortes Fracas conservou certa lil)ei'dade no ar-
ções (Total onies) ranjo syntactico das palavras,
Labial — u que é uma das suas muitas ex-
Dento-labiaes í v cellencias. O caracter analytico
Linguo-labial — u da língua manda todavia obe-
Dento-linguaes s z diência il regra seguinte— 1? su-
Antero-linguaes ch j jeito, 2? verbo, '!? attri^buto e
Medio-lingual — y seu complemento, etc. K essa a
Latero-lingual — 1 ordem ou construcção chamada
Tremulo-lingual — r directa, analytica, lógica. A con-
iV. 7?.—O portuguez não pos- strucção, além de áirecía (quan-
sue as conso.antes labial u e do as palavras e proposições se-
a medio-lingual i/ (moyen). guem a ordem da sua subordi-
Comtudo, no dialecto brasileiro, nação), pôde ser imersa (ou in-
em vocábulos vindos do tupi, o directa) e interpolada. A con-
81
3 — CONTRA
strucção inversa dií muitas ve- —O periodo contemporâneo da
líes mais harmonia á phrase, língua mantém a disciplina clas-
gravidade ao eslylo, mais realce sica que fixou as normas gram-
e apuro, energiae clareza ao dis- matícaes do portuguez. No em-
curso.Na interpelada, as palavras tanto a língua não estacionou :
que entre si têm relação intima o periodo contemporâneo tem a
e necessaria, vOm separadas por sua orthographia própria, mais
outras qu^e se lhes mettem do etymologica e arrazoada que a
permeio. Emais usadaem poesia, dos clássicos, por elfeito da
e d'ella muitos exemplos se en- cultura philologica (escrevem-
contram nos Lusíadas, nSo só se hoje e não posthumo ;
de interpolaçoes entre o sujeito rei, lei e não rey, ley; é, um,
e o predicado, mas entre o verbo teor, e não he, hurn, theor, etc.)
e o atlributo, o substantivo e o Na syntaxe, o estylo contempo-
advérbio, etc. Sobre as regras da râneo caracteriza-se pela fre-
collocaçâo dos substantivos e quencía da ordem analytica,
adjeetivos, participios eauxilia- tendo quasi desprezado as ousa-
res, attributos do regimen, dos das e antigas inversões da syn-
pronomes pessoaes, das palavras taxe classica. No vocabulario, o
relativas a cada um dos termos facto capital é a introducção ine-
da proposição (sujeito, verbo, vitável de gallicismos—proposi-
regimen e complemento), vide tal, inabalarel, audacioso, jireten-
Pacheco Ju nior. — Orarara.portxi- cioM, etc., que ja se não podem
(/««ja. Sobre a construcção inver- talvez expurgar da lingua. A ne-
sa, porem, é ditlicil estabelecer cessidade do progresso ímpôz
regras seguras'para os diversos milhares de neologismos; cra-
casos ; mais acertadamente acon- neometria, antropolojjia, sociolo-
selharei a leitui-a dos bons clás- gia, pliotoyraphia, hracliycephalo,
sicos e auctores de melhor nota. aryano. inão-europeu, mythogra-
—Dá-se mais a deslocação do pUia, lelephone. cliromo, oleogra-
accento tonico por influencia Xihia; etc., etudo o mais que re-
erudita, imparisyllabismo la- presenta na expressão e na lin-
tino, composição, enclise, deri- guagem a actívidade mental o
vações dialectaes. A analogia des- artística do século XIX. Taes
locou o accento em crescido nu- são as dilTerenciações que expe-
mero de fôrmas verbaes (V. Ver- rimentou o portuguez neste sé-
bos). — Os suflixos originários culo.
atonos tornam-se tonicos em vo- Contra (preposição). — Pre-
cábulos de nova formação. As fixo latino contra, derivado de
fôrmas homonj'mas distinguem- cum, no superlativo archaico con-
se muitas vezes pelo accento, ter, caso oblíquo contra. Tem as
deixando de ser homophonas fôrmas contra e contro, p. ex.;
(ninciílo, vinculo).n (P. J.) contradizer e controverter. Appa-
Couteiuporaiieo (período). rece em contraste (stare, estar);
DICC. GRAMM. O
82
CONTRA CORRELATIVAS
contradança (de. coviitry), fr. Coordenadas (sentenças).
contrée, derivado do 1. barbaro — São as compostas em relação
contrata, região, por influencia de coordenação. Estão neste caso
do espirito .cefnnanico (gegend, as sentenças que, de igual cate-
de gegen, contra). goria, e por meio de simples
Coiitracção. — Nome geral juxtaposição ou de conjuncções
dado ao encurtamento de sons, connectivas, concorrem para a
formas e proposições. Vide Con- formação do período composto.
tractas (formas e proposições) São sempre principaesas propo-
syncope, apherese, ajwcojie. sições que concorrem para a for-
mação de uma composta coorde-
Coiitracta (proposição).—E nada. As proposições coordena-
o juizo que pela analyse pode re- das são syndeticas ou asynde-
solver-se enf dous ou mais: Jú- ticas, e qiuinto á natureza dos
lio e Antonio estudam—Júlio seus connectivos, dividem-se em
estuda, Antonio estuda. Os ca- copulativas, adversativas, disjun-
racteres das proposições con- ctivas e conclusivas.—Substitua-se
tractas estão designados no ar- por COMPOSIÇÃO. (P. J.)
tigo Proposiçõet.
Coiitractas (fôrmas).—üem, Coordenativas. — Vide
por cento; são, por santo; frei, por Conjuncções.
freire; mui, por«iMíío, etc. || Vide Correlativas. — «Assim de-
Integras (fôrmas). nominadas as conjuncções, que
Conversibilidade. — Vide denotam relação commum e re-
Locução, Kquiealencia. ciproca; taes são-: que ou do que,
depois de - mais, menos (inva-
Coordenação. — Nome que riáveis); maior, meiwr, tal, tanto
designa a ju.xtaposiç.uo do pro- (variaveis) ; como, quão (invariá-
posições de sentido completo no veis) e quanto (variavel), depois
discurso. A coordenação djz-se de — tão (invariavel) e tanto (va-
syndetica, quando é feita por riavel); qual (variavel), depois
meio de conjuncção ou nexo. de — tal (variavel), etc ; e as lo-
Ex : Deus creou o mundo em cuções — não só.. . mas tamhem;
seis dias e descançou no sétimo. como... assim; assim como...
A coordenação chama-se asynde- assim tamhem; tanto mais...
tica quando não tem nexo : c?te- tanto menos ou quanto menos;
gon, partiu. Ama o estudo; de- primeiro que, etc. Também di-
testa a preguiça. De modo mais zemos: quanto mais... tanto
extensivo, o termo coordenação mais; quanto menos... tanto
pôde appUcar-se a proposições menos ; ou quanto mais... tan-
subordinadas ou clausulas. quan- to menos; quanto menos...
do estas exercem a mesma fun- tanto mais ; v. g.: quanto mais
cção : Ordenou que viessem e não eu e.xaminava, tanto mais crescia a
demorassem. minha admiração; quanto mais o
83
CORRELATIVAS — CT.
vejo, tanto ineiws o estimo ; quanto chamam-se também absolutas ou
menos fácil é a tarefa, tanto mais parciaes. O conjuncto das propo-
merüorio i o trabalho. Podemos sições correlativas ou parciaes
supprimir tanto no segundo forma o período. Também ha
membro da phrase ; v. g.: quan- quem lhes dê o nome de corre-
to mais o vejo, menos o estimo ; latas.» Esc. Port.
quanto menos faeil é a tarefa,
mais meritorio é o trabalho. Tan- Cr. — Grupo. Transforma-se
to prfde ser ooDocado no pri- em gr: vinagre, vin'acrem; ale-
meiro membro da plirase e gre, alacrem. No portuguez pôde
quanto no segundo ; v. g.: tanto ter sido o eífeito de metathese:
mais eu examinava, quanto mais crestar, castrare. A aspereza do
crescia a minha admiração Depois grupo cr foi bastantes vezes evi-
de mais, menos, exprimindo com- tada pela metathese ou syncope :
paração, deve seguir-se do que, costro, crustrum, colostro ; que-
quando o 2V membro correiati- brar, crepare; queimar, cremare;
vo é seguido de um pronome ou corbo, por cobro (Eluc. Vit.).
de um verbo ; v. g.; é mais ido-
so do que tu ; aquelle é maior do C.s. — (Irupo prosodico, equi-
que este ; é mais inxtruido (ou me- valente a cc, X, do latim puro.
nos) do que parece. Todavia algu- O X do latim tem esse valor exa-
mas excepções havemos de ad- cto nas fórmns eruditas: nexo,
miltir, quando assim o exija a (nekso) nexum. Abrandou em
liarmonia do discurso ; ■ preferi- eis, is, ech, eich: exemplo, eizem-
mos dizer : não Jia caminho mais plo, exemplum; exame, eizame
seguro para a felicidade que o da examen; da orthographia archaica
virtude, a dizer — ... do que o da constam especimens como eixecu-
■virtude. Também se diz correla- tor, eixeção, etc., que apresentam
tiva a oração composta de duas a prosodia gallega actuàl ; varias
orações, exprimindo a relação lialavras de uso actual assim
de igualdade entre dois objeclos, permanecem ; madeixa, meta-
6 conhece-se pelas diversas pala- xam ; freixo, fraxinum; seixo,
vras correlativas. Exemplo : as- sa.vum ; frouxo, fluxum. A assi-
sim como na puericia as virtudes milação exemplifica-se com an-
parecem mais formosas, assim na ciar (anssiar, anxeare) ; tecer,
ancianidade os vidos parecem mais tesser, texere ; disse, dixe.
feios. Quanto se põe no supérfluo, Ct. — Grupo consonantal.
tanto se tira do necessário. K tão Conservado nas palavras erudi-
grande o peso dos cuidados da pu- tas : facto, factum; directo, di-
blica administração, que pedem o rectum. Dissolvido nas creações
concurso de todos. Em duas ora- populares: feito, direito^, geito,
ções correlativas, ligadas entre jactum, ín\\lo, fructum. As vezes
si pelas conjunccões ou palavras dá-se a assimilação em «ou «úni-
conjunctivas, a 2'.' i integrante co: dito, dictum ; tratar, tractare.
da lí As proposições correlativas Adissoluçãoemiíémaisrara, mas
84
CT. — D
tem exemplos principalmente —Consoante dental branda, ho"
antigos : douto, ãoctum, doutor ; morganica da dental forte t-
pauto, pactum ; auto, actum ; Como de ordinário as permutas
autivo, activum; trauto, tracium. se fazem por abrandamento, o d
A transformação em cli é pró- latino Já sendo brando não se
pria do castelhano, e indica a transformou. Degenerou raras
influencia d'essa língua : trecho, vezes em l ou r : Gil, Aegidium ;
ííacíMTO; aduclio (El. de Vit.) Madril, de Madrid; cigarra, ci-
de adductum. cad'lam. Nos grupos, o l é muito
Cum.—Prefixo latino. Indica freqüente : julgar, Jwrfícare; nal-
concomitância. F<')rma com an- ga, naíicam. A transformação
tes de p, b, m: combater, compa- d=l já tinha exemplo nas trHn-
dre, comadre. Assimilações: col scripções latinas do grego; Ulis-
antes de l: col-lateral, col-laborar; ses, de Oãusseús. Syncope ; ca-
con antes de 11: eon-iiexo, e antes dere, cair, etc.
de todas as consoantes, excepto I> (letra portugueza). Resulta,
p, b, m : con-sanguineo, con-jor- maxime a inicial, do latino d:
mar ; forma cor antes de r : cor- dedo, digitum. De ordinário re-
relativo, cor-responder. Fôrma co presenta, porém, o abrandamen-
antes de vogai; co-adoptar, co-a- to do í que é também dental:
ffir, co-operar. As vezes, a fôrma azedo, acetum; müáo,metum; ma-
CO antecede consoantes : copiarti- deira, materiam (materiem). Ap-
cipar, etc. Contém o prefixo cum parece por g em um exemplo
as palavras correcto, collega, com- archaico : obridar, obligare (Et,.
binar, cunhado (co-gnatum), co- Vit,), e y)or l em deixar, leixar
Ji/íec(;?'e(co-gnoscere), custar (con- ant. {laxare, deixar, talvez de
stare), costume (con-suetudinem), delaxare); escada,.vcatem ou scala-
coTule (comitês, cum -j- ire), con- dam (escada). Representava o
destavel (comes stabuli), contar abrandamento do t nas flexões
(computare), conto (computum), verbaes archaicas : amaães (ama-
coalhar (co-agulare), etc. O pre- tis), recebedcs, etc.; e ess(! (Zainda
fixo grego correspondente é syn ; persiste em palavras curtas ; «w-
e são palavras de idêntica forma de, sede, pondes, ledes. O d como
ção lógica : contemporâneo e syn- elemento euplionico apparecia
chronico ; conspecto e »ynopse; nos grupos nr: hondrar, archaico,
co-ordeniição e syntaxe ; compo- de honorare; pindra, de pignoram.
sição e synthese ; consciência e II Factd notável nas palavras
syllogismo. Nem sempre, estií-se oriundas do arabico, é o da in-
a ver, o vocábulo latino eqüivale tercalação do l no grupo lã exi-
ao grego. gido no portuguez: a-Z-deia, ad-
dhaf a ; arraba-í-de, ar-rabadh ;
I> • a-í-drava, ad-adhabba. (I)
(1) Dozy e Engelmann. — Gloss.
D (letra latina). Soa sempre d. iiitnxl.
85
DACTYLICO - - DEFECTIVOS
Dactylico. — Vide Esdru- telliano antigo, como nota Kein-
xulo. hardstoettner, existiu a fôrma
Dativo. — Caso que exprime miege. de medicus.
attribuição ou refereiiciii, pro- De.—Prefi.xo latino, de for-
prio do latim. No portugueí'. é mações em geral primitivas ;
represeiiladoanalyticamente pela denota direcção para diante,
preposição a ou /para, ant. pera. para baixo, separação : declarar,
Ex: deu um livro a Pedro. dejecfão, delegado, destruir, de-
Cumpre mostrar que nem sem- scer (de-scendere, scandere, su-
pre a preposição tí instrumento bir). Não confundir com o pre-
analytico do dativo, podendo re- fixo di e suas variantes des, dis ;
presentar o accusativo ; matou nem tão pouco confundil-o com
a César ; ao rei obrigaram aban- os dous elementos gregos dis e
donar o throno ; ao criado man- dys.
dou sentar-se (mandou-o sentar-
se) etc. O dativus ethicus da syn- I>eclarativa.—Nome como
taxe latina i^ermanece no uso o de enunciatita dado á propo-
dos pronomes: Que palavras me sição de verbo do modo indica-
ouvistes ? (Al. Ilerc. Eurico, tivo.
XVII). (1) Na forma syntlietica, Declinação. — Conjuncto
ha vestígios de dativo nos i^ro- de casos dos nomes, nas línguas
nomes : me ant. mi (milii), te, ti que possuem essa especie de
(tibi), se, si (sibi); as formas íiexão. No latim existia a de-
me, mi, te, nos, vos, são usadas clinação e d'ella temos no por-
com o valor syntlietico : disse-<e tuguez alguns vestígios bem
(a ti). O vestígio lhe refere-se ao apreciaveis. Vide Vlexão.
lat. illi; no plural Ihea, dat. illia.
Nos nomes, os vestígios do da- üeíectivos. — Vocábulos a
tivo são raros e apenas resum- que por euphonia faltam al-
bram da composição dos termos, gumas formas. A defectividade
formados ou não no latim clás- pôde dar-se em qualquer cate-
sico : devota, deo vota: ii, a a; ó goria; os substantivos abnegação,
ant. ao ; puramente latinos : obsessão são verbaes: mas não
crucificar, cruci-tigere (fleare); existem na lingua os verbos pri-
fideicommisso, fideicommissum. mitivos. O adjectivo abalisado
(Guardia, Gramm.lat.) O dativo, tem uso diverso de abalizar, etc.
genitivo e nominativo foram os Quando a defectividade do verbo
primeiros casos que se perderam resulta do caracter do sujeito, o
dadeclinação latina. verbo diz-se unipessoal (V.
Unip.) .• ^jraz-me caminhar, etc.;
l>c.—Grupo latino, formado e esse estado pôde ser apenas
pela suppressão da vogai atona. tran.sitorio, como em chove e tro-
Pejo, pedica, ped'ca. No cas- veja, porque é certo que se pôde
(1) Vide Iteinlianlst.,f'7). cí'í. 30J, dizer .choves, trotejas, etc. Nos
defectivos propriamente ditos
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DEFECTIVOS — DEMONSTRATIVOS
6 a euplionia que regula o uso nia oppõe-se á pluralisação em s,
de varias fôrmas. Taes são : nos nomes que já terminam por
precaver (prfecaTiere). Não é essa letra: simples, caes, alferes,
usado nas liexões o e a : precavo, ainda que haja o exemplo ourive-
precava. Colorir. Não se diz coloro. ses, de ourives.São também defecti-
Soer—(solere). —Plexões de uso : vos, em sentido opposto, os nomes
soe, soes, soia, soem, soiain. Têm que não tem singular : alviça-
sido usadas nos diversos perio- ras, arredores, arrlias, confins,
dos da lingua as fôrmas sóio (D. esp>onsaes, . matinas, trevas, vi-
Diniü), soia, e ejn Camões (Lus. ver es.
III, I) soendo.—Verbos em m.
Muitos d'esses constituem a Deíiiiito.s.—^Classe lógica de
maior classe de defectivos jiura- determinativos que exprimem
mente eiiphonicos; abolir,revelir, exactidão de referencia; v. gr. :
munir, demolir, colorir, polir, dons, todos, oito, o, a, nenhum,
delir, discernir, submergir ( não cento, etc. Os indefinitos expri-
são usadas as formas : abolo ou mem referencia sem exactidão
ahulo, pulo, muno, etc.)- Alguns quantitativa: uns, poucos, alguns,
mudam a vogai do tliema e têm etc. A expressão tem sido, ma
exemplos de uso : compellir, xime nas grammaticasfrancezas,
compillo\; expellir, erpillo; re- consagrada ao artigo e suas com-
pellir, repillo, etc. Os verbos postas variações.
em olir, orir, pir (carpir), L)eka.—Elemento grego de
andir (brandir), de nenhum mo- composição.
do se podem usar na primeira metros. Década,Decametro, dez
dezena. Deca-
pessoa do presente. A defectivi- meron (hémera, dia),
dade de muitas das liexões no- Decagono, dez ângulos. dez dias.
minaes é trabalho da euphonia
ou da tendencia pejorativa
quando a ha : tal ó a perda dos lat.Deilíi.—Prefi.YO francez, do
dimidium. Encontra-se na
femininos : cidadoa, commua, al- palavra demigola, tomada do
lemôa, etc. Na ílexão de gráo, a francez. Existe também no
defectividade resulta da eupho- inglez no vocábulo demigod.
nia, quando os adjectivos têm
terminações que não se adaptam Demo, povo (dêmos — Ele-
ao sufflxo de superlativo iasimo; mento grego de composição. De-
v. gr.: sobrio, sohrissimo, que mocracia, governo pelo povo.
não se usa. Por outra parte, os Demagogo (agõ, eu conduzo), o
superlativos em issimo são quasi que guia o povo, favorece.
etymologicos, tirados directa-
mente do latim ; sacratissimo e Demoii.strativos. — Vocá-
não sagradissimo. Ha mesmo bulos que e.vercem funcção adje-
superlativos que no portuguez ctiva e pronominal. Dividem-se
não possuem positivo: uberrimo. em puros e conjunctivos. runos
Na ílexão de numero, a eupho- ou INDICATIVOS :
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DEMONSTRATIVOS
Singular Plural bem ^ís vezes se referem a pes-
Este, esta Estes, estas soas, em bom ou máo sentido :
Esfoutro, esteou- EsfotUros, esVou^ isto é uma joio; isso é um hregeiro;
tra . iras aquillo é um talento, conjuncti-
Esse, essa Esses, essas VOS ou DEMONSTKATIVOS RELA-
Ess'outro, €ss'0u- Ess'outros, ess'ou- TIVOS :
tra tras Singular Plural
A'/Helle, aquella Aqiielles,aquellas
AqueWoutro, A- AqueWoutros, A- O qual, a qual Os quaes, as quaes
queWouira quell^o^ítras Cujo, cuja Cujos, cujas
3Iesmo, mesma 31esmos,mesmas{l) Que ! T • •
E os pronomes invariaveis ou Quem^ Invariaveis
terceiras formas — Isto, Isso, Servem estes demonstrativos de
Aquillo e a variação O. A este ligar as orações que por elles co-
grupo de invariaveis poderíamos meçam com a anterior, da qual
ainda juntar certos vocábulos, floam fazendo parte como inci-
quando substantivamente em- dentes, e ao mesmo tempo recor-
pregados ; taes como : outro tan- dam os objectos a que se referem,
to, o mesmo, etc. Exemplo ; Obe- pela sua antecedencia immedia-
deci e elle fez outro tanto ; perdoei ta ; por isto se dizem conjuncti-
e elle fez o mesmo. Estes demons- vos, e d'ahi lhes vem o nome
trativos restringem sempre a ex- mais geral ainda de relativos,
tensão do nom^ commum, limi- pela sua referencia a uma cousa
tando sua significação a uma ou pessoa antecedente. Esta pro-
parte dos indivíduos, aos quaes priedade cabe aos demonstrati-
são applicaveis por si mesmos. vos puros quando recordam cou-
Quando eu digo : —estes homens, sas ja ditas no d