INTRODUÇÃO
1.1 Problematização
Na virada do século XX para o século XXI, a sociedade passou por mudanças
significativas, em especial na forma das pessoas se relacionarem, desenvolverem
seus trabalhos, no desenvolvimento da cultura e, principalmente, no
desenvolvimento das crianças.
Com o advento da tecnologia e com o fácil acesso a recursos como celulares,
tablets, computadores, brinquedos eletrônicos e acesso à internet, as crianças são
diretamente impactadas por essas tecnologias e pelo excesso de informações que
delas advêm. No entanto, para Abed (2014), as instituições de ensino formais não
estão acompanhando essas transformações pelas quais a sociedade tem passado,
e sugere que há de se criar novos paradigmas que sustentem uma ação educativa
que se adapte às novas exigências que a futura sociedade impõe.
Para corroborar com isto, Gondim, Morais e Brantes (2014) relatam que as
instituições têm como estratégia o ensino baseado no desenvolvimento cognitivo do
aluno, isto é, um modelo pautado em alfabetizar e promover a capacidade de pensar
e analisar situações para se chegar a uma rápida solução através de conhecimentos
acumulados da história da civilização. No entanto, trata-se de um modelo defasado,
uma vez que já não é possível delimitar os conhecimentos cognitivos ao papel da
escola na sociedade atual. Isto ocorre, pois, o aluno como ser social, é cercado por
estímulos que contribuem para seu desequilíbrio emocional. Neste sentido, a função
da escola e do professor não devem se limitar a transmissão de conhecimentos
acumulados, visto que isto não prepara o aluno de forma integral para a vida e para
o mercado de trabalho do século XXI.
Conforme Abed (2016), cabe também à escola o desenvolvimento e
manutenção de indivíduos criativos, capazes de construir conhecimentos, que
mantenham relações sociais positivas, que saibam controlar as emoções, entre
outros. Não se trata de deixar de lado as competências cognitivas, mas uma vez que
o aluno desenvolve competências socioemocionais, isto é, cooperação,
responsabilidade e manejo das emoções, tem como resultado um melhor
aproveitamento da aprendizagem dos conteúdos escolares. No entanto, nem
sempre foi assim, o que agora é delegado como papel da escola, outrora era papel
atribuído à família. Porém, com as mudanças da sociedade, em especial na
configuração familiar, este aspecto do desenvolvimento infantil passou a ser
responsabilidade da escola. (DEL PRETTE E DEL PRETTE, 2003)
Ainda segundo os autores citados acima, a escola tem sido há muito tempo
criticada pela incapacidade de atingir seus objetivos de ensinar habilidades
socioemocionais aos seus alunos. Embora reconheça a importância dessa
abordagem de ensino, pouco esforço é dedicado ao seu desenvolvimento, visto que
que os chamados temas transversais, que têm como foco os relacionamentos
interpessoais, respeito às diferenças e habilidades de convivência, não são tratados
de forma prioritária pelas diretrizes curriculares. Desta forma, uma vez que as
competências socioemocionais estejam desenvolvidas, é garantido um aprendizado
mais completo das competências cognitivas, além de proporcionar a mudança de
postura por parte do aluno em diversas esferas, seja do bem-estar coletivo ou
individual.
Abed (2014) cita um dos primeiros estudos longitudinais sobre habilidades
socioemocionais realizado pelo economista James Heckman, da Universidade de
Chicago, que teve como finalidade comparar dois grupos de famílias com baixa
renda do estado americano de Michigan. Um desses grupos era formado por
indivíduos que fizeram parte do programa “Perry Preschool Project”, em 1960,
destinado ao desenvolvimento de habilidades socioemocionais em crianças de 3 a 5
anos. O grupo de controle era constituído por indivíduos com características
sociodemográficas iguais às do primeiro, no entanto não participaram deste
programa. A autora relata que os resultados indicaram diferenças consideráveis na
vida adulta dos participantes do projeto “Perry”, apresentando menores taxas de
envolvimento em crimes, gravidez na adolescência, desemprego e abandono
escolar. Embora não tenha influenciado o desempenho cognitivo mensurado em
testes de QI, o projeto “Perry” foi especialmente bem-sucedido ao ensinar aos
alunos a persistência, organização, controle das emoções e bons relacionamentos
interpessoais (PONTES, 2013, apud ABED, 2014: 110). Isto posto, é preciso
considerar que os alunos, assim como os professores, são indivíduos com emoções,
que estabelecem vínculos e que se relacionam socialmente, e neste sentido,
desenvolver as habilidades socioemocionais permite que ocorra aquilo que (ABED,
1996, apud ABED 2014:8) chama de integrar as facetas do ser humano, ou seja,
torná-lo inteiro, possibilitando que reintegre tudo que foi cindido pela modernidade
da sociedade.
Para Silva e Silva (2009), ser professor é ter que lidar com desafios, visto que,
por inúmeras razões, as crianças e adolescentes chegam à escola com carências
sociais e emocionais. Assim sendo, além de ter que lidar com essas adversidades e
ensinar o aluno a adquirir competências para controlar suas próprias emoções, o
professor, também como ser social, necessita de um preparo para gerenciar suas
próprias emoções, e só assim poderá ser capaz de desenvolver e dar suporte às
competências emocionais de seus alunos. Neste contexto, é emergente levar em
consideração o desenvolvimento das competências emocionais do professor, tendo
em vista as peculiaridades e frustrações inerentes de sua profissão.
Del Prette e Del Prette (2003) destacam que a escolarização depende das
condições de ensino oferecidas pelo professor e elas estão, em grande parte,
intimamente ligadas por sua competência profissional, suas concepções, atitudes e
valores, em especial sobre a educação, o processo de construção do conhecimento
e a atribuição da instituição escolar. Ainda de acordo com estes autores, embora os
professores tenham conhecimento e valoração pela abordagem do desenvolvimento
das habilidades socioemocionais, estes demonstraram dificuldades em promovê-la,
seja como tarefa principal ou como coadjuvante do ensino. Assim sendo, a inserção
de um currículo que contemple competências socioemocionais implica capacitar,
antes de tudo, o professor, pois, diante das condições de trabalho, vida pessoal e
emocional em que o profissional é submetido no seu cotidiano, é indispensável o
desenvolvimento de sua competência socioemocional, dado que de posse de um
conhecimento sobre suas emoções, terá como resultado uma melhor qualidade de
vida e uma compreensão mais clara do aluno, tendo, assim, melhores condições de
auxiliá-lo no desenvolvimento de suas habilidades e na aprendizagem.
Diante do exposto, este trabalho tem como finalidade investigar a importância das
habilidades socioemocionais no contexto educacional, em especial no que se refere
a sua relação com a aprendizagem.
1.2 Justificativa
Tendo em vista o crescente número de problemas no ambiente escolar,
relacionados a problemas de aprendizagem e relações interpessoais:
professor/aluno, aluno/aluno e professor/professor, nasceu o desejo de estudar a
relevância das habilidades sociais no contexto educacional e como esta poderia
influenciar no processo de ensino aprendizagem.
Esse trabalho se propôs mostrar a importância das habilidades
socioemocionais no contexto escolar e a necessidade de que sejam desenvolvidas
políticas públicas apropriadas para que essas competências sejam desenvolvidas
nos alunos e equipe escolar, visando melhores resultados dos alunos nas disciplinas
curriculares tradicionais e cidadãos preparados para o mercado de trabalho do
século XXI.
Para tanto o mesmo teve como base os estudos realizados por Del Prette e
Del Prette, publicados em seu livro: Psicologia das Habilidades Sociais na Infância,
além de artigos científicos sobre o assunto, publicados em periódicos acadêmicos
da área.
1.3 Objetivos
2. METODOLOGIA
Este trabalho caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica, de natureza
exploratória, que teve princípio a partir da leitura de diferentes teóricos da área da
Educação, objetivando compreender sobre a importância do desenvolvimento das
habilidades socioemocionais e sua relação com a aprendizagem.
De acordo com Lima e Mioto (2007), a pesquisa bibliográfica implica em um
trabalho exploratório descritivo, que tem por objetivo a busca por soluções de um
problema de um objeto de estudo e que, por isso, não deve ser uma pesquisa
aleatória. Neste sentido, os métodos da pesquisa devem ser expostos com clareza,
de modo que o tipo de pesquisa e as delimitações do trabalho sejam apresentados
ao leitor.
A abordagem teórica adotada para este estudo foi a abordagem qualitativa,
que tem como característica o aprofundamento da compreensão de determinado
fenômeno pré-estabelecido pelo pesquisador.
Conforme Minayo (2001), a abordagem qualitativa preocupa-se com aspectos
que não podem ser quantificados e que se baseiam nas dinâmicas das relações
sociais. Neste sentido, a abordagem qualitativa possibilita que o pesquisador se
aprofunde no âmbito dos motivos e processos do fenômeno estudado e que não
podem ser reduzidos à quantificação de variáveis.
Para a elaboração deste trabalho foram consultados artigos publicados em
bibliotecas eletrônicas de periódicos científicos, tais como SciELO e PePSIC, livros,
sites governamentais e sites especializados.
A análise de critérios para a seleção de fontes de informações se baseou em
seis critérios, a saber: consistência, período pesquisado, conteúdo temático,
precisão, acessibilidade e confiabilidade. A consistência diz respeito a coerência com
a qual o autor aborda o conteúdo estudado e se há as devidas referências às fontes
pesquisadas. Os critérios adotados para estabelecer os conteúdos temáticos das
pesquisas foram baseados no tema deste trabalho, e por ser um tema amplamente
discutido na sociedade, foi necessário utilizar o critério de período pesquisado para
estabelecer um limite de datas de publicações para não correr o risco de
comprometer a pesquisa com fontes defasadas. Deste modo, estabeleceu-se um
período de datas de publicações do ano 2001 a 2018, abrindo exceções para a
publicação de Piaget (1970) e Vygotski (1995), que têm grandes contribuições
acerca do tema Aprendizagem escolar. O critério de avaliação da precisão das
fontes de informações diz respeito à coerência, foco e consistência em que o
conteúdo é desenvolvido e apresentado durante todo o trabalho. A confiabilidade
tem por objetivo garantir ao leitor a origem dos dados, a validade do conteúdo, além
de autoria reconhecida do autor em sua área de atuação. A acessibilidade, por sua
vez, é a facilidade de localizar e obter as informações necessárias que contemplem
todos os critérios acima citados.
3. REVISÃO TEÓRICA
3.1 O que é aprendizagem
A compreensão do desenvolvimento humano, o modo como as pessoas pensam,
sentem e buscam soluções para novos desafios, pode ser analisado sob diversas
perspectivas teórico-filosóficas, seja nas ciências biológicas, naturais, humanas ou
sociais. Desta maneira, a concepção de aprendizagem não tem como
fundamentação uma única teoria, o que justifica a dificuldade para estabelecer um
consenso sobre o tema, dado que coexistem diversas teorias sobre a aprendizagem
humana.
De acordo com Viotto Filho, Ponce e Almeida (2009), existem quatro autores
de leituras indispensáveis para se compreender – de formas distintas – a
aprendizagem humana, a saber: B. F. Skinner e J. Piaget (representando as ciências
naturais) e L. S. Vygotski e H. Wallon (representando as ciências sociais e
humanas).
Gráfico 2:
Fonte: Instituto Ayrton Senna
* Considera-se a diferença de desempenho de um aluno que estivesse com 25%, menor nível de
qualquer atributo, e passasse para 75%, maior nível de qualquer atributo.
** Além dos cinco constructos, a pesquisa também avaliou o protagonismo, denominado Lócus de
controle, que tem como objetivo avaliar como o indivíduo atribui acontecimentos vividos a condutas
tomadas por ele ou por outra pessoa.
4 CONCLUSÃO
O presente trabalho possibilitou compreender o que são habilidades
socioemocionais e como elas podem contribuir no processo de aprendizagem. Para
isso, foi realizado uma pesquisa bibliográfica em bibliotecas virtuais de periódicos
científicos, bem como a utilização de livros para enriquecer e compor o trabalho.
O fenômeno aqui estudado, é demasiado complexo, uma vez que estudar seres
humanos envolve aspectos culturais, sociais, familiares e individuais, nos quais os
indivíduos são constituídos. No entanto, este estudo não exclui tais aspectos, mas,
abarca-os como variáveis que colaboram na construção da aprendizagem escolar.
Diante dos dados apresentados na revisão bibliográfica, é possível concluir que é
certo que os fatores emocionais e sociais interferem na forma e no tempo de
aprendizagem, uma vez que, se o aluno tem aspectos socioemocionais positivos
desenvolvidos, certamente seu desempenho escolar será beneficiado. Por outro
lado, quanto menos suas habilidades socioemocionais forem desenvolvidas, maiores
as chances do aluno demonstrar comportamentos negativos, tais como: intolerância,
violência, insensibilidade, desinteresse, indisciplina, desorganização, elevado
número de faltas e até abandono escolar.
O ato de aprender envolve habilidades sociais, pois o aprendizado ocorre em um
ambiente naturalmente social, dado que é fruto da interação entre estudantes e
professores. As emoções, por sua vez, também influenciam fortemente na
aprendizagem, visto que um estudante ansioso, deprimido ou desmotivado,
certamente terá dificuldades escolares.
Embora alguns autores (Skinner, Wallon, Piaget e Vygotski) discordem entre si
sobre os processos de aprendizagem, o que é natural, posto que cada autor tem
uma visão a respeito do desenvolvimento humano, é imprescindível que haja mais
envolvimento da sociedade, em especial da escola, no que diz respeito as causas
que favorecem as dificuldades de aprendizagem. Pois em uma sociedade em que a
família está cada vez mais se transformando, observa-se que os pais não têm mais
tempo para aprimorar as estruturas socioemocionais de seus filhos, de forma que
este papel acaba sendo outorgado à escola.
Entretanto, para que a escola tenha condições de desenvolver as habilidades
socioemocionais em seus alunos, é necessário investir no professor, haja vista que,
o professor, como um ser social que fará parte das interrelações do aluno, precisa
aprender a gerir suas emoções, e isto só poderá se concretizar se suas habilidades
socioemocionais estiverem desenvolvidas. Além do mais, é preciso que o professor
realize a intermediação da aprendizagem das habilidades cognitivas e
socioemocionais de forma responsável e consciente, trabalhando todos os aspectos
que possam favorecer os estudantes, reconhecendo e praticando nas distintas
habilidades cognitivas, afetivas e sociais, bem como elegendo e utilizando de modo
consciente as ferramentas que viabilizem o desenvolvimento integral dos
estudantes.
Além disso, é urgente a formulação e implementação de políticas públicas
educacionais, com ações voltadas especificamente para o desenvolvimento das
competências socioemocionais no ambiente escolar, dado que, a aprendizagem
integral não se restringe à transmissão de conteúdo, mas demanda um olhar mais
profundo sobre o que há de mais valioso na sua função: contribuir no
desenvolvimento de sujeitos autônomos, responsáveis, altruístas, colaborativos e
disciplinados, que estejam preparados nos âmbitos cognitivo, social e emocional
para construir uma sociedade mais equilibrada e justa, bem como para as mudanças
do mercado de trabalho do século XXI. Neste sentido, torna-se imperativo a
necessidade do desenvolvimento das competências socioemocionais no ambiente
escolar, no sentido de garantir uma educação de qualidade em meio ao elevado
número de estudantes que apresentam alguma dificuldade de aprendizagem.
Conclui-se, portanto, que, de acordo com a bibliografia consultada, embora o
constructo de extroversão não seja estatisticamente relevante no que diz respeito à
obtenção de bons resultados que podem ser medidos por testes, tais como o
desempenho em Português e Matemática, o desenvolvimento deste domínio pode
ser fundamental na decisão do aluno em permanecer na escola. Com referência aos
demais constructos, como pode ser verificado nos gráficos acima, a
Conscienciosidade indicou ser o mais estreitamente ligado aos resultados em
Matemática. Por outro lado, a Abertura a Novas experiência mostrou-se mais
relevante na determinação dos resultados em Língua Portuguesa.
Diante dos dados apresentados e da revisão bibliográfica, é possível concluir,
através deste estudo, que há uma correlação entre o desenvolvimento das
habilidades socioemocionais e o bom desempenho escolar, e que uma vez que elas
estejam desenvolvidas, é possível, com efeito, reverter o alto índice de dificuldades
de aprendizagem apresentados atualmente no país.
Concluo que os objetivos gerais e específicos a que me propus pesquisar foram
alcançados, de modo que ofereço ao leitor um convite à reflexão dos problemas
recorrentes em nossa atual sociedade, em especial na Educação.
REFERÊNCIAS
DEL PRETTE, Almir. & DEL PRETTE, Zilda A. Pereira. (Orgs.). (2003). Habilidades
sociais, desenvolvimento e aprendizagem: Questões conceituais, avaliação e
intervenção. Campinas, SP: Alínea.
LIMA, Telma Cristiane Sasso de; MIOTO, Regina Célia Tamaso. Procedimentos
metodológicos na construção do conhecimento científico: a pesquisa
bibliográfica. Rev. katálysis, Florianópolis, v. 10, n. spe, p. 37-45, 2007. Disponível
em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
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MAZER, Sheila Maria; BELLO, Alessandra Cristina Dal; BAZON, Marina Rezende.
Dificuldades de aprendizagem: revisão de literatura sobre os fatores de risco
associados. Psicol. educ., São Paulo, n. 28, p. 7-21, jun. 2009. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
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SILVA, Antônio. Carlos. Ribeiro., & SILVA, Gidélia. Alencar. (2009). A educação
emocional e o preparo do profissional docente. In: Atas do X Congresso
Internacional Galego-Português de Psicopedagogia. Braga: Universidade do Minho,
9-11 set. 2009. Disponível em:
http://www.educacion.udc.es/grupos/gipdae/documentos/congreso/xcongreso/pdfs/t3
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