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VISÕES DA REDENÇÃO FINAL

RELIGIÃO – CIÊNCIA – APOCALIPSE – PROFECIAS – DANIEL –


MASDEÍSMO – JUDEUS – BÍBLIA – ESCRITURAS – HISTÓRIA

Marcelo Gleiser,

As várias idéias e imagens apocalípticas encontradas na tradição


babilônia, egípcia e masdeísta são fundidas no Livro de Daniel, escrito
quando os judeus sofriam terrivelmente nas mãos dos sírios no século
II a. C. Considerado o primeiro texto apocalíptico, profetiza o fim do
mundo baseado em visões carregadas de simbolismo sociopolítico.
Estabelece também uma relação direta entre o Fim e a interrupção da
ordem cósmica, que é o tema de maior interesse para nós. Antes de
discutirmos as imagens apocalípticas encontradas no Livro de Daniel,
é importante situá-lo dentro do contexto histórico em que foi escrito.

Em 332 a. c., Alexandre, o Grande, derrotou o rei da Pérsia, Dario III,


iniciando o expansionismo grego em direção à Ásia e à África.
Cercados pela cultura helênica, os judeus da Palestina e da diáspora
responderam de formas distintas: enquanto alguns se divertiam com o
teatro, esportes, poesia e filosofia gregas, outros refutavam essa
influência cultural de uma potência invasora. Os gregos, por sua vez,
eram extremamente tolerantes com as práticas religiosas judaicas;
alguns até participavam de seus rituais, colocando Iavé, o deus dos
judeus, lado a lado com Zeus e Dioniso na lista de suas maiores di-
vindades. O ritual judaico, com sua ausência de estátuas e ênfase em
oratória, devia parecer aos gregos uma variante de seus debates
filosóficos, a sinagoga substituindo a academia. Quando algum
famoso orador judeu chegava na cidade, inúmeros gregos iam ouvi-lo
na sinagoga, como faziam com seus filósofos. Por outro lado, vários
sacerdotes judeus largavam as sinagogas às pressas para assistir a
eventos esportivos nos estádios gregos.

A maior parte da população judaica e alguns de seus sacerdotes se


opunham a essa simbiose, recusando misturar-se com seus
opressores, mesmo sendo eles gregos. Um grupo de judeus devotos
conhecidos como hasidim mantiveram os rituais e a sua fé viva
durante esse período, assim como nos tempos muito mais difíceis que
viriam após a morte prematura de Alexandre, em 323 a. c., que foi
seguida por cem anos de invasões sucessivas de líderes de suas
províncias, os selêucidas (sírios) e os ptolomenses (egípcios). Em 198
a. c., os selêucidas finalmente ganharam o controle, e o clima político
acalmou-se, até que Antíoco Epífano, que reinou entre 175 e 164 a.
c., principiou uma política de perseguição religiosa, impondo aos
judeus o culto a Zeus. Mais ainda, eles estavam proibidos de celebrar
o Sabath, possuir cópias de seus textos sacros ou praticar a
circuncisão, sob pena de morte. Em dezembro de 167 a. c., Antíoco
erigiu um altar dedicado a Zeus no Templo de Jerusalém, que ele
profanou com a prática de sacrifícios, incluindo o de porcos, para
horror dos judeus. A tensão atingiu seu clímax quando Matatias, um
sacerdote judeu de idade avançada, foi forçado por um oficial sírio a
participar de um sacrifício dedicado a Zeus na vila de Modin. Matatias
acabou por matar o oficial, iniciando uma revolta contra a dominação
síria.

Flanqueado por seus cinco filhos e um miniexército de hasidins vindos


de várias partes da Palestina, Matatias organizou um movimento de
resistência que repudiou a dominação síria. A figura-chave desse
episódio notável foi um de seus filhos, Judas Macabeu, cujos pelotões
de soldados, para completa surpresa dos sírios, derrotaram quatro de
seus exércitos e debandaram um quinto. Em 165 a. c., Judas
reconquistou Jerusalém, purificando das "abominações helênicas" o
templo e resgatando o judaísmo na Palestina. Esse período de
independência e paz durou até 63 a. c., quando uma guerra civil entre
duas facções judaicas, os saduceus e os fariseus, trouxe o domínio
romano da Palestina.

Foi no reinado de Antíoco Epífane, um período de grande caos e sofri-


mento para os judeus, que o Livro de Daniel foi escrito, provavelmente
entre 167 e 164 a. C. Nele, encontramos o primeiro de muitos textos
apocalípticos judaicos que se tornarão extremamente populares entre
150 e 100 a. C. Mesmo que seja difícil traçar as raízes exatas da rica
e fantástica simbologia usada em Daniel, vários argumentos mostram,
ainda que não definitivamente, que o conceito judaico de apocalipse
teve forte influência das idéias masdeístas.14 A concepção do mal no
Antigo Testamento parece ter sofrido uma profunda modificação antes
e depois do Êxodo, datado da fuga dos judeus do Egito no século XIII
a. C. No judaísmo antigo, os demônios eram seres menores, de pouca
importância, capazes de afligir os homens mas incapazes de ameaçar
a onipotência de Iavé; ainda não existia uma concepção do Mal
organizado sob um líder capaz de enfrentar Deus. Satanás (ou
Shaitin) aparece no Jardim do Éden como a serpente apenas em
versões posteriores do Gênesis.

É também nessa transição que o mundo subterrâneo de Xeol, a


lamacenta e disforme morada dos mortos, virtuosos ou não, é
substituído pelo Céu e o Inferno. Muitos começam a falar no Fim dos
Dias, quando os mortos serão ressuscitados e o Bem vencerá o Mal
por toda a eternidade. Antes do Êxodo, vários profetas já se referem
ao dia do Juízo Final, quando os inimigos de Israel serão destruídos.
Mas, após a transição, as profecias são tingidas pela influência persa;
a redenção final virá dos Céus através de um ato divino.

Ao ler o Livro de Daniel, vemos claramente que o texto foi escrito para
levantar o moral do povo judeu, que sofria sob o domínio de um tirano
despótico. Solidificando a esperança dos fiéis, o texto promete a
vitória final para aqueles que mantiverem a fé em Deus durante
tempos difíceis. Daniel é representado como uma pessoa especial,
um visionário capaz de interpretar sonhos e de sobreviver junto a
leões por toda uma noite. Seus poderes vêm de sua fé, de sua
completa devoção ao único e todo-poderoso Deus. Os primeiros seis
capítulos tratam do passado, durante o domínio babilônio,
demonstrando como os tiranos que têm a petulância de enfrentar o
Deus dos judeus são destruídos pela própria vaidade, uma lição que
também aparece no Êxodo. O rei Nabucodonosor pede que Daniel
interprete um sonho (o segundo explicado pelo profeta) sobre uma
árvore que "cresceu e tornou-se forte,/ sua altura atingiu o próprio céu/
e sua vista abrangeu os confins da terra inteira" (Dn 4,8). "Um
Vigilante, um santo que descia do céu" (Dn 4,10), ordenou ao rei que
cortasse a árvore, deixando apenas o toco e as raízes. Com isso, "seu
coração se afastará dos homens, um coração de fera ser-Ihe-á dado e
sete tempos passarão [ ... ] a fim de que todo ser vivo saiba que o
Altíssimo é quem domina sobre o reino dos homens" (Dn 4,13-14).
Daniel explica que o sonho profetiza a queda de Nabucodonosor,
seguida de sua loucura e seu glorioso retorno ao poder depois de ele
aceitar o Deus dos judeus.

Após os primeiros seis capítulos estabelecerem os poderes de Daniel


e sua aliança com Deus, os últimos seis capítulos narram sua
mensagem apocalíptica. No capítulo 7, Daniel vê quatro monstros
horrendos emergirem do mar.

O primeiro era semelhante a um leão com asas de águia [ ... ] Apareceu


um segundo animal, completamente diferente, semelhante a um urso,
erguido de um lado e com três costelas na boca, entre os dentes [ ... ]
vi ainda outro animal, semelhante a um leopardo, que trazia sobre os
flancos quatro asas de ave; tinha também quatro cabeças [ ... ] A
seguir, ao contemplar essas visões noturnas, eu vi um quarto animal,
terrível, espantoso, e extremamente forte: com enormes dentes de
ferro, comia, triturava e calcava aos pés o que restava [ ... ] tinha este
dez chifres [ ... ] notei que surgia entre eles ainda outro chifre, pequeno
[ ... ] E neste chifre havia olhos como olhos humanos, e uma boca que
proferia palavras arrogantes. [Dn 7,4-8]

Nesse ponto, a visão se transforma e Daniel vê Deus: "um Ancião


sentouse.! Suas vestes eram brancas como a neve;/ e os cabelos de
sua cabeça, alvos como a lã.! Seu trono eram chamas de fogo com
rodas de fogo ardente" (Dn 7,9). Deus estava cercado de fogo e por
uma corte de milhares de anjos que o serviam. "O tribunal tomou
assento e os livros foram abertos" (Dn 7,10). O horrendo monstro com
o chifre que proferia blasfêmias foi "morto, e seu cadáver destruído e
entregue ao abrasamento do fogo" (Dn 7,11). Daniel então vê, "vindo
sobre as nuvens do céu, um como Pilho de Homem [ ... ]/ ele foi ou-
torgado o império,/ a honra e o reino, /e todos os povos, nações e
línguas o serviram.! Seu império é um império eterno/ que jamais
passará,! e seu reino jamais será destruído" (Dn 7,13-14).
As quatro bestas são interpretadas como quatro impérios,ls o Império
Babilônio, o reino dos medos, o Império Persa e o Império de
Alexandre, o Grande. Já o "Pilho do Homem" representa a redenção
de Israel. Não é difícil discernirmos elementos das narrativas
apocalípticas masdeístas, com Deus e sua corte em julgamento, a
presença constante do fogo, e a inauguração, por uma figura
messiânica, de uma era de paz e prosperidade eterna para o povo de
Israel. Na representação das potências opressoras de Israel como
monstros, vemos, também, que o texto transmite uma mensagem
política mascarada por um simbolismo fantástico; a vitória final sobre
as bestas, perpetrada pelo poder divino, é um grito pela liberdade,
uma tentativa de manter viva a esperança de um povo oprimido.

No capítulo 8, Daniel relata outra visão, uma sangrenta batalha entre


um carneiro (os medos e os persas) e um bode (o Império Grego).
Logo depois de o bode destruir o carneiro, quatro chifres surgem em
sua cabeça (a dissolução do Império de Alexandre em quatro
províncias); um deles (o reino de Antíoco Epífano) "ergueu-se até
contra o exército dos Céus, derrubando por terra parte do exército e
das estrelas e calcando-as aos pés" (Dn 8,10) (os grifos são meus).
Essa imagem, que mistura a ruptura da ordem política e da ordem
cósmica, aparece freqüentemente em narrativas apocalípticas: as
estrelas e outros objetos celestes tendem a cair dos céus em tempos
de crise. A visão chega ao fim com o arcanjo Gabriel assegurando a
Daniel que esse terrível reino será destruído, e não por mãos
humanas. Após descrever a sucessão dos reis persas até Antíoco, o
Livro de Daniel termina com a previsão da queda desse rei, que é
seguida pela redenção final do povo de Israel. Tal revelação é feita a
Daniel por um narrador divino, "revestido de linho, com os rins
cingidos de ouro puro,! seu corpo tinha a aparência do crisólito/ e seu
rosto o aspecto do relâmpago,! seus olhos como lâmpadas de fogo,!
seus braços e suas pernas como o fulgor do bronze polido,! e o som
de suas palavras como o clamor de uma multidão" (Dn 10,5-6). O
narrador conta a Daniel a chegada de

Miguel, o grande Príncipe, que se conserva junto dos filhos do teu


povo. Será um tempo de tal angústia qual jamais terá havido até aquele
tempo, desde que as nações existem. Mas nesse tempo o teu povo
escapará, isto é, todos os que se encontrarem inscritos no Livro. E
muitos dos que dormem no solo poeirento acordarão, uns para a vida
eterna e outros para o opróbrio, para o horror eterno. [Dn 12,1-2]

Portanto, a situação do povo de Israel deverá piorar antes de


melhorar. a dia do Juízo Final será também o dia da ressurreição,
quando os mortos se levantarão para juntar-se aos vivos em eterna
glória ou danação (ver figura 3 do caderno cor). Infelizmente, vemos
implícito no texto o seu aspecto trágico, que a redenção dos judeus só
ocorrerá através de um ato divino, e, portanto, sobrenatural, quando
Deus derrotará com suas próprias mãos os inimigos de Israel.
Conforme o texto explica, essa redenção acontecerá somente no fim
da história, no “tempo do Fim”, quando os vivos coexistirão com os
mortos. Não existe salvação em um tempo “real”.

Daniel, o profeta, serve de ponte ao saber divino; é o intérprete do que


irá acontecer. Se suas visões são fantásticas e sobrenaturais, é
porque assim devem ser; nenhuma mensagem religiosa baseada em
fatos ou descrições mundanas irá atiçar a imaginação dos fiéis. Afinal,
o texto de Daniel se refere a eventos épicos, o fim do sofrimento dos
justos, a vitória final do Bem sobre o Mal. Descreve o fim da
mortalidade dos homens, o início de sua reunião com Deus, tal como
tinha sido havia muito, antes da expulsão do Jardim do Éden, quando
Deus e homem caminhavam lado a lado. A narrativa apocalíptica
prenuncia a transformação dos justos em criaturas divinas e a dos
pecadores em criaturas demoníacas. Certamente, deve ter sido muito
difícil resistir à sua poderosa retórica; para muitos, ainda o é. Daniel
integra os fiéis em um grande plano de redenção traçado pela mente
de Deus, convidando-os a suportar suas tribulações - pois elas
terminarão - e a nunca perder a esperança de que a vingança está por
vir e será definitiva. Dentro desse contexto, o sofrimento dos fiéis é
parte necessária dos eventos que levam ao Fim, um passo em
direção à redenção eterna. Como irá escrever santo Lactâncio alguns
séculos mais tarde, "o virtuoso é aquele que consegue suportar as
piores privações". Quanto mais sofrimentos você for capaz de
suportar, mais virtuoso você é, e mais maravilhosa será sua
recompensa no Paraíso. Que receita magnífica para a paralisia social!
Suporte seus sofrimentos com dignidade e graça, tenha fé, e Deus irá
cuidar do resto para você. Não surpreende nem um pouco o fato de
que essas noções serão elevadas a níveis absurdos na Idade Média,
quando a pestilência, o desespero e a falta de liderança também
serão elevados a níveis absurdos. Quanto mais difíceis os tempos,
maior a vulnerabilidade das pessoas, e, então, é com mais facilidade
que elas se tornam presas de um fanatismo cego, o qual muitas vezes
tem repercussões trágicas. Infelizmente, isso continua valendo nos
dias de hoje.

Gleiser, Marcelo, “O Fim da Terra e do Céu”, O Apocalipse na ciência


e na Religião, páginas 34 a 39, São Paulo, Companhia das Letras,
2002.

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Livros recomendados::mg

“O fim da Terra e do Céu”, O apocalipse na Ciência e na Religião, Marcelo


Gleiser, 336 páginas, Editora Companhia das Letras, Rio de Janeiro, 2002.
www.companhiadasletrinhas.com.br/
“Cartas a um Joven Cientista”, O Universo, a vida e outras paixões, Marcelo
Gleiser, Rio de Janeiro, RJ, Editora Elsevier, 2007.

“Poeira das Estrelas”, De onde viemos? Para onde vamos? Estamos sozinhos
no Universo?, Marcelo Gleiser (Textos de apoio: Frederico Neves), São Paulo, SP,
Editora Globo, 2006.

“A Harmonia do Mundo”, Aventuras e desventuras de Johannes Kepler, sua


astronomia mística e a solução do mistério cósmico, conforme reminiscências de
seu mestre Michael Maestlin. Marcelo Gleiser, São Paulo, SP, Editora Companhia
das Letras, 2006.

“Micro Macro”, Marcelo Gleiser, Publifolha.

“Micro Macro 2”, Marcelo Gleiser, "Micro Macro 2" é uma reunião das colunas de
Marcelo Gleiser, publicadas no caderno "Mais!" da Folha de S.Paulo de 2004 a
2007. Publifolha.

“O Livro do Cientista”, Col. Profissões. Marcelo Cipis / Marcelo Gleiser,


Companhia das Letrinhas.

“Mundos Invisíveis: da Aquimia à Física de Partículas”. Marcelo Gleiser, 288


páginas. Editora Globo, 2008.

Depois do sucesso de Poeiras nas Estrelas, o físico Marcelo Gleiser lança seu
novo livro Mundos invisíveis: Da alquimia à física de partículas, pela Editora
Globo. Nesta obra, o autor analisa os fenômenos físicos do micro para o macro,
partindo das subpartículas do átomo para desvendar o universo. Para explicar
tudo isto, Gleiser parte da simples pergunta: Do que tudo é feito?. Logo nas
primeiras páginas, o escritor nos apresenta a frase O essencial é invisível aos
olhos, de Antoine de Saint-Exupéry, sugerindo a idéia de que geralmente não
prestamos muita atenção naquilo que está ao nosso redor.Posteriormente, ele
explica ao leitor como a partir da simples observação de um fenômeno natural, ou
de algo que intrigava as pessoas, foi possível chegar às principais descobertas do
conhecimento.Ao longo de dez capítulos, Gleiser, autor também de um quadro no
programa Fantástico, da Rede Globo, aborda os principais questionamentos da
ciência na história. A busca do elixir da vida pelos alquimistas, os estudos sobre o
cosmo, a eletricidade e o magnetismo e a fascinante teoria da relatividade são
alguns dos temas abordados no livro.
Com exemplos e analogias simples, presentes no nosso cotidiano, Gleiser explica
as descobertas e experimentações de estudiosos como Aristóteles, Isaac Newton
e Albert Einstein, na busca de desvendar um mundo invisível que determina a
composição de tudo o que existe na natureza. Além de fotos e ilustrações, que
enriquecem as teorias apresentadas, a obra também conta com textos de apoio,
escritos pelo jornalista Frederico Neves.Desde o pensamento de Nicolau
Copérnico, para quem o Sol, e não a Terra, era o centro do cosmo, até o
surgimento da bomba nuclear, na Segunda Guerra Mundial, o autor propõe uma
espécie de viagem no tempo para contar a história dos mais antigos mestres da
ciência e seus discípulos - pessoas que foram capazes de trazer grandes
descobertas para a humanidade.O livro é essencial para todos aqueles que
querem conhecer os estudiosos que, movidos pela curiosidade e pelo seu espírito
criativo, foram corajosos o suficiente para desafiar todos os conceitos de sua
época e quebrar paradigmas.

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